terça-feira, 18 de julho de 2023

Baú de Trovas LXVII – Dia do Trovador


A UBT do bom Luiz
seu grande ideal mantém:
ser sempre a forja e a matriz
da poesia do bem.
A. A. de Assis
Maringá/PR


Luiz Otávio, em nossas mãos
as suas a gente vê.
- Onde há um encontro de irmãos,
há um reencontro com você!
A. A. de Assis
Maringá/PR


Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
Adelmar Tavares
Rio de Janeiro/RJ

Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
Adelmar Tavares
Rio de Janeiro/RJ

Quando a inspiração lhe acena,
o bom Trovador se expande.
Numa Trova tão pequena,
faz um Poema tão Grande!
Ademar Macedo
Natal/RN


Inspirado na lembrança
de pensamentos diversos,
o trovador é criança
brincando de fazer versos.
Adolfo Macedo
Magé/RJ


Pequena e cheia de graça,
a trova é tão dadivosa,
que um trovador quando passa
deixa um perfume de rosa!
Amália Max
Ponta Grossa/PR


Canta, canta, trovador
e promove a festança,
convidando com amor
todo mundo para a dança.
Ana Maria Gazzaneo
Bragança Paulista/SP


Trova é sempre o bom amigo,
de quem se diz trovador.
Tem nos versos, manso abrigo,
de quem o perdeu na dor.
André Ricardo Rogério
Arapongas/PR

Quatro versos de beleza,
plenos de amor ou de humor,
com presteza e com destreza,
desenvolve um trovador.
Ângela Guerra
Rio de Janeiro/RJ

Parabéns, Trovador,
o que, em pequeno poema,
faz grande qualquer supor,
pois fez da Vida o seu tema.
Angela Togeiro
Belo Horizonte/MG

Em versos, o poeta canta
esta vida tão ditosa,
e a trova parece planta:
...pétalas formando rosa
Angela Togeiro
Belo Horizonte/MG

Achei uma forma nova
de tornar-me trovador:
nossos lábios – uma trova
na doce rima do amor.
Anis Murad
Rio de Janeiro/RJ

As trovas feitas a esmo,
são difíceis de fazer:
conversa contigo mesmo,
que a trova sai sem querer.
Anis Murad
Rio de Janeiro/RJ

Bendito aquele que trova,
como aquele que semeia;
em seu céu, a lua nova
sempre lembra lua cheia.
Antonio Cabral Filho
Rio de Janeiro/RJ

Nas trovas de um trovador,
este exemplo se repete:
–  Quatro pedaços de amor
contados de sete em sete…
Antonio Colavite Filho
Santos/SP
 
Ao tempo tudo se rende,
tudo passa ou se renova;
só não passa o que se prende
nos quatro versos da trova!
Antonio Juraci Siqueira
Belém/PA

A trova é gota de pranto
Que cai dos olhos de alguém
E por alguém chorou tanto
Que nem mais lágrimas tem.
Antonio Salomão
Curitiba/PR

O bom trovador comprova
a seguinte teoria:
-Quem é perito na trova
o é também na poesia!
Antonio Valentim Rufatto
Bauru/SP

A Trova não morre nunca,
retempera a humanidade
e vence a tristeza adunca,
alegrando a mocidade!
Apollo Taborda França
Curitiba/PR

Em cantilena divina
sua voz, cheia de amor.
Porque você me fascina
eu tornei-me um trovador!
Benedito C. G.Lima
Corumbá/MS

Quem deixa forte lembrança,
como Luiz Otávio deixou,
é símbolo de esperança
e do amor que ele plantou.
Carmen Pio
Porto Alegre/RS

Pequenina, saborosa,
tão redondinha e macia...
- A trova é, sem ser prosa,
filé "mignon" da poesia!
Carolina Ramos
Santos/SP

Trovador, quando padece
ao enfrentar duras provas,
guarda a angústia numa prece
e reza… fazendo Trovas.
Carolina Ramos
Santos/SP

Não sei se vivo a trovar
ou se trovar é viver.
Só sei que não sei ficar
sem minha trova escrever.
Celina Figueiredo
Belo Horizonte/MG

Luiz Otávio, com ciência,
fez da trova uma alegria;
com carinho e competência
fez dos versos melodia.
Cidinha Frigeri
Londrina/PR

A métrica pondo à prova,
quatro versos eu componho
ao fazer mais uma trova
com tinta, papel e sonho!
Cláudio de Cápua
Santos/SP

Luiz Otávio, com nobreza,
elevando-nos autores,
não foi rei, mas com certeza,
“Príncipe dos trovadores”…
Clevane Pessoa de Araújo Lopes
Belo Horizonte/MG

De ser grande trovador
Luiz Otávio deu provas:
- Versejava com amor
foi o Príncipe das Trovas.
Conceição P. Abritta
Belo Horizonte/MG

As minhas trovas de agora;
não guardam nada de novo.
São pensamentos dos sábios,
com pensamentos do povo.
Cornélio Pires
São Paulo/SP

Trovadores pintam, bordam,
contam fatos, fazem rir,
falam do que se recordam...
Põe neurônios pra agir!
Cristiane Borges Brotto
Curitiba/PR
 
Trovador é consciente
e respeita a natureza;
quer dar ao mundo da gente
tranquilidade e beleza!
Cynira Antunes de Moura
Santos/SP


Luís Otávio, não morreste,
aqui na Terra, ficaste,
entre os livros que escreveste
e as trovas que nos deixaste!
Delcy Canalles
Porto Alegre/RS


É na dor de uma saudade,
quando um mau dia anoitece,
que a mulher em mim se evade
e a trovadora aparece.
Denise Cataldi
Nova Friburgo/RJ

Busco apenas, vigilante,
saber seu comportamento:
-Trova, sendo a nossa amante,
não fique no esquecimento!
Diamantino Ferreira
Campos/RJ


Duvidar ninguém se atreve,
de que as estrelas que eu fito
são Trovas que Deus escreve
no livro azul do Infinito!…
Dias Monteiro
Taubaté/SP


Trovador quando ama a rosa
respeitando seus espinhos,
da flor, carinho ele goza
perfumando seus caminhos.
Dinair Leite
Paranavaí/PR


Príncipe dos trovadores,
nos canteiros que mantinha,
cultivou todas as flores
e fez da rosa a rainha.
Divenei Boseli
São Paulo/SP


Luiz Otávio, em teu reinado
onde o plágio não se aprova,
que bom fosse plagiado
em teu amor pela trova!
Edmar Japiassú Maia
Nova Friburgo/RJ


Sou trovador e transponho
os céus da imaginação,
pelo galope do sonho
e no dorso da ilusão!
Eduardo Toledo
Pouso Alegre/MG


– Se eu me sinto um trovador?
De fato não sei dizer...
Tudo que sei, meu senhor,
são quatro versos fazer!
Edweine Loureiro
Saitama/Japão


Independente de crença,
minha intuição comprova
de Luiz Otávio a presença
toda vez que se faz trova.
Élbea Priscila Souza e Silva
Caçapava/SP


Amo a trova a cada dia
e o farei a vida inteira...
Na tristeza ou na alegria
ela é sempre companheira!
Ercy M. Marques de Faria
Bauru/SP


Depois que o mundo criou,
fez o homem... e, sonhador,
Deus deu-lhe um dom e o ensinou
a ser poeta e trovador.
Eulinda Barreto Fernandes
Bauru/SP


Pequenina, mas imensa
para o poeta a trova é,
pois que nela condensa
sua vida, sua fé.
Fernandina Marques
Curitiba/PR


Vem de lá do monte verde
a trova que não entendo,
mas é um som bom que se perde
enquanto se vai vivendo.
Fernando Pessoa
Lisboa/Portugal


Desde a infância, um sonhador,
muitos sonhos já sonhei,
em tornar-me um trovador
- confesso - nunca pensei.
Flávio Ferreira da Silva
Nova Friburgo/RJ


Numa escolha certa e infinda,
com requintes de magia,
uma trova é a flor mais linda
dos jardins da poesia!
Flávio Roberto Stefani
Porto Alegre/RS


Luiz Otávio se encantou;
tinha que partir um dia!
Mas para o mundo deixou
um canteiro de poesia!
Francisco Garcia
Caicó/RN


Sou solidão, sou saudade
sou sonho, sou tudo enfim,
que tenha cumplicidade
com o trovador que há em mim!
Francisco José Pessoa
Fortaleza/CE


A trova nascida da alma
tem mensagem diferente,
pois ela incendeia e acalma
as atitudes da gente.
Francisco Neves Macedo
Natal/RN


Com rima alegre ou plangente,
trovador é trovador:
toca o coração da gente
com seu jeito encantador!
Geraldo Trombin
Americana/SP


A minha vida é uma Trova,
trova de ilusão perdida,
pois a vida é grande prova,
que prova a Trova da vida!
Gislaine Canales
Porto Alegre/RS


Não tem dia, não tem hora
em que sonha um trovador;
ao por do sol ou na aurora,
ele canta o seu amor!
Glória Tabet Marson
São José dos Campos/SP


Luiz Otávio, em verdade,
teve um viver bem risonho:
– Cantou, sereno, a saudade,
sendo o Príncipe do sonho!
Helvécio Barros
Bauru / SP


Gramática: Rege a língua.
Tanta gente descompassa
que certas trovas, à mingua
das regras, perdem a graça.
Hermoclydes S. Franco
Nova Friburgo/RJ


Trovador, longe da infância,
contando as horas da idade
rima tempo com distância
e distância com saudade!
Héron Patrício
São Paulo/SP

 
Faze da trova teu lema
com grande satisfação
e terás em cada tema
um motivo de emoção.
Ialmar Pio Schneider
Porto Alegre/RS

Ser trovador me seduz…
Eu sinto em cada momento
que a trova é facho de luz
no pano do firmamento…
Ivone Taglialegna Prado
Belo Horizonte/MG

Meu conflito e meu fracasso
é que as trovas que componho
têm sempre os versos que eu faço,
e nunca os versos que eu sonho…
Izo Goldman
São Paulo/SP

Faço trova quando deito,
outra quando me levanto.
Agora não tem mais jeito:
-Fui tomada pelo encanto!
Janske Niemann Schlenker
Curitiba/PR


Luiz Otávio plantou
com afeição e carinho,
e onde ele semeou
trovas brilham no caminho.
J. B. Xavier
São Paulo/SP


A trova, conta de um canto,
poça d’água sobre o chão
– tão pequenina, e entretanto,
reflete toda a amplidão!
J. G. de Araújo Jorge
Rio de Janeiro/RJ


A trova é como uma conta
de um rosário multicor,
é a cantiga que desponta
do peito de um trovador.
J. G. de Araújo Jorge
Rio de Janeiro/RJ


Trovador é o arquiteto
que no seu pequeno espaço
faz das estrelas seu teto
e do céu o seu terraço!
João Batista Xavier Oliveira
Bauru/SP


Dia 18 de Julho,
os Mensageiros do Amor,
celebram cheios de orgulho
o Dia do Trovador!
João Costa
Saquarema/RJ

Quanta lembrança querida
de quem pintou céus risonhos:
– Gilson de Castro...na Vida
– Luiz Otávio...nos Sonhos!
João Freire
Rio de Janeiro/RJ


A trova pra ser bonita
tal qual filhinha dileta,
traz sempre o laço de fita
da inspiração do poeta!
Joaquim Carvalho
Curitiba/PR


Ah, se eu fosse um construtor!...
Eu faria estradas novas,
incrustadas com amor,
pelo chão... milhões de trovas!
J. Feldman
Campo Mourão/PR


Qual a Gralha Azul que voa.
cultivando o Paraná.
A trova, a terra povoa,
espalhando o seu maná.
J. Feldman
Campo Mourão/PR


Em momentos mais risonhos,
sei que já fiz trova linda,
mas a trova dos meus sonhos
não pude fazer ainda!
José Lucas de Barros
Natal/RN


De alma pura e generosa,
o Príncipe Trovador,
de uma pequenina rosa
criou um mundo de amor!
José Maria Machado de Araújo
Rio de Janeiro/RJ


A trova, quando termina
em perfeita construção,
é uma casa pequenina,
com requintes de mansão!
José Messias Braz
Juiz de Fora/MG


Para o meu viver tristonho
um motivo mais ressalta:
na trova feliz que eu sonho
és a rima que me falta…
José Tavares de Lima
Juiz de Fora/MG


O trovador é poeta
de inspiração influente,
que nos seus versos projeta
a plenitude da mente!
Kathleen Evelyn Müller
Curitiba/PR


Por certo ninguém reprova
o vício que me domina:
-Cultivo o vício da trova
que começa e não termina...
Lacy Raymundi
Garibaldi/RS


Sou poeta trovador
na solidão desta rua.
Minhas serestas de amor
só tenho entoado à Lua.
Lairton Trovão de Andrade
Pinhalão/PR


Uma trova bem singela,
feita com arte e primor,
demonstra toda a cautela
de quem é bom Trovador.
Leonilda Yvonetti Spina
Londrina/PR

 
A mãe pro recém-nascido
pediu graças ao Senhor.
E Ele, ouvindo o bom pedido,
deu-lhe o dom de Trovador.
 Lília de Souza
Curitiba/PR


A trova é a alma da gente
desventurada ou feliz.
Em quatro versos somente,
quanta coisa a gente diz!
Lilinha Fernandes
Rio de Janeiro/RJ


Enquanto houver um luar
e um sol cheio de esplendor,
há de se ouvir o cantar
da lira de um trovador!
Lisete Johnson
Porto Alegre/RS

Noite clara, lua cheia...
Um trovador...um violão...
O coração se incendeia,
ante a chama da paixão.
Lucy Rangel Fraga
Bauru/SP


Luiz Otávio – alma inquieta -
só cantou coisas de amor...
não foi somente poeta:
- Ele é o maior Trovador!
Luiz Carlos Abritta
Belo Horizonte/MG


Á trova tenho um apreço
qual fora livro de bolso,
pequenino e de bom preço,
vale sempre o desembolso.
Luiz Hélio Friedrich
Curitiba/PR


A trova, quando perfeita,
três reações pode causar:
a gente ri… ou suspira,
ou então, fica a pensar…
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


A trova tomou-me inteiro...
tão amada e repetida,
que agora traça o roteiro
das horas da minha vida!
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Bendigo a Deus ter-me dado
a sorte de trovador
pois o mal, quando cantado,
diminui o seu rigor...
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Em nossa crença elevada,
num mundo de paz e flores,
a Trova é Hóstia Sagrada
no templo dos trovadores!
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Por estar na solidão,
tu de mim não tenhas dó.
Com trovas no coração,
eu nunca me sinto só.
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Tirem-me tudo que tenho,
neguem-me todo valor...
-Numa só glória me empenho
a de humilde trovador!
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Trovador, grande que seja,
tem esta mágoa a esconder:
a trova que mais deseja
jamais consegue escrever …
Luiz Otávio
Rio de Janeiro/RJ 1916 -1977 Santos/SP


Trovador é sonhador
e tem grande inspiração.
Das palavras, gladiador
com rimas do coração.
 
Madalena F. Pizzatto
Curitiba/PR


Trovador a lapidar
o seu "achado" tesouro
faz o sonho se tornar
um legado duradouro!
 
Maria da Conceição Fagundes
Curitiba/PR


Trovadores… luz… ribalta!
No cenário: a poesia.
Trova nasce… verso salta…
na maior coreografia.
Maria da Graça Stinglin de Araújo
Curitiba/PR


Há trovas que o vento leva;
outras, o fogo desfaz…
Mas, as minhas, sem reserva
são trovas que o vento traz.
Maria Nicolas
Curitiba/PR


Quando uma trova acontece,
nasce com ela um sorriso
no rosto de quem conhece
o gosto de um improviso.
Mário A. J. Zamataro
Curitiba/PR


Plantou rosas, toda a vida
o príncipe trovador...
E ao ver a messe cumprida
foi ser jogral do Senhor
Marina Bruna
São Paulo/SP


E desse dia festivo
eu venho participar,
pois das trovas sou cativo:
não sei ficar sem trovar.
Mário Roberto Guimarães
Rio de Janeiro/RJ


Trovador que canta a vida,
canções com trovas de amor,
assim dá leveza à lida.
Trovador é um sonhador!
Marly Rondan Pinto
São Paulo/SP


Da poesia fiz meu canto,
do meu canto a alegria!
Fiz meus versos com amor,
a canção do trovador.
Maurélio Machado
São Bento do Sul/SC


Um romântico poeta
tem seu dia, sim senhor,
e, por ser do amor esteta,
com certeza é um trovador!
 Maurício Norberto Friedrich
Curitiba/PR


De modo sempre profundo,
sempre escravo da verdade,
o trovador mostra ao mundo
seus sonhos de claridade.
 Messias da Rocha
Juiz de Fora/MG


As trovas no dia a dia
atuam como remédio.
São drágeas de poesia,
contra a depressão e o tédio.
Miguel Russowsky
Joaçaba/SC


Luiz Otávio sabia
que sua paixão mais forte,
a trova, conquistaria
o Brasil de Sul a Norte.
Milton Souza
Porto Alegre/RS

No Dia do Trovador,
eu repito novamente:
trova é um pedaço de amor
que invade a vida da gente.
Milton Souza
Porto Alegre/RS


O trovador é poeta
que na vida põe sabor,
e tem sempre a mesma meta,
decantar versos de amor!
Nadir Nogueira Giovanelli
São José dos Campos/SP


Quando tenho agulha nova
no pano da fantasia,
com quatro linhas de trova
costuro a minha alegria.
Nazareno Tourinho
Belém/PA


Deus fez tudo o que quisera:
– fez o céu, e fez as flores,
fez mais linda a primavera
e, depois, os Trovadores!
 Nei Garcez
Curitiba/PR


Luiz Otavio, no infinito,
em sua estrada traçada,
nos ensina quão bonito
é uma trova declamada!
Nei Garcez
Curitiba/PR


Sofre n’alma o trovador
ao buscar rima escorreita
quando está em seu compor
e lhe “foge” a mais perfeita!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE


- Cadê tu, rima? - pergunta
o trovador, desolado;
de repente ela se assunta,
num verso bem descolado!
Nemésio Prata
Fortaleza/CE


Trovador que crias trovas,
nem sabes aonde vão.
Elas vêm, dou-te provas,
parar no meu coração.
Nilsa Melo
Maringá/PR


Na madrugada silente
o trovador faz nascer
tudo o que sua alma sente
e o que não pode esquecer.
Nilsa Melo
Maringá/PR


O mundo ganha mais cor
neste dia de poesia,
quando todo trovador
faz trovas pelo seu dia!
Nilton Manoel
Ribeirão Preto/SP


Do trovador o penar
se descreve deste jeito:
– é a luta para encontrar
o verso que não foi feito.
Olympio S. Coutinho
Belo Horizonte/MG


Sou trovador concursado
na grande escola da vida.
Eu tenho a trova ao meu lado,
por que a trova é tão querida.
 Paulo R. Moreira Gomes
Curitiba/PR


Sou um velho trovador
que vive só por aí.
Canta a vida com amor
no canto do bem-te-vi.
 Paulo Roberto Walbach Prestes
Curitiba/PR


Carícia mais eloquente
que meu coração aprova
é te dar um beijo ardente
nos versos da minha trova!
Renato Alves
Rio de Janeiro/RJ


Luiz Otávio ficou,
nunca morreu de verdade:
– Em cada trova deixou
pedaços de eternidade!
Renata Paccola
São Paulo/SP


O sonho do trovador
é fazer trova perfeita;
não consegui ser o autor,
mas consegui vê-la feita!
Roberto Pinheiro Acruche
São Francisco de Itabapoana/RJ


A trova bem construída...
que aos bons princípios conduz,
pelos escuros da vida
é uma cascata de luz!
Roberto R. Vilela
Pouso Alegre/MG


Foi amigo e conselheiro,
um poeta, um sonhador.
Dom Luiz Otávio I
um Príncipe Trovador!
Rodopho Abbud
Nova Friburgo/RJ


Num ritmo de eternidade
e encanto que se renova,
há comboios de saudade
nos quatro trilhos da trova.
Roza de Oliveira
Curitiba/PR


Pequenina no formato,
mas imensa no que cria,
a trova é como um retrato
três-por-quatro da poesia.
Sandro Pereira Rebel
Niterói/RJ


Mês de Julho...Os trovadores
vestem seus trajes de festa
e cantam, nos seus louvores,
a esperança que lhes resta!
Selma Patti Spinelli
São Paulo/SP


Luiz Otávio, é tão patente
o teu trabalho fecundo,
que viraste o "remetente"
das trovas de todo o mundo!
Sérgio Bernardo
Nova Friburgo/RJ


Ó TROVADOR meu irmão
quando fizeres POESIA,
proclama sempre a UNIÃO
razão de toda a alegria.
Sílvia de Araújo Motta
Belo Horizonte/MG


Nos acordes da Poesia
versos de muito valor
traduzem a nostalgia
do peito de um Trovador !...
Sônia Maria Ditzel Martelo
Ponta Grossa/PR


No dia do trovador
quero fazer homenagens
a quem faz com tanto amor
essas divinas mensagens.
Suerda Medeiros de Araújo
Caicó/RN


O trovador é pra mim
um ser muito especial.
É pra Deus um querubim
com um dom angelical.
Suerda Medeiros de Araújo
Caicó/RN


Na trova, que é seu veleiro,
singrando temas diversos,
trovador é marinheiro
que navega em quatro versos.
Thereza Costa Val
Belo Horizonte/MG


A trova vence barreiras,
criando caminhos novos
e ultrapassando fronteiras
busca a amizade entre os povos.
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP

De Luiz Otávio, eu sabia
de cor seus versos mais ternos...
Todo o seu sonho cabia
nas folhas dos meus cadernos
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP


Trovador tu dizes tanto
e tão sinteticamente
que do mundo todo encanto
cabe no peito da gente.
 
Ubiratan Lustosa
Curitiba/PR


Ser trovador: meu encanto,
criar as rimas, tão minhas...
e o verso virar recanto
à minha alma, em quatro linhas...
Vanda Alves da Silva
Curitiba/PR


A trova é um clã gigantesco,
onde todo mundo é irmão,
sendo o grau de parentesco
os laços do coração.
Vanda Fagundes Queiroz
Curitiba/PR


Em tédio avassalador
daqueles que não têm cura,
num minuto o Trovador
transforma tudo em ventura!
Vânia Ennes
Curitiba/PR


Trovador - que trova a dor
e a transforma em poesia...
Voas alto qual condor:
Parabéns pelo teu dia!
 Vera Rolim
Curitiba/PR


Quando chora um trovador
não é o seu pesar somente,
canta, sofre e chora a dor
colhida de toda gente.
Victorina Sagboni
Joaquim Távora/PR


Trova é cantiga bonita,
nascida do coração!
Dessa inspiração bendita
vertida em linda canção.
Zélia Nicolodi
Curitiba/PR

segunda-feira, 17 de julho de 2023

Vanice Zimerman (Tela de versos) 20

 

Artur de Azevedo (Uma noite em Petrópolis)

O Gustavo era literato e quase jornalista. Casou-se muito novo, aos vinte e três anos, e fez-se guarda-livros, porque decididamente a literatura não lhe dava com que manter a família.

O casamento havia sido muito contrariado por uma dona Puquéria, tia da noiva, senhora já bastante idosa, que morava em Cascadura. Depois de casado, o Gustavo guardou um profundo ressentimento contra essa velha: não a podia ver nem pintada.

Ora, uma bela manhã, seis anos depois do casamento, a mulher de Gustavo foi despertá-lo mais cedo que de costume.

— Gustavo!

— Hein? Que queres tu? Para que me acordas tão cedo? Bem sabes que com este calor infernal só posso pegar no sono pela madrugada! Deixa-me dormir!

— Ouve; trata-se de uma coisa grave.

O Gustavo deu um pulo da cama.

— Hein?

— Tia Pulquéria...

— Morreu?

— Não; mas está morre não morre. Mandou-me pedir que fosse lá com os pequenos; quer despedir-se da gente.

— Responda-lhe que morra quantas vezes quiser, e nos deixe em paz!

— Gustavo, lembra-te que ela é irmã de meu pai...

— Lembro-me que esse diabo inventou contra mim as maiores calúnias, para impedir o nosso casamento!

— Pois sim, perdoa-lhe... aquilo foi rabugice de velha.

— Vai tu, se quiseres, com os meninos e a Máxima. Eu tenho mais que fazer; não os acompanho.

Uma hora depois, a sobrinha de dona Pulquéria, em companhia dos quatro pequenos e da Máxima — a ama seca de todos os quatros — tomava o trem para Cascadura.

O Gustavo tentou dormir ainda, mas não o conseguiu. Ergueu-se de mau humor, tomou um banho frio, vestiu-se, e foi para o escritório. Almoçava em casa do patrão.

Ao meio dia recebeu um bilhete de sua mulher dizendo-lhe que tia Pulquéria tinha expirado às dez horas da manhã e que ela ficaria lá todo o dia e toda a noite com os meninos e a Máxima “fazendo quarto”; só iria para casa no dia seguinte, depois do enterro.

O marido ficou bastante contrariado. Era a primeira vez, depois de seis anos de casados, que ia passar uma noite longe da família.

Um dos seus companheiros de escritório, homem já maduro e também pai de família, disse-lhe:

— Eu, no seu caso, Gustavo, tratava de aproveitar esta noite de liberdade...

— Aproveitar como? Não sou pândego nem tenho recursos para meter-me em cavalarias altas... Já sei que esta noite vai ser pior que a passada, em que não preguei o olho... Fazia um calor terrível.

— Pois aproveite a noite dormindo bem.

— Onde?

— Em Petrópolis. Você vai hoje na barca das quatro; chega lá às seis; janta no Bragança; depois do jantar vai dar um giro pela cidade; volta ao hotel; pede um quarto; passa uma noite deliciosa, e amanhã toma o trem para cá às sete horas da manhã.

A ideia sorriu ao Gustavo. Que bom seria passar a noite em Petrópolis, gozando a agradável temperatura da serra! Com que prazer ele se estenderia numa caminha fresca, para no dia seguinte, ao primeiro raio de sol, despertar alegre como um pássaro e leve como uma flor! Demais a mais, Gustavo nunca fora a Petrópolis, e Petrópolis era um dos seus sonhos. Uns desejam ir à Europa, outros à América do Norte, outros ao Oriente; ele desejaria ir à Petrópolis, embora para ali passar apenas uma noite.

O Gustavo foi à casa, acondicionou a roupa indispensável numa maleta de mão, e às quatro horas partiu para o ex-Córrego-Seco, munido de bilhete de ida e volta.

O programa traçado começou por ser fielmente cumprido. No hotel Bragança deram ao Gustavo um bom quarto, e serviram-lhe um bom jantar, que ele não apreciou bastante porque estava a cair de sono e na sala o termômetro marcava trinta graus.

Acabado o jantar, o nosso viajante saiu para dar um giro pela cidade; mas, como entrasse a chuviscar, voltou para o hotel, dizendo aos seus botões:

— Ora, adeus! vou deitar-me... Há de ser um sono só pela manhã!

Quis porém a fatalidade que, ao entrar no hotel o Gustavo encontrasse o Miranda, que fora, sete anos atrás, um dos companheiros de “lutas” literárias, um bom rapaz que tinha apenas um defeito, mas um grande defeito: bebia. Um pobre diabo, um maluco desses de quem se diz: — Coitado! é mau só para si.

— Olhe quem ele é: O Gustavo!...

— Oh, Miranda!

— Que fazes tu em Petrópolis?

— Vim dormir, e tu?

— Eu resido aqui.

— Ah! E em que te empregas?

— Em coisa nenhuma. Dissipo os restos do meu patrimônio.

O Gustavo notou que o Miranda tinha a língua um pouco presa, e como não há companhia mais desagradável que a de um bêbado, tratou de despedir-se.

— Não! Já não te deixo!... – protestou o Miranda. – Anda daí tomar comigo um copo de cerveja.

— Não... desculpa-me...

— Não admito desculpas!

— Pois sim, mas há de ser aqui mesmo no hotel.

— Nada! Nada! Cerveja em hotel não tem bom sabor. Vamos a uma brasserie que ali há... atravessemos aquela ponte...

— Isso é uma extravagância: está chovendo!

— Ora! Um chuvisquinho à toa! Vamos!

— Perdão, Miranda, eu vim a Petrópolis para dormir e não para tomar cerveja! Não preguei olho toda a noite passada, estou a cair de sono!

— Oh, desgraçado! Pois tu queres dormir às oito horas da noite? Bem se vê um poeta lírico degenerado, um trovador que se encheu de filhos e se fez guarda-livros! Anda daí!…

E Gustavo deixou-se levar, quase de rastros, à cervejaria.

Os dois amigos sentaram-se a uma mesa, diante de dois copos de cerveja alemã. O Miranda esvaziou imediatamente um deles, e pediu reforço.

— Era o que faltava! Dormir às oito horas noite! Nada; temos muito o que conversar, meu velho: vou expor-te um plano, um grande plano; quero saber se o aprovas.

— Fala! – disse Gustavo contrariadíssimo, arrependido, mas resignado.

— Pretendo fundar uma folha diária aqui, nesta cidade vermelha!

O Miranda esperava que Gustavo perguntasse: — Vermelha, por que? — O Gustavo calou-se; ele porém, acrescentou, como se o outro houvesse feito a pergunta:

— Pois não reparaste ainda que tudo aqui em Petrópolis é vermelho? As pontes, as grades, as montanhas, as casas, os criados de servir, e até os cabelos dos respectivos indígenas? Olha!

E apontou para o moço que trazia novo reforço de cerveja, um petropolitano ruivo, verdadeiro tipo teutônico.

— Em Petrópolis há um jornal, mas imagina, meu velho, que esse jornal se intitula o Mercantil! Vê que tolice! Um Mercantil nesta cidadezinha de vilegiatura, neste oásis de verão, residência de diplomatas, capitalistas e mulheres elegantes! O Mercantil, ora bolas!

E o Miranda expôs longamente o plano do seu jornal, com grandes gestos, os olhos muito abertos e injetados, as narinas dilatadas, os bigodes cheios de espuma. Seria uma folha artística, parisiense, catita, e sobretudo, escandalosa... não escandalosa como o Corsário, mas como o Gil Blas ou o Eco de Paris... Levantando a pontinha, só a pontinha do véu que esconde um mistério de amor... intrigando a sociedade inteira com uma inicial ou duas linhas de reticências...

Inflamado, o Miranda indicava os lucros prováveis da empresa, os capitalistas com que contava para lançá-la, os redatores e colaboradores que contrataria, e mais isto, e mais aquilo, e mais aquilo outro.

O Gustavo, que por diversas vezes tentava erguer-se, era subjugado pelo Miranda. Ouvia-o com as pálpebras semi cerradas pela fadiga, embrutecido, sem dizer uma frase, nem mesmo uma palavra, porque o futuro redator do Petrópolis — era esse o título do projetado jornal, — com a língua perra, dando murros na mesa, quebrando copos, expectorava abundantes períodos, sem vírgula, sem pausa. Só se calava de vez em quando para beber, ensopando os bigodes em cerveja e lambendo-os em seguida.

A chuva caía agora a cântaros.

Na cervejaria só estavam os dois amigos e o petropolitano teutônico, este encostado ao balcão de braços cruzados, cabeceando. O Miranda continuava com mais entusiasmo a exposição do plano da sua futura empresa, quando o dono da casa, um alemão robusto, irrompeu dos fundos do estabelecimento:

— Endão que é isto, meus zenhores? Já bassa tas tuas horas... não bosso der a minha casa aperda adé alda noide!...

O Miranda tentou recalcitrar, mas o cervejeiro não lhe deu ouvidos. O Gustavo pagou a despesa, e puxou pelo braço o beberrão, que parecia pregado ao banco em que se sentara. Afinal, conseguiu arrastá-lo até a rua. O alemão fechou imediatamente a porta.

O Miranda, mal deu dois passos, perdeu o equilíbrio e caiu redondamente na lama. O Gustavo abaixou-se para erguê-lo, mas o outro deixou-se estar, não fez o mínimo esforço para levantar-se, e resmungou quase ininteligivelmente: — Estou muito bêbado!

Imaginem a situação do guarda-livros: tonto de sono, de madrugada, à chuva, numa rua deserta, numa cidade que ele absolutamente não conhecia, às escuras, porque Petrópolis não tinha iluminação, e vendo aos seus pés um amigo embriagado, um companheiro de “lutas”, que não podia abandonar ali!

Imaginem os trabalhos porque passou o ex-poeta lírico para remover a pesada massa de carne e osso que jazia inerme no chão, e encontrar a casa em que habitava o Miranda. Felizmente este, mesmo bêbado, conseguiu orientá-lo. Mas que trabalho!...

Era perto de quatro horas quando o Gustavo bateu à porta do hotel Bragança. O criado que lhe veio abrir, de vela acesa na mão, teve um sorriso malicioso, e disse:

— Ai! Ai! Estes moços felizes que vêm passar uma noite em Petrópolis e se recolhem ao hotel de madrugada... Ai! Ai!

O Gustavo às sete horas da manhã desceu a serra aborrecido, doente, com uma enxaqueca terrível, estupidificado pelo sono e atribuindo as suas desgraças à tia Pulquéria.

Felizmente a velha deixou-lhe uns cobres que até certo ponto o consolaram daquela malfadada noite em Petrópolis.
Fonte:
Artur de Azevedo. Contos fora de moda. Publicado em 1894.
Disponível em Domínio Público

Dorothy Jansson Moretti (Trovas ao Entardecer) – 2


 A chama em minha alma acesa
que o vento instigava forte,
hoje é lume sem defesa
que um sopro conduz à morte.
= = = = = = = = =

Agrediu nosso romance,
rasgando cartas, retrato,
como se em último lance,
desse termo a um pugilato.
= = = = = = = = =

A loira cor do arrebol
que os campos de trigo enfeita
é mel que emana do sol,
dulcificando a colheita.
= = = = = = = = =

A verdade, transparente,
me diz que não vais voltar,
mas meu coração, carente,
se recusa a acreditar.
= = = = = = = = =

Bendigo o canto das águas
que fiel à correnteza,
arrasta angústias e mágoas
e cicatriza a tristeza.
= = = = = = = = =

Desperdiçou toda a vida
semeando ódio e falsidade;
e hoje, enferma e esquecida.
colhe o fruto da maldade.
= = = = = = = = =

Do bom e do que sofri
no percurso das estradas,
resta a paz que eu adquiri.
O mais... são águas passadas.
= = = = = = = = =

Ela, ansiosa, em sobressalto,
ele a esboçar um poemeto...
E o flerte era o ponto alto
pelas voltas ao coreto.
= = = = = = = = =

É símbolo de confiança
e a tensão nos descontrai,
a mãozinha da criança
aninhada ò mão do pai.
= = = = = = = = =

Levando minhas imagens,
a musa me abandonou,
e inerme, ao léu das voragens,
o meu verso naufragou.
= = = = = = = = =

Leva o barco as nossas mágoas,
sulcando as ondas além,
mas do outro lado das águas,
leva esperanças a alguém.
= = = = = = = = =

Na seara de minha vida,
dos fracassos já refeita,
semeio, e em nova investida,
calma eu aguardo a colheita...
= = = = = = = = =

O amor chega sem aviso,
e em surdina, sem razão,
no mais tranquilo improviso,
se instala em um coração.
= = = = = = = = =

Orgulhoso, o mar gigante
desdenha dos rios a frágua,
sem lembrar, nem por instante,
que surgiu de um olho d'água.
= = = = = = = = =

O sol, silencioso, desce,
e é mais um dia a morrer,
mas do outro lado uma prece
lhe agradece o renascer.
= = = = = = = = =

Pela faixa policroma,
mensageira da bonança,
traz o arco-íris que assoma
o retorno da esperança.
= = = = = = = = =

Poeta, em doce magia,
eleva-se do seu chão,
atrelando a fantasia
às correntes da razão.
= = = = = = = = =

Que alegre repique o sino
trazendo mensagem tal
como a do arauto divino:
"Paz na Terra! Hoje é Nata!!''
= = = = = = = = =

Que ao som dos brindes em festa,
Natal a comemorar,
Jesus encontre uma fresta
e retorne ao seu lugar!
= = = = = = = = =

Reverencia o amigo
que te amparou na subida,
que esteve sempre contigo
nos maus momentos da vida!
= = = = = = = = =

Sempre que a insônia me apanha,
eu busco a voz das estrelas.
Vem-me a paz e... coisa estranha,
eu nem preciso entendê-las.
= = = = = = = = =

Uma flor despetalada,
por acaso ou ironia,
é a imagem desalentada
de um amor em agonia,
= = = = = = = = =

Vendo, em mudo sofrimento,
a vida me desertar,
entendo enfim, porque o vento
se recusa a silenciar.
= = = = = = = = =

Vi no esplendor do arco-íris
desprezo à prece que fiz;
pois cada faixa, ao partires,
foi perdendo o seu matiz.
= = = = = = = = =
Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013.
Enviado pela trovadora.

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) Capítulo 3: O potrinho

Nas manhãs frias de inverno, as mais congelantes de todo o país, os peões Juca, Simão, Pedro, Juliano, dentre outros, para se protegerem do frio, iam para a lida vestidos com ponchos pesados, feitos de pura lã, extraída das ovelhas da região.  Juca, o capataz da fazenda, dava início às ordenhas bem antes do raiar do sol. Ele sempre foi o homem de confiança da família Machado, e também o motivo de muitos cochichos entre os colegas, pois corria à boca pequena (
fofoca) que a sua esposa, Amélia, uma jovem descendente direta de indígenas,  o traía entre os arrozais com o peão Simão, que não era mais jovem e nem mais bonito do que o capataz, mas fazia sucesso com as mulheres.

Mas esqueçamos os cochichos e voltemos a refletir sobre os encantos daquele lugar dadivoso, um dos ambientes mais graciosos de todo o Rio Grande do Sul.

Ao leste da fazenda, ficava a plantação de arroz. Ao oeste, foram construídos os currais e cocheiras que abrigavam numerosos animais, a maioria, bois, ovelhas e cavalos. Ao norte das terras, cultivava-se um jardim colorido, com flores de diversas espécies e árvores frutíferas. O constante bailado das borboletas e o afinado cantar dos pássaros compunham ali um cenário verdadeiramente divino. Isadora adorava aquele canto da fazenda. Ali, conversava consigo e tentava entender os desígnios da vida.  Da vida como um todo. E da sua própria vida.

Ao sul, portal de entrada e saída, ficava o armazém "Peleando contra o Trago”. E ao lado, a escola onde Isadora estudou até que a professora, dona Almerinda, faleceu e o colégio teve as portas fechadas, deixando as crianças da localidade sem terminar os estudos.

Eram cinco horas da manhã, e dona Ana estava cheia de encomendas de aniversário a serem entregues no início da tarde. Sabendo que dificilmente daria conta do serviço sozinha, bateu à porta do quarto da filha.

-  Isa, acorda! Preciso da tua ajuda.

- Já vou mãe! - respondeu a filha com voz de sono.

Ao entrar na cozinha, Isadora se deparou com a mesa lotada de preparativos para quitutes e com o fogão à lenha quase sem espaço para colocar tantas panelas.

- A senhora está fazendo doces para servir a um batalhão, minha mãe?

- Olha que coincidência: dois vizinhos de nossas terras estão aniversariando hoje.
 
– Minha mãe, isso é escravidão.

- Deixa de ser exagerada, filha. Estamos precisando de dinheiro, como bem sabes. Mãos à obra.

 - Sim, eu lhe ajudo. Mas isso não está certo. A senhora é esposa de um rico fazendeiro. Na dispensa já falta comida. Onde o pai coloca o dinheiro que ganha? - indagou Isadora, com profundo desconsolo.

A mãe se calou. E ambas se concentraram nos quitutes.

Do lado de fora se ouvia o palavreado do Tagarela, papagaio de estimação, o latido do vira -lata, Costelinha, nome dado pelo seu aspecto muito magro... E o canto dos pássaros que adoravam pousar nos ipês que enfeitavam os arredores da casa.

Ipês, de flores brancas, rosas e amarelas. Os de copas amarelas eram as árvores favoritas da menina Isadora.

No intervalo dos trabalhos, quando as massas de bolos estavam assando,  debruçada no parapeito da janela da cozinha, Isadora começou a dissertar um trecho de um texto do educador Rubem Alves, também, adorador da mesma espécie de planta:

“Gosto dos ipês de forma especial. Questão de afinidade. Alegram-se em fazer as coisas ao contrário. As outras árvores fazem o que é normal - abrem-se para o amor na primavera, quando o clima é ameno e o verão está para chegar, com seu calor e chuvas. O ipê faz amor justo quando o inverno chega, e a sua copa florida é uma despudorada e triunfante exaltação do cio”.

Lá pelas três horas da tarde, Ana e a filha estavam exaustas, mas com os doces e salgados prontos.

- Isa, chama o Juca para fazer as entregas.

- Está bem. Vou ver se o encontro. Mãe, agora trate de descansar um pouco.

- Vou tomar um banho e deitar um pouquinho - disse a mãe que, sem ânimo, acabou adormecendo na cadeira com a cabeça e os braços debruçados sobre a mesa.

Isadora correu a fazenda à procura de Juca. Ao vê-la passar, os peões pararam o serviço e, por instantes, se apegaram à ilusória felicidade de um dia poder apertá-la entre os braços.

A moça tinha consciência do encanto que despertava naqueles homens simples, sedentos de aventuras, e sentia-se lisonjeada por isso.

Achava graça em ver a cara de bobo de cada um e respondia aos seus acenos. Mas ao se aproximar, mesmo simpática, nunca aceitava ouvir cantadas.

Certa vez um jovem peão a convidou para sair. Mas, no mesmo instante ela cortou as intenções do pobre rapaz.

E quanto aos casados, com frequência, cochichava ao pé de seus ouvidos -  pares de me olhar assim ... Senão conto tudo à tua esposa.  E depois seguia com o seu jeito livre de ser... Como se nada estivesse acontecendo.

- Pedro! Viste o Juca? – perguntou ela.

- Não vi o companheiro ainda hoje.

- Bem. Então vou até a cocheira apanhar o Relâmpago. A cavalo o acharei depressa.

Pedro tirou o chapéu em sinal de reverência e respeito, mas logo espichou os olhos e se deleitou ao observar o balanceado do corpo da jovem patroa no seu distanciar frenético.

Na cocheira, Isa se deparou com Juca tentando salvar a vida de um potrinho.

- O que houve com o bichinho? - indagou ela preocupada.

- Encontrei o pobrezinho abandonado no meio da estrada. - disse o peão.

- Ele está muito fraco. Deve ser fome. Traz leite, Juca. Rápido.

O agregado obedeceu.

Eles tentaram fazer com que o animal se alimentasse, mas o bichinho rejeitou a mamadeira.  

- Acho melhor chamar o veterinário Bernardo, senão ele vai morrer - disse Isadora - Ó Deus! Ao ver o animal assim, até esqueci. A mãe precisa que faças as entregas de umas encomendas com urgência. Manda o Juliano chamar o veterinário. Vou ficar aqui cuidando do pobrezinho.

   - Mas o patrão não vai gostar de saber que a filha dele está enfiada entre os bichos e os peões dentro de uma cocheira. - alertou o atencioso capataz.

- Com o pai eu me entendo depois. Agora vai.

Isadora aguardou o socorro ao lado do potro. E relembrou que numa tarde semelhante àquela, quando tinha apenas sete anos e pode acompanhar pela primeira vez o parto de um potrinho, filho da Generosa, uma linda égua baia, a mais cara da criação, que morreu após dar à luz. Antes de fechar os olhos, observou o filhote de forma tão terna e doída. Naquele momento sentiu um arrepio de dor vindo daquela mãe que não era um ser humano, mas também possuía sentimentos. Desde aquele acontecimento, Isadora se apegou aos bichos. Especialmente aos cavalos, seus companheiros de andanças sem destino.

Infelizmente, a espera pelo veterinário foi inútil. No decorrer dos exames o animalzinho faleceu.

- Mal nasceu para a vida e já se encontrou com a morte, ao contrário do que aconteceu à Generosa - disse ela chorando.

- Quem é Generosa? perguntou o veterinário. Mas ela, com um nó na garganta, se manteve calada.

- Sei o quanto gosta dos cavalos, mas não podemos fazer mais nada. - afirmou o veterinário. Tu vives em meio aos bichos, e sabe que essas coisas acontecem.

- Sei. Mas evito estar presente.

Ao término daquele momento triste, ela tomou o seu Relâmpago e, galopando, desapareceu por entre as trilhas de terra da fazenda.  
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  =
continua…

Fonte:
Enviado pela autora

Contos e Lendas do Paraná - 18 (Campo Mourão - Cerro Azul - Guaratuba)


Nota: em letras maiúsculas o nome da cidade que é originária a lenda/conto


CAMPO MOURÃO
A lenda de São Tomé (o caminho do Peabiru)


Num dos dias mais frios do mês de junho, Nhô Juca, figura muito conhecida na região, por ser uma personagem enigmática e muito amável com todos que o conheciam, estava em seu rancho, às margens do rio Piquiri, acendendo uma pequena fogueira para se aquecer. Ia assar
pinhão, fruto da Araucária. Era costume dos moradores dali comer pinhão e também saborear o chimarrão, a erva nativa.

Nhô Juca tinha muitos compadres, pois sendo uma pessoa muito antiga no lugar, ajudava todos que o procuravam, com seus remédios caseiros, seus conselhos de ancião e seus belos causos. No rústico rancho onde vivia, nos finais de tarde, recebia seus amigos. Sentados em banquinhos, ou pedaços de troncos, ouviam e contavam histórias, principalmente causos de assombração, boitatá, saci-pererê e muitas outras. Além da iluminação da fogueira, no centro do rancho usava-se uma lamparina de querosene.

Então nesse final de tarde, como um ritual, seus companheiros, após um dia de lida na roça, vieram conversar com o compadre Juca e também ver se ele não estava precisando de nada, pois era sozinho na vida. Dele não se conhecia a existência nem de mulher, nem de filhos. A conversa estava tão animada que nem perceberam a tempestade que se aproximava. O vento era tão forte que atravessava de um lado para outro do rancho, ficando impossível manter a lamparina acesa.

Os visitantes estavam assustados, porém Nhô Juca, em sua calma, começou a lhes contar uma nova história. Disse que aquela região já havia pertencido aos índios e que estes haviam construído um caminho muito importante: o caminho do Peabiru. Era uma trilha muito antiga e comprida, começava no Oceano Atlântico e terminava no Oceano Pacífico, atravessando a América do Sul. Tinha mais ou menos 3 mil quilômetros de comprimento e cerca de 1,4 metro de largura, mais parecendo uma grande valeta no meio da floresta.

– E este caminho ainda existe? – perguntou Pedro, maravilhado.

– Pois bem, os índios, nossos antepassados, tinham a sua sabedoria, não eram bobos não. Eles plantavam nesse caminho uma grama miúda que evitava que a chuva lavasse a terra e, ao mesmo tempo, impedia que as ervas daninhas invadissem a valeta. Assim, o caminho ficaria sempre limpinho, mais parecendo um corredor encarpetado de verde, bem fofinho.

– Ah! Que espertos, hein, compadre? – disse Pedro, admirado.

– Pois bem, como eu lhes falei, os índios não eram burros não, essa grama era plantada em alguns trechos e ia se reproduzindo e avançando o caminho. E também soltava umas sementinhas gelatinosas que grudavam nos pés e pernas dos que por ali passavam e a levavam pelo caminho; dessa forma, as sementes iam caindo e novos trechos iam sendo formados.

E a conversa continuou, falaram dos índios, seus costumes e até da sua saída da região. Nhô Juca, então, resolveu contar-lhes sobre a lenda que envolve este caminho milenar.

– “Sabem, compadres, dizem que por este caminho andava muita gente importante da nossa história. Ouvi, certa vez, um moço lá da capital, que tava cavocando uns buracos na beira do rio, procurando sei lá o que, dizer que por aqui passou um homem branco, pois só existiam os índios e este homem fez muita coisa boa para eles. Dizem que ele veio das águas e que seu nome era Tomé ou Pai Zumé, como os índios o chamavam. Era um homem branco, alto, com longas barbas. Usava cabelos curtos com uma tonsura no alto da cabeça, igual às que os padres tinham. A roupa branca ia até os pés, amarrada por um fino cinturão de couro. Nas mãos trazia um livro semelhante ao Breviário dos sacerdotes e também uma cruz.

– “Por todos os lugares onde passava, deixava seus ensinamentos, condenando a poligamia e a antropofagia. Ele evangelizava os índios falando sobre o único Deus. Também ensinou aos índios o cultivo de outras culturas como a cana-de-açúcar e o milho. Por pregar a palavra do bem e censurar a imoralidade, causou grande revolta nos chefes e pajés que, furiosos, mandaram persegui-lo, incendiando as cabanas onde se abrigava para descansar, disparando flechas e pedras no profeta. Ileso dos atentados sofridos, sempre fugia pelas águas dos rios ou do mar.

– “Muitos dos antigos dizem que o homem branco era Tomé, apóstolo de Jesus Cristo, o mesmo que duvidou da ressurreição, pois pediu para colocar seus dedos nas chagas de Cristo para ver o sinal dos cravos em suas mãos. Como foi descrente, Jesus lhe deu a missão de pregar o evangelho nas terras mais longínquas do mundo. Naquela época, o mundo era apenas o Oriente, a Europa, África e a Ásia. Dizem que Tomé foi primeiro para a Pérsia. Assim que concluiu suas pregações, entrou num barco de mercadores rumo às Índias. Alcançou a Índia chegando até a China. Depois avançou no mar, indo parar em ilhas não determinadas. Como chegou ao Brasil, não se sabe, apenas alguns padres jesuítas relatam sua passagem por estas terras. Seu percurso começava no oceano Atlântico e terminava no Pacífico.”

– Nossa, compadre, esse caboclo viajou muito, hein! – exclamou Pedro.

– Pois é, era a sua missão e nada o impedia. Porém, certo dia os inimigos conseguiram pegá-lo e o amarraram numa grande pedra. Furiosos, surraram-no e o largaram desmaiado. Então, três grandes águias desceram do céu, cortaram as amarras e o libertaram. Ele fugiu pelas águas da mesma maneira que havia chegado e nunca mais ninguém soube do seu paradeiro.

– E esse caminho do Peabiru ainda existe, compadre? – pergunta Pedro.

– Olha, eu escutei uns moços, lá no boteco do seu João-Pé-Grande, falando desse caminho, dizem que ainda existem alguns lugares dele. Mas ainda tem mais. O Apóstolo Tomé ou Pai Zumé, dizia que era para preservarem o caminho do Peabiru, e se um dia ele fosse destruído pelos gigantes de ferro e aço, haveria muita seca, as aves e animais iriam acabar e as águas dos rios se tornariam escuras.

Nhô Juca enche a cuia com a água fervente da chaleira preta de ferro e repassa para Pedro. Todos ficam em silêncio. Apenas a fumaça dos palheiros sobe no ar.

– É preciso ver para crer.
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CERRO AZUL
Mais uma do Hermógenes


Isso foi nos tempos da primeira república. Hermógenes, o grandalhão, mandava em Cerro Azul. Sua fama é de um homem muito malvado. Era tão temido, que teve pai batizando filho com o nome de Hermógenes, como sinal de respeito e para aplacar a ira do “Sinhozinho Malta” daquele tempo.

Era um político muito vingativo, segundo a versão de alguns. Ele tinha o apoio do Governo Estadual, por ser o chefe político da região. Como “não havia” autoridade policial era ele que “fazia o serviço”, à sua maneira. Estava sempre rodeado dos seus capangas, que cumpriam religiosamente todas as suas ordens. Quando ordenava para prender alguém e este não obedecia à voz de prisão, os capangas tinham recomendação de matar.

Certa vez, conta-nos Chico Tiblier, Hermógenes teria mandado prender um camarada e disse que se não pudessem trazê-lo vivo, que trouxessem a cabeça dele. E não é que os desgraçados fizeram o serviço ao pé da letra! Trouxeram a cabeça e a colocaram na mesa. Hermógenes, ao vê-la, teria dito:

– Barbaridade! Que serviço vocês fizeram. Com o susto, o tirano desmaiou e nunca mais conseguiu ser o mesmo. A cabeça do homem foi enterrada nos fundos de sua casa, onde é hoje o bar do Jadir. Depois que Hermógenes morreu, contam muitas pessoas, a casa dele ficou assombrada. Dizem, por exemplo, que o assoalho da casa se erguia e formava um caixão.
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GUARATUBA
A lenda do Brejatuba


Itacunhatã, assim é chamada uma rocha que forma o conjunto do morro do Cristo. Nome originário dos índios tinguis, que habitaram o litoral. Itacunhatã era um guerreiro famoso e perdido de amores por Juracê, da família dos Carijós.

Num passeio no alto do Brejatuba, Itacunhatã achou que havia conquistado Juracê. Ao envolvê-la em seus braços, Juracê esquivou-se e saiu correndo. Quando, de repente, caiu do alto do morro, sendo engolida por uma onda. Itacunhatã atirou-se para salvá-la, mas as ondas recuaram, ele foi de encontro às pedras e acabou morrendo.

O mar arrependeu-se e trouxe a jovem de volta para ser salva por Itacunhatã, que já não podia mais salvá-la. E assim o mar tem feito, trazendo sempre Juracê em suas ondas, para que um dia seja pega e salva por Itacunhatã

Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná.
Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 2005.

domingo, 16 de julho de 2023

Adega de Versos 109: Washington Daniel Gorosito Pérez

 

Monsenhor Orivaldo Robles (Como ser chique)

Muita gente vive preocupada em ser reconhecida como elegante, fina, requintada ou, como ainda se diz, chique. Ser chique é agir de modo apreciado pelas figuras que povoam as altas rodas às quais ascenderam pelo dinheiro e pela aceitação dos outros. Em todas as cidades, até nas pequeninas e de menor importância econômico-político-social, encontram-se homens e mulheres muito interessados em pontear como a nata da sociedade local. Desenvolvem um esforço colossal para causarem boa impressão. Para granjear entre os seus concidadãos a admiração e o aplauso sem os quais a vida lhes parece uma coisa sem graça, penosa de ser vivida. No mundo inteiro, pelo que se percebe, há pessoas para quem a opinião alheia pesa mais do que as próprias convicções.

No passado, tempo em que as oceânicas distâncias impediam o acesso às fontes europeias da cultura e da elegância, as famílias abastadas destas rudes plagas enviavam os filhos à França, berço da “noblesse” e do conhecimento de então. Nossa fonte cultural, como os mais vividos recordam, desde então, recende os seus inegáveis eflúvios franceses. Só nas últimas décadas é que se impôs o domínio cultural norte-americano, que hoje todos conhecemos. Assim como o embrutecimento nas relações humanas, que hoje todos suportamos. No seu tempo de estudantes, muitos adultos de hoje tiveram que estudar francês, não inglês, como atualmente. Alguns chegaram a estudar até latim, matriz da nossa língua e cultura.

A prática da elegância, do fino trato no relacionamento interpessoal, era exigência de qualquer educação digna desse nome. Nem todas as normas eram evidentes ou de fácil assimilação. Por isso, muito se apreciavam os manuais de boas maneiras ou de civilidade, que os estudantes, especialmente os de colégio interno, eram obrigados a conhecer a fundo. Um dos mais divulgados, em todo o Brasil, desde os anos 30, foi o de autoria de Carmen D’ Ávila.

Mais recentemente, quem mostra interesse por saber o que fica bem em sociedade tem que recorrer à mestra Glória Kallil, consultora de estilo e de negócios ligados ao comportamento e à moda. Em matéria de etiqueta e elegância, nada escapa ao seu conhecimento.

Nunca me interessei por conferir o que ela fala ou publica. Nem me preocupou saber em que pensa ou crê. Mas um texto enviado por uma querida amiga levou-me a dar atenção a essa professora da arte de ser chique, como todos desejam. A página é longa, mas interessante. O pedacinho final diz assim:

“Para ser chique, chique mesmo, você tem, antes de tudo, de se lembrar sempre de quão breve é a vida e de que, ao fim e ao cabo, vamos todos terminar da mesma maneira, mortos sem levar nada material deste mundo. Portanto, não gaste sua energia com o que não tem valor, não desperdice as pessoas interessantes com quem se encontrar e não aceite, em hipótese alguma, fazer qualquer coisa que não lhe faça bem, que não seja correta.

Lembre-se: o diabo parece chique, mas o inferno não tem qualquer glamour. Porque, no final das contas, chique mesmo é crer em Deus. Investir em conhecimento pode nos tornar sábios… mas amor e fé nos tornam humanos”.

Conforta saber que isso não é sermão de padre nem de pastor. Afinal, a verdade independe de quem a profere.

Silmar Böhrer (Croniquinha) 87

Mundanos espalham o medo no mundo e os humanos se recolhem rapidamente como cordeirinhos aos seus abrigos. Manhãs, tardes, noites ficam negras, pensares estacam, a vida encolhe. Lobos disseminam o ruim, o mal, o pior. O planeta é um caos programado. A insânia impera, domina, mata.

O vento espalha a verdade assoprando que a história se repete, as promessas de fim do mundo são pequenos apocalipses de tempos em tempos. A mitologia celta e as sibilinas dos romanos prediziam que no final dos tempos ocorreriam mudanças climáticas, decadência das classes sociais, maldade e o relaxamento dos costumes. Recordemos como chegaram os costumes na decadência do Império Romano.

A vida é infestada de males ? Eles são sazonais. Surgem de tempos em tempos. E sempre aparecem outros - novos ou antigos - que andam rondando nossas herdades físicas, psíquicas e materiais. Bem dizia o avô-filósofo, "onde está o homem está o perigo".
Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXXVIII


Ante a paz dos pirilampos,
felizes na escuridão,
vão-se as mágoas pelos campos
e as dores também se vão!
= = = = = = = = =

Ao ver a infância indo embora,
cheia de sonho e saudade,
comparo a uma flor que chora
dando adeus à mocidade!
= = = = = = = = =

As mágoas têm seus agravos;
e, entre as maldades profanas,
o tédio carrega os travos
das amarguras humanas!
= = = = = = = = =

As ondas, em terno açoite,
sob a nudez do luar,
tecem as vestes da noite
na areia branca do mar!
= = = = = = = = =

A trova que afasta o tédio,
que provoca pranto e dor,
pode conter o remédio
para as angústias do amor!
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Bem mais difícil seria,
para manter minha calma,
fazer versos sem poesia,
e, versos pagãos, sem alma!
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Desfaz todos os entraves
e quebra todos os nós,
o timbre das notas graves
do canto dos curiós!
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Diante do altar e de joelhos,
curvo a cabeça ante a Luz
e, ouço os mais santos conselhos
que há no silêncio da Cruz!
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Eis que o amor, se justifica
pelo tempo que perdura;
quanto mais velho ele fica,
mais nos dá força e ternura!
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Juventude!... Ante os teus ais,
pelos teus frágeis acenos,
percebo cada vez mais
que existes cada vez menos!
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Minha rua, pobre e bela
e, eu sempre a quis pobre e nua;
na infância, eu brincava nela
sem ser criança de rua!
= = = = = = = = =

Não sei por que tu partiste;
mas, te impedir, eu não pude,
porque entre nós, não existe
os sopros da juventude!
= = = = = = = = =

Nas pétalas de uma flor,
deixei um recado assim:
– Se alguém tiver mais amor,
proteja essa flor, por mim!
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Nesta manhã, calma e mansa,
nós somos dois arrebóis
jorrando luz e esperança,
na esperança de outros sóis!
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O orvalho que molha a flor,
tem beleza e desencanto:
à noite, gotas de amor
e, à luz do Sol, vira pranto!
= = = = = = = = =

O teu canto, ave canora,
na prisão, que alguém te deu,
tem toda a dor de quem chora
por alguém que já morreu!
= = = = = = = = =

Quando tu passas dengosa,
a vida de amor se banha
e, minha alma preguiçosa,
a tua sombra acompanha!
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São tantos os teus desvelos
nesta fronte encanecida,
que ao contemplar teus cabelos,
contemplo a fronte da vida!
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Saudade - ao som da viola,
numa noite de luar,
na noite em que nos consola
faz a gente delirar!
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Se a desventura te amarga,
e tu, reclamas por isto,
pensa no peso da carga
dos braços da cruz de Cristo!
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Sigo com minha alegria
e, as horas comigo vão;
mas, se eu voltar algum dia,
as horas não voltarão!
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Sobre a vida, às vezes, penso,
à luz de tantas auroras,
que a vida é um sino suspenso
martelando a dor das horas!
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Teu nome, nunca enxovalhes
em busca de fama e glória,
que a verdade em seus detalhes
desfaz as farsas da história!
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Tristonha, e de alma sombria,
em tudo se complicava:
diante do pranto, sorria,
mas, ante o riso, chorava!
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Tuas cartas!... tuas cartas,
só me causam pranto e dor,
por tantas lembranças fartas
desses excessos do amor!
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Tudo que sobra em meu teto,
e a massa do pão, que amasso,
vêm da mistura do afeto
de tudo aquilo que eu faço!
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Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Enviado pelo trovador.

Machado de Assis (Vae Soli!)

Um dia desta semana, farto de vendavais, naufrágios, boatos, mentiras, polêmicas, farto de ver como se descompõem os homens, acionistas e diretores, importadores e industriais, farto de mim, de ti, de todos, de um tumulto sem vida, de um silêncio sem quietação, peguei de uma página de anúncios, e disse comigo:

"Eia, passemos em revista as procuras e ofertas, caixeiros desempregados, pianos, magnésias, sabonetes, oficiais de barbeiro, casas para alugar, amas-de-leite, cobradores, coqueluche, hipotecas, professores, tosses crônicas..."

E o meu espírito, estendendo e juntando as mãos e os braços, como fazem os nadadores, que caem do alto, mergulhou por uma coluna abaixo. Quando voltou à tona, trazia entre os dedos esta pérola:

Uma viúva interessante, distinta, de boa família e independente de meios, deseja encontrar por esposo um homem de meia idade, sério, instruído, e também com meios de vida, que esteja como ela cansado de viver só; resposta por carta ao escritório desta folha, com as iniciais M. R..., anunciando, a fim de ser procurada essa carta.

Gentil viúva, eu não sou o homem que procuras, mas desejava ver-te, ou, quando menos, possuir o teu retrato, porque tu não és qualquer pessoa, tu vales alguma coisa mais que o comum das mulheres. Ai de quem está só! Dizem as sagradas letras; mas não foi a religião que te inspirou esse anúncio. Nem motivo teológico, nem metafísico. Positivo também não, porque o positivismo é infenso às segundas núpcias. Que foi então, senão a triste, longa e aborrecida experiência? Não queres amar; estás cansada de viver só.

E a cláusula de ser o esposo outro aborrecido, fato de solidão, mostra que tu não queres enganar, nem sacrificar ninguém. Ficam desde já excluídos os sonhadores, os que amem o mistério e procurem justamente esta ocasião de comprar um bilhete na loteria da vida. Que não pedes um diálogo de amor, é claro, desde que impões a cláusula da meia idade, zona em que as paixões arrefecem, onde as flores vão perdendo a cor purpúrea e o viço eterno. Não há de ser um náufrago, à espera de uma tábua de salvação, pois que exiges que também possua. E há de ser instruído, para encher com as luzes do espírito as longas noites do coração, e contar (sem as mãos presas) a tomada de Constantinopla.

Viúva dos meus pecados, quem és tu que sabes tanto? O teu anúncio lembra a carta de certo capitão da guarda de Nero. Rico, interessante, aborrecido, como tu, escreveu um dia ao grave Sêneca, perguntando-lhe como se havia de curar do tédio que sentia, e explicava-se por figura: "Não é a tempestade que me aflige, é o enjoo do mar". Viúva minha, o que tu queres realmente, não é um marido, é um remédio contra o enjoo. Vês que a travessia ainda é longa, — porque a tua idade está entre trinta e dois e trinta e oito anos, — o mar é agitado, o navio joga muito; precisas de um preparado para matar esse mal cruel e indefinível. Não te contentas com o remédio de Sêneca, que era justamente a solidão, "a vida retirada, em que a alma acha todo o seu sossego". Tu já provaste esse preparado; não te fez nada. Tentas outro; mas queres menos um companheiro que uma companhia.

Pode ser que a esta hora já tenhas achado o esposo nas condições definidas. Não estás ainda casada, porque é preciso fazer correr os pregões, e tens alguns dias diante de ti, para examinar bem o homem. Lembra-te de Xisto V, amiga minha; não vá ele sair, em vez de um coração arrimado à bengala, um coração com pernas, e umas pernas com músculos e sangue; não vás tu ouvir, em vez da tomada de Constantinopla, a queda de Margarida nos braços de Fausto. Há desses corações, nevados por cima, como estão agora as serras do Itatiaia e de Itajubá, e contendo em si as lavas que o Etna está cuspindo desde alguns dias.

Mas, se ele te sair o que queres, que grande prêmio de loteria! Junto à amurada do navio, vendo a fúria do mar e dos ventos, tu ouvirás muitas coisas sérias e graciosas a um tempo, seguindo com os olhos a fúria dos ventos e o tumulto das ondas livre, do enjoo, como pedia aquele capitão de Nero, e por diferente regime do que lhe aconselhou o filósofo. E a tua conclusão será como a tua premissa; em caso de tédio, antes um marido que nada.

Fonte:
Machado de Assis. Páginas Recolhidas. Publicado originalmente no RJ: Editora Garnier, 1899.
Disponível em Domínio Público