sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Concurso de Trovas de Natal/RN 2019 (Resultado Final)


NACIONAL

VETERANOS


Tema: CONDUTA (Líricas/Filosóficas)

VENCEDORES

1º Lugar
José Almir Loures
Astolfo Dutra/MG


Ante as procelas, persista,
mas, seja nobre na luta;
o que brilha na conquista,
é a retidão da conduta.

2º Lugar
Josafá Sobreira da Silva
Rio de Janeiro/RJ


Entre o discurso e a conduta   
de quem discursa bonito,
o tolo apenas escuta,
o sábio enxerga o conflito.

3º Lugar
Cezar Augusto Defilippo
Astolfo Dutra/MG


Na ingratidão que és capaz
tua conduta me diz:
- não passo de um “tanto faz”
para alguém que eu tanto fiz...

4º Lugar
Olympio da Cruz Simões Coutinho
Belo Horizonte/MG


Por mais que insistas, mulher,
minha conduta eu não mudo;
tu finges que não me quer,
mas teu olhar me diz tudo.

5º Lugar
Mário Moura Marinho
Sorriso/MT


Quem tem conduta ilibada...
moral, ética e atitudes,
se é pobre por não ter nada,
é muito rico em virtudes.

MENÇÕES HONROSAS

1º Lugar
Luiz Vieira
Irati/PR


Quem suou toda a camisa
pelo esforço da labuta...
certamente não precisa
do atestado de conduta.

2º Lugar
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG


Pautando a minha conduta,
quando tudo me faltar,
que não me falte, na luta,
a coragem de lutar!

3º Lugar
Renata Paccola
São Paulo/SP


Quem fala menos que escuta
acaba acertando em cheio,
pois traz na própria conduta
respeito ao direito alheio!

4º Lugar
Nadir Nogueira Giovanelli
São José dos Campos/SP


Dificuldades eu passo,
mas enfrento grande luta;
com firmeza no que faço,
sem desvio de conduta! 

5º Lugar
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ


Toda vez que eu ajo errado,
toda a culpa em mim recai
por jamais ter me espelhado
na conduta de meu pai.

MENÇÕES ESPECIAIS

1º Lugar
Sandro Pereira Rebel
Niterói/RJ


Da vida, em tua conduta,
hás de sempre bem cuidar,
pois ela é qual pedra bruta
que tens para lapidar.

2º Lugar
Cezar Augusto Defilippo
Astolfo Dutra/MG


Serve de exemplo na história
com grandeza habitual,
quem ao fracasso ou vitória
mantém a conduta igual!

3º Lugar
Célia Terezinha Neves Vieira
Irati/PR


Pela conduta dos filhos
avaliamos os pais...
cujos preceitos são trilhos
que não se esquecem jamais.

4º Lugar
A. A. de Assis
Maringá/PR


Meu coração bate certo;
conduta exemplar – eu penso.
No entanto, se estás por perto,
perde o compasso e o bom senso.

5º Lugar
Josafá Sobreira da Silva
Rio de Janeiro/RJ


Tem gente de má conduta
ouvindo o que não convém.
O ouvido é canal de escuta,
mas é um filtro, também!

NACIONAL

NOVO TROVADOR

Tema: CONDUTA (Líricas/Filosóficas)
 

VENCEDORAS

1º Lugar
Caterina Balsano Gaioski
Irati/PR


Uma conduta ilibada,
em qualquer situação,
é sempre considerada
carta de apresentação.

2º Lugar
Henrique Eduardo
Maracanaú/CE


Praticando sempre o  bem
pondo  amor  em  cada  ação
é  conduta  de  quem  tem
sempre  Deus  no  coração!

3º Lugar
Jair Zabotini
Bauru/SP


A todo instante, na vida,
cada minuto é de luta,
mas a batalha aguerrida
é a virtude na conduta.

4º Lugar
Max Reis
Belém/PA
Maestro move a batuta
traçando notas ao vento.
Na pauta escreve a conduta
que aflora do sentimento.

5º Lugar
Caterina Balsano Gaioski
Irati/PR


Mesmo com dificuldade
vence na vida quem tem
trabalho com dignidade,
conduta certa também.

NACIONAL

VETERANOS


Tema: FIGURA (Humorística)

VENCEDORES

1º Lugar
A. A. de Assis
Maringá/PR


A bela figura tinha
de um ricaço a proteção.
Nasceu-lhe uma figurinha
que é cópia do figurão...

2º Lugar
Arlindo Tadeu Hagen
Juiz de Fora/MG


Figura é minha vizinha:
toda vez que à praia vem,
põe biquini de bolinha,
mas não dá bola a ninguém.

3º Lugar
Mário Moura Marinho
Sorriso/MT


Minha sogra, que figura!
Fez "lipo", dou nota mil...
Com a sobra da cintura
ampliou o seu quadril.

4º Lugar
Lucêmio Lopes da Anunciação
Canela/RS


Passava horas no banho,
numa mania sem cura;
o seu gemido era estranho
olhando aquela figura.

5º Lugar
Massilon Silva
Poço Redondo/SE


Se caíres do cavalo
não farás bela figura.
Todos dirão num estalo:
que grande cavalgadura!

MENÇÕES HONROSAS

1º Lugar
Antonio Colavite Filho
Santos/SP


Tirando este gesto amargo,
meu avô é uma figura...
Provoca um sorriso largo
quando tira a dentadura...

2º Lugar
José Paulo Corrêa de Souza
Juiz de Fora/MG


Caolho, um certo fedelho,
vendo a figura invertida,
quebrou a porta de espelho,
pensando que era a saída.

3º Lugar
Cláudio de Cápua
Santos/SP

Maldosa como ninguém,
boa figura na igreja,
acrescenta sempre "Amém"
quando aos outros mal deseja…

4º Lugar
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP


De porre, vendo a figura
no espelho do armário antigo,
diz: - Nunca vi criatura
tão parecida comigo!

5º Lugar
Relva do Egypto Rezende Silveira
Belo Horizonte/MG


Vendo a sogra, uma figura,
João vem, à esposa, indagar:
- Meu bem, em data futura,
irás, também, me assombrar?

MENÇÕES ESPECIAIS

1º Lugar
Paulo Marcelo Ribeiro de Araújo
Barra do Piraí/RJ


Uma figura colada,
num idoso cachaceiro,
ao relento na calçada,
dizia: "Velho Barreiro"!

2º Lugar
Albérico Nunes
Serra/ES


Depois de todo arrumado,
meu avô é uma figura!
Vai pra rua perfumado
esquecendo a dentadura.

3º Lugar
Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte/MG


Velho ator que foi galã
fez uma triste figura.
Quis beijar a antiga fã
e perdeu a dentadura.

4º Lugar
Josafá Sobreira da Silva
Rio de Janeiro/RJ


Para agradar o cliente,
o dentista - uma figura -
dava um copo de presente
pra botar a dentadura.

5º Lugar
Andrade Lima
São José do Egito/PE


No reino dos animais
a coruja é a figura
que sempre vence as demais
em concursos de "feiúra"!

NACIONAL

NOVO TROVADOR


Tema: FIGURA (Humorísticas)

VENCEDORES

1º Lugar
Henrique Eduardo
Maracanaú/CE


Da figura vivem rindo,
estão sempre perguntando:
está chorando e sorrindo,
ou está sorrindo e chorando?...

2º Lugar
Max Reis
Belém/PA


Não tinha papas na língua,
só blá-blá-blá de bobagem.
No fundo vivia à míngua...
Figura? Sim, de linguagem.

3º Lugar
Alberto Valença Lima
Recife/PE


Na mata é uma figura
a pular na perna só
leva todos à loucura
faz arte de fazer dó.

4º Lugar
Caterina Balsano Gaioski
Irati/PR


É figura carimbada
o "bebum" da minha rua,
quando não cai na calçada,
faz serenata pra lua.

5º Lugar
Max Reis
Belém/PA


Morreu mais um desenhista
e eu fui velar na clausura.
Sorri, mas sem dar na vista.
O corpo era uma figura.

MENÇÕES HONROSAS

1º Lugar
Sílvio Romero Ribeiro Tavares
Campinas/SP


Na tela, figura linda,
paixão à primeira vista.
Ao vivo, não sei ainda
que apito que toca o artista!

2º Lugar
Henrique Eduardo
Maracanaú/CE


Dizem ser verdade pura:
Zeca – mosquito com asma –,
por ser tão feia a figura,
assusta qualquer fantasma!

3º Lugar
Maria Dulce Esteves da Carvalheira
Recife/PE


A figura dum anão
é motivo de galhofa
sentado no calçadão,
bebum, cuspindo farofa.

4º Lugar
Cícero Matos de Castro
São Gonçalo/RJ


Namorando essa princesa,
à boa figura indaga.
Minha vela está acesa,
e tão cedo não se apaga.

5º Lugar
Adilson Roberto Gonçalves
Campinas/SP


Não veja minha figura
como algo muito ruim
é simples caricatura
do tal gordo que há em mim.

MENÇÕES ESPECIAIS

1º Lugar
Alfredina Conceição Pascholatti
Londrina/PR


Tinha tudo pra ganhar
o concurso por postura,
mas só conseguiu mostrar
a sua hilária figura.

2º Lugar
Murillo Lino
São Paulo/SP


Decidiu seguir, então,
os prazeres dessa vida
só não ficou com Adão
que é figura repetida.

3º Lugar
Fábio Siqueira do Amaral
Bom Jesus Dos Perdões/SP


Conheço gente sem nexo!
Mas assim, igual à Ernesta,
triste figura do sexo,
nem “pra” capeta se presta!

4º Lugar
Artemiza Correia
Ocara/CE


Nem usa desfaçatez,
troca, vende, toca fogo,
a figura descortês
é cavalo até no jogo!

5º Lugar
Adilson Roberto Gonçalves
Campinas/SP


Que figura este moleque
trazendo "mercadorias"
na verdade quer que eu peque
ou vá em cana por dias.

ESTADUAL (Rio Grande do Norte)
 
VETERANOS
Tema: NOVIÇO(A) (Líricas/Filosóficas)

VENCEDORES


1º Lugar
Aline Ribeiro
Natal


Sou noviça, sou teimosa,
vivo a plantar esperança…
O tempo me fez idosa,
a vida me faz criança.

2º Lugar
Aline Ribeiro
Natal


Sem ver, do mundo, a maldade,
a cilada me aferrolha,
por ser madura na idade
e ser noviça na escolha.

3º Lugar
Mara Melinni Garcia
Caicó


Eu renovo, a cada dia,
cada esperança esquecida,
porque sou noviço e guia
dos sonhos da minha vida.

4º Lugar
Professor Garcia
Caicó


A noviça entre os seus véus,
confessa os pecados seus;
e, entrega o destino aos céus,
abraçada às mãos de Deus!

5º Lugar
Marcos Antônio Campos
Natal


Eu sou um rapaz no viço
dos belos versos de Safo,
na igreja virei noviço
nas estrofes desabafo.

MENÇÕES HONROSAS

1º Lugar
Professor Garcia
Caicó


A noviça, em noite calma,
Deus, ungindo os votos seus,
entrega seus dons e a alma
às bênçãos das mãos de Deus!

2º Lugar
Joamir Medeiros
Natal


Ante os tropeços prossigo
firme em minha caminhada...
Sou noviço, mas consigo
superar qualquer jornada.

3º Lugar
Francisco Gabriel
Natal


Driblando os meus desenganos,
ao meu pesar dou sumiço,
vencendo as dores dos anos,
tendo a verve de noviço.

4º Lugar
Joamir Medeiros
Natal


Noviço!... Planto a esperança,
planto amor, sigo sonhando...
Pois quem sonha, tudo alcança:
-  Como é bom sonhar trovando!!!

5º Lugar
Francisco Gabriel
Natal


O Noviço do além-mar,
Anchieta, o grande Pastor,
veio ao Brasil ensinar,
plantar sementes de amor.

MENÇÕES ESPECIAIS

1º Lugar
Rozanni Garcia
Caicó


Quando a paz sorri faceira,
e te mostra um novo ninho...
não te prendas por besteira,
sê noviço em teu caminho.

2º Lugar
Marcos Antônio Campos
Natal


Meu pai tinha um compromisso,
advindo da puberdade,
quando, ainda, era noviço
expressar sempre a verdade.

3º Lugar
Marciano Batista de Medeiros
Parnamirim


Um noviço, disse a madre:
- No mundo é triste o viver -
pois se um cresce e vira padre,
outro vive a padecer...

4º Lugar
Plácido Ferreira do Amaral Júnior
Caicó


O velho monge ajoelha
no altar de quem é devoto;
nele, um noviço se espelha
e faz, com fé, o seu voto.

5º Lugar
Valdemar Juvino de Araújo
Serra Negra do Norte


Buscando o primeiro emprego
vai a uma empresa o noviço,
sem grana, já sem sossego
ele consegue um serviço!

ESTADUAL (Rio Grande do Norte)

Tema: PINTO (Humorísticas)

VENCEDORAS

1º Lugar

Francisco Gabriel
Natal


Zé cortou “Pinto” do nome
por sentir-se incomodado,
e agora tem o cognome
de “Zé do Pinto Cortado”.

2º Lugar
Marciano Batista de Medeiros
Parnamirim


O pinto com lero-lero
foi namorar a pintinha,
mas ela falou: - Não quero,
só quando eu virar galinha!

3º Lugar
Francisco Gabriel
Natal


Posei de galo… não minto.
Mas, hoje, quase gagá,
me sinto igualzinho a um pinto,
fugindo de um carcará.

MENÇÕES HONROSAS

1º Lugar
Fabiano de Cristo Magalhães Wanderley
Natal


Um garoto, quase um pinto,
quis tirar onda de galo,
mas, o Pai, usando o cinto,
acabou com seu embalo.

2º Lugar
Professor Garcia
Caicó


É engraçado, o que se deu,
com o pinto no pé da porta:
o pinto quase morreu
quando viu a “pinta” morta!

3º Lugar
Antônio Rodrigues Neto
Natal


Um pintor muito perfeito
dizia sempre ao seu povo:
Eu só pinto satisfeito
quando pinto um pinto novo.

4º Lugar
Professor Garcia
Caicó


Já crescidinha e faminta,
à espreita de um novo grito...
O pinto chamava a pinta,
e a pinta escondia o “pito”.

MENÇÕES ESPECIAIS

1º Lugar
Plácido Ferreira do Amaral Júnior
Caicó


Um pinto verde surgiu
no galinheiro da granja
e o papagaio sumiu,
pois se não... seria canja!

2º Lugar
Marcos Antônio Campos
Natal


Pinto de uma perna só
tentou ciscar e caiu,
a galinha sentiu dó
e respondeu seu piu piu.

3º Lugar
Plácido Ferreira do Amaral Júnior
Caicó


Eu já sei porque Seu Pinto
consultou o urologista:
ironia de um instinto
de também ser masoquista...

4º Lugar
Aline Ribeiro
Natal

 
Pinto fraco e pequenino,
finda morrendo de fome.
Vai comer, fica mofino,
cheira o xerém, mas não come.

Fonte:
Resultado enviado por Alexandre Magno Oliveira de Andrade Reis

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Varal de Trovas n. 128


Arthur de Azevedo (O 15 e o 17)


(IMPRESSÃO DA LEITURA DE UM CONTO FRANCÊS)

- Com efeito, Francelina! Que tempo levaste para ires ali à venda! Querias lá ficar?.

- Não, senhora; é porque estas casas novas parecem-se todas umas com as outras, e por isso, em vez de entrar no 15, entrei no 17. Varei por ali adentro até a cozinha!

- Que estás dizendo?

- A verdade, patroa. De agora em diante não entro em casa sem olhar para o número da porta!

- Depois te habituarás. Isso aconteceu porque estás na casa há oito dias apenas. Bom. Compraste o que tinhas de comprar?

- Sim, senhora.

- Não falta mais nada?

- Não, senhora.

- Então, até logo. Fecha a porta da rua e trata de preparar o jantar. As cinco horas estarei de volta.

E D. Isabel, que já estava pronta para sair, passou para o corredor, desceu a escada e desapareceu.

A Francelina fechou a porta da rua, conforme a patroa lhe recomendara, e foi para a cozinha.

Não havia passado meia hora, quando a mulata (a Francelina era mulata) ouviu bater levemente à porta da rua. Correu à janela da sala de visitas para ver quem era, e deu com uma senhora idosa, bastante idosa, pequenina, curvada, esperando que lhe abrissem a porta.

A criada não a conhecia, mas pensou consigo que não haveria inconveniente em abrir a porta a uma velha, e por isso fez-a entrar.

- Ora, graças! Julguei que me deixassem ao sol durante uma hora! Dá cá a mão, rapariga! Ajuda-me a subir a escada! Bem sabes que já não tenho olhos!

- Que deseja a senhora? - perguntou Francelina quando chegaram à sala de visitas.

- Escusas de falar baixo! Bem sabes que já não tenho também ouvidos! Nem olhos, nem ouvidos, nem pernas! E por isso leva-me à cadeira de balanço. Onde está ela?... Já mudou de lugar! Que mania a de minha sobrinha! Está sempre com os móveis daqui para ali.

A Francelina levou a velhota para a cadeira de balanço, onde a instalou comodamente.

- Ora, espera! Parece-me que eu não a conheço! Você é nova na casa?

- Sim, senhora! Estou aqui há oito dias.

- Grite!

- Estou aqui há oito dias.

- Grite mais alto!

- Estou aqui há oito dias,

- Há oito dias? Então não me conhece, porque há um mês que eu cá não venho. Sou tia da sua patroa. Onde está ela?

- Saiu.

- Hem?

- Saiu.

- Mais alto!

- Saiu.

- Saiu? Também aquilo não faz senão saracotear! Então agora que veio morar na cidade! Olha, ó... como te chamas?

- Francelina.

- Hem?

- Francelina.

- Olha, Marcelina, vai buscar uma xícara de café bem quente, com uma gotinha de conhaque, mas antes disso descalça-me estas botinas, e traz-me os chinelos da sua patroa, e também um dos travesseiros da cama. Enquanto ela não vem, vou passar pelo sono.

A Francelina fez tudo quanto ordenou a velha, e deixou-a adormecida na sala, com os pés e a cabeça metidos nos chinelos e no travesseiro de D. Isabel.

Quando esta chegou da rua, às cinco horas da tarde, a criada disse-lhe:

A tia da patroa está dormindo lá na sala. A minha tia? Mas eu não tenho tia!

- Como não tem tia?

E a Francelina contou-lhe tudo quanto se passara.

- Ora essa! - exclamou D. Isabel, e correu para a sala, acompanhada pela criada.

A velha dormia profundamente.

- Mas eu não conheço, não sei quem é esta senhora! Que quer isto dizer?... Que mistério será este?... Vou acordá-la.

E D. Isabel começou a sacudir a velha, que não acordava.

A Francelina teve uma frase estúpida:

- Sacuda com força, patroa, porque ela é surda!

D. Isabel sacudiu com mais força, e nada!.

- Meu Deus! Esta rigidez!... Esta rigidez!...

E a dona da casa soltou um grito estridente.

- Que é, patroa?

- Esta velha está morta!

- Morta?!

Efetivamente, a pobre velhinha, durante o sono, sem se sentir, passara desta para melhor.

Imagine-se a aflição das duas mulheres diante daquele cadáver misterioso; mas D. Isabel, que era inteligente, pensou:

- Quem sabe se a velha não entrou no 15 pensando que era o 17?

E pelo muro do terraço chamou a vizinha:

- Ó vizinha? Vizinha?...

- Que é?

- A senhora não tem uma tia velha, surda e catacega*?

- Tenho, sim, senhora.

D. Isabel respirou.

- Pois mande buscá-la, porque ela está na minha casa. Entrou aqui por engano.

- Ela que venha; não é preciso mandar buscá-la.

- Isso é, porque está... doente... Adoeceu aqui...

Meia hora depois a pobre velha era removida.... para o Necrotério.
_____________________
Glossário:
Catacega - Diz-se de pessoa com dificuldades para ver nitidamente, que tem problemas de vista.
 
Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos Vários.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) 12


JÁ NEM SEI…
Glosando Benedito Camargo Madeira

MOTE:
Viver assim… te adorando..
já nem sei o que fazer…
- Se é melhor viver te amando;
ou te deixar e… sofrer!


GLOSA:
Viver assim… te adorando..
é sempre tudo que eu quis,
é gostoso estar gostando,
pois te amando, sou feliz!

Mas quando aperta a saudade,
já nem sei o que fazer...
se sou feliz de verdade,
ou se te amar, faz sofrer!

Fico, então, me questionando,
responde, meu coração:
- Se é melhor viver te amando,
ou viver sem emoção?

Não sei se sigo a sonhar,
não sei que devo fazer,
se continuar a te amar,
ou te deixar e… sofrer!
______________

VERSOS DE AMOR
Glosando Cidoca da Silva Velho

MOTE:

Quando de mim te aproximas
com semblante sonhador,
minha alma flutua em rimas,
compondo versos de amor!


GLOSA:
Quando de mim te aproximas,
dispara o meu coração
e, vejo em tudo, obras primas
no meu mundo de emoção!

É lindo quando apareces
com semblante sonhador,
teus olhos me lembram preces,
preces de sonho e de cor!

Com teu jeitinho, me mimas,
trazes contigo a alegria!
Minha alma flutua em rimas,
num mar de pura poesia!

Tornas feliz meu viver,
por não conhecer a dor,
eu passo a vida a escrever,
compondo versos de amor!
__________________

ENCONTRO
Glosando Clênio Borges

MOTE:

Num encontro repentino,
sem promessa, nem espera,
tu foste o meu desatino
e nosso amor foi quimera…


GLOSA:
Num encontro repentino,
nós ficamos frente à frente;
nem sei bem como defino
esse encontro diferente!

Foi um encontro bonito,
sem promessa, nem espera,
em momentos de infinito
que lembrar, sempre, eu quisera.

Ouvi sons de violino,
enlouqueci de paixão,
tu foste o meu desatino
e a minha desilusão!

Foi assim o nosso amor;
que fosse real ,quem dera,
sobrou ilusão e dor,
e nosso amor foi quimera...
__________________________________

UM AMIGO
Glosando Clenir Neves Ribeiro

MOTE:

Amigo é o que na verdade
vendo fraco o seu irmão,
mostra a força da amizade,
e firme lhe estende a mão!


GLOSA:
Amigo é o que na verdade
fica sempre junto a nós
pois nossa emoção, invade!
E nunca nos deixa a sós!

Um amigo verdadeiro,
vendo fraco o seu irmão,
com um amor feiticeiro
faz feliz seu coração!

Com enorme lealdade,
ajuda, consola e anima,
mostra a força da amizade,
com sua força de estima!

Para amigo, não há hora,
em qualquer situação,
manda os problemas embora,
e firme lhe estende a mão!
____________________________________

NOSSOS ERROS
Glosando Clevane Pessoa

MOTE:

Nossos erros nos apontam
novas trilhas nos caminhos
e os acertos só despontam
se afastarmos os espinhos.


GLOSA:
Nossos erros nos apontam
a direção a tomar,
e muitas vezes, nos contam
o porquê do nosso errar!

Nós devemos descobrir
novas trilhas nos caminhos
para poder ir e vir,
evitando os descaminhos!

Quebra-cabeças se montam,
desafiando a razão
e os acertos só despontam
se ouvirmos o coração!

Seremos muito felizes,
não ficaremos sozinhos,
veremos novos matizes,
se afastarmos os espinhos.

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas XXXIV. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2007.

Contos e Lendas do Mundo (Nação Tupinambá: Maire-Monan e os Três Dilúvios)


Os tupinambás creem que houve, nos primórdios do tempo, um ser chamado Monan. Segundo alguns etnógrafos, ele podia não ser exatamente um deus, mas aquilo que se convencionou chamar de um “herói civilizador”.

Deus ou não, o fato é que Monan criou os céus e a Terra, e também os animais. Ele viveu entre os homens, num clima de cordialidade e harmonia, até o dia em que eles deixaram de ser justos e bons. Então, Monan investiu-se de um furor divino e mandou um dilúvio de fogo sobre a Terra.

Até ali a Terra tinha sido um lugar plano. Depois do fogo, a superfície do planeta tornou-se enrugada como um papel queimado, cheia de saliências e sulcos que os homens, mais adiante, chamariam de montanhas e abismos.

Desse apocalipse indígena sobreviveu um único homem, Irin-magé, que foi morar no céu. Ali, em vez de conformar-se com o papel de favorito dos céus, ele preferiu converter-se em defensor obstinado da humanidade, conseguindo, após muitas súplicas, amolecer o coração de Monan.

Segundo Irin-magé, a terra não poderia ficar do jeito que estava, arrasada e sem habitantes.

– Está bem, repovoarei aquele lugar amaldiçoado! – disse Monan, afinal.

A história, como vemos, é tão velha quanto o mundo: um ser superior cria uma raça e logo depois a extermina, tomando, porém, o cuidado de poupar um ou mais exemplares dela, a fim de recomeçar tudo outra vez.

E foi exatamente o que aconteceu: Monan mandou um dilúvio à Terra para apagar o fogo (aqui o dilúvio é reparador) e a tornou novamente habitável, autorizando o seu repovoamento.

Irin-magé foi encarregado de repovoar a Terra com o auxílio de uma mulher criada especialmente para isto, e desta união surgiu outro personagem mítico fundamental da mitologia tupinambá: Maire-monan.

Esse Maire-monan tinha poderes semelhantes aos do primeiro Monan, e foi graças a isto que pôde criar uma série de outros seres – os animais –, espalhando-os depois sobre a Terra.

Apesar de ser uma espécie de monge e gostar de viver longe das pessoas, ele estava sempre cercado por uma corte de admiradores e de pedintes. Ele também tinha o dom de se metamorfosear em criança. Quando o tempo estava muito seco e as colheitas tornavam-se escassas, bastava dar umas palmadas na criança-mágica e a chuva voltava a descer copiosamente dos céus. Além disso, Maire-monan fez muitas outras coisas úteis para a humanidade, ensinando-lhe o plantio da mandioca e de outros alimentos, além de autorizar o uso do fogo, que até então estava oculto nas espáduas da preguiça.

Um dia, porém, a humanidade começou a murmurar.

– Este Maire-monan é um feiticeiro! – dizia o cochicho intenso das ocas. – Assim como criou vegetais e animais, esse bruxo há de criar monstros e Tupã sabe o que mais!

Então, certo dia, os homens decidiram aprontar uma armadilha para esse novo semideus. Maire-monan foi convidado para uma festa, na qual lhe foram feitos três desafios.

– Bela maneira de um anfitrião receber um convidado! – disse Mairemonan, desconfiado.

– É simples, na verdade – disse o chefe dos conspiradores. – Você só terá de transpor, sem queimar-se, estas três fogueiras. Para um ser como você, isso deve ser muito fácil!

Instigado pelos desafiantes, e talvez um pouco por sua própria vaidade, Maire-monan acabou aceitando o desafio.

– Muito bem, vamos a isso! – disse ele, querendo pôr logo um fim à comédia.

Maire-monan passou incólume pela primeira fogueira, mas na segunda a coisa foi diferente: tão logo pisou nela, grandes labaredas o envolveram. Diante dos olhos de todos os índios, Maire-monan foi consumido pelas chamas, e sua cabeça explodiu. Os estilhaços do seu cérebro subiram aos céus, dando origem aos raios e aos trovões que são o principal atributo de Tupã, o deus tonante dos tupinambás que os jesuítas, ao chegarem ao Brasil, converteram por conta própria no Deus das sagradas escrituras.

Desses raios e trovões originou-se um segundo dilúvio, desta vez arrasador. No fim de tudo, porém, as nuvens se desfizeram e por detrás delas surgiu, brilhando, uma estrela resplandecente, que era tudo quanto restara do corpo de Maire-monan, ascendido aos céus.
* * *
Depois que o mundo se recompôs de mais um cataclismo, o tempo passou e vieram à Terra dois descendentes de Maire-monan: eles eram filhos de um certo Sommay, e se chamavam Tamendonare e Ariconte.

Como normalmente acontece nas lendas e na vida real, a rivalidade cedo se estabeleceu entre os dois irmãos, e não tardou para que a fogueira da discórdia acirrasse os ânimos na tribo onde viviam.

Tamendonare era bonzinho e pacífico, pai de família exemplar, enquanto Ariconte era amante da guerra e tinha o coração cheio de inveja. Seu sonho era reduzir todos os índios, inclusive seu irmão, à condição de escravos. Depois de diversos incidentes, aconteceu um dia de Ariconte invadir a choça de seu irmão e lançar sobre o chão um troféu de guerra.

Tamendonare podia ser bom, mas sua bondade não ia ao extremo de suportar uma desfeita dessas. Erguendo-se, o irmão afrontado golpeou o chão com o pé e logo começou a brotar da rachadura um fino veio de água.

Ao ver aquela risquinha inofensiva de água brotar do solo, Ariconte pôs-se a rir debochadamente.

Acontece que a risquinha rapidamente converteu-se num jorro d’água, e num instante o chão sob os pés dos dois, bem como os de toda a tribo, rachou-se como a casca de um ovo, deixando subir à tona um verdadeiro mar impetuoso.

Aterrorizado, o irmão perverso correu com sua esposa até um jenipapeiro, e ambos começaram a escalá-lo como dois macacos. Tamendonare fez o mesmo e, depois de tomar a esposa pela mão, subiu com ela numa pindoba (uma espécie de coqueiro).

E assim permaneceram os dois casais, cada qual trepado no topo da sua árvore, enquanto as águas cobriam pela terceira vez o mundo – ou, pelo menos, a aldeia deles.

Quando as águas baixaram, os dois casais desceram à Terra e repovoaram outra vez o mundo. De Tamendonare se originou a tribo dos tupinambás, e de Ariconte brotaram os Temininó.

Fonte:
A. S. Franchini. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Varal de Trovas n. 127


Humberto de Campos (A Noiva do Donato)


- Foi um caso espantoso, único, inacreditável, Sr, conselheiro, esse de que fui testemunha, e que eu lhe conto, embora o senhor já o tenha lido no "D. Quixote".

E puxando o relógio, para ver se ainda havia tempo, o ilustre advogado santista começou, em estilo rápido, vivaz, nervoso, pictural, a referir-me a horrível história, sob o alpendre da Central, à hora, quase, do noturno de luxo:

- "Era no sítio do "Pau d'Alho", em Vila Bela, onde se haviam casado, naquele dia, o Donato e a Rosinha. Um despotismo de gente, como o senhor não imagina. A Vila, as cercanias, a redondeza toda, no "Pau d'Alho". Até veio gente de Ubatuba! Calcule!"

Uma olhadela ao relógio, e continuou, telegráfico:

"Violeiro: o Chico Messias. Dança-se "baile" no terreiro. Chico Messias tira da toeira* uma coriza lacrimosa, de valsa sem motivo."

E acrescentou, num parênteses:

"O caiçara diverte-se sem sorrir. Diverte-se por obrigação. Sua alegria é uma hipótese triste, socavada de ancilóstomos*."

E reatou, descritivo, unindo o gesto à palavra, dando voltas no meio do alpendre:

- "Damas e cavalheiros vão e vem, e tornam a ir, e tornam a vir, e dão-se as mãos, e balanceiam, e remoinham, e desnalgam-se*, numa choréa que tem passos de lanceiros, atitudes de Pedowa e desengonços tupinambás."

Outra interrupção, para um surto histórico:

"D. Pedro Fernandes Sardinha, quando foi do seu caso com os Aimorés, devia ter assistido a paulovices muito semelhantes."

E tornando, com uma soberba vivacidade de descrição:

"Ela, a noiva, dentro do vestidinho clássico, de manzuk branco, o filó pendente da mão. Tem olhos baixos e constrangidos de protagonista. Ele, traz a fatiota* de elasticotine, que tem reflexos envernizados e o suplemento da gravata escura, de tricô frouxo, escorrida pelo "adão"*.

E descreve a festa:

- "Ambos assistem sem apetite o apetite dos convidados. Há um mastigo odioso de bocados grandes, e o cair do bocado, goela abaixo, com um rumor de rã assustada em pântano adormecido. Comem! E comem!

Nova consulta ao relógio, e a descrição despenhou-se, para ganhar tempo:

"Hora da sobremesa. O Inocêncio, professor publico, vai falar! Recuo de cadeiras; engolir de últimos bocados; bigodes engordurados que se chupam. - Atenção, senhores! O Inocêncio vai falar."

Como se estivesse na festa, eu próprio me empertigo, e o ilustre viajante repete, assombroso:

"Vai falar o Inocêncio. E começa tan, tan, tan, e meus senhores, e o himeneu, e a família, e o tugúrio*, e mais isto, e mais aquilo e... e.... e o Inocêncio perde o fio, e embrulha, enrola, engole, mastiga, encaroça, embatuca. Estende-se um vágado* coletivo, pesado como um paralelepípedo. O Inocêncio, que empunha o copo, guina a boreste gorgolões de cerveja."

Noutro parênteses, o meu amigo sentencia, outra vez:

- "Há situações que obstruem a vida como caroços de jabuticaba!"

E engatando, de novo, com os olhos no trem, desabou, história abaixo:

- "Coitado do Inocêncio! Felizmente, o Dito Pintassilgo, que lhe estava ao lado, encontrou uma saída. Levanta-se, sorri, braceja, e, alto e sonoramente:

- "Viva a noiva!

"O viva desonerou aquele constrangimento, como um laxativo. Um alívio geral.

- "Viva!...

"E o Dito prosseguiu, vitorioso:

- "Viva os óio da noiva!

- "Vivôooo!

- "Viva os dente biturado da noiva!

- "Viva!

- "Viva o pescoço da noiva!

- "Viva!

- "Viva os peito da noiva!

- "Viiiiva!

Tomando fôlego, o narrador continuou, elétrico:

- "Os vivas desciam, conselheiro, assustadoramente, noiva abaixo. O noivo, o Donato, piscou, por três vezes, os olhos, apreensivo. De repente, remexe-se, mergulha a mão pela cinta, toma da garrucha trochada*, coloca-a à sua frente, na mesa, e, com aquele sorriso seu, desdentado, e a vozinha gutural, oitava acima:

- "Oie, seus convidado: não é por nada: mas eu queria apreveni, que os "viva" que passá do imbigo da noiva pra baixo... eu sapeco!"

Último apito. Um pulo do meu amigo, um barulho de ferragens, um resfolegar fatigado de máquinas. E o trem desapareceu.
_____________________________
Glossário:
Adão -
(alquimia) pó medicinal considerado a quintessência do universo; adamo.
Desnalgam-se – remexem exageradamente as nádegas ou os quadris, especialmente ao dançar; rebolar-se.
Fatiota – traje; vestuário.
Socavada de ancilóstomos – escavada de vermes.
Toeira – corda de viola.
Trochada – diz-se de cano que foi torcido para ficar mais forte.
Tugúrio – abrigo; refúgio; casebre.
Vágado – vertigem.
(Dicionário Houaiss)

Fonte:
Humberto de Campos. Contos.

Luiz Gonzaga da Silva (Trova e Cidadania) 6 - Dor e Sofrimento


Parece que o homem é um ser destinado à dor e ao sofrimento. Não há vida sem sofrimento. Compreender isso é um passo no sentido de criarmos meios para minimizar o
destino humano. Somos jogados no mundo. A nossa primeira experiência é de desamparo. E é a partir desta experiência subjetiva que devemos nos superar e nos responsabilizar pelo nosso caminhar sobre a terra. O poeta pede mais compreensão para a dor e o sofrimento subjetivos.

Por que é que todo mundo
acha-se o mais sofredor,
se o sofrimento é profundo
e ninguém afere a dor?
Marcos Medeiros - RN

Quem me dera alguém pudesse
entender meu sentimento:
seria a trova uma prece
para o fim do sofrimento.
Neiva Fernandes - RJ

Não se mede facilmente
um sofrimento profundo,
porquanto o drama da gente
é sempre o maior do mundo!
Eduardo A. O. Toledo - MG

Para esse sofrimento subjetivo, eis um bom conselho:

Acenda a luz da esperança
ante a angústia de um momento.
Com revolta não se alcança
o cessar de um sofrimento.
Maria Antonieta B. Dutra - RN

Certamente não é possível fugir desse desamparo primordial, do nosso sofrimento subjetivo, mas ao menos devemos nos esforçar para evitar o sofrimento perpetrado pela ambição, pela desonestidade e pelas injustiças sociais,

Neste mundo, os desonestos
recebem palmas e flores
e o trabalhador, os restos,
o sofrimento e as dores.
Gonzaga da Silva - RN

Encenados, ao relento,
vejo com muita emoção
os "atos" de sofrimento
nos teatros do sertão!
Ademar Macedo - RN

Embora devamos ser proativos frente ao sofrimento causado pela maldade humana, o trovador tem razão quando expressa a triste realidade de um mundo cada vez mais cruel.

Num mundo sem soluções,
nestes tempos inclementes,
não vivem populações...
existem sobreviventes!
Sebas Sundfeld - SP


Fonte:
Luiz Gonzaga da Silva (org.). Trova e Cidadania. Natal/RN, abril de 2019.
Livro enviado pelo trovador.

Luiz Poeta (Escama e Pele)


Olhava a lâmpada. A cabeça apoiada sobre o travesseiro, recostada, o cigarro entre os dedos, a caneta indecisa, riscando o ar, paralítica.

No peito, um vácuo inexplicável, espécie de vazio inexprimível por gesto ou palavra; na cabeça, porção de coisas ora amorfas, vez nebulosas; noutras, vivas, móveis, sufocantes.

Na janela, mudez soturna, nudez sem medo das estrelas pálidas, trêmulas, fetos sozinhos no líquido amniótico de metileno, fundo, profuso, profundo, profanável somente por olhos maus, insensíveis, inumanos.

O vento assobiava silêncios e um inflexível veleiro de neve percorria-o, tornando fluvial cada ramificação de artéria, capilar ou veia, penetrando-lhe como um punhal, estalactite, adaga de gelo no mar sanguíneo das emoções que o inundavam.

Repentinamente, o sono e o sonho. Era um planeta longínquo, tonalizado de verde, dourado e azul. Na areia lívida das margens dos rios, o rastro, a pegada, o vestígio, o resquício da imagem que varou as águas no rumo da cachoeira... ele, fitando a escuma nas pedras escorregadias, aparando a eterna, misteriosa e mansa pressa das vertentes.

Num átimo, o salto de um impetuoso peixe assustando o seu sonâmbulo enlevo... Do peixe... a pele... o corpo, a humana forma de mulher que lhe cingiu o pescoço num toque mágico de braços longos, dedos finos, pernas infinitas... o tépido ventre na umidade do seu sexo... depois, os beijos de lábios que se percorriam mansos, macios, velozes, provocando a lágrima de felicidade de tão puros na sua essência e tão passional na sua prazerosa e sinestésica ocorrência.,.

Todavia, no mesmo torpor que saltara da alma do peixe e da ânsia do homem, os movimentos esfumaram-se lentos, esvoaçantes, voláteis, num surrealismo que se metamorfoseava em abstratas imagens... ele, desesperado, tentando conter a imagem que se diluía nebulosamente etílicas em suas mãos... numa loucura de ansiar um todo, percebeu-se fundamente solitário e triste, num abandono de grãos minúsculos que o vento frio da manhã arrebatou-lhe gelidamente, vindo talvez da nascente daquele planalto de picos solitários furando a eterna, insensível e metilênica pele do céu.

Despertou no quarto: a tela dos cavalos selvagens galopando eternamente em sua direção, a chama do cigarro ardendo-lhe nos dactilos e a caneta caída, inerte, sem perspectiva de poesia ou de palavras aleatórias confessando segredos inconfessáveis... o etéreo punhal eólico das nevascas rasgando-lhe as artérias nervosas como aquele rio onírico despejando corpos abstratos no espumante precipício de lágrima e de sangue...

Fitou o teto novamente. Uma aranha tecelã bordava silêncios no canto entre duas paredes e um inseto vulgar e inexpressivo bebia-lhe a expectativa bem próximo, pousado, despreocupadamente num lavar de patas aleatório ao perigo de viver num mundo limitado por territórios e revezes, como o dele. Aturdido ainda, tentou resgatar o êxtase produzido pelo sublime pesadelo, mas a metálica luz do sol provocava-lhe a vida existente em cada uma de suas sonolentas retinas. Dobrou caprichosamente o cobertor, guardou-o no armário junto com o travesseiro molhado pelo suor das ansiedades, alisou afetuosamente as dobras do lençol, cerrou a janela sobre os raios matinais tagarelando brilhos dourados. Enxugou uma lágrima das tantas que ainda choraria e saiu no rumo de uma vaga perspectiva desenhada pela trajetória dos sentimentos e cerrou cuidadosamente a porta.

Lembrava-a agora. Recordava o sonho, o rio, os grãos, o peixe tornado ela, neve na pele de sua solidão, fogo na lágrima descendo sinuosa, limpa à luz da lua espraiada sobre o espelho das poças, olho fundo, sugado pela insônia, mirando, pedindo, esperando, implorando o desespero do contato nervoso das peles.

Caminhava. Ruas entrelaçavam-se unidas pelo abandono, trançadas sob seus letárgicos passos, o coração batendo mais alto que o próprio rebuliço das calçadas repletas de transeuntes alheios ao seu silencioso abandono. Sem que se desse, estava na antiga casa. Parou. Percorreu-a com o olhar súplice de uma única presença. Arriscou um primeiro passo na direção do aparentemente imutável. Atravessou nostalgicamente o misterioso quintal verde-negro, protegido apenas por um portão de ferro, enferrujado como suas esperanças que rangiam desesperos, afastando, no caminhar, as ramagens pendentes dos velhos troncos de árvores seculares, fragilizadas pelas intempéries climáticas.

Num galope, o mesmo cão veio até ele receptivo. Era a realidade que latia exibindo um riso que se exprimia mais pelo abanar de uma cauda do que pela saliva pulando dos caninos. Um afago no animal em festa, uma melancólica alegria, e o sapato estalando esperanças, esmagando lentamente o tempo, no ritmo de cada passada embalada pelo fúnebre compasso do improvável...

Afastou as cortinas de mais uma lágrima, mirando a remota arquitetura da sua vida tão carente de companhia: a mesma janela do sobrado, o mesmo galho seco sobre a varanda... a mesma gaiola suspensa e o canário piando, buscando os acordes de um trinado sem perspectiva de um canto ideal.

Subiu. As solas dos sapatos tocavam cautelosamente o assoalho de cada um dos degraus de madeira. Contou-os um a um; eram doze... o mesmo número do dia em que se ausentou para uma nova vida que se tomou tão sem perspectiva.

Abriu a porta do quarto. Tropeçou na própria insegurança.

- Quem está aí? – Ela mirava-o com seriedade. O semblante percorrendo-o com perplexidade e mansidão.

Os olhos dele eram o limite entre o medo e a vontade. Um riso seminu afastou lentamente os lençóis da timidez. Com ele, uma minúscula gota de pranto parava no trampolim da emoção... mas... para onde saltar? O vago precipício da incerteza estava dentro dele... precisava escolher...

Na dúvida, veio-lhe o abismo passional. Suas lágrimas diluíram-se lânguidas nos olhos dela. Lábios e línguas não conseguiram conter a aflita volúpia mandibular, cujos dentes foram se tomando afetuosas adagas sangrando a víscera anímica de duas prazerosas bocas que se fundiam na epidérmica umidade dos desejos.

O peixe tornado mulher saltou novamente do rio e mergulhou com ele nas aquáticas turbulências da passionalidade... julgou que despertaria... que o sonho fugiria... e agarrou-se nele com força e afeto... a miragem foi desvanecendo gradativa, sonolenta... cósmica...

- Beije-me de novo! - ele suplicou.

Na manhã seguinte, no quarto onde dormira na casa dos parentes mais próximos, o grito da empregada, o desmaio da mãe, o vitupério do pai e... o bilhete: Papai e mamãe. Amo vocês. Suas bênçãos. Um dia volto. Quem sabe...

A motocicleta violentou a nebulenta mudez da madrugada. Ela presa nele, a mochila nas costas; o amor vibrando forte, superando o ronco do motor. Escama e pele voando no rastro da liberdade.

Sob a ponte, a cachoeira continuaria eternizando um espumante beijo de amor na epidérmica solenidade das pedras escorregadias.

Fonte:
Luiz Gilberto de Barros (Luiz Poeta). Canção de Ninar Estátuas. 1.ed. Ilhéus/BA: Mondrongo, 2014.
Livro entregue pelo autor.

XXV Jogos Florais de Porto Alegre 2019 - Resultado Final


NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: OURO (líricas/filosóficas)


VENCEDORES:

1º  lugar:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

Busca primeiro a virtude;
teu ouro, busca depois.
Quem não toma essa atitude
acaba perdendo os dois!

2º lugar:
GILVAN CARNEIRO DA SILVA
São Gonçalo/RJ

Não há coroa que valha
mesmo em ouro cravejada,
aquele chapéu de palha
da pessoa boa e honrada.

3º lugar: 
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Somos almas garimpeiras
nessa vida de perigos
onde, em lavras rotineiras,
valem ouro os bons amigos.

4º lugar   
SÍLVIA MARIA SVEREDA
Irati/PR

O entardecer é tão lindo...
Ouro tingindo o arrebol
é a mão de Deus colorindo
a despedida do sol.

5º lugar:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

Num labor que nunca encerra,
a lavoura é meu tesouro...
Minhas mãos sujas de terra
cobrem as tuas de ouro!

MENÇÕES HONROSAS:

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Não é pelo ouro que ostenta
que a aliança tem valor,
mas sim quanto representa
a história de um grande amor.

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Nem sempre o silêncio é ouro.
Uma palavra sensata
pode valer um tesouro,
se for a palavra exata!

GILVAN CARNEIRO DA SILVA
São Gonçalo/RJ

Aos humildes nos convém
o mais respeitoso apuro;
é do cascalho que vem
as pepitas de ouro puro.

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Em ser rica não me empenho!
- Ter um lar aconchegante
e os filhos de ouro que eu tenho...
...já é riqueza bastante!

NÉLIO BESSANT
Pindamonhangaba/SP

Não há, no mundo, desdouro,
mal maior ou mais profundo,
do que vender-te por ouro
à custa do mal do mundo.

MENÇÕES ESPECIAIS:

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Luxo é bom, porém não muda
a verdade da pessoa.
- Garfo de ouro em nada ajuda,
se a comida não é boa.

A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Tolos tesouros humanos:
ouro, fortuna estocada...
Ao fim de oitenta ou cem anos,
o “dono” parte sem nada...

ELANA RIMENEZ
 Balneário Camboriú/SC

Nenhum ouro traz a glória
se um torpe caminho teço;
não há sucesso ou vitória
quando a ética tem preço.

ELANA RIMENEZ
 Balneário Camboriú/SC

A riqueza é uma jazida
cujo garimpo assim diz:
o achado de ouro da vida
é fazer o outro feliz.

MADALENA FERRANTE PIZZATTO
Curitiba/PR

De um ipê caem as flores,
e com toque de artesão,
Deus matiza as suas cores,
revestindo de ouro o chão.

NOVOS TROVADORES

TEMA OURO (líricas/filosóficas)


1º lugar: 
JOSÉ RUI CAMARGO
Taubaté/SP

Nem tudo que brilha é ouro,
riqueza é poder amar,
pois o meu maior tesouro
e o brilho do teu olhar.

2º lugar: 
ARCHIMINO BRAZ DE CAMPOS

 Balneário Camboriú/SC
Disse adeus: passou ligeiro
pela vida em tantas provas.
Não deixou ouro ou dinheiro,
mas deixou tão belas trovas!

3º lugar:
ARCHIMINO BRAZ DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Trovador, ouro polido,
vive em plena evolução;
vê que tudo está contido
entre o amor e a vocação.

NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: BRONZE (Humorísticas)


VENCEDORES:

1º lugar:
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Faltou bronze ao escultor
que, sem outra solução,
resolveu, na praça, expor
a estátua do herói anão!...

2º lugar: 
JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

- Fui bronze! Missão cumprida!
Disse o sujeito aos parentes,
sem mencionar que a corrida
só tinha três concorrentes.

3º lugar: 
AILTO RODRIGUES
Nova Friburgo/RJ

Saltou com vara e foi bronze...
E o medalhista escancara,
que já conquistou mais de onze
sem deixar cair a vara!...

4º lugar: 
SÉRGIO FERRAZ DOS SANTOS
Nova Friburgo/RJ

Ganhei de bronze a medalha
“O mais feio do sertão”...
E, como a raça não falha,
a de” Ouro”...foi meu irmão!

5º lugar:
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

O lusitano espargiu
bronze por todo o quintal,
quando a mulher lhe pediu
bronzeamento artificial...

MENÇÕES HONROSAS:

ANA CRISTINA DE SOUZA
São Paulo/SP

Com seu bronze, ele exultou
ao vencer entre os novatos,
mas ele só não contou
que eram três...os candidatos...

ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

Minha mulher me dá bronca
se eu durmo depois das onze.
- Tão alto é o som quando ronca,
bem mais que um sino de bronze...

HÉLIO CASTRO
São Paulo/SP

Já bem cheio de cachaça,
nos metais vê sua sorte...
- Que seja de bronze a taça,
pra pinga...ficar mais forte!

JERSON LIMA DE BRITO
Porto Velho/RO

Dolores, mulher de peito,
foi à praia e, que castigo,
em vez do bronze perfeito,
mancha clara até o umbigo!

MÁRCIA JABER
Juiz de Fora/MG

Tomou cascudo à vontade,
por ter olhado sem pena,
junto da cara metade,
para o bronze da morena.

MENÇÕES ESPECIAIS:

A. A. DE ASSIS 
Maringá/PR

Na praia, das oito às onze,
vovozinha ao sol se banha.
Quem sabe, pegando um bronze,
ao vê-la, o vovô se assanha!...

ELIAS PESCADOR
São Paulo/SP

O time de anões foi bronze,
com seus limites compete:
mesmo jogando com onze,
há quem diga que eram sete...

FRANCISCO GABRIEL
Natal/RN

Pra um prefeito imerso em rombos,
fiz de bronze um monumento,
depois deixei para os ombros
o resto do acabamento.

LUIZ MORAES
São José dos Campos/SP

De bronze ficou “maneira”,
a estátua do Nicolau,
antes fosse de madeira...
Ele era um cara de pau!

MARIA MADALENA FERREIRA
Magé/RJ

Foi contar atrás do “bronze”
umas “pratas” que roubou,
mas...só contou até onze:
- Logo a polícia o flagrou!...

ESTADUAL

TEMA: PRATA (líricas/filosóficas)


VENCEDORES:

1º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA
Porto Alegre

A humildade é este tesouro
em que a vida, autodidata   
sabe que antes de ser “ouro”,
 há de aprender a ser “prata”.

2º lugar:
LUIZ STABILE
Uruguaiana

Não tenho joias nem ouro,
mas nossa história me abrasa,
pois és meu grande tesouro,
a minha prata da casa.

3º lugar:
CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

A menina que bailava
para os pássaros da mata.
a cada passo, sonhava
com sapatilhas de prata!...

4º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA
Porto Alegre

Se a vida é um matiz prateado
um novo viver proponho:
fecho os olhos e, ao teu lado,
dou cor à viva que eu sonho.

5º lugar:
FLÁVIO STEFANI
Porto Alegre

Quando o mal mostra as agruras,
maculando o paraíso,
eu busco em águas mais puras
a prata do teu sorriso!

MENÇÕES HONROSAS:

JAQUELINE MACHADO
Cachoeira do Sul

Esses cabelos de prata,
escondem a mocidade
que teu belo olhar retrata
da moldura da saudade...

LISETE JOHNSON
Porto Alegre

Apesar dos meus apelos
e ao tempo que me maltrata,
rendo-me ao ver meus cabelos
tingidos de pura prata.

LUIZ DAMO
Caxias do Sul

Dos arquivos do passado,
quem ama, um sonho resgata,
de preferência, dourado
 ou mesmo folhado em prata.

LUIZ STABILE
Uruguaiana

De nossa longa jornada,
não há lembrança mais grata
 que não seja superada
 por nossas bodas de prata.

LUIZ STABILE
Uruguaiana

Pelos anos de ventura
que nossa vida retrata,
hoje beijo com ternura
os teus cabelos de prata.

MENÇÕES ESPECIAIS:

ARY CARDOSO
Porto Alegre

Jogos Florais: fantasias,
verdades, cores, bravata...
UBT serve alegrias
em belas taças de prata.

ARY CARDOSO
Porto Alegre

Jogos Florais, labareda,
cinco lustros nesta data.
Nosso olhar vai como seda
lustrando a taça de prata.

CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

O tempo tingiu de prata
 os negros cabelos meus
 tesouro, que bem retrata
 o poder da mão de Deus!...

LISETE JOHNSON
Porto Alegre

Não era leite, era prata 
que esguichava em raro brilho
dos seios da mãe mulata
amamentando seu filho.

LUIZ DAMO
Caxias do Sul

Duas décadas e meia
de uma união que retrata
o amor partilhado à ceia
 da eterna “bodas de prata”.

LUIZ DAMO
Caxias do Sul

O homem, por ciúmes, mata,
morre às mãos da má conduta,
longe do ouro, perde a prata,
por querer ser pedra bruta.

ESTADUAL

TEMA: JOIA (Humorísticas)


VENCEDORES:

1º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA

Porto Alegre
Sempre que a sogra me apoia,
agradeço-a e, na surdina,
a chamo de minha “joia”...
...minha  joia “made in China”…

2º lugar:
MARÍLIA OLIVEIRA
Porto Alegre

Minha sogra centenária,
e, por dentro, eu me deleito
por comprar, na funerária,
o “porta-joia” perfeito!

3º lugar:
FLÁVIO STEFANI
 Porto Alegre

- “Passa as joias”, vai dizendo...
E a cozinheira argumenta,
mas entrega, ainda tremendo,
dois vidrinhos de pimenta...

4º llugar:
FLÁVIO STEFANI
Porto alegre

Minha sogra, aquela “joia”,
dá veneno pro gatinho,
e já pensando em tramoia,
diz: - Vem cá, lindo genrinho...

5º lugar:
CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

Pressente o assalto a guria...
De pronto e muito nervosa,
Expõe a bijuteria
e cobre a joia preciosa!...

MENÇÕES HONROSAS:

ARY CARDOSO
Porto Alegre

Joia e Joio se casaram
num “festerê” bacanal;
e os filhos proliferaram
no Congresso Nacional!

CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

Pra afastar a concorrente,
ela diz que seu amor
tem um brinco que é indecente,
joia de pouco valor...

FLÁVIO STEFANI
Porto Alegre

Vende joias o ambulante,
pelas ruas da cidade,
mas não testa, nem garante,
nem dá nota...que maldade!

LUIZ STABILE
Porto Alegre

A joia com que eu sonhava
dia e noite...noite e dia,
não era quem eu pensava:
era pura fantasia...

ROQUE ALOÍSIO WESCHENFELDER
Santa Rosa

Tanta gente fica louca,
querendo tão cara joia,
mas com grana muito pouca
só se compra a paranoia.

MENÇÕES ESPECIAIS:

CLÁUDIO DERLI SILVEIRA
Porto Alegre

É a joia do meu amor
que eles cobiçam também.
Eu que sei do seu valor
faço tempo e cuido bem!!!

LUCI BARBIJAN
Caxias do Sul
Uma “joia preciosa”
é o que se dizia ser...
Falsa, chata e orgulhosa!
como tal, veio a morrer.

INTERNACIONAL : LENGUA HISPANICA

TEMA: ORO


VENCEDORAS
 
1o 
DÉLIA ESTHER FERNANDÉZ CABO
Uruguay


Oro del sol en el cielo
y del maizal en la quinta,
oro de hojas en el suelo
cuando el otoño las pinta.

2o
SUSANA ANGÉLICA ORDEN
Argentina

Oro , plata y vanidades
no orientaron mi camino
y buscando las verdades
he forjado mi destino.

3o
MARTA REGUEIROS DUEÑAS
EUA

De oro son todas las manos
que siempre entregan amor,
atributo en los humanos
que quieren dar lo mejor.

4o
MARIA ROSA RZEPKA
Argentina

El pan que llega a la mesa
es más valioso que el oro.
Hay quien llora de tristeza
por faltarle este tesoro.

5o
SUSANA ANGÉLICA ORDEN
Argentina

Más importante que oro
es la amistad compartida
y el más precioso tesoro
que nos regala de vida.

 MENCIÓN HONROSA

1o
JOSÉ LISSIDINI SÁNCHEZ
Uruguay

Si optas por deambular,
buscando tu gran tesoro,
valora siempre tu hogar,
muchísimo  más que el oro.

2o
VERÓNICA QUEZADA VARAS
Chile

Oro, metal codiciado,
en tiempos de la Conquista.
Tanto pueblo aniquilado
por ambiición egoísta.

3o
CRISTINA OLIVEIRA CHÁVEZ
EUA

Cuando el oro es codiciado
muchas tragédias arrastra,
es sortilégio dorado
que el buen sentimento, castra.

4o
SARA BACA VACA
México

El oro nos envilece
-- arsénico que envenena-
nuestra dignidad decrece
 y la vanidad nos llena.
 
5o
JOSÉ HÉCTOR CORREDOR CUERVO
Colombia

La guerra es de poderosos
que buscan oro y riqueza,
explotando a ambiciosos
de poder y de grandeza.

MENCIÓN ESPECIAL

1o
NELLY V. B. FORNI
Argentina

Mientras el hombre persiga
el hacerce rico en oro
y pecando lo consiga
pierde del cielo un tesoro.
 
2o
TERESITA MORÁN VALCHEFF
Argentina

No corras detrás del oro
y cultiva el desapego.
Con voluntad y decoro
podrás demoñar el ego.

3o
CRISTINA OLIVEIRA CHÁVEZ
EUA

El oro aun siendo brillante
es metal, sin  alma y frio
codiciado es, por su amante
que en común, tienen vacío.

4o
DÉLIA ESTHER FERNANDÉZ CABO
Uruguay

Dicen que no todo es oro
lo que en la vida reluce.
Talvez un falso tesoro
sea el que más nos seduce.

5o
MARTA REQUEIRO DUEÑAS
EUA

No es oro la divisa
con que ha de pagarse todo,
aveces una sonrisa
procede de mejor modo.

Fonte:
Resultado enviado por Alexandre Magno Oliveira de Andrade Reis para o blog Doce Aconchego das Trovas.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Varal de Trovas n. 126


Raul Pompéia (O Fruto da Formosura)


Em princípio, ele era pequenino; uma ligeira elevação de carne infantil, macia como a polpa de um fruto esquisito; tinha um biquinho, rubro como uma cereja microscópica; tinha dois anos, então: recebia as carícias maternas de uns lábios ardentes e amorosos.

Foi crescendo... crescendo...

Já lhe notavam tendências para a bela forma redonda. A carne branca, polpuda, elevava-se pouco a pouco.

Foram-no cobrindo, zelosamente de cambraias e fitas.

Em pequenino, andava tantas vezes nu, gozando o contato suave do ar livre e fresco a passar-lhe pela epiderme. Exatamente quando mais lindo ficava, é que o queriam esconder como uma coisa indigna.

Este escrúpulo avultava com o tempo.

Esconderam-no cada vez mais, e cada vez mais, do fundo do seu retiro de linhos e cambraias finíssimas, o indiscreto erguia-se, cercado de rubores incertos e nômades, que percorriam-lhe a epiderme, semeando calor; erguia-se como quem sabe que vai a fazer-se sedutor e deseja que o vejam e o adorem...

Mas a cruel cambraia subia também, com uma impertinência ciosa e avara; o pobre via-se condenado àquela prisão cálida e escura, que o sufocava ferozmente.

Ah! quem lhe dera sentir as auras frescas da tarde e os orvalhos da madrugada; viver à luz dos sóis e dos luares, despido, desembaraçado e nu, como os jambos rosados e venturosos!...

Despiam-no, é certo, mas unicamente para respirar o ambiente morno e viciado das alcovas.

Era nessas ocasiões que ele via como estava belo; mirava-se nas banheiras e nos espelhos, namorava-se como um narciso, o pobre...

E como torturavam-no, depois, aquelas faixas com que o comprimiam!

Parece que havia empenho em deformá-lo, contrariando a natureza que o aviventava. Entretanto, ele resistia e triunfava!

A delicada forma cônica dilatava-se-lhe, encurvava-se, sobressaía com a íntima energia de um botão de magnólia que vai desabrochar em largas pétalas. Sedutor cada vez mais.

Tornou-se tímido. O recato da cambraia que o contrariava agrada-lhe então.

O próprio ambiente morno da alcova parece feri-lo com um contato sacrílego.

O sofrimento que então o tortura já não é a contrariedade daqueles panos que o abafavam.

O sofrimento consiste em pancadas íntimas, violentas, que o agitam e mortificam.

Está amando, o pobre...

Por fim, expande-se.

Rasgam-se os linhos e as cambraias, e dois lábios impetuosos, sedentos, vão lá ao fundo violar o recato do amante misterioso e invisível.

Mudou-se-lhe de todo a natureza, ele engorgita-se em plena maturidade.

Uma criaturinha vem sofregamente sugar-lhe a seiva e nutrir-se dele como a parasita que vive da vitalidade alheia...
..................................................................

Então começa a decadência.

O belo seio, outrora rijo de virgindade e frescura, estremecendo às emoções elétricas do amor, desprende-se tristemente da antiga firmeza escultural e cai, como os frutos caem no fim do outono...

Em breve, há de apodrecer no campo, alimento dos vermes famintos, húmus fecundos da terra, como o fruto que o outono deixa, repasto das novas primaveras, vorazes, egoístas...

É quase a história comum de todos os frutos.

Fonte:
Raul Pompéia. Contos.

Odenir Follador (Poemas Avulsos) 2


ALMEJADA AMADA

Amar é sentirmos o coração
pulsar em nosso âmago, intensamente...
Inflar-se na volúpia da paixão
queimando toda alma, impetuosamente!

Um amor platônico que buscamos
encontrar, em nossa almejada amada;
e, sob as estrelas nos entregarmos
lascivos, à bruma da madrugada...

Cáustica chama do amor a sentirmos
no lampejo de uma nova alvorada!
E, num fiel anseio prosseguirmos...

Em desejos frementes, sensuais...
Entregarmo-nos à relva orvalhada
ao brilho das estrelas magistrais!

COMPARAÇÃO

Fazendo comparação
entre a canção e uma flor:
numa produz emoção
e noutra produz amor.

O momento encantador
ficará sempre guardado;
canção, amor e uma flor,
que oferece enamorado.

E o poeta à sua bela,
dedica-lhe com ternura
uma seresta à janela.

Brotando do coração,
lindos versos com candura
só de amor e sedução!

FOLHA DE PAPEL EM BRANCO

Em uma folha de papel em branco
eu escrevo contos e poesias;
descrevo a natureza e seu encanto,
inda as ocorrências do dia a dia!

Todas as folhas em branco contêm
muitos textos escritos ao leitor...
Cuja destinação vai muito além,
da mente criativa do escritor!

Folhas rabiscadas que não dão certo
são amassadas e vão para o cesto;
mas, uma irá ao leitor ou leitora...

Uma por todas e todas por uma,
diz-nos um adágio épico, em suma,
após muito trabalho... “A vencedora”!

NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES
E IEMANJÁ


A Nossa Senhora dos Navegantes,
Iemanjá, na fé afro-brasileira...
Cultuada por fiéis simpatizantes
praticando homenagem derradeira.

Seu dia é festejado em fevereiro
movimentando imensas multidões;
em muitas urbes do Brasil inteiro
festejam nas ruas em procissões!

Salve Nossa Senhora protetora...
Nos rios e nos mares és benfeitora
dos navegantes de nossa nação!

Também na crença afro-brasileira,
eles preparam a semana inteira
a festa de Iemanjá, com oblação.

O MAR

Observando o mar, o seu movimento...
O vai e vem das ondas agitadas
quebrando na praia, a todo momento,
esparramando espumas prateadas.

Avisto um pescador, que destemido...
Lança seu barco no mar agitado
com coragem,  não receia o perigo!
São suas redes que o tem sustentado.

Vejo gaivotas, com olhar atento...
A planarem sobre as ondas do mar,
ávidas, a procura de alimento!

À tarde, o sol deitava no ocidente,
derradeiros raios, para adornar
seus últimos brilhos, para o poente.

SALVADOR - BAHIA

Falam muito de ti frequentemente,
Salvador de belezas naturais...
Os poetas te exaltam fartamente
em versos, teus valores culturais!

Falam também de ti, principalmente:
do Dique Tororó , Orixás e Axé,
do Elevador Lacerda... , especialmente
das comidas: vatapá e acarajé!

Quisera decantar-te em muitos versos.
Exaltar toda a tua exuberância
do passado, e de hoje, os teus  progressos!

Quem já te conheceu, feliz professa...
Que cantará em versos tua importância
ao Senhor do Bom Fim..., Uma promessa!

SEU OLHAR

Uma breve esperança, em seu olhar,
simula apenas amar, e mais nada;
não é mais, que uma esperança, a brilhar,
por uma grande paixão, revogada.

O perene olhar, de um amor desfeito,
olhar que torna pura, a alma inquieta,
é um desejo feliz, meio sem jeito;
que arde, e queima, toda a alma, irrequieta.

E num olhar de amor, nós almejamos,
reatar a paixão, com que sonhamos,
íntegra, pura e branca em densas brumas.

E num olhar apenas, alcançamos,
a felicidade que nós deixamos
que voasse, como douradas plumas.

Fonte:
Sonetos enviados pelo poeta.

Alcântara Machado (Tiro de Guerra n. 35)


No Grupo Escolar da Barra Funda, Aristodemo Guggiani aprendeu em três anos a roubar com perfeição no jogo de bolinhas (garantindo o tostão para o sorvete) e ficou sabendo na ponta da língua que o Brasil foi descoberto sem querer e é o país maior, mais belo e mais rico do mundo. O professor Seu Serafim todos os dias ao encerrar as aulas limpava os ouvidos com o canivete (brinde do Chalé da Boa Sorte) e dizia olhando o relógio:

– Antes de nos separarmos, meus jovens discentes, meditemos uns instantes no porvir da nossa idolatrada pátria.

Depois regia o hino nacional. Em seguida o da bandeira. O pessoal entoava os dois engolindo metade das estrofes. Aristodemo era a melhor voz da classe. Berrando puxava o coro. A campainha tocava. E o pessoal desembestava pela Rua Albuquerque Lins vaiando Seu Serafim.

Saiu do Grupo e foi para a oficina mecânica do cunhado. Fumando Bentevi e cantando a Caraboo. Mas sobretudo com muita malandrice. Entrou para o Juvenil Flor de Prata F. C. (fundado para matar o Juvenil Flor de Ouro F. C.). Reserva do primeiro quadro. Foi expulso por falta de pagamento. Esperou na esquina o tesoureiro. O tesoureiro não apareceu. Estreou as calças compridas no casamento da irmã mais moça (sem contar a Joaninha). Amou a Josefina. Apanhou do primo da Josefina. Jurou vingança. Ajudou a empastelar o Fanfulla que falou mal do Brasil. Teve ambições. Por exemplo: artista do Circo Queirolo. Quase morreu afogado no Tietê.

E fez vinte anos no dia chuvoso em que a Tina (namorada do Linguiça) casou com um chofer de praça na policia.

Então brigou com o cunhado. E passou a ser cobrador da Companhia Autoviação Gabrielle d’Annunzio. De farda amarela e polainas vermelhas.

Sua linha: Praça do Patriarca – Lapa. Arranjou logo uma pequena. No fim da Rua das Palmeiras. Ela vinha à janela ver o Aristodemo passar. O Evaristo era quem avisava por camaradagem tocando o cláxon do ônibus verde. Aristodemo ficava olhando para trás até o Largo das Perdizes.

E não queria mesmo outra vida.

Um dia porém na seção "Colaboração das Leitoras" publicou A Cigarra as seguintes linhas de Mlle. Miosótis sob o título de Indiscrições da Rua das Palmeiras:

"Por que será que o jovem A. G. não é mais visto todos os dias entre vinte e vinte e uma horas da noite no portão da casa da linda Senhorinha F. R. em doce colóquio de amor? A formosa Julieta anda inconsolável! Não seja assim tão mauzinho, Seu A. G.! Olhe que a ingratidão mata…"

Fosse Mlle. Miosótis (no mundo Benedita Guimarães, aluna mulata da Escola Complementar Caetano de Campos) indagar do paradeiro de Aristodemo entre os jovens defensores da pátria.

E saberia então que Aristodemo Guggiani para se livrar do sorteio ostentava agora a farda nobilitante de soldado do Tiro-de-Guerra n. 35.

– Companhia! Per… filar!

No Largo Municipal o pessoal evoluía entre as cadeiras do bar e as costas protofônicas de Carlos Gomes para divertimento dos desocupados parados aos montinhos aqui, ali, à direita, à esquerda, lá, atrapalhando.

– Meia volta! Vol… ver!

O sargento cearense clarinava as ordens de comando. Puxando pela  rapaziada.

– Não está bom não! Vamos repetir isso sem avexame!

De novo não prestou.

– Firme!

Pareciam estacas.

– Meia volta!

Tremeram.

– Vol… ver!

Volveram.

– Abém!

Aristodemo era o base da segunda esquadra.

Sargento Aristóteles Camarão de Medeiros, natural de São Pedro do Cariri, quando falava em honra da farda, deveres do soldado e grandeza da pátria arrebatava qualquer um.

Aristodemo só de ouvi-lo ficou brasileiro jacobino. Aristóteles escolheu-o para seu ajudante-de-ordens.

– Você conhece o hino nacional, criatura?

– Puxa, se conheço, Seu Sargento!

– Então você não esquece, não? Traz amanhã umas cópias dele para o pessoal ensaiar para o Sete de Setembro? Abom.

Aristodemo deu folga no serviço. Também levou um colosso de cópias.

E o primeiro ensaio foi logo à noite.

Ou-viram do I-piranga as margens plá-cidas…

– Parem que assim não presta não! Falta patriotismo. Vocês nem parecem brasileiros. Vamos!

Ou-viram do I-piranga as margens plácidas Da Inde-pendência o brado re-tumbante!

– Não é assim não. Retumbante tem que estalar, criaturas, tem que retumbar! É palavra. Como é que se diz mesmo?… é palavra… ah!… onomatopaica: RETUMBANTE!

E o hino rolou ribombando:

… a Inde-pendência o brado re-TUMBAN-te! E o sol da li-berdade em raios ful…

De repente um barulho na segunda esquadra.

– Que isbregue é esse aí, criaturas?

Isbregue danado. O alemãozinho levou um tabefe de estilo. Onde entrou todo o muque de que pôde dispor na hora o Aristodemo.

– Está suspenso o ensaio. Podem debandar.

– Eu dei mesmo na cara dele, Seu Sargento. Por Deus do céu! Um bruto tapa mesmo. O desgraçado estava escachando com o hino do Brasil!

– Que é que você está me dizendo, Aristodemo?

– Escachando, Seu Sargento. Pode perguntar para qualquer um da esquadra. Em vez de cantar ele dava risada da gente. Eu fui me deixando ficar com raiva e disse pra ele que ele tinha obrigação de cantar junto com a gente também. Ele foi e respondeu que não cantava porque não era brasileiro. Eu fui e disse que se ele não era brasileiro é porque então era… um… eu chamei ele de… eu ofendi a mãe dele, Seu Sargento! Ofendi mesmo. Por Deus do céu. Então ele disse que a mãe dele não era brasileira para ele ser… o que eu disse. Então eu fui. Seu Sargento, achei que era demais e estraguei com a cara do desgraçado! Ali na hora.

– Vou ouvir as testemunhas do fato, Aristodemo. Depois procederei como for de justiça. Fiat justitia como diziam os antigos romanos. Confie nela, Aristodemo.

"Ordem do Dia

De conformidade com o ordenado pelo Exmo Sr. Dr. Presidente deste Tiro-de-Guerra e depois de ouvir seis testemunhas oculares e auditivas acerca do deplorável fato ontem acontecido nesta sede do qual resultou levar uma lapada na face direita o inscrito Guilherme Schwertz, n. 81, comunico que fica o citado inscrito Guilherme Schwertz, n. 81, desligado das fileiras do Exército, digo, deste Tiro-de-Guerra visto ter-se mostrado indigno de ostentar a farda gloriosa de soldado nacional Delas injúrias infamérrimas que ousou levantar contra a honra imaculada da mulher brasileira e principalmente da Mãe, acrescendo que cometeu semelhante ato delituoso contra a honra nacional no momento sagrado em que se cantava nesta sede o nosso imortal hino nacional. Comunico também que por necessidade de disciplina, que é o alicerce em que se firma toda corporação militar, o inscrito Aristodemo Guggiani, n. 117, único responsável pela lapada acima referida acompanhada de equimoses graves, fica suspenso por um dia a partir desta data. Dura lex sed lex. Aproveito porém no entretanto a feliz oportunidade para apontar como exemplo o supracitado inscrito Aristodemo Guggiani, n. 117, que deve ser seguido sob o ponto de vista do patriotismo, embora com menos violência apesar da limpeza, digo, da limpidez das intenções.

Aproveito ainda a oportunidade para declarar que fica expressamente proibido no pátio desta sede o jogo de futebol. Aqui só devemos cuidar da defesa da Pátria!

São Paulo, 23 de agosto de 1926.
(a) Sargento-Inspetor Aristóteles Camarão de Medeiros."

Aristodemo Guggiani logo depois apresentou sua demissão do cargo de cobrador da Companhia Autoviação Gabrielle d’Anunuzio. Sob aplausos e a conselho do Sargento Aristóteles Camarão de Medeiros. Trabalha agora na Sociedade de Transportes Rui Barbosa, Ltda.

Na mesma linha: Praça do Patriarca – Lapa.

Fonte:
Alcântara Machado. Brás, Bexiga e Barra Funda.