Haicai de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR
“Bom dia, queridas" -
diz sorrindo o jardineiro
bem cedinho às flores.
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Poema de
FÁTIMA ROGÉRIO
Guaraci/PR
Menino de Rua
Oi, moço! Quero lhe falar.
Por que me evitas?…
Sou criança!
Teria que ser esperança
pois isto está escrito.
Não se desvie de mim.
Quero apenas conversar.
Não sei onde estão meus pais,
e ninguém quer me ajudar.
Estou nesta calçada já faz um tempo.
Vi meu irmão morrer,
nas mãos de pessoas malvadas.
Mas eu quero viver!
Me ouça e me dê uma chance!
Me ajude a sair daqui.
O sofrimento é muito grande
e eu não tenho pra onde ir.
As pessoas me cospem e me xingam.
Os carros me jogam lama.
Eu queria, moço, uma família,
um prato de comida e uma cama.
Às vezes me oferecem drogas.
Eu não queria, mas acabo aceitando.
Ela me faz adormecer,
e minha dor se vai, aliviando.
Me ajude, moço, a sair daqui!
Por favor, eu não sou mau!
Vejo sua família feliz,
eu só queria ter uma igual.
Se me ajudar e cuidar de mim,
muito grato serei a ti
e pedirei todo dia a Papai do Céu
que cuide de você e de sua família.
Pra que nunca precisem ver
o que é rua de verdade,
e que nunca precisem viver,
esta dolorosa realidade.
Obrigado, moço,
por me ouvir!
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Soneto de
FAUSTO GUEDES TEIXEIRA
Lamego/Alto Douro/ Portugal, 1871 – 1930, ????
Eu quero ouvir o coração falar
Eu quero ouvir o coração falar
e não os homens a falar por ele!
Enquanto a gente fala, há de parar
no peito a vida estranha que o impele.
Independente à forma de o expressar,
o sentimento existe, e ai daquele
coração triste que se julgue dar
na cerração em que a palavra o vele.
Astro no peito, é sobre a língua chaga.
Dizer uma alegria ou um tormento
é um mar em que sempre se naufraga.
Era a essência de Deus vista e atingida!
Se é a força da vida o sentimento,
fez-se a palavra pra mentir a vida.
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Poema de
OLIVER FRIGGIERI
Floriana/Malta
Uma Estrofe sem Título
Dá-me as palavras de teus olhos, a noite escreve
Uma estrofe purpúrea sobre teu bonito rosto,
Brilha o orvalho, tuas bochechas um branco universo
De onde nada dá um passo descalço sem dor,
Toca estas mãos e sente o despedaçado coração
E nota o sangue quente, o pranto solene.
Pomba, não voes distante come de minhas mãos,
Este é o grão que não mata, água pura.
Monótono o sino que dá a hora
Para que te vás desta janela entreaberta
Por mim para ti, monótono o suspiro
Gravado como ilusão que vem e vai.
Não voes distante, e diga comigo esta oração:
“Há raios de luz de lanterna enfocados em mim,
Há uma humilde estrela que brilha só para mim,
Há uma flor selvagem que se abre em meu peito,
Há uma chama de vela vacilante só para mim.”
(tradução: José Feldman)
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Trova Popular
Todo homem que diz que sim
depois de ter dito "não";
primeiro fala o orgulho
depois fala o coração.
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Soneto de
JOSÉ DURO
Lisboa/Portugal, 1875 – 1899
Dor suprema
Onde quer que ponho os olhos contristados
– costumei-me a ver o mal em toda a parte –
não encontro nada que não vá magoar-te,
ó minh’ alma cega, irmã dos entrevados.
Sexta-feira santa cheia de cuidados,
livro d’Ezequiel. Vontade de chorar-te...
E não ter um pranto, um só, para lavar-te
das manchas do fel, filhas de mil pecados!...
Ai do que não chora porque se esqueceu
como há de chamar as lágrimas aos olhos
na hora amargurada em que precisa delas!
Mas é bem mais triste aquele que olha o céu
em busca de Deus, que o livre dos abrolhos,
e só acha a luz das pálidas estrelas...
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Poema de
MARA MELINNI
Caicó/RN
O Tempo do Amor
Às vezes a resposta que eu preciso
Não vem de uma palavra, em expressão...
Mas do calmo calor do teu sorriso
Que manda embora a dor da solidão.
Se o meu gostar não encontra o jeito certo
Ou se é preciso um jeito de existir,
Que exista um jeito de estar sempre perto
E nesse jeito eu possa te sentir.
Nenhum querer possui uma medida,
Ninguém pode gostar pela metade.
Amar é o que dá vida à própria vida...
Ou ama, ou não se ama... Esta é a verdade.
O tempo não espera na estação
E o preço, embora pague um bom lugar,
Não traz escolha a quem, sem ter razão,
Não segue atrás do trem que viu passar...
As portas do destino guardam planos
Que as chaves certas abrem, logo à frente.
E às vezes, sem ter chave ou sofrer danos,
Há portas que se abrem, simplesmente.
Por isso, a cada sol, nascendo o orvalho,
Se vão, pelas manhãs, em cada flor,
As gotas tristes, no chorar do galho,
deixando suas lágrimas de amor.
A vida é a seiva mais pura do mundo,
é o mel que adoça o sonho de quem clama...
E o tempo, embora dure um só segundo,
se faz tempo bastante a quem se ama.
Eis sim, uma viagem passageira...
Que cumpre as curvas todas de uma estrada.
E um dia, já na curva derradeira,
Se não faltou amor... Não faltou nada!
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Soneto de
ANTÔNIO BARBOSA BACELAR
Lisboa/Portugal, 1610 – 1663
A umas saudades
Saudades de meu bem, que noite e dia
a alma atormentais, se é vosso intento
acabares-me a vida com tormento,
mais lisonja será que tirania.
Mas quando me matar vossa porfia,
de morrer tenho tal contentamento,
que em me matando vosso sentimento,
me há de ressuscitar minha alegria.
Porém matai-me embora, que pretendo
satisfazer com mortes repetidas
o que à beleza sua estou devendo;
vidas me dai para tirar-me vidas,
que ao grande gosto com que as for perdendo,
serão todas as mortes bem devidas.
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Poema de
ADY XAVIER DE MORAES
Rio Verde/PR
Mulher
És bela, não porque se fez bela,
mas porque tens no íntimo
o brilho de uma estrela
que durante o dia se esconde
e, durante a noite, no infinito,
mostra tua face que resplandece.
És linda, não porque se fez linda,
mas porque a natureza preparou
para nascer e brilhar.
Tu não precisas de arranjos,
porque uma flor já nasce
com toda a beleza, tenra
e perfumada.
És perfeita, não porque te fez perfeita,
mas porque a vida deu-te de tudo.
A simplicidade de um anjo.
A inocência de uma criança.
O carisma de uma rainha
quando sorri…
sorri com os olhos,
com os lábios, com o coração.
Mostras com muita esperança,
a vontade de vencer na vida
e não sabe da virtude que tens,
por isso, és linda, és bela,
como a flor do meu jardim.
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Soneto de
PADRE BALTASAR ESTAÇO
Évora/ Portugal, 1570 – 16??
A um irmão ausente
Dividiu o amor e a sorte esquiva
em partes o sujeito em que morais;
este corpo tem preso onde faltais,
esta alma onde andais anda cativa.
Contente na prisão, mas pensativa,
porque este mal tão mal remediais,
que vós comigo lá solto vivais,
e eu sem mim e sem vós cá preso viva.
Mas lograi desse bem quanto lograis,
que eu como parte vossa o estou logrando
e sinto quanto gosto andares sentindo;
cá folgo, porque sei que lá folgais,
porque minha alma logra imaginando
o que lograr não pode possuindo.
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Soneto de
SOROR VIOLANTE DO CÉU
Lisboa/Portugal, 1602 – 1693
Vida que não acaba de acabar-se
Vida que não acaba de acabar-se,
chegando já de vós a despedir-se,
ou deixa por sentida de sentir-se,
ou pode de imortal acreditar-se.
Vida que já não chega a terminar-se,
pois chega já de vós a dividir-se,
ou procura vivendo consumir-se,
ou pretende matando eternizar-se.
O certo é, Senhor, que não fenece,
antes no que padece se reporta,
por que não se limite o que padece.
Mas, viver entre lágrimas, que importa?
Se vida que entre ausências permanece
é só vida ao pesar, ao gosto morta?
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Cantiga Infantil de Roda
FESTA DOS INSETOS
A pulga e o percevejo
Fizeram combinação.
Fizeram serenata
Debaixo do meu colchão.
Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo
A Pulga toca flauta,
O Percevejo violão;
E o danado do Piolho
Também toca rabecão.
Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo
A Pulga mora em cima,
O Percevejo mora ao lado.
O danado do Piolho
Também tem o seu sobrado.
Torce, retorce,
Procuro mas não vejo
Não sei se era a pulga
Ou se era o percevejo
Lá vem dona pulga,
Vestidinha de balão,
Dando o braço ao piolho
Na entrada do salão.
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Hino de
Catanduva/SP
Sob o sol escaldante dos trópicos,
um pioneiro chegou a esta terra;
terra crua que não prometia
um futuro de tanto esplendor.
O viajante fincou a bandeira
com coragem, confiança e amor,
e o intrépido aventureiro
consagrou-se como fundador.
A semente foi plantada e mudou a paisagem,
nossa terra ficou fértil, floresceu.
E a mão firme do trabalho operou mais um milagre:
fez nascer um povo forte, um povo honesto e lutador.
Catanduva, Cidade Feitiço!
Quem pisa teu chão não se esquece jamais.
Teu feitiço é mais que um encanto
que inspira meu canto de amor e de paz!
Teu feitiço é mais que um encanto
que inspira meu canto de amor e de paz!
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Poema de
ANTÓNIO FLORÊNCIO FERREIRA
Lisboa/Portugal, 1848 – 1914
1
Vês aquele enterro humilde,
sem padre, sem cruz, sem nada?
Vês aquel'outro, pomposo,
do templo a frente enlutada?
O primeiro é d'um honrado;
talvez o do outro o não seja...
Mas ambos, de igual doutrina,
são filhos da mesma igreja.
O que me admira e me assombra
é o afeto desta mãe,
que ao rico dispensa afagos
e ao pobre atira o desdém!
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Poema de
ÓGUI LOURENÇO MAURI
Catanduva/SP
A prática do bem
Fazer o bem não implica
Ser de posses detentor,
O Divino Mestre explica
Que o maior bem é o amor!
Vamos repartir o pão
Nas pegadas de Jesus,
Passemos pra nosso irmão
Amor em troca de Luz!
Pratica o bem sem a busca
De vantagens decorrentes,
Visto que a ganância ofusca
As ajudas aparentes!
Faz o bem sem manifesto,
Dá sem olhar para quem.
Cada qual recebe o gesto
Com o coração que tem!
Elimina a ostentação,
Vê quem tem necessidade;
Só teremos salvação
Praticando a caridade!
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França
O porco, a cabra e o carneiro
Uma cabra, um carneiro e um porco gordo,
Juntos num carro, iam à feira. Creio
Que todo o meu leitor será de acordo
Que não davam por gosto este passeio.
O porco ia em grandíssimo berreiro
Ensurdecendo a gente que passava;
E tanto um como outro companheiro
Daquela berraria se espantava.
Diz o carreiro ao porco: «Por que gritas,
Animal inimigo da limpeza?
Por que, trombudo bruto, não imitas
Dos companheiros teus a sizudeza?
— Sisudos, dizes?!... Quer-me parecer
Que não têm a cabeça muito sã,
Porque pensam que apenas vão perder,
A cabra o leite, o companheiro a lã.
Mas eu, que sirvo só para a lambança,
Envio um terno adeus ao meu chiqueiro...
Pois cuido que à goela já me avança
O agudo facalhão do salchicheiro!»
Pensava sabiamente este cochino,
Mas para quê? pergunto eu. Se o mal é certo,
É surdo às nossas queixas o destino;
E o que menos prevê é o mais esperto.
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