quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Concurso de Trovas de Aracoiaba/CE 2023 (Trovas Premiadas)


ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: Serenata [L/F]
TROVADOR VETERANO

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VENCEDORES
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1. Lugar:
Com luar ou noites turvas...
Sou cantor e violeiro,
de serenata, nas curvas,
do teu corpo seresteiro!
AILTO RODRIGUES 
Nova Friburgo/RJ
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2. Lugar:
Amor, por que não acordas
e, na varanda pacata,
ouve o solfejo das cordas
plangentes da serenata?
ADILSON COSTA
São Lourenço da Mata/PE
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3. Lugar:
A lua soluça e chora
ao ouvir os versos meus
na serenata que implora
a desistência do adeus.
MAURÍCIO CAVALHEIRO
Pindamonhangaba/SP
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4. Lugar:
Dizem que sou antiquado,
verdade, logo se vê
porque faço, apaixonado,
serenata pra você.
MASSILON FERREIRA DA SILVA
Poço Redondo/SE
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5. Lugar:
Serenata em doce lira
na flor da pele sentida:
esperança que delira
em nosso peito contida.
ALICE GERVASON 
Juiz de Fora/MG

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MENÇÕES HONROSAS
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6. Lugar:
Estrelas e mundos vão
para além dos olhos meus...
compondo, na imensidão,
a serenata de Deus!
LUIZ ANTÔNIO CARDOSO 
Taubaté/SP
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7. Lugar:
De tudo que a vida ingrata
levou junto à mocidade,
com certeza, a serenata
é que mais deixou saudade!
FERNANDO ANTÔNIO BELINO 
Sete Lagoas /MG
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8. Lugar:
A Serenata é mais bela
se feita em noite de lua...
a saudade se revela
e a canção domina a rua.
DARCY BANDEIRANTE DE AZEVEDO COSTA
Taubaté/SP
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9. Lugar:
A luz da lua, em retalhos,
mostra a cidade pacata.
E, nas ruas, nos atalhos,
Chegam sons da serenata.
RELVA DO EGYPTO REZENDE SILVEIRA
Belo Horizonte/MG
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10. Lugar:
Desce a tarde, o grilo ensaia,
recitais que enchem as matas,
longe do zum-zum da praia
canta à noite, em serenatas.
LUIZ DAMO 
Caxias do Sul/RS

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MENÇÕES ESPECIAIS 
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11. Lugar:
Serenata...que saudade!
Lindo tempo alvissareiro,
aconteceu, sem maldade,
o nosso beijo primeiro.
MARIA HELENA URURAHY CAMPOS FONSECA
Angra dos Reis/RJ
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12. Lugar:
O coral das estrelinhas,
lá no céu faz serenata
e canta nas entrelinhas
que o luar é cor de prata!
SARAH PASSARELLA
Campinas/SP
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13. Lugar:
Uma lembrança tardia
da ausência dos olhos teus:
─ tua janela vazia
na serenata do adeus...
PAULO CEZAR TÓRTORA 
Rio de Janeiro/ RJ
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14. Lugar:
Serenatas sob a lua
já não faço. mas deixei
minha saudade na rua,
repetindo o que cantei.
SÉRGIO BERNARDO 
Nova Friburgo/RJ
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15. Lugar:
Na rua quase deserta,
acordes de um violão.
Serenata que liberta
arroubos de uma paixão.
CÉLIA M. G. MENDONÇA DE MELO
Juiz de Fora/MG

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DESTAQUES
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16. Lugar:
Serenata na janela,
cumprindo bela missão:
encantar linda donzela,
cativar-lhe o coração!
NAZARETH FERRARI 
Taubaté/SP
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17. Lugar:
Quando a saudade desata,
ouve, o coração plangente,
o amor fazer serenata
com as lembranças da gente...
PAOLO GIOVANELLI 
Nova Friburgo/RJ
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18. Lugar:
Voz rouca, cordas cansadas,
e a noite, sempre me diz,
que eu pago pelas baladas,
das serenatas que eu fiz!
PROFESSOR GARCIA 
Caicó/RN
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19. Lugar:
No tempo da mocidade,
a serenata de amor;
hoje, só resta a saudade,
no peito do cantador.
ELIZABETH A. C. M. FONTES 
Joinville/SC
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20. Lugar:
Silente chega o luar.
Longe, sem nome, sem data,
uma canção de ninar,
a mais linda serenata.
ALBANO BRACHT 
Toledo/PR
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ÂMBITO: ESTADUAL
TEMA: Saudade [L/F]

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VENCEDORES
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1. Lugar:
Nas esquinas da cidade,
também ao vento me queixo,
posso sofrer com saudade,
mas de te amar, eu não deixo.
HENRIQUE EDUARDO
Ocara/CE
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2. Lugar:
Quando a cor do sol desmaia
e a noite chega silente,
parece vir, de tocaia,
a saudade hostil, dolente...
ELVIRA DRUMMOND
Fortaleza/CE
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3. Lugar:
Ao tempo em que a hora morre
nas voltas deste ponteiro
nas voltas que o mundo corre,
saudade me toma inteiro.
JORGE BHERON ROCHA 
Fortaleza/CE
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4. Lugar:
Na casa que mãe morou,
(hoje sem porta e janela)
meu coração encontrou
a saudade dentro dela.
JOÃO RODRIGUES
Reriutaba/CE
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5. Lugar:
A saudade quando aperta
faz o peito estremecer
o coração fica alerta,
pois tem medo de sofrer.
HORTÊNCIO PESSOA 
Fortaleza/CE

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MENÇÕES HONROSAS
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6. Lugar:
No espelho do tempo noto
um saudosismo sem fim,
ao contemplar uma foto:
saudade olhando pra mim.
HENRIQUE EDUARDO
Ocara/CE
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7. Lugar:
A saudade tão traquina
faz meu coração chorar
lembrando quando menina
tinha colo pra calar!
FRANCISCA RENER ALVES LOPES 
Ocara/CE
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8. Lugar:
A saudade aperta o peito
o coração vela o pranto
e nos lenções sobre o leito
o gemido faz-se encanto
SONIA NOGUEIRA 
Fortaleza/CE
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9. Lugar:
O banquete da saudade
um valor bem alto custa
queima mesmo, é de verdade
no peito de quem degusta.
CHARLES MELO
Groaíras/CE
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10. Lugar:
Bom momento preservado,
nossa mente não se esquece.
Saudade vê no passado
lembrança que permanece!
JÚLIO AUGUSTO GURGEL ALVES
Fortaleza/CE

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MENÇÕES ESPECIAIS 
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11. Lugar:
Sempre pousar nos seus braços
vai aumentando a vontade,
iluminando os espaços,
tingidos pela saudade.
ARTEMIZA CORREIA
Ocara/CE
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12. Lugar:
Dos meus amigos de infância,
eu sinto muita saudade.
Eles não tinham ganância,
inveja e nem falsidade.
VITORIA MELISSA
Ocara/CE
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13. Lugar:
Na catedral do meu sonho
ao buscar serenidade,
rosas singelas, disponho
na sagração da saudade!
FRANCINETE AZEVEDO
Fortaleza/CE
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14. Lugar:
A saudade traz a imagem
das alegrias de outrora,
decolamos na viagem
a qualquer lugar, ou hora.
ARTEMIZA CORREIA
Ocara/CE
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15. Lugar:
A saudade nos corrói
Pois no peito bate forte
Grita que o ouvido dói
Quer abraço de suporte
FRANCISCA RENER ALVES LOPES
Ocara/CE

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DESTAQUES
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16. Lugar:
Não sei se o tempo passou
Ou se fui eu que parei
Mas, saudade registrou
Nos anais eu ficarei.
LUIZ CARLOS DE ABREU BRANDÃO
Maranguape/CE
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17. Lugar:
Um dia chega a saudade,
No clube querendo entrar
Eu disse: - Qual sua idade?
- Sou maior, quer apostar?
RUTH BRANDÃO
Maranguape/CE
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ÂMBITO:
NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: Carinho [L/F]

NOVO TROVADOR

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VENCEDORES
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1. Lugar:
O carinho da saudade,
que de longe lança o abraço,
tem tal força e intensidade,
que as almas sentem seu laço!!!
HUDSON DE ALMEIDA 
Alfenas/MG
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2. Lugar:
"De carinho são chamados:
um cafuné... um presente;
são bons gestos delicados,
e tocam a alma da gente."
SÔNIA MARIA SIMÕES HEYN
Goiânia/GO
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3. Lugar:
Seu carinho é demonstrado
no alcance do seu olhar,
no tempero caprichado,
no seu modo de falar.
JONATHAN LEANDRO MARTINS REIS
Congonhas/MG
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4. Lugar:
A mão que ganhou a rosa,
como um gesto de carinho,
sangra hoje silenciosa
ao segurar seu espinho!
ADRIANO FREIRE
Caicó- RN
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5. Lugar:
Eu te ofereço carinho
sem nada em troca almejar.
Hoje dormes em meu ninho,
amanhã... podes voar.
DÉA LUCIA ARAÚJO DE CASTRO
Juiz de Fora/MG

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MENÇÕES HONROSAS 
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6. Lugar:
Às vezes, tento esquecer
carinhos que foram meus
e que, um dia, os vi morrer,
sem mesmo um último adeus!
MARIA STELLA 
Taubaté/SP
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7. Lugar:
Quando me falta carinho,
Deus me permite chorar,
para que, mesmo sozinho,
possa minh'alma lavar.
TONY ROBERSON DE MELLO RODRIGUES 
São José/SC
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8. Lugar:
De um afago, de um carinho
pra curar desilusão,
precisamos no caminho,
deste mundo de aflição!
HELOYNA DE OLIVEIRA 
Taubaté/SP
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9. Lugar:
Aquele imenso carinho,
que juravas ter por mim,
se perdeu pelo caminho
e aos poucos chegou ao fim.
ANA HALLACK 
Juiz de Fora/MG
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10. Lugar:
Simples gestos de carinho
têm um poder tão fecundo,
que mesmo pequenininho
faz bem para todo mundo!
LYRSS CABRAL BUOSO
Bragança Paulista/SP

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MENÇÕES ESPECIAIS 
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11. Lugar:
Todo amor se não trocado
morre só, devagarinho;
dentro de um porão trancado
pede luz, pede carinho.
ELIANE REIS 
Bragança Paulista/SP
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12. Lugar:
Você chegou de mansinho
e ganhou meu coração...
pouco a pouco, com carinho,
transportou-me à imensidão!
MARI GUIMARÃES 
Taubaté/SP
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13. Lugar:
Quão bem nos faz um carinho!
Cura tristeza e tensão.
Aconchega de mansinho
rega a flor do coração.
DORA OLIVEIRA
Ipatinga/MG
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14. Lugar:
Você me nega carinho
dando amor a outro alguém.
Sinto em meu peito um espinho
ferindo quem lhe quer bem.
CLARITA MALAGGI
Anta Gorda/RS
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15. Lugar:
A gata busca um carinho
e o gato nem liga ao fato
e, seguindo o seu caminho,
desfila em pose de gato...
MARIA ZILDA DA CRUZ 
Santos/SP

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DESTAQUES
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16. Lugar:
Ao meu mestre, com carinho,
toda minha gratidão.
Tu me indicaste o caminho
das letras, com emoção!
VITÓRIA DE LUZIR 
Taubaté/SP
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17. Lugar:
Com as pedras do caminho,
vou erguendo um pedestal
com firmeza e com carinho,
superando todo o mal.
AILA MARIA DE BRITO SILVA 
Cocal/PI
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18. Lugar:
Se o destino está traçado,
seguirei o meu caminho,
em teus braços enlaçado
no enlevo do teu carinho.
ARTHUR THOMAZ DA SILVA NETO
Sumaré/SP
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19. Lugar:
Ela volta a me chamar...
sempre sussurra baixinho;
está pronta para amar,
reagindo ao meu carinho...
GILVAN FREITAS 
Taubaté-SP
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20. Lugar:
Carinho, no ser humano,
desperta certa doçura,
restaura o ser mais insano
vestindo-lhe de candura.
ANGELA MARIA DA SILVA CASTRO STOLLER
São Gonçalo/RJ
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ÂMBITO: ESTADUAL
JUVENTROVA DE ARACOIABA
TEMA: Saudade [L/F]

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VENCEDORES
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1. Lugar:
A saudade, em sua essência,
lembra outono e primavera;
ora é fruto da existência,
ora é flor junto da espera.
FRO TALISON DOS SANTOS DA SILVA
8. Ano - Escola Maria Rodrigues Lopes
Aracoiaba/CE
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2. Lugar:
Quando a saudade aparece
maltratando o coração
você tenta e não esquece
que lhe deu desilusão.
TAINÁ MARTINS DA SILVA 
Escola Emília Ramos – Furnas
Aracoiaba/CE
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3. Lugar:
A saudade é complicada
e difícil de explicar,
vem de forma delicada
uma dor alimentar.
ISABELA ALVES VIANA 
9. Ano - Escola Emília Ramos – Furnas
Aracoiaba/CE
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4. Lugar:
Saudade no coração
ao relembrar o passado,
momentos de diversão
com os anjos ao meu lado.
LUIZA EVELLYN DA SILVA DE OLIVEIRA
Escola Emília Ramos – Furnas
Aracoiaba/CE
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5. Lugar:
A saudade previsível
quando vem nos atacar
causa dor irreversível,
nos deixando sem falar.
FRANCISCO DHEYNISON PEREIRA DA SILVA
Escola Emília Ramos – Furnas
Aracoiaba/CE

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MENÇÕES HONROSAS 
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6. Lugar:
Na verdade, meu amigo,
a saudade é bem docinha,
pra saúde é um perigo
pois, te faz perder a linha.
ANTÔNIA NATÁLIA PEREIRA DA SILVA 
9. Ano Escola Emília Ramos – Furnas
Aracoiaba/CE
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7. Lugar:
Na ausência que me consome,
vivo sem a liberdade,
com o poema sem nome,
eu troco minha saudade.
FRO TALISON DOS SANTOS DA SILVA
8. Ano - Escola Maria Rodrigues Lopes
Aracoiaba/CE
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8. Lugar:
Tamanha saudade eu sinto
daqueles tempos perdidos,
época boa eu pressinto
felizes acontecidos,
JOSÉ ULISSES NASCIMENTO OLIVEIRA
Escola Emília Ramos – Furnas 
Aracoiaba/CE

A. A. de Assis (Leigo por quê?)

Tenho à minha frente um exemplar da edição de dezembro/1978 da antiga revista “Aqui”. Nas páginas 26-27 há uma entrevista que fiz com o padre Julinho (Monsenhor Júlio Antônio da Silva), então um jovem sacerdote recém-ordenado. A certa altura, ele diz: “Não gosto dessa palavra ‘leigo’, que sofreu desgastes semânticos ao longo do tempo. Prefiro falar em ‘povo de Deus’, do qual o padre é parte, embora com missão especial”.

Penso igual, e por igual motivo. Inicialmente a palavra “leigo” (do grego “laós”/“laikós”) era usada em seu sentido original: significava “povo”. Assim, “leigos” eram todos os filhos de Deus, entre os quais também os padres – homens escolhidos por inspiração divina, mediante o dom da vocação, para, em tempo integral, servir, incentivar e orientar a humanidade na caminhada rumo à Casa do Pai. Ou seja: os diáconos, os presbíteros, os bispos, os cardeais, o papa eram “leigos” que compunham o “clero” (do grego “kléros” = escolhidos, selecionados).

O problema começou, como frisou o padre Julinho, a partir da degradação semântica sofrida pela palavra “leigo”, que no rolar dos séculos passou a ser entendida como alguém que pouco ou nada entende de alguma coisa. Esse novo significado é aceito naturalmente quando se trata de alguma ciência: leigo em direito, leigo em medicina, leigo em economia. Em religião, porém, parece no mínimo pouco sinodal chamar alguém de “leigo”.

Decerto os clérigos, pelos seus longos estudos, estão bem preparados para explicar a Bíblia e tudo o mais que se refira a Deus e aos mistérios da alma. Todavia isso não significa que os demais sejam desinformados, muito menos tolos. Há grandes teólogos que não são padres; há muitos outros homens e mulheres que são profundos conhecedores das Escrituras Sagradas. Da mesma forma como há milhões de pessoas com pouca instrução, mas que, na pureza da sua fé, conseguem colher sabedoria diretamente no coração de Deus.  

Minha mãe cursou apenas a escola primária, no entanto foi com ela que aprendi a primeira grande lição de espiritualidade. Eu tinha uns 12 anos quando ela me disse: “Toda vez que você pensar em Deus, chame-o pelo nome de Amor – o Amor fez o céu e a terra; o Amor criou o homem e a mulher; o Amor habitou entre nós na pessoa de Jesus para nos salvar; o Amor perdoa setenta vezes sete; o Amor ama, e portanto quer sempre ver a gente feliz”.

Assim, desde a adolescência eu já entendia quem é Deus (Deus é Amor). Minha mãe, na sua simplicidade, sabia das coisas; ela não era “leiga” em religião. Nem ela nem nenhuma das outras tantas pessoas que dialogam com Deus na igreja, em casa ou em qualquer lugar.

Peço perdão ao querido amigo padre Julinho pela carona que peguei numa frase sua dita há 44 anos numa entrevista. Parece, porém, estar mais do que na hora de alguém criar um novo nome para os que não são clérigos. Há de haver alguma palavra mais adequada do que “leigo”. 

(Crônica publicada na edição do Jornal do Povo em 15.setembro.2022)

Fonte> https://angelorigon.com.br/2022/09/15/leigo-por-que/ 

Hinos de Cidades Brasileiras (Bacabal/MA)


por Iranise Lemos

I
Entre tantas frondosas palmeiras
É um leito que corre a banhar
Tuas terras surgistes garrida (bis)
Oh! Cidade que sabe cantar.

II
Entoado som majestoso
De avanço para enaltecer
Aos que imigram e o teu povo inato (bis)
És futuro, és progresso, és viver.

Coro
Tens recursos da natureza
Tens cultura e beleza (bis)
Tens recursos presente da natureza
Tens cultura e beleza

III
Terra, luz céu tão azul que brilha
Refletindo valor colossal
Que espreita com viva esperança (bis)
Progredir vivas tu Bacabal

IV
Altaneira és ideal
Foste ontem a fazenda que agora
O Maranhão te a ti Bacabal

V
Se retratas povir tão risonho
Incentiva o homem a dizer
Bacabal, Bacabal tão querida (bis)
Tua meta é sempre crescer.

VI
Tudo em ti é airoso
És poema és hino também
Resplandece em tua área a nobreza
Correrás para além muito além.

VII
Oh! Cidade galante deveras
Caudaloso é teu rio Mearim
Babaçu te enleva em paisagem (bis)
Poesia, riqueza és enfim.

Coro
Boa terra de encantos mil
Entre norte e nordeste ficaste
Dando marco de amor ao Brasil.

Jaqueline Machado (Isadora de Pampa e Bahia) Capítulo 27: Tempestades

O dia seguinte amanheceu nublado, mas logo chegou o sol com sua promessa eterna de amor.

Na fazenda Boitatá, a família Fiore se reunia para o café da manhã, Vó Gorda, sentada num toco de madeira, com um galho de arruda na mão, benzia as crianças da redondeza, enquanto Arlindo aparava as roseiras. 

Em Prenda Bonita, os peões estavam na lida, menos Simão, que deu uma chegada na casa de Juca e Amélia. Foi apanhar no jardim dos amigos algumas flores para oferecer a sua namorada, que ninguém sabia quem era. 

A demora foi pouca por causa das fofocas de que ele era amante da mulher de seu melhor amigo. Mas sobrou um tempinho para um cafezinho na companhia de Amélia...

Isadora, depois de uma noite insone e triste, vestiu-se de coragem. E como de costume, foi à procura de sua mãe na cozinha.

Encontrou dona Ana empalidecida, caída ao lado do fogão.

- Mãe! – gritou desesperada. Verificou o pulso da mãe e constatou que sua mãezinha falecera.

Num grave acesso de fúria, Isadora atirou as panelas cheias de comida no chão, quebrou as louças, as vidraças das janelas...

- Minha mãe morreu! - dizia chorando.

- Calma, meu amor. Ela deve estar apenas desmaiada – Deixe-me ver. 

- Meu Deus, sinto muito, Isa. - disse Fábio.

- Sente? Não sente nada. Pessoas como tu e meu pai, desconhecem o significado da palavra sentimento.

- Não ofende assim, amor. 

- Que amor? - eu não sou teu amor, sou tua propriedade!

Isadora levou as mãos à cabeça, e feito louca corria pela casa gritando sem parar, rasgando a própria roupa do corpo.

Sua tempestade atraiu a todos que estavam acerca da fazenda.

Fábio tentou contê-la. E ela escapou, abraçou – se ao corpo da mãe. E depois saiu sem rumo.

Fabio e Amélia colocaram dona Ana no sofá da sala. E com muito pesar, seu corpo começou a ser velado. Juca correu para a cidade para buscar o patrão, o padre e um caixão.

O tempo fechou novamente. Uma tempestade desabou. E o senhor Antônio, com suas botas embarradas e pilcha encharcada, arregalou os olhos ao ver sua esposa morta.

A noite se aproximou. Os vizinhos foram chegando. E Isadora seguia sem rumo, com a roupa rasgada, unindo a tempestade do seu coração à tempestade da rua. 
****************
continua...

Fonte: Texto enviado pela autora 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2024

Silmar Böhrer (Gamela de Versos) 40

 

Mensagem na Garrafa – 75 –

 Cecília Meireles
Rio de Janeiro/RJ, 1901 – 1964

CANÇÃO

Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
- depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar.

Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.

O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...

Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.

Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.

Monsenhor Orivaldo Robles (Um padre na balada)

Fazia 73 anos que eu não entrava numa casa noturna. Dessas que organizam noitadas tão do gosto da nossa moçada baladeira. Pelo menos não entrava numa em funcionamento: gente elegante às pampas, som nas alturas, conversa aos gritos, bebida à escolha e à vontade, salgadinhos de fino gosto, essas coisas. Eu tinha estado numa, sim, faz tempo, mas de dia, junto com o proprietário, que lá me levou para dar uma bênção às instalações. Evidentemente, estava vazia àquela hora. Nem sei se ainda está em atividade. Estabelecimentos dessa natureza abrem e fecham com rapidez surpreendente.

A casa a que me dirigi, segundo fui informado, vem bombando na noite maringaense. Nunca tive curiosidade de saber o que fazem ou como se comportam as pessoas lá dentro. Quando comentei que, à noite, estaria lá, um jovem amigo pôs-se a troçar de mim: “O que, hein! Como as coisas mudam. Padre agora frequenta balada, é?”. Não exatamente. O que houve é que o diretor comercial do jornal DNP pediu-me que lá comparecesse na noite do último dia 25 de junho para fazer uma oração de ação de graças e dar a bênção pelos 40 anos de existência do jornal. Só isso.

Fui acolhido com grande fineza. Ele mesmo veio receber-me e me encaminhou pelo meio da pista, que, àquela hora, já botava gente pelo ladrão. Gesto providencialmente necessário, diga-se. Eu não fazia a menor ideia da direção que devia tomar. Com firmeza e simpatia, fez-me passar entre os convidados, subir a escada até atingir o camarote (é esse o nome do balcão comprido que abriga o povo vip?). Agradeci e, aliviado, lá me posicionei, à espera do momento da minha fala. Um índio Tikuna do Amazonas, em plena 5ª Avenida de Nova Iorque, não se sentiria mais perdido.

Tive a sorte de ser achado por um amigo, quase da minha idade, que me salvou da completa solidão. Conforme permitia o som ambiente, até papeamos um pouco. Uma observação dele fez-me pensar. Em dado momento, olhando para baixo, opinou: “É aqui que a nossa juventude vem se perder”. Falou sem ressentimento nem inveja. Quando ele era jovem, por certo não existia balada. Ainda que houvesse, de nada lhe serviria. Teve que estudar e trabalhar duro, desde muito cedo.

Hoje, que muitos pais conquistaram bom patamar econômico para a família, os filhos têm na balada sua mais frequente (senão única) diversão. Encontramo-nos, em alguns domingos, por volta das seis da manhã. Eu, a caminho da Catedral; eles, voltando de carro para casa, onde os pais não conseguem dormir enquanto não chegam. Pela forma como alguns dirigem, não saberia dizer se estão sóbrios. Pais se angustiam com razão. Mas que outro divertimento eles têm? A propósito, outra pergunta se impõe: o que a cidade oferece para os pobres? Para aqueles jovens dos bairros, que não têm carro nem dinheiro nem mesada? De que diversão dispõem estes?

Aprendi por experiência, ao trabalhar com eles nos meus anos de padre moço, que os jovens são generosos. Isso não é poesia nem frase de efeito. A juventude é mesmo o tempo do heroísmo. Da coragem para coisas difíceis. Mas precisa que descubram valores reais, não fictícios.

É chato dizer, mas nosso tempo anda carente de quem lhes mostre tais valores. Os mais novos repetem os exemplos que conhecem. Uma sociedade constrói-se conforme modelos. Os jovens seguem aquilo que admiram nos adultos. Que modelos nossa meninada vem observando em nós, mais velhos?

Será que só o consumismo desenfreado que veem na sociedade consegue matar a sua sede de viver?

Fonte> https://angelorigon.com.br/2014/07/05/um-padre-na-balada/

Gislaine Canales (Glosas Diversas) LXVII


JARDINEIRO...

MOTE:
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto amor perfeito
nasce sempre uma saudade...
Adelmar Tavares
Recife/PE, 1888 – 1963, Rio de Janeiro/RJ

GLOSA: 
SOU JARDINEIRO IMPERFEITO,
mas meu adubo é o amor,
eu amo sem preconceito,
dou a todos, meu calor!

Eu colho muito carinho,
POIS NO JARDIM DA AMIZADE,
que encontro no meu caminho
existe a felicidade!

Vivo feliz, satisfeito,
espero que o tempo passe...
QUANDO PLANTO AMOR PERFEITO
é um perfeito amor, que nasce!

Mas junto de tantas flores,
às vezes, contra a vontade,
recordando os meus amores,
NASCE SEMPRE UMA SAUDADE…
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MUITO ALÉM DAS ESTRELAS...

MOTE:
As estrelas... na amplidão,
nem todos conseguem vê-las.
Um sonhador põe a mão
muito além dessas estrelas!
Aloísio Alves da Costa
Umari/CE, 1935 – 2010, Fortaleza/CE

GLOSA:
AS ESTRELAS... NA AMPLIDÃO,
embelezam o Universo,
e o poeta com emoção,
as retrata no seu verso!

Ficam distante... não perto,
NEM TODOS CONSEGUEM VÊ-LAS,
mas quem traz o peito aberto
pode, contudo, entendê-las!

Com amor no coração
e a alma, pura estesia,
UM SONHADOR PÕE A MÃO
e logo as torna poesia!

Eu quisera ser poeta
para poder concebê-las,
e pôr a minha alma inquieta,
MUITO ALÉM DESSAS ESTRELAS!
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ESPERANÇA...

MOTE:
Esperança é o sol aberto
que meu destino conduz:
Deixando o sonho mais perto,
bem menos pesada a cruz.
Alonso Rocha
Belém/PA, 1926 – 2011

GLOSA:
ESPERANÇA É O SOL ABERTO
que vem dourar o meu dia,
onde feliz eu desperto,
esquecendo a nostalgia!

Esse sol tão envolvente,
QUE MEU DESTINO CONDUZ,
tem um calor diferente,
que vem de vibrante luz!

Nesse meu vagar incerto,
quem me sustenta é a esperança,
DEIXANDO O SONHO MAIS PERTO
aumenta a minha confiança!

E um raio de sol, então,
cheio de brilhos, reluz,
tornando, com emoção
BEM MENOS PESADA A CRUZ.
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ILUSÕES

MOTE:
FEREM, SIM, MAS QUERO TÊ-LAS,
AO LONGO DA CAMINHADA.
ILUSÕES! CACOS DE ESTRELAS,
QUE ENCHEM DE LUZ MINHA ESTRADA!
Carolina Ramos
Santos/SP

GLOSA:
FEREM, SIM, MAS QUERO TÊ-LAS,
agridoces ilusões,
quero também merecê-las,
sentir suas emoções!

Quero que sigam comigo
AO LONGO DA CAMINHADA,
me amparando, dando abrigo,
enchendo de tudo, o nada!

Quero, em meu peito, acendê-las
e deixá-las crepitar...
ILUSÕES! CACOS DE ESTRELAS,
que não cansam de brilhar!

Seguindo nessa ilusão,
me sentirei muito amada,
com luzes no coração
QUE ENCHEM DE LUZ MINHA ESTRADA!
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LUA DISTANTE...

MOTE:
Sonhador, poeta... e amante
de quanto a vida me dá,
que importa a lua distante...
se os meus sonhos chegam lá?...
João Freire Filho
Rio de Janeiro/RJ, 1941 – 2012

GLOSA: 
SONHADOR, POETA... E AMANTE
eu vivo intensa alegria,
o meu desejo excitante
explode em minha poesia!

Eu sou cativo do amor,
DE QUANTO A VIDA ME DÁ,
por isso, de mim, a dor,
para longe fugirá!

Esse meu amor, garante
meu sonho realizar...
QUE IMPORTA A LUA DISTANTE...
se eu aprendi a voar?

Voando pelo infinito,
minha alma, feliz está,
porque sufocar meu grito,
SE OS MEUS SONHOS CHEGAM LÁ?...

Fonte: Gislaine Canales. Glosas. Glosas Virtuais de Trovas XVIII. In Carlos Leite Ribeiro (produtor) Biblioteca Virtual Cá Estamos Nós. http://www.portalcen.org. 2004. 

Leandro Bertoldo Silva (Uma certa Dona Nicinha)

Dona Nicinha era uma professora diferente. Se estivesse na sala de aula, tratava logo de organizar as carteiras em círculo. Preferia mesmo que as salas tivessem almofadas no lugar de cadeiras duras e desconfortáveis. Mas, vá lá… Nada que não se pudesse improvisar. Por isso mesmo, Dona Nicinha gostava mesmo era de dar aulas na praça ao som dos passarinhos ou mesmo na quadra da escola, onde tudo era motivo de tornar as aulas mais interessantes, ou surpreendentes, já que era uma professora de Geografia e não de Educação Física.

Dona Nicinha tinha muitos alunos e gostava muito deles. A recíproca era verdadeira, pois os alunos adoravam a professora e seu jeito simples e diferente de os tratarem. Afinal, ela chegava perto deles e os ouvia com atenção…

Como dito, Dona Nicinha tinha muitos alunos, mas havia um em especial, um tal José de apelido “Desatento”. Acabou ficando conhecido como José Desatento. Ele não gostava muito de estudar. Até que Matemática ele gostava por ser uma matéria mais… Digamos… Absoluta, concreta mesmo. O negócio ficava complicado é quando ele tinha que imaginar… Não que ele não soubesse, pelo contrário, ele imaginava até demais. Aí sobrava exatamente para as aulas de Dona Nicinha. Como seria o tal fuso horário? Será que ele tinha ponteiros na ponta do nariz que indicavam as horas? E fuso horário tem nariz? Bem, deve ter. E ainda por cima deve combinar com os braços longitudinais e as pernas em latitudes de 15º, uma a leste e a outra a oeste…

— José, está prestando atenção?

— Estou ,fessora!

— O que eu disse, então?

— Que o fuso horário de tanto variar as horas e alternar o dia e a noite sem parar e a todo o momento, deve ter pegado um baita de um resfriado!

Pronto. Era gargalhada geral…

José Desatento não fazia por mal. Gostava de Dona Nicinha.

— Sabe o que é, fessora, eu não consigo entender esse negócio de geografia, sabe? Mapas, escalas… Daí eu começo a pensar e quando dou por mim já estou imaginando histórias…

Hummmm…. Já que José Desatento gostava de histórias, Dona Nicinha teve uma grande ideia! Propôs à turma uma aula na biblioteca da escola, em que deixou tudo muito bem preparado para levar a cabo seu intento. No dia seguinte, tudo combinado, os alunos dirigiram-se à biblioteca e estranharam, já que Dona Nicinha nunca havia se atrasado. Ao chegarem, viram que a biblioteca estava vazia. Entre os murmurinhos, risadas e brincadeiras que logo começaram a surgir, eis que uma voz exuberante, alta e vibrante se fez ouvir vinda de trás de um grande Atlas, cuidadosamente colocado em cima de uma das estantes bem ao alcance dos olhos das crianças. Os alunos logo perceberam que se tratava de mais uma invenção de Dona Nicinha, mas, seja como for, dessa vez estava muito real, pois a voz não parecia a dela e, ainda por cima, ela não estava atrás da estante. Dona Nicinha havia preparado tudo. Amarrara um microfone de tal maneira que não deixou à mostra nenhum fio que, passando pelos vários livros e estantes, permitia que ela falasse de outro lugar da biblioteca onde mantinha uma visão perfeita dos alunos sem que estes a vissem. Coisas de Dona Nicinha…

— Muito bem, crianças… Cheguem aqui perto de mim! Eu sou o Geógrafo e quero levá-los a uma viagem inesquecível! Mas… — começou a chorar. José Desatento achou aquilo fabuloso. Puxa! Um Atlas que fala! E ainda chora?! Como é que pode? Sua imaginação logo deu sinais de ação. Bingo! O plano estava dando certo… José colocou-se à frente do grupo e percebeu uma pocinha de água perto do Atlas (cuidadosamente colocada por Dona Nicinha).

— Ei, por que você está chorando? — perguntou José Desatento.

— Porque você não me usa! — disse o Atlas.

— Ah! Desde quando preciso te usar? Aliás, de onde está saindo essas lágrimas?

— Elas? São do oceano Atlântico! Tem também um pouco do Pacífico e um tantinho do Índico.

— Ai, ai! Você é maluco! Desde quando o oceano Atlântico, Índico ou Pacífico é feito de lágrimas?

— Desde quando você não percebeu que eu sou um Atlas!

E assim, Dona Nicinha, ou melhor, Geógrafo, foi dando toda a aula do dia, pedindo ora um, ora outro que folheasse uma parte do Atlas à medida que ela ia explicando e fazendo os alunos “viajarem” em suas páginas.

José Desatento estava agora mais atento do que nunca. A cada explicação do Geógrafo, ele se imaginava numa verdadeira aventura. Em seus pensamentos, à medida que Geógrafo ia articulando as palavras, ele ia ficando pequenininho e descobrindo várias coisas viajando de um lugar a outro na companhia do novo amigo. De repente, estava lá na Espanha descobrindo várias coisas, mais precisamente as touradas e, também, que lá tem um dos times de futebol mais ricos do mundo. Isso ele gostou à beça, pois adorava vários esportes, principalmente futebol. Depois ele voltou aqui mesmo para o Brasil e viu que no Nordeste tem duas danças chamadas frevo e axé e, no Rio de Janeiro, tem o samba. Em Minas Gerais tem uma comida típica que é o feijão tropeiro, que os turistas adoram, e também o pão de queijo. Na Argentina conheceu uma dança muito querida pelos hermanos, que é o tango. Ficou sabendo que na Itália inventaram duas comidas deliciosas que ele adora: a pizza e o macarrão. E assim, ele foi conhecendo o mundo pelas páginas do Geógrafo como nunca havia conhecido.

No fim da aula, Dona Nicinha deixou seu esconderijo e fingiu entrar na biblioteca se desculpando pelo atraso. Os alunos até sabiam que se tratava de uma grande brincadeira, mas tudo tinha sido tão bem articulado e conduzido pela professora, que eles não quebraram o encanto. Contaram a ela o que tinham aprendido e a respeito do Geógrafo de tal forma e com tanta verdade, que ela mesma quase acreditou na própria história. Quem mais falava era José Desatento, que mostrava a cada frase um grande aproveitamento. Dona Nicinha ouvia tudo com atenção. Sentia-se satisfeita, pois achava que tinha conseguido tocar o coração de seus alunos, principalmente de José, e fazer com que ele encarasse a Geografia com outros olhos. A confirmação disso se deu uma semana depois, quando José, ao apresentar um trabalho, falou tudo o que aprendeu nas páginas de seu “amigo” Geógrafo. Falou tão bem que foi aplaudido pelos colegas e pela professora Nicinha. Ao soar o sinal para ir embora, Dona Nicinha juntou suas coisas e saiu da sala satisfeita. Quando foi virar o corredor, ela ouviu José gritando para ela:

— Valeu, Geógrafo!

Dona Nicinha nada falou. Apenas sorriu e foi entrar em outra sala para mais uma de suas aulas inesquecíveis…

Hinos de Cidades Brasileiras (Limoeiro do Norte/CE)


Composição: Rufino Maia E Silva / Maestro Cleóbulo Maia

Limoeiro, Limoeiro
Cantamos em seu louvor!
Tu és bandeira de glória
No mastro do nosso amor
És escola e oficina
De um povo trabalhador

Outrora gigantes bravos
Que no teu seio aportaram
Eram também bandeirantes
Que o Jaguaribe cruzaram!
Sem esmeraldas nos sonhos,
A terra boa encontraram

Limoeiro, Limoeiro
Cantamos em seu louvor!
Tu és bandeira de glória
No mastro do nosso amor
És escola e oficina
De um povo trabalhador

No palco nobre da vida,
Soprou-te a aura envolvente!
Puseste as mãos em teu campo
Plantaste nele a semente;
Tua cidade floresce
Neste Brasil continente

Limoeiro, Limoeiro
Cantamos em seu louvor!
Tu és bandeira de glória
No mastro do nosso amor
És escola e oficina
De um povo trabalhador

Tuas planícies nos mostram,
A luta que nos apraz
A busca pelo saber,
Pelo trabalho que faz
Erguer a fronte do povo,
Amar a fonte da paz.

Limoeiro, Limoeiro
Cantamos em seu louvor!
Tu és bandeira de glória
No mastro do nosso amor
És escola e oficina
De um povo trabalhador

Que belas carnaubeiras
Volteiam tua paisagem!
São vincos que te sustentam,
São elos da tua imagem...
Por si, sós, uma aquarela,
Incentivando coragem.

Limoeiro, Limoeiro
Cantamos em seu louvor!
Tu és bandeira de glória
No mastro do nosso amor
És escola e oficina
De um povo trabalhador

O Jaguaribe em teu seio,
Sereno, doce, a correr,
Projeta veias profundas
No solo que vai beber
As águas que passam nele,
Impondo o lema - VENCER!