quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Aparecido Raimundo de Souza (Engasgada)

DOMINGO, ONZE da manhã. Horário de pico. Restaurante lotado. Almoço sendo servido a toda velocidade. Nenhuma mesa disponível. Na calçada, uma fila quilométrica de pessoas espera a vez para ingressar. Ao lado do pianista tocando repertórios populares, uma família ocupa a mesa cinquenta e dois. Não outra, senão os consanguíneos do desembargador Sizino de Albuquerque Garranchoso (encabeçado por ele), sua esposa Beatriz, as duas filhas, Sara e Simone e também o único filho varão, Sizino de Albuquerque Garranchoso Junior. Almoçam tranquilamente enquanto o músico, ao instrumento, muda o tom das notas, passando a executar melodias românticas. 

Numa mesa um pouco afastada, a de número sessenta e um, se vê capitaneada pelo doutor Moacir Fortunato, delegado de polícia. O insigne representante da lei se faz acompanhar também da sua prole. Por esta razão, está sentada à sua beira, a esposa, dona Mara, companheira de quarenta anos e o casal de filhos, Augusto, de vinte e Liliane, de vinte e dois. Os garçons, num vaivém incessante, transitam em ziguezagues servindo os muitos pratos do cardápio, sem falar nas garrafas de cervejas e refrigerantes, bem ainda, para alguns mais exigentes, o vinho ao ponto e o champanhe espumante. Todos estão radiantes, em particular o delegado Moacir Fortunado, em vista da Liliane, a sua mais velha, comemorar a passagem de seu natalício. De repente, o pai coruja dá início a uma cantoria de parabéns, na qual ao ser terminada, incrivelmente toda a galera, em peso se solidariza, irmanada, ajudando o velhote no tradicional cumprimento do “viva à aniversariante”, culminando as felicitações com estrondosas palmas embaladas pelo pianista que interrompe o que executa e passa a mandar brasa num improvisado “Parabéns pra você”. 

As famílias, naquele recinto, com gente saindo pelo ladrão, nunca se viram. Até aquele momento, todo o pessoal se fazia desconhecido uns aos outros. Nada, portanto, os unia em algo comum. Apenas os alinhavam o almoço no mesmo espaço seguido da solidariedade e do carinho da troca de gentilezas. Ao saírem dali, possivelmente jamais se esbarrariam. Cada grupo distinto seguiria o seu caminho permanecendo as lembranças do evento oculto nas memórias inesquecíveis de um instante imperdível que se perpetuou. Entretanto, meia hora depois, talvez menos, dona Mara é acometida por um piripaque repentino. Se engasga com alguma coisa que engoliu por descuido e o alimento, sabe-se lá por qual motivo, a faz entrar em estado de pânico. 

De fato, a senhora passa a se sentir mal, a se debater, desesperada, dando a impressão, aos demais, que se sufocava com alguma entalação imprevisível. Seu estado se torna crítico. Em questão de segundos, os garçons, irmanados em suporte de socorro, tentam reanimar a pobre criatura livrando-a do desconforto. As ações por eles tomadas não surtem o efeito pleiteado. A infeliz, aos poucos, está perdendo o chão, ficando cada vez mais carente de cuidados e próxima de uma prostração infernal. O dono aparece, solidário e visivelmente nervoso, bem como o gerente. Alguns clientes palpitam... dão sugestões, enfim, um grupo se junta aos contratempos visíveis do senhor Moacir Fortunato. 

Extremamente prestativo, ao tomar conhecimento daquele bafafá inesperado, e, em face do agito e de pessoas falando ao mesmo tempo, Sizino Junior salta da sua cadeira, na cinquenta e dois e corre à beira de dona Mara. Em contínuo, agarra a mulher pelas costas, levanta-a do chão com uma força jamais vista pelos presentes. Seu Moacir Fortunato, da sessenta e um, o marido, meio que apatetado, investe, furioso e aos berros, contra o impetuoso rapaz, bem como o filho Augusto. Prestes estão, pai e filho, a pegarem o maluco pelos fundilhos (o miserável, do nada, e, em meio a uma plateia pasma e endoidecida), que num ato impensado e sem nenhum tipo de explicação, agarrou dona Mara e a suspendeu em pleno ar. Todavia o quadro se faz inverossímil. Dona Mara é salva do desditoso engasgo. 

Sizino em curto interregno, ao invés de um muito obrigado, ouve uma chuva de impropérios, como “vamos pegar o desgraçado na porrada? Onde já se viu desrespeitar uma senhora honesta, tomando-a pelas costas e, pior, ao lado de seu marido e filhos”’? Em meio ao pandemônio desfigurado que se segue, alguém tem a infeliz ideia de mandar ligar para a polícia: 

— Meu senhor, chama os “home”! – grita o careca da mesa quarenta e nove.

— Bem pensado.  Este safado precisa ir direto para a cadeia, sem mais perda de tempo – corrobora a idosa da trinta e oito:

Augusto, o filho, mais abestalhado que o pai, dá o alerta:

— Pai, pelo amor de Deus, para que chamar uma viatura? O senhor é a polícia. Acaso vai chamar a si mesmo? –  Prende o cara.

O pai, coça a cabeça, ainda desatinado:

— É mesmo. Havia me esquecido...

Espumando de raiva e ódio, seu Moacir tonitrua voz de prisão à Sizino, exibindo seu distintivo da Civil acompanhada de uma poderosa arma em punho. As barbas de ser linchado, contudo, Sizino, o salvador de dona Mara, se faz ouvir, gritando a plenos pulmões e acima do estardalhaço para que todos lhe deem atenção: 

— Calma, gente. Por favor, me escutem. Sou médico. Eis aqui a minha credencial. Esta senhora se engasgou. Como podem ver, está agora, fora de perigo. Apliquei nela um procedimento de compressão abdominal, ou como no dia a dia dos hospitais conhecemos como “Manobra de Heimlich.” 

O senhor Moacir, estanca. Diante da identificação exibida não só para ele, como para os demais em encorpada roda, muda a postura. Guarda a arma. Enfia o par de algemas no bolso. Aos prantos, o velho desaba se debulhando em lágrimas. Chorando, abraça a esposa e os filhos. Em seguida, pede desculpas e estende os braços em atitude de agradecimento ao clínico que, por graça divina, estava no local na hora certa e se prontificou a socorrer a mulher em apuros descomedidos: 

— Meu filho – diz seu Moacir à Sizino. Me perdoe. Tudo aconteceu de forma tão rápida... como iríamos supor que uma pessoa tão jovem fosse um médico e viesse em socorro de minha querida esposa?   

O restaurante, ao saber do ocorrido se solidariza, e, como era de se esperar, termina com uma centena de cumprimentos e vivas atrelado a um “Deus lhe pague” sincero e sem rancores. O fato é seguido de palavras elogiosas "apogeado" com uma salva de palmas e algazarras calorosas. Aquela cena inusitada contagia até os que engrossavam a enorme fila na calçada em frente. O senhor Moacir Fortunado, delegado de polícia, em profundo agradecimento, não permite que o desembargador Sizino de Albuquerque arque com a conta. Correndo ao caixa, sem que ninguém perceba, toma para si os haveres dos gastos da família do ilustre esculápio. 

O melhor de tudo acontece em sequência. Uma profunda amizade entre os dois líderes consolida aquele inesperado encontro, mudando para sempre a vida de todos os partícipes. A partir daquele bagunçado almoço, uma alicerçada e desinteressada união se propaga entre os Albuquerque e os Fortunatos. O ápice foi tão difundido que redundou em noticiário e saiu na televisão com destaque nos jornais do começo de noite. Dois meses depois, no mesmo restaurante, igual mesa, o jovem médico Sizino Júnior, filho do desembargador Sizino de Albuquerque pede publicamente ao líder da família Fortunato, em noivado, com aliança e tudo o que tem direito, a filha dele, a linda e esfuziante Liliane. Após o “sim” e as bênçãos de ambas as famílias, numa euforia açodada se fez ouvir quando os pombinhos se beijam acalorados, e, claro, ovacionados por uma nova e desta vez mais robusta e tonitruante gritaria em embalos de “vivas e vivas” ao mais novo elegante e majestoso casal.  

Fonte:
Texto enviado pelo autor

XVII Jogos Florais de Cantagalo-RJ (Trovas Premiadas)


ESTADUAL    

TEMA: LUTA

1º lugar
Sandro Pereira Rebel
Niterói/RJ 
Quantas vidas nesta terra
na violência se consome,
inclusive numa guerra   
onde a luta é contra a fome.
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2ºlugar
Sandro Pereira Rebel
Niterói/RJ
Anseios de liberdade
são sempre a força motriz
que conduz a humanidade
às lutas por ser feliz.
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3º lugar
Cléber Roberto de Oliveira
São João de Meriti/RJ
Não à guerra fratricida!...
Jamais lhe darei valor:
- Luta em que há perda de vida
é luta sem vencedor!
= = = = = = = = = 

4ºlugar
Jessé Nascimento
Angra dos Reis/RJ
Sou atrevido, confesso, 
pois ao lutar pelo amor, 
nem sempre meus atos meço: 
busco ser o vencedor!
= = = = = = = = = 

5º Lugar
Alba Helena Corrêa
Niterói/RJ
Quem, por si, chega à vitória,
pela luta, com amor,
merece o troféu da glória:
é, de fato, um vencedor!
= = = = = = = = = 

6º Lugar
Therezinha Tavares
Nova Friburgo/RJ
A luta desaparece
neste mundo conturbado
quando a paz se fortalece
no coração desarmado.
= = = = = = = = = 

7º Lugar
Marialice  Araujo  Velloso
São Gonçalo/RJ
Quando  a  dor  atinge   a  vida 
e  a  luta  se  faz  presente ,
o  amor  de  Deus  , sem  medida, 
em  seu  colo , ampara  a gente .
= = = = = = = = = 

8º Lugar
Ariete Regina Fernandes Correia
Rio de Janeiro/RJ
 Canudos reuniu fiéis,
que fugindo da  opressão ,
enfrentaram coronéis ,
na luta, em pleno sertão.
= = = = = = = = = 

9º Lugar
Cléber Roberto de Oliveira
São João de Meriti/RJ
 Pobre vive a combater
na dureza que o ameaça:
se não luta pra comer,
não sobrevive à desgraça!...
= = = = = = = = = 

10º Lugar
Therezinha Tavares
Nova Friburgo/RJ
 Vou trilhando sem barreiras
o mapa da minha vida.
Não me detenho em fronteiras,
minha luta é decidida!
= = = = = = = = = 

11º Lugar
Eunice Gonçalves Pereira da Silva
Rio de Janeiro/RJ
Tudo conquistei com luta,
um dia de cada vez...
Com muita garra, labuta,
esperança e sensatez.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  = 

NACIONAL   

TEMA SERTÃO

1º Lugar
Mara Melinni
Caicó/RN
 Na aridez de um chão sem cores,
os sonhos brotam, sem fim…
E a esperança planta flores,
no Sertão que habita em mim.
= = = = = = = = = 

2º Lugar
Renata Paccola
São Paulo/SP 
 Por pulsar um sonho agreste
entre as veias do sertão
é que o mapa do nordeste
tem forma de coração!
      = = = = = = = = = 

3º Lugar
Antônio Francisco Pereira
Belo Horizonte/MG
De mudança, na estação,
meu velho pai disse assim:
Eu saio do meu sertão,
mas ele não sai de mim.
= = = = = = = = = 

4º Lugar
Francisco Gabriel
Natal/RN
 Perde, a vida, os seus encantos
quando há seca no sertão,
com sobra d’água nos prantos
por faltar água no chão.
= = = = = = = = = 

5º Lugar
Carolina Ramos
Santos/SP
Neste sertão brasileiro, 
há tanta beleza, tanta...
que o sol aplaude primeiro
e só depois se levanta!!!
     = = = = = = = = = 

6º Lugar
Romilton Faria
Juiz de Fora/MG
O sertão e o sertanejo,
feito madeira de entalho,
são forjados no manejo
do tempo… vento… e trabalho.
      = = = = = = = = = 

7º Lugar
César Defilippo
Astolfo Dutra/MG
Sertão, por ter te deixado
semeio saudade a eito,
a lembrança é feito arado      
que abre covas no meu peito...
      = = = = = = = = = 

8º Lugar
Carolina Ramos
Santos/SP
 Quando o sertão se espreguiça
à luz branda, a cada aurora,
 cada galho é uma premissa
da força que ali vigora!
        = = = = = = = = =  

9º Lugar
Fernando Antônio Belino
Sete Lagoas/MG
 O sertão, às vezes penso,
mais que seca e terra quente,
é um milagre sempre intenso,
que brota dentro da gente!
        = = = = = = = = = 

10ºLugar
Maria Dulce de Lima Pessoa
Tabira/PE
 Filha brava dos sertões,
eu me sinto tão feliz,
que me esqueço dos senões
ao  chamá-lo meu país
= = = = = = = = =        

11º Lugar
José Manuel Veloso Galvão 
São Paulo/SP
Na agudeza da visão,
foi que Euclides viu, no fundo,
nos confins, lá do sertão,
os confins do fim do mundo!
= = = = = = = = =         

12º Lugar
Cipriano Ferreira Gomes
São Paulo/SP
A vida pôs-me a leilão 
e eu recebi em saudade,
quando deixei o sertão, 
comprado pela cidade.
        = = = = = = = = = 

13º Lugar
Márcia Jaber
Juiz de Fora/MG
 Guarda, em seu ventre, a semente
e espera a fecundação...
Chega a chuva, qual presente,
faz florir todo o sertão.
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NOVO TROVADOR 

TEMA SONHO

1º Lugar
Wilton di Cali 
Guarulhos/SP
Se a tristeza vem de dia,
para enfrentá-la eu disponho
da força desta alegria,
que eu carrego em cada sonho.
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2º Lugar
Wilton di Cali 
Guarulhos/SP
O sonho do trovador
é único e verdadeiro:
ensinar que só o amor,
modifica o mundo inteiro.
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3º Lugar
Ana Lúcia Camargos Cordeiro
Belo Horizonte/MG
Eu sou pescador de sonhos...
Garimpeiro de ilusão!  
Vivo momentos  risonhos,
afastando a  solidão!
= = = = = = = = = 

4º Lugar
Leonora Brandão 
Taubaté/SP
Com as lanternas acesas
vou rompendo a escuridão,
que mantinha as dores presas
no sonho de solidão!
= = = = = = = = = 

5º Lugar
Júlia Fernandes Heimann 
Jundiaí/SP
A cismar sempre me ponho
feito uma eterna aprendiz
e, quantas vezes, em sonho
mudo a minha diretriz...
= = = = = = = = = 

6º Lugar
Marcelo Matsuda Fuji 
Taubaté/SP
Cerrando os meus olhos parto,
para uma terra distante...
nos lindos sonhos reparto
meus versos a todo instante.
= = = = = = = = = 

7º Lugar
Leonora Brandão 
Taubaté/SP
Uma tristeza surgindo
nesta noite... maldição...
até em um sonho, invadindo
toda alma e meu coração!
= = = = = = = = = 

8º Lugar
Júlia Fernandes Heimann 
Jundiaí/SP
Sonhos vêm e sonhos vão,
pois fazem parte da vida;
uns nos trazem ilusão,
outros a dor da partida...
= = = = = = = = = 

9º Lugar
Janete Francisco Sales Yoshinaga 
São Paulo/SP
Busco o sonho no infinito
se a saudade me assedia,
pois eu espero e acredito
que te encontrarei um dia!
= = = = = = = = = 

10º Lugar
Janete Francisco Sales Yoshinaga 
São Paulo/SP
No território do sonho
encontrei o meu amor,
e o mundo ficou risonho.
Não me acordem, por favor!
= = = = = = = = = 

11º Lugar
Giselda da Silva Vieira Pereira
Olinda/PE
Eu sinto imensa saudade
dos meus sonhos de criança,
de uma infância sem maldade
onde reinava a esperança.
= = = = = = = = = 

12º Lugar
Norma Bezerra de Brito 
Brasília/DF
Sonhei que era um trovador
fiz serenata ao luar,
trovas, cantigas de amor,
para o meu bem conquistar!
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13º Lugar
Artur Laizo 
Juiz de Fora/MG
Tenho a mente povoada
de muitos sonhos contigo.
Mas faltou nessa toada
que tu sonhasses comigo.
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14º Lugar
Wilton di Cali 
Guarulhos/SP
O sonho tem o poder
de resgatar a alegria
que se perde no sofrer,
do viver de cada dia.
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HUMORÍSTICO 

TEMA: HOMEM

1º Lugar
Elias Pescador
São Paulo/SP
Pouco depois de assaltar,
diz o homem, ladrão bondoso:
- Moço, eu vou te acompanhar,
porque aqui é perigoso!...
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2º Lugar
Renata Paccola
São Paulo/SP   
É, sem dúvida nenhuma,
Ricardo um homem fiel:
vai levando, uma por uma,
sempre a um único motel!
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3º Lugar
Edmar Japiassú Maia 
Miguel Pereira/RJ 
Vazam chuveiros...torneiras...
o homem vai à bancarrota.
Tanto estresse com goteiras
e ainda sofre de Gota!
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4º Lugar
Arlindo Tadeu Vagen
Juiz de Fora/MG
Tanto apanhou que não quer
outro namoro jamais:
o seu fraco era a mulher 
de um homem forte demais!
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5º Lugar
Manoel Cavalcante
Pau dos Ferros/RN
Vi um homem tão alto um dia...
tão alto, mas tão altão... 
que eu acho que ele devia
ser chamado de Inflação. 
= = = = = = = = = 

6º Lugar
Paulo Cezar Tórtora
Rio de Janeiro/RJ
Eu subo pelas paredes
quando a vizinha se assanha,
nem preciso corda ou redes,
me chame de Homem-Aranha.
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7º Lugar
Francisco Gabriel
Natal/RN
O homem enfraquece a guarda,
sofrendo grande revés,
depois que a sua espingarda
passa a atirar para os pés.
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 8º Lugar
A. A. de Assis
Maringá/PR
Coitado... era um homem rico...
perdeu tudo... está quebrado...
– Até para “pagar  mico”
tem que pedir emprestado!...
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9º Lugar
Elvira Drummond
Fortaleza/CE
Começou com a costela…
mas Deus passou da medida
e deu à mulher (só à ela)
as rédeas do homem na vida.
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10º Lugar
Elvira Drummond
Fortaleza/CE
Frente à mulher que o deseja,
um homem “canta de galo”.
Logo descobre, ora veja,
que virou o seu vassalo…
= = = = = = = = = 

11º Lugar
Gilvan Carneiro da Silva
São Gonçalo/RJ
Diante dele sou anão...
Veja que braço, que músculo!
Você não é homem não?
Sou, mas com "h" minúsculo...
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12º Lugar
Lucrécia Welter Ribeiro
Toledo/PR
O Homem-Aranha desiste, 
e recolhe a velha rede,
após ler o aviso, o chiste:
“Proibido pés na parede”.
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13º Lugar
Jessé  Nascimento
Angra dos Reis/RJ
Após briga e muito alarde, 
a mulher, então reclama: 
- Onde estás, homem covarde? 
- Estou embaixo da cama...
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14º Lugar
Therezinha  Tavares
Nova Friburgo/RJ
Eu quero a "loura" e a "branquinha"!
o homem bêbado gritou.
Hoje faço uma farrinha!..
...em dois goles desmaiou!
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 14º Lugar
Arlindo Tadeu Vagen
Juiz de Fora/MG
Cordato como ele é,
homem assim não se encontra;
não come contra filé 
pra não parecer do contra.
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15º Lugar
Lucília Alzira Trindade Decarli
Bandeirantes/PR
De terno branco, engomado,
o homem vai para a seresta;
cai na sarjeta, o coitado,
e a lama, ali, "faz a festa!"
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15º Lugar
Jérson Lima de Brito
Porto Velho/RO
Fraudando o globo do bingo,
um homem, contrário às leis,
confunde o lado do pingo:
era a nove, não a seis!

Irmãos Grimm (O alfaiatezinho valente)

Um dia de verão, estava um pequeno alfaiate sentado sobre sua mesa, junto à janela. Satisfeito da vida, cosia e cosia com grande entusiasmo. Nisso uma camponesa desceu a rua, apregoando:

- Marmelada! Quem quer marmelada?

Aquilo soou bonito aos ouvidos do alfaiatezinho, que meteu a delicada cabecinha fora da janela e chamou:

- Ei, boa mulher! Venha, que aqui ficará livre da mercadoria!

A camponesa com seu cesto pesado, subiu as três escadas e o homenzinho a fez abrir todos os potes. Examinou-os, cheirou-os um por um, e afinal acabou dizendo:

- Parece-me boa essa marmelada. Sirva umas quatro colheradas, boa mulher, e, se forem cinco, também não fará diferença para mim.

A mulher, que esperava realizar um bom negócio, deu-lhe o que havia pedido, mas retirou-se aborrecida e resmungando.

- Bem! - disse o pequeno alfaiate- que Deus abençoe este doce, para que me dê forças e ânimo.

Foi ao armário, tirou de dentro um pão e, cortando um bom pedaço, passou nele a marmelada.

- Não há de ter mau gosto, - disse consigo- mas antes de provar, quero ver se termino este gibão.

Pôs o pão a seu lado e continuou costurando, sentia-se tão feliz que ia fazendo pontos cada vez maiores.

Nesse meio tempo, o doce aroma da marmelada subiu até o teto, onde havia moscas em quantidade. Estas, sentindo-se atraídas pelo bom cheiro, foram pousar no pão, aos montes.

- Ei! Quem convidou vocês? - disse o alfaiatezinho, espantando as hóspedes indesejadas.

As moscas não entendiam sua linguagem, nem fizeram caso. Ao contrário, apresentaram-se em  número cada vez maior. Aí, então, o homenzinho ficou por aqui, como se costuma dizer e, passando a mão num retalho de fazenda, gritou:

- Esperem, que terão o que merecem!

E bateu com toda força nelas. Quando levantou o pano, viu que nada menos de sete estavam ali mortas, de perna esticada.

- Como és valente! – disse a si mesmo, admirando sua bravura - a cidade toda deverá ficar sabendo!

Mais que depressa, cortou e costurou um cinto, bordando nele os seguintes dizeres em letras bem grandes: "Sete de um golpe só!"

- Qual cidade, qual nada ! – prosseguiu monologando - o mundo inteiro precisa ficar sabendo!

E, de tanta alegria, seu coração se agitava como o rabinho de cordeiro. Colocou o cinto, resolvido a correr mundo, pois achava que a alfaiataria se tornara pequena demais para sua coragem. Antes, porém, deu uma busca na casa para ver se havia qualquer coisa que pudesse levar consigo, mas só encontrou um queijo velho que enfiou no bolso. Em frente ao portão, viu um pássaro que se enredara nos arbustos; apanhou-o e também o guardou no bolso, para que fizesse companhia ao queijo.

Iniciou, então, corajosamente, sua jornada, como era leve e ágil, não sentiu cansaço. O caminho o levou a uma montanha e, ao chegar no ponto mais elevado, viu, de repente, um gigante, enorme, sentado no chão a olhar, tranquilamente, a seu redor. Cheio de valentia, o pequeno alfaiate aproximou-se dele e falou:

- Bom dia, companheiro! Contemplando a imensidão do mundo, não? É para lá, exatamente, que me dirijo, a fim de tentar a sorte. Queres acompanhar-me?

O gigante olhou-o com desprezo e respondeu:

- Ora só quem está falando! Que sujeitinho mais miserável!

- Alto lá! -disse o nosso homenzinho e, desabotoando o casaco, exibiu o seu cinto.- Aí podes ler que espécie de homem sou eu!

O gigante leu: "Sete de um golpe só!" E como pensasse tratar-se de pessoas, mostrou um pouco mais desrespeito ao alfaiate. Em todo caso, quis experimenta-lo antes; apanhou uma pedra e tanto a espremeu com uma das mãos que fez correr dela algumas gotas de água.

   - Imita-me,- disse o gigante- se tiveres força.

    - Se é só isso, - retrucou o pequeno - não passa de um brinquedo de criança para gente como eu.

Enfiou a mão no bolso, tirou o queijo, que era mole, e o apertou até sair o sumo.

Que tal? – disse ele. - Um pouquinho melhor, não é?

O gigante ficou sem o que dizer, pois a força de homenzinho o desconcertara. Apanhou outra pedra e atirou-a tão alto que mal se podia distingui-la a olho nu.

- E daí, seu valentão? Imita-me!

- Boa jogada! - concordou o alfaiate.- Mas a pedra caiu de volta ao chão e eu vou atirar uma que não voltará.

E, tirando o pássaro do bolso, jogou-o no espaço. A Ave, satisfeita com a liberdade, ergueu-se em voo rápido e desapareceu no ar.

- Que me dizes dessa jogada, companheiro? - perguntou o alfaiate.

- Sabes atirar, - retrucou o gigante - mas agora vejamos se és capaz de carregar um peso razoável.

E conduzindo o alfaiatezinho até um carvalho muito grande que estava, cortado, no chão, disse-lhe:

- Se tiveres força suficiente, ajuda-me a carregar esta árvore para fora do mato.

- Com muito prazer. - respondeu o homenzinho.- Vai pondo o tronco nos ombros que eu me encarrego dos galhos e ramos, que são a parte mais pesada.

O gigante colocou o tronco nos ombros, enquanto o alfaiatezinho se acomodou num dos galhos. E, como o primeiro não podia voltar-se para vê-lo, carregou a árvore inteira e, ainda por cima, o alfaiate. Este, muito alegre, assobiava a canção: " Três alfaiates saíram a trote..." - como se carregar uma árvore fosse brinquedo de criança. O gigante, depois de ter arrastado por algum tempo o pesado fardo, não aguentou mais e gritou:

- Atenção! Vou deixar cair a árvore!

O  alfaiatezinho saltou logo para baixo, agarrou o carvalho com ambos os braços, como se estivesse a carregá-lo e disse ao gigante:

– És grandalhão, mas incapaz de carregar essa árvore!

Continuaram juntos o caminho e chegaram ao pé de uma cerejeira. O gigante meteu a mão na copa onde estavam as frutas mais doces, curvou os galhos e, pondo-os nas mãos do alfaiate, o convidou a comer cerejas. Mas o homenzinho era fraco demais para segurar a árvore e, quando o gigante soltou os galhos, a cerejeira voltou à sua posição primitiva, levando aos ares o nosso herói. Este, sem sofrer dano algum, caiu no chão e o gigante logo perguntou:

- Como? Não tens força para segurar essa árvore tão pequena?

- Não se trata de força.- respondeu o outro. – Acreditas que isso significa algo para quem matou sete de um golpe só? Saltei de propósito sobre a árvore porque os caçadores andam atirando lá em baixo, no matagal. Imita-me se és capaz!

O gigante tentou, mas não conseguiu pular a árvore, ficando preso nos galhos. E, com isso, também desta vez o pequeno alfaiate ficou com a vitória. Disse, então, o gigante:

- Se és tão valente mesmo, acompanha-me à nossa caverna e passa a noite conosco.

O nosso homenzinho aceitou a proposta e o seguiu. Chegaram à caverna, onde havia vários outros gigantes, cada um deles comendo uma ovelha assada que tinha nas mãos. O alfaiatezinho olhou em redor e pensou: "Isso aqui é  bem maior do que minha alfaiataria.”

O gigante mostrou-lhe uma cama e o convidou a deitar-se e dormir. Ele, porém, achou grande demais o leito e, em vez de se deitar nele, foi acomodar-se num canto. Pela meia-noite, o gigante, imaginando o alfaiatezinho em sono ferrado, levantou-se, apanhou uma barra de ferro e desfechou tamanho golpe na cama que julgou ter acabado, de uma vez por todas, com a vida daquele gafanhoto. 

De madrugada, bem cedo, os gigantes foram ao mato e já nem se lembravam mais do alfaiate, quando de repente, este lhes veio ao encontro, bem alegre e satisfeito. Levaram um susto danado e, receando que ele fosse matá-los, fugiram espavoridos.

Continuou o nosso herói a viagem, seguindo sempre o seu nariz arrebitado. Depois de uma longa jornada, chegou ao jardim de um palácio real e, sentindo-se cansado, espichou-se na relva e adormeceu. enquanto estava ali deitado, chegou gente. Aproximaram-se dele e puseram-se a examiná-lo por todos os lados. Nisso, leram o seu cinto: " Sete de um golpe só!"

- Céus! - exclamaram o grupo todo - que estará fazendo aqui este grande herói, agora, em tempos de paz? Deve ser cavaleiro famoso!

E saíram para avisar o rei, dizendo-lhe que, se houvesse guerra, seria um homem importante e útil que não se deveria deixar escapar. O rei gostou de conselho enviou um dos seus cortesões ao alfaiate, para contratar os seus serviços logo que ele despertasse. O mensageiro assim fez e, quando o homenzinho se espreguiçou e abriu os olhos, transmitiu-lhe o recado.

- Vim aqui, justamente, para isso. - disse o pequeno alfaiate. - Estou disposto a entrar a serviço do rei.

Receberam-no, então, com todas as honras e deram-lhe uma moradia especial.

Os soldados do rei, no entanto, o olhavam com maus olhos e desejavam que ele estivesse a mil léguas de distância.

- Que será de nós quando tivermos uma briga e ele, com cada golpe, derrubar sete de nossa gente? - diziam entre si.- Desse jeito não viveremos muito,

E resolveram ir ao rei para pedir que os despedisse.

- Não estamos preparados - disseram - para viver perto de um homem que matou sete de um só golpe.

O rei entristeceu-se por ter de renunciar a todos os seus soldados por causa de um só; já estava arrependido de tê-lo contratado e desejou que seus olhos nunca o tivessem visto. Entretanto, não se animou a despedi-lo, porque receava que ele o matasse junto com todo o seu povo e fosse depois apoderar-se do trono. Pensou durante muito tempo e, afinal, descobriu um meio. Mandou dizer ao alfaiate tão famoso, queria fazer-lhe uma proposta. 

Na floresta do país havia dois gigantes que provocavam grandes prejuízos, com roubos, assassinatos, incêndios e outro crimes mais. Ninguém podia aproximar-se deles sem arriscar a vida. Se ele vencesse e matasse os dois gigantes, dar-lhe-ia sua filha única para esposa e ainda a metade de seu reino como dote; teria, também, o auxílio de cem cavaleiros. "Seria algo para um homem como tu" – pensou o alfaiatezinho - " e não é todos os dias que oferecem uma bela princesa para esposa e meio reino como dote".

  - Aceito! - foi a sua resposta.- Vencerei os dois gigantes e não preciso dos cem homens para essa tarefa; quem matou sete de um golpe só, não se amedronta com dois.

Pôs-se a caminho e os cem cavaleiros o seguiram. Quando chegou à beira do bosque, dirigiu-se a seus acompanhantes, dizendo:

- Fiquem por aqui; eu, sozinho, sou suficiente para acabar com os gigantes.

E embrenhou-se no mato, olhando para direita e para esquerda. Passado algum tempo, avistou os gigantes. Deitados embaixo de uma árvore, estavam dormindo e roncando tão alto que faziam balançar os galhos. Sem perda de tempo, o pequeno alfaiate encheu os bolsos de pedra e foi trepando na árvore. Assim que chegou na metade, escorregou para a ponta de um galho, de modo a ficar bem em cima dos dois adormecidos e começou a jogar as pedras, uma a uma, no peito de um dos gigante. Durante muito tempo o homenzarrão não notou coisa alguma, mas, por fim, acordou, deu um empurrão no companheiro e disse:

- Por que estás me batendo?

- Batendo coisa nenhuma! Tu é que estás sonhando. - disse o outro.

Recomeçaram a dormir, e o alfaiate jogou uma pedra no segundo.

- Que significa isso?! - gritou o outro gigante. - Por que estás me atirando pedras?

- Não estou atirando nenhuma pedra. - resmungou o primeiro.

Discutiram ainda por algum tempo, mas, como estavam cansados, cessaram a discussão e voltaram a dormir. O nosso alfaiatezinho então recomeçou o jogo; escolheu a pedra mais pesada e arremessou-a com toda força, no peito do primeiro gigante.

- Isso agora é demais! - gritou este e, erguendo-se de um salto, como um louco, jogou seu companheiro com tal força contra a árvore que a fez estremecer. O outro pagou-lhe na mesma moeda e tão furiosos ficaram que se puseram a arrancar as árvores ao redor, e com elas tanto se bateram que caíram mortos, ao mesmo tempo, no chão. Só aí é que o alfaiatezinho desceu de seu posto.

- Uma sorte, - disse ele - não terem arrancado a árvore onde eu estava, senão teria sido obrigado a saltar para outra, que nem esquilo. Ainda bem que sou ligeiro!

Tirou a espada da bainha e deu diversos golpes no peito do gigantes. Em seguida foi ao encontro dos cavaleiros e lhes disse:

- O trabalho foi feito; dei cabo dos dois. Custou-me algum esforço porque se defenderam com troncos de árvores que iam arrancando, mas nada disso adianta quando surge alguém como eu que mata sete de um golpe só.

- E não está ferido? - perguntaram os homens.

- Era só o que faltava! - respondeu o alfaiate.- Não perdi um único fio de cabelo!

Os cavaleiros não lhe quiseram dar crédito e foram ao bosque; lá encontraram os gigantes banhando em sangue e, ao redor, as árvores arrancadas.

O pequeno alfaiate apresentou-se ao rei para exigir a recompensa prometida. Mas este já se arrependera da promessa e começou a imaginar como livrar-se do herói.

- Antes de receberes minha filha e metade do reino - disse-lhe- terás de realizar outra façanha. Anda por aí um unicórnio a causar prejuízos graves. Deves, primeiro capturá-lo.

Um unicórnio me assusta menos ainda que dois gigantes. Minha divisa é : "Sete de um golpe só."

Pegou uma corda e um machado e saiu para a floresta. Novamente ordenou a seus acompanhantes que o emperrasse fora do bosque. Não teve de procurar muito. O animal veio saltando em sua direção, como se quisesse espetá-lo sem maiores rodeiros,

- Calma! Calma! - exclamou o alfaiatezinho.- Não corramos tanto!

Ficou parado e esperou que o bicho chegasse bem perto; depois, num gesto rápido, colocou-se atrás de uma árvore. O unicórnio, que vinha direto a ele, disparando com toda fúria, cravou o corno com tanta força no tronco que não conseguiu mais retirá-lo e ali ficou aprisionado.

- Apanhei o animal! - disse o homenzinho, saindo de trás da árvore. Colocou, primeiro, a corda no pescoço do bicho e depois retirou, a golpes de machado, o corno do tronco. A seguir, levou o animal para o rei.

Ainda assim o soberano não quis conceder-lhe o prêmio e deu-lhe uma terceira incumbência. Antes do casamento, o alfaiate deveria capturar um javali que causava grandes danos na floresta. Os caçadores lhe prestariam auxílio.

- Com muito prazer- disse o alfaiate- isso é brincadeira de criança.

Deixou os caçadores à beira do mato e eles ficaram bem satisfeitos com isso, pois o javali, muitas vezes, os recebera de um modo que lhes tirara toda a vontade de o enfrentar novamente.

Logo que o javali avistou o alfaiate, correu-lhe ao encontro com a boca espumando, cheia de dentes aguçados, e pronto para derrubá-lo. O ágil herói, porém, correu  a refugiar-se numa capelinha que havia ali e, em seguida, saiu pela janela que ficava ao alto. O javali, que o seguia de perto, entrou também na capela e, então, o homenzinho, dando volta por fora, correu a fechar o pórtico, prendendo assim a fera, pesada e desajeitada demais para sair pela janela. Feito isso, chamou os caçadores para eles vissem o prisioneiro com seus próprios olhos. O valente foi, então, apresentar-se ao rei, o qual, quisesse ou não, foi obrigado a cumprir sua promessa, dando-lhe a filha e metade de seu reino. Mas teria ficado ainda mais aborrecido se imaginasse tratar-se de um simples alfaiate e não de um guerreiro famoso. O casamento foi, pois, celebrado com grande pompa, mas pouca alegria, e de um alfaiate se fez rei.

Passado algum tempo, numa noite, a jovem rainha ouviu quando seu marido falava em sonhos:

- Rapaz, apronta esse gibão e me remenda as calças ou te medirei as costas com esta vara!

Compreendeu aí a rainha qual era a origem de seu jovem esposo. Na manhã seguinte, queixou-se ao pai, pedindo-lhe que a libertasse do homem que não passava de um alfaiate. O rei consolou-a, dizendo:

– Deixa a porta de teu quarto aberta esta noite. Meus criados ficarão do lado de fora e, quando ele estiver dormindo, será atado e levado para um navio que o conduzirá para bem longe.

A filha deu-se por satisfeita, mas o escudeiro ouvira tudo e, como gostasse de seu amo, revelou-lhe toda a trama.

- Vou por um pequeno empecilho a esse plano.- disse o alfaiatezinho.

À noite deitou-se como de costume, na cama, com sua mulher. Quando o viu adormecido, ela levantou-se, abriu a porta e tornou-se a deitar. O alfaiate, que só estava fingindo, começou a gritar com voz bem forte:

- Rapaz, apronta o gibão e remenda minhas calças ou te medirei as costas com esta vara! Atingi sete com um golpe só, matei dois gigantes, apanhei um unicórnio, capturei um javali e haveria de temer a esses que estão do lado de fora da porta?

Os homens, quando o ouviram falar daquele jeito, assustaram-se e deitaram a correr como se um  exército inteiro estivesse em seu encalço e nenhum deles se atreveu a enfrentá-lo. E foi assim que o alfaiatezinho ficou sendo rei por toda vida.

Fonte:
Disponível em Domínio Público.