terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Douglas Rafael Ferreira (Poesia: Espantos na Ribeira)


Poeta de Itu venceu concurso CERES de poesia

O poeta Douglas Rafael Ferreira, de 19 anos, foi o vencedor do 2º Concurso Ceres de Literatura, que neste ano contemplou o gênero poesia. A premiação foi feita pela Casa do Escritor da Região de Sorocaba (CERES) na sexta-feira, dia 24 de novembro, no Salão Vermelho da Universidade de Sorocaba. Setenta e sete poemas de 47 participantes concorreram ao prêmio.

Douglas nasceu em Mairinque, mas vive em Itu há 12 anos. Ele concluiu o curso Médio e atualmente cumpre o serviço militar. Escreve somente há três anos, mas é apaixonado pela cultura regional: canta no Coral Vozes de Itu e tem interesse nos estudos de lendas, crendices e costumes do interior paulista. Seu sonho é cursar Letras e História em nível superior. O poema "Espantos na Ribeira", com o qual venceu o concurso, é uma demonstração de seu gosto por essa temática.

Douglas recebeu como prêmio o troféu ouro, confeccionado pela artista plástica Ana Duarte, doze meses de gratuidade como associado da CERES, livros e um diploma de reconhecimento por seus méritos.

O troféu prata foi conquistado pela poetisa Tânia Maria Orsi, de Sorocaba, com o trabalho “Paredes de Loucura”, e o bronze, pela escritora Aparecida Mariano de Barros, de Jundiaí, com o poema “Milho Ralado”.


"Espantos na Ribeira"

Numa perna só,
sacizavam toscamente
espantalhos na ribeira,
lá dos cantos d’onde nunca fui;
e quedavam assim nessa dança
à luz de pirilampos
e ao som de cricrizadas
de amantes grilos histéricos.
Mornos ventos
anuviavam o céu
de estrelas carentes,
que atiravam lágrimas contra a terra.
A ribeira virava prainha
e o espantalho pingado
avassourava-se inútil,
varrendo granizo que passarizou-se;
e bicava bambus,
onde a mata flautificava-se
pra tocar toda lenda
lá das terras desconhecidas,
onde o mundo se espantou;
e o homem se espantalhou.



Fonte: Publicado na Segunda-feira, 27 de novembro de 2006 em http://www.itu.com.br/noticias/

398 Anos da Cidade de Itú (SP)


Nota: Parabéns pelo seu aniversário dia 2 de fevereiro, que a sua grandeza permaneça sempre como um exemplo para os que ainda virão.

Em comemoração a seu aniversário, sua história.
Historia de Itu
Os primeiros habitantes do planalto paulista viveram durante muitos anos em função do sertão, buscando indígenas para escravizar, procurando metais e pedras preciosas. Aqueles que permaneciam em suas roças plantavam milho, mandioca e praticavam outras atividades próprias para a sua subsistência..

Desde o início do século XVII muitos deles começaram a procurar terras mais férteis para suas roças. Os membros da família Fernandes, por exemplo, instalaram-se em lugares onde, posteriormente, surgiram as Vilas de Santana do Parnaíba, Sorocaba e Itu. Domingos Fernandes, aventureiro descendente pelo lado materno de João Ramalho e Tibiriçá, estabeleceu-se em área não muito distante de um antiquíssimo lago glacial, que, há milhares de anos, transformara-se em uma pedreira de varvito (rocha sedimentar). Em suas pedras ainda podem ser observados sinais das ondas deixadas pelas águas do antigo lago, pedras essas utilizadas no revestimento do piso das calçadas da cidade.

A pequena capela construída por Domingos Fernandes, sob invocação de Nossa Senhora da Candelária, deu origem a povoação de Itu, que durante muito tempo foi local de parada e de partida de bandeirantes e monçoeiros em busca de sertão. Em Itu foram organizadas muitas monções, expedições fluviais que partiam do Porto de Araritaguaba (hoje Porto Feliz), às margens do rio Tietê, com destino às minas de ouro de Cuiabá.

Passou a integrar a agricultura de exportação quando iniciou o cultivo de cana-de-açúcar, desenvolvido em São Paulo durante o governo do Morgado de Mateus (Luís Antônio de Sousa Botelho Mourão). Nas terras ituanas, consideradas de boa qualidade para essa cultura, surgiram grandes fazendas exploradas com mão-de-obra escrava. A população aumentou, inúmeros engenhos foram construídos, quer movidos a água, quer por tração animal.

Essa agricultura voltada para exportação, com o plantio de produtos tropicais enviados para o exterior, teve ainda maior progresso com a produção de café na segunda metade do século XIX. A cultura da cana estabeleceu as bases para o posterior desenvolvimento da cafeicultura.

No cinturão de fazendas que foram sendo abertas ao redor de Itu, construíram-se casas, engenhos e os demais aparelhamentos próprios da cultura canavieira. As moradas que ainda restam desse período são do assim chamado "estilo bandeirista", casas de taipa-de-pilão com planta simples e simétrica, construídas de acordo com sistema que vigorava em terras paulistas desde o tempo das bandeiras.

Dessas fazendas, podem ser lembradas: a do Rosário, construída na segunda metade do século XVIII. Com antigo e bem conservado engenho; a Chácara São João; a da Conceição e a do Japão, ainda com as suas capelas: a Paraíso, com uma bem conservada senzala; e a Pirahy, com restos de um provável alambique. Muitas mais tarde, tornaram-se fazendas de café e nelas foram construídas terreiros e outros aparelhamentos próprios da cafeicultura.

Fazendas como a Vassoural, Pirapitingui, Floresta, Serra e Nova América, mantém remanescentes do período áureo do café na região , época em que a Europa e as modas européias exerciam grande influência na vida paulista.

Além da cultura da cana e do café, o algodão também teve sua importância. Em Itu, no ano de 1869, ergueu-se a primeira fábrica de tecidos a vapor da Província de São Paulo, com maquinaria importada dos Estados Unidos e da Inglaterra: a Fábrica de Tecidos São Luís. Construída numa época em que todo trabalho era exercido por escravos, contava com mão-de-obra livre, principalmente de mulheres e crianças.

Os últimos decênios do século XIX o café representava grande riqueza e os escravos vindos de diversas regiões construíram a mão-de-obra, mais tarde substituída por elevado número de colonos italianos. Em nosso século, a economia de Itu tornou-se bastante diversificada, abrangendo muitos produtos agrícolas, a agropecuária e a indústria. Por tudo isso, teve apreciável crescimento urbano e populacional.

A vida cultural ituana manifesta-se por suas casas e igrejas, por monumentos e escolas, por seus trabalhadores, por pessoas que se destacaram ou que, de algum modo, para formação do seu patrimônio cultural.

Como aconteceu em outras regiões brasileiras, o catolicismo teve papel predominante no desenvolvimento cultural do município: igrejas, conventos, ordens religiosas e irmandades eram o centro da vida intelectual. As construções são, em grande parte, monumentos religiosos, do período anterior a introdução da cultura canavieira, temos a Igreja de Santa Rita, edificada entre 1726/1728 por um grupo de portugueses, e a Igreja do Carmo, encomendada pelos irmãos da Ordem Terceira em 1728. No convento, ao lado da Igreja do Carmo, morou o célebre Frei Jesuino do Monte Carmelo, Tendo ingressado na Ordem depois de viúvo, já conhecido artista, pintou a Igreja de sua Ordem, dando expansão a sua alegria e liberdade, segundo palavras de Mário de Andrade, que lhe dedicou um livro.

A primeira Matriz da Vila de Itu, dedicada por Domingos Fernandes a Nossa Senhora da Candelária, ocupava o lugar onde, mais tarde, ergueu-se a Igreja do Bom Jesus. A atual Matriz, na Praça Padre Miguel, foi inaugurada em 1780, mas posteriormente sofreu inúmeras reformas. Alí encontram-se pinturas de José do Patrocínio Manso, de Jesuino do Monte Carmelo e, na sacristia, as do celebrado pintor ituano Almeida Júnior. O frontão e as imagens de São Pedro e São Paulo, vindas de Paris, são muito mais recentes.

Um circuito intelectual de grande importância no panorama paulista era o conhecido como "dos padres do Patrocínio" que reunia políticos como Feijó, Jesuinos e tantos outros. Devoto de Nossa Senhora do Patrocínio, Frei Jesuino construiu uma Igreja dessa invocação, iniciada em 1810/1812 e concluída por Padre Simão Stock.

Com a finalidade de abrigar um grupo de religiosas vindas da França em 1859, para dedicar-se a educação de meninas (Irmãs de São José), foi fundado o Colégio do Patrocínio, ao lado da Igreja do mesmo nome.

Pouco tempo depois, vieram os jesuítas, que criaram o Colégio São Luís, importante centro educacional.

Localizada na zona rural, a Capela do Senhor do Horto (chamada de Padre Bento) foi edificada 1804/1808, ao lado do Hospital dos Lázaros. Hoje, a capela está envolvida pela cidade.

Com o desenvolvimento econômico, os mais abastados construíram grandes casas em meados do século XIX, algumas térreas, outras assobradadas, representativa da maneira de viver da classe dominante da época. Muitas delas foram derrubadas. Preservadas, encontramos, entre outras, a que abriga o Museu Republicano , antiga moradia de Carlos Vasconcelos de Almeida Prado, de família de cafeicultores, líder republicano, Ali reuniu-se a Convenção de Itu, em 1873, significativa tomada de posição para a implantação da República.

Das casas modestas ou imponentes do século passado e que constituem testemunhos de uma época, temos o prédio do antigo Grupo Escolar Cesário Mota (hoje Casa da Cultura), o prédio da Light, com sua singular fachada de azulejos portugueses, além de outras.

Neste século, os italianos que se estabeleceram no local construíram casas de tijolos, com fachada de decoração neoclássica. Representativa da maneira de viver do trabalhador é a Vila Operária, construída pela Fábrica de Tecidos São Pedro na década de 1920.

Esta cidade histórica, com seus panoramas, característicos e típicos, como o do Becão e outros, com suas Igrejas e monumentos, com suas paisagens naturais e com seu sítio geológico, com suas ruas e casas, com seus costumes, sua maneira de ser, deve ser preservada. A perda desses bens significa empobrecimento para a Cidade, para o Estado e para o País.

A FORMAÇÃO DA CIDADE DE ITU

O marco da fundação da cidade de Itu foi a construção, em 1610, de uma capela devotada a Nossa Senhora da Candelária, no lugar em que hoje fica a Igreja do Bom Jesus. Esta capela foi construída pôr Domingos Fernandes e seu genro, Cristovão Diniz. Eles receberam da Coroa Portuguesa, em 1604, a posse das terras da região de Itu.

O povoado se formou ao lado desta capela que, de 1653 a 1657, foi Igreja Matriz; neste ano, Itu deixou de ser Freguesia de Santana do Parnaíba, passando à condição de Vila, e iniciou-se a construção de um novo templo.

Durante quase 100 anos (de 1657 a 1750) a Vila de Itu não passou de um pequeno núcleo, com menos de 100 casas, concentradas no pátio da antiga Matriz e numa única rua que ia do pátio até a capelinha do primeiro povoado. Uma boa parte das casas, as do pátio, sobretudo, pertenciam a fazendeiros. Quando aumentou a escravatura e a produção das fazendas, seus donos ajudaram a erguer dois conventos na Vila - o de São Francisco (1692) e o do Carmo (1718).

Os comerciantes ergueram, em 1726, uma capela, num lugar ainda descampado - a de Santa Rita.

Em 1760, já existiam cerca de 105 casas e mais uma rua, chamada da Palma (atual dos Andradas). Nessa época, Itu se firma como entreposto de comércio na rota entre o sul do país e as regiões mineradoras de Mato Grosso e Goiás. A maioria das casas da Vila eram pequenas e habitadas por gente que pouco ou nada possuía.

Alguns anos depois, em 1776, com o crescimento das lavouras do açúcar e do algodão, a Vila cresceu, contando com 180 casas, tendo ainda as mesmas ruas de antes. Quem dá vida à localidade são os artesãos (sapateiros, ferreiros, latoeiros, carpinteiros, tecelões, costureiras e fiandeiras); eles ocupam 119 casas. Os comerciantes interessados na venda de tecidos, colchas e cobertores para outras regiões, promovem o cultivo do algodão, e a produção caseira de tecidos.

A partir de 1777, a Vila de Itu vai crescer em função dos negócios de exportação de açúcar para a Europa. O número de engenhos de cana e de escravos, agora vindos da África e não do sertão, se multiplicam. De 1785 a 1792, são abertas as ruas que descem paralelas, pelas encostas do espigão. Nessas ruas e seus prolongamentos pelo lado da Igreja do Patrocínio é que se forma, até 1865, a cidade que hoje constitui o "Centro Histórico". A fase de maior crescimento da cidade foi entre 1836 e 1854, quando atingiu o número de 800 casas.

Nesta época, Itu era a Vila mais rica de toda a Província, tendo (desde o início do século) importante participação na vida política e econômica. Em 1857, a Vila foi elevada à condição de cidade.

Em 1860, ocorreu uma grande crise no mercado internacional do açúcar. O plantio da cana entra em decadência, causando, com o tempo, um conflito entre os políticos e os fazendeiros ituanos contra o governo Imperial. Cresce em Itu o movimento republicano que resulta, em 1873, na realização da Primeira Convenção Republicana do país. O açúcar vai sendo gradativamente substituído pelo café.

Com o aumento da produção cafeeira, os fazendeiros buscam, na Europa, a vinda de imigrantes para substituir a mão de obra escrava. O tráfico havia sido proibido em 1850 e, a escravatura, abolida em 1888. Com a ajuda do governo republicano, proclamado em 1889, vieram para Itu milhares de imigrantes, a maioria italianos. A cidade possui, nesta época, cerca de 1000 casas. O café foi a base da economia do município até 1935, ano da maior produção, decaindo depois, pela concorrência de outras áreas de plantio e pelo esgotamento de suas terras.

De 1935 a 1950, Itu quase não cresce além da área ocupada. A partir de 1950, novas indústrias vêm se instalar na cidade, principalmente as de cerâmicas. Ocorre grande migração rural em busca de trabalhos nas fábricas. A cidade começa novamente a crescer com a abertura de diversos loteamentos na periferia. Itu já não tem a mesma importância de antigamente, sendo influenciada pela Capital do Estado, já então uma metrópole. O velho centro, a maior e mais importante herança cultural dos tempos da colônia, passa a ser transformado. Os objetos antigos, imagens das igrejas e pertences particulares, começam a ser comercializados, sobrando hoje pouca coisa na cidade.

Após 1970, com a construção da rodovia Castelo Branco, novas indústrias instalam-se em Itu, principalmente às margens de suas estradas de acesso.

Dialetos e Linguagens de Itu

Embora sejam só quatro os Estados integrantes da região sudeste, há uma diversidade de expressões e linguagens entre seus habitantes, em decorrência das formações históricas e culturais de cada um deles. Por isso mesmo, pode se estudar cada um separadamente, sendo importante lembrar que Amadeu Amaral chegou a publicar um importante livro sobre o que ele chamou de "Dialeto Caipira", típico de grande parte de São Paulo e Minas Gerais. Também Téo Azevedo identificou um outro dialeto, típico do norte de Minas Gerais, mas estendendo ao Sul da Bahia, e que ele chamou de linguagem catrumana.

O centro cosmopolita de povos de muitas etnias vivendo em seu espaço, São Paulo, tornou-se um centro difusor de expressões, muitas delas, curiosamente vindas do interior do Estado e outras partes do País.
Matungo é cavalo velho; ser judas é ser traidor, breganhar é fazer uma troca; grana e bufunfa significam dinheiro; enquanto assuntar significa perguntar, interrogar, repassar é revisar, remontar; sustância é força, energia, coragem; trucada é um desafio; trabucar é trabalhar, existindo mesmo um provérbioque diz: " Quem não trabuca, não manduca". Ou seja: " Quem não trabalha, não come"; menina sapeca é menina levada mas também pode ser carne mal passada; supimpa é ótimo, exelente, mas homem sacudido é homem forte; Por sua vez ficar na rabeira é ficar para trás; e ser pidonho é estar sempre pedindo as coisas.

Culinária Tipica de São Paulo e Interior

Os Paulistas também frugais no inicio de sua história, foram adotando influências e assimilando pratos de várias partes do mundo, embora mantivessem alguns bem típicos. Assim é possivel hoje, encontrar ao lado de legítimas pizzas ítalo-paulista, pratos como o virado, o arroz com suã, um sanduiche bem paulista que é o bauru, além de uma gama de subprodutos do milho, da pamonha ao licor.

Fonte:
http://www.achetudoeregiao.com/SP/Itu/historia.htm

Maria Thereza Moreira Pereira (Bisa Maith)


Maria Thereza Moreira Pereira é mais conhecida por Maith e Bisavó Blogueira. Com quase oitenta anos ela escreve desde que é criança e sempre sonhou em tornar-se uma escritora de verdade.Depois de aposentada e com os filhos encaminhados, passou a dedicar-se mais à literatura, quando então deparou-se com a internet e criou seus blogs, publicando finalmente seu livro. É co-autora na coletânea Roda Mundo 2006 e colunista no site "O Liberal" de Cabo Verde.

A Academia Athenas, de Sorocaba, apresentou nos dias 3 e 4 de Dezembro, no Teatro Municipal Teotônio Vilella, um festival de Dança e Artes Marciais apresentados pelos seus alunos e professores. O espetáculo teve o nome de CUIDADO, ESTÃO TE ESPIANDO e todas as coreografias foram inspiradas no livro do mesmo nome de Maith.

Sites da Maith:
http://www.cuidadoestaoteespiando.blogger.com.br/
http://www.bisavo.blogger.com.br/
http://www.ciranda.blogger.com.br/

Fontes:
http://sorocult.com/el/talentos/maith.htm
http://www.itapedigital.com.br/

Bisa Maith (Conto: Uma Brasileira na Inglaterra)

Tudo começou há muito tempo, quando ela ainda era menina e ele também. Só que ela, a July, era uma menina comum, classe média, e ele o Príncipe Herdeiro do trono da Inglaterra.

Já então, ela se interessava muito por tudo o que dizia respeito a Ele, o menino que um dia seria rei. Lia tudo o que se publicava sobre a família real inglesa, recortava as fotos do garoto notável e colava na parede do quarto.

O tempo foi passando. Ela cresceu (Ele, também, é claro) e July começou a alimentar um sonho arrojado: Havia de conhecer pessoalmente o Príncipe... conquistá-lo... casar-se com ele.

Impossível? Nem tanto! A literatura estava cheia de histórias de Nobres & Plebeus e, sabe-se de muitos casos de Príncipes que renunciaram a Coroa para casar-se com uma mulher do povo. Por que não podia acontecer com ela?

Mas, precisava dar uma mãozinha para a sorte. Mesmo que estivesse "escrito nas estrelas" seria preciso que ela interpretasse e fizesse acontecer.

O primeiro passo seria ir para a Inglaterra.

Se ela dissesse para a Mãe que queria ir para conhecer o Príncipe, é claro que a Mãe ia dizer para ela deixar de bobagem, então, tinha que arranjar outro pretexto.

Estudar! É claro!

Nada melhor para sensibilizar as mães do que manifestar o desejo de estudar alguma coisa.

A primeira tentativa foi desanimadora:

- Mãe, estou pensando que podia bem ir passar uns tempos na Inglaterra para aperfeiçoar o meu inglês...

- Aperfeiçoar o quê? Você não sabe nada ainda! Aprenda tudo o que lhe ensinarem na Escola e, depois, então, a gente pensa na possibilidade de estudar fora.

- Mas, Mãe, na Escola ensinam muita gramática, lingüística, coisas que não interessam. Convivendo com os ingleses é que a gente aprende a língua coloquial que é o que importa.

- Nada disso. Trate de estudar aqui mesmo. Mais tarde, quem sabe...

A segunda tentativa também não foi muito melhor:

- Mãe, eu tenho muitos amigos e amigas que foram para lá. Estão estudando e trabalhando. Uma beleza! A gente ganha bem, estuda em excelentes escolas e conhece o Mundo. Quer coisa melhor?

- Você pensa que é fácil? Você, lá, seria uma estrangeira, desvalorizada, teria que adaptar-se a uma vida muito diferente da que está acostumada. Não! Você não está preparada para uma coisa dessas.

- Mas, como, do mesmo modo que a água mole faz com a pedra dura o que todo mundo sabe, a insistência dos filhos, quase sempre, acaba por minar o bom senso de qualquer mãe, e a mãe de July não era diferente.

Depois de muitos argumentos, beicinhos e até mal-criações, a Mamãe deixou-se convencer de que, afinal de contas, na pior das hipóteses, seria uma experiência a mais.

E começaram os preparativos para a viagem. Compras, arrumações, conselhos, listas de endereços de Companhias de Viagem, escolas de Londres, acomodações, etc.etc.
* * *
O avião levanta vôo. July se assusta um pouco quando vê, rapidamente, desaparecer o seu Mundo, o seu chão firme e sente-se muito só, acima das nuvens, parecendo estar mais próxima do céu estrelado do que da Terra.

Mas está feliz, pois, encaminha-se para a realização de seu sonho de tantos anos. Fecha um pouco os olhos e quando abre... oh, surpresa das surpresas!

Quem está ali, a sua frente, ao vivo e a cores? Nada mais, nada menos que o Príncipe, mais bonito do que em todas as fotos, sorrindo para ela:

- Olá, July! Que satisfação te encontrar aqui!

- Como sabe quem eu sou?

- Eu a vi em um site de uma discoteca, lá da sua cidade. Foi amor à primeira vista. Disse comigo mesmo: "preciso conhecer essa garota" Estava pronto para ir procurá-la lá no Brasil, mas já que você veio para cá é melhor ainda.

- Você fala muito bem o português. Meu inglês é péssimo. Vim à Inglaterra para aprender a sua língua, e, mais ainda, para conhecê-lo pessoalmente.

- Eu tenho um compromisso oficial agora de manhã, mas vou procurá-la depois para conversarmos mais. Se precisar de alguma coisa é só falar comigo. Se tiver alguma dificuldade, basta dizer que é namorada do Príncipe que todas as portas se abrirão para você.

Alguns homens se aproximaram, o Príncipe levantou-se e acompanhou-os.

O dia estava amanhecendo. O avião foi baixando sobre a grande Londres, envolta em brumas, a cidade coberta de neve, uma paisagem, até então, só vista em cartões postais, ao mesmo tempo, fascinante e aterrorizante.

July desembarcou e misturou-se a multidão que transitava pelo aeroporto.Quando se dirigiu à sessão de Emigração, começaram as dificuldades. Um funcionário muito impessoal pediu-lhe um documento que ela não tinha.

Ela não entendia direito o que ele dizia e não conseguia se comunicar. Lembrou-se, então, das palavras do Príncipe e falou no seu melhor inglês:

- Eu sou a namorada do Príncipe. Se não me facilitar as coisas eu faço queixa a Ele.

- Não estou aqui para brincadeiras. Veja logo o que lhe pedi senão eu mando prendê-la.

- Mas eu não tenho esse documento. Nem sei o que é isso.

- Então vai presa.

Dois policiais aproximaram-se, agarraram-na e a enfiaram num carro. Ela queria gritar, pedir socorro, mas não conseguia. Já estava ficando apavorada.

Na cela onde a encerraram já estavam dois rapazes e duas moças, todos brasileiros. Havia só um colchão no chão e ela perguntou como iriam dormir.

- A noite passada, dormimos os quatro, neste colchão. E esta noite tem mais você...

- E comida?

- De manhã, eles jogam uns pedaços de pão naquela gamela. Pouco, só o suficiente para não morrermos de fome.

- E banho?

- Nem pensar! Banho, aqui, é luxo de turista. Londrino não toma banho e estrangeiro, menos ainda.

- Por que vocês vieram para cá?

- Porque não tínhamos dinheiro suficiente... faltaram documentos... não sabíamos falar bem...

- O funcionário zangou-se porque eu disse que sou namorada do Príncipe.

- Chiii! Você disse isso? Você sabe que quem inventa mentiras relacionadas com a Família Real é condenada à morte?

- Mas eu não inventei nada. É verdade!

- Você tem como provar isso?

- ... não...

- Então você está ferrada!

- EU NÃO QUERO MAIS FICAR AQUI! QUERO MINHA MÃE! MÃÃÃÃÃÃEEEEEEEE!

Como num passe de mágica, uma porta se abriu e a Mãe, meio assustada perguntou:

- Que foi July!

Vertiginosamente tudo retrocedeu como num filme rebobinado e ela se viu, no seu quarto, na sua cama.

- Não foi nada, Mamãe! Só um pesadelo...

No dia seguinte, July comunicou a Mãe a sua resolução:

- Sabe Mãe, eu pensei melhor, acho que vou continuar estudando por aqui mesmo. Londres fica para outra oportunidade.

Mais tarde ligou para o Bruno:

- Ainda está de pé o seu convite para o baile? Acho que vou aceitar!

E sorriu para o retrato do Príncipe pendurado na parede:

- Que mico!

Publicado Segunda-feira, 28 de janeiro de 2008, em
http://www.itu.com.br/colunistas/artigo.asp?cod_conteudo=12102

Bisa Maith (Conto: O Patinho Perdido)

A pata saiu do ninho com seus filhotes recém-nascidos. Estava feliz como toda a mãe que acaba de ter um filho.

Saiu pelo terreiro com sua prole mostrando-lhes a beleza do mundo onde iam viver, o grande quintal, as árvores, a relva verdinha. Levou-os depois ao lago para ensinar-lhes a nadar.

Os pimpolhos adoraram a água e nem foi preciso a mãe ensinar, num instante já estavam todos nadando.

De repente a pata levou um susto. Contando os patinhos a sua volta, constatou que faltava um. Eram doze a ali só estavam onze.

Onde estaria o outro? Será que afogou-se?

Impossível! Os patos já nascem sabendo nadar. Nunca se ouviu contar de um pato que se afogasse num lago tranqüilo como aquele.

Desesperada a pata chamou os patinhos e saiu correndo para procurar o filhinho perdido.

Encontrando o pato disse-lhe:

- Querido, sumiu um de nossos bebês! Vamos procurá-lo juntos.

Mas o pato, displicente, respondeu:

- Ora, deixe disso. Com certeza o gato o pegou. Não adianta nada continuar procurando.

- Você é um pato sem coração! Onde já se viu falar assim do seu filho?

- Nos ainda temos onze, meu amor, prá que precisamos de mais um?

Vendo que nada adiantava ficar ali discutindo com o pato a pata continuou seu caminho.
Encontrou, pouco depois, o galo:

- Bom dia, seu galo! Eu perdi o meu patinho! Será que você podia me ajudar a procurá-lo?

- Eu? Imagine! Está pensando que não tenho nada mais importante para fazer do que caçar patos perdidos?

Mais adiante, o peru respondeu ao seu cumprimento com um glu-glu de pouco caso e um orgulhoso arrepiar de penas.

Nem adiantava pedir ajuda a ele. A pata estava só com a sua dor e ainda preocupada com os outros patinhos, tão novinhos, que ela estava obrigando a uma exaustiva correria.

E, então, encontrou a galinha choca que acaba de sair de seu ninho com os pintainhos;

Vendo a pata, amável, lhe disse;

- Vejo que também está com os filhinhos novos, eles são lindos.

A pata contou-lhe rapidamente a sua odisséia e ela, solícita, ofereceu-se:

- Deixe os patinhos comigo enquanto vai continuar a sua busca. Tomara que você encontre logo o seu filhinho!

A pata, agora desembaraçada correu por todo lado, examinou todos os cantos até que ouviu um piadinho muito fraco vindo de uma moita.

Achara o patinho! Ele se enroscara em um ramo e não conseguira sair sozinho.]

Vendo que ele estava bem a mãe respirou aliviada, foi buscar os outros filhotes e, todos juntos, foram ao ninho para o merecido descanso noturno.

No dia seguinte a Dona comentou com o marido:

- Aconteceu uma coisa estranha ontem. Quando fui tratar dos animais a galinha choca veio comer e os patinhos estavam junto com os pintinhos. Ela alimentou-os do mesmo modo que fez com os seus. Não sei para onde tinha ido a pata, mas hoje de manhã ela já estava com os patinhos e a galinha com os pintinhos.

O dono deu uma risada:

- Você e suas histórias! Esta galinha deve ser muito idiota para não saber distinguir um pinto de um pato! E a pata então, uma irresponsável que larga os patinhos por ai e vai passear.

- Não fale assim! Achei tão bonito! A galinha parecia uma mãe adotiva. Não sabemos o porquê do sumiço da pata. Tenho certeza de que ela não abandonou os patinhos. Eu, ás vezes penso que os animais não são tão irracionais como pensamos.

-Você é mesmo uma romântica!

LIÇÕES
A PATA = Uma mãe é capaz de qualquer sacrifício para salvar um filho.
O PATO: Um pai omisso como muitos.
O GALO: Indiferente e preguiçoso
O PERU: Vaidoso, cheio de empáfia, mas inútil.
A GALINHA: Prestativa e boa. Uma mãe que entende a aflição de outra e procura ajudar.
O DONO: Olhe lá os julgamentos ....!
A DONA: O romantismo é a realidade em traje de festa!

Fonte:
Publicado em 1 de julho de 2006 na Ciranda das Flores e dos Bichos, no Sorocultinho, da Academia Sorocabana de Letras.
http://www.ciranda.blogger.com.br/

Bisa Maith (Conto: Confidências de um Curió)

Nasci numa floresta virgem, no alto de uma árvore centenária.

Meu berço foi um singelo ninho feito de palha, mas, embora aparentemente frágil era suficientemente forte para me abrigar das tempestades e afastar-me dos animais predadores.

Minha mãe era carinhosa e nos meus primeiros dias de vida trazia-me o alimento e cuidava de mim.

Mas, eu cresci muito depressa. Logo aprendi a voar e a procurar o meu próprio alimento.

Aprendi também a cantar e o meu canto era maravilhoso.

Todas as manhãs eu soltava a voz em chilreios vibrantes e ouvia ao longe a resposta, um gorjeio desafinado, mas que me parecia a mais bela melodia, pois vinha de minha namorada, uma curiózinha encantadora.

Entretanto, o meu dom de bem cantar foi a minha desgraça, pois despertei o desejo de pessoas desalmadas ter-me preso em uma gaiola cantando para diverti-las.

E, foi assim que tudo aconteceu.

Eu estava faminto e vi alguns grãos no chão. Desci para comer e então senti que um cesto caia sobre mim prendendo-me.

Fiquei desesperado, não tinha como escapar dali e então vi uma mão enorme adentrando o cesto.

Tentei passar pela pequena abertura, mas não consegui e aquela mão agarrou-me com força e me levou embora,

Que covardia! Em igualdade de condições, em campo aberto, duvido muito que aquele sujeito conseguisse me pegar. Mas, ele era mais forte do que eu, ou mais inteligente e eu agora estava em sua mão.

Levou-me para sua casa e prendeu-me em uma gaiola.

Ele não me tratava mal. Dava-me sempre comida e água fresca e colocou-me em um lugar protegido.

Prendeu até o Duque, um canzarrão que quando me viu ficou louco para me abocanhar.
Mas, tirou-me a liberdade e eu fiquei muito triste. Nem cantar eu queria mais.

E, então, pensei cá comigo:

Vou ficar calado. Quem sabe assim ele perde o interesse por mim e me solta.

Mas, qual!

Ele queria a todo custo que eu cantasse e quando comentou minha mudez com um amigo este lhe disse:

- Você fura os olhos dele! Ficando cego ele vai cantar. Você vai ver.

- Será? Eu não tenho coragem...

- Deixe de ser bobo! Amanhã eu venho aqui e faço o serviço pra você.

Fiquei desesperado. Alem de preso, cego!

Passei a noite em claro pensando em um jeito de livrar-se do sacrifício, mas não atinava com nada. Estava mesmo perdido.

Já de madrugada, porém, ouvi um barulho vindo do canil.

O Duque conseguiu abrir o portão, escapou e veio correndo pegar-me.

Mas, quando de um salto ele abriu a porta da gaiola, eu sai voando enquanto ele ficava pulando e latindo como doido.

Meu dono veio correndo, mas, hahahahaha! Pegue-me agora, se for capaz!

Minhas asas estavam entorpecidas pela falta de movimento, mas consegui pousar em uma árvore, dali para outra, até que recuperando a forma voei para longe, para a floresta que era o meu lugar.

O dia estava amanhecendo. Pousei em uma arvora muito alta e soltei o meu canto vibrante saudando o sol que despontava.

E, emocionado ouvi um chilrear fraquinho me respondendo. Era a minha curiózinha desafinada que estivera o tempo todo a minha espera.

Fonte:
publicado em 4 de novembro de 2007, na Ciranda das Flores e dos Bichos, no Sorocultinho, da Academia Sorocabana de Letras.
http://www.ciranda.blogger.com.br/

Nota do autor do blog: Chamamos os animais de selvagens, mas os verdadeiros selvagens somos nós. Esta história foi classificada como história infantil ao ser publicada no Sorocultinho, da Academia Sorocabana de Letras, mas deve servir como reflexão a todos nós, sobre todo mal que fazemos aos animais, principalmente as aves, gatos, cachorros e tantos que estão em extinção por nossa - que chamamos e vivemos uma mentira - civilização.

A Língua Tupi

O Tupi foi a língua não européia que mais influenciou o português brasileiro. Existem aproximadamente 10.000 palavras derivadas do tupi que os brasileiros usam no seu dia-a-dia. Expressões, palavras e nomes de lugares como “ficar com nhemnhemnhem”, “jaguar”, “Ibirapuera”, “pindaíba”, “pereba”, “peteca”, “mingau” e “cucuia” são, entre outras, herança lingüística da verdadeira língua brasileira, chamada pelos próprios índios de “Nhe´engatu” (língua boa) ou Língua Brasílica, como era chamada pelos jesuítas que aqui aportaram no século XVI.

Antes da colonização, o Tupi e suas variantes dialetais eram falados em quase toda costa do Brasil e é rara, senão nenhuma, língua nativa no mundo que teve abrangência territorial tão grande. Sendo uma língua estritamente oral, o Tupi só foi sistematizado em registro escrito pelos jesuítas, em especial pelo Pe. Anchieta, o primeiro gramático da língua, que deixou um vasto conjunto de obras escritas na língua do nativo.

Como grande parte dos colonos vinham para o Brasil sem mulheres e passaram a conviver com mulheres indígenas, ocorreu de o Tupi ser a língua materna de seus filhos. Atualmente o Brasil seria um país bilíngüe, a exemplo do Paraguai onde se fala o espanhol e o guarani, caso o Tupi não tivesse sido proibido em 1758 pelo Marques de Pombal. Naquela época, de cada quatro brasileiros, três falavam Tupi.

Em poucos países americanos uma língua foi tão espalhada territorialmente como o Tupi antigo do Brasil. Ele era a língua da maioria dos membros da administração colonial, dos índios, dos africanos e europeus e tinham um papel fundamental na unificação da colônia portuguesa na América.

O Tupi proporcionou centenas de termos ao português brasileiro, foi importante para a literatura do período colonial, romântica e moderna e é um elemento central da afirmação de uma identidade cultural brasileira. O Tupi foi a língua que mais deu origem a nomes geográficos no Brasil: várias cidades, regiões e cidades tem nomes derivados do Tupi. Cidades como “Sorocaba” e “Jundiaí” (que significam, respectivamente, “Terra Fendida” e “Rio do Bagre”), apenas para mencionar duas entre muitas, tiveram suas designações em Tupi devido à suas características físico-geográficas.

A influência do Tupi é também percebida na culinária, na fauna e em expressões cotidianas no Brasil, sendo a língua não-européia mais importante na formação do português brasileiro.

Características do Tupi
A língua tupi não conhece flexões. Os vários conceitos gramaticais são expressos:

1) por prefixos e sufixos;
2) pela ordem das palavras;
3) pela duplicação do tema;
4) ou por partículas especiais.

Não há artigo definido nem indefinido.

A distinção dos sexos, quando necessária, traduz-se por palavras equivalentes a "macho" e "fêmea". Há, porém, palavras diferentes para distinguir as relações de parentesco do homem e da mulher. Assim, "filho" com referência ao homem é (t)a'ýra; com referência à mulher é membýra. A distinção leva ainda em conta o sexo do parente intermediário: "tio", irmão do pai, é o mesmo que "pai": (t)úba; já "tio", irmão da mãe, é tutýra. Há também a idade relativa: (t)ybýra é o irmão mais moço do homem; (t)ykeýra, irmão mais velho do homem.

Homens e mulheres usam linguagens diferentes: por exemplo, "sim", dito pelo homem, é pá; dito pela mulher, é e'e~.

Não existe diferença entre singular e plural nos substantivos e adjetivos. No tupi colonial, sob a influência do bilingüismo, o indefinido (s)etá, "muitos", tendia a tomar a função de plural.
São escassos no Tupi nomes abstratos relacionados com qualidades, como "injustiça", "bondade", "cor", "beleza", "distância", "tamanho", etc.

A índole concreta da língua evidencia-se ainda nos prefixos classificatórios — como a para coisas "arredondadas", pó para as compridas, pý para as largas, apé para as de superfície igual. Assim, tanto sýma quanto asýma significam "liso", mas asýma reserva-se para qualificar os objetos lisos que sejam arredondados: ybá asýma "fruta lisa".

Os substantivos e adjetivos referentes a estados da alma e qualidades interiores são amiúde meras descrições das concomitâncias nos órgãos do corpo ou nos sentidos externos: olhos, ouvidos, boca, nariz, mãos, pés, entranhas, etc.: îesarekó "considerar" ou "ter olhos em"; tesaetá "muitos olhos" ou muito cuidado; tesapóra "olhos saltados" ou "extasiado".

Nos pronomes, nenhuma distinção de gênero gramatical. Em contrapartida existe o desdobramento do pronome "nós": um que inclui a 2ª pessoa (eu ou nós & tu ou vós) e outro que exclui a 2ª pessoa (eu & ele ou eles s/ tu nem vós). Também um pronome reflexivo de 3ª pessoa o, distintivo do relativo i. Crf. latim suus e eius.
Os pronomes e os prefixos verbais são a chave da língua. Antepostos aos substantivos, os pronomes servem de possessivos. Antepostos a adjetivos, ou pospostos a substantivos e pronomes, formam os chamados verbos predicativos, dispensando o verbo "ser", que a língua tupi ignora.

O genitivo obtém-se pela simples justaposição dos dois substantivos em ordem inversa à do português: gûyrati~: "bico de pássaro"; de gûyrá "pássaro" e ti~ "bico".

O aposto, como em português, vem em segundo lugar: abá-gûyrá: "homem-pássaro"; de abá "homem" e gûyrá "pássaro".

Não há categoria de tempo gramatical ou relativo. O verbo na sua forma simples significa a ação completa ou perfeita em qualquer tempo, principalmente no passado.

Também a conjugação perifrásica realça a duração da ação verbal. Mas é o verbo auxiliar, correspondente ao nosso "estar", que vai para o gerúndio, e não o principal: anhe'éng gûitekóbo: "estou falando", lit. "falo estando".

É muito desenvolvida a linguagem afetiva. Partículas especiais exprimem os sentimentos com que a pessoa que fala acompanha a sua própria evolução; enfado, desgosto, raiva, desprezo, carinho, louvor, saudade, dúvida, interrogação, certeza, meia certeza, opinião baseada em informação de outrem, etc.

Grande número de palavras (substantivos adjetivos, verbos e preposições) leva os os prefixos t-, s- ou r-.
Em princípio, pode-se dizer que t- refere-se a "gente", e s- a "coisa", isto é, tudo o que não é humano: animais, plantas, etc. Aos substantivos, t- e s- prefixam-se na função de "possuidor". Por exemplo: obá: rosto(s.) > tobá: rosto (de gente) - sobá: rosto (de coisa)

Ao contrário que muitos acreditam, não existe uma língua tupi-guarani. A língua guarani, apesar de muito se assemelhar com o tupi, tem palavras e peculiaridades distintas. O que existe é o tronco lingüístico Tupi-Guarani, que engloba, entre outras, as línguas Tupi e Guarani.

Fonte:
http://www.terrasemmal.com.br/tupi.html
http://www.terrasemmal.com.br/mais/tupi.html

Luis Vaz de Camões (c. 1524 - 1580)

Príncipe dos poetas portugueses, autor imortal dos LUSÍADAS

Após a morte de Luís Camões, o diplomata e escritor espanhol Valera, que por esse tempo esteve em Portugal, escreveu que Os Lusíadas «son el mayor obstáculo à la fusion de todas las partes de esta Península. Camões se levanta entre Portugal y España qual firme muro, más difícil de derrubar que todas las plazas y los castillos todos».

As informações sobre a sua biografia são relativamente escassas e pouco seguras, apoiando-se num número limitado de documentos e breves referências dos seus contemporâneos. A própria data do seu nascimento, assim como o local, é incerta, tendo sido deduzida a partir de uma Carta de Perdão real de 1553. A sua família teria ascendência galega, embora se tenha fixado em Portugal séculos antes. Pensa-se que estudou em Coimbra, mas não se conserva qualquer registo seu nos arquivos universitários.

- Serviu como soldado em Ceuta, por volta de 1549-1551, aí perdendo um olho.
- Em 1552, de regresso a Lisboa, esteve preso durante oito meses por ter ferido, numa rixa, Gonçalo Borges, um funcionário da corte.
- Data do ano seguinte a referida Carta de Perdão, ligada a essa ocorrência. Nesse mesmo ano, seguiu para a Índia.
- Nos anos seguintes, serviu no Oriente, ora como soldado, ora como funcionário, pensando-se que esteve mesmo em território chinês, onde teria exercido o cargo de Provedor dos Defuntos e Ausentes, a partir de 1558.
- Em 1560 estava de novo em Goa, convivendo com algumas das figuras importantes do seu tempo (como o vice-rei D. Francisco Coutinho ou Garcia de Orta).
- Em 1569 iniciou o regresso a Lisboa. No ano seguinte, o historiador Diogo do Couto, amigo do poeta, encontrou-o em Moçambique, onde vivia na penúria. Juntamente com outros antigos companheiros, conseguiu o seu regresso a Portugal, onde desembarcou em 1570.
- Dois anos depois, D. Sebastião concedeu-lhe uma tença, recompensando os seus serviços no Oriente e o poema épico que entretanto publicara, Os Lusíadas.
- Camões morreu a 10 de Junho de 1580, ao que se diz, na miséria. No entanto, é difícil distinguir aquilo que é realidade, daquilo que é mito e lenda romântica, criados em torno da sua vida.

Da obra de Camões foram publicados, em vida do poeta, três poemas líricos, uma ode ao Conde de Redondo, um soneto a D. Leonis Pereira, capitão de Malaca, e o poema épico Os Lusíadas. Foram ainda representadas as peças teatrais Comédia dos Anfitriões, Comédia de Filodemo e Comédia de El-Rei Seleuco. As duas primeiras peças foram publicadas em 1587 e a terceira, apenas em 1645, integrando o volume das Rimas de Luís de Camões, compilação de poesias líricas antes dispersas por cancioneiros, e cuja atribuição a Camões foi feita, em alguns casos, sem critérios rigorosos. Um volume que o poeta preparou, intitulado Parnaso, foi-lhe roubado.

Na poesia lírica, constituída por redondilhas, sonetos, canções, odes, oitavas, tercetos, sextinas, elegias e éclogas, Camões conciliou a tradição renascentista (sob forte influência de Petrarca, no soneto) com alguns aspectos maneiristas. Noutras composições, aproveitou elementos da tradição lírica nacional, numa linha que vinha já dos trovadores e da poesia palaciana, como por exemplo nas redondilhas «Descalça vai para a fonte» (dedicadas a Lianor), «Perdigão perdeu a pena», ou «Aquela cativa» (que dedicou a uma sua escrava negra). É no tom pessoal que conferiu às tendências de inspiração italiana e na renovação da lírica mais tradicional que reside parte do seu génio.

Na poesia lírica avultam os poemas de temática amorosa, em que se tem procurado solução para as muitas lacunas em relação à vida e personalidade do poeta. É o caso da sua relação amorosa com Dinamene, uma amada chinesa que surge em alguns dos seus poemas, nomeadamente no conhecido soneto «Alma minha gentil que te partiste», ou de outras composições, que ilustram a sua experiência de guerra e do Oriente, como a canção «Junto dum seco, duro, estéril monte».

No tratamento dado ao tema do amor é possível encontrar, não apenas a adopção do conceito platónico do amor (herdado da tradição cristã e da tradição e influência petrarquista) com os seus princípios básicos de identificação do sujeito com o objecto de amor («Transforma-se o amador na cousa amada»), de anulação do desejo físico («Pede-me o desejo, Dama, que vos veja / Não entende o que pede; está enganado.») e da ausência como forma de apurar o amor, mas também o conflito com a vivência sensual desse mesmo amor. Assim, o amor surge, à maneira petrarquista, como fonte de contradições, tão bem expressas no justamente célebre soneto «Amor é fogo que arde sem se ver», entre a vida e a morte, a água e o fogo, a esperança e o desengano, inefável, mas, assim mesmo, fundamental à vida humana. A concepção da mulher, outro tema essencial da lírica camoniana, em íntima ligação com a temática amorosa e com o tratamento dado à natureza (que, classicamente vista como harmoniosa e amena, a ela se associa, como fonte de imagens e metáforas, como termo comparativo de superlativação da beleza da mulher, e, à maneira das cantigas de amigo, como cenário e/ou confidente do drama amoroso), oscila igualmente entre o pólo platónico (ideal de beleza física, espelho da beleza interior, manifestação no mundo sensível da Beleza do mundo inteligível), representado pelo modelo de Laura, que é predominante (vejam-se a propósito os sonetos «Ondados fios de ouro reluzente» e «Um mover d'olhos, brando e piedoso»), e o modelo renascentista de Vénus.

Temas mais abstractos como o do desconcerto do mundo (expresso no soneto «Verdade, Amor, Razão, Merecimento» ou na esparsa «Os bons vi sempre passar/no mundo graves tormentos»), a passagem inexorável do tempo com todas as mudanças implicadas, sempre negativas do ponto de vista pessoal (como observa Camões no soneto «Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades»), as considerações de ordem autobiográfica (como nos sonetos «Erros meus, má fortuna, amor ardente» ou «O dia em que eu nasci, moura e pereça», que transmitem a concepção desesperançada, pessimista, da vida própria), são outros temas dominantes da poesia lírica de Camões.

No entanto, foi com Os Lusíadas que Camões, embora postumamente, alcançou a glória. Poema épico, seguindo os modelos clássicos e renascentistas, pretende fixar para a posteridade os grandes feitos dos portugueses no Oriente. Aproveitando a mitologia greco-romana, fundindo-a com elementos cristãos, o que, na época, e mesmo mais tarde, gerou alguma controvérsia, Camões relata a viagem de Vasco da Gama, tomando-a como pretexto para a narração da história de Portugal, intercalando episódios narrativos com outros de cariz mais lírico, como é o caso do da «Linda Inês». Os Lusíadas vieram a ser considerados o grande poema épico nacional. Toda a obra de Camões, de resto, influenciou a posterior literatura portuguesa, de forma particular durante o Romantismo, criando muitos mitos ligados à sua vida, mas também noutras épocas, inclusivamente a actual. No século XIX, alguns escritores e pensadores realistas colaboraram na preparação das comemorações do terceiro centenário da sua morte, pretendendo que a figura de Camões permitisse uma renovação política e espiritual de Portugal.

Amplamente traduzido e admirado, é considerado por muitos a figura cimeira da língua e da literatura portuguesas. São suas a colectânea das Rimas (1595, obra lírica), o Auto dos Anfitriões, o Auto de Filodemo (1587), o Auto de El-Rei Seleuco (1645) e Os Lusíadas (1572)

Canto lll (20-21)

Eis aqui, quase cume de cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floreça
Nas armas contra o torpe Mauritano,
Deitando-o de si fora; elá na ardente
África estar quieto o não consente

Esta é a ditosa pátria minha amada
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se esta luz ali comigo.
Esta foi Lusitânia, derivada
De Luso ou Lira, que de Baco antigo
Filhos foram, parece, ou companheiros,
E nela antam os íncolas primeiros.

Além de Poeta, Luis Vaz de Camões foi um grande guerreiro, tendo combatido no Norte de África, onde cegou do olho direito, e na Índia (Goa). Morreu a 10 de Junho de 1580, pouco tempo antes de Portugal perder a independência. Conta-se que, ao exalar o último suspiro, terá exclamado angustiado: “Ao menos morro com a Pátria”.

Camões teria nascido em Coimbra em 1524, filho de Simão Vaz de Camões e de Ana de Sá e Macedo. A vida deste grande homem foi uma vida de aventuras e adversidades.
A sua cultura clássica abarcou tanto os poetas latinos como os filósofos gregos. Além destes, Dante e Petraca eram os seus autores predilectos. A Geografia, a História Antiga, tanto dos Romanos e dos Gregos como dos povos da Península Ibérica, a Astronomia e as artes militares, tudo ele conhecia e, mais do que conhecia, tinha sempre presente, pois afigura-se quase certo que as paráfrases de versos latinos escritos na Ásia e na África foram feitas de momória. É pouco provável que os preciosos livros da época andassem na bagagem de Camões, que, apesar da nobreza da sua família, foi um pobre soldado endividado, tendo permanecido dezassete anos afastado da Pátria.

Mas a vida de Luís de Camões não foi só o estudo. Em Coimbra, quando contava menos de vinte anos, misturava já os prazeres do espírito com os do corpo. Autores portugueses afirmam que o poeta aprendeu nessa época a arte de conquistar os corações femininos, tornando-se ainda mais invejado pelos fidalgos que, apesar de terem fortuna, não conseguiam o seu êxito junto das belas damas da nobreza.

Depois de ter frequentado durante curto tempo a corte de D. João 111, partiu para em 1547 para Ceuta, onde ali perdeu seu olho direitos numa escaramuça com os árabes.

Três anos depois, regressou a Portugal, onde teve vários duelos e rixas, numa delas feriu gravemente um servidor do Paço Real. Custou-lhe isto um ano de prisão, durante o qual compôs o primeiro canto dos Lusíadas.

As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia lusitana,
Por mares nunca dantes navegados,
Passaram ainda além da Toprobana,
E em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

E também as memórias gloriosas
Daqueles reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando;
E aqueles que por obras valerosas
Se vão de lei da Morte libertando

- Cantando espalharei por toda a parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.


Em 1553, segue para Goa, na armada de Fernão Álvares Cabral (filho de Pedro Álvares Cabral) e ai toma parte em várias expedições militares, batendo-se como sempre, valentemente. Da Índia vai para Macau, onde escreve mais de seis cantos do poema. Aí foi nomeado para o cargo de Provedor-Mor dos defuntos e Ausentes em Macau, e antes de entrar no exercício das suas funções, Luís de Camões participou em várias campanhas militares: atacou beduínos na Arábia, tomou parte em batalhas contra nativos que combatiam os portugueses, esteve em expedições no Vietname e em Malaca, actividades que soube descrever no seu poema, tirando delas conclusões que ainda hoje continuam válidas:

A disciplina militar prestante
Não se aprende, Senhor, na fantasia,
Sonhando, imaginando ou estudando,
Senão vendo, tratando e pelejando

É chamado a Goa. Naufraga na costa do Camboja, junto à foz do rio Mekong e salva-se, nadando com um braço e erguendo o outro acima das vagas, o manuscrito dos Lusíadas. Chegado a Goa, sofre acusações caluniosas e é preso novamente.

Em Goa, Luís de Camões convidou cinco nobres portugueses para um banquete em sua casa. Estes ficaram surpreendidos por lhes serem apresentados pratos cheios de folhas manuscritas de poesia, em vez de iguarias que esperavam. O Poeta e nobre soldado, com humor e uma nota de tristeza, anunciou-lhes o seu deplorável estado de finanças:

Se não quereis padecer
Uma ou duas horas tristes,
Sabeis que haveis de fazer ?
Volveros por dó veniste,
Que aqui não há que comer ...

A muito custo consegue justificar-se, recuperando a liberdade, mas ainda passa por grandes trabalhos e baldões, ante de iniciar o regresso a Portugal.

De um capitão de uma nau conseguiu passagem gratuita até Moçambique, onde esperava encontrar a protecção de um amigo. Porém, as suas esperanças frustraram-se e a situação tornou-se-lhe catastrófica. Quem o encontro nessas tristes circunstâncias foi o historiador Diogo do Couto, que faz referências ao caso nas suas “Décadas da Índia”: “Em Moçambique achamos aquele Príncipe dos Poetas, Luís de Camões, tão pobre que comia de amigos, e, para se embarcar para o Reino, lhe juntámos toda a roupa que houve mister, e não faltou quem lhe desse de comer. E aquele Inverno que esteve em Moçambique, acabando de aperfeiçoar as suas Lusíadas para as imprimir, foi escrevendo muito em um livro, que intitulava Parnaso de Luís de Camões, livro de muita erudição, doutrina e filosofia, o qual lhe furtaram. E nunca pude saber, no Reino, dele, por muito que inquiri. E foi um furto notável”.

Camões voltou a Lisboa com Diogo do Couto, chegando por ocasião da grande peste que dizimou a população (1568 / 1569). Aí, teve conhecimento de que uma das suas grandes amadas havia morrido cedo, com vinte cinco anos, quando ele ainda estava em Macau. Assim, escreveu Camões, provavelmente em memória de D. Catarina de Ataíde:

Perfeita formosura em terra idade
Qual flor que antecipada foi colhida
Murchada está da mão da morte dura

Em 1572, sai a primeira edição dos Lusíadas, tendo o rei D. Sebastião lhe concedido uma tença anual de quinze mil reis.

Os últimos tempos da vida de Camões, foram amargurados pelas enfermidades e pela miséria. Um escravo de nome Jau, que trouxera de Goa, salvou-o de morrer de fome, pois segundo reza tradição, todas as noites ia esmolar para ele, pelas ruas de Lisboa. Em 10 de Junho de 1580, expirou numa miserável enxerga, dentro de uma barraca de madeira, para os lados do Campo Santana. Foi um dos maiores poetas que a humanidade teve, e que era ao mesmo tempo notável homem de ciência em História, em Geografia, em Humanidades Clássicas e em Literatura Geral.

O seu poema espelha a alma portuguesa com a sua feição sonhadora e amorosa, o seu entusiasmo, o seu espírito de aventura, o seu belicoso ardor.

Camões criou um estilo seu, enriquecendo a Língua Portuguesa do seu tempo com formas elegantes e originais, que ainda hoje são admiradas e estudadas.

Para servir-vos, braço às armas feito;
Para cantar-vos, mente às Musas dada;
Só me falece ser a vós aceito,
De quem virtude deve ser prezada.
Se me isto é céu concede, e o vosso peito
Digna empresa tomar de ser cantada
- Como a pressaga mente vaticina,
Olhando a vossa inclinação divina -,

O fazendo que, mais que a de Medusa,
A vista vossa tema o monte Atlante,
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante,
A minha já estimada e leda Musa
Fico que em todo o mundo de vós cante,
De sorte que Alexandre em vós se veja,
Sem à dita de Aquiles ter enveja.

Fonte:
Trabalho e Pesquisa de Carlos Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
http://www.caestamosnos.org/Pesquisas_Carlos_Leite_Ribeiro/Dia_de_Camoes.html

Luis Vaz de Camões (Soneto)

Amor é um fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
é um andar solitário entre a gente;
é nunca contentar se de contente;
é um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
é servir a quem vence, o vencedor;
é ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Fonte:
Luis Vaz de Camões. Sonetos e Redondilhas. Ediouro.
http://www.sonetos.com.br/