segunda-feira, 10 de julho de 2023

Ademar Macedo (Ramalhete de Trovas) 8

 

Graciliano Ramos (História de uma bota)

Quando os amigos chegaram, o dono da casa estava sentado na pedra de amolar, pregando uma correia nova na alpargata. Levantou-se e foi acabar o trabalho escanchado na rede, resmungando aperreado, misturando assuntos:

— Caiporismo. Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo, seu Gaudêncio. Hum! Entretido, nem ouvi a salvação de vossemecês. Que estrago! Para sempre seja louvado, seu Libório. Como vai essa gordura? Boa-noite, seu Firmino. Tome assento.

Os visitantes acomodaram-se. Das Dores e Cesária vieram da cozinha e arrumaram-se na esteira.

— A vida é um buraco, meus amigos, murmurou Alexandre. De volta da feira, dei uma topada, esfolei o dedo grande, rebentei a correia desta infeliz e andei légua e meia com um pé calçado e outro no chão. Estava aqui pensando no meu tempo de rico. Dinheiro no baú, roupa fina e um quarto cheio de sapatos de toda a variedade.

— E botas com esporas de prata, acrescentou Cesária.

— Isso mesmo, concordou Alexandre. Botas com esporas de prata e de ouro, penduradas no torno. Agora é a desgraça que se vê: um pedaço de sola amarrado no casco, espinhos, rachaduras no calcanhar. Não somos nada não, seu Libório.

Baixou a cabeça, esteve um minuto remexendo os beiços, monologando. Pouco a pouco desanuviou-se, um sorriso franziu-lhe a cara, o olho torto brilhou:

— Por falar em bota, lembrei-me do aperto em que me vi há muitos anos, quando furava mundo. Tomei um susto dos diachos, e, pensando nisso, ainda me arrepio. Se quiserem escutar, abram os ouvidos. Se não estiverem com disposição, usem de franqueza: calo a boca, seu Libório pega na viola e canta aí umas emboladas para a gente.

— Não, senhor, escusou-se o cantador, modesto. Fale vossemecê.

Todos afirmaram que estavam curiosos, Alexandre tossiu, temperou a goela:

— Bem. O caso se deu numa das primeiras viagens que fiz à mata. Se não me engano, foi a primeira. Esperem, vou ver se me recordo.

Ficou um instante em silêncio, gesticulando, o olho torto fixo na telha.

— Isso, prosseguiu. Foi na primeira. Comprei dessa feita um papagaio sabido para Cesária, um bicho de tanta cadência como nunca se viu.

— O senhor falou nele, atalhou o cego. Um papagaio que tinha astúcias de cristão e valia um conto de réis.

— Não é verdade, seu Firmino, retorquiu Alexandre enfadado. Quem já viu papagaio de conto de réis? Esse que os amigos conhecem custou seiscentos e vinte e cinco mil e trezentos e saiu caro. Detesto exageros. Guardo as minhas conversas na memória, tudo direito. E se comprei o papagaio por seiscentos e vinte e cinco mil e trezentos, por que haveria de aumentar o preço dele? Responda, seu Firmino.

— Não sei não, murmurou o cego. O senhor é quem sabe.

— Pois é, continuou o dono da casa. Mas nós estamos gastando palavra à toa. Não interessa mexer num vivente miúdo, que se finou há muitos anos e o urubu comeu. Vamos ao negócio que prometi contar a vossemecês. Como já disse, foi para as bandas de Cancalancó.

— O senhor não disse isso não, rosnou o preto.

— Não disse? Pois fica dito, seu Firmino, tornou Alexandre. Foi na beira de um riacho, em Cancalancó, numa noite escura de meter medo no olho. Propriamente não era de noite: era de madrugada. Eu tinha corrido o sertão de cima a baixo, vendendo bois. No fim de seis meses havia um lucro enorme, dinheiro de papel em quantidade enchendo os bolsos da carona. E nesse dia, no termo de Cancalancó, decidi voltar para casa, porque já me aborrecia de tanto caminho, andava com a cabeça cheia de contas e muita saudade da patroa. Derrubei as cargas na beira do rio, arranjou-se uma fogueira, os tangerinos prepararam a comida e começaram a inventar lambanças, enquanto jantavam. Na cidade eu me hospedava em hotel caro e dormia em colchão fofo, mas ali no mato o jeito que tinha era arrumar-me no chão. Foi o que fiz. Mastiguei um punhado de farinha seca, um pedaço de carne de sol e uma rapadura, rezei minhas orações, tirei as botas e espichei-me na areia, vestido, com o rifle na mão, a carona cheia de notas servindo-me de travesseiro. Os animais ficaram roendo grama, peados de três pés para não se afastarem.

“Estive uma hora ouvindo as emboanças dos rapazes acocorados em redor do fogo. Depois eles se calaram, fizeram camas por baixo das catingueiras e pegaram no sono. Estava-se armando chuva, um calor medonho amolecia a gente, até as folhas das baraúnas tinham preguiça de bulir. A lua apareceu desconfiada e logo desapareceu. Uma nuvem engrossou na cabeça da serra, outra juntou-se a ela, veio uma terceira, espalhou-se, afinal o céu ficou todo coberto e não havia uma estrela para remédio. Um pretume dos diabos. A princípio, com luz do fogo, ainda enxerguei os arrieiros e os tangerinos que dormiam debaixo dos paús, as malas de couro e os surrões de mantimento, a minha sela e o par de botas. Mas as labaredas esmoreceram, as brasas cobriam-se de cinza, os tangerinos e os arrieiros, as malas e os surrões de matalotagem, a sela e o par de botas sumiram-se. Estou aqui desenterrando estas miudezas, e vossemecês pedem a Deus que eu me cale. Seu Firmino dá cada cochilo que faz pena e já abriu a boca três vezes, coitado.”

— Eu? Que invenção! protestou o cego endireitando-se no cepo que lhe servia de cadeira. Sou lá capaz de cochilar ouvindo uma história que o senhor conta? Continue, seu Alexandre. Escutei perfeitamente. Uma noite escura e de chuva.

— Não, seu Firmino, corrigiu Alexandre. Sem chuva. Eu não disse que o senhor estava dormindo? Armação de trovoada, muito calor e um escuro da peste. Era o que havia. Tudo escuro. Repito isto para vossemecês não se admirarem do que me aconteceu naquela noite. Ora muito bem. Passei umas horas calculando o ganho, com a ideia de mandar levantar na fazenda um sobrado como os que tinha visto na capital, grandão, cheio de enfeites e trapalhadas. Queria ver Cesária experimentar cama de mola e espiar-se naqueles espelhos do tamanho de uma parede. Acho que os amigos nunca viram isso, mas há. Por volta de meia-noite enrolei-me no cobertor, caí na madorra e comecei a sonhar com os sobrados e os espelhos.

“Acordei de madrugada. Sentei-me, fiz o pelo-sinal, gritei aos homens, que se levantaram e foram pegar os animais. Já sabem que me tinha deitado com roupa e tudo, como é de costume quando a gente se aboleta nos descampados. Marombando, espreguiçando, deixei a morrinha sair do corpo. Depois estirei um braço e procurei as botas que tinha largado ali perto na véspera. Achei uma bota, notei pelo jeito que era do pé esquerdo e calcei-me sem novidade. Mas quando fui calçar a outra sucedeu-me uma dos demônios. Meti a perna pelo cano, a perna entrou, entrou, e nada de chegar ao fundo. Uma bota regular vai ao joelho de um homem, não é isto? Pois essa passou o joelho, passou a coxa, tocou o pé da barriga, e se mais perna houvesse, mais teria entrado.

— “Certamente alguém me arrancou a sola do calçado enquanto eu dormia”, pensei. Quem se havia atrevido àquela brincadeira maluca? Dei um grito de raiva. Nesse ponto os arrieiros voltavam do campo, com os animais no cabresto. Trouxeram um pedaço de facheiro aceso, aproximaram-se de mim e perderam ação: olharam uns para os outros, embasbacados, amarelos como defuntos.

“Sabem vossemecês o acontecido? Nem gosto de me lembrar. Uma jiboia tinha-se enrodilhado junto da fogueira. Percebem? Calcei bem a primeira bota mas quando ia calçar a segunda, agarrei a bicha nas queixadas e enfiei-lhe a perna pela boca adentro. Avaliem o medo que senti. Fiquei uns minutos abobado, sem mexer-me, e os companheiros, num assombro, nem tiveram coragem de me ajudar. Sim senhores, acalmei-me. Sempre arranjo calma nas horas difíceis. E, com muito cuidado, para não furar-me nos dentes da cobra, consegui descalçar aquela bota medonha.

“Felizmente ela não me mordeu. Suponho que também se assustou. Não foi senão isso, acreditem. Entalou-se, de queixo caído, e deu graças a Deus quando se viu livre daquela coisa que lhe atravessava o interior. Sacudiu a cabeça, aliviada, e sumiu-se devagarinho na catinga.”

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
RAMOS, Graciliano. Histórias de Alexandre. Publicado originalmente em 1944.

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LVII


  
A JANGADA E MARIA...
 
MOTE:
 Partiu a jangada airosa
na praia ficou Maria,
pedindo, de alma ansiosa,
que ela volte ao fim do dia.

 Amália Max
Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014

GLOSA:
Partiu a jangada airosa

singrando o mar tão azul,
que sobre as ondas, formosa,
segue o caminho do sul!
 
Fitando o horizonte infindo,
na praia ficou Maria,
sonhando seu sonho lindo:
ver voltar sua alegria!
 
Numa prece silenciosa
ela abre o coração,
pedindo, de alma ansiosa,
ao seu amor – proteção!
 
Lembrar  a jangada, gera
uma esperança tardia.
Então, se acalma e espera
que ela volte ao fim do dia.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

  
CORAÇÃO NÃO ALADO...
 
MOTE:
Dei-lhe asas de querubim
e as penas do meu penar,
– Meu coração mesmo assim,
não aprendeu a voar!

Gisela Alves Sinfrônio
Olhão/Portugal

GLOSA:
Dei-lhe asas de querubim

mas meu coração cansado,
continuava preso a mim,
não quis se tornar alado!
 
Dei-lhe um pouco de alegria
e as penas do meu penar,
para ver se iria um dia
pelo mundo viajar.
 
Dei-lhe, então, de tudo enfim,
tudo o que mais precisava...
– Meu coração mesmo assim,
se escondia e não voava!
 
Falei de sonho e carinho,
e, em vão, tentei ensinar,
mas meu coração, sozinho,
não aprendeu a voar!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

    PALHAÇO
 
MOTE:
Vencendo todo o cansaço,
decerto gargalharei,
pois hoje sou um palhaço,
dos sonhos que não sonhei!

Giselda Medeiros
Fortaleza/CE

GLOSA:
Vencendo todo o cansaço,

da tristeza que angustia,
vou seguindo, passo a passo,
e talvez, até sorria...
 
Se, de fato, eu conseguir,
decerto gargalharei,
pois o tempo é de sorrir
por tudo quanto chorei!
 
Cantarolar é o que eu faço
mundo afora, sempre, a esmo,
pois hoje sou um palhaço,
um palhaço de mim mesmo!
 
Sigo, então, a minha estrada
e feliz sei que serei,
pois me encontro compensada
dos sonhos que não sonhei!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

   DERRADEIRO ADEUS
 
MOTE:
Aquele gesto... pequeno...
naquele  leito...meu Deus!
Não era um simples aceno,
foi seu derradeiro adeus!

Jaime Pina da Silveira
São Paulo/SP

GLOSA:
Aquele gesto...pequeno...

tão fraco de sua mão...
de angústia e tristeza pleno...
machucou meu coração!
 
Seu olhar de nostalgia,
naquele  leito...meu Deus!
Levou a minha alegria
e todos os sonhos meus!
 
Aquele gesto sereno
que eu via diante de mim,
não era um simples aceno,
mas antes, o próprio fim.
 
Choro sempre ao relembrar
os pequenos gestos seus,
que no seu jeito de amar,
foi seu derradeiro adeus!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

 
  PEDAÇOS DE ETERNIDADE...
 
MOTE:
Os instantes de saudade
são, em nosso ir e vir,
pedaços de eternidade
que o tempo deixou cair...

João Paulo Ouverney
Pindamonhangaba/SP

GLOSA:
Os instantes de saudade

ganham grande dimensão:
às vezes, pura ansiedade;
outras, são doce emoção!
 
Esses momentos risonhos,
são, em nosso ir e vir,
retalhos de muitos sonhos,
que sonhamos a sorrir!
 
Entre o amor e a amizade,
vemos com muito carinho
pedaços de eternidade
atapetando o caminho!
 
Essa saudade, gostosa,
que ora estamos a sentir,
é saudade silenciosa,
que o tempo deixou cair...

Fonte:
Gislaine Canales. Glosas Virtuais de Trovas X. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. Agosto 2003.

Sílvio Romero (A Raposinha)

(Folclore do Sergipe)


Foi um dia, saiu um príncipe a correr terras atrás de arranjar um remédio para seu pai que estava cego. Depois de muito andar, o príncipe passou por uma cidade e viu uns homens estarem dando de cacete num defunto. Chegou perto e perguntou porque faziam aquilo. Responderam-lhe que aquele homem tinha-lhes ficado a dever, e que por isso estava apanhando, depois de morto, segundo o costume da terra.

O príncipe, que ouvia isto, pegou e pagou todas as dívidas do defunto e o mandou enterrar. Seguiu sua viagem. Adiante encontrou uma raposinha, que lhe disse:

«Aonde vai, meu príncipe honrado?»

O moço respondeu: «Ando caçando um remédio para meu pai que ficou cego.»

A raposinha então lhe disse: «Para isto só há agora um remédio, que é botar nos olhos do rei um pouquinho de sujidade de um papagaio do reino dos papagaios. Meu príncipe, vá ao reino dos papagaios, entre à meia noite, no lugar onde eles estão, deixe os papagaios bonitos e faladores que estão em gaiolas muito ricas, e pegue num papagaio triste e velho que está lá num canto, numa gaiola de pau, velha e feia. »

O príncipe seguiu. Quando chegou no reino dos papagaios, ficou embasbacado de ver tantas e tão ricas gaiolas de diamantes, de ouro e de prata; nem procurou o papagaio velho e sujo que estava lá num canto; agarrou na gaiola mais bonita que viu, e partiu para trás.

Quando ia saindo o papagaio deu um grito, acordaram os guardas, e o perseguiram, até pega-lo.

«O que queres com este papagaio?! Hás de morrer,» disseram os guardas.

O príncipe, com muito medo, lhes contou a historia de seu pai; então eles disseram:

«Pois bem; só te damos o papagaio se tu fores ao reino das espadas, e trouxeres de lá uma espada.»

O moço, muito triste, aceitou e partiu. Chegando adiante lhe apareceu a mesma raposinha, e lhe disse: «Então, meu príncipe honrado, o que tem, que vai tão triste?»

O moço lhe contou o que lhe tinha acontecido; e a raposa respondeu: «Eu não lhe disse!? Você para que foi pegar num papagaio bonito, deixando o velho e feio? Pois bem; vá ao reino das espadas; entre à meia noite. Você lá há de ver muitas espadas de todas as qualidades, de ouro, de brilhante e de prata, não pegue em nenhuma. Lá num canto tem uma espada velha e enferrujada; pegue nessa.»

O moço seguiu. Quando chegou ao reino das espadas, ficou embasbacado, vendo tantas espadas e tão ricas. De teimoso, disse: «Ora tanta espada rica, e eu hei de pegar numa ferrugenta?»

Pegou logo na mais bonita que viu. Quando ia saindo, a espada deu um trinco tão forte que os guardas acordaram, pegaram o moço e o quiseram levar ao rei.

0 príncipe contou então a sua história, e os guardas, com pena, disseram: «Nós só lhe damos uma espada se você for ao reino dos cavalos e trouxer de lá um cavalo.»

O moço seguiu muito desapontado. Adiante numa encruzilhada encontrou a raposinha: «Aonde vai, meu príncipe honrado?»

O moço contou tudo. «Ah! eu não lhe disse!? Por que não seguiu o meu conselho? Vá no reino dos cavalos, e entre à meia noite. Você lá há de encontrar muitos cavalos gordos e de todas as cores, todos aparelhados, não pegue em nenhum. Lá num canto está um cavalo velho e feio, pegue nesse.»

O moço seguiu. Quando entrou no reino dos cavalos caiu-lhe o queixo no chão: «Ora tantos cavalos bonitos, e eu hei de ficar com um diabo velho e magro?»

E pegou num dos mais gordos e lindos. O cavalo deu um relincho tão grande que os guardas acordaram e prenderam o príncipe. Ele, com muito susto, contou toda a sua história.

Os guardas responderam: «Pois sim; nós lhe damos um cavalo se você for furtar a filha do rei.»

Aí o moço disse: «Então me deem um cavalo para ir montado.»

Eles concederam.

O moço seguiu; quando ia adiante, lhe apareceu outra vez a raposinha: «Onde vai, meu príncipe honrado?»

Ele contou tudo. A raposa disse: «Pois veja: eu sou a alma daquele homem que estava apanhando de cacete depois de morto e de que você pagou as dívidas; ando-lhe protegendo, mas você não quer fazer caso dos meus conselhos, e, por isso, tem andado sempre em perigo… Vá montado neste cavalo; chegue à meia noite no palácio do rei, pegue a moça e bote na garupa, largue a rédea a toda a brida; passe pelo reino dos cavalos para lhe darem o seu, pelo das espadas para lhe darem a sua, e pelo dos papagaios para levar também o seu, e vá voando para casa de seu pai, que ele vai mal. Nunca entre por veredas, nem preste ouvidos a ninguém até à casa. Adeus, que é esta a última vez que lhe apareço.»

O príncipe partiu. Chegando no palácio, furtou a moça; chegando no reino dos cavalos, recebeu o seu; no das espadas, a sua, e no dos papagaios, o seu. Seguiu sempre na carreira. Adiante encontrou uns moços que andavam à sua procura, e eram seus irmãos que vinham buscar novas dele. Os irmãos, quando o viram com objetos tão ricos, ficaram com inveja e formaram o plano de o matar para rouba-lo. Começaram a convence-lo de que devia deixar a estrada real e seguir por uns atalhos para os ladrões não lhe fazerem mal vendo-o com aquelas coisas tão belas e ricas.

Ele caiu na esparrela, e os irmãos o atiraram dentro de uma gruta no mato onde ele tinha ido beber água. Tomaram-lhe a moça, o cavalo, a espada e o papagaio. Largaram-se para a casa muito alegres, pensando que o irmão estava morto.

Mas tudo aquilo chegando a palácio, entrou a marear-se, e a ficar estragado. A moça não quis mais comer nem falar; meteu a cabeça debaixo da asa e não quis mais falar; a espada ficou enferrujada, e o cavalo começou a emagrecer.

Quando o moço estava quase a morrer na furna, apareceu a raposinha, que o tirou para fora, e o botou outra vez no caminho. Ele seguiu e chegou até ao palácio de seu pai. Quando já ia chegando a espada deu um trinco, e começou logo a brilhar, o papagaio voou e foi cair-lhe no ombro, a moça deu uma gargalhada e falou, e o cavalo engordou de repente.

O príncipe entrou e foi logo botando um pouco de sujidade do papagaio nos olhos do pai, que ficou logo vendo, e muito alegre. O príncipe se casou com a princesa que tinha furtado, e os seus irmãos foram castigados por causa de sua falsidade.

Fonte:
Sílvio Romero. Contos populares do Brasil. Lisboa/Portugal: Nova Livraria Internacional, 1885.
Disponível em Domínio Público.
Atualização do português por J.Feldman

domingo, 9 de julho de 2023

Tertúlia da Saudade 08: Osvaldo Reis

 

A. A. de Assis (Higiene da alma)

Seu Tóvão, às vezes também chamado Cristóvão, tinha ainda a saúde em razoável estado. Porém já passara dos 90 e bem por isso começara a se preocupar mais seriamente com a revisão da vida, decerto julgando estar próxima sua transferência para o eterno plano.

Era um homem abastado, pelo menos o suficiente para garantir um confortável fim de linha e ainda deixar herança. Então pensava ser o momento de se desapegar de vez das coisas da terra e se concentrar mais cuidadosamente na higiene da alma.

Foi sempre uma pessoa correta, desde criança. Nascido em berço humilde, se fez sozinho, trabalhou duro, formou uma família nos conformes, daí que não carregava na consciência nenhuma lembrança de culpa importante que lhe pudesse dificultar a prestação de contas. Havia, porém, um porém: acumulara ao longo da existência algumas dolorosas mágoas; na verdade, três injustiças contra ele cometidas e em razão das quais cultivava amargosa desafeição por três non-gratos.

1. Um professor que o punira severamente, acusando-o de um malfeito que ele jamais cometera;

2. Um tio que traiçoeiramente passara seu pai para trás num negócio;

3. Uma parenta que mentirosamente telefonara para sua mulher dizendo tê-lo visto em flagra de namoro com uma fulana, com isso provocando grave abalo em seu até então pacato contexto conjugal.

Os três já haviam morrido, contudo permaneciam cricrilando na memória dele, o que lhe causava vexação e tristeza. Afinal aprendera que amar os inimigos e perdoar setenta vezes sete eram condições especialmente fortes para entrar no céu; daí que vinha rezando e se esforçando bastante para curar de todo aqueles três ressentimentos.

Contudo supunha faltar ainda um gesto concreto, e nisso matutava quando num de repente se lembrou de outro precioso preceito: “Bem-aventurados os que injustamente sofrem perseguição”. Era o caso dele, e nesse caso, pensando bem, em vez de vítima, o correto seria ele se sentir devedor. Devia aos ex-malqueridos a graça de haver somado alguns pontos em seu processo de purificação. Precisaria, portanto, de algum modo retribuir.

A ideia veio luminosa: escolheu três instituições de caridade e a cada uma fez uma doação em nome de cada um daqueles tais: o professor perverso, o tio safado e a parenta fofoqueira.

Bom efeito de pronto surtiu. E agora sim, com o coração levinho, a consciência pacificada e a alma sossegada e límpida, poderia aguardar sem susto o momento de assumir o celestial status, evento que todavia não estava tão próximo como imaginava. Já chegou aos 99 e começa a convidar a família e os amigos para partilhar com ele o bolo dos 100 anos.
=================
(Crônica publicada no Jornal do Povo – 02.3.2023)
 
Fonte:
Blog do Rigon 

Daniel Maurício (Olhares)


Acreditei
Quando dissestes
Que o teu coração era meu
Mas que pena
Pois
o coração era apenas
Uma tatuagem de henna
Que o tempo apagou.
= = = = = = = = =

Aguardando
a florada
entre grades,
a glicínia
tece
suas
tranças.
= = = = = = = = =

Ampulheta

Enquanto corri
feito menino
atrás de arco-íris,
a vida
escorregou
sem
cerimônia.
= = = = = = = = =

Cabelo de sol
levanta as estrelas
dissipando a noite,
aquece a minha alma
calejada de solidão.
Cabelo de sol
acalma meu peito aflito
que revive o pulsar da paixão.
Cabelo de sol
queimas minha pele
num beijo desprotegido
que deseja muito mais
que um amor de verão.
= = = = = = = = =

Cansaço

Só depois
do trem
da madrugada
é que Maria
despetalou
de tão cansada.
= = = = = = = = =

Com o tempo
as memórias
vão ficando
no mundo
lusco fusco
imagens
esfumaçadas
cataratas
nos olhos
as mãos tateiam
as fotos
amareladas
onde as traças
comeram o riso
a saudade
na alma
soluça
o perdido
brilho.
= = = = = = = = =

Eclipse

A tímida lua
Vestiu-se
De vermelho
Sob os olhares
Curiosos
Nuamente linda
Toma banho
De sol.
= = = = = = = = =

Flores no Varal

As flores
do avental
Exalam
perfumes
diversos
Ao balançar
do vento.
Roupas
no varal.
= = = = = = = = =

Livro

Um pote
De compota,
Com palavras
Em conserva.
= = = = = = = = =

Na madrugada
o vento
passeia
de skate
nas calçadas.
Muito
barulho
arrepio
na espinha
alma
penada.
= = = = = = = = =

 No bailar das ondas
Meus pensamentos
Vem e vão,
Mas não em vão.
Nas reticências do teu olhar
Saboreio devagar
O doce encontro
Dos nossos corpos.
= = = = = = = = =

O abraço
É um laço
Onde corpo
E alma
Se t(r)ocam.
= = = = = = = = =

O Espelho

O espelho que há
em tuas palavras
não me deixa
mentir.
= = = = = = = = =

o pássaro
passou
mas a árvore
resistiu
ao tempo.
= = = = = = = = =

Poemas
são pássaros
livres,
que de vez
em quando
pousam
em nossos
corações.
= = = = = = = = =

 Preenche os vazios silenciosos
Das palavras
E somente quem foi amiga das fadas
É capaz de entender um olhar.
Não quero te dizer adeus
E junto com os teus
Em Borboleta Encantada
Prefiro acreditar que se tornou.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

Saudades
são lembranças
temperadas
pelo tempo.
= = = = = = = = =

Strip-tease

As palavras
desfilam em linhas
nem sempre retas
sobre a mesa.
Strip-tease de alma
embriagam
meus sentidos
num puro jogo
de sedução.
= = = = = = = = =

Teu olhar
De girassol
Despertou
Um ardente sol
Que dentro
De mim dormia.

(Homenagem à amiga poeta Isabel Sprenger Ribas)
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =

Verão
gostoso
cortina
voando
gato
preguiçoso.
= = = = = = = = =

Fonte:
Daniel Maurício. Olhares. Curitiba/PR: Ed. do Autor, 2021.
Enviado pelo poeta.

Hans Christian Andersen (Os Saltadores)

Um dia o Pulgo, o Gafanhoto e o Grilo resolveram verificar qual deles dava o pulo mais alto; convidaram todo o mundo e mais alguém que quisesse assistir ao espetáculo podia vir. Eram na verdade três saltadores famosos os que estavam ali reunidos!

- Darei a minha filha ao que der o salto mais alto, - disse o Rei - porque não teria graça nenhuma que esta gente desse pulos assim, por nada.

Foi o Pulgo quem saltou primeiro. Tinha muito boas maneiras; cumprimentou toda a assistência com muita elegância, porque tinha nas veias sangue nobre, que lhe vinha do lado materno e estava habituado à sociedade das criaturas humanas - o que traz muita diferença.

Veio depois o Gafanhoto. Era, está visto, um tanto pesado, mas ainda assim fazia muito boa figura, realçada por um uniforme verde, muito distinto. Além disso, aquele cavalheiro sustentava que pertencia a uma família do Egito, muito antiga, e que lá naquela terra era ele tido em muito alta conta. E tanto isso era verdade que tinham ido buscá-lo ao prado, e deram-lhe por moradia uma casa de campo de três andares, feita de cartas de baralho, com os lados das figuras virados para dentro. E as portas e janelas eram recortadas mesmo no corpo do rei de copas.

- Eu canto tão bem, - dizia ele - que dezesseis grilos nativos, que tinham trilado desde a mais tenra infância, sem obter um chalé, emagreceram tanto que ficaram ainda mais finos do que já eram, depois de me ouvirem.

Pulgo e gafanhoto proclamaram, pois, no devido tempo, quem eram, e ambos declararam que se julgavam com direito à mão da princesa.

O Grilo nada disse, mas achava, é claro, que não lhes ficava atrás; e o Cão de Guarda, mal o farejou, declarou logo que o Grilo era de boa família, tirado do osso do peito de um ganso real.

O velho Senador, que obtivera três mandatos para ficar calado, sustentava que o Grilo era dotado do poder de profecia, e que por meio do seu osso a gente podia saber se o inverno iria ser suave ou rigoroso, coisa que ninguém podia deduzir dos ossos daquele que escreve o almanaque!

- Oh! Eu por mim não digo nada, - disse o velho Rei - mas sigo meu antigo costume, e tenho cá minhas ideias, como as outras pessoas.

E chegou a hora da prova.

O Pulgo saltou tão alto que ninguém pôde ver até onde chegou, e por isso teimavam que ele não tinha dado pulo algum, coisa digna de desprezo naquelas regiões.

O Gafanhoto não chegou nem à metade daquela altura, mas pulou direto ao rosto do Rei - procedimento que sua majestade considerou altamente incorreto.

O Grilo ficou quieto ainda um bom pedaço, ao que parecia, perdido em cismas; e já todos se inclinavam a crer que ele não podia dar salto algum.

- Tomara que ele não tenha adoecido! - disse o Cão de Guarda, farejando-o de novo.

Mas, vrrrrr! E lá saltou o Grilo, meio de lado, para o regaço da Princesa, que estava timidamente sentada em um tamborete de ouro.

Então o Rei declarou:

- O salto mais alto foi o que alvejou minha filha, porque significa um delicado cumprimento. Para ocorrer uma ideia assim, é preciso que tenha cabeça! E o Grilo provou que tem cabeça. Foi, pois, o Grilo quem obteve a mão da Princesa.

- E, no entanto, - dizia o Pulgo - eu saltei mais alto! Mas não faz mal... Ela que fique lá com o osso de ganso, com a caixinha de música e tudo! Quem deu o salto mais alto fui eu! Mas neste mundo a gente precisa ter um corpo volumoso, que apareça, é o que é. E o Pulgo foi servir no estrangeiro e dizem que por lá morreu.

O Gafanhoto sentou-se à beira de uma vala, meditando sobre os costumes do mundo. E também ele dizia:

- O corpo é tudo neste mundo! O corpo é tudo!

E pôs-se a cantar sua canção melancólica - que foi de onde tiramos esta história. Mas, ainda que ela tenha sido impressa, talvez não seja absolutamente verdadeira. Não é bom fiar!

Fonte:
Disponível em domínio público
Contos de Andersen. Publicado originalmente em 1845.

Estante de Livros (Comédias para se ler na escola, de Luís Fernando Veríssimo)


O titulo do livro resulta da teoria do autor de que até pessoas que não habituadas a ler obras literárias são capaz de se deliciar com elas. A obra, porém, é ideal para ser lida não só na escola, mas onde quer que esteja, e para aqueles momentos em que e deseja ter um pouco de descontração.

Neste livro é composto 35 narrativas curtas, trazendo aventuras e descobertas.

A dobradinha não podia ser melhor. De um lado, as histórias de um mestre do humor. Do outro, o olhar perspicaz de uma das mais talentosas escritoras do país, especialista em literatura para jovens. Ana Maria Machado, leitora de carteirinha de Luis Fernando Verissimo, preparou uma seleção de crônicas capaz de despertar nos estudantes o prazer e a paixão pela leitura. O resultado pode ser conferido em Comédias para se ler na escola, uma rara e feliz combinação de talentos, indispensável para a sala de aula.

A seleção de textos permite ao leitor mergulhar no universo das histórias e personagens de Verissimo e conhecer os múltiplos recursos deste artesão das letras. A habilidade para os exercícios de linguagem ou de estilo pode ser vista em crônicas como "Palavreado", "Jargão", "O ator" e "Siglas". A competência para desenvolver as comédias de erro está presente em "O Homem Trocado", "Suflê de Chuchu" e "Sozinhos".

A maestria para criar pequenas fábulas, com moral não explícita, aparece em "A Novata", "Hábito Nacional" e "Pode Acontecer". A aptidão para resgatar memórias é a marca de "Adolescência", "A Bola" e "História Estranha". E, por fim, o dom para abordagens originais de temas recorrentes revela-se em "Da Timidez", "Fobias" e "ABC".

O livro é dividido em seis tópicos, e subdividido em suas respectivas crônicas/contos.

Equívocos: Esse capítulo trata sobre mal-entendidos, erros, confusões.

A espada: o menino o surpreende, dizendo que é o Thunder Boy (Garoto Trovão) e que seu destino estava selado desde que havia nascido. O pai fica surpreso com o tom de seriedade na voz do filho, que continua dizendo que seus pais devem ser pessoas fortes e justas. O menino dirige-se à janela, ergue a espada como uma cruz e, de repente, um trovão estremece e a espada tanto quanto seu filho ficam azuis.

O Marajá: seu amo pode visitá-la; seu amo era ninguém menos que o Marajá de Jaipur. Após a visita do Marajá, dona Morgadinha não foi mais a mesma. Seu filho chegou a trazer um vira-lata para urinar na poltrona da sala, e nada. O Marajá a visitou por duas semanas, até que seu marido se cansou do descaso de dona Morgadinha com a higiene da família e da casa. Procurou seu amigo Turcão que era árabe e fê-lo fingir que era o Marajá. Ela acreditou tão piamente que queria fugir com ele para Jaipur. Se descobrisse que fora enganada se mataria, por isso Turcão tinha que desiludi-la.

Sozinhos: Um casal mentira. Porém não há ninguém além dos dois na casa. É aí que a idosa tem a brilhante ideia de gravar seu marido dormindo. Ao acordarem vão ouvi-la. O senhor ronca. Mas a senhora também. O mistério é tomado quando ouvem duas vozes indefinidas ao fundo dizendo "Estão prontos?" "Não, acho que ainda não..." "Então vamos voltar amanhã..."

A foto: A história trata da discordância sobre quem irá tirar a foto da família. No fim quem tira a foto é o bisavô, motivo pelo qual a foto estava sendo tirada.

Outros Tempos: Resumidamente, esse capítulo é um paralelo entre a infância e a vida adulta do narrador.

A bola: a história mostra a mudança de tempos: O menino ganhara uma bola do pai, mas não sabia brincar com ela; achava que só os brinquedos eletrônicos eram legais.

História estranha: conta a história de um adulto que, ao passear no parque, se deparou com si mesmo quando ele era menor, e sentiu saudades.

Vivendo e...: conta as habilidades, os jogos e fórmulas que um adulto conhecia na infância e agora esqueceu-as.

Adolescência: o apelido de um adolescente era "Cascão", e vinha da infância, do fato dele não tomar banho (fingia que tomava). Todos chamavam ele assim, e mesmo que isso perturbava ele, não reagia; até que um dia ele decidiu retrucar. Ele tentou provar que todos eram sujos, por menor que seja a sujeira, mas não conseguiu. O conto conta também a história de Jander, um menino com muitas espinhas que queria tocar violino. Quando ele tocava, todos conseguiam ouvir, o que incomodava bastante. Um dia, uma mulher chegou em seu quarto dizendo ser sua empregada, e não ouviu-se mais o som do Violino aquela noite. Subentende-se que a suposta empregada foi uma distração para ele, e substituiu a obsessão pelo violino.

Trata de problemas comuns ao cidadão brasileiros mas que nem todos os abordam.

Dentre outros capítulos

– Amor: é um poema: uma declaração de amor.

– Um, dois, três: é a história de um homem que queria fazer uma crônica como uma valsa antiga, com todas suas características. Ao longo do texto, ele dá detalhes de como ele deseja que seja seu texto, comparando as características de seu texto com as da valsa.

– O ator: ao chegar em casa e cumprimentar sua família, um homem descobre que sua casa não é uma casa. É quando alguém diz "Corta!" e ele percebe que sua casa era um cenário! Passa um tempo e alguém diz "Corta!" novamente, fazendo com que ele perceba que aquele cenário é um cenário! Ele fica muito bravo, pois queria uma casa e vida normais, sem ser um filme. Nisso, ele ouve: "Corta!"

– O recital: O Recital é um conto meio sem sentido, inesperado. Fala sobre quatro músicos: três homens (um deles é ruivo) e uma mulher, que estão preparados para apresentar-se, mas surpreendentemente, acontece alguma coisa que mudará o futuro daquela apresentação. Algo inesperado. Qual seria a coisa mais inesperada que poderia acontecer? Passar uma manada de zebus pelo palco, por trás deles? Não. O narrador cita exemplos, mas conclui que seria a entrada de um homem carregando uma tuba. E ele queria tocar. Os artistas pedem que ele se retire, mas ele nega; diz que acompanhará a música. A plateia e os artistas ficam paralisados, o homem não consegue conquistar a simpatia da plateia e começa a "ofendê-los", tentando justificar sua ação. Finalmente, ele diz para o ruivo violoncelista que seu bigode ruivo é o mesmo que ele usava em 1968! Eles se atracam. Cria-se um caos!!! Agora, quem está com o bigode ruivo é a violista. Então, o tocador de tuba acha que ela é sua mãe (pois o bigode se parece com o dele), e grita: "Mamãe!!". Nisso, entra no palco uma manada de zebus.

– Siglas: Duas pessoas falando palavras, e suas respectivas siglas. Por exemplo: Partido Conservador (PC).

sábado, 8 de julho de 2023

Varal de Trovas n. 584

 

Concurso de Trovas Memorial “Cláudio de Cápua” (Prazo: 31 de Outubro de 2023)


Realização:
Blog Pavilhão Literário Cultural Singrando Horizontes
https://singrandohorizontes.blogspot.com
Coordenação: J. Feldman (editor do blog)

 
Entidades Parceiras:
Academia Brasileira de Trova
Academia Internacional União Cultural
Academia de Letras e Artes de Paranapuã/RJ
Academia Mourãense de Letras/PR
Academia Virtual Internacional de Poesia, Arte e Filosofia
Confraria Brasileira de Letras

O Blog Singrando Horizontes, comemorando 16 anos de existência, com quase 18 mil publicações e cerca de 3 milhões de leitores, realiza o Concurso de Trovas homenageando o trovador Cláudio de Cápua.

Cláudio de Cápua, aviador, jornalista profissional. Especialista em jornalismo cultural, nas áreas de Artes Plásticas e Literatura, com publicações em diversos veículos de Comunicação da Pauliceia e Litoral paulista. Lato Sensu em História da Arte (Universidade Mackenzie), graduado em Filosofia pela Universidade Católica de Santos. Nasceu em 8 de março de 1945, São Paulo/SP. Iniciou na TV Tupi em um grupo que adapta obras literárias para novelas, na década de 70. Produtor e diretor de jornalismo especializado (arte, cultura e lazer) na TV Gazeta, entre 1978 e 1980. Editou a Revista Santos Arte e Cultura, da qual foi editor e articulista. Biógrafo, prosador e poeta, foi um dos fundadores da “União Brasileira de Trovadores”, Seção de São Paulo e, desde 1980, parte do quadro associativo da Seção de Santos. Conquistou vários prêmios em Concursos de Trovas em território nacional. Cláudio de Cápua, que era casado com Carolina Ramos,  faleceu em Santos/SP,  onde se radicou definitivamente, de aneurisma, a 5 de dezembro de 2021, aos 76 anos.

ÂMBITO NACIONAL/INTERNACIONAL

Categoria Veteranos: 
 
Tema: SEGREDO/S (lírica/filosófica)

Em noite alta... madrugada,
contemplo a lua contrito
- Barca de prata aportada
nos segredos do infinito.
Cláudio de Cápua


Categoria Novo Trovador: 
 
Tema: SEMENTE/S (lírica/filosófica)

Com mensagem sempre nova,
transpondo mágoas e dor,
pelos caminhos da trova
planto sementes de amor.
Cláudio de Cápua


Novo Trovador é aquele que não obteve até a divulgação deste regulamento 3 (três) classificações em concursos de trovas oficiais da UBT, a nível nacional, independente de ser associado ou não à UBT.

A palavra tema deve estar na trova.


Máximo de 2 (DUAS) Trovas por concorrente.

Apesar do concurso seguir as normas da UBT, mas por não ser promovido por ela, não se enquadra como concurso oficial da entidade.

ENVIO DAS TROVAS POR EMAIL (Prazo: 31 de outubro)

para o Fiel Depositário:
Prof. Giuseppe Paolo Dell’Orso

E-mail:   
gpdellorso@gmail.com

Como enviar trovas por e-mail (no corpo do e-mail):

Assunto: Concurso de Trovas Memorial “Cláudio de Cápua”

Acima da Trova:
Categoria (Novo Trovador ou Veterano)

Abaixo da trova:
Nome inteiro, cidade/estado (país se não for do Brasil), e-mail para contato (obrigatório).

Caso o trovador use pseudônimo ou abreviatura do nome, favor enviar o nome completo, caso venha a ser premiado, a não ser que opte por manter a abreviatura ou pseudônimo.

Anexos não serão aceitos.
 
Sistema de Envelopes (Prazo: 31 de Outubro de 2023)

Enviar para:
Profa. Alba Krishna Topan Feldman
Av. Mário Clappier Urbinatti, 724
Bloco E ap. 11
Zona 7
CEP. 87020-901   Maringá - PR


Aconselha-se que enviem as trovas por e-mail, em virtude de os correios estarem com atrasos em entregas simples.

Após o encerramento haverá uma espera de mais 5 dias para os envelopes que podem estar atrasados nos correios, e ao final do quinto dia as trovas serão enviadas para julgamento.

Como enviar pelo Sistema de envelopes

As trovas devem ser coladas na face externa de um pequeno envelope. Dentro dele deverá estar o nome do autor completo com seus dados pessoais: cidade/estado/país, e-mail para contato, telefone fixo (e operadora para contato, no caso de celular. Ex: TIM, Vivo, Claro, etc.).

Na face externa do envelopinho a trova (DIGITADA ou DATILOGRAFADA, não serão aceitas manuscritas), o tema no alto da trova. Se Veterano ou Novo Trovador, colocar abaixo da trova esta categoria. Lacrar o envelope. Num envelope maior colocar o nome e endereço a quem deve enviar, e no remetente, o mesmo endereço para quem está enviando, e o nome Cláudio de Cápua.

Observação: A trova deve ser digitada (datilografada), não serão aceitas trovas manuscritas.


§ - Seja por envelopes ou por email, é necessário constar a que categoria (Veteranos ou Novo Trovador) a que concorre.

As Trovas devem ser inéditas, isto é, que não tenham sido premiadas em outros concursos ou divulgadas pela Internet ou outros meios de divulgação até a data da publicação do resultado.

Serão eliminadas as trovas que contenham erros como: não colocar pontuações; não seguir o sistema ABAB (rimar 1. com 3. verso e 2. com o 4. verso); erros gramaticais; não tiver a palavra tema na trova; de conteúdo racista, pornográfico, político, etc.

O Prazo se encerra à meia-noite de 31 DE OUTUBRO DE 2023.

Os resultados serão divulgados em blogs, sites, facebook, emails enviados aos premiados, revistas virtuais, academias e blogs.

As decisões das comissões julgadoras serão definitivas.

A premiação, composta de certificado e ebook com as trovas premiadas, serão enviados diretamente aos premiados via e-mail.

Será premiado também, o trovador veterano melhor colocado em seu estado e que tenha obtido pelo menos a média mínima (e não tenha sido premiado na classificação geral do Nacional/Internacional).


Os membros da comissão julgadora, o coordenador e os fiéis depositários não poderão participar do concurso.

A participação no concurso significa aceitação plena das normas aqui relacionadas.

Maringá ,  08 julho de 2023.
J. Feldman – coordenador geral
Contatos, dúvidas: gralha1954@gmail.com

Leandro Bertoldo (Além da Imaginação)

Sempre apreciei os circos mambembes, esses viajantes de uma cidade à outra com as suas lonas rasgadas, os carros adaptados com alto-falantes a percorrer as ruas e a chamar o povo para o espetáculo.

Aprecio o fato de comprar o ingresso naqueles papeizinhos cortados à tesoura e, ao entrar e se acomodar nas arquibancadas de tábuas com o cuidado de se equilibrar para não cair entre os vãos, perceber, surpreso, a contorcionista ao ser a mesma moça que acabara de vender o saquinho de pipoca na entrada.

Gosto de ver os trailers parados nas mediações da lona com roupas estendidas em varais improvisados nas janelas e, entre um e outro, a mãe bailarina a amamentar o filho recém-nascido antes de entrar no picadeiro.

Enquanto muitos veem as atrações eu também as vejo, mas preencho-me muito mais na poesia por de trás das cortinas, naquele pai que irá tirar a maquiagem, desvestir o fraque de apresentador e ir ao banco pagar as contas no dia seguinte; nos ajudantes de palco sendo eles os trapezistas e também os operários de manutenção dos equipamentos; no filho que irá lavar todas as roupas dos artistas, inclusive a sua de palhaço.

Ah, os palhaços... Meus preferidos! Como tiram risadas de dentro das almas mais amarguradas... Um dia eu conheci o Alegria — o palhaço da luz. Após a sessão, enquanto o público saía, o vi com a mesma vassoura usada na aparição de há pouco a iniciar a varredura do chão. Fui até ele e o parabenizei. Ele agradeceu com um sorriso um pouco diferente do meu. Não era assim um sorriso alegre e largo como na cena de outrora. Era, eu diria, até um tanto triste. Uma criança chegou perto com o pai e Alegria a pegou no colo, brincou com ela e a deixou feliz dando-lhe, inclusive, conselhos. Ao despedir da criança e do pai olhou para mim, fez um aceno com a cabeça, espirrou água da flor de sua lapela que mais pareceu um choro silencioso, e continuou a vassourar.

Fui embora, mas o meu pensamento ficou naquele palhaço, o mesmo visto no dia seguinte no sinal fechado no centro da cidade ao fazer malabarismo e chamar as pessoas para o circo. Enquanto ele fazia o seu trabalho, eu fiquei ali a imaginar...

Tinham-lhe tantas vezes pedido conselhos... Era o redentor de todos os sofrimentos que assolavam as almas em conflito, a ponto de impedir suicídios. Alegria – o palhaço da luz –, como era conhecido, escolheu as ruas como o seu picadeiro e nelas transformava pessoas. Agonia mudava-se em sonhos e medos em esperanças. Contudo, algo curioso acontecia: Alegria era triste... O homem por trás do palhaço não conseguia fazer consigo o mesmo que fazia com os outros, pois não tinha tido a sorte de encontrar alguém que o apresentasse a si…
______________________

Bem, hoje deixo os pensamentos soltos com espaço para refletir naquilo que está além da imaginação...

Fonte:
Texto enviado pelo autor.
Disponível em http://arvoredasletras.com.br/

Luiz Poeta (Trovpeia)


Agendas... vários pedaços
de pedaços de poesia
reservando alguns espaços
para alguma fantasia.

Compromissos? Tão escassos...
... eu escrevo todo dia,
transformando em simples traços
meus espaços de alegria.

E a cada vez que que me leio,
olhando velhas agendas
vejo coisas que nem creio,
sonhando... criando lendas.

... ou afinal, registrando
os amores que senti,
quando me senti amando
tudo aquilo que escrevi.

Hoje, a pena sente pena
de mim, mas vai deslizando
triste, nervosa, serena
e eu me pergunto: "Até quando?"

A saudade dita: escrevo.
O presente edita o fato,
medito , quase me atrevo
ante meu falso retrato.

Acordo... enfim tiro a venda:
o Sol parece tão lindo...
preciso de quem me entenda...
que pena, que o dia é findo.

Mais uma trova atrevida
revida ao meu pensamento
e no desfecho da vida
refaz mais um sentimento.

Poeta que sou, trovador,
desses tantos, tão iguais,
pergunto-me: - Sonhador,
escrevendo, aonde vais?

Vou, amigo, onde a poesia
me chamar... basta um sorriso
convidando à fantasia
e escrevo o que for preciso.

Não conto sílabas... canto
meu momento mais feliz
estimando o acalanto
de um sonhador aprendiz.

Fonte:
Enviado pelo poeta.

Altino Afonso Costa (A criança e a estrada)

A estrada é longa e a viagem monótona; dirijo meu carro com a indiferença de quem vai à parte alguma.

De repente vejo à minha frente uma criança sorrindo e acenando as mãozinhas através do vidro traseiro do carro em que viaja.

Indiferente à paisagem à sua frente a criança volta-se para o que passou e sorri e gesticula cheia de estranha felicidade.

Senti nesse momento que a minha vida também apresenta uma vidraça voltada para o passado cheia de segredos e lindas lembranças.

Senti vontade, também, de sorrir e acenar para o que passou; o presente à minha frente, não me consegue seduzir, como acontece com aquela criança inocente que me acena...

Só o passado é capaz de nos trazer alguma felicidade como uma paisagem conhecida, onde houve amores e beijos e abraços e momentos de ilusão, que embora distante na nossa memória, parece-nos reais, sem a miragem revelada no vidro da frente do nosso carro em movimento.

Continua sorrindo sempre e acenando tuas mãozinhas angelicais, linda passageira do vidro traseiro dos carros que passarem pela minha estrada, e deixa eu viver os sonhos da minha infância, como esses que povoam a tua imaginação...

Fonte:
Altino Afonso Costa. Buquê de estrelas: crônicas e poemas. Paranavaí/PR: Olímpica, 2001.
Livro enviado por Dinair Leite.

sexta-feira, 7 de julho de 2023

Daniel Maurício (Poética) 55

 

Marques de Carvalho (Noite de finados)


A Manoel P. de Carvalho


O cemitério de Santa Isabel estava cheio de visitantes, todos vestidos de preto, caminhando compassada e vagarosamente por entre as sepulturas. Eram oito horas da noite sob um céu trevoso como a tristeza daquelas pessoas que alí se recordavam com saudades pungentes dos parentes e amigos para sempre ocultos debaixo da terra, sobre a qual compridas filas de velas acesas lançavam uma claridade intensa, que ia esbater-se (
atenuação de cores) ao fundo, na escuridão do matagal.

O ar estava impregnado do perfume das flores — piedosamente depostas em cima das sepulturas por mãos amigas, — e do cheiro místico da cera queimada.

Ao longe, à direita da ermida, uma banda de música executava plangentemente uma funeralesca marcha em tom menor, cujas maviosidades lúgubres faziam suspirar as velhas beatas, — aspirando a uma outra vida desconhecida, além daquele firmamento negro, no lugar onde a onipotência incondicional da Divindade lhes parecia dominar em toda a sua majestade.

Entretanto, de espaço a espaço, grandes ondas de povo invadiam o cemitério. Este, àquela hora, mal podia conte-las, por isso, as pessoas que receavam um atropelo, saíam enfadadas, murmurando indecências.

À porta, do lado exterior, cocheiros desbocados conversavam livremente com as pretas sentadas em frente das bandejas de doce iluminadas pelas lanternas que estavam sobre a baeta encarnada. Mendigos repelentes, de vestes sujas e mal cheirosas, plangiam súplicas, tentando demover em seu favor a caridade dos visitantes piedosos.

Alguns vadios encostados a um rico mausoléu de mármore pousavam olhares torpemente libidinosos às moças que entravam seguidas de suas mamães, num andar assustadiço e saudando um ou outro conhecido com um meneio de cabeça. Mais adiante, num canto escuro, uma mulata roliça, com o vestido muito decotado, murmurava amabilidades a um preto de fisionomia horrenda empertigado num fato novo e com a cabeça coberta por um chapéu alto descomunal. Como contraste, não muito longe, estava uma senhora pobremente trajada, com os cotovelos pousados à grade ferrugenta de uma sepultura mal iluminada por duas velas em castiçais de vidro.

Dos olhos dela, que estavam fixos em uma coroa de perpétuas roxas, corriam lágrimas, que das faces resvalavam-lhe para as delgadas folhas do capim que vegetava entre as juntas dos azulejos desbotados....

Era sem dúvida, alguma viúva que pagava à memória do finado marido alguns anos de amorosa e suavíssima coabitação na terra...

À esquerda, contemplando uma fotografia em miniatura encerrada em negro caixilho e suspensa ao centro da cruz de uma sepultura pequenina e toda coberta de jasmins, trevos, japanas e madressilvas, via-se uma senhora de cabelos grisalhos, imóvel, calada — como evocando passadas cenas de prazer — sem ouvir as plangências da orquestra, que prosseguia no funeral tristonho....

O céu, no entanto, enchera-se de uma luz suave e esbranquiçada. Grandes nuvens escuras retalhavam-se no azul-ferrete do firmamento, para as bandas da cidade. Um vento frio e murmurante como um soluço de almas penadas fazia farfalhar a mata próxima, causando arrepios de mal-estar às supersticiosas moças que estavam no cemitério.... Agora calara-se a orquestra.

Subira um pregador para um púlpito armado ao ar livre, sob uma árvore de grande coma (
copa) sombria, e recitava em voz cavernosa e com largos gestos trágicos, uma homília (instrução aos fiéis) contristadora sobre a transitória felicidade mundana e a perene bem aventurança celestial.

As mulheres, — mães, filhas, esposas, — que o ouviam, ficavam caladas, muito sérias, com os olhos grandemente abertos, fixos em seu rosto bronzeado; no íntimo, porém, no fundo da consciência, levantavam um brado de maldição àquela felicidade que lhes roubara a companhia dos entes queridos e amorosos.

Um homem de cabeça encanecida, que vagueava levando pela mão uma criança de tenra idade, — um lindo e pálido orfãozinho, — voltou-lhe costas nervosamente, soluçando, e fugiu para junto de um pobre túmulo tranquilo, em cuja grade se lia este lancinante poema de uma só frase: — Á minha esposa....

No céu, as nuvens afastavam-se, evolavam-se como alegrias fugitivas ou prazeres expulsos, erguiam-se em uns grandes rendilhados fantásticos de miragens variadas.

A lua apareceu, como uma saudade enorme e cruciante, numa serena majestade tumular, que impôs vago sofrimento ao coração de todos. Os brandões (
archotes) e velas perderam o brilho, ficaram como pirilampos lantejoulando os sepulcros sob o luar diáfano, a cuja claridade continuava o pregador a recordar a onipotência de Deus.

Os bondes estacionados na praça encheram-se de passageiros. Minutos depois seguiam pela estrada da Independência, repletos de homens, de senhoras tristes, com fisionomias de sofrimento.

Chegando ao largo de Nazareth, muitos homens apearam. O largo estava iluminado festivamente, cheio de adornos alegres. Era aquela noite a penúltima da festa anual.

Então, os mesmos homens que estavam rendendo há poucos minutos uma saudade à memória de um amigo, de um irmão, de um pai, desciam agora ao centro da festa popular, procuravam as conversas ruidosas, invadiam as casas de jogo, — propelidos pela fascinação demoníaca e terrível da roleta!

Fonte:
João Marques de Carvalho. Contos Paraenses. PA: Pinto Barbosa e C., 1889.
Disponível em Domínio Público
Atualização do Português por J. Feldman

Baú de Trovas LXVI


No trinado de um chorinho,
fala a música por mim...
da sacada, o seu lencinho
ela acena e diz que... sim!
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
= = = = = = = = =

Quanta harmonia esquecida
no mundo sem coração
que deixa a infância perdida
nas ruas da solidão.
ADELIR MACHADO
São Gonçao/RJ, 1928 - 2003, Niterói/RJ
= = = = = = = = =

Tarde demais recomeças!
Pois sobrevivo risonho,
ao dilúvio de promessas
onde afogaste o meu sonho...
ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO
São Paulo/SP
= = = = = = = = =

Eu só conquistei da vida,
por mais que forçasse os braços,
uma fronte embranquecida
e um coração em pedaços.
AMÁLIA MAX
Ponta Grossa/PR, 1929 – 2014
= = = = = = = = =

Por ser da lista, o primeiro,
jamais entendi por que,
conquistei o mundo inteiro,
mas não conquistei você...
ANALICE FEITOZA DE LIMA
Bom Conselho/PE, 1938 – 2012, São Paulo/SP
= = = = = = = = =

Não quero glória, dinheiro,
nem mil conquistas sem fim...
Troco os "nãos" do mundo inteiro
pela graça do teu sim!
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG
= = = = = = = = =

Não há ninguém que resista
aos caprichos da mulher
que, quando cisma, conquista
até mesmo o que não quer!
ARMINDO DOS SANTOS TEODÓSIO
Brumadinho/MG
= = = = = = = = =

Cada dia mais tristonho
carrego o peso das eras,
vendo afogar-se meu sonho
num dilúvio de quimeras!
CLARINDO BATISTA DE ARAÚJO
Jardim do Piranhas/RN, 1929 – 2010, Natal/RN
= = = = = = = = =

Alguém me disse: - Desista
de sonhar, de ter anseios!
É que eu vivo da conquista
dos meus próprios devaneios!
DELCY RODRIGUES CANALLES
Porto Alegre/RS
= = = = = = = = =

O calor dos teus abraços
e o fulgor do teu olhar
são conquistas que os meus braços
têm vontade de alcançar.
DÉSPINA ATHANÁSIA PERUSSO
São Jerônimo da Serra/PR
= = = = = = = = =

Samba, morena... e rebola
à frente da bateria,
porque a harmonia da Escola
se espelha em tua harmonia!...
EDMAR JAPIASSÚ MAIA
Nova Friburgo/RJ
= = = = = = = = =

Batalha infinda e silente
é o da terra em seu labor:
na conquista da semente
gera o fruto, a sombra e a flor!
ELIANA DAGMAR
Amparo/SP
= = = = = = = = =

Tropeiro da mocidade
galopando a solidão,
foste conquista, e és saudade
que deixa rastro em meu chão...
ELIAS PESCADOR
São Paulo/SP
= = = = = = = = =

Quase um dilúvio parece,
a forte chuva lá fora,
unida ao pranto que desce
nesta saudade que chora!
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP
= = = = = = = = =

Não que eu seja pessimista
mas causa um certo desgosto
ir de conquista em conquista
traçando o nada em meu rosto!...
EUGÊNIA MARIA RODRIGUES
Rio Novo/MG
= = = = = = = = =

Lograi, pretensos astutos,
louros da conquista inglória,
porque a derrota dos justos
tem o sabor da vitória!
HELOÍSA ZANCONATO PINTO
Juiz de Fora/MG
= = = = = = = = =

O céu, o ar e o luar,
a mata, animais e flores...
E o homem quer acabar
essa harmonia de cores!...
HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO
Niterói/RJ, 1929 – 2012, Rio de Janeiro/RJ
= = = = = = = = =

Dentro da noite, um chorinho
cai do silêncio, em cascata...
É o soar de um cavaquinho
dando tons à serenata!
HÉRON PATRÍCIO
Ouro Fino/MG, 1931 – 2018, Pouso Alegre/MG
= = = = = = = = =

Quem pela força conquista,
não conquista de verdade;
não há força que resista
à força da liberdade!!!
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS, 1932 – 2013, São Paulo/SP
= = = = = = = = =

Sonhando horizontes novos,
pela harmonia que irmana,
vislumbro a paz entre os povos
à luz da harmonia humana!
JOÃO FREIRE FILHO
Rio de Janeiro/RJ, 1941 – 2012
= = = = = = = = =

A gente, às vezes, a exorta
mas raramente a procura...
E a Harmonia é a grande porta
por onde passa a Ventura!
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO
Vila Nova de Famalicão/Portugal, 1922 – 2004, Rio de Janeiro/RJ    
= = = = = = = = =

Se em meu rumo há sombra adiante,
em vez de parar, tristonho,
prossigo perseverante
na conquista do meu sonho!
JOSÉ TAVARES DE LIMA
Juiz de Fora/MG
= = = = = = = = =

Das conquistas festejadas
nas searas dos amores,
restam fotos desbotadas,
penas, saudades e dores!...
LACY JOSÉ RAYMUNDI
Garibaldi/RS
= = = = = = = = =

Nos meus sonhos apostei
e ao jogar alto e arriscado,
muito pouco eu conquistei
e a vida cobrou dobrado!...
MARILÚCIA REZENDE
São Paulo/SP
= = = = = = = = =

Podem chamar-me os ateus
de tolo ou mesmo demente,
mas harmonia, só Deus
põe dentro da alma da gente...
MILTON NUNES LOUREIRO
Campos/RJ, 1923 – 2011, Niterói/RJ
= = = = = = = = =

Pedido sério e profundo
vosso humilde servo faz:
- Derramai, Deus, sobre o mundo
dilúvio de Amor e Paz!
REINALDO AGUIAR
Natal/RN, 1921 – 2010
= = = = = = = = =

Daquele amor proibido
eu guardo, da mocidade,
um lenço amarelecido
e um dilúvio... de saudade!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP
= = = = = = = = =

Eu sempre lutei sentindo,
nesta arena em que se vive,
a mão de Deus dirigindo
cada conquista que eu tive.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
= = = = = = = = =

Com passadas inseguras,
no final das caminhadas,
vou carpindo as desventuras
das conquistas fracassadas!
VASQUES FILHO
Teresina/PI, 1921 – 1992, Fortaleza/CE
= = = = = = = = =

Vestindo de fantasia
a nudez pura dos tons,
os artesãos de harmonia
colocam alma nos sons.
WALDIR NEVES
Rio de Janeiro/RJ, 1924 – 2007
= = = = = = = = =

Ao luar, que me arrebata,
sem você, se ouço um chorinho,
a saudade que maltrata
me faz chorar de mansinho.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ
Belo Horizonte/MG
= = = = = = = = =

Tem-se às vezes na batalha
uma vitória aparente,
pela conquista que espalha
derrota dentro da gente.
WANDIRA FAGUNDES QUEIROZ
Curitiba/PR
= = = = = = = = =

Como incansável titã
numa batalha sem fim,
eu parto toda manhã
para a conquista de mim.
WALTER FRANCINI
São Paulo/SP, 1926 – 1996
= = = = = = = = =

Conquista é jogo de azar
e, no amor, jogo pesado;
querendo te conquistar,
eu é que fui conquistado!
ZAÉ JÚNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP
= = = = = = = = =