segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Artur da Távola (Cronica: Entes e Duendes dos meus Cinemas)

ENTES E DUENDES DOS MEUS CINEMAS
Dentre tantas alegrias a vida reservou-me uma dor: ver a demolição de muitos cinemas: Rian, Ipanema, Pirajá, Astória, Azteca, aqueles dois da Praia do Flamengo, Alvorada, Ritz, Metro Copacabana, Metro Tijuca. Tantos... Demo-lição. Será o ato de demolir uma lição do demo, o (im) popular demônio? Uma demo-lição? Talvez. O demônio agita-se oculto no que tomba para ser trocado por algo de menor sentido. E cinema que acaba é alegria que roubada.
Em cada cinema que morreu eu vi, no último dia da demo-lição os olhos enormes de Maureen O’Hara a chorar saudades da beleza; a sedução de Greta Garbo; os ideais de Glauber, Cacá Diégues e Davi Neves; a cultura cinematográfica de Walter Lima Júnior; o mau humor do Arnaldo Jabor: Sinto a perda da pele e dos olhos das faces e das costas de Ingrid Bergman e ouço o grito da garotada quando o mocinho, enfim, superou a maldade do bandido. Sim, os fantasmas das atrizes e as luzes dos ideais dos cineastas perduram na atmosfera sofrida de um cinema que tomba comido pela voragem da especulação imobiliária ou substituído por salas pequeninas, telas apertadas, cheiro de desinfetante e o irritante barulho dos sacos de pipoca que a má educação contemporânea timbra em mastigar durante a projeção...
Pode ser que antes de cair a última pedra de um cinema que tomba, a alma dos celulóides dele escape de madrugada e possa haver um grande e generoso baile com quem habitou suas telas ou poltronas com emoção. Eu posso dançar a valsa com Ingrid Bergman e roçar, deslumbrado, os dedos em suas costas largas e sedutoras. Você poderá namorar à vontade Gary Grant, ó jovem cinqüentona de meus tempos, ou consolar o Marlon Brando pela perda machucante da filha. Quanta gente que ama cinema poderá se ver, rever, trocar idéias, o Paulo Perdigão com a Paulette Goddard. O Fernando Ferreira com o Frank Capra a conversar. Humberto Mauro a discorrer, generoso, sobre o que foi sentar as bases do cinema no Brasil. Glauber Rocha a proclamar sua última tese sobre as afinidades entre o céu e o inferno como síntese verdadeira de uma dualidade falsa que sempre atormentou a humanidade. Orizon Muniz poderá enfim namorar em paz a Ruth Roman. Arlindo Coutinho rever películas com a Alberta Hunter, João Luiz Albuquerque mudar o fim de "Casablanca", vale dizer, tudo o que sentimos de bom e melhor pelo cinema e seus personagens de sonho e realidade poderemos encontrar no grande baile noturno das últimas horas de cada um, onde todos juntos dançaremos ao som do La Valse de Ravel.
Só esta doce alegria imaginária compensa a dor de ver a cidade grande engolir os cinemas de meu amor e da nossa nostalgia.
Fonte:

Ingles de Sousa (1853 - 1918)


Herculano Marcos Inglês de Sousa (Óbidos, 28 de dezembro de 1853 — Rio de Janeiro, 6 de setembro de 1918) foi um professor, advogado, político, jornalista e escritor brasileiro, introdutor do Naturalismo na literatura brasileira e um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras. Escreveu inicialmente sob o pseudônimo Luiz Dolzani.
Era filho do desembargador Marcos Antônio Rodrigues de Sousa e de Henriqueta Amália de Góis Brito, membros de tradicionais famílias paraenses.
Em 1876 publicou dois romances, O cacaulista e História de um pescador, aos quais seguiram-se mais dois, todos publicados sob o pseudônimo Luís Dolzani. Com Antônio Carlos Ribeiro de Andrade e Silva publicou, em 1877, a Revista Nacional, de ciências, artes e letras.
Foi o introdutor do Naturalismo no Brasil, mas seus primeiros romances não tiveram repercussão. A principal característica de sua obra é o enfoque no homem amazônico, acima da paisagem e do exotismo da região.
Compareceu às sessões preparatórias da criação da Academia Brasileira de Letras (ABL), onde fundou a Cadeira n. 28, que tem como patrono Manuel Antônio de Almeida.
Nesse grupo que deu inicio à ABL também participou outro obidense ilustre, José Veríssimo, que, juntamente com Araripe Júnior, Artur de Azevedo, Graça Aranha, Guimarães Passos, Joaquim Nabuco, Lúcio de Mendonça, Machado de Assis, Medeiros e Albuquerque, Olavo Bilac, Pedro Rabelo, Rodrigo Otávio, Silva Ramos, Visconde de Taunay e Teixeira de Melo, realizaram a sétima e última sessão preparatória em 28 de janeiro de 1897.
Nessa sessão foram incorporados como membros aqueles que haviam comparecido às sessões preparatórias anteriores: Coelho Neto, Filinto de Almeida, José do Patrocínio, Luís Murat e Valentim Magalhães. Foram convidados para participar como fundadores, e aceitaram, Afonso Celso Júnior, Alberto de Oliveira, Alcindo Guanabara, Carlos de Laet, Garcia Redondo, Pereira da Silva, Rui Barbosa, Sílvio Romero e Urbano Duarte.
Tornou-se conhecido com O missionário (1891), que, como toda sua obra, revela influência de Zola. Nesse romance, descreve com fidelidade a vida numa pequena cidade do Pará, revelando agudo espírito de observação, amor à natureza, fidelidade a cenas regionais.
Inglês de Sousa fez os primeiros estudos no Pará, no Maranhão e no Rio de Janeiro.
Em 1870 foi para a cidade de Recife para preparar o concurso para a entrada na Faculdade de Direito do Recife, que cursou de 1872 a 1875.
Em 1875, com a nomeação de seu pai como juiz de direito em Santos, foi buscar as irmãs que estavam no Para e partiu em 1876 para São Paulo para completar o curso de direito inscrevendo-se para o quinto (e último ano) na Faculdade de Direito de São Paulo onde formou-se em 4 de novembro de 1876.
Em 1878, quando ainda morava na cidade de Santos onde era jornalista no Diário de Santos, de propriedade de João José Teixeira, militava ativamente no então Partido Liberal, em oposição ao Partido Conservador. Em 5 de janeiro de 1878 subiu ao poder o Partido Liberal, sob a presidência do Conselheiro João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu e com ele Carlos Leôncio da Silva Carvalho para a pasta do Império, que nomeou Inglês de Sousa Secretario da Relação de São Paulo em 18 de maio de 1878.
Foi eleito deputado Provincial (equivalente dos atuais deputados estaduais) para a Assembléia Provincial de São Paulo (hoje Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo) na 23ª e 24ª legislaturas (1880 a 1883).
Foi nomeado presidente da Província de Sergipe (hoje Estado) por Carta Imperial de 2 de maio de 1881 e tomou posse em 17 de maio de 1881. Sua missão consistia em controlar uma rebelião da guarnição militar local e supervisionar a aplicação da recém promulgada Lei Saraiva em Sergipe. Após controlar a situação e supervisionar as eleições de 1881, pediu exoneração do cargo que foi concedida pelo decreto de 28 de janeiro de 1882, governando até 22 de fevereiro de 1882.
Após a sua exoneração de Sergipe, foi nomeado Presidente da Província do Espírito Santo por Carta Imperial de 11 de fevereiro de 1882 e tomou posse em 3 de abril de 1882.
Pediu exoneração do posto e deixou o cargo em 9 de dezembro de 1882 para tomar posse como deputado provincial da 24a legislatura (1882 a 1883) da Assembléia da Provincial de São Paulo.
A partir de 1892, fixou-se no Rio de Janeiro, como advogado, banqueiro, jornalista e professor de Direito Comercial e Marítimo na Faculdade Livre de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro.
A publicação de Os Títulos ao Portador assegura-lhe projeção nacional e o torna jurisconsulto de fama e prestigio, sendo indicado para diretor da Faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais do Rio de Janeiro e Presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) de 1907 a 1910, qualidade na qual presidiu o Primeiro Congresso Jurídico Nacional.
Convidado, mais de uma vez, para o supremo Tribunal, não aceitou a indicação, "por motivos de ordem pessoal". E convidado pelo Ministro Rivadavia Correia para organizar o novo Código Comercial, apresenta-o, dentro de 11 meses, com notáveis emendas aditivas, que o transformam em Código uno de direito privado, de que era convicto partidário. Realiza Inglês de Sousa a primeira codificação integral de todo o direito privado.
Inglês de Sousa morreu na capital da República e foi sepultado no Cemitério São João Batista no dia 7 de setembro de 1918 com "um dos maiores acompanhamentos de que há memória", segundo registrou o jornal "O País" no dia seguinte.
Fonte:

Ingles de Souza (Conto: O Gado do Valha-Me-Deus)

A literatura brasileira, sabidamente pobre, tem-se dado ao luxo de esquecer autores e obras, ao longo de seus poucos séculos de existência. É o caso de Gregório de Matos, Pedro Kilkerry e Sosígenes Costa. Herculano Marcos Inglês de Sousa, entretanto, não foi esquecido. Seu nome figura na galeria literária brasileira graças ao romance "O Missionário", publicado em 1888.

É "O Missionário" um grande romance? Não. Trata-se apenas de mais um romance de tese, exatamente ao figurino naturalista, que a moda de Émile Zola trouxera ao Brasil naquela época (segunda metade do século 19). O tema, levemente escandaloso para então - o de um padre que sucumbe ante os encantos do sexo - talvez lhe tenha assegurado fama.

Depois disso, em 1893, o autor fez editar um livro de contos que parece ter passado despercebido a público e crítica, e que não conheceu até hoje uma segunda edição. "Contos Amazônicos", porém, em que se insere o excelente "O Gado do Valha-me-Deus", se lido com o devido cuidado, resgataria o nome de Inglês de Sousa para a historiografia da literatura brasileira, colocando-a ao lado de um Aluísio de Azevedo e próximo a Machado de Assis.

O livro, além de refletir sobre aspectos sociais da realidade amazônica, faz interessante interpretação da história recente do Brasil de então, como no conto "O Voluntário", que mostra o recrutamento forçado do batalhão de Voluntários da Pátria para a Guerra do Paraguai, apresentando ainda curiosos experimentos com a linguagem, que é o caso do conto que se vai ler. (Antonio Carlos Oliveiri).
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Sim, para além da grande serra do Valha-me-Deus, há muito gado perdido nos campos que, tenho para mim, se estendem desde o Rio Branco até as bocas do Amazonas! Já houve quem o visse nos campos que ficam pra lá da margem esquerda do Trombetas, de que nos deu a primeira notícia o padre Nicolino, coisa de que alguns ainda duvidam, mas todos entendem que, a existir tal gado, nessas paragens, são reses fugidas das fazendas nacionais do Rio Branco. Cá, o tio Domingos tem outra idéia, e não é nenhuma maluquice dos seus setenta anos puxados até o dia de S. Bartolomeu, que é isso a causa de todos os meus pecados, ainda que mal discorra; tanto que se querem saber a razão desta minha teima, lá vai a história tão certa como se ela passou, que nem contada em letra de fôrma, ou pregada do púlpito, salvo seja, em dia de sexta-feira maior. O tio Domingos Espalha chegou à casa dos setenta sem que jamais as unhas lhe criassem pintas brancas, e os dentes lhe caíram todos sem nunca haverem mastigado um carapetão, isso o digo sem medo de que traste nenhum se atreva a chimpar-me o contrário na lata.

Pois foi, já vão bons quarenta anos ou talvez quarenta e cinco, que nisto de contagem de anos não sou nenhum sábio da Grécia, tinha morrido de fresco o defunto padre Geraldo, que Deus haja na sua santa glória, e cá na terra foi o dono da fazenda Paraíso, em Faro, e possuía também os campos do Jamari, onde bem bons tucumãs-assu eu comi no tempo em que ainda tinha mobília na sala, ou, salvo seja, dentes esta boca que nunca mentiu, e que a terra fria há de comer.

Padre Geraldo fez no seu testamento uma deixa da fazenda ao Amaro Pais que levava toda a vida de pagode em Faro, e aqui em Óbidos, e nunca pôde contar as milhares de cabeças que o defunto padre havia criado no Paraíso, e que passavam pelas mais gordas e pesadas de toda esta redondeza.

Não que o visse, não senhores, eu não vi; mas todos gabavam o asseio com que o padre criava aquele gado, que era mesmo a menina dos seus olhos, a ponto de passar quinze anos de sua vida sem comer carne fresca, por não ter ânimo de mandar sangrar uma rês. Quando fui contratado para a fazenda, já o defunto havia dado a alma a Deus por causa dumas friagens que apanhara embarcado e de que lhe nascera um pão de frio, bem por baixo das costelas direitas, não havendo lambedor, nem mezinha que lhe valesse, porque, enfim, já chegaram a sua hora, lá isso é que é verdade.

Havia um ano que a fazenda Paraíso estava, por assim dizer, abandonada, porque o Amaro nunca lá aparecia, senão para se divertir, atirando ao gado, como quem atira a onças e fazendo-se valente na caçada dos pobres bois, criaturas de Deus, que a ninguém ofendem, porque, enfim, isso lá duma pequena marrada de vez em quando é para se defenderem e experimentarem o peito do vaqueiro, porque o boi sempre é animalzinho que embirra com gente maricas. As proezas do Amaro Pais tinham feito embravecer o gado, que, por fim, já ninguém era capaz de o levar para a malhada, e ainda menos de o meter no curral, o que era pena para um gadinho tão amimado pelo padre Geraldo, um verdadeiro rebanho de carneiros pela mansidão, que era mesmo de se lavar com um bochecho para não dizer mais, e a alma do padre lá em cima havia de estar se mordendo de zanga, vendo as suas reses postas naquele estado pelo estrompa do herdeiro, que fazia dor de coração.

Não pensem que eu agora digo isto para me gabar, pois quem pensar o contrário não tem mais do que perguntar aos moleques do meu tempo a razão porque me deram o apelido de Domingos Espalha, que era porque nenhum vaqueiro da terra, do Rio Grande, ou de Cavena me agüentava no repuxo da vaqueação; eu era molecote ainda, mas quando se tratava de alguma fera difícil, era o Domingos Espalha que se ia buscar onde estivesse, porque ninguém melhor do que ele conhecia as manhas do gadinho, e segurava-se melhor na sela sem estribos nem esporas, à moda da minha terra, donde vim pequeno mas já entendido nestes assados.

Pois para a festa de S. João, que o Amaro Pais ia passar na vila, queria ele uma vaca bem gorda para comer, e me incumbia a mim e ao Chico Pitanga, de tomarmos conta da fazenda, assinalar o gado orelhudo, e remeter a vaca a tempo de chegar descansada nas vésperas da festa, o que me parecia a mim que era a tarefa mais à toa de que me encarregara até então, embora os outros vaqueiros me dissessem que havia de perder o meu latim com o tal gadinho de uma figa.

O Chico Pitanga e eu entramos na montaria, levando um par de cordas de couro feitas por mim mesmo com corredeiras de ferro, um paneiro de farinha e um frasco de cachaça da boa, feita de farinha de mandioca, que era de queimar as goelas e consolar a um filho de Deus.

Abicamos ao porto do Paraíso às seis horas da tarde, recolhemo-nos à casa por ser já tarde para procurar o gado, que, entretanto, ouvíamos mugir a pequena distância, e parecia estar encoberto por um capão de mato. Fizemos a nossa janta de pirarucu assado e farinha, não mostramos cara feia à aguardente de beiju e ferramos num bom sono toda a noite até que pela madrugada saímos em busca do gado, montando em pêlo dois cavalos da fazenda que encontramos pastando perto do curral. Qual gado, nem pera gado! Batemos tudo em roda, caminhamos todo o santo dia, e eu já dizia pra o Chico Pitanga que a fama do Espalha tinha espalhado a boiama, quando lá pelo cair da tarde fomos parar à ilha da Pacova-Sororoca, que fica bem no meio do campo, a umas duas léguas da casa-grande. Bonita ilha, sim senhores, é mesmo de alegrar a gente aquele imenso pacoval no meio do campo baixo, que parece um enfeite que Deus Nosso Senhor botou ali para se não dizer que quis fazer campo, campo e mais nada. Bonita ilha, sim senhores, porém muito mais bonita era a vaca que lá encontramos, deitada debaixo de uma árvore, mastigando, olhando pra gente muito senhora de si, sem se afligir com a nossa presença, parecia uma rainha no seu palácio, tomando conta daquela ilha toda, com um jeito bonzinho de quem gosta de receber uma visita, e tem prazer em que a visita se assente debaixo da mesma árvore, goze da mesma sombra, e descanse como está descansando.

Não, senhores, não tinha nada de gado bravo a tal vaquinha, grande, gorda, roliça de fazer sela, negra da cor da noite, com um ar de tão boa carne que o diacho do Chico Pitanga ficou logo de água da boca, e vai-não-vai prepara laço para lhe botar nos madeiros, com perdão da palavra. Me bateu uma pancada no coração, dura como acapu, de não sei que me parecia ofender aquela vaca tão gorda e lisa, que ali estava tão a seu gosto, querendo meter a gente no coração com os olhos brandos e amigos, sem cerimônia nenhuma e muito senhora de si, e disse pra o Chico que aquilo era uma vergonha pra eu ser mandado como o vaqueiro mais sacudido a amansar aquele gado bravo, e por fim de contas segurar a primeira vaca maninha que encontrava, como qualquer curumim sem prática da arte; mas o tinhoso falou na alma de meu companheiro que, sem mais aquela atirou o laço e segurou os cornos da vaca. Ela, coitadinha, se empinou toda, deixando ver o peito branco, com umas tetinhas de moça, palavra de honra! E eu para não parecer que receava o lance, botei-lhe a minha corda também. Olhem que corda tecida por mim é dura de arrebentar, pois arrebentaram ambas como se fossem linha de coser, só com um puxão que a tal vaquinha lhes deu, e vai senão quando com a força, cai a vaca no chão e fica espichada que nem um defunto.

Cá pra mim que conheço as manhas do povo com que lido, disse logo que aquilo era fingimento, e botei-me pra ela pra a sujeitar pelos chifres, que para isso pulso tinha eu, não é por me gabar. Mas qual fingimento, nem meio fingimento! A vaca estava morta e bem morta, como se a queda lhe tivesse arrebentado os bofes, apesar de eu a ter visto, havia tão pouco tempo, viva e sã como nós aqui estamos, mal comparado, o que mostra que o homem não é nada neste mundo.

Mas era tão nova a morte, e havia já mais de uma semana, que não comíamos senão pirarucu seco, que aquela gordura toda me fez ferver o sangue, me deu uma fome de carne fresca, que parecia que já tinha o sal na boca, da baba que me caia pelos beiços abaixos; trepei acima da vaca, e sangrei-a na veia do pescoço, e logo o Chico Pitanga lhe furou a barriga, rasgando-a dos peitos até as maminhas, com perdão de vosmecês. O diacho da vaca, dando um estouro, arrebentou como uma bexiga cheia de vento, e em vez de aparecer a carne fresca, era espuma e mais espuma, uma espuma branca como algodão em rama, que saia da barriga, dos peitos, dos quartos, do lombo, de toda parte enfim, pois que a vaca não era senão ossos, espuma e couro por fora, e acabou-se; e logo (me disse depois o Chico Pitanga) o demônio da rês começou a escorrer choro pelos olhos, como se lhe doesse muito aquela nossa ingratidão.

Largamos a rês no campo, e como já se ia fazendo tarde, voltamos de corrida para a casa, onde dormimos sabe Deus como, sem cear, é verdade, porque a malvada espuma me tinha revirado as tripas, que tudo me fedia.

Mal veio a madrugada, fomos caminho da ilha da Pacova-Sororoca, à procura da vacada, levando cada um o seu saquinho cheio de farinha d'água, e outro de sal, para a demora que houvesse, e vimos uma grande batida de gado, em roda do lugar onde havíamos deixado na véspera o corpo da vaca preta, mostrando que eram talvez para cima de cinco mil cabeças, mas não achamos uma só rês, nem mesmo a tal vaquinha assassinada por nós.

Me ferveu o sangue, e eu disse pra o Chico Pitanga:

- Isto também já é demais. Ou eu hei de encontrar os diabos das reses, ou não me chame Domingos Espalha.

E botando-nos no campo, busca daqui, bate de lá, vira dali, corre pra cá, até que pela volta do meio-dia descobrimos o rasto, uma imensa batida, com as pegadas no chão, que se estava vendo que o gado passara ali naquele instantinho, e tivemos certeza de que eram mais de cinco mil cabeças, pois a estrada era larga como o Amazonas aqui defronte, e as pegadas unidas miúdo, miúdo, de gado muito apertado que foge a toda a pressa, com os cornos no rabo uns dos outros: e vosmecês desculpem esta minha franqueza, que eu nunca andei na escola. A batida ia direito, direito para o centro das terras, e vai o Chico Pitanga disse: "Seu Espalha, a bicharia passou ainda agorinha". E nos botamos a toda a brida, seguindo o rastro, sempre vendo sinais certos da passagem da vacada, mas sem encontrar vivalma no caminho.

Já estávamos cansados da vida, mais mortos do que outra coisa, nos apeamos e sentamos à beira do Igarapé dos Macacos para nos refrescarmos com um pouco de chibé. Vinha caindo a noite, e do outro lado do Igarapé, no meio de um capinzal de dez palmos de altura, ouvíamos mugir o gado, tão certo como estarem vosmecês me ouvindo a mim, com a diferença que nós tivemos um alegrão, e tratamos de dormir depressa para acordarmos cedo, bem cedinho, e irmos cercar os bois do Amaro País que daquele feito não nos haviam de escapar, ainda que tivesse eu de botar os bofes pela boca fora, ficando estirado ali no meio do campo.

Eu nunca na minha vida passei nem hei de passar, com perdão de Deus, uma noite tão feia como aquela! Começou a chover uma chuvinha miúda, que não tardou em varar as folhas do ingazeiro que nos cobria, de forma que era o mesmo que estarmos na rua; os pingos d'água, rufando no arvoredo, caíam duros e frios nas nossas roupas já úmidas de suor, e punham-nos a bater queixo, como se tivéssemos sezões; logo começou a boiada a uivar, paresque chorando a morte da maninha, que fazia um berreiro dos meus pecados, com a diferença que era um choro que parecia de gente humana, e nos dava cada sacudidela no estômago que só por vergonha não solucei, ao passo que o maricas do Chico Pitanga chorava como um bezerro, que metia dó. Aquilo estava bem claro que a vaca preta era a mãe do rebanho, e como nós a tínhamos assassinado, havíamos de aguentar toda aquela choradeira.

Por maior castigo ainda os cavalos pegaram medo daquele barulho, romperam as cordas, e fugiram tão atordoados que nos deram grande canseira para os agarrar, e nisso levamos a noite toda, sem pregar olho nem descansar um bocado. Quando vinha a madrugada, passamos o Igarapé dos Macacos e entramos no capinzal, que era a primeira vez que avistávamos aquelas paragens, que já nem sabíamos quantas e quantas léguas estávamos da fazenda Paraíso, navegando naquele sertão central. Era um campo muito grande que se estendia a perder de vista, quase despido de árvores, distanciando-se apenas de longe em longe no meio do capinzal verde as folhas brancas das embaúbas, balançadas pelo vento para refrescar a gente no meio daquela soalheira terrível, capaz de assar um frango vivo.

Vimos perfeitamente o lugar onde o gado passara a noite, um grande largo, com o capim todo machucado, mas nem uma cabecinha pra remédio! Já tinham os diachos seguido seu caminho sempre deixando atrás de si uma rua larga, aberta no capinzal, em direção à Serra do Valha-me-Deus, que depois de duas horas de viagem começamos a ver muito ao longe, espetando no céu as suas pontas azuis. Galopamos, galopamos atrás deles, mas qual gado, nem pera gado, só víamos diante da cara dos cavalos aquele imenso mar de capim com as pontas torradas por um sol de brasa, parecendo sujas de sangue, e no fundo a Serra do Valha-me-Deus, que parecia fugir de nós a toda a pressa. Ainda dormimos aquela noite no campo, a outra e a outra, sempre seguindo durante o dia as pegadas dos bois, e ouvindo à noite a grande choradeira que faziam a alguns passos de distância de nós, mas sem nunca lhes pormos a vista em cima, nem um bezerro desgarrado, nem uma vaquinha preguiçosa!

Eu já estava mesmo levado da carepa, anojado, triste, desesperado da vida, cansado na alma de ouvir aquela prantina desenfreada todas as noites, sem me deixar pregar o olho, e o Chico Pitanga cada vez mais pateta, dizendo que aquilo era castigo por termos assassinado a mãe do gado; ambos com fome, já não podíamos mover os braços e as pernas, galopando, galopando por cima do rasto da boiada, e nada de vermos coisa que se parecesse com boi nem vaca, e só campo e céu, céu e campo, e de vez em quando bandos e bandos de marrecas, colhereiras, nambus, maguaris, garças, tuiuiús, guarás, carões, gaivotas, maçaricos e arapapas que levantam o vôo debaixo das patas dos cavalos, soltando gritos agudos, verdadeiras gargalhadas por se estarem rindo do nosso vexame lá na sua língua deles. E os cavalos cansados, trocando a andadura, nós com pena deles, a farinha acabada, de pirarucu, nem uma isca, sem arma para atirar nos pássaros, nem vontade para isso, sem uma pinga da aguardente, sem uma rodela de tabaco, e a batida do gado espichando diante de nós, cada vez mais comprida, para nunca mais acabar, até que uma tarde, já de todo sem coragem, fomos dar com os peitos bem na encosta da Serra do Valha-me-Deus, onde nunca sonhei chegar, e bem raros são os que se têm atrevido a aproximar-se dela.

Mas o diacho das pegadas do gado subiam pela serra acima, trepavam em riba uma das outras até se perder de vista, por um caminho estreito que volteava no monte e parecia sem fim. Ali paramos, quando vimos aquele mundo da Serra do Valha-me-Deus, que ninguém subiu até hoje, nos tapando o caminho, que era mesmo uma maldição; pois se não fosse o diacho da serra, eu cumpriria a minha promessa ainda que tivesse de largar a alma no campo.

Nunca vi cachorro mais danado do que eu fiquei. Voltamos para trás, moídos que nem mandioca puba em tipiti, curtindo oito dias de fome da farinha e sede de aguardente, até chagarmos à fazenda Paraíso, e só o que eu digo é que: nunca encontrei gado que me desse tanta canseira.
Fonte:

Robert Louis Stevenson (Conto: A Porta e o Pinheiro)

O conde detestava certo barão alemão, forasteiro em Roma.
Não importam as razões desse ódio, mas, como tinha o firme propósito de vingar-se, com o mínimo de perigo, ele as manteve secretas até do barão. De fato, tal é a primeira lei da vingança, já que ódio revelado é ódio, impotente.

O conde era curioso e minucioso; tinha algo de artista; executava tudo com uma perfeição tão exata que se estendia não só aos fins como também aos meios ou instrumentos. Certo dia cavalgava ele pelas regue iras e chegou a um caminho lamacento que se perdia nos pântanos que circundam Roma. À direita havia uma antiga tumba romana; à esquerda uma casa abandonada no meio de um jardim de sempre-vivas. Esse caminho conduziu-o a um campo de ruínas, em cujo centro, no declive de uma colina, viu uma porta aberta e, não muito longe, um solitário pinheiro atrofiado, não maior que um arbusto. O local era deserto e secreto; o conde pressentiu que algo favorável o espreitava na solidão; amarrou o cavalo ao pinheiro, acendeu a luz com o isqueiro e penetrou na colina. A porta dava para um corredor de construção romana; este corredor, a uns vinte passos, se bifurcava. O conde tornou pela direita e chegou, tateando na escuridão, a uma espécie de barra que ia de uma parede à outra. Avançando o pé, encontrou uma borda de pedra polida, e logo depois o vácuo. Interessado, juntou uns galhos secos e acendeu o fogo. À sua frente havia um poço profundissimo; sem duvida algum aldeão, que o havia usado para tirar água, teria colocado a barra. O conde apoiou-se na roldana e olhou o poço, demoradamente. Era uma obra romana e, como todas as desse povo, parecia construída para a eternidade. Suas paredes eram lisas e verticais: o desditoso que caísse no fundo não teria salvação. "Um impulso me trouxe a este lugar", pensava o conde. "Com que fim? Que consegui eu? Por que fui enviado a olhar este poço?" A roldana cedeu; o conde esteve a ponto de cair. Saltou para trás, para salvar-se, e apagou com o pé as ultimas brasas do fogo. Fui enviado para aqui a fim de morrer?", disse com temor. Teve uma inspiração. Arrastou-se até a boca do poço e levantou o braço, tateando: duas hastes estavam sustentando a roldana; agora esta pendia de uma delas. O conde a repôs de modo que cedesse ao primeiro apoio. Saiu à luz do dia, como um doente. No outro dia, enquanto passeava com o barão, mostrou-se preocupado. Interrogado pelo barão, admitiu finalmente que o havia abatido um estranho sonho. Queria interessar ao barão - homem supersticioso que fingia desdenhar as superstições. O conde, instado pelo seu amigo, disse-lhe abruptamente que se precatasse, porque havia sonhado com ele. Como é obvio, o barão não descansou até que lhe contaram o sonho.
— Pressinto —disse o conde com aparente tristeza— que esta narração será infausta; algo me diz. Entretanto, se para nenhum dos dois pode haver paz até que você a ouça, carregue você com a culpa. Este era o sonho: Vi-o cavalgando, não sei onde, mas devia ser perto de Roma; de um lado havia um antigo sepulcro, outro um jardim de sempre-vivas. Eu o chamava, voltava a gritar que não prosseguisse, em uma espécie de transe de terror. Ignoro se você me ouviu, porque seguiu para frente. O caminho levou-o a um local deserto entre ruínas, onde havia uma porta numa ladeira e, perto da porta, um pinheiro disforme. Você apeou-se (apesar de minhas suplicas), ateou o cavalo ao pinheiro, abriu a porta e entrou resolutamente. Dentro estava escuro, mas no sonho eu continuava vendo-o e pedindo-lhe que voltasse. Você seguiu a parede da direita, dobrou outra vez pela direita e chegou a uma câmara na qual havia um poço e uma roldana. Então, não sei por que, meu alarme cresceu e tornei a gritar-lhe que ainda estava em tempo e que abandonasse o vestíbulo. Essa foi a palavra que empreguei no sonho e então lhe atribui um sentido preciso; mas agora, acordado, não sei o que significava para mim. Você não escutou minha suplica; apoiou-se na roldana e olhou demoradamente a água do poço. Então lhe revelaram alguma coisa. Não creio haver sabido do que era, mas o pavor me arrancou do sonho, e acordei chorando e tremendo. E agora lhe agradeço de coração o haver insistido. Este sonho estava-me oprimindo, e, agora que o narrei à luz do dia, parece-me terrível.
— Talvez —disse o barão.

— Tem alguns pormenores estranhos. Revelaram-me alguma coisa, disse você? Sim, é um sonho raro. Divertirá os nossos amigos.

— Não sei —disse o conde. — Estou quase arrependido. Esqueçamo-lo. — De acordo —disse o barão.

Não falaram mais do sonho. Daí a poucos dias, o conde convidou-o a sair a cavalo; o outro aceitou. Ao regressar a Roma o conde sofreou o cavalo, tapou os olhos e deu um grito.

— Que aconteceu? —disse o barão.

— Nada —gritou o conde. — Não é nada. Voltemos depressa a Roma.

Mas o barão havia olhado a seu redor e, à mão esquerda, viu um caminho lamacento com uma tumba e um jardim de sempre-vivas.

— Sim —respondeu com a voz mudada. — Voltemos a Roma imediatamente. Temo que você se ache indisposto.

— Por favor —gritou o conde. — Voltemos a Roma, quero me deitar.
Regressaram em silencio. O conde, que fora convidado para uma festa, deitou-se, alegando que tinha febre. No dia seguinte, o barão havia desaparecido; alguém achou seu cavalo atado ao pinheiro. Isto foi um assassínio?
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Robert Louis Stevenson — Escritor inglês, nasceu em Edimburgo em 1850 e morreu em Samoa, em 1894. Começou escrevendo para jornais e revistas. Depois de percorrer toda a França, viajou para a Califórnia, onde se casou com Mrs. Osbourne, imediatamente após o divorcio desta. Em virtude de seu precário estado de saúde, resolve voltar para a Inglaterra, visitando, mais tarde, a França, novamente, e Taiti e as ilhas circunjacentes, fixando-se em Samoa, onde escreveu a maioria de seus romances e dois volumes de poesias. Seu enteado, Lloyd Osbourne, colaborou em alguns de seus romances. Stevenson exerceu influencia considerável no movimento literário dos paises de língua inglesa. Entre suas obras destacam-se: Memórias e aventuras de David Balfour, o Príncipe Otto, Nos Mares do Sul, Edimburgo, Notas Pitorescas, O Dinamitador, Contos, A Ilha do Tesouro, O Medico e o Monstro, e muitos outros trabalhos. Da extensa obra de Stevenson, foram mais difundidos entre o nosso publico A Ilha do Tesouro e o Medico e o Monstro, ambos os romances aproveitados pelo cinema.
Fontes:

Paulo Urban (Poesias e Biografia)

Biografia
Paulo Urban nasceu em São Paulo a 10 de fevereiro de 1965. Em 1989, formou-se em medicina pela Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Especializou-se em psiquiatria no Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo, tendo sido aluno do eminente psiquiatra, Dr. Carol Sonenreich.Aos 29 anos tornou-se Diretor Clínico do Hospital Psiquiátrico Casa de Saúde de São João de Deus, da Ordem Hospitaleira de mesmo nome, dirigindo-o por seis anos.
É articulista da Revista Planeta, publicação mensal da Editora Três, e escreve matérias sobre diversos assuntos: psiquismo, mitologia, ocultismo (alquimia e magia), religiões, sonhos, simbolismo, filosofia, antropologia, arte, literatura e outros. Mantém contato aberto e permanente com seus leitores, e tem realizado nos últimos anos palestras sobre os mais diversos temas no Brasil e no exterior.
Há anos prepara uma obra, longe de acabar, sobre o Profeta Nostradamus, tendo realizado para tanto pesquisas no Instituto Histórico e Geográfico de Provence.
Tem livros publicados nas áreas de história, acupuntura, esoterismo e está com outros em processo de publicação, um dos quais sobre Magia.
Paulo Urban é criador de sua própria abordagem terapêutica, a Psicoterapia do Encantamento, de referencial analítico (junguiano) e que explora técnicas respiratórias de hiperventilação e ritos de passagem propiciadores de um novo psiquismo.
Em sua clínica médica, atende como psiquiatra, psicoterapeuta e acupunturista. Também pratica desde 1992 a Hipnose Clínica.
Desenvolve pesquisas sobre Estados Alterados de Consciência e Xamanismo. Regularmente se encontra com o Xamã Carlos Prado, de quem tem recebido in loco lições de medicina natural e cosmovisão andina.
Possui trabalhos acadêmicos publicados nas áreas de filosofia, medicina (alguns premiados), acupuntura e parapsicologia. Interessa-se também por física quântica e astrofísica.
Paulo Urban torna disponível parte de sua obra, inclusive seus sonetos, textos e pesquisas, aqui no www.amigodaalma.com.br ,site que compartilha junto da amiga Monica Facó, artista plástica, no qual pretendem abrigar companheiros que são os verdadeiros amigos da alma de todos nós.

Z O R R O

Por trás de negra máscara se oculta
um rosto apaixonado em seu ardor,
em meio à capa preta esconde o ator
a língua de um florete bela e inculta,
a mesma que te corta, urente, exulta
teus sentimentos todos, teu sabor...
A cicatriz não sabe o que é a dor
que cresce com o amor e que o sepulta
Esgrimista ágil, teço escaramuça...
Se à noite em meu cavalo sangro o céu,
de dia me recolho atrás do véu;
não pressupõe minh’arte te ferir,
nem sei se julgo justo este esgrimir
de um coração que é lâmina e te aguça.
decassílabos heróicos
15/08/2001

MANUSCRITOS DO BAÚ INTERMINÁVEL LIVRO IV - PERGAMINHO III - ORIGEM

Densas horas castigam esta esfera
Incrustada na curva do passado,
Não orbita, e seu tempo, enclausurado,
É presa deste instante de uma era.
Devora-lhe a mandíbula de um lado,
D’outro a gula de um Cronos feito fera;
Goela adentro é o segredo que se encerra
Tenebroso, voraz, bem disfarçado.
Digerido, o planeta se transforma,
Lançando pelo Cosmos sua essência;
Traz consigo o artifício da reforma,
Tão tênue, tão precisa sua ciência;
Do veneno ao remédio numa dose,
Faz do tempo a total metamorfose.
09/07/1997

Fontes:
http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/sonetos/zorro.htm
http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/sonetos/mbi_origem.htm
http://www.amigodaalma.com.br/conteudo/trajetoria.htm

Nações Indígenas (Guaranis)

GUARANIS, OS FILHOS DO VENTO
"Singular e assombroso o destino de um povo como os Guarani!
Marginalizados e periféricos, nos obrigam a pensar sem fronteiras
Tidos como parcialidades, desafiam a totalidade do sistema.
Reduzidos, reclamam cada dia espaços de liberdade sem limites
Pequenos, exigem ser pensados com grandeza.São aqueles primitivos cujo centro de gravitação já está no futuro.
Minorias, que estão presentes na maior parte do mundo."(Bartomeu Meliá)
Guarani quer dizer: guerreiro indomável, filho de "Curupi" com Céa-Yari, povo livre com tempestade, que se espalha irregularmente pela vasta planície das várzeas lamacentas dos três grandes rios do Prata (o Paraná, o Paraguai e o Uruguai), atingindo quase toda a Bolívia e grande parte da Argentina até as mesetas da Patagônia.
Com o objetivo de reivindicar o que se supõe deveria ser na história o verdadeiro sentido da civilização guarani, surgiu, entre alguns escritores, uma corrente que inaugurou uma série de discussões polêmicas.
Uma destas correntes entende que pertence ao patrimônio histórico da raça guarani a invejável civilização dos astecas do México e dos Incas do Peru e que todo esse monumento de glórias, criminosa e miseravelmente destruído pelos espanhóis, foi roubado a essa família indígena.
Obedecendo esta ordem de idéias, concebe ela que os guaranis chegaram a fundar, nos demais recantos da América do Sul, uma considerável civilização pré-colombiana e que os europeus a destruíram com tal habilidade que até os vestígios desapareceram.
A Grande Confederação Guaranítica compreendeu inúmeras nações esparramadas pelo Continente Sul Americano, sendo a capital dessa civilização uma grande cidade denominada "Mbaeveraguasú". Imaginam os defensores dessa corrente, que os guaranis eram comunistas puros, organizados em Estado, com feição altamente civilizada. Para eles a palavra "guarani", tinha um sentido amplo e compreendia todos os indígenas de mais da metade do continente americano, excluindo-se, algumas raças que reputavam inferiores, sem as qualidades que ornam o caráter e a inteligência das múltiplas nações guaranis.
Há, entretanto, algumas tribos, que não sendo guaranis, acomodaram-se aos costumes destes, em uma fusão regular, sendo por isso mesmo seus parentes, ou vassalos, como aconteceu com os "Aruacás", que acompanharam os "Caraivés", desde as Antilhas, como seus escravos.
Percebe-se, portanto, que os guaranis correspondem ao homem sul-americano por excelência.
COMO TUDO COMEÇOU...
Para nos assenhorarmos dos verdadeiros pendores que dominam a alma coletiva de tão curiosa civilização, teremos que buscar recursos na história.
A nação guarani à luz do "descobrimento" conglomerava diversos povos. Com a chegada dos espanhóis (1537 em Assunción), foram diferentes as formas de contato e distintas as adaptações histórico-culturais da nação guarani. Podemos dividi-los a partir deste momento, em três grupos, ou três trajetórias.
1. O indígena que sofreu o impacto imediato do colonialismo. Encontramos aqui o índio "civilizado" e o escravo encomendado. Os índios civilizados foram aqueles que lhes foi roubada a felicidade e convencidos à força de que os donos da civilização era os europeus. Estes foram os que mais sofreram adaptações. Já o índio encomendado, era aquele entregue ao espanhol para a catequese e conversão. Doutrinavam os índios em troca da utilização de seu trabalho. Na verdade, tal troca, acobertava uma disfarçada escravidão. Desse grupo, sobraram muito poucos, pois conduzidos a um cativeiro desumano, acabaram dizimados, pela intensidade do trabalho forçado ou pelas inúmeras doenças trazidas pelos conquistadores.
2. Os guaranis reduzidos ou missioneiros, que buscavam refúgio da sanha colonial nas reduções jesuíticas. As reduções se constituíam em um Estado dentro do Estado. Nestes aldeamentos fechados, os índios aprenderam ofícios tornando-se artesãos, marceneiros, carpinteiros e músicos, o que lhes permitiu dirigirem-se para os centros urbanos, como Montevidéu, Buenos Aires e Santa Fé, após a expulsão dos jesuítas das colônias ibéricas.
No inicio da civilização, os colonos sentiram a necessidade imprescindível do auxílio do missionário para a pacificação indígena. Mas, aos poucos o homem branco, emancipou-se daquela dependência e aliando-se com o mameluco, organizaram-se em bandeiras e, armados em verdadeiros exércitos, passaram a caçar o índio, para explorar e corromper. Eram invencíveis, sobretudo em uma luta com missionários e índios inermes. Ao desejo de enriquecer aliava-se a sede de glória, iniciando-se deste modo, um genocídio. Poucos foram os que conseguiram bater em retirada, único meio de fugir aquela ameaça de destruição. Mas, mesmo experimentando grande regozijo de escapar à sanha de seus agressores, tiveram os heróicos retirantes de enfrentar muitos perigos e sofrimentos durante a sua longa cruzada de fuga.
Alguns se dirigiram para o Paraguai, onde o Guarani Paraguaio é hoje falado por cerca de 3 milhões de pessoas; para a Bolívia, onde o Guarani Boliviano (ou Chiriguano) é falado por cerca de 50 mil pessoas e para o norte da Argentina. Dos índios capturados, alguns se tornaram escravos dos bandeirantes (séc. XVIII) e outros tornaram-se empregados de fazendeiros brasileiros e paraguaios, que iniciaram a ocupação destas terras com a extração da erva-mate.
3. O terceiro grupo a salientar, é o guarani que permaneceu fora do alcance da fome colonial, mantendo-se escondido nas densas florestas paraguaias. Os Caaguá foi um grupo que logrou manter sua cultura quase que intacta. Dele descendem os Guaranis Mbya, Chiripá ou Ñandeva e os Paitvyterã ou Kaiowá. Eles foram raramente visitados por algum viajante no século XIX e conseguiram passar para o século XX, sem interferências exteriores.
OS MESTRES DAS MISSÕES
Nas reduções, o índio guarani aprendeu a ser pintor, escultor, marceneiro, serralheiro e fundidor. Um padre suíço, Charles Franck, ensinou-lhes até mesmo a fabricar relógios primitivos, mas que funcionavam perfeitamente. E a primeira oficina de impressão que se tem notícia em toda a América Latina foi instalada na República Guarani: ali eram impressos catecismos, dicionários, livros de canto e até mesmo alguns trabalhos sobre os dialetos dos índios. Quase tudo isso foi queimado pelos "civilizadores", os mesmos que hoje puxam o revólver (ou o talão de cheques) quando ouvem falar na palavra cultura.
Os índios seguiam essa ou aquela profissão, de acordo com suas inclinações e tendências. A maioria dedicou-se à agricultura ou ao pastoreio, porém os que tinham a chamada veia artística podiam cultivar a música, através da harpa, instrumento ainda hoje em moda no Paraguai, ou de violões, violinos, guitarras, tambores, pandeiros espanhóis e até castanholas.
De certa forma, cada missão especializou-se num determinado ramo de produção artística. Em Loreto fizeram-se as melhores esculturas, mas foi em San Francisco Javier que se elaboraram os mais finos tapetes e as mais graciosas rendas. De San Juan vinham os mais perfeitos instrumentos musicais, mas foi em Apósteles que se fundiram os melhores sinos.
As primeiras reduções propriamente ditas são fundadas pelos padres Simón Maceta e José Cataldino. Um velho missionário, de nome Lorenzama, fundou a redução do Paraná.
Mas o grande idealizador do Estado Jesuíta, aquele que era conhecido como o "caminhoneiro de Chaco" e que no futuro seria nomeado o Superior Geral da República Guarani, foi Antonio Ruiz de Montóya.
Nos primeiros anos as coisas foram muito difíceis, pois a vida das reduções jesuítas não atraia os índios Guarani. Muitas divergências surgiram e até mesmo alguns missioneiros, como o padre Rodriguez, foram executados. Este, depois de discutir com o cacique Niazú, teve sua cabeça espatifada com um golpe de manacá. Na verdade o que levou os índios a se dirigirem para o interior das missões, foi o fato de terem percebido que só elas constituíam um refúgio, um abrigo, uma defesa, uma segurança contra os ataques brutais e escravagistas dos espanhóis e portugueses.
E as reduções cresceram e se multiplicaram: Arcángel, San Tomé, Los Reyes, Tpaes, Yapeyú. Logo se tornou imprescindível que todas elas tivessem governos, tribunais de justiça e até mesmo sistemas rudimentares de contabilidade.
O SOCIALISMO MISSIONEIRO
Em uma espécie de congregação superior eram selecionados os futuros magistrados, sacerdotes e executivos. Existiam arquivos, atas e contabilidade, embora um dia tudo viesse a ser reduzido a cinzas pelos "civilizados".
Apesar das diferenças culturais que sempre existiram, e sempre existirão, em todas as sociedades, a igualdade material era quase completa. Todos se vestiam da mesma maneira.
O trabalho tinha uma jornada de seis a oito horas, com um período de descanso após o almoço. Quase todos os índios eram lavradores e durante a época de colheita todas as demais atividades eram suspensas. Iniciava-se um "mutirão", mutirim, ou pichirum, tradição do trabalho coletivo, ou seja, um ajudando o outro numa alegre animação.
Não havia dinheiro, nem comércio e a profissão de mercador ou traficante era punida com uma surra de vara de marmelo. Praticavam a troca, mas não havia moeda nem usura. O ouro e a prata serviam apenas para enfeitar os altares sagrados.
O principal produto era a erva-mate, que servia de referência para trocas e barganhas. Eram exportadores e muitos produtos demandavam o exterior, principalmente o Prata. Fumo, algodão, açúcar, rendas, artesanatos, esculturas, arreios, rosários, cruzes, vasilhames, ponchos, peles, chapéus, barbicachos, cerâmicas, tijolos, gamelas, tudo isso era conduzido em lombo de burro ou em canoas para as colônias dos europeus onde seria trocado pelos produtos importados de que mais necessitavam.
Mas tudo pertencia à comunidade. Os bens eram indivisíveis. Chamavam-se "tupam-baé (campo de Tupã): eram propriedade do Deus. Não existia o direito de herança e por isso a terra era indivisível. E os padres jesuítas eram os primeiros a dar o exemplo: a eles nada pertencia, tudo era dos índios (Abámba-é).
É claro que os invasores ibéricos, que haviam construído a riqueza de suas nações sobre montanhas de cadáveres indígenas, não poderiam aceitar, em suas "fronteiras ideológicas", a existência da república utópica dos índios Guarani e dos padres jesuítas.
De tanto lidarem com aquelas crianças índias, demasiada e ingenuamente acabou por povoar os sonhos dos filhos de Santo Ignácio de Loyola. Fizeram com que os índios Guarani ficassem brincando de "Cavalhada" entre mouros e cristãos, enquanto o inimigo afiava suas adagas em forma de meia lua levantina e encilhava seus cavalos árabes.
Ensinaram os pequenos selvagens a representar em palcos improvisados os dramas que o santo padre José de Anchieta desenhava à beira-mar, enquanto os propostos coloniais do Marquês de Pombal carregavam seus mosquetes nas barrancas do lado direito do Uruguai.
Trabalhavam, brincavam, amavam, jogavam bola, faziam acrobacias, cantavam e compunham guarânias, enquanto os descendentes de Borba Gato preparavam as longas cordas com as quais iriam manoteá-los.
Tudo desapareceu, até mesmo as igrejas monumentais de pedra talhada e madeira ricamente esculpida foram incendiadas, tendo seus ornamentos de ouro e pratarias roubados por bandidos que se diziam "soldados cristãos".
Porém, a memória dos homens, que sempre sobrevive à noite dos tempos e às madrugadas do demônio, pode dar fé. Mas, o veredicto foi implacável e o povo Guarani se tornou o mais miserável de toda a América do Sul. Mas, apesar de tudo, foi o único povo americano que conseguiu escapar à sanha do colonizador durante longo tempo.
Eles deixaram gravada, nas ruínas de suas Reduções, a maior ata de condenação que se possa fazer aos que enlouqueceram na miragem de riquezas alucinantes. Sua sociedade foi e será estudada por muitos séculos. É uma história dolorosa, que foi assinada com sangue antes que eles submergissem de novo, e para sempre, na floresta virgem das várzeas lamacentas dos rios que formam o Prata.
As ruínas que ainda estão de pé são testemunha de acusação. E o preço do resgate de sua memória será um dia reconhecido!
A ALMA GUARANI
O guarani é um indivíduo profundamente espiritual. Embora haja muitos sub-grupos, todos compartilham de uma religião que enfatiza a terra. O conceito de terra para eles está relacionada a idéia de Terra-Sem-Males, na concepção de "bem viver", um lugar onde se vive o "ñanderekó" (jeito de ser). Ou seja, não concebem a terra em sua materialidade, mas a consideram como necessária para ser construída e arada culturalmente.
Seguindo mensagens de Nhanderú, eles buscam o que acreditam ser a "Terra Sem Males", um lugar onde não falta caça, pesca e muita paz. A sua procura, localizada no imaginário dos Guarani, para além do Atlântico, por si só, não minimiza as responsabilidades dos brancos sobre os poucos espaços territoriais que sobraram para esses índios. A sua perambulação, organizados em pequenos grupos familiais, por estradas e rodovias do Sul e Sudeste do país, é uma face trágica dessa diáspora.
O MITO DA TERRA-SEM-MAL
O grupo com o qual Nimuendaju (Curt Unkel, 1883-1945, etnólogo alemão) teve contato, guardou em seu imaginário mitológico a iminência da destruição do mundo por um incêndio e um dilúvio e a entrada em uma terra onde não haveria mais sofrimento, nem morte.
Conta este mito dos Guarani, "quando Ñamandu ( nosso grande Pai) resolveu acabar com a terra, devido à maldade dos homens, avisou antecipadamente Guiraypoty, o grande pajé, e mandou que dançasse. Esse obedeceu-lhe, passando toda a noite em danças rituais.
E quando Guiraypoty terminou de dançar, Ñamandu retirou um dos esteios que sustentam a terra, provocando um incêndio devastador. Guiraypoty, para fugir do perigo, partiu com sua família para o Leste, em direção ao mar. Tão rápida foi a fuga, que não teve tempo de plantar nem de colher mandioca. Todos teriam morrido de fome, se não fosse o seu grande poder que fez com que o alimento surgisse durante a viagem. Quando alcançaram o litoral, seu primeiro cuidado foi construir uma casa de tábuas, para que quando viessem as águas, ela pudesse resistir. Terminada a construção, retomaram a dança e o canto.
O perigo tornava-se cada vez mais iminente, pois o mar, como que para apagar o grande incêndio, ia engolindo toda a terra. Quanto mais subiam as águas, mais Guiraypoty e sua família dançavam.
E para não serem tragados pela água, subiram no telhado de casa. Guiraypoty chorou, pois teve medo. Mas sua mulher lhe falou:
" Se tens medo, meu pai, abre teus braços para que os pássaros que estão passando possam pousar. Se eles sentarem no teu corpo, pede para nos levar para o alto."E, mesmo em cima da casa, a mulher continuou batendo a taquara ritmadamente contra o esteio da casa, enquanto as águas subiam.
Guiraypoty entoou então o nheengaraím, o canto solene Guarani. Quando iam ser tragados pela água, a casa se moveu, girou, flutuou, subiu... subiu até chegar à porta do céu, onde ficaram morando.
Esse lugar para onde foram chama-se YvY marã eÿ ( a "Terra Sem Males"). Aí as plantas nascem por si próprias, a mandioca já vem transformada em farinha e a caça chega morta aos pés dos caçadores. As pessoas nesse lugar não envelhecem e nem morrem, e aí não há sofrimento."
Durante diversos espaços de tempo e de formas variáveis, grupos guarani reviveram historicamente este mito. Relatado por Curt Nimuendaju (nome que significa "homem que abriu seu próprio caminho"), no início do século XX, os pajés dos Guarani Apapocuva, buscaram a Terra-Sem-Mal no leste. Em todas as viagens apontadas para esta direção, o mito se fez história.
A Terra-Sem-Mal era uma dádiva a ser encontrada, localizada à leste, além do oceano e no alto.
TRAJETÓRIA E OBJETIVO DA MIGRAÇÃO
A causa do êxodo Guarani sempre foi a imperativa necessidade de encontrarem um lugar onde possam viver em segurança, segundo seu antigo modo de ser, ou seja, a busca da "Terra-Sem-Males".
"Os primeiros que abandonaram a sua pátria, migrando para o leste foram os vizinhos meridionais dos Apapocuva: a horda dos Tañyguá, sob a liderança do pajé chefe Ñanderyquyní, que era temido feiticeiro. Subiram lentamente pela margem direita do Paraná, atravessando a região dos Apapocúva, até chegar à dos Oguauíva, onde seu guia morreu. Seu sucessor, Ñanderuí, atravessou com a horda do Paraná - sem canoas, como conta a lenda - , pouco abaixo da foz do Ivahy, subindo então pela margem esquerda deste rio até a região de Villa Rica, onde cruzando o Ivahy, passou-se para o Tibagy, que atravessou na região de Morro Agudos.
Rumando sempre em direção ao leste, atravessou com seu grupo o rio das Cinzas e o Itararé até se deparar,finalmente com os povoados de Paranapitinga e Pescaria na cidade de Itapetinga, cujos primeiros colonos nada melhor souberam fazer que arrastar os recém-chegados a escravidão. Eles porém, conseguiram fugir, perseverando tenazmente em seu projeto original, não de volta para o oeste, mas para o sul, em direção ao mar. Escondidos nos ermos das montanhas da Serra dos Itatins fixaram-se então, a fim de se prepararem para a viagem milagrosa através do mar à terra onde não mais se morre." Os Guarani Mbya, começaram a chegar, ao que se sabe, a partir do início do século XX. Em 1921, Nimuendaju, na época funcionário da antigo SPI, teve a ventura de acompanhar de perto a migração de um pequeno grupo Mbya rumo ao mar.
Esta fantástica experiência não modificou apenas o modo desse antropólogo alemão encarar a sociedade Guarani, como a partir de então, iria influenciar de maneira decisiva, o modo como a maioria dos antropólogos passaria a ver os Guarani.
Dizimados por doenças e obcecados com a fuga da destruição do mundo, Nimuendaju alcançou-os perto de Itanhaém/SP. Quando chegaram ao litoral, termina sua viagem horizontal e histórica. Inicia-se então a caminhada que deveria, através da dança, tomar um rumo vertical. Dançaram três dias até a exaustão e então veio a terrível decepção: o fracasso. "Havia ocorrido algum erro, que anulara toda a magia e que, fechara para sempre o caminho para o Além aos peregrinos". A maioria dos Guarani convenceu-se que já não poderiam alcançar a "Terra-Sem-Mal", pela falta de um instrumento e pela interpretação incorreta do mito.
Depois partiram "na direção do noroeste, convencidos de que a Terra-Sem-Mal se localizava, não além do oceano e sim no centro da Terra". Segundo Egon Scahden, somente poderiam ir em sua busca, aqueles que guardavam intactas suas crenças originais.
Hoje existem "aqueles que acreditam que só sua alma retornará a Nhanderú retã." Mas há ainda aqueles, que acreditam conseguir atravessar o oceano com corpo e alma e superando a prova da morte, serem testemunho da tradição.
Uma alucinada tentativa de alcançar a qualquer custo a Terra-Sem-Mal, pode ser observada entre os Guarani e Kaiowá no Mato Grosso do Sul. Nos anos entre 1986 a 2000, 337 índios das áreas de Dourados, Amambaí, Caarapó, Porto Lindo e Takuapery, cometeram suicídio. A ampla espoliação de seu território físico e espiritual e a falta de perspectiva de encontrarem a sua prometida Terra-Sem-Mal, os levaram a depressão profunda, o que concorreu para a concretização de tão trágico fim.
Na utopia da Terra-Sem-Mal, o imediatismo histórico ficou frustrado.
Em busca da "Terra-Sem-Mal", vivem hoje os Guarani, ameaçados do Mal sem Terra, em conseqüência do avanço das fazendas sobre os habitantes indígenas originários.
ÍNDIOS GUARANIS NA ALDEIA CANTAGALO (VIAMÃO/RS)
A comunidade ocupa uma área de 286 hectares, onde residem 40 famílias (300 moradores no total).
Possuem uma escola bilíngüe, localizada dentro da aldeia, denominada: Karai Arandu. Entretanto, para o índio guarani, o local de resgate de sua cultura pode ser o colo da mãe ou o pátio da aldeia e não uma escola tão rígida como à nossa. A escola, portanto, deveria se adequar mais à metodologia indígena e não retratar a estrutura tradicional da sociedade branca.
"Respeito às pessoas e à natureza", esse é o lema os índios guaranis, por isso, suas crianças são tratadas com muito carinho. Elas, desde cedo, recebem os ensinamentos de sua cultura pelos pais e depois pelo cacique, que lhes explica que os guaranis foram eleitos pelo Deus Nhanderú para serem os guardiões das almas dos seres humanos.
A religião é ensinada, pelo karaí, que é o líder espiritual. Ele cuida dos doentes, recomendando os remédios e curando através da fé, pois, para eles, a doença nada mais é do que uma conseqüência da falta desta.
O artesanato é o maior sustento dessa aldeia. A cestaria e as esculturas de animais são perfeitas e vendidos pelos indígenas no litoral, na temporada de verão. Os índios, além disso, plantam milho, feijão e ervas medicinais.
As crianças guaranis que fazem parte do coral "Nhanderú Jepoverá" (Raio Sagrado de Deus), gravaram um CD em 2005 , que reúne 15 cantos sagrados.
Os guaranis cantam quando rezam, quando brincam, quando acalentam os filhos, quando plantam, quando colhem, quando curam, quando falam com seus deuses. Ninguém canta como eles, e ninguém ouve como eles, porque certamente seus cânticos fazem muito mais sentido em sua cultura.
Mito Guarani da Criação
A figura primária na maioria das lendas Guaranis da criação é Yamandú (ou Nhanderú ou Tupã), o deus Sol e realizador de toda a criação. Com a ajuda da deusa lua Arasy, Tupã desceu à Terra num lugar descrito como um monte na região do Aregúa, Paraguai, e deste local criou tudo sobre a face da Terra, incluindo o oceano, florestas e animais. Também as estrelas foram colocadas no céu nesse momento.
Tupã então criou a humanidade (de acordo com a maioria dos mitos Guaranis, eles foram, naturalmente, a primeira raça criada, com todas as outras civilizações nascidas deles) em uma cerimônia elaborada, formando estátuas de argila do homem e da mulher com uma mistura de vários elementos da natureza. Depois de soprar vida nas formas humanas, deixou-os com os espíritos do bem e do mal e partiu.


Primeiros Humanos
Os humanos originais criados por Tupã eram Rupave e Sypave, nomes que significam "Pai dos povos" e "Mãe dos povos", respectivamente. O par teve três filhos e um grande número de filhas. O primeiro dos filhos foi Tumé Arandú, considerado o mais sábio dos homens e o grande profeta do povo Guarani. O segundo filho foi Marangatú, um líder generoso e benevolente do seu povo, e pai de Kerana, a mãe dos sete monstros legendários do mito Guarani (veja abaixo). Seu terceiro filho foi Japeusá, que foi, desde o nascimento, considerado um mentiroso, ladrão e trapaceiro, sempre fazendo tudo ao contrário para confundir as pessoas e tirar vantagem delas. Ele eventualmente cometeu suicídio, afogando-se, mas foi ressuscitado como um caranguejo, e desde então todos os caranguejos foram amaldiçoados para andar para trás como Japeusá.
Entre as filhas de Rupave e Sypave estava Porâsý, notável por sacrificar sua própria vida para livrar o mundo de um dos sete monstros legendários, diminuindo seu poder (e portanto o poder do mal como um todo).
Crê-se que vários dos primeiros humanos ascenderam em suas mortes e se tornaram entidades menores.
Os Sete Monstros Legendários
Kerana, a bela filha de Marangatú, foi capturada pela personificação ou espírito mau chamado Tau. Juntos eles tiveram sete filhos, que foram amaldiçoados pela grande deusa Arasy, e todos exceto um nasceram como monstros horríveis. Os sete são considerados figuras primárias na mitologia Guarani, e enquanto vários dos deuses menores ou até os humanos originais são esquecidos na tradição verbal de algumas áreas, estes sete são geralmente mantidos nas lendas. Alguns são acreditados até tempos modernos em áreas rurais. Os sete filhos de Tau e Kerana são, em ordem de nascimento:
Teju Jagua, deus ou espírito das cavernas e frutas.
Mboi Tu'i, deus dos cursos de água e criaturas aquáticas.
Moñai, deus dos campos abertos. Ele foi derrotado pelo sacrifício de Porâsý sesta, único dos sete a não aparecer como monstro.
Kurupi, deus da sexualidade e fertilidade.
Ao, deus dos montes e montanhas.
Luison, deus da morte e tudo relacionado a ela.
Outros Deuses ou Figuras Importantes
Angatupry, espírito ou personificação do bem, oposto a Tau
Pytajovái, deus da guerra.
Pombero, um espírito popular de travessura.
Abaangui, um deus creditado com a criação da lua; pode figurar somente como uma adptação de tribos Guaranis remotas.
Jurupari, um deus de adoração limitada aos homens, em geral apenas para tribos isoladas no Brasil.
CONCLUSÕES FINAIS
A batalha dos Guarani pela sobrevivência física e cultural continua nos dias atuais, no Paraguai, Argentina e Brasil (Maranhão, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A luta pela demarcação ou reconquista de suas terras confundem-se com a recuperação de sua identidade étnica.
A história indígena não é de vencidos, mas uma história viva e presente de avanços e resistência, de fazer renascer um mundo mais humano para todos, irmanados com a nossa Mãe Terra.
Os Guarani somam hoje, aproximadamente, cem mil pessoas em todo o território brasileiro.
Com esta pequena contribuição, viso despertar a curiosidade do leitor à tudo que se refere à civilização do índio sul-americano que até nossos dias permanece como objeto de acurado estudo. Enfatizo também, meu carinho e respeito pelas tradições deste povo, guardando como relíquia preciosa tudo o que evoca sua história e anima a lembrança de seus dias mais remotos.

"America Ameríndia,
ainda na Paixão:
um dia tua Morte
terá Ressurreição!"
Fontes:

FOLCLORE: LENDAS INDIGENAS

BARTIRA
Na encantadora ilha de Urubuquiçaba, que fica entre os formosos montes Mandubas e verdes montanhas Japuís, perto da lendária Porchá, costumava banhar-se nas claras águas da branca, praia, em frente a grande planície, a jovem Bartira.
A linda guerreira, filha de Tibiriça, fizera da lendária ilha o seu ponto preferido. Sem saber, caminhava a jovem para a imortalidade, pois a parte do mundo onde nasceu, iria chamar-se Piratininga. Um dia, quando a guerreira despertou, já caminhava no meio do céu o sagrado deus Guaraci, nenhum vento rude soprou, a bela região lhe sorria pacífica e o Senhor do Dia, brilhava majestoso no céu azul. A donzela ergue-se e virando-se viu surgir um guerreiro branco, apresentado musculoso corpo e belo aspecto, não devendo nada aos sacros deuses.
Deixando a sombra dos angicos, o estranho disse à Bartira, que já estava vivendo ali há muitos dias e que gostaria imensamente de conversar com ela e beijando-lhe inocentemente a meiga mão da virgem, atingindo assim seus puros desejos. Logo, o jovem branco e Bartira, amaram-se apaixonadamente e, empreenderam muitos feitos heróicos e várias vezes demonstraram grande bravura.
No planalto de Piratininga, dominava naquele tempo, Tibiriçá, irmão de Tapiro, que preparava para a deusa Aracy, o delicioso Tapicurú, aí, Bartira em companhia de seu marido e seus dois irmãos, Ítalo e Ará, muitas batalhas venceu. Ítalo tinha os olhos verdes e pela vontade de Inochiné, seu padrinho, ele podia enxergar de qualquer distância, mesmo através de sólidas rochas. Ará, o valente, conforme era chamado por todos, tinha tanta força que, certo dia arrancou um grande pé de ipê do solo e o arremessou violentamente por sobre as águas do fundo Tietê.
Certa vez, o cruel Inhampuambucú com seu irmão Piqueputipuá, raptaram as duas primas de Bartira e esconderam-nas em uma funda caverna em meio a uma densa floresta. Então, Ítalo que caçava no monte Jaraguá subiu no alto de um pinheiro, olhou por toda a planície e rochedos descobrindo numa caverna perto de Tremembé, as duas irmãs. Avisada, Bartira partiu até lá e antes que os raptores presentissem, a guerreira com valentia e impetuosidade atirou-se sobre eles e, arremessando a lança contra o peito de Inhampuambuçu, o fez cair no chão sem vida. Então rapidamente precipitou-se sobre Piqueputipuá e com uma flecha certeira, atravessou-lhe as entranhas e ele cambaleou, caindo em seguida ao solo perecendo.
Todos os dias, quando não estava no planalto Bartira nadava nas verdejantes águas da ilha de Urubuquiçaba e durante muitas luas, Tibiriça desceu nestas belas praias, onde foram realizadas com grande celebrações as lendárias.
Os filhos de Bartira e João Ramalho foram: Jundá, que abateu o cruel Coandú; Cari, o cantor e Jati, que ergueu o primeiro cercado no planalto de Piratininga.
Estes são os filhos heróis da grande tribo Guaianás, que foram chefes e conselheiros nas terras do alto Paraná e no fecundo planalto de Piratininga, antes da chegada dos brancos Lusitanos. Foram: Puambú, descendente do sábio Tuperi, que foi naqueles tempos remotos o oitavo pajé da nação Tupi. E Puambú que foi pai de Tori. E estes são os filhos de Tori que lhe nasceram do seu primeiro casamento com Jurema: Anhã, Guiá, Membira e Ipojuçá, o mortífero. E Guaiá foi amante de Repoti filho de Igape e teve de Repoti a Mirá que foi esposa de Itajubá. E Itajubá tomou para a sua mulher a bela Arumã e ela lhe deu dois filhos, Piquerobi e Tibiriça.
Tibiriça casou com Potira. E os filhos de Potira foram: Ítalo, Ará, Pirijá, Aratá, Toruí e Bartira que foi esposa de João Ramalho. Esta é a descendência de Tibiriça segundo as suas gerações e espalharam-se por todo o imenso Brasil. Alguns foram viver entre os intrépidos Tupiniquins, já outros se uniram aos valorosos Tupinambás. Todavia, Tibiriça e Bartira fizeram aliança com os homens brancos, ficando no planalto de Piratininga e viram o início da glória do fecundo império.
A índia-guerreira Bartira é o arquétipo da Deusa Ártemis, sexualmente resolvida e portanto, ela traz consigo uma integração com o masculino. Ela representa a liberdade e a independência que foram negadas às mulheres por longos anos.
Ártemis/Bartira é uma mulher forte, equilibrada e aberta à convenções sociais e códigos de comportamento. Ela tem a tendência de vivenciar fortemente suas causas e princípios.
Este mito de mulher-guerreira incorpora os mistérios mais profundos da natureza, representando o "ser essencial". Este arquétipo foi reverenciado no matriarcado, quando era reconhecido como a Grande Mãe. Ela contempla a possibilidade de várias manifestações. Nas antigas sociedades matriarcais se cultivava o íntimo contato com o ciclo das estações e os ritmos naturais.
Ártemis/Bartira é a conexão que media os aspectos pessoais e coletivos da vida. Estabelece um aponte sobre o horizonte da consciência individual e o reino primordial do imaginário, através de suas imagens, idéias e emoções. Representa ainda, a natureza instintiva que trabalha as reações emocionais. É entendendo e ocupando-se com os ritmos da natureza que saberemos viver melhor com eles e também extrair-lhes mágicos ensinamentos.
Algumas mulheres nativas americanas começam a despontar como mestras poderosas e influentes, permitindo que sua sabedoria luminosa e muito necessária atinja aqueles que tanto anseiam pela visão espiritual do aspecto desta deusa, conhecida pelos gregos como Ártemis. Nesta tradição, a Grande Mãe é chamada da Mulher de Cobre. Ela é eterna e assume múltiplas formas, tendo muitas filhas e netas que transmitem diferentes aspectos de seus ensinamentos.
BOITATÁ, O PROTETOR DOS CAMPOS
Acreditavam os tupis-guarani num espírito que protegia os campos contra aqueles que o incendiavam. E, conservavam esta crença, dando-lhe a forma de uma serpente ígnea que residia na água. Algumas vezes torna-se um tronco em brasa, denominado "méuan", que fazia morrer todo aquele que tentasse inutilmente incendiar o campo.
Boitatá, em guarani significa: "mboi" (cobra) e tatá (fogo). Sofreu entre nós diversas alterações tanto no sentido como na forma:
MBAETATÁ - que se julga ser a sua forma primitiva;
MBOITATÁ - influxo de "mboi", cobra;
BOITATÁ - também influxo de "mboi", cobra;
BOITATÁ - influxo de boi, palavra portuguesa;
MBOYTATÁ - influxo africano
A forma "mbaetatá" (mbae, coisa) é dada como a mais remota, por nos ter sido apresentada pelo padre Anchieta. A forma "boitatá" é a resultante da influência exercida pela palavra homonímica da língua portuguesa. Em muitos pontos do país o guarani cedeu lugar a ela. Em São Paulo é conhecido pelo termo "bitatatá" e os roceiros de Minas o chamavam de "batatal" e afirmavam que ele morava em uma caverna.
O Boitatá é um mito universal. Na Inglaterra é conhecido como "Jack with a lantern" (Jack com uma lanterna), na Alemanha é "Irlicht" (a luz louca), na França é "Moine des marais" (assombração dos pântanos) e nos países que se fala espanhol é "Luz mala" ou "Víbora de Fuego".
No Rio Grande do Sul, porém, o mito universal, originou uma lenda, o que, aliás, é muito comum, o mito lobisomem, por exemplo já originou dezenas de lendas locais.
Do Boitatá, no Sul, se conhece três versões: a primeira mostra-o com os olhos ferventes. Nas trevas distingue tudo, porém na luz nada vê. Quando as águas tomaram conta da campanha (Dilúvio), alagando caminhos, várzeas e coxilhas, ela foi para o lugar mais alto que encontrou. Tanto furou, que conseguiu fazer um buraco muito fundo e escuro. Recolhe-se neste local e esperou até que as águas baixassem. A necessidade de distinguir nas trevas, a obrigou a arregalar os olhos. Mas ela arregalou tanto..., que elas passaram a brilhar como duas tochas de fogo. São os olhos de Boitatá, assim transformados, que o gaúcho se depara à noite, quando passeia pelos campos.
A segunda versão, corrente entre os estanceiros gaúchos, é que durante a noite ao cavalgar ou viajar à noite, avistam um fogo volante, às vezes em forma de cobra, outras vezes em forma de pássaro, voando na frente do cavaleiro e impedindo-lhe a marcha. Há uma crendice popular que Boitatá se deixa atrair pelo ferro. E, então um meio de se livrar de seu ataque, consiste em desatar o laço e arrastá-lo pela presilha. Ele acompanhará o ferro da argola do laço e ao se passar por um arbusto, ele se desmancha todo. Até que se recomponha, a pessoa tem tempo de fugir.
A terceira versão nos foi transmitida por J. Simões Lopes Neto. Ele nos relata que numa noite muito escura iniciou-se o grande dilúvio. A água cobriu todas as coxilhas, inundou as sangas e arroios, encheu todas as tocas dos animais, inclusive a de uma cobra grande chamada de "boiguaçu" que dormia quieta. Acordando com o frio da água, encheu-se de susto. Saiu para fora e apertada de fome começou a comer só os olhos dos animais que encontrava a sua volta. Como os animais sofrem influência do alimento que comem, a Boiguaçu não escapou a regra, sua pele tornou-se muito fina e ficou luminosa pelos mil olhos que devorou.
Os homens quando voltaram à vê-la, não a reconheceram e pensaram tratar-se ser de uma nova cobra, por causa de seu aspecto deram-lhe o nome de Boitatá, ou seja, cobra de fogo.
Passado certo tempo, a Boitatá morreu de pura fraqueza, porque só os olhos que comeu não a alimentaram o suficiente. Ao decompor-se, a luz que estava presa dentro dela esparramou-se pelos brejos e pode tomar a forma tanto de cobra como de boi. O povo da campanha adverte, ao vê-la deve-se ficar imóvel, de olhos fechados, sem respirar, até que ela resolva ir embora.
Há muitos outros casos e lendas, o povo do País de Gales tinham o seu "Jack com uma lanterna" e atribuem-lhe a intenção de espírito zombeteiro, que ensina o caminho errado aos que se perdem pelos prados. O budismo nipônico admite entre os seus "gakis", o "Shinen-Gaki", que aparece à noite, sob a forma de fogo errante. E justifica historicamente o caso remontado aos celtas, que tinham o "fogo dos Druidas" e à antiguidade clássica, onde encontramos o fogo de Helena.
Na região missioneira, adquiriu Boitatá uma função disciplinadora de castigo entre pessoas que se estimam e consideram. Para conservar o respeito que deve haver entre compadre e comadre e levando em conta a fragilidade humana, existia a lenda de Mboitatá (Víbora de Fogo) que se reduz ao seguinte: se os compadres esquecerem-se do sacramento que os une, não fazerem caso dele, faltando a comadre a seus deveres conjugais com seu compadre, de noite se transformarão os culpados em Mboitatá, ou seja, em grandes serpentes ou pássaros que possuem em vez da cabeça uma chama de fogo. Eles brigarão toda a noite, lançando chamas e queimando-se mutuamente até o final da madrugada, para tornar a fazer tal feito na noite seguinte, assim por séculos e séculos, mesmo depois de mortos.
Segundo a ciência, todas estas lendas surgiram da mera observação de um fenômeno comum que ocorre sempre em há algo ou pessoa em estado adiantado de decomposição. É conhecido pelo nome de fogo-fátuo, inflamações espontâneas emanadas em virtude da enorme quantidade de gases que se desprendem das ossadas dos animais dispersos pelos pampas.
São estes fogos-fátuos desprendidos de lugares pantanosos, de coxilhas onde encontramos animais decompostos, nas estrumadeiras, nos campos de folhagens apodrecidas, os grandes geradores de tais lendas.
Este mito não é exclusivamente aborígine, porque há nas lendas cosmogônicas dos Fans da África a imagem de Mboya, representando na floresta um "acham" errante à procura de Bingo, o filho a quem Nzamé atirara ao precipício. Existe também no Maranhão, um mito mais aproximado do da tribo dos Fans do que do Boitatá. É o que se conhece pelo nome de kuracanga. Quando uma mulher tem sete filhas, a última vira kuracanga, isto é, a cabeça sai do corpo, à noite e, em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação. Há, porém, meio infalível de sustar-se esse horrível fadário, é fazer com que a filha mais velha seja madrinha desta caçula.
Está na natureza de todos nós, seres humanos, projetarmos nossos medos em fantasmas ou em criaturas que circundam nosso universo, nomeando-os e identificando-os. Realmente nada é pior e mais terrificante do que o desconhecido, o invisível, o inominável...
Todo e qualquer tipo de monstro deve nascer para depois ser amordaçado, ou melhor, deve ser reconhecido, pois na verdade, ele faz parte de nós. Essa estranha e terrível faceta de nossa personalidade deve tomar corpo e vida.
"Todos os dragões de nossa vida são talvez princesas que esperam ver-nos belos e corajosos. Todas as coisas terrificantes não são talvez, mais que coisas sem socorro que esperam que nós as socorramos."
SIMBOLISMO
A serpente troca de pele de tempo em tempos. Este ciclo de transformação simboliza viver, morrer e renascer. Na Grécia a serpente é representada como arco-íris. Ela simboliza o poder de cura. Duas serpentes entrelaçadas num bastão de madeira ou metal formam o caduceu, símbolo da paz. A serpente gera o fogo. Essa energia atua no plano material, na paixão, na vitalidade e na procriação. Nos mitos, a serpente é mediadora dos deuses e do conhecimento.
Mensagem: É o momento de transformar pensamento, desejos e encararmos nossos medos para nos integrarmos com o Todo.
Boitatá pode ser considerado um ser feérico que mescla o elemental do fogo com o ar, já que adota a forma de uma luz que serpenteia no céu, atravessando a selva em grande velocidade. Gosta de perseguir as pessoas e assustá-las com seu fogo que não queima. Entretanto, pode trazer perigo para o homem, que ao fitá-lo nos olhos, pode ficar cego.
ARUANÃ, LENDA E RITUAL DE DANÇA
Aruanã, filho de Aruá e primo dos Lendários Arumanás, vivia solitário e triste dentro das fundas águas do imenso Araguai.
Ele era um eterno enamorado da vida terrestre, particularmente da vida do homem.
Um dia, a poderosa Jururá-Açú, deusa das chuvas, do orvalho e irmã de Iara, impelida por sagrado desejo, chamou em meio das águas, os angás, os arumaçás e seus filhos, para irem honrar o poderoso Boto, senhor das águas, na funda Loca onde habitava o deus marinho. Todos os seres das águas do volumoso e imenso Araguaia correram para o fundo do rio, a fim de erguerem suaves preces entre cantos e louvores. Somente Aruanã não conseguiu com a turba e exclamou:
-"Pobre de mim, nas águas nasci, nas águas me criei, contudo já não tenho felicidade!"
Assim falou o valente Aruanã e colocando a cabeça fora da água, continuou:
-"Ó pai Tupã, se a ti próprio te apraz, a felicidade de um pobre mortal, se propício a mim, faze-me um ser humano e, se algum dia eu tenho que morrer, não me deixe nestas águas, tira-me delas."
Tanto suplicou Aruanã que sua prece acabou sendo ouvida. No aprazível e sagrado monte Ibiapaba, Tupã observou com seus olhos divinos e compadecidos o que estava se passando nas margens do rio Araguaia.
-"Vai tu Polo e satisfaz os desejos de Aruanã."
Obedecendo as ordens do supremo, o deus do vento, aproximou-se do local onde estava o formoso peixe e tomando-o levou-o para o verde campo.
-"És tu, um valente guerreiro, Tupã mais do que dele esperavas!"
Assim disse Polo, o deus dos ventos e desapareceu.
Ó maravilha! Ali estava um homem! Então vieram, por ordem do criador, as belas e divinas Parajás deusas da honra, do bem e da justiça e assim falaram:
-"Aruanã, peixe foste tu; Aruanãs hás de chamar-te daqui para o futuro."
E, foi deste modo que nasceram os valentes Aruanãs e habitaram as margens do lendário rio Juruá. Eram uma tribo poderosa, laboriosa, resistente e reconhecida.
Deles vieram mais tarde os Aruaques, que foram habitar nas Antilhas, os Aruãs que ficaram na ilha de marajó; os Arucuinas, que habitaram nas fronteiras do Brasil com a lendária Guiana Francesa; os Arumás, que foram viver nos altos do rio Parú, os conservadores e canoros Karajás, que foram habitar as margens do Araguaia, onde todos os anos organizam o sagrado Ritual do Aruanã, com suaves danças e divinos cantos, em homenagem ao inesquecível Aruanã, pai da nação Karajá.
O mundo Karajá é habitado por um grande número de personagens mais ou menos fantásticos, os aõni e outros seres que os Karajá distinguem como habitantes do céu (biuludu) da terra (suuludu) e da água (beeludu). Grande parte desses seres, principalmente os celestes, semelhantes aos pássaros que voam ou diversos Ijasó, são "pessoal" do Xiburè, imahãdu, ou "criação dele", ou seja, são seres animados por Xiburé. São formas diferentes que Xiburè assume; mas todas elas são Xiburè.
Grande parte ou a totalidade dos animais valorizados pelos Karajá e que existem aqui na terra são pertencentes, ou parte dos ijasò que vivem nas profundezas.
RITUAL DO ARUANÃ
Os Karajá vivem no Brasil central, nas margens do rio Araguaia, o Berohokã - que significa a água grande, e é neste rio que está a sua mais importante fonte de subsistência. A vida cultural dos Karajá está também estreitamente ligada ao Berohokã. Os acontecimentos do cotidiano, assim como o período de plantação, colheita e caça, como também as festas e os rituais sagrados, acompanham os períodos das estações de chuva e seca, isto é, da vazante e das cheias do rio Araguaia. Em princípio, as datas dos eventos são marcadas pelo Xamã, pois os índios dizem que só ele é capaz de enxergar e entender as mensagens dos seres sobrenaturais, seus ancestrais que vivem no fundo do rio.
A estrutura ritual dos Karajá tem dois grandes rituais como referências: o rito de iniciação masculina, o Hetohoky, e a Festa de Aruanã, que apresentam ciclos anuais, baseando-se na subida e descida do rio Araguaia.
Durante a encenação do ritual de dança, os Aruanã transmitem, cantando, as mensagens dos seres sobrenaturais que vivem debaixo da água do rio Araguaia. Os dançarinos ficam praticamente imperceptíveis; vestem-se de palha de buriti, cobrindo a cabeça até abaixo dos joelhos, mas se mantêm com os braços de fora. As palhas são colocadas formando dois grandes saiotes. Um deles, amarrado na cintura e o outro, preso em cima da cabeça. Na parte superior da cabeça é montado um adereço no formato de cartucho cilíndrico completando-se com penachos. Esses cilindros são decorados com desenhos simétricos coloridos que inicialmente eram feitos de plumagem, mas hoje são realizados com pedaços de pano ou papel grosso colorido. As máscaras também fazem parte das vestimentas. Este assunto é envolvido em mistérios, cujas informações os índios passam com muitas reservas.
As dançarinas usam uma tanga feita da entrecasca da madeira de adehyre, e enrolam nos braços, tornozelos e joelhos enfeites confeccionados de algodão tingido de urucu. O enfeite dos joelhos é um pouco mais largo e tem alguns fios pendurados. No rosto e algumas áreas bem definidas do corpo desenham motivos geométricos, sendo que as mais jovens se adornam com colares confeccionados com miçanga coloridas.
ENCENAÇÃO
Os Aruanã começam o Ritual de Dança saindo da Casa dos Homens. Depois passam a cantar e dançar cada música durante três voltas, percorrendo a estrada entre o pátio masculino e o feminino. Na segunda volta duas dançarinas saem andando do pátio feminino, indo se encontrar com os Aruanã no meio da estrada. Colocam-se à sua frente e, juntos, dançando, retornam ao pátio feminino. Na última volta, isto é, na terceira, os Aruanã param de cantar quando atingem o pátio feminino, e em total silêncio retornam, sem dançar, ao espaço masculino, para então recomeçar a dança com outra música. Considerando também os conteúdos simbólicos e culturais dos Karajá foi possível chegar à imagem do princípio, isto é, à estrutura da coreografia da dança, como uma representação simbólica do universo Karajá: os três mundos, o do fundo das águas, onde vivem os Aruanã, o do meio, onde vivem os humanos Karajá e o mundo do céu.
Os cantos apresentam sempre dois temas, que os Karajá chamam de primeira e segunda música. À primeira, denominam "Iumy", (corpo), e à segunda, "Ito ou Iòwòna", (subida). Cantam primeiro três vezes o tema A, depois o tema B uma, duas ou três vezes, isto sem sair do espaço masculino. Quando começam a dançar pela estrada retornam ao tema A, cantando até alcançar o meio da estrada. Aí então voltam a cantar o tema B, que também podem cantar uma, duas, ou três vezes, conforme a disposição da permanência neste espaço. Ao retornarem à dança prosseguem pela estrada, com o tema A, que vão cantando até atingir o pátio feminino, onde passam a cantar o tema B. E assim sucessivamente, até completarem três voltas, que fazem durante todo o percurso de cada música. Porém, na última volta, ainda no espaço feminino, depois de cantarem o tema B com suas devidas repetições retornam sempre ao tema A para finalizar. Assim sendo, de certa maneira o tema A está associado ao gênero masculino, assim como o tema B ao feminino.
Como se vê, esta representação estética obedece a uma ordenação, e expõe características que priorizam certos elementos simétricos enfatizados por tríades. Esses elementos configuram a seguinte forma:
A 3 vezes (No espaço masculino)B 1,2,ou 3 vezes (Ainda no espaço masculino)A Sucessivamente (Na estrada)B 1,2,ou 3 vezes (No meio da estrada)A Sucessivamente (Na estrada)B 1,2,ou 3 vezes (No espaço feminino)A 3 vezes (No espaço feminino, cantam para retornar à estrada, ou para finalizar).
A IMPORTÂNCIA DO MITO PARA O POVO INDÍGENA:
Segundo Samuel Yriwana Karajá:
"O mito é quando agente está próximo da nossa origem. Quando a gente conhece o nosso mito de origem agente se aproxima da nossa origem. O mito é importante nesse momento que agente está vivendo para a gente não perder a nossa origem porque sem ele agente perderia totalmente a nossa origem. O mito conta a história do nosso povo. Essas explicações nós não encontramos em nenhum outro lugar, é só no mito que encontramos essa explicações. Para nós Karajá, os nossos mitos têm força espiritual, porque no mito encontramos a história do povo Karajá, a história de outros povos, a história dos animais, a história das plantas. Para os Karajá, o mito é uma coisa viva, porque ele conta a história do povo. O mito é muito importante na comunidade porque ele é contado e os Karajá considera como uma realidade porque ele foi contado antigamente. Então a raiz do índio está no mito e se agente não guardar o que vai valer é a lei do branco. As mulheres também contam os mitos e as histórias ".
Concluímos que para os Karajá, o mito é fundamental importância, porque ele conta a história do povo, conta a história de outros povos, dos animais, das plantas. Além disso, o mito tem força espiritual. É através do mito e da celebração de rituais que os Karajá lutam para preservar e revitalizar sua história, sua língua, enfim, suas tradições culturais.
"Olhem as árvores acompanhando o movimento da tempestade, elas preservam seus ramos tenros. Se quiserem erguer-se contra o vento, são carregadas, com raiz e tudo."
LENDA DO AGUAPÉ
Inô, o mais velho pajé da nação Guaianás, possuía uma filha tão bela que até mesmo, o próprio Tupã lá do alto do monte Ibiapaba, contemplava com seu poderoso olhar a linda guerreira.
Em certa manhã, passeava a doce virgem feliz, pelos verdes campos, junto as margens do Anhangabaú, rio lendário que atravessava Piratininga. Então o Senhor dos Deuses ficou possuído de grande amor por ela e, sob a forma de um valente guerreiro, principiou a tentá-la com meigas palavras de fascinação:
-"Bela e graciosa jovem, muito feliz será o homem que for teu esposo; bem sei que poucos poderiam possuir-te. Tu mereces ser amada por um Deus!".
A moça ficou encantada com as belas palavras do deus. E ele continuou:
-"Não temas, pois eu sou o Deus dos Deuses, o Senhor dos Céus, dos trovões, dos raios e da terra."
Nesse momento, a jovem foi envolvida pelo medo, caindo em poder do tonante Deus. Desta união nasceu uma linda menina.
Foi tão comentado o nascimento da linda criançinha e neta de Inô, que o poderoso Morubixaba Pojucã, os sagrados Pajés; Ini, Jaça, Ubi, Itaú, Jurumá e Araranguá, os sábios Abarés; Runá, jaguá, Itajaí, Taió, os conselheiros Moacaras; Canicrã, Jarú, Murim e Tubá e, os valentes guerreiros; Jaguarê, Anhá, Taca, Canitú, Inê e Canherú, se reuniram para escolher o nome que a menina deveria ter.
Depois de uma prolongada reunião, o grande Inô, caminhando lentamente até a oca de sua filha disse:
-" O Conselho dos Sábios Guaianás escolheram o nome de tua filhinha, ela se chamará Uberlã".
No alto do monte Ubiapaba, Jací, a poderosa Deusa Lua, mãe da noite e esposa de Tupã, cheia de raiva com a traição do marido, jurou vingar-se, do primeiro homem que amasse Uberlã. A Deusa não poderia despejar todo o seu ódio na inocente criança, pois despertaria a ira de Tupã e sabe-se lá o poderia fazer com ela.
A menina foi crescendo em beleza e graça, além disso, recebeu do seu velho avô, grande instrução e muitos conhecimentos sobre as regras e preceitos que constituem a bela história, a arte e os maravilhosos cantos dos Tupis.
Em uma ensolarada tarde, refrescando-se nas águas límpidas do rio, Uberlá viu pela primeira vez sua beleza no espelho das águas. E, ao contemplar tão linda face, estremeceu de felicidade, pois realmente ela muito mais bela do que sua própria mãe!
Perto dali, passeava o valente pajé Maraí, que exercia o sagrado ofício de sacerdote na Ocara de Tupã. Maraí, que segundo a lenda era poderoso, dominou por algum tempo toda a nação dos Cariris, fez muitos trabalhos de pedra e deixou escritas famosas histórias em língua Tupi e era filho da própria nação Cariri. Fora ele o construtor do famoso açude de pedra para prender as águas do lendário rio Cariri, nas terras de Jatí no Ceará. Fora ainda ele, que um dia, quando passeava pela baixada úmida do Ipiranga, onde os Tupis cultivavam a linda gramínea Chamada capim-de-planta, plantou ali, a bela morácea que, abençoada por Tupã, atravessou os anos e ainda lá permanece, ficando conhecida pelo nome de "Árvore das Almas".
Pois foi nesta tarde, enquanto Uberlã encantada contemplava a imagem de sua beleza refletida nas águas do rio Tietê, perto de uma imensa floresta, que a moça foi vista pelos surpresos olhos de Maraí. Esse apaixonou-se perdidamente ao primeiro olhar e através de muitas súplicas falou de seu amor para a moça. Porém, Uberlá desprezou-lhe as palavras e saiu às pressas, fugindo do desejoso homem.
O pajé sem hesitação começou a perseguir a bela donzela e quando chegaram à margem do fundo Tietê, vendo-se perdida, a neta de Inô, suplicou ajuda da Deusa Guerreira Sumé, sua protetora, pedindo que a imortal se compadecesse dela e metamorfoseasse o seu perseguidor. Nesse momento chegou o pajé e já se apoderava da jovem, quando seu corpo foi se modificando em um verde e formoso aguapé, que é uma linda planta aquática.
Foi desse modo que a Deusa Jací vingou-se do primeiro homem que amou Uberlã, e a bela planta acabou sendo levada pelas águas.
Esta lenda é um pequeno frasco dos múltiplos perfumes da sabedoria indígena!
O aguapé, para quem desconhece, possui a propriedade de promover reduções de nitrogênio e fósforo, sólidos suspensos, carbono dissolvido e coliformes encontrados na água. Por esta razão, é muito utilizado no tratamento do esgoto doméstico, assim como no industrial. Além disso, é uma planta muito usada em paisagismo, por sua grande beleza.
Nossos irmãos índios se beneficiavam dela por ser também, uma planta medicinal. Suas folhas úmidas eram utilizadas contra a febre e insolação. Aproveitadas ainda em infusões, serviam como um poderoso sedativo para dores em geral.
Para os nossos queridos índios, que já estiveram em total harmonia com a natureza, sempre buscavam uma mágica explicação, tanto para o "ser" quanto para o "estar" neste universo. E nosso índio está coberto de razão, pois a magia está no ar, na terra e no coração humano que possui a capacidade de comover-se com a simplicidade.
Muitos são os estudiosos que buscam interpretar os mitos e lendas indígenas, mas poucos são os que realmente conseguiram elucidar o verdadeiro significado do pensamento e da espiritualidade indígena.
A sociedade brasileira encontra-se distanciada da cultura indígena, porque ainda hoje, está presa à preceitos herdados dos europeus. Mas, felizmente, a cultura é adaptativa e permite que todo e qualquer indivíduo se ajuste a seu cenário e adquira meios de expressão criadora.
CRIAR para MUDAR, estas são as palavras chaves. Então, porque não criar um Brasil que atenda as necessidades das culturas variáveis que aqui co-habitam?
Mas as mudanças só acontecerão quando houver a conscientização de que nosso país é nossa gente. E gente, antes de tudo é cultura.
É através desta brecha cultural que o Brasil poderá reencontrar sua cara e seu jeito originalmente índio de ser. Só uma "nova" consciência criará um mundo novo capaz de enterrar a miséria e a exclusão social para todo o sempre.

Fontes:

http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendabartira.html
http://www.rosanevolpatto.trd.br/lendaboitata.html
http://www.rosanevolpatto.trd.br/aruana.htm
http://www.rosanevolpatto.trd.br/aguape.htm

Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
(1902 – 1987)

(...) Pois de tudo fica um pouco.Fica um pouco de teu queixono queixo de tua filha.De teu áspero silêncioum pouco ficou, um pouconos muros zangados,nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudono pires de porcelana,dragão partido, flor branca,ficou um poucode ruga na vossa testa,retrato.
(...) E de tudo fica um pouco.Oh abre os vidros de loçãoe abafao insuportável mau cheiro da memória.
(Resíduo)
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". De novo em Belo Horizonte, começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro.
Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil.
O modernismo não chega a ser dominante nem mesmo nos primeiros livros de Drummond, Alguma poesia (1930) e Brejo das almas (1934), em que o poema-piada e a descontração sintática pareceriam revelar o contrário. A dominante é a individualidade do autor, poeta da ordem e da consolidação, ainda que sempre, e fecundamente, contraditórias. Torturado pelo passado, assombrado com o futuro, ele se detém num presente dilacerado por este e por aquele, testemunha lúcida de si mesmo e do transcurso dos homens, de um ponto de vista melancólico e cético. Mas, enquanto ironiza os costumes e a sociedade, asperamente satírico em seu amargor e desencanto, entrega-se com empenho e requinte construtivo à comunicação estética desse modo de ser e estar.
Vem daí o rigor, que beira a obsessão. O poeta trabalha, sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo. Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e, sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.
Várias obras do poeta foram traduzidas para o espanhol, inglês, francês, italiano, alemão, sueco, tcheco e outras línguas. Drummond foi seguramente, por muitas décadas, o poeta mais influente da literatura brasileira em seu tempo, tendo também publicado diversos livros em prosa.
Em mão contrária traduziu os seguintes autores estrangeiros: Balzac (Les Paysans, 1845; Os camponeses), Choderlos de Laclos (Les Liaisons dangereuses, 1782; As relações perigosas), Marcel Proust (La Fugitive, 1925; A fugitiva), García Lorca (Doña Rosita, la soltera o el lenguaje de las flores, 1935; Dona Rosita, a solteira), François Mauriac (Thérèse Desqueyroux, 1927; Uma gota de veneno) e Molière (Les Fourberies de Scapin, 1677; Artimanhas de Scapino).
Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única, a cronista Maria Julieta Drummond de Andrade.

1902 - Nasce em Itabira do Mato Dentro, Estado de Minas Gerais; nono filho de Carlos de Paula Andrade, fazendeiro, e D. Julieta Augusta Drummond de Andrade.
1910 - Inicia o curso primário no Grupo Escolar Dr. Carvalho Brito, em Itabira (MG).
1916 - Aluno interno no Colégio Arnaldo, da Congregação do Verbo Divino, Belo Horizonte. Conhece Gustavo Capanema e Afonso Arinos de Melo Franco. Por problemas de saúde, interrompe seus estudos no segundo ano. 1917 - Toma aulas particulares com o professor Emílio Magalhães, em Itabira.
1918 - Aluno interno no Colégio Anchieta, da Companhia de Jesus, em Nova Friburgo; é laureado em "certames literários". Seu irmão Altivo publica, no único exemplar do jornalzinho Maio, seu poema em prosa "ONDA".
1919 - Expulso do Colégio Anchieta mesmo depois de ter sido obrigado a retratar-se. Justificativa da expulsão: "insubordinação mental".
1920 - Muda-se com a família para Belo Horizonte.
1921 - Publica seus primeiros trabalhos na seção "Sociais" do Diário de Minas. Conhece Milton Campos, Abgar Renault, Emílio Moura, Alberto Campos, Mário Casassanta, João Alphonsus, Batista Santiago, Aníbal Machado, Pedro Nava, Gabriel Passos, Heitor de Sousa e João Pinheiro Filho, todos freqüentadores do Café Estrela e da Livraria Alves.
1922 - Ganha 50 mil réis de prêmio pelo conto "Joaquim do Telhado" no concurso Novela Mineira. Publica trabalhos nas revistas Todos e Ilustração Brasileira.
1923 - Entra para a Escola de Odontologia e Farmácia de Belo Horizonte.
1924 - Escreve carta a Manuel Bandeira, manifestando-lhe sua admiração. Conhece Blaise Cendrars, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Mário de Andrade no Grande Hotel de Belo Horizonte. Pouco tempo depois inicia a correspondência com Mário de Andrade, que durará até poucos dias antes da morte de Mário.
1925 - Casa-se com a senhorita Dolores Dutra de Morais, a primeira ou segunda mulher a trabalhar num emprego (como contadora numa fábrica de sapatos), em Belo Horizonte. Funda, junto com Emílio Moura e Gregoriano Canedo, A Revista, órgão modernista do qual saem três números. Conclui o curso de Farmácia, mas não exerce a profissão, alegando querer "preservar a saúde dos outros".
1926 - Leciona Geografia e Português no Ginásio Sul-Americano de Itabira. Volta para Belo Horizonte, por iniciativa de Alberto Campos, para trabalhar como redator-chefe do Diário de Minas. Heitor Villa Lobos, sem conhecê-lo, compõe uma seresta sobre o poema "Cantiga de Viúvo".
1927 - Nasce, no dia 22 de março, mas vive apenas meia hora, seu filho Carlos Flávio.
1928 - Nasce, no dia 4 de março, sua filha Maria Julieta, quem se tornará sua grande companheira ao longo da vida. Publica na Revista de Antropofagia de São Paulo, o poema "No meio do caminho", que se torna um dos maiores escândalos literários do Brasil. 39 anos depois publicará "Uma pedra no meio do caminho - Biografia de um poema", coletânea de críticas e matérias resultantes do poema ao longo dos anos. Torna-se auxiliar de redação da Revista do Ensino da Secretaria de Educação.
1929 - Deixa o Diário de Minas para trabalhar no Minas Gerais, órgão oficial do Estado, como auxiliar de redação e pouco depois, redator, sob a direção de Abílio Machado.
1930 - Publica seu primeiro livro, "Alguma Poesia", em edição de 500 exemplares paga pelo autor, sob o selo imaginário "Edições Pindorama", criado por Eduardo Frieiro. Auxiliar de Gabinete do Secretário de Interior Cristiano Machado; passa a oficial de gabinete quando seu amigo Gustavo Capanema substitui Cristiano Machado.
1931 - Falece seu pai, Carlos de Paula Andrade, aos 70 anos.
1933 - Redator de A Tribuna. Acompanha Gustavo Capanema quando este é nomeado Interventor Federal em Minas Gerais.
1934 - Volta a ser redator dos jornais Minas Gerais, Estado de Minas e Diário da Tarde, simultaneamente. Publica "Brejo das Almas" em edição de 200 exemplares, pela cooperativa Os Amigos do Livro. Muda-se, com D. Dolores e Maria Julieta, para o Rio de Janeiro, onde passa a trabalhar como chefe de gabinete de Gustavo Capanema, novo Ministro de Educação e Saúde Pública.
1935 - Responde pelo expediente da Diretoria-Geral e é membro da Comissão de Eficiência do Ministério da Educação.
1937 - Colabora na Revista Acadêmica, de Murilo Miranda.
1940 - Publica "Sentimento do Mundo" em tiragem de 150 exemplares, distribuídos entre os amigos.
1941 - Assina sob o pseudônimo "O Observador Literário", a seção "Conversa Literária" da revista Euclides. Colabora no suplemento literário de A Manhã, dirigido por Múcio Leão e mais tarde por Jorge Lacerda.
1942 - A Livraria José Olympio Editora publica "Poesias". O Editor José Olympio é o primeiro a se interessar pela obra do poeta.
1943 - Traduz e publica a obra Thérèse Desqueyroux, de François Mauriac, sob o título de "Uma gota de veneno”. 1944 - Publica "Confissões de Minas", por iniciativa de Álvaro Lins.
1945 - Publica "A Rosa do Povo" pela José Olympio e a novela "O Gerente". Colabora no suplemento literário do Correio da Manhã e na Folha Carioca. Deixa a chefia de gabinete de Capanema, sem nenhum atrito com este e, a convite de Luís Carlos Prestes, figura como editor do diário comunista, então fundado, Imprensa Popular, junto com Pedro Mota Lima, Álvaro Moreyra, Aydano do Couto Ferraz e Dalcídio Jurandir. Meses depois se afasta do jornal por discordar da orientação do mesmo. É chamado por Rodrigo M.F. de Andrade para trabalhar na Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, onde mais tarde se tornará chefe da Seção de História, na Divisão de Estudos e Tombamento.
1946 - Recebe o Prêmio pelo Conjunto de Obra, da Sociedade Felipe d'Oliveira. Sua filha Maria Julieta publica a novela "A Busca", pela José Olympio.
1947 - É publicada sua tradução de "Les liaisons dangereuses", de Choderlos De Laclos, sob o título de "As relações perigosas".
1948 - Publica "Poesia até agora". Colabora em Política e Letras, de Odylo Costa, filho. Falece Julieta Augusta Drummond de Andrade, sua mãe. Comparece ao enterro em Itabira que acontece ao mesmo tempo em que é executada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro a obra "Poema de Itabira" de Heitor Villa-Lobos, composta sobre seu poema "Viagem na Família".
1949 - Volta a escrever no jornal Minas Gerais. Sua filha Maria Julieta casa-se com o escritor e advogado argentino Manuel Graña Etcheverry e passa a residir em Buenos Aires, onde desempenhará, ao longo de 34 anos, um importante trabalho de divulgação da cultura brasileira.
1950 - Vai a Buenos Aires para o nascimento de seu primeiro neto, Carlos Manuel.
1951 - Publica "Claro Enigma", "Contos de Aprendiz" e "A mesa". É publicado em Madrid o livro "Poemas".
1952 - Publica "Passeios na Ilha" e "Viola de Bolso".
1953 - Exonera-se do cargo de redator do Minas Gerais, ao ser estabilizada sua situação de funcionário da DPHAN. Vai a Buenos Aires para o nascimento de seu neto Luis Mauricio, a quem dedica o poema "A Luis Mauricio infante". É publicado em Buenos Aires o livro "Dos Poemas", com tradução de Manuel Graña Etcheverry, genro do poeta.
1954 - Publica "Fazendeiro do Ar & Poesia até agora". Aparece sua tradução para "Les paysans", de Balzac. Realiza na Rádio Ministério de Educação, em diálogo com Lya Cavalcanti, a série de palestras "Quase memórias". Inicia no Correio da Manhã a série de crônicas "Imagens", mantida até 1969.
1955 - Publica "Viola de Bolso novamente encordoada".
1956 - Publica "50 Poemas escolhidos pelo autor". Aparece sua tradução para "Albertine disparue", de Marcel Proust.
1957 - Publica "Fala, amendoeira" e "Ciclo".
1958 - Publica-se em Buenos Aires uma seleção de seus poemas na coleção "Poetas del siglo veinte". É encenada e publicada a sua tradução de "Doña Rosita la soltera" de Federico García Lorca, pela qual recebe o Prêmio Padre Ventura, do Círculo Independente de Críticos Teatrais.
1960 - Nasce seu terceiro neto, Pedro Augusto, em Buenos Aires. A Biblioteca Nacional publica a sua tradução de "Oiseaux-Mouches orthorynques du Brèsil" de Descourtilz. Colabora em Mundo Ilustrado.
1961 - Colabora no programa Quadrante da Rádio Ministério da Educação, instituído por Murilo Miranda. Falece seu irmão Altivo.
1962 - Publica "Lição de coisas", "Antologia Poética" e "A bolsa & a vida". É demolida a casa da Rua Joaquim Nabuco 81, onde viveu 36 anos. Passa a morar em apartamento. São publicadas suas traduções de "L'Oiseau bleu" de Maurice Maeterlink e de "Les fouberies de Scapin", de Molière, esta última é encenada no Teatro Tablado do Rio de Janeiro. Recebe novamente o Prêmio Padre Ventura. Aposenta-se como Chefe de Seção da DPHAN, após 35 anos de serviço público, recebendo carta de louvor do Ministro da Educação, Oliveira Brito.
1963 - É lançada sua tradução de "Sult" (Fome) de Knut Hamsun. Recebe os Prêmios Fernando Chinaglia, da União Brasileira de Escritores, e Luísa Cláudio de Sousa, do PEN Clube do Brasil, pelo livro "Lição de coisas". Colabora no programa Vozes da Cidade, instituído por Murilo Miranda, na Rádio Roquete Pinto, e inicia o programa Cadeira de Balanço, na Rádio Ministério da Educação. Viaja, com D. Dolores, a Buenos Aires durante as férias.
1964 - Publica a primeira edição da "Obra Completa", pela Aguilar.
1965 - São lançados os livros "Antologia Poética", em Portugal; "In the middle of the road", nos Estados Unidos; "Poesie", na Alemanha. Publica, em colaboração com Manuel Bandeira, "Rio de Janeiro em prosa & verso". Colabora em Pulso.
1966 - Publica "Cadeira de balanço", e na Suécia é lançado "Naten och rosen".
1967 - Publica "Versiprosa", "Mundo vasto mundo", com tradução de Manuel Graña Etcheverry, em Buenos Aires e publicação de "Fyzika strachu" em Praga.
1968 - Publica "Boitempo & A falta que ama". Membro correspondente da Hispanic Society of America, Estados Unidos.
1969 - Deixa o Correio da Manhã e começa a escrever para o Jornal do Brasil. Publica "Reunião (10 livros de poesia)".
1970 - Publica "Caminhos de João Brandão".
1971 - Publica "Seleta em prosa e verso". Edição de "Poemas" em Cuba.
1972 - Viaja a Buenos Aires com D. Dolores para visitar a filha, Maria Julieta. Publica "O poder ultrajovem". Jornais do Rio, São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre publicam suplementos comemorativos do 70º aniversário do poeta.
1973 - Publica "As impurezas do branco", "Menino Antigo - Boitempo II", "La bolsa y la vida", em Buenos Aires, e "Réunion", em Paris.
1974 - Recebe o Prêmio de Poesia da Associação Paulista de Críticos Literários. Membro honorário da American Association of Teachers of Spanish and Portuguese, Estados Unidos.
1975 - Publica "Amor, Amores". Recebe o Prêmio Nacional Walmap de Literatura e recusa, por motivo de consciência, o Prêmio Brasília de Literatura, da Fundação Cultural do Distrito Federal.
1977 - Publica "A visita", "Discurso de primavera e algumas sombras" e "Os dias lindos". Grava 42 poemas em dois long plays, lançados pela Polygram. Edição búlgara de "UYBETBO BA CHETA" (Sentimento do Mundo). 1978 - Publica "70 historinhas" e "O marginal Clorindo Gato". Edições argentinas de "Amar-amargo" e "El poder ultrajoven".
1979 - Publica "Poesia e Prosa", 5ª edição, revista e atualizada, pela editora Nova Aguilar. Viaja a Buenos Aires por motivo de doença de sua filha Maria Julieta. Publica "Esquecer para lembrar - Boitempo III".
1980 - Recebe os Prêmios Estácio de Sá, de jornalismo, e Morgado Mateus (Portugal), de poesia. Edição limitada de "A paixão medida". Noite de autógrafos na Livraria José Olympio Editora para o lançamento conjunto da edição comercial de "A paixão medida" e "Um buquê de Alcachofras", de Maria Julieta Drummond de Andrade; o poeta e sua filha autografam juntos na Casa José Olympio. Edição de "En rost at folket", Suécia. Edição de "The minus sign", Estados Unidos. Edição de "Gedichten" Poemas, Holanda.
1981 - Publica "Contos Plausíveis" e "O pipoqueiro da esquina". Edição inglesa de "The minus sign".
1982 - Ano do 80º aniversário do poeta. São realizadas exposições comemorativas na Biblioteca Nacional e na Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. Os principais jornais do Brasil publicam suplementos comemorando a data. Recebe o título de Doutor honoris causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Edição mexicana de "Poemas". A cidade do Rio de Janeiro festeja a data com cartazes de afeto ao poeta. Publica "A lição do amigo - Cartas de Mário de Andrade a Carlos Drummond de Andrade", com notas do destinatário. Publicação de "Carmina drummondiana", poemas de Drummond traduzidos ao latim por Silva Bélkior.
1983 - Declina do troféu Juca Pato. Publica "Nova Reunião (19 livros de poesia)", último livro do poeta publicado, em vida, pela Casa José Olympio.
1984 - Despede-se da casa do velho amigo José Olympio e assina contrato com a Editora Record, que publica sua obra até hoje. Também se despede do Jornal do Brasil, depois de 64 anos de trabalho jornalístico, com a crônica "Ciao". Publica, pela Editora Record, "Boca de Luar" e "Corpo".
1985 - Publica "Amar se aprende amando", "O observador no escritório" (memórias), "História de dois amores" (livro infantil) e "Amor, sinal estranho". Edição de "Frän oxen tid", Suécia.
1986 - Publica "Tempo, vida, poesia". Edição de "Travelling in the family", em New York, pela Random House. Escreve 21 poemas para a edição do centenário de Manuel Bandeira, preparada pela editora Alumbramento, com o título "Bandeira, a vida inteira". Sofre um infarto e é internado durante 12 dias.
1987 - No 31 de janeiro escreve seu último poema, "Elegia a um tucano morto" que passa a integrar "Farewell", último livro organizado pelo poeta. É homenageado pela escola de samba Estação Primeira de Mangueira, com o samba enredo "No reino das palavras", que vence o Carnaval 87. No dia 5 de agosto, depois de 2 meses de internação, falece sua filha Maria Julieta, vítima de câncer. "E assim vai-se indo a família Drummond de Andrade" - comenta o poeta. Seu estado de saúde piora. 12 dias depois falece o poeta, de problemas cardíacos e é enterrado no mesmo túmulo que a filha, no Cemitério São João Batista do Rio de Janeiro. O poeta deixa obras inéditas: "O avesso das coisas" (aforismos), "Moça deitada na grama", "O amor natural" (poemas eróticos), "Viola de bolso III" (Poesia errante), hoje publicados pela Record; "Arte em exposição" (versos sobre obras de arte), "Farewell", além de crônicas, dedicatórias em verso coletadas pelo autor, correspondência e um texto para um espetáculo musical, ainda sem título. Edições de "Moça deitada na grama", "O avesso das coisas" e reedição de "De notícias e não notícias faz-se a crônica" pela Editora Record. Edição de "Crônicas - 1930-1934". Edição de "Un chiaro enigma" e "Sentimento del mondo", Itália. Publicação de "Mundo Grande y otros poemas", na série Los grandes poetas, em Buenos Aires.
1988 - Publicação de "Poesia Errante", livro de poemas inéditos, pela Record.
1989 - Publicação de "Auto-retrato e outras crônicas", edição organizada por Fernando Py. Publicação de "Drummond: frente e verso", edição iconográfica, pela Alumbramento, e de "Álbum para Maria Julieta", edição limitada e fac-similar de caderno com originais manuscritos de vários autores e artistas, compilados pelo poeta para sua filha. A Casa da Moeda homenageia o poeta emitindo uma nota de 50 cruzeiros com seu retrato, versos e uma auto-caricatura.
1990 - O Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) organiza uma exposição comemorativa dos 60 anos da publicação de "Alguma Poesia". Palestras de Manuel Graña Etcheverry, "El erotismo en la poesia de Drummond" no CCBB e de Affonso Romano de Sant'Anna, "Drummond, um gauche no mundo". Encenação teatral de "Mundo, vasto mundo", com Tônia Carrero, o coral Garganta e Paulo Autran, sob a direção deste no Teatro II do CCBB. Encenação de "Crônica Viva", com adaptação de João Brandão e Pedro Drummond, no CCBB. Edição da antologia "Itabira", em Madrid, pela editora Visor. Edição limitada de "Arte em exposição", pela Salamandra. Edição de "Poésie", pela editora Gallimard, França.
1991 - Publicação de "Obra Poética", pela editora Europa-América, em Portugal.
1992 - Edição de "O amor natural", de poemas eróticos, organizada pelo autor, com ilustrações de Milton Dacosta e projeto gráfico de Alexandre Dacosta e Pedro Drummond. Publicação de "Tankar om ordet menneske", Noruega. Edição de "Die liefde natuurlijk" (O amor natural) na Holanda.
1993 - Publicação de "O amor natural", em Portugal, pela editora Europa-América. Prêmio Jabuti pelo melhor livro de poesia do ano, "O amor natural".
1994 - Publicação pela Editora Record de novas edições de "Discurso de primavera" e "Contos plausíveis". No dia 2 de julho falece D. Dolores Morais Drummond de Andrade, viúva do poeta, aos 94 anos.
1995 - Encenação teatral de "No meio do caminho...", crônicas e poemas do poeta com roteiro e adaptação de João Brandão e Pedro Drummond. Lançamento de um selo postal em homenagem ao poeta. Drummond na era digital, publicação de uma pequena antologia em cinco idiomas sob o título de "Alguma Poesia", no World Wide Web , Internet, na data de seu 93º aniversário. Projeto do CD-ROM "CDA-ROM", que visa a publicar, em ambiente interativo e com os recursos da multimídia, os 40 poemas recitados pelo autor, uma iconografia baseada na coleção de fotografias do poeta, entrevistas em vídeo e um curta-metragem.
1996 - Lançamento do livro Farwell, último organizado pelo poeta, no Centro Cultural do Banco do Brasil do Rio de Janeiro, com a apresentação de Joana Fomm e José Mayer. Esse livro é ganhador do Prêmio Jabuti.
1997 - Primeira edição interativa do livro "O Avesso das Coisas".
1998 - Inauguração do Museu de Território Caminhos Dummondianos em Itabira. No dia 31 de outubro é inaugurado o Memorial Carlos Drummond de Andrade, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer, no Pico do Amor da cidade de Itabira. Prêmio in memorian Medalha do Sesquicentenário da Cidade de Itabira.
1999 - I Forum Itabira Século XXI — Centenário Drummond, realizado na cidade de Itabira. Lançamento do CD "Carlos Drummond de Andrade por Paulo Autran", pelo selo Luz da Cidade.
2000 - Inaugurada a Biblioteca Carlos Drummond de Andrade do Colégio Arnaldo de Belo Horizonte. Lançamento do CD "Contos de aprendiz por Leonardo Vieira", pelo selo Luz da Cidade. Estréia no dia 31 de outubro o espetáculo "Jovem Drummond", estrelado por Vinícius de Oliveira, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade e Itabira (Secretaria de Cultura do Município). Lançamento do CD "História de dois amores - contadas por Odete Lara", pela gravadora Luz da Cidade. Encenação pela Comédie Française da peça de Molière Les Fourberies de Scapin, com tradução do biografado, nos teatros Municipal do Rio de Janeiro e Municipal de São Paulo. Lançamento do projeto "O Fazendeiro do Ar", com o "balão Drummond", na Lagoa Rodrigo de Freitas - Rio de Janeiro. II Fórum Itabira Século XXI — Centenário Drummond, realizado em outubro na cidade de Itabira. Homenagem in memoriam Medalha comemorativa dos 70 anos do MEC. Homenagem dos Ex-Alunos da Universidade Federal de Minas Gerais.

BIBLIOGRAFIA
POESIA
- Alguma poesia. 1930.
- Brejo das almas. 1934.
- Sentimento do mundo. 2000.
- Poesias (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José). 1942.
- A rosa do povo. 1945.
- Poesia até agora. (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas). 1948.
- A máquina do mundo (incluído em Claro enigma). 1949 (exemplar único).
- Claro enigma. 1951.
- A mesa (incluído em Claro enigma). 1951 (70 exemplares).
- Viola de bolso. 1952.
- Fazendeiro do ar & Poesia até agora. (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas, Claro enigma, Fazendeiro do ar) 1954.
- Viola de bolso (incluindo Viola de bolso novamente encordoada) 1955.
- Soneto da buquinagem (incluído em Viola de bolso novamente encordoada). 1955 (100 exemplares).
- Ciclo (incluído em A vida passada a limpo e em Poemas). 1957. (96 exemplares).
- Poemas (Alguma poesia, Brejo das Almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas, Claro enigma, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo). 1959.
- Lição de coisas. 1964.
- Obra completa. (Estudo crítico de Emanuel de Moraes, fortuna crítica, cronologia e bibliografia). 1964 (publicada pela mesma editora sob o título Poesia completa e prosa (1973), e sob o título de Poesia e prosa (1979).
- Versiprosa. 1967.José & Outros (José, Novos poemas, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo, 4 Poemas, Viola de bolso II). 1967.- Boitempo & A falta que ama. 1968.
- Nudez (incluído em Poemas). 1979 (50 exemplares).
- Reunião (Alguma poesia, Brejo das almas, Sentimento do mundo, José, A rosa do povo, Novos poemas, Clara enigma, Fazendeiro do ar, A vida passada a limpo, Lição de coisas, 4 Poemas). 1969.
- D. Quixote (Glosas a 21 desenhos de Cândido Portinari). 1972.
- As impurezas do branco. 1973.- Menino antigo (Boitempo II). 1973.
- Minas e Drummond. 1973 (500 exemplares).
- Amor, amores. 1975 (423 exemplares).
A visita (incluído em A paixão medida). 1977 (125 exemplares).
- Discurso de primavera e algumas sombras. 1977.
- O marginal Clorindo Gato (incluído em A paixão medida). 1978.
- Esquecer para lembrar (Boitempo III). 1979.- A paixão medida. 1980. (643 exemplares).- Nova Reunião - 19 livros de poesias. 1983
- O elefante. Coleção Abre-te Sésamo, 1983.
- Caso do vestido. 1983 (adaptado para o teatro por Aderbal Júnior).
- Corpo. 1984.
- Mata Atlântica (texto de Alceo Magnani). 1984.
- Amor, sinal estranho. 1985 (100 exemplares).
- Amar se aprende amando. 1985.
- Pantanal (texto de Alceo Magnani). 1985.
- Boitempo I e II (Reunião de poemas publicados anteriormente nos livros Boitempo, Menino antigo e Esquecer para lembrar). 1986.
- O prazer das imagens (legendas inéditas de Carlos Drummond de Andrade). 1987 (500 exemplares).
- Poesia Errante: derrames líricos, e outros nem tanto ou nada. 1988.
- Arte em Exposição. 1990.
- O Amor Natural. 1992.
- A Vida Passada a Limpo. 1994.
- Rio de Janeiro Liechtenstein: Verlag Kunt und Kultur, 1994.
- Farewell. 1996.-
A Senha do Mundo. 1996; (reeditado em 1998, pela Record, com o título de Verso na Prosa, Prosa no Verso).
- A Cor de Cada um. (reeditado em 1998, pela Record, com o título de Verso na Prosa, Prosa no Verso).
- José & Outros. 2003; (reunião dos livros José, Novos Poemas e Fazendeiro do ar).

CRÔNICA
- Fala, amendoeira. 1957.
- A bolsa & a vida. 1962.
- Cadeira de balanço. 1966.- Caminhos de João Brandão. 1970.
- O poder ultrajovem. 1972.
- De notícias & não notícias faz-se a crônica. 1974.
- Os dias lindos. 1977.
- Crônica das favelas cariocas. edição particular, 1981.- Boca de luar.
- Crônicas de 1930/1934 (Crônicas assinadas com os pseudônimos: Antônio Crispim e Barba Azul). 1984. [Reeditado em 1987 pela Secretaria da Cultura de Minas Gerais].
- Moça deitada na grama. 1987.
- Auto-Retrato e Outras Crônicas. Seleção Fernando Py. 1989.
- O Sorvete e Outras Histórias1993.
- Vó Caiu na Piscina. 1996.
- Quando é dia de futebol. 2002.

CONTO
- O gerente (incluído em Contos de aprendiz). 1945.
- Contos de aprendiz1951.
- 70 historinhas. 1978. (Seleção de textos dos livros de crônicas: Fala amendoeira, A bolsa & a vida, Cadeira de balanço, Caminhos de João Brandão, O poder ultrajovem, De notícias & não notícias faz-se a crônica e Os dias lindos).
- Contos plausíveis 1981.
- O pipoqueiro da esquina (Desenhos de Ziraldo1981.
- História de dois amores (Desenhos de Ziraldo). 1985.
- Criança dagora é fogo. 1996.

ENSAIO
- Confissões de Minas. 1944.
- Passeios na ilha. 1952.
- Minas Gerais (Antologia). R1967. Coleção Brasil, Terra & Alma.
- A Lição do amigo (cartas de Mário de Andrade - introdução e notas de CDA1982.
- Em certa casa da rua Barão de Jaguaribe (ata comemorativa dos 20 anos do Sabadoyle). 1984.
- O observador no escritório (Memória). 1985.
- Tempo, vida, poesia (entrevistas à Rádio MEC). 1986.
- Saudação a Plínio Doyle. 1986.
- O avesso das coisas (Aforismos1987.

ANTOLOGIA
- Neste caderno... In: 10 Histórias de bichos (em colaboração com Godofredo Rangel, Graciliano Ramos, João Alphonsus, Guimarães Rosa, J. Simões Lopes Neto, Luís Jardim, Maria Julieta,Marques Rebelo, Orígenes Lessa, Tristão da Cunha). 1947 (220 exemplares).
- 50 poemas escolhidos pelo autor. 1956.
- Antologia poética. 1962.- Quadrante (em colaboração com Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga). 1962.
- Quadrante II (em colaboração com Cecília Meireles, Dinah Silveira de Queiroz, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga). 1963.
- Antologia poética (seleção e prefácio de Massaud Moisés). 1965. Coleção Poetas de Hoje.
- Vozes da cidade (em colaboração com Cecília Meireles, Genolino Amado, Henrique Pongetti, Maluh de Ouro Preto, Manuel Bandeira e Raquel de Queirós). 1965.
- Rio de Janeiro em prosa & verso (antologia em colaboração com Manuel Bandeira). 1965. Coleção Rio 4 Séculos.
- Uma pedra no meio do caminho (biografia de um poema). Apresentação de Arnaldo Saraiva. 1967.
- Seleta em prosa e verso (estudo e notas de Gilberto Mendonça Teles). 1971.
- Elenco de cronistas modernos (em colaboração com Clarice Lispector, Fernando Sabino, Manuel Bandeira, Paulo Mendes Campos, Raquel de Queirós e Rubem Braga). 1971.
- Atas poemas. Natal na Biblioteca de Plínio Doyle (em colaboração com Alphonsus de Guimaraens Filho, Enrique de Resende, Gilberto Mendonça Teles, Homero Homem, Mário da Silva Brito, Murilo Araújo, Raul Bopp, Waldemar Lopes). 1974.
- Para gostar de ler (em colaboração com Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos e Rubem Braga). 1977-80.
- Para Ana Cecília (em colaboração com João Cabral de Melo Neto, Mauro Mota, Odilo Costa Filho, Ledo lvo, Marcus Accioly e Gilberto Freire). 1978.
- O melhor da poesia brasileira (em colaboração com João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira e Vinícius de Moraes). 1979.
- Carlos Drummond de Andrade. Seleção de textos, notas, estudo biográfico, histórico-crítico e exercícios de Rita de Cássia Barbosa. 1980.
- Literatura comentada. 1981.- Antologia poética. 1982.
- Quatro vozes (em colaboração com Rachel de Queiroz, Cecília Meirelles e Manuel Bandeira). 1984.
- 60 anos de poesia. (organização e apresentação de Arnaldo Saraiva). 1985.
- Quarenta historinhas e cinco poemas (leitura e exercícios para estudantes de Português nos EUA). University of Florida, 1985.
- Bandeira - A vida inteira (textos extraídos da obra de Manuel Bandeira e 21 poemas de Carlos Drummond de Andrade - fotos do Arquivo - Museu de Literatura da Fundação Casa Rui Barbosa). 1986.
- Álbum para Maria Julieta. Coletânea de dedicatórias reunidas por Carlos Drummond de Andrade para sua filha, acompanhado de texto extraído da obra do autor. 1989.
- Obra poética. Portugal: Publicações Europa-América, 1989. Rua da Bahia (em colaboração com Pedro Nava). 1990.
- Setecontos, setencantos (em colaboração com Caio Porfírio Carneiro, Herberto Sales, Ideu Brandão, Miguel Jorge, Moacyr Scliar e Sergio Faraco - organizado por Elias José).
- Carlos Drummond de Andrade (org. de Fernando Py e Pedro Lyra). 1994.
- As palavras que ninguém diz. (Seleção Luzia de Maria). 1997, (Mineiramente Drummond).
- Histórias para o Rei. (Seleção Luzia de Maria). 1997 (Mineiramente Drummond).
- A palavra mágica. (Seleção Luzia de Maria). 1997 (Mineiramente Drummond).
- Os amáveis assaltantes. 1998.

EM OUTRAS LÍNGUAS
Alemão; Búlgaro; Chinês; Dinamarquês; Espanhol; Francês; Holandês; Inglês; Italiano; Latim; Norueguês; Sueco; Tcheco

TRADUÇÕES
- Uma gota de veneno (Thérèse Desqueyroux), de François Mauriac. 1943.
- As relações perigosas (Les Liaisons dangereux), de Choderlos de Laclos. 1947.
- Os camponeses (Les Paysans), de Honoré de Balzac. In: A comédia humana. 1954.
- A fugitiva (Albertine disparue), de Marcel Proust. 1956.
- Dona Rosita, a solteira ou a linguagem das flores (Dona Rosita la soltera o el lenguaje de lãs flores), de Federico García Lorca. 1959.
- Beija-Flores do Brasil (Oiseaux-mouches Orthorynques du Brésil), de Th. Descourtilz. 1960.
- O pássaro azul (L'Oiseau bleu), de Maurice Maeterlinck. 1962.
- Artimanhas de Scapino (Les Fourberies de Scapin), de Molière. 1962.
- Fome (Sult), de Knut Hamsun. 1963.

LIVROS EM BRAILE:
- Boca de luar. São Paulo: Fundação para o Livro do Cego no Brasil, 1985.
- Corpo. São Paulo: Fundação para o Livro do Cego no Brasil, 1990.
- Sentimento do mundo. São Paulo: Fundação Dorina Nowill para Cegos, 2000.

Fontes:

NOGUEIRA JR., Arnaldo. Carlos Drummond de Andrade. Disponível em http://www.releituras.com/drummond_menu.asp

SANTOS, Eberth. MOURA, Josana de. Literatura e Filosofia (Palavra em Ação). 2.ed. Uberlândia: Ed. Claranto, 2004.

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