sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Ficção Científica

Ficção científica é uma forma de ficção desenvolvida no século XIX, que lida principalmente com o impacto da ciência, tanto verdadeira como imaginada, sobre a sociedade ou os indivíduos. O termo é usado, de forma mais geral, para definir qualquer fantasia literária que inclua o fator ciência como componente essencial, e num sentido ainda mais geral, para referenciar qualquer tipo de fantasia literária. Em inglês o termo ficção científica é as vezes abreviado para sci-fi ou SF.

O que é a ficção científica

Este tipo de literatura pode consistir numa cuidadosa e bem informada extrapolação sobre fatos e princípios científicos, ou abranger áreas profundamente rebuscadas, que contrariam definitivamente esses fatos e princípios. Em qualquer dos casos, o ser de forma plausível baseado na ciência é um requisito indispensável, e assim obras precursoras deste gênero, como o romance gótico de Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein, ou o Prometeu Moderno (1818), ou a obra de Robert Louis Stevenson, O Médico e o Monstro (1886) são considerados ficção científica, enquanto que Drácula, de Bram Stoker (1897), não é. Há, evidentemente, muitos casos de obras que se situam na fronteira do gênero, usando a situação no espaço exterior ou tecnologia de aspecto futurista, apenas como decoração para narrativas de aventuras ou de romance, e outros temas dramáticos típicos; um bom exemplo é a série Star Wars (traduzida como Guerra nas Estrelas no Brasil e A Guerra das Estrelas em Portugal e outros países) e muitos filmes de ação produzidos por Hollywood. Os fãs da ficção científica hard vêem estes filmes como exemplos de fantasia, enquanto que o público em geral tende a colocá-los no âmbito da ficção científica.

Origens e precursores

A ficção científica só se tornou possível pela ascensão da ciência moderna, sobretudo pelas revoluções operadas na astronomia e na física. Além da antiquíssima literatura fantástica, que não é considerada para o efeito, o gênero teve precursores notáveis: viagens imaginárias à Lua ou a outros planetas no século XVIII e viagens espaciais no Micromegas, de Voltaire (1752), culturas alienígenas em Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift (1726), e elementos de ficção científica nas histórias de Edgar Allan Poe, Nathaniel Hawthorne e Fitz-James O'Brien, todos do século XIX. O verdadeiro início da ficção científica, contudo, dá-se no final do século XIX com os romances científicos de Júlio Verne, cuja ciência se situava ao nível da invenção, bem como com as novelas, cientificamente orientadas, de crítica social de H. G. Wells

Há outros precursores ilustres e mais antigos. O astrônomo Johannes Kepler (1571 - 1630) escreveu uma história, a que deu o título de Somnium (O Sonho), em que descreve uma viagem até outro planeta. Em 1656, o francês Savinien Cyrano de Bergerac escreveu Histoire Comique des États et Empires de la Lune, que relata também uma viagem até à Lua e a forma como os Selenitas vêem os terrestres.

O desenvolvimento da ficção científica como gênero consciente de si próprio data de 1926, quando Hugo Gernsback, que cunhou a palavra combinada scientifiction (que se poderia traduzir para português como cientificção), fundou a revista Amazing Stories, dedicada exclusivamente a histórias de ficção científica. Publicadas nesta e noutras revistas pulp com um sucesso grande e crescente, tais histórias não eram vistas pelos setores literários como literatura, mas sim como sensacionalismo. Com a chegada, em 1937, de um editor exigente, John W. Campbell, da Astounding Science Fiction (fundada em 1930) e com a publicação de contos e novelas por escritores como Isaac Asimov, Arthur C. Clarke e Robert A. Heinlein, a ficção científica emergiu como uma forma de ficção séria. As aproximações ao gênero por escritores que não se dedicavam exclusivamente à ficção científica, como Aldous Huxley, C. S. Lewis e Kurt Vonnegut, também adicionaram respeitabilidade. Capas de revistas com monstros de olhos esbugalhados e mulheres seminuas preservaram em muitas mentes a imagem de sensacionalismo.

Assistiu-se a um grande incremento na popularidade da ficção científica após a Segunda Guerra Mundial. Alguns trabalhos de ficção científica tornaram-se best-sellers. A crescente sofisticação intelectual do gênero e a ênfase em assuntos psicológicos e sociais mais latos alargaram de forma significativa o apelo da ficção científica junto do público leitor. Nos países anglo-saxônicos tomou-se consciência de ficção científica escrita noutras línguas, em especial na União Soviética e noutros países da Europa de Leste. É agora comum ver-se crítica séria ao gênero, e estuda-se ficção científica em instituições de ensino superior de várias partes do mundo (não no Brasil, no entanto), havendo especial interesse nas suas características literárias e na forma como ela se relaciona com a ciência e a sociedade.

Uma das características únicas do gênero é a sua forte comunidade de fãs, da qual muitos autores também fazem parte. Existem grupos locais de fãs um pouco por todo o mundo que fala inglês, e também no Japão, Europa e noutros locais. É freqüente que estes grupos publiquem os seus próprios trabalhos. Existem muitas revistas de fãs (e também algumas profissionais) que se dedicam apenas a informar o fã de ficção científica de todas as vertentes do gênero. Os principais prêmios da ficção científica, os Prêmios Hugo, são atribuídos pelos participantes da convenção anual Worldcon, que é organizada quase exclusivamente por fãs voluntários.

O trabalho dos escritores de ficção científica inclui previsões sobre sociedades futuras na Terra, análises das conseqüências da viagem interestelar e explorações imaginativas de outras formas de vida inteligente e das suas sociedades noutros mundos.

A ficção científica também se tem tornado popular na rádio, na histórias em quadrinhos, na televisão e no cinema.

Ficção científica feminista

Apesar da ficção científica ser um campo majoritariamente composto por homens, desde a década de 70 existe, principalmente nos EUA um crescimento na proporção de mulheres escrevendo dentro desse gênero literário, e além disso, escrevendo FC com uma perspectiva de gênero.

Algumas escritoras/escritos já se tornaram clássicos nessa nova ramificação de ficção científica que se mistura com a crítica feminista, como o The Female Man de Joanna Russ, Herland de Charlotte Gilman Perkins (livro que apesar de ter sido escrito no começo do século XX só foi editado em 1971), Dispossessed da Ursula Le Guin, Kindred da Octavia E. Butler.

Aproveitando-se da tendência à crítica social que a própria ficção científica possui, o que essas mulheres vão fazer é imaginar histórias que sacudam/denunciem/fraturem situações patriarcais. Por isso, muitas vezes, as histórias giram em torno de situações de utopia ou distopia.

A ficção científica feminista orienta-se para o desejo e a esperança de uma situação não-patriarcal, segundo Frances Bartkowski em seu Feminist Utopias:
o espaço imaginado [da ficção utópica feminista] sempre implicou o aqui e agora de sua produção, seja implícita ou explicitamente. Essas ficções utópicas feministas nos contam tanto sobre o que é possível desejar, quanto sobre o que é necessário esperar. Elas são contos que impossibilitam e possibilitam condições de desejo."

Muitas das autoras, como é o caso da francesa Monique Wittig fazem de sua escrita um exercício prático de sua teoria, tentando subverter as categorias de gênero através da escrita. Nesse sentido a ficção científica feminista pode ser entendida como algum tipo de écriture feminine.

Nos EUA muita produção acadêmica tem sido feita a partir desses textos e existe uma comunidade grande de pessoas pensando o feminismo com os olhos da ficção científica. E parece que a utilização do texto literário como ferramenta para crítica e pensamento feministas abre novas possibilidades.


FICÇÃO CIENTÍFICA DO BRASIL

A Ficção Científica (FC) é um gênero literário que jamais atingiu no Brasil a popularidade e o número de publicações de países como Inglaterra e Estados Unidos. Ainda assim, foi e é praticada por diversos autores.

História

Os primeiros textos do gênero no país datam do século XIX, mas considera-se que o primeiro autor especializado foi Jerônymo Monteiro, a partir do segundo quarto do século 20. Nos anos 30, Berilo Neves publicou três livros de contos curtos de ficção científica.

Muitos autores brasileiros clássicos assinaram eventualmente obras que podem ser classificadas como de ficção científica ou algo próximo disso. Um exemplo é Machado de Assis (1839-1908), cuja noveleta O alienista tem alguma coisa a ver com o gênero. Monteiro Lobato, falecido em 1948 (época em que Jerônymo Monteiro se firmava como especialista em FC), produziu todo um universo ficcional infanto-juvenil - O Sítio do Picapau Amarelo - ao qual não faltam elementos de FC, como sugerem mesmo alguns títulos ("A chave do tamanho", "A reforma da natureza", "Viagem ao céu") mas que são basicamente fantasias. Entretanto ele produziu um romance adulto de FC pura, "O choque das raças" (ou "O presidente negro") que porém não goza de boa fama por seus aspectos de racismo e machismo. E outros autores da primeira metade do século XX também incursionaram no gênero, como Menotti del Picchia, Érico Veríssimo e Orígenes Lessa.

Um novo impulso à ficção científica escrita por brasileiros veio nos anos 60 e 70, com uma coleção de livros lançada pelo editor baiano Gumercindo Rocha Dorea ("GRD"), que passou a encomendar trabalhos dentro do gênero a autores já consagrados na literatura mainstream.

Foi nesta, a chamada "Geração GRD" - a partir do livro Eles herdarão a Terra, de Dinah Silveira de Queiroz, - que apresentou um começo de organização de autores brasileiros neste campo. A época viu a publicação de obras de Fausto Cunha, André Carneiro, Guido Wilmar Sassi, Antonio Olinto, Zora Seljan, Clovis Garcia e vários outros, alguns somente em contos isolados, saídos em antologias.

O principal nome revelado por GRD foi o escritor André Carneiro, considerado, ao lado de Bráulio Tavares, um dos melhores prosadores na história da Ficção Científica brasileira. Nos anos 80, o jornalista Jorge Luiz Calife, depois de conquistar fama como um dos inspiradores do romance 2010, de Arthur C. Clarke, lançou uma trilogia própria, Padrões de Contato.

Dentre as razões pelas quais acredita-se que a ficção científica não alcançou espaço entre as massas está a alegada falta de uma cultura em ciências exatas no Brasil.

Atualmente

Atualmente, a Ficção Científica no Brasil aparece de forma mais visível como elemento complementar em telenovelas ("Kubanacan" é um exemplo, assim como as telenovelas da autora Glória Perez), mas uma nova geração de autores, articulada inicialmente em torno de diversos fanzines e posteriormente vista na edição brasileira da revista Isaac Asimov Magazine (publicada entre 1990 e 1993) e, depois, da editora Ano-Luz (1997-2004), além de diversas outras iniciativas, mantém ocupados os editores de fanzines e o pequeno "fandom" literário local. A Ficção Científica brasileira também já atraiu interesse acadêmico, tendo gerado volumes escritos pelo estudioso e autor brasileiro Roberto de Sousa Causo, pelo historiador Francisco Alberto Skorupa, pela brasilianista norte-americana M. Elizabeth Ginway e pelo francês Eric Henriett, que aponta a produção brasileira no subgênero da História Alternativa como a mais original dessa vertente.

Existe uma revista mensal brasileira especializada em ficção científica, chamada Sci-Fi News, que atua há mais de 10 anos no mercado nacional, e cujo conteúdo aborda filmes, seriados estrangeiros, assim como livros e acontecimentos no mercado nacional. Com uma coluna mensal sobre o mercado de literatura, e recorrente publicação de contos inéditos do escritor Renato Azevedo, o veículo propõe o ato da leitura a um público mais acostumado ao estímulo visual da TV e da Internet.

A Sci-Fi News teve uma "filha", a Sci-Fi Contos com contos e noveletas inéditos e inspirados por séries e universos conhecidos, porém a iniciativa foi cancelada em sua terceira edição. Revistas como Starlog, Quark e Cine Monstro surgiram ao longo dos últimos anos, mas também deixaram de ser publicadas.

E após 20 anos da sua fundação, continua ativo o CLFC - Clube de Leitores de Ficção Científica, um dos mais longevos expoentes da comunidade independente de fãs do gênero. Com cerca de 500 membros registrados, o CLFC publica o fanzine Somnium, com trabalhos inéditos de FC, Fantasia e Horror.

Entre os nomes mais atuantes na atual geração encontram-se, além do próprio Causo, Octavio Aragão (organizador e criador do Universo Intempol, iniciativa brasileira de gerar uma "franchise" multimídia, como as estadounidenses "Jornada nas Estrelas" ou "Arquivo X"), Carlos Orsi Martinho, Fábio Fernandes, o premiado romancista e roteirista Max Mallmann e, talvez o mais bem-sucedido autor brasileiro dentro do gênero - com livros publicados no Brasil e Portugal - Gerson Lodi-Ribeiro.

A prova que o gênero está vivo e atuante é o surgimento de outros autores e projetos a partir da virada dos anos 90. Em 1995 O Cineasta então estreante na computação gráfica, Allan Bispo cria o 1o filme de curta metragem brasileiro a usar composição de imagens reais com computação gráfica e 100% finalizado em computador. Hollywood F/X, é uma paródia aos filmes de efeitos hollywoodianos da época. O filme teve grande repercurssão no Animamundi edição de 1997 e 98 no Rio e em S. Paulo. O mineiro Flávio Medeiros publicou o techno-thriller Quintessência. Atuando em outras mídias, o autor paulistano Rynaldo Papoy, com sua experiência de ator, criou o primeiro podcast brasileiro de ficção científica, – que pode ser ouvido no endereço –, o veterano Lodi-Ribeiro foi contratado pela Hoplon Infotainment para construir um universo literário como base para um game interativo chamado TaikoDom e o curta-metragem Céus de Fuligem, produção de Marco Nápoli, busca resgatar as influências do cinema hollywoodiano para nossa realidade. O ano de 2006 começou com o lançamento do romance Space Opera Véu da Verdade, do carioca João Marcelo Beraldo, que mais tarde viria a ser convidado para trabalhar junto à Gerson Lodi-Ribeiro no desenvolvimento do universo ficcional do jogo TaikoDom.

Além de iniciativas de editoras como a Record e Novo Século, o selo Unicórnio Azul, da Editora Mercuryo, retornou às atividades em meados de outubro de 2006 com lançamentos de autores nacionais como Octavio Aragão, com A Mão que Cria, e Gerson Lodi-Ribeiro, com o já clássico Outros Brasis. Ao mesmo tempo, a Novo Século reforçava seu acervo de livros sobre vampiros e de Fantasia; a Devir publicava A Corrida do Rinoceronte, de Roberto de Sousa Causo, e anunciava a republicação de O Jogo do Exterminador, de Orson Scott Card; e a Aleph presenteava o mercado com uma belíssima edição de O Homem do Castelo Alto, de Phillip K. Dick. Esta configuração positiva passou a definir um novo momento promissor para a ficção científica brasileira.
Fonte:

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Como funcionam os jornais (Bob Wilson)

Introdução
Os jornais foram a primeira forma de comunicação de banda larga. Muito antes dos computadores, televisão, rádio, telefones e telégrafo, os jornais eram a maneira mais barata e eficiente de atingir as massas populares com notícias, comentários e anúncios. Os jornais, desde o tempo em que eram apenas uma grande folha de papel impressa à mão, têm sido um meio de comunicação de acesso aleatório, pois os leitores podem passar fácil e rapidamente pelas diferentes seções de um jornal, voltando a elas dias ou semanas depois. Além disso, pelo fato de seu "software" possuir uma linguagem comum, ele é universal e eterno. Por exemplo, um jornal publicado antes da Revolução Americana pode ser lido hoje como foi lido em 1775.

Neste artigo, vamos dar uma olhada nos bastidores de um complexo negócio em crescimento, que é a administração de um jornal, usando o The Herald-Sun (em inglês), de Durham, na Carolina do Norte, como exemplo real. Vamos examinar como as notícias são cobertas e descritas, como chegam ao jornal, como o jornal chega na gráfica e finalmente é distribuído, chegando às bancas e à sua casa. Também daremos uma olhada no jornal como uma empresa e discutiremos como ocorre o equilíbrio entre lucratividade e as funções de prestação de serviço e comunicação na sociedade.

O papel do jornal nos Estados Unidos tem mudado com o passar do tempo?

Embora o jornal de 1775 ainda seja legível, existe uma grande diferença entre ele e seu equivalente moderno. Em 1775, o jornal era publicado sob os caprichos de um governo colonial britânico, com pouca tolerância para a livre expressão de idéias, principalmente idéias políticas radicais. A Primeira Emenda à Constituição (em inglês), parte da Declaração dos Direitos dos Cidadãos Americanos (Bill of Rights) adicionada à Constituição Americana em 1791, proibiu leis que restringissem a liberdade de imprensa. Em uma era de reis e imperadores, isso significou um enorme passo rumo à liberdade individual e uma afronta à autoridade do Estado.

Os princípios e práticas que regem os jornais de hoje (objetividade jornalística, escrita concisa, notícias nacionais e internacionais) surgiram depois da Guerra Civil americana. Esta era a Idade de Ouro dos jornais diários, não somente pelo grande número de jornais então em circulação, mas também pelos lucros que eles geravam, permitindo a magnatas da imprensa como William Randolph Hearst e Joseph Pulitzer (em inglês) viverem em um patamar suntuoso. Nunca antes os jornais haviam exercido tanta influência na política e na cultura americana. Hearst, cujo império, ou melhor, parte dele, ainda existe até os dias de hoje, era tão poderoso que foi responsabilizado (ou culpado) pela explosão da guerra contra a Espanha em 1898.

O crescimento do telejornalismo

Com o crescimento do telejornalismo na década de 60, os jornais se confrontaram com seu primeiro grande concorrente. Hoje, a ABC News (em inglês) declara que mais americanos ficam informados através da ABC do que de qualquer outra fonte - e isso é provavelmente verdade. Os 1600 jornais diários americanos continuam servindo milhões de leitores, mas não são mais o meio de comunicação de massa dominante do país. O que mais se questiona nesse inicio de século é como fazer para sobreviver e progredir na indústria do jornal com a cultura atual mais sintonizada nos meios eletrônicos de comunicação que na tinta de impressão.

Os jornais vão sair de circulação?

Podemos dizer com certeza que os jornais não vão cair no esquecimento, como aconteceu com o Código Morse. Eles são um meio de comunicação portátil e conveniente. Ninguém leva o monitor do computador para a mesa do café da manhã para ler as notícias matinais. Além disso, os jornais têm provado estar dispostos a se renovar para os leitores de hoje, enfatizando bom design, fotos coloridas e histórias detalhadas que relatam ou interpretam acontecimentos atuais.

Pessoas e departamentos diferentes contribuem para um processo que lembra um rio com inúmeros afluentes. Entre eles estão cinco com grande importância para os leitores de um jornal: notícias, editorial, anúncios, produção e distribuição.

O que são notícias e como funcionam?

Curiosamente, para uma publicação denominada jornal, ninguém jamais criou uma definição padrão para o que é uma notícia. Mas o termo tem normalmente uma significação ampla: coisas anormais ( falhas humanas, falhas mecânicas e desastres naturais são freqüentemente "notícia").

Repórteres são os olhos e os ouvidos do jornal. Eles colhem informações de muitas fontes: algumas públicas, como registros na polícia, e outras privadas, como um informante do governo. Às vezes um repórter prefere ser preso do que revelar o nome de uma fonte confidencial. Os jornais orgulhosamente se consideram o Quarto Poder, que expõe o mal comportamento do Legislativo, Executivo e Judiciário.

Alguns repórteres são responsáveis pelos furos de reportagem ou por uma área de cobertura, como tribunais, prefeitura, educação, negócios, medicina e assim por diante. Outros são chamados repórteres gerais, o que significa que ficam de plantão para qualquer tipo de acontecimento, como acidentes, eventos cívicos e histórias interessantes. Dependendo das necessidades de um jornal durante o ciclo diário de notícias, repórteres especializados mudam facilmente do furo de reportagem para notícias gerais (novos repórteres eram chamados de focas, mas o termo não é mais usado).

Nos filmes, os repórteres têm trabalhos emocionantes, agitados e perigosos, vivendo de acordo com a famosa declaração sobre a vida nos jornais: "confortar os aflitos e afligir os confortados". Embora alguns jornalistas já tenham acaabado mortos devido a investigações, o trabalho em um jornal é rotina para a grande maioria dos repórteres. Eles são nossos cronistas da vida diária, filtrando a realidade e trazendo um senso de ordem para um mundo desordenado.

Todos os repórteres atendem, em última instância, a um editor. Dependendo de seu tamanho, um jornal pode ter inúmeros editores, começando com um editor-executivo, responsável pelo setor de notícias. Subordinado ao editor-executivo está o editor-geral, que inspeciona o trabalho diário do setor de notícias. Outros editores das áreas de esportes, fotografia, estadual, nacional, coluna e óbitos, por exemplo, também podem ser subordinados ao editor-geral.

No entanto, o editor mais conhecido - e de alguma forma o mais crucial - é o editor-chefe. Os repórteres trabalham diretamente para este editor, que determina histórias, reforça prazos e é o primeiro a ver os rascunhos dos repórteres no sistema de composição ou na rede de computadores. Estes editores são chamados de gatekeepers (guardião/porteiro), pois controlam quase tudo o que deve ou não entrar na próxima edição do jornal. Normalmente trabalhando sob o estresse das notícias de última hora, suas decisões são traduzidas diretamente no conteúdo do jornal.

Uma vez que o editor metropolitano termina de editar o rascunho de um repórter, a história vai do sistema de composição até outra parte do setor de notícias, a mesa de redação, através da rede de computadores. Aqui, os vice-editores verificam a ortografia e outros erros. Eles também procuram nos artigos tudo aquilo que pode confundir o leitor ou deixar perguntas sem respostas. Se necessário, eles podem verificar fatos na biblioteca do jornal, que mantém uma coleção de livros de referência, microfilmes e cópias online de edições antigas.

A chefe da mesa de redação manda as histórias concluídas para outros editores, que ajustam histórias locais, as manchetes (escritas pelo editor, não pelo repórter!) e as fotos digitais nas páginas. Os jornais fazem cada vez mais este trabalho, chamado de paginação, com computadores pessoais, usando programas disponíveis em qualquer loja de artigos para computador. Microsoft Windows, Word e Quark Express são três programas que, apesar de não serem específicos para produção de jornais, são facilmente adaptados para isso. Antes de vermos o que ocorre com as páginas eletrônicas feitas pela mesa de redação, é útil entendermos como outros setores do jornal contribuem com o ciclo de produção.

O que são os editoriais?

Um jornal publica sua visão sobre fatos atuais, regionais ou nacionais, nos editoriais. O editorial é um texto opinativo não assinado que reflete a posição coletiva da redação do jornal. Editoriais não são notícias, são opiniões baseadas em fatos. Por exemplo, os editoriais podem criticar a atuação de autoridades públicas como o prefeito, o chefe de polícia ou o conselho de alunos local. Por outro lado, podem também elogiar pessoas por suas contribuições. Seja qual for o assunto, jornais esperam que seus editoriais aumentem o nível de discussão na comunidade.

Isto ocorre de duas maneiras que são familiares para o leitor: as cartas ao editor e os artigos de opinião editorial. As cartas estão sempre entre as seções mais lidas de um jornal, pois é onde os leitores expressam suas opiniões. Alguns jornais limitam as cartas a um determinado número de palavras, 150, 250 ou até 300, enquanto outros publicam cartas de qualquer tamanho. Os artigos de opinião editorial normalmente têm de 850 a 1000 palavras. Os jornais têm espaço para cartas ao editor e artigos de opinião editorial, disponíveis como parte de sua contribuição para o diálogo.

O editorial é dirigido por um redator que não trabalha no setor de notícias. Pessoas que trabalham em jornais chamam isso de "separação entre a Igreja e o Estado", o que significa que há uma linha que não deve ser ultrapassada entre notícia e opinião. Se esta linha for ultrapassada, o jornal perde seu bem mais valioso, a credibilidade. Por este motivo, os redatores em alguns grandes jornais são subordinados ao editor, que é o diretor-geral da empresa, e não ao editor-executivo. Em outros jornais ele pode ser. Seja qual for o modelo da organização, nenhum dos dois departamentos pode dizer um ao outro o que publicar no jornal.

Por que os anúncios são importantes para um jornal?

O número de páginas é determinado não pelo setor de notícias, mas pela quantidade de anúncios vendidos para aquele dia (além de cadernos especiais devido a grandes eventos ou acontecimentos, como tornados, campeonatos esportivos ou outros acontecimentos importantes). O setor correspondente coloca os anúncios nas páginas antes de serem liberados para o setor de notícias. Como regra, os jornais imprimem um pouco mais de anúncios do que notícias. Os anúncios correspondem a 60% ou mais das páginas semanais, mas na edição de domingo é comum que as notícias tomem mais espaço do que os anúncios. A proporção de anúncios com relação a notícias deve ser alta porque os jornais não conseguem sobreviver sem os ganhos que os anúncios proporcionam. Os editores chamam este espaço deixado de "buraco na notícia". O setor de anúncios e o de notícias não influenciam no conteúdo um do outro.

Três tipos de anúncios dominam os jornais modernos:

anúncios de exibição - com fotos e gráficos, estes anúncios podem custar milhares de dólares, dependendo do tamanho. Estes anúncios, normalmente de lojas de departamento, cinemas e outros negócios, podem ser preparados por uma agência de publicidade ou pelo próprio departamento de anúncios. São chamados de carro-chefe e são responsáveis pela maior parte da renda;

anúncios classificados - normalmente chamados de classificados, são publicados em caracteres miniatura chamados de ágatas. Estes anúncios são de pessoas que querem comprar ou vender produtos, empresas procurando funcionários ou comerciantes oferecendo serviços. Os classificados têm preço acesssível, são populares e eficazes, atingindo milhares de prováveis consumidores;

folhetos - o terceiro tipo de anúncio é feito por grandes cadeias de lojas. Estes folhetos coloridos são colocadoss no meio do jornal para serem distribuídos com a edição de domingo. Os folhetos trazem ganhos menores do que os anúncios carro-chefe. Os jornais cobram para distribuir os folhetos, mas não tem controle sobre seu conteúdo ou qualidade de impressão.

Como é produzido um jornal?

O setor de produção faz o trabalho pesado. Nestes departamentos há especialistas que operam e fazem a manutenção das prensas, fotocompositoras, digitalizadores de imagens e máquinas de impressão fotográfica. Alguns funcionários trabalham no turno diurno, enquanto outros no noturno.
Com início em torno de 1970, os setores de produção de jornal iniciaram um movimento histórico longe da tecnologia de trabalho intenso das máquinas fotocompositoras Linotype e outras "de última geração" usadas em impressão em relevo. Esta foi a mesma técnica usada por Johannes Gutenberg no século XIV: imprimir uma página de papel diretamente em um bloco. A invenção da fotocomposição, baseada em processos fotográficos, acelerou a produção e reduziu os altos custos de despesas gerais da impressão em relevo. Além disso, a fotocomposição funcionava melhor com as novas prensas em offset que estavam começando a ser usadas.

A maioria dos jornais diários mudaram para alguma forma de impressão em offset. Este processo grava a imagem de uma página de jornal em chapas finas de alumínio (páginas com fotos ou letras coloridas precisam de mais chapas). Estas chapas, agora com a imagem positiva revelada a partir do negativo de uma página, vão para outros especialistas para colocação na prensa. Este processo é denominado offset porque as chapas de metal não encostam no papel que entra na máquina. Em vez disso, as chapas transferem a imagem feita com tinta para um rolo de borracha que imprime a página.
Embora as máquinas para impressão de jornais sejam grandes e barulhentas, são delicadas com o papel de imprensa, o papel de que é feito o jornal. Estas máquinas precisam ser delicadas pois o papel de imprensa é caro e deve passar por esses rolos enormes sem serem rasgados. Estas complexas máquinas de três andares, que podem custar mais de US$ 40 milhões, são chamadas de prensas rotativas, pois usam papel contínuo em vez de folhas individuais.

Além de colocar tinta no papel, a prensa também monta as páginas do jornal na seqüência correta. Tudo ocorre tão rápido que uma prensa em offset consegue produzir 70 mil cópias por hora na correia transportadora, que por sua vez manda as cópias para o setor de distribuição que já está aguardando.

Como são distribuídos os jornais?

A responsabilidade de levar o jornal da gráfica até o leitor é do setor de distribuição. Jornais grandes publicam dois, três ou até quatro edições, todas devendo estar prontas para deixar a gráfica em um horário determinado. A primeira edição, às vezes chamada de edição "buldogue", vai até os locais mais distantes da área de circulação. Isto pode significar vários municípios ou até mesmo um estado inteiro. As edições posteriores contêm notícias mais frescas e chegam até áreas menores. A edição final, que vai para impressão depois da meia-noite, contêm as notícias mais recentes, mas cobre uma área geográfica menor, normalmente uma cidade.

Qualquer assinante de um jornal diário sabe que ele é jogado em sua porta ainda de madrugada. Empresas terceirizadas chamadas de transportadoras compram os jornais com desconto e fazem a entrega, usando veículos próprios. Quando jornais vespertinos eram comuns, os veículos usados eram bicicletas. O primeiro emprego de muitos jovens americanos era como entregador de jornais pela vizinhança.

O departamento de circulação determina as rotas que os entregadores devem seguir. Este departamento também é responsável pelas vendas em máquinas de moedas. Ele mantém um registro de faturamento dos assinantes, interrompe e inicia as entregas mediante solicitação e usa mensageiros para entregar jornais que possam ter sido esquecidos.

Devido à circulação do jornal, o número de pessoas que o recebem tem grande impacto nos índices de anúncios. A Audit Bureau of Circulations (em inglês), agência independente de aferição de tiragens, examina e autoriza as quantidades para circulação. Isto assegura ao setor de anúncios e aos anunciantes que a demanda de circulação é válida.

Em 18 horas de trabalho bem coordenado, realizado por vários setores, o que as pessoas que trabalham em jornais chamam de "um rascunho da história" passa por sistemas de computador, máquinas de tratamento de imagens e impressões (que deixariam Gutenberg perplexo) indo até seu destino final, os leitores. Depois das 3h30 da manhã, poucas pessoas ficam na gráfica. Os funcionários de todos os outros setores já foram para casa. As prensas ficam silenciosas, talvez em manutenção pelo restante da noite. O silêncio repentino não dura muito. Em menos de quatro horas, o jornal desperta e começa tudo de novo.

=================================================================

Bob Wilson é autor, escritor e redator de editorial no The Herald-Sun em Durham, N.C. Ele é formado pela University of Missouri School of Journalism e fez mestrado na Duke University. Ele também é autor de "Landing Zones: Southern Veterans Remember Vietnam" (1990, Duke University Press).

Fonte:

O Livro e A Editora

Livro é um volume transportável, composto por, pelo menos, 49 páginas, sem contar as capas, encadernadas, contendo texto manuscrito ou impresso e/ou imagens e que forma uma publicação unitária (ou foi concebido como tal) ou a parte principal de um trabalho literário, científico ou outro.

Em ciência da informação o livro é chamado monografia, para distingui-lo de outros tipos de publicação como revistas, periódicos, teses, tesauros, etc.

O livro é um produto intelectual e, como tal, encerra conhecimento e expressões individuais ou colectivas. Mas também é nos dias de hoje um produto de consumo, um bem e sendo assim a parte final de sua produção é realizada por meios industriais (impressão e distribuição). A tarefa de criar um conteúdo passível de ser transformado em livro é tarefa do autor. Já a produção dos livros, no que concerne a transformar os originais em um produto comercializável, é tarefa do editor, em geral contratado por uma editora. Uma terceira função associada ao livro é a coleta e organização e indexação de coleções de livros, típica do bibliotecário.

História

A história do livro é uma história de inovações técnicas que permitiram a melhora da conservação dos volumes e do acesso à informação, da facilidade em manuseá-lo e produzi-lo. Esta história é intimamente ligada às contingências políticas e econômicas e à história de idéias e religiões.

Antiguidade

Na Antiguidade surge a escrita, anteriormente ao texto a ao livro. A escrita consiste de código capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos, em resumo: palavras. É importante destacar aqui que o meio condiciona o signo, ou seja, a escrita foi em certo sentido orientada por esse tipo de suporte; não se esculpe em papel ou se escreve no mármore.

Os primeiros suportes utilizados para a escrita foram tabuletas de argila ou de pedra. A seguir veio o khartés (volumen para os romanos, forma pela qual ficou mais conhecido), que consistia em um cilindro de papiro, facilmente transportado. O "volumen" era desenrolado conforme ia sendo lido, e o texto era escrito em colunas na maioria das vezes (e não no sentido do eixo cilíndrico, como se acredita). Algumas vezes um mesmo cilindro continha várias obras, sendo chamado então de tomo. O comprimento total de um "volumen" era de c. 6 ou 7 metros, e quando enrolado seu diâmetro chegava a 6 centímetros.

O papiro consiste em uma parte da planta, que era liberada, livrada (latim libere, livre) do restante da planta - daí surge a palavra liber libri, em latim, e posteriormente livro em português. Os fragmentos de papiros mais "recentes" são datados do século II a.C..

Aos poucos o papiro é substituído pelo pergaminho, excerto de couro bovino ou de outros animais. A vantagem do pergaminho é que ele se conserva mais ao longo do tempo. O nome pergaminho deriva de Pérgamo, cidade da Ásia menor onde teria sido inventado e onde era muito usado. O "volumen" também foi substituído pelo códex, que era uma compilação de páginas, não mais um rolo. O códex surgiu entre os gregos como forma de codificar as leis, mas foi aperfeiçoado pelos romanos nos primeiros anos da Era Cristã. O uso do formato códice (ou códice) e do pergaminho era complementar, pois era muito mais fácil costurar códices de pergaminho do que de papiro.

Uma conseqüência fundamental do códice é que ele faz com que se comece a pensar no livro como objeto, identificando definitivamente a obra com o livro.

A consolidação do códex acontece em Roma, como já citado. Em Roma a leitura se dava tanto em público (para a plebe), evento chamado recitatio, como em particular, para os ricos. Além disso, é muito provável que em Roma tenha surgido pela primeira vez a leitura por lazer (voluptas), desvinculada do senso prático que a caracterizara até então. Os livros eram adquiridos em livrarias. Assim aparece também a figura do editor, com Atticus, homem de grande senso mercantil. Algumas obras eram encomendadas pelos governantes, como a Eneida, encomendada a Virgílio por Augusto.

Acredita-se que o sucesso da religião cristã se deve em grande parte ao surgimento do códice, pois a partir de então tornou-se mais fácil distribuir informações em forma escrita.

Idade Média

Na idade Média o livro sofre um pouco, na Europa, as consequências do excessivo fervor religioso, e passa a ser considerado em si como um objecto de salvação. A característica mais marcante da Idade Média é o surgimento do monges copistas, homens dedicados em período integral a reproduzir as obras, herdeiros dos escribas egípcios ou dos libraii romanos. Nos monastérios era conservada a cultura da Antiguidade. Apareceram nessa época os textos didáticos, destinados à formação dos religiosos.

O livro continua sua evolução com o aparecimento de margens e páginas em branco. Também surge a pontuação no texto, bem como o uso de letras maiúsculas. Também aparecem índices, sumários e resumos, e na categoria de gêneros, além do didático, aparecem os florilégios (coletâneas de vários autores), os textos auxiliares e os textos eróticos. Progressivamente aparecem livros em língua vernacular, rompendo com o monopólio do latim na literatura. O papel passa a substituir o pergaminho.

Mas a invenção mais importante, já no limite da Idade Média, foi a impressão, no século XIV. Consistia originalmente da gravação em blocos de madeira do conteúdo de cada página do livro; os blocos eram mergulhados em tinta, e o conteúdo transferido para o papel, produzindo várias cópias. Foi em 1405 surgia na China, por meio de Pi Sheng, a máquina impressora de tipos móveis, mas a técnologia que provocaria uma revolução cultural moderna foi desenvolvida por Johannes Gutenberg.

Idade Moderna

No Ocidente, em 1455, Johannes Gutenberg inventa a imprensa com tipos móveis reutilizáveis, o primeiro livro impresso nessa técnica foi a Bíblia em latim. Houve certa resistência por parte dos copistas, pois a impressora punha em causa a sua ocupação. Mas com a impressora de tipos móveis, o livro popularizou-se definitivamente, tornando-se mais acessível pela redução enorme dos custos da produção em série.

Com o surgimento da imprensa desenvolveu-se a técnica da tipografia, da qual dependia a confiabilidade do texto e a capacidade do mesmo para atingir um grande público. As necessidades do tipo móvel exigiram um novo desenho de letras; caligrafias antigas, como a Carolíngea, estavam destinadas ao ostracismo, pois seu excesso de detalhes e fios delgados era impraticável, tecnicamente.

Uma das figuras mais importantes do início da tipografia é o italiano Aldus Manutius. Ele foi importante no processo de maturidade do projeto tipográfico, o que hoje chamariamos de design gráfico ou editorial. A maturidade desta nova técnica levou, entretanto, cerca de um século.

Portugal

Em Portugal, a imprensa foi introduzida no tempo do rei D. João II. O primeiro livro impresso em território nacional foi o Pentateuco, impresso em Faro em caracteres hebraicos no ano de 1487. Em 1488 foi impresso em Chaves o Sacramental de Clemente Sánchez de Vercial, considerado o primeiro livro impresso em língua portuguesa, e em 1489 e na mesma cidade, o Tratado de Confissom. A impressão entrava em Portugal pelo nordeste transmontano. Só na década de noventa do século XV é que seriam impressos livros em Lisboa, no Porto e em Braga.

Na idade Moderna aparecem livros cada vez mais portáteis, inclusive os livros de bolso. Estes livros passam a trazer novos gêneros: o romance, a novela, os almanaques.

Idade Contemporânea

Cada vez mais aparece a informação não-linear, seja por meio dos jornais, seja da enciclopédia. Novas mídias acabam influenciando e relacionando-se com a indústria editoral: os registros sonoros, a fotografia e o cinema.

O acabamento dos livros sofre grandes avanços, surgindo aquilo que conhecemos como edições de luxo.

Livro eletrônico

De acordo com a definição dada no início deste artigo, o livro deve ser composto de um grupo de páginas encadernadas e ser portável. Entretanto, mesmo não obedecendo a essas características, surgiu em fins do século XX o livro eletrônico, ou seja, o livro num suporte eletrônico, o computador. Ainda é cedo para dizer se o livro eletrônico é um continuador do livro típico ou uma variante, mas como mídia ele vem ganhando espaço, o que de certo modo amedronta os amantes do livro típico - os bibliófilos.

Existem livros eletrônicos disponíveis tanto para computadores de mesa quanto para computadores de mão, os palmtops. Uma dificuldade que o livro eletrônico encontra é que a leitura num suporte de papel é cerca de 1,2 vez mais rápida do que em um suporte eletrônico, mas pesquisas vêm sendo feitas no sentido de melhorar a visualização dos livros eletrônicos.

A produção do livro

A criação do conteúdo de um livro pode ser realizada tanto por um autor sozinho quanto por uma equipe de colaboradores, pesquisadores, co-autores e ilustradores. Tendo o manuscrito terminado, inicia a busca de uma editora que se interesse pela publicação da obra (caso não tenha sido encomendada). O autor oferece ao editor os direitos de reprodução industrial do manuscrito, cabendo a ele a publicação do manuscrito em livro. As suas funções do editor são intelectuais e econômicas: deve selecionar um conteúdo de valor e que seja vendável em quantidade passível de gerar lucros ou mais-valias para a empresa. Modernamente o desinteresse de editores comerciais por obras de valor mas sem garantias de lucros tem sido compensado pela atuação de editoras universitárias (pelo menos no que tange a trabalhos científicos e artísticos).

Cabe ao editor sugerir alterações ao autor, com vista a ajustar o livro ao mercado. Essas alterações podem passar pela editoriação do texto, ou pelo acréscimo de elementos que possam beneficiar a utilização/comercialização do mesmo pelo leitor. Uma editora é composta pelo Departamento editorial, de produção, comercial, de Marketing, assim como vários outros serviços necessários ao funcionamento de uma empresa, podendo variar consoante as funções e serviços exercidos pela empresa. Na mesma trabalham os editores, revisores, gráficos e designers, capistas, etc. Uma editora não é necessariamente o produtor do livro, sendo que quase sempre essa função de reprodução mecânica de um original editado é feita por oficinas gráficas em regime de prestação de serviço. Dessa forma, o trabalho industrial principal de uma editora é confeccionar o modelo de livro-objeto, trabalho que se dá através dos processos de edição e composição gráfica/digital.

A fase de produção do livro é composta pela impressão (posterior à imposição e montagem em cadernos - hoje em dia digital), o alceamento e o encapamento. Podendo ainda existir várias outras funções adicionais de acréscimo de valor ao produto, nomeadamente à capa, com a plastificação, relevos, pigmentação, e outros acabamentos.

Terminada a edição do livro, ele é embalado e distribuido, sendo encaminhado para os diferentes canais de venda, como os livreiros, para daí chegar ao público final.
Pelo exposto acima, talvez devessemos considerar que a categoria livro seja a concepção de uma coleção de registros em algum suporte capaz de transmitir e conservar noções abstratas ou valores concretos. No início de 2007, foi noticiada a invenção e fabricação, na Alemanha, de um papel eletrônico, no qual são escritos livros.

Classificação dos livros

Os livros atualmente podem ser classificados de acordo com seu conteúdo em duas grandes categorias: livros de leitura seqüencial e obras de referência.

Cânones da literatura ocidental

Não é raro que se procure uma indicação de clássicos da literatura. Em 1994, o crítico americano Harold Bloom publicou a obra O Cânone Ocidental, em que discutia a influência dos grandes livros na formação do gosto e da mentalidade do ocidente. Bloom considera a tendência de se abandonar o esforço em se criar cânones culturais nas universidades, para evitar problemas ideológicos, problemática para o futuro da educação.

Editora

Uma editora ou casa editorial é uma organização que coordena a publicação de obras literárias, discográficas e impressos, como jornais e revistas. Em geral as editoras se especializam em um tipo de publicação e área: livros, partituras, livros didáticos, obras de referência, jornais, discos ou outros. Em geral também é a editora que arca com os custos de produção, divulgação e distribuição.

O termo correspondente a "editora" em inglês é publisher (livros) ou record label (discos). Uma das etapas de produção do texto é a edição, e o profissional encarregado também é chamado de editor ou editor de texto.

A editora contrata os profissionais de texto e arte para produção dos livros, custeia a impressão (gráfica), faz a divulgação e contrata uma distribuidora para colocar os livros nas livrarias, e media a interação dos leitores com autores.

Etapas da produção de um livro

As etapas, tarefas e agentes são:

Os autores, que criam o conteúdo e em geral também a versão de texto chamada original do autor.

Os escritores, redatores e pessoal de texto podem desenvolver a idéia do autor e redigir a primeira versão do texto a publicar, como em enciclopédias, biografias, manuais, livros didáticos. Segue-se a revisão do texto original, feita por editores de texto, revisores, copidesques, preparadores e outros que fazem o texto final.

Criação das elementos gráficos, ou imagens, chamadas genericamente de ilustrações: desenhos, fotografias, gráficos, tabelas.

O projeto gráfico (também chamado programação visual e design gráfico) determina como texto e elementos. Tal projeto varia do meramente funcional às criações artísticas, com qualidades também muito variadas.

Segue-se a etapa de paginação e revisão de provas, em que teoricamente o conteúdo não seria alterado mas dependendo do responsável pela revisão são feitas melhorias e/ou piorias.

Após o fechamento do arquivo e seu envio para gráfica, ocorre a impressão.

Divulgação, distribuição e venda

Antes de chegar ao leitor, o livro tem de ser divulgado, o que em geral é feito por jornalistas contratados pela editora, e distribuído. A editora pode fazer a distribuição mas as pequenas e médias costumam contratar distribuidores, que recebem porcentagem do preço de capa do livro (em torno de 20%).

A venda pode ser feita pela editora (por exemplo para o governo brasileiro, o maior comprador de didáticos) ou através de livrarias, que recebem os livros em consignação e os expõem para compradores e leitores.

Fontes:
FEBVRE, Lucien. O aparecimento do livro. São Paulo : Unesp, 1992.
KATZENSTEIN, Ursula. A origem do livro. Sao Paulo : Hucitec, 1986.
SCORTECCI, João. Guia do Profissional do Livro. São Paulo : Scortecci, 2007.
Disponível em

Carlos Heitor Cony (Cronica: Mila)

Era pouco maior do que minha mão: por isso eu precisei das duas para segurá-la, 13 anos atrás. E, como eu não tinha muito jeito, encostei-a ao peito para que ela não caísse, simples apoio nessa primeira vez. Gostei desse calor e acredito que ela também. Dias depois, quando abriu os olhinhos, olhou-me fundamente: escolheu-me para dono. Pior: me aceitou.

Foram 13 anos de chamego e encanto. Dormimos muitas noites juntos, a patinha dela em cima do meu ombro. Tinha medo de vento. O que fazer contra o vento?
Amá-la — foi a resposta e também acredito que ela entendeu isso. Formamos, ela e eu, uma dupla dinâmica contra as ciladas que se armam. E também contra aqueles que não aceitam os que se amam. Quando meu pai morreu, ela se chegou, solidária, encostou sua cabeça em meus joelhos, não exigiu a minha festa, não queria disputar espaço, ser maior do que a minha tristeza.
Tendo-a ao meu lado, eu perdi o medo do mundo e do vento. E ela teve uma ninhada de nove filhotes, escolhi uma de suas filhinhas e nossa dupla ficou mais dupla porque passamos a ser três. E passeávamos pela Lagoa, com a idade ela adquiriu "fumos fidalgos'; como o Dom Casmurro, de Machado de Assis.

Era uma lady, uma rainha de Sabá numa liteira inundada de sol e transportada por súditos imaginários.

No sábado, olhando-me nos olhos, com seus olhinhos cor de mel, bonita como nunca, mais que amada de todas, deixou que eu a beijasse chorando. Talvez ela tenha compreendido. Bem maior do que minha mão, bem maior do que o meu peito, levei-a até o fim.

Eu me considerava um profissional decente. Até semana passada, houvesse o que houvesse, procurava cumprir o dever dentro de minhas limitações. Não foi possível chegar ao gabinete onde, quietinha, deitada a meus pés, esperava que eu acabasse a crônica para ficar com ela.

Até o último momento, olhou para mim, me escolhendo e me aceitando. Levei-a, em meus braços, apoiada em meu peito. Apertei-a com força, sabendo que ela seria maior do que a saudade.

Fonte: jornal "Folha de São Paulo" , edição de 04-06-1995, e livro "Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha", Publifolhas – São Paulo, 2001, pág. 318, organização de Arthur Nestrowski. http://www.releituras.com/i_neves_cony.asp

Carlos Heitor Cony (Cronica: O Suor e a Lágrima)

Fazia calor no Rio, 40 graus e qualquer coisa, quase 41. No dia seguinte, os jornais diriam que fora o mais quente deste verão que inaugura o século e o milênio. Cheguei ao Santos Dumont, o vôo estava atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo menos aqui no Rio, são raros esses engraxates, só existem nos aeroportos e em poucos lugares avulsos.

Sentei-me naquela espécie de cadeira canônica, de coro de abadia pobre, que também pode parecer o trono de um rei desolado de um reino desolante.

O engraxate era gordo e estava com calor — o que me pareceu óbvio. Elogiou meus sapatos, cromo italiano, fabricante ilustre, os Rosseti. Uso-o pouco, em parte para poupá-lo, em parte porque quando posso estou sempre de tênis.

Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido e começou seu ofício. Meio careca, o suor encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aquele paninho que dá brilho final nos sapatos e com ele enxugou o próprio suor, que era abundante.

Com o mesmo pano, executou com maestria aqueles movimentos rápidos em torno da biqueira, mas a todo instante o usava para enxugar-se — caso contrário, o suor inundaria o meu cromo italiano.

E foi assim que a testa e a calva do valente filho do povo ficaram manchadas de graxa e o meu sapato adquiriu um brilho de espelho à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos tão brilhantes, tão dignamente suados.

Na hora de pagar, alegando não ter nota menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me desejando em dobro tudo o que eu viesse a precisar nos restos dos meus dias.

Saí daquela cadeira com um baita sentimento de culpa. Que diabo, meus sapatos não estavam tão sujos assim, por míseros tostões, fizera um filho do povo suar para ganhar seu pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha daquele brilho humano, salgado como lágrima.

Fonte: jornal “Folha de São Paulo”, edição de 19/02/2001, e livro “Figuras do Brasil – 80 autores em 80 anos de Folha”, Publifolhas – São Paulo, 2001, pág. 319, organização
http://www.releituras.com/i_neves_cony.asp

FC, evolução genética e o cinema (André Carneiro)

A tecnologia evolui em progressão geométrica. A aceitação ou adaptação do ser humano às comodidades cibernéticas etc., ocorre pacificamente, quase sem surpresas. Há pouco tempo atrás, “falar sozinho” significava alguém desesperado ou psicótico. O aumento repentino de pessoas nas ruas aparentemente “falando sozinhas” é surpreendente. No Brasil são agora milhões, colidem umas com as outras, com celulares nos ouvidos. .

A maioria confunde o contínuo melhoramento de nosso cenário com a nossa evolução genética, estacionária, pelo menos há trinta mil anos, quando inteligentes “primatas” desenhavam nas paredes de suas cavernas, sem banheiros, cozinhas e portas.

Mesmo entre universitários, alguns duvidam, quase ofendidos, quando se afirma: um bebê daquela época, se pudesse ser transportado para hoje, se desenvolveria em igualdade de condições mentais e físicas, semelhantes a um bebê das nossas maternidades. Um bebê de hoje, fosse criado em uma caverna daquele tempo, não se distinguiria dos outros. Alguns cientistas ousam a hipótese perturbadora: o gênero humano está em decadência, enxerga, ouve e sente menos odores do os nossos ancestrais. Não somos mais fortes, nem mais inteligentes, honestos e bondosos do que eles foram. Nossa violência, até parece ter crescido, se observarmos as manchetes diárias.

É interessante analisar a discrepância entre o valor das obras de Arte e o nosso contínuo aperfeiçoamento instrumental. Uma criação destinada a nos dar mais comodidade ou possibilidades, como qualquer parafernália industrial, tem uma vida eficiente muito curta. Objetos funcionais são logo ultrapassados e substituídos por outros mais aperfeiçoados. Isso não ocorre nas criações artísticas, de qualidades subjetivas, emocionais. Um retrospecto sobre as artes plásticas, música, literatura, mostra como elas mantêm suas qualidades através do tempo. As chamadas obras primas continuam emocionando e atraindo a admiração através dos anos. Citamos o desenho das cavernas. Até hoje seus traços sintéticos, seu valor artístico continuam no mesmo nível dos melhores desenhos contemporâneos.

Bosh, Bach, Leonardo, Picasso, atravessam os séculos, são os chamados clássicos, se mantêm na escala mais alta, sempre. Sade, Shakespeare, Kafka, tratam os temas essenciais e permanentes da humanidade, que permanecem os mesmos.

É dispensável citar outros exemplos. A razão das obras “eternas” serem assim chamadas é simples. O ser humano não evoluiu geneticamente. Com pedras, espadas ou metralhadoras nas mãos, somos os mesmos. A única diferença é que a espada primitiva matava um de cada vez, e as novas armas liquidam dezenas, ou milhares.

O Cinema, inventado dentro da revolução industrial, é a primeira arte nascida como um fruto da moderna ciência tecnológica. Ela manobra uma ilusão ótica para um resultado dinâmico que originou uma nova linguagem de grande poder comunicativo. É bom não olvidar que o ser humano é um animal racional tecnológico. Pinceis, telas para a pintura, caneta, livros na literatura, são instrumentos ou suportes tecnológicos.

O que torna o Cinema um típico filho da máquina é que ele fixa as suas imagens com um aparelho (tradicional ou digital) e necessita de outro aparelho para a obra ser visualizada.

Uma realidade estatística pouco conhecida é que a temática da ficção científica, não por mera coincidência, teve um destaque quantitativo surpreendente desde os primeiros anos da arte cinematográfica. Nos Estados Unidos, de 1897 até 1910 produziram mais de 50 filmes de ficção científica, projeções futuras do ser humano manobrando novas tecnologias. “Metrópolis”, “Frankenstein”, Solaris”, 2001”, as vezes são citados como predecessores, esquecidas as centenas que os precederam. Qualquer obra criativa artística, mesmo as de menor valor estético, refletem uma vivência humana, suas características e ideologias, sejam as chamadas reais, do nosso tempo ou as utópicas, que pretendam adivinhar um mundo futuro. A impropriamente chamada ficção científica, embora possa ser encontrada na poesia, dramaturgia e em outras artes, ocupa na literatura e na produção cinematográfica uma grande porcentagem temática.

O “leit-motiv” principal do cinema de FC é a violência do “homem” ou de um imaginado alienígena. Alguns termos, como “judiar”, provocam justas campanhas, neste caso, da comunidade judaica, por óbvias razões. A palavra “homem” é geralmente usada como sinônimo de “ser humano”. Ignoro se já se fez uma pesquisa ou tese sobre esse fato, analisando um evidente preconceito contra o sexo feminino, embora seja comum mulheres, até eruditas, usarem o Homem como sinônimo de Humanidade. Quando se fala na violência do homem, será que as mulheres estão ou não incluídas? Talvez a sub liminar desimportância das mulheres tenha se acentuado com os filósofos gregos, amplamente citados até hoje e que deixavam as mulheres completamente fora das elocubrações do Homem.

Para não ser dubitativo, posso afirmar que a violência do ser humano até este começo do terceiro milênio, é uma verdade incontestável. Esse fato é até defendido, argumenta-se que a violência, o egoísmo, a ganância movimentam as disputas, as guerras tem sido provocadoras do progresso, e até a tecnologia criada para a fabricação das bombas definitivas tem ajudado o desenvolvimento... do “homem”. As religiões pregam o amor, à solidariedade e outras qualidades adicionais.
Estatisticamente, não parece causar nenhum efeito, protestantes e católicos se assassinam na Irlanda e na Terra Santa, a mortalidade causada pelas crenças é terrível. Não é preciso buscar o velho Freud para explicar inutilmente a violência do ser humano. Vivemos nos esgueirando dentro dessa realidade. Também nós todos sabemos que o ser humano se deleita com a notícia, a descrição sangrenta dos crimes diários. Os protestos furiosos contra os crimes hediondos, não convencem os legisladores a elaborar leis mais eficientes. Assim como uma grande porcentagem dos que bradam contra as drogas ou contra o jogo, são usuários ou freqüentadores das casas lotéricas, lentamente se transformando em bancos ou repartições publicas, pois aceitam pagamentos de impostos etc. Tudo isso, costuma-se dizer, é feito pelo homem. Se a Academia Brasileira de Letras resolvesse oficializar também o termo “mulher” como sinônimo de humanidade, o que aconteceria?

A violência do ser humano poderá ser controlada, haverá meios de convencer homens e mulheres que não basta freqüentar igrejas, ouvir padres ou pastores pregarem o que ninguém segue, século adiante de século?

A resposta (não a solução) é muito fácil.

É preciso que haja mutação genética para o ser humano se transformar em coisa melhor. Baseando-se na ciência, a mutação natural, fruto do ambiente ou de alguma inexplicável reação, pode demorar séculos, ou milênios. Os relógios cósmicos são desanimadores. Nossa galáxia leva 250 milhões de anos para dar uma só volta. Por isso é razoável admitir que a violência ainda vá se repetir com trinetos dos trinetos dos trinetos em anos luz.

Há outra solução? Sim, já se começa a discuti-la, e a possibilidade está provocando um movimento internacional contrário. A ciência, desbravando o DNA, já é capaz de provocar mutações artificiais, embora ainda não consiga fazê-las com um receituário somente favorável. Os religiosos não admitem que se toque ou se manipule embriões humanos, ou se empregue órgãos dos falecidos em experiências laboratoriais, nem querem uma gestação fora do útero. Talvez temam qual seria a reação dos demônios quando o ser humano, geneticamente honesto, não mais ligasse para as tentações.
Se as normas éticas cristãs forem todas naturalmente obedecidas por um ser humano “modificado” cientificamente, as igrejas e intermediários entre Deus e os seres humanos seriam dispensáveis. O que é difícil de prever é qual seria a moral sexual desse (ou dessa) admirável “homem” ou “mulher” nova sem pecado.

Analisando a enorme criação cinematográfica dentro da FC. pode-se observar, praticamente, uma ausência de historias onde humanos ou alienígenas sejam pacíficos. Ou somos atacados e brilhantemente reagimos, como demonstra patrioticamente o cinema americano, ou...a violência dos nossos micróbios resolve a luta.
Se daqui a 50, 500 ou 5.000 anos, planetas civilizados desta galáxia confessarem ter desprezado ou sabotado contatos conosco, baseados na análise dos filmes aqui produzidos, bem... teremos de concordar com essa prudência. Não se pode confiar no homem. E a mulher? Gostaria de saber o que elas pensam.

Fonte:
artigo enviado por e-mail por André Carneiro

A Novela - Fotonovela - Telenovela - Radionovela

NOVELA

Novela em português é uma narração em prosa de menor extensão do que o romance. Se bem que a distinção entre novela e romance não seja clara, pode-se dizer que a novela apresenta, por um lado, uma maior economia de recursos narrativos do que o romance e, por outro, um maior desenvolvimento de enredo e personagens do que o conto, com diversos personagens e linhas narrativas. Etimologicamente, folhetins televisivos de longa duração deveriam ser chamados em português de telerromances, mas o termo origem espanhola já está consagrado: telenovelas. No Brasil, os termos novela e telenovela são sinônimos, mas o primeiro é muito mais usado.

A novela literária

Os estudos de gênero da literatura em língua portuguesa classificam uma narrativa, grosso modo, em Romance, Novela ou Conto. É comum dividirmos romance, novela e conto pelo número de páginas. Em média, a novela tem entre 50 e 100 páginas, ou seja 20 mil a 40 mil palavras. Entretanto, o romance tem diferenças estruturais importantes em relação à novela e ao conto, estes sim gêneros sem diferenciação em determinados países. Os equivalentes de novela em inglês e francês são novella e nouvelle, respectivamente, enquanto romance se diz novel em inglês e roman em francês.

Para Carlos Reis (2003), enquanto no conto a ação manifesta-se como uma ação singular e concentrada, no romance há um paralelo de várias ações e, na novela, uma concatenação de ações individualizadas.

Eikhenbaum, formalista russo, define a diferença entre um e outro em artigo de 1925. Para ele "o romance é sincrético, provém da história, do relato de viagem, enquanto novela é fundamental, provém do conto (Poe) e da anedota (Mark Twain). A novela baseia-se num conflito e tudo mais tende para a conclusão."

Primórdios da novela

As origens da novela enquanto gênero literário remontam aos primórdios do Renascimento, designadamente a Giovanni Boccaccio (1313-1375) e a sua grande obra, o Decameron, ou Decamerão, que rompe com a tradição literária medieval, nomeadamente pelo seu carisma realista. Trata-se de uma compilação de cem novelas contadas por dez pessoas, refugiadas numa casa de campo para escaparem aos horrores da Peste Negra, a qual é objeto de uma vívida descrição no preâmbulo da obra. Ao longo de dez dias (de onde decameron, do grego deca, dez), as sete moças e os três jovens, para ocuparem as longas horas de ócio do seu auto-imposto isolamento, combinam que todos os dias cada um conta uma estória, geralmente subordinada a um tema designado por um deles. Refira-se ainda outra obra, escrita em francês, com o mesmo tipo de estruturação: o Heptameron, da autoria de Margarida de Navarra (1492-1549), rainha consorte de Henrique II de Navarra. Aqui, são dez viajantes que se abrigam de uma violenta tempestade numa abadia. Impossibilitados de comunicarem com o exterior, todos os dias cada um conta uma estória, real ou inventada. Em jeito de epílogo, cada uma é concluída com comentários dos participantes, em ameno diálogo. Era intenção da autora que, à semelhança do Decameron, a obra compreendesse cem estórias, porém a morte impediu-a de realizar o seu intento, não indo além da segunda estória do oitavo dia, num total de 72 relatos. Será também a morte prematura que poderá explicar uma certa pobreza de estilo, contrabalançada porém por uma grande perspicácia psicológica.

Instituição da novela enquanto estilo literário

Mas será apenas nos séculos XVIII e XIX que os escritores fundam a novela enquanto estilo literário, regido por normas e preceitos. Os alemães foram então os mais prolíficos criadores de novelas (em alemão: "Novelle"; plural: "Novellen"). Para estes, a novela é uma narrativa de dimensões indeterminadas – desde algumas páginas até às centenas – que se desenrola em torno de um único evento ou situação, conduzindo a um inesperado momento de transição (Wendepunkt) que tem como corolário um desfecho simultaneamente lógico e surpreendente.

Grandes novelas da literatura mundial
1759: Cândido, ou o otimismo, de Voltaire
1882: O Alienista, de Machado de Assis
1886: A morte de Ivan Ilitch, de Tolstói
1887: Um estudo em vermelho, de Sir Arthur Conan Doyle
1891: Billy Budd, Herman Melville
1898: A volta do parafuso, de Henry James
1903: Tufão, de Joseph Conrad
1915: Metamorfose, de Kafka
1952: O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway
1959: Adeus, Columbus, de Philip Roth
1962: Aura, de Carlos Fuentes
1973: O Exército de um homem só, Moacyr Scliar

FOTONOVELA

Uma fotonovela é uma espécie de novela em formato de história em quadrinhos onde o tipo das imagens predominantes são fotos em vez de desenhos.

É uma forma de arte seqüencial que conjuga texto e imagens com o objetivo de narrar histórias dos mais variados gêneros e estilos. São, em geral, publicadas no formato de revistas, livretos ou de pequenos trechos editados em jornais e revistas.

Assim como as telenovelas, algumas fotonovelas são divididas em capítulos que geralmente tem um desfecho próprio, para dar a sensação de suspense e curiosidade ao leitor que certamente ficará tentado a comprar a continuação.

História da Fotonovela

Considerada um subgênero da literatura, a fotonovela é uma narrativa mais ou menos longa que conjuga texto verbal e fotografia. A história é narrada numa seqüência de quadradinhos (como a banda desenhada) e a cada quadradinho corresponde uma fotografia acompanhada por uma mensagem textual.

A fotonovela teve início na década de 40 em Itália e a sua origem foi motivada pela crescente popularização do cinema e a fama dos atores. A estabilização e o aperfeiçoamento técnico da fotografia, o acesso mais ou menos difícil de um público geral ao cinema e a inexistência ou limitada difusão da televisão são também fatores importantes para o surgimento e sucesso da fotonovela . O neo-realismo em voga na Itália determinou as descrições quotidianas e a temática urbana e realista presente nas fotonovelas. Os iniciadores da fotonovela em Itália foram Stefano Reda e Damiano Damiani que começaram por publicar em revistas adaptações de filmes de sucesso (o chamado cine-romance que adaptou obras como O Conde de Monte Cristo, O Monte dos Vendavais, Ana Karennina, e A Dama das Camélias). Essas primeiras fotonovelas eram protagonizadas por atores populares e as revistas tentavam realçar um determinado tipo de imagem do ator em questão.

Mais tarde a fotonovela torna-se independente do cinema e caracteriza-se pelas suas intrigas sentimentais (a heroína é quase sempre uma rapariga de origem modesta que sonha com um amor cheio de obstáculos e dificuldades, mas no final consegue o seu objetivo), as personagens não demonstram um grande desenvolvimento psicológico e são sempre estereotipadas (os bons são sempre bons e os maus arrependem-se no final ou sofrem as conseqüências), predomina o imaginário exótico, e, mais tarde o “suspense” e o sexo, os temas variam entre problemas afetivos, sociais, a procura de sucesso numa carreira, a justiça na sociedade, a ascensão social, a marginalidade, etc.

O público da fotonovela é um público majoritariamente feminino e culturalmente pouco exigente, com pouca formação e com um baixo poder econômico. As revistas de fotonovela têm como finalidade a transmissão dos princípios éticos, morais e sociais concordantes com o sistema de valores da ideologia dominante através da integração da mulher na sociedade urbana.

Em França a primeira fotonovela data de 1949 e a sua expansão para Luxemburgo e Bélgica acontece logo depois. Em Espanha, a fotonovela surge nos finais dos anos 60 e conta com um público bastante extenso. Mais tarde a fotonovela chega à América latina e África do norte (a maior parte das revistas são traduções dos originais italianos). A fotonovela é um fenômeno que não tem ocorrência no mundo anglo-saxônico. É um produto de literatura de massas tipicamente latino.

A articulação narrativa da fotonovela é semelhante à da banda desenhada: um fotograma que apresenta um plano da ação acompanhado do texto verbal que reproduz o discurso das personagens, funcionando também como legenda ou resumo. O encadeamento da ação é lógico e cronológico, utilizando-se muitas vezes o recurso à elipse. A ação é, muitas das vezes, arrastada ao longo de vários números de uma revista o que aproxima a fotonovela do romance-folhetim do séc. XIX e do folhetim radiofônico. O narrador desempenha um papel importante na fotonovela uma vez que, para além de elucidar o leitor sobre a ação, enuncia também juízos de valor, ilações de teor moral, justificações sobre o comportamento das personagens e controla a ação, retardando-a e alongando-a. A linguagem utilizada nas fotonovelas é, normalmente redundante e expositiva para evitar a possibilidade de dúvidas ou conflito.

Relativamente à fotografia nem sempre as fotonovelas possuem grande qualidade uma vez que a preocupação do consumo rápido e imediato das revistas e a preocupação do lucro fácil sobrepõem-se a uma maior noção artística. Os planos e os enquadramentos utilizados nas fotografias são quase sempre retirados do cinema.

TELENOVELA

Uma telenovela é um folhetim televisivo de longa duração, diferentemente da minissérie, que é de curta duração. A telenovela caracteriza-se por explorar enredos de fácil aceitação pelo público, como histórias de amor e conflitos familiares e sociais. Diferencia-se do teatro e do cinema basicamente por ser um produto cultural rapidamente descartável, além de funcionar como uma espécie de obra aberta, cujo desenvolvimento e desfecho podem ser alterados a qualquer momento, de acordo, principalmente, com os índices de audiência (Ibope), ou seja, segundo o interesse imediato do público na história.

História da telenovela no Brasil

Em 1950 surge a televisão e logo depois, em 1951, a primeira telenovela é transmitida na TV Tupi, Sua vida me pertence. Este novo tipo de narrativa era uma aquisição recente, e não se sabia ainda como explorá-lo, então o passado radiofônico foi usado como apoio. Durante praticamente toda a década de 50, a telenovela evoluiu no interior de uma TV pautada pela improvisação técnica, organizacional e empresarial. Este quadro que irá se transformar na década de 60. A implantação de uma indústria cultural modifica o padrão de relacionamento com a cultura, uma vez que definitivamente ela passa a ser concebida como um investimento comercial, e transforma a mentalidade na forma de gerir o patrimônio.

O advento da telenovela diária está estreitamente ligado a este quadro mais amplo de transformações. Com o surgimento do videoteipe, a primeira telenovela diária, 2-5499 ocupado, do argentino Alberto Migré, é levada ao ar em julho de 1963 pela Excelsior. Ela surge como uma narrativa apropriada para ampliar o público das emissoras e dá certo, embora no início o público tenha tido ainda algumas dificuldades para se acostumar à sua seqüência diária. Ela entrou no cotidiano e já em 1964, tornou-se mania nacional, com o grande sucesso O Direito de Nascer. Entre 1963 e 1969 são levadas ao ar 195 novelas, número superior ao do período de 1951 a 1963, com uma diferença significativa, trata-se agora de estórias diárias, que preenchem a programação durante toda semana.

Programação obrigatória das emissoras, elemento fundamental na distribuição dos horários e dos custos, a telenovela é também responsável pela elevação dos índices de audiência das emissoras e alteração na distribuição da programação. O horário entre 19h e 20h30, antes preenchido prioritariamente com filmes e telejornalismo, passa a ser ocupado quase que inteiramente pelas novelas. Somente em 1965 foram produzidos 48 textos diários. Isto significa, por um lado, o fortalecimento do gênero, mas por outro, demonstra ainda a ausência de um modelo de produção que racionalize a relação entre duração e custo operacional, e permita determinar com alguma precisão qual o número de capítulos que uma estória deve ter para ser rentável.

Uma periodização histórica, de 1963-66, nos permite ter uma idéia do tipo de novelas que marcam os anos 60. O que caracteriza o período é a presença do melodrama. Mas se é verdade que o melodrama era homogêneo, é importante levarmos em consideração que a década de 60 não se caracteriza exclusivamente pela sua presença. Existiram algumas tentativas que buscaram reformular as temáticas e os referenciais de linguagem circunscritos até então ao modelo folhetinesco, como Beto Rockefeller que aparece como um marco no gênero. A contradição que existia entre teleteatro e telenovela nos anos 50, enquanto elemento de distinção entre dois gêneros dramático, se repõe no interior da própria novela.

A partir da virada dos anos 60/70, a telenovela se encontra imersa num processo cultural cada vez mais atravessado pelos influxos modernizadores da sociedade. A época será de busca de padrões de excelência no campo empresarial, de estabilização da programação, e também de qualificação da ficção televisiva. A TV Globo emerge, então, como emissora exemplar e as telenovela passam a enfatizar o uso de linguagem coloquial, cenários urbanos contemporâneos e referências compartilhadas pelos brasileiros. Hoje, a telenovela é responsável pela sustentação econômica e pela maior parte dos lucros das emissoras de televisão. A atração do público pelo universo ficcional e a rentabilidade que ela gera são os principais componentes para o sucesso desse gênero.

Influência da Telenovela na Sociedade Brasileira

A televisão tem uma capacidade peculiar de captar, expressar e atualizar representações através da construção de uma comunidade nacional imaginária. Ela fornece um repertório, anteriormente da alçada privilegiada de certas instituições tradicionais como a escola e a família por meio do qual as pessoas de classes sociais, gerações, sexo e religiões diferentes se posicionam, sendo emblemática do surgimento de um novo espaço público. Ironicamente esse espaço surge sob a égide da vida privada. Não por coincidência, o panorama de maior popularidade e lucratividade da televisão brasileira é a telenovela.

A telenovela exerce um papel de fundamental importância na representação da sociedade brasileira no meio televisivo. A representação é, de uma maneira geral, o ato de tornar algo presente, através de imagens abstratas ou concretas, de conteúdos mentais, de discursos e de outros meios, sem que a ausência material seja superada. No caso da telenovela, a representação diz respeito à capacidade artística de tornar presente, através de formas e figuras, um mundo real ou possível, da experiência direta e concreta ou da fantasia, do delírio ou da intimidade mais idiossincrática.

Abordando temáticas fortes e contundentes, a telenovela se firmou como um dos mais importantes e amplos espaços de problematização do Brasil, das intimidades privadas às políticas públicas. Seus textos sintetizam o público e o privado, o político e o doméstico, a notícia e a ficção, convenções formais do documentário e do melodrama. São vários os exemplos de telenovelas que trataram de forma incisiva temas do âmbito público através da representação da ficção: Verão Vermelho (1960) e Rei do Gado (1996) com a reforma agrária; Gabriela (1975), Saramandaia (1976), O Bem Amado (1973) e Roque Santeiro (1985) com o coronelismo direta ou indiretamente; Vale Tudo (1988), Que rei sou eu (1989), Deus nos Acuda (1992) e Porto dos Milagres (2001) com a corrupção política.

Esse gênero é capaz de propiciar a expansão de dramas privados em termos públicos e de dramas públicos em termos privados. Os modelos de homem e mulher, de relacionamentos, de organização familiar e social são amplamente divulgados e constantemente atualizados pela telenovela para todo o território nacional. Ela estabelece padrões com os quais os telespectadores não necessariamente concordam mas que servem como referência legítima para que eles se posicionem e dá visibilidade a certos assuntos, comportamentos, produtos e não a outros. O vestuário, a decoração, as gírias e as músicas que cada telenovela lança transmitem uma certa noção do que é ser contemporâneo. Personagens usam telefones sem fio, celulares, faxes, computadores, trens, helicópteros, aviões, meios de comunicação e de transporte que atualizam de modo recorrente os padrões vigentes na sociedade.

Nota lingüística

A palavra telenovela é uma palavra que surgiu inicialmente na língua castelhana, baseada nas palavras televisión (televisão) e novela. Novela, ou melhor, novel tem em língua inglesa que predomina uma linguagem mundial o sentido de história longa e enredo complexo, ou seja romance, e é esse o sentido que se lhe dá em telenovela. Em português, as novelas passaram a ser transmitidas em outros países da América Latina, no entanto, novela significa história curta, ou seja, aproximadamente 7 meses, (O equivalente inglês é novelette.) Folhetins de longa duração deveriam ser chamados em português tele-romances. Essa palavra foi usada em Portugal com a telenovela Chuva na Areia de Luís de Stau Monteiro, mas o termo não criou uso. No Brasil, o gênero é chamado simplesmente "novela" (como abreviação da palavra telenovela).

RADIONOVELA

Radionovela é uma novela exibida em rádio. O lugar que atualmente cabe à televisão no entretenimento doméstico era ocupado pelo rádio, incluindo a exibição de novelas. Jerônimo, o Herói do Sertão, é talvez a radionovela nacional mais famosa do Brasil. A versão de O direito de nascer também fez sucesso.

Jerônimo foi adaptada pela TV Tupi como Telenovela, protagonizada pelo ator Francisco Di Franco ao lado de Eva Christian (Aninha),Canarinho (Moleque Saci), Toni Tornado (João Corisco) e Ítalo Rossi (Coronel Saturnino de Bragança, avô de Aninha). A versão televisiva teve três episódios: Laços de Sangue (que contava a origem do herói), Fronteiras do Mal e Sendas do Crime.

História da Radionovela no Brasil

A pequena Rádio São Paulo dá abrigo a Oduvaldo Vianna , que retornando de uma temporada como correspondente do jornal A Noite em Buenos Aires, trazia como grande novidade o enorme sucesso das novelas transmitidas pela Radio El Mundo. Entusiasmado Oduvaldo escreveu algumas novelas e, inutilmente , procurou patrocinadores . Convidado a dirigir a Rádio São Paulo aceitou o cargo e aproveitou para levar ao ar sua radionovela : A predestinada.

O sucesso foi tão rápido e consistente que em poucos meses a emissora situava-se como líder de audiência em São Paulo. Qual a receita deste inesperado sucesso? A radionovela resgatava, de alguma forma, o imaginário popular reproduzindo através dos contos e casos do cotidiano simples e sofrido da brasileira típica da época : a dona de casa. Em se tratando do universo feminino , numa época em que predominava o comportamento submisso , fruto de uma cultura historicamente machista e autoritária , a radionovela - bem como sua irmã mais próxima : a fotonovela - priorizava temáticas próximas ao papel possível em uma sociedade em transição do rural para o urbano , do arcaico para o moderno.

Voltada para um público onde a subserviência e alienação ditam o modo de agir, a radionovela exerceu papel importante ao reforçar os papéis femininos desejáveis, fortemente enraizados nos quatro mitos da cultura cristã - ocidental em relação à mulher: o amor, a paixão, o incesto e a pureza. Estes elementos, fortemente presentes na cultura latina foram assimilados, codificados e transformados de modo a constituir um produto rentável e facilmente palatável, seja para o ouvinte quanto aos interesses financeiros de mercado . Assim , formatado como um produto direcionado à mulher, os temas desenvolvidos priorizavam as questões ligadas à busca do casamento (objetivo final de toda mulher de família) ; mulheres traídas e/ou abandonadas (decorrência do casamento frustrado) ; mães solteiras (casamento não consolidado) rejeitadas pela família e pela sociedade; adultério (casamento em crise pela incapacidade da mulher em completar os anseios do marido) ; preservação da pureza feminina (condição necessária para concretizar o casamento ) e pecados carnais e luxuriosos (o sexo extra-casamento, novamente causado pela incapacidade feminina e reservado exclusivamente ao homem).

Os títulos das novelas , bem como das fotonovelas, filmes mexicanos , argentinos e italianos exibidos em grande quantidade nos anos quarenta e cinqüenta , deixam claro o tom melodramático e a necessidade de fazer chorar e sofrer : Almas desencontradas; Prisioneira do Passado; Sonhos Desfeitos; Mais forte que o amor; Perdida ; Mulher sem alma e - a maior de todas - O Direito de nascer do cubano Félix Cagnet , cujo enredo tinha início com a frase bombástica de Maria Helena (futura mãe de Albertinho Limonta) :

-"Doutor , não posso ter este filho que vai nascer."

Primeiramente na voz de Walter Foster na Rádio Tupi de São Paulo e de Paulo Gracindo na Nacional do Rio de Janeiro o personagem de Albertinho Limonta , pela primeira vez na história da comunicação brasileira , levou a população a um estado de comoção. O mesmo sucederia nas diversa vezes em que foi exibida pela televisão. Registra Ismael Fernandes em Telenovela Brasileira: Memória que o último capítulo em 13 de agosto de 1965 foi seguido de uma festa no Ginásio do Ibirapuera¸ totalmente lotado e numa espécie de neurose coletiva o povo gritava os nomes dos personagens e chorava por Mamãe Dolores, Maria Helena e Albertinho.

Nas emissoras do ABC o gênero consolidou-se na forma de rádio teatro como o Grande Teatro de Emoções apresentado na Rádio Independência de São Bernardo do Campo e que levava ao ar , no final da década de 50, peças produzidas por Guido Fidélis e Oswaldo Russi . A mesma dupla escreveu para a Rádio São Paulo em 1958 a novela Remorso . Pelas ondas da ZYR - 82 , Rádio Emissora ABC , ia ao ar aos sábados o Grande Teatro Philips com textos de Alves Cabral e Edson Lazari.

Segundo Silvia Borelli e Maria Celeste Mira a partir dos anos 60 a radionovela perde espaço para a telenovela , até desaparecer em 1973. Segundo estas pesquisadoras: com a consolidação da telenovela, risos, lágrimas , medos e ansiedades passam a ser visualizados.(...) O melodrama ocupou novos territórios; construiu sua hegemonia original e passou gradativamente a conviver com aventuras , comédias, policiais, até a plena explosão da diversidade ficcional na televisão , a partir dos anos 70 .

FONTES:
http://www.facom.ufba.br/artcult/brasiltelenovela/
http://br.geocities.com/memorialdatv/radio.htm
http://pt.wikipedia.com/
http://www.fcsh.unl.pt/edtl/
http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/portugues/generos_textuais/mitos/fotonovela.htm

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Curiosidades Literárias

  1. O escritor Wolfgang von Goethe escrevia em pé. Ele mantinha em sua casa uma escrivaninha alta.
  2. O escritor Pedro Nova parafusava os móveis de sua casa a fim que ninguém o tirasse do lugar.
  3. Gilberto Freyre nunca manuseou aparelhos eletrônicos. Não sabia ligar sequer uma televisão. Todas as obras foram escritas a bico-de-pena, como o mais extenso de seus livros, Ordem e Progresso, de 703 páginas.
  4. Euclides da Cunha, Superintendente de Obras Públicas de São Paulo, foi engenheiro responsável pela construção de uma ponte em São José do Rio Pardo (SP). A obra demorou três anos para ficar pronta e, alguns meses depois de inaugurada, a ponte simplesmente ruiu. Ele não se deu por vencido e a reconstruiu. Mas, por via das dúvidas, abandonou a carreira de engenheiro.
  5. Machado de Assis, nosso grande escritor, ultrapassou tanto as barreiras sociais bem como físicas. Machado teve uma infância sofrida pela pobreza e ainda era míope, gago e sofria de epilepsia. Enquanto escrevia Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado foi acometido por uma de suas piores crises intestinais, com complicações para sua frágil visão. Os médicos recomendaram três meses de descanso em Petrópolis. Sem poder ler nem redigir, ditou grande parte do romance para a esposa, Carolina.
  6. Graciliano Ramos era ateu convicto, mas tinha uma Bíblia na cabeceira só para apreciar os ensinamentos e os elementos de retórica. Por insistência da sogra, casou na igreja com Maria Augusta, católica fervorosa, mas exigiu que a cerimônia ficasse restrita aos pais do casal. No segundo casamento, com Heloísa, evitou transtornos: casou logo no religioso.
  7. Aluísio de Azevedo tinha o hábito de, antes de escrever seus romances, desenhar e pintar, sobre papelão, as personagens principais mantendo-as em sua mesa de trabalho, enquanto escrevia.
  8. José Lins do Rego era fanático por futebol. Foi diretor do Flamengo, do Rio, e chegou a chefiar a delegação brasileira no Campeonato Sul-Americano, em 1953.
  9. Aos dezessete anos, Carlos Drummond de Andrade foi expulso do Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (RJ), depois de um desentendimento com o professor de português. Imitava com perfeição a assinatura dos outros. Falsificou a do chefe durante anos para lhe poupar trabalho. Ninguém notou. Tinha a mania de picotar papel e tecidos. "Se não fizer isso, saio matando gente pela rua". Estraçalhou uma camisa nova em folha do neto. "Experimentei, ficou apertada, achei que tinha comprado o número errado. Mas não se impressione, amanhã lhe dou outra igualzinha."
  10. Numa das viagens a Portugal, Cecília Meireles marcou um encontro com o poeta Fernando Pessoa no café A Brasileira, em Lisboa. Sentou-se ao meio-dia e esperou em vão até as duas horas da tarde. Decepcionada, voltou para o hotel, onde recebeu um livro autografado pelo autor lusitano. Junto com o exemplar, a explicação para o "furo": Fernando Pessoa tinha lido seu horóscopo pela manhã e concluído que não era um bom dia para o encontro.
  11. Érico Veríssimo era quase tão taciturno quanto o filho Luís Fernando, também escritor. Numa viagem de trem a Cruz Alta, Érico fez uma pergunta que o filho respondeu quatro horas depois, quando chegavam à estação final.
  12. Clarice Lispector era solitária e tinha crises de insônia. Ligava para os amigos e dizia coisas perturbadoras. Imprevisível, era comum ser convidada para jantar e ir embora antes de a comida ser servida.
  13. Monteiro Lobato adorava café com farinha de milho, rapadura e içá torrado (a bolinha traseira da formiga tanajura), além de Biotônico Fontoura. "Para ele, era licor", diverte-se Joyce, a neta do escritor. Também tinha mania de consertar tudo. "Mas para arrumar uma coisa, sempre quebrava outra."
  14. Manuel Bandeira sempre se gabou de um encontro com Machado de Assis, aos dez anos, numa viagem de trem. Puxou conversa: "O senhor gosta de Camões?" Bandeira recitou uma oitava de Os Lusíadas que o mestre não lembrava. Na velhice, confessou: era mentira. Tinha inventado a história para impressionar os amigos.
  15. Fernando Sabino foi escoteiro dos nove aos treze anos. Nadador do Minas Tênis Clube, ganhou o título de campeão mineiro em 1939, no estilo costas.
  16. Guimarães Rosa, médico recém-formado, trabalhou em lugarejos que não constavam no mapa. Cavalgava a noite inteira para atender a pacientes que viviam em longínquas fazendas. As consultas eram pagas com bolo, pudim, galinha e ovos. Sentia-se culpado quando os pacientes morriam. Acabou abandonando a profissão. "Não tinha vocação. Quase desmaiava ao ver sangue", conta Agnes, a filha mais nova.
  17. Mário de Andrade provocava ciúmes no antropólogo Lévi-Strauss porque era muito amigo da mulher dele, Dina. Só depois da morte de Mário, o francês descobriu que se preocupava em vão. O escritor era homossexual.
  18. Vinicius de Moraes, casado com Lila Bosco, no início dos anos 50, morava num minúsculo apartamento em Copacabana. Não tinha geladeira. Para agüentar o calor, chupava uma bala de hortelã e, em seguida, bebia um copo de água para ter sensação refrescante na boca.
  19. José Lins do Rego foi o primeiro a quebrar as regras na ABL, em 1955. Em vez de elogiar o antecessor, como de costume, disse que Ataulfo de Paiva não poderia ter ocupado a cadeira por faltar-lhe vocação.
  20. Rodaram o videoteipe para confirmar a validade de um lance contra o seu Fluminense. Foi unanimidade: pênalti claro. Nelson Rodrigues gritou: "Câmera em mim! Se o videoteipe diz que foi pênalti, pior para ele. O videoteipe é burro! E é só o que tenho a dizer."
  21. Para agradar ao poeta, Chico Buarque "escalou" um jogador do Náutico na Seleção Brasileira, de brincadeirinha. João Cabral de Melo Neto agradeceu a homenagem, com uma ressalva: "Meu time é o América do Recife".
  22. Castro Alves morreu com apenas 24 anos, nasceu em 1847 vindo a falecer em 1871.
  23. J.K Roling (Escritora de Harry Potter) começou a escrever seu primeiro livro Harry Potter e a Pedra Filosofal, em guardanapos em um bar que freqüentava, e ao terminar o livro ficou com uma terrível dúvida: escolher se comprar leite para sua filha ou mandava seu livro pra editora, hoje ela é milionária !
  24. Jorge Amado para autorizar a adaptação de Gabriela para a tevê, impôs que o papel principal fosse dado a Sônia Braga. "Por quê?", perguntavam os jornalistas, Jorge respondeu: "O motivo é simples: nós somos amantes." Ficou todo mundo de boca aberta. O clima ficou mais pesado quando Sônia apareceu. Mas ele se levantou e, muito formal disse: "Muito prazer, encantado." Era piada. Os dois nem se conheciam até então.)

    Fonte: http://www.aliteratura.kit.net/resumo/curiosidades.html

Lygia Fagundes Telles (Conto: O Moço do Saxofone)

Eu era chofer de caminhão e ganhava uma nota alta com um cara que fazia contrabando. Até hoje não entendo direito por que fui parar na pensão da tal madame, uma polaca que quando moça fazia a vida e depois que ficou velha inventou de abrir aquele frege-mosca. Foi o que me contou o James, um tipo que engolia giletes e que foi o meu companheiro de mesa nos dias em que trancei por lá. Tinha os pensionistas e tinha os volantes, uma corja que entrava e saía palitando os dentes, coisa que nunca suportei na minha frente. Teve até uma vez uma dona que mandei andar só porque no nosso primeiro encontro, depois de comer um sanduíche, enfiou um palitão entre os dentes e ficou de boca arreganhada de tal jeito que eu podia ver até o que o palito ia cavucando. Bom, mas eu dizia que no tal frege-mosca eu era volante. A comida, uma bela porcaria e como se não bastasse ter que engolir aquelas lavagens, tinha ainda os malditos anões se enroscando nas pernas da gente. E tinha a música do saxofone.

Não que não gostasse de música, sempre gostei de ouvir tudo quanto é charanga no meu rádio de pilha de noite na estrada, enquanto vou dando conta do recado. Mas aquele saxofone era mesmo de entortar qualquer um. Tocava bem, não discuto. O que me punha doente era o jeito, um jeito assim triste como o diabo, acho que nunca mais vou ouvir ninguém tocar saxofone como aquele cara tocava.
— O que é isso? — eu perguntei ao tipo das giletes. Era o meu primeiro dia de pensão e ainda não sabia de nada. Apontei para o teto que parecia de papelão, tão forte chegava a música até nossa mesa. Quem é que está tocando?
— É o moço do saxofone.

Mastiguei mais devagar. Já tinha ouvido antes saxofone, mas aquele da pensão eu não podia mesmo reconhecer nem aqui nem na China.
— E o quarto dele fica aqui em cima?

James meteu uma batata inteira na boca. Sacudiu a cabeça e abriu mais a boca que fumegava como um vulcão com a batata quente lá no fundo. Soprou um bocado de tempo a fumaça antes de responder.
— Aqui em cima.

Bom camarada esse James. Trabalhava numa feira de diversões, mas como já estivesse ficando velho, queria ver se firmava num negócio de bilhetes. Esperei que ele desse cabo da batata, enquanto ia enchendo meu garfo.
— É uma música desgraçada de triste — fui dizendo.

— A mulher engana ele até com o periquito — respondeu James, passando o miolo de pão no fundo do prato para aproveitar o molho. — O pobre fica o dia inteiro trancado, ensaiando. Não desce nem para comer. Enquanto isso, a cabra se deita com tudo quanto é cristão que aparece.

— Deitou com você?

— É meio magricela para o meu gosto, mas é bonita. E novinha. Então entrei com meu jogo, compreende? Mas já vi que não dou sorte com mulher, torcem logo o nariz quando ficam sabendo que engulo gilete, acho que ficam com medo de se cortar...

Tive vontade de rir também, mas justo nesse instante o saxofone começou a tocar de um jeito abafado, sem fôlego como uma boca querendo gritar, mas com uma mão tapando, os sons espremidos saindo por entre os dedos. Então me lembrei da moça que recolhi uma noite no meu caminhão. Saiu para ter o filho na vila, mas não agüentou e caiu ali mesmo na estrada, rolando feito bicho. Arrumei ela na carroceria e corri como um louco para chegar o quanto antes, apavorado com a idéia do filho nascer no caminho e desandar a uivar que nem a mãe. No fim, para não me aporrinhar mais, ela abafava os gritos na lona, mas juro que seria melhor que abrisse a boca no mundo, aquela coisa de sufocar os gritos já estava me endoidando. Pomba, não desejo ao inimigo aquele quarto de hora.

— Parece gente pedindo socorro — eu disse, enchendo meu copo de cerveja. — Será que ele não tem uma música mais alegre?

James encolheu o ombro.
— Chifre dói.

Nesse primeiro dia fiquei sabendo ainda que o moço do saxofone tocava num bar, voltava só de madrugada. Dormia em quarto separado da mulher.
—- Mas por quê? — perguntei, bebendo mais depressa para acabar logo e me mandar dali. A verdade é que não tinha nada com isso, nunca fui de me meter na vida de ninguém, mas era melhor ouvir o tro-ló-ló do James do que o saxofone.

— Uma mulher como ela tem que ter seu quarto — explicou James, tirando um palito do paliteiro. — E depois, vai ver que ela reclama do saxofone.

— E os outros não reclamam?

— A gente já se acostumou.

Perguntei onde era o reservado e levantei-me antes que James começasse a escarafunchar os dentões que lhe restavam. Quando subi a escada de caracol, dei com um anão que vinha descendo. Um anão, pensei. Assim que saí do reservado dei com ele no corredor, mas agora estava com uma roupa diferente. Mudou de roupa, pensei meio espantado, porque tinha sido rápido demais. E já descia a escada quando ele passou de novo na minha frente, mas já com outra roupa. Fiquei meio tonto. Mas que raio de anão é esse que muda de roupa de dois em dois minutos? Entendi depois, não era um só, mas uma trempe deles, milhares de anões louros e de cabelo repartidinho do lado.
— Pode me dizer de onde vem tanto anão? — perguntei à madame, e ela riu.

— Todos artistas, minha pensão é quase só de artistas...

Fiquei vendo com que cuidado o copeiro começou a empilhar almofadas nas cadeiras para que eles se sentassem. Comida ruim, anão e saxofone. Anão me enche e já tinha resolvido pagar e sumir quando ela apareceu. Veio por detrás, palavra que havia espaço para passar um batalhão, mas ela deu um jeito de esbarrar em mim.

— Licença?

Não precisei perguntar para saber que aquela era a mulher do moço do saxofone. Nessa altura o saxofone já tinha parado. Fiquei olhando. Era magra, sim, mas tinha as ancas redondas e um andar muito bem bolado. O vestido vermelho não podia ser mais curto. Abancou-se sozinha numa mesa e de olhos baixos começou a descascar o pão com a ponta da unha vermelha. De repente riu e apareceu uma covinha no queixo. Pomba, que tive vontade de ir lá, agarrar ela pelo queixo e saber por que estava rindo. Fiquei rindo junto.

— A que horas é a janta? — perguntei para a madame, enquanto pagava.

— Vai das sete às nove. Meus pensionistas fixos costumam comer às oito — avisou ela, dobrando o dinheiro e olhando com um olhar acostumado para a dona de vermelho. — O senhor gostou da comida?

Voltei às oito em ponto. O tal James já mastigava seu bife. Na sala havia ainda um velhote de barbicha, que era professor parece que de mágica e o anão de roupa xadrez. Mas ela não tinha chegado. Animei-me um pouco quando veio um prato de pastéis, tenho loucura por pastéis. James começou a falar então de uma briga no parque de diversões, mas eu estava de olho na porta. Vi quando ela entrou conversando baixinho com um cara de bigode ruivo. Subiram a escada como dois gatos pisando macio. Não demorou nada e o raio do saxofone desandou a tocar.

— Sim senhor — eu disse e James pensou que eu estivesse falando na tal briga.

— O pior é que eu estava de porre, mal pude me defender!

Mordi um pastel que tinha dentro mais fumaça do que outra coisa. Examinei os outros pastéis para descobrir se havia algum com mais recheio.

— Toca bem esse condenado. Quer dizer que ele não vem comer nunca?

James demorou para entender do que eu estava falando. Fez uma careta. Decerto preferia o assunto do parque.

— Come no quarto, vai ver que tem vergonha da gente — resmungou ele, tirando um palito. — Fico com pena, mas às vezes me dá raiva, corno besta. Um outro já tinha acabado com a vida dela!

Agora a música alcançava um agudo tão agudo que me doeu o ouvido. De novo pensei na moça ganindo de dor na carroceria, pedindo ajuda não sei mais para quem.

— Não topo isso, pomba.

— Isso o quê?

Cruzei o talher. A música no máximo, os dois no máximo trancados no quarto e eu ali vendo o calhorda do James palitar os dentes. Tive ganas de atirar no teto o prato de goiabada com queijo e me mandar para longe de toda aquela chateação.

— O café é fresco? — perguntei ao mulatinho que já limpava o oleado da mesa com um pano encardido como a cara dele.

— Feito agora.

Pela cara vi que era mentira.

— Não é preciso, tomo na esquina.

A música parou. Paguei, guardei o troco e olhei reto para aporta, porque tive o pressentimento que ela ia aparecer. E apareceu mesmo com o aninho de gata de telhado, o cabelo solto nas costas e o vestidinho amarelo mais curto ainda do que o vermelho. O tipo de bigode passou em seguida, abotoando o paletó. Cumprimentou a madame, fez ar de quem tinha muito o que fazer e foi para a rua.

— Sim senhor!

— Sim senhor o quê? — perguntou James.

— Quando ela entra no quarto com um tipo, ele começa a tocar, mas assim que ela aparece, ele pára. Já reparou? Basta ela se enfurnar e ele já começa.

James pediu outra cerveja. Olhou para o teto.

— Mulher é o diabo...

Levantei-me e quando passei junto da mesa dela, atrasei o passo. Então ela deixou cair o guardanapo. Quando me abaixei, agradeceu, de olhos baixos.

— Ora, não precisava se incomodar...

Risquei o fósforo para acender-lhe o cigarro. Senti forte seu perfume.

— Amanhã? — perguntei, oferecendo-lhe os fósforos. — Às sete, está bem?

— É a porta que fica do lado da escada, à direita de quem sobe.

Saí em seguida, fingindo não ver a carinha safada de um dos anões que estava ali por perto e zarpei no meu caminhão antes que a madame viesse me perguntar se eu estava gostando da comida. No dia seguinte cheguei às sete em ponto, chovia potes e eu tinha que viajar a noite inteira. O mulatinho já amontoava nas cadeiras as almofadas para os anões. Subi a escada sem fazer barulho, me preparando para explicar que ia ao reservado, se por acaso aparecesse alguém. Mas ninguém apareceu. Na primeira porta, aquela à direita da escada, bati de leve e fui entrando. Não sei quanto tempo fiquei parado no meio do quarto: ali estava um moço segurando um saxofone. Estava sentado numa cadeira, em mangas de camisa, me olhando sem dizer uma palavra. Não parecia nem espantado nem nada, só me olhava.

— Desculpe, me enganei de quarto — eu disse, com uma voz que até hoje não sei onde fui buscar.

O moço apertou o saxofone contra o peito cavado.

— É na porta adiante — disse ele baixinho, indicando com a cabeça.

Procurei os cigarros só para fazer alguma coisa. Que situação, pomba. Se pudesse, agarrava aquela dona pelo cabelo, a estúpida. Ofereci-lhe cigarro.

— Está servido?

— Obrigado, não posso fumar.

Fui recuando de costas. E de repente não agüentei. Se ele tivesse feito qualquer gesto, dito qualquer coisa, eu ainda me segurava, mas aquela bruta calma me fez perder as tramontanas.

— E você aceita tudo isso assim quieto? Não reage? Por que não lhe dá uma boa sova, não lhe chuta com mala e tudo no meio da rua? Se fosse comigo, pomba, eu já tinha rachado ela pelo meio! Me desculpe estar me metendo, mas quer dizer que você não faz nada?

— Eu toco saxofone.

Fiquei olhando primeiro para a cara dele, que parecia feita de gesso de tão branca. Depois olhei para o saxofone. Ele corria os dedos compridos pelos botões, de baixo para cima, de cima para baixo, bem devagar, esperando que eu saísse para começar a tocar. Limpou com um lenço o bocal do instrumento, antes de começar com os malditos uivos.

Bati a porta. Então a porta do lado se abriu bem de mansinho, cheguei a ver a mão dela segurando a maçaneta para que o vento não abrisse demais. Fiquei ainda um instante parado, sem saber mesmo o que fazer, juro que não tomei logo a decisão, ela esperando e eu parado feito besta, então, Cristo-Rei!? E então? Foi quando começou bem devagarinho a música do saxofone. Fiquei broxa na hora, pomba. Desci a escada aos pulos. Na rua, tropecei num dos anões metido num impermeável, desviei de outro, que já vinha vindo atrás e me enfurnei no caminhão. Escuridão e chuva. Quando dei a partida, o saxofone já subia num agudo que não chegava nunca ao fim. Minha vontade de fugir era tamanha que o caminhão saiu meio desembestado, num arranco.

FONTE:
O texto acima foi publicado no livro "Antes do Baile Verde", José Olympio Editores - Rio de Janeiro, 1979, e relacionado entre "Os cem melhores contos brasileiros do século", uma seleção de Ítalo Moriconi, Editora Objetiva - Rio de Janeiro, 2000, pág. 233.

Disponível em http://www.releituras.com/lftelles_menu.asp