terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Artur de Azevedo (Conto: História de um Soneto)

Antes de entrar definitivamente na vida prática, Ludgero Baptista, hoje um dos nossos industriais de polpa, fazia versos. Eram rimas inofensivas; entretanto, um dos seus sonetos - um, pelo menos - foi escrito com más tenções, e, se alguma desculpa tem o poeta, deve-a unicamente aos seus vinte e três anos, idade em que o homem não sabe medir bem as conseqüências dos seus atos... nem dos seus versos.

Havia naquele tempo, como ainda as há, e em maior número, talvez, uma senhora casada, por nome Laura Rosa, um nome de flor, a qual se comprazia em arrastar atrás de si uma chusma de corações masculinos, e cuja formosura fazia sensação em toda a parte aonde a levava o marido, um tal comendador Rosa, muito dado a festas e espetáculos.

Ludgero encontrou-a um dia no Jockey Club, e aconteceu-lhe o mesmo que a todos os rapazes do seu gênero: enamorou-se dela. Dali por diante não perdia corrida de cavalos em que Laura Rosa estivesse, e, ou fosse que realmente os olhos da formosa dama lhe prometessem mais do que deviam, ou fosse natural filáucia de namorado jovem, ele considerou-se autorizado a empregar algumas diligências, a fim de que os seus amores saíssem do período ingrato do platonismo, e entrassem numa situação mais positiva.

Para isso, recorreu à musa, que não abandona o poeta nessas emergências exóticas, e escreveu o soneto em questão. Era nada mais nem menos que uma injúria, até certo ponto atenuada pela rima e pelo metro; mas, como se sabe, os fazedores de versos tiveram, em todos os tempos, o privilégio de insultar as senhoras, sem que a moral pública os responsabilizasse por isso.

Eis aqui o soneto, que se intitulava:

SÚPLICA

Desde o dia feliz em que, pasmado,
Pela primeira vez te vi, senhora,
Um sentimento no meu peito mora
Feito de angústia e feito de pecado.

Não creias que ninguém houvesse amado
Tão loucamente como eu te amo agora,
Nem mesmo, oh! linda Laura, no de outrora
Cavalheiresco tempo celebrado!

Para que finde o meu suplício airoso,
Ou me concede o mendigado beijo,
Este martírio transformado em gozo,

Ou revela ao teu dono o meu desejo:
Talvez ele me faça venturoso,
Dando-me a doce morte, enfim, que almejo!
Ludgero Baptista assinou esse desaforo com as iniciais do seu nome, L.B., e publicou-o na revista literária Nova Aurora, órgão especial dos "novos" daquela época.

Publicado o soneto, mandou o poeta entregar um número do periódico à "linda Laura", procurando, naturalmente, ocasião em que o comendador Rosa não estava em casa, e tendo o cuidado de chamar, com um traço de lápis vermelho, a atenção da moça para os versos em que tão indiscretamente ia envolvido o nome dela.

Não sei qual foi o resultado obtido por Ludgero, nem isso importa à narrativa; creio, entretanto, que a súplica não foi atendida: nem Laura Rosa lhe deu aquele "mendigado beijo", que era um eufemismo bandalho, nem disse nada ao seu dono, e ainda bem, porque se o poeta não logrou a ventura que almejava, também não perdeu a vida, que aproveitou mais tarde, nem mesmo apanhou a sova que merecia.

O caso é que o nosso homem tomou juízo, e abriu mão de todas as suas veleidades poéticas, para cuidar de coisas mais sérias e mais úteis.

A fortuna sorriu-lhe. Aos trinta anos, estava ele senhor de algumas centenas de contos de réis, e aos trinta e sete principiou a sentir, pela primeira vez, necessidade de constituir família.

Isso coincidiu com o encontrar, em casa de uma família de amigos, a interessante Blandina, moça pobre, que realizava perfeitamente o seu ideal, quer no moral, quer no físico.

Blandina contava apenas vinte e três primaveras, justamente a idade que ele tinha quando escrevera a "Súplica"; mas, não obstante essa diferença de quatorze anos, o casamento não lhes pareceu desproporcionado: queriam-se deveras.

Ela talvez fosse um pouco romântica, cheia de mistérios e devaneios, sequiosa do imprevisto e do ignorado; mas esse defeito, se o era, não repugnava ao que em Ludgero ficara do sonhador de outrora.

Casaram-se.

Casaram-se, e foram excepcionalmente felizes durante os dez primeiros anos; mas passado esse tempo, ele que estava às portas do semicentenário e poderia passar por mais velho, ao passo que ela não parecia ter ainda os seus trinta e três, julgou que sua mulher já não o amava como dantes...

Perdi o encanto - disse ele aos seus botões - tenho agora os cabelos grisalhos, engordei muito, sofro de reumatismo, e Blandina conserva a mocidade, a beleza e a elegância que tinha na ocasião do nosso primeiro encontro... O nosso enlace não era, mas tornou-se desigual... Para sermos felizes até a morte, fora preciso que envelhecêssemos juntos, como Filêmon e Báucis...

Efetivamente, Blandina, que, durante os primeiros dez anos de casada nunca reparou que seu marido ressonava alto, não o podia agora suportar, queixando-se de não poder dormir ao som de um rabecão. Ao mesmo tempo deixava-se absorver, horas esquecidas, em longas cismas, e suspirava de instante a instante, como se alguma coisa lhe faltasse...

Ludgero inquietou-se, e começou a observar com olhos ciumentos o que se passava em torno de si. Não lhe tardou perceber que a sua casa era constantemente rondada por um rapazola, que poderia ser seu filho e, mesmo, filho de sua mulher. De uma feita, deu com ele à esquina entregando uma carta à cozinheira; escondeu-se, entrou em casa de mansinho, sem ser visto, e interceptou a missiva no momento preciso em que esta passava das mãos da intermediária para as de sua mulher.

Ludgero tomou a mão de Blandina, que tremia como varas verdes, e levou-a para o interior do seu gabinete.

- Quem é aquele sujeitinho que te mandou esta carta?

- Não sei - respondeu ela, e desatou a chorar.

- Por que choras?

- Choro, porque não tenho culpa. Não sei quem me escreveu... Desconfio de um mocinho impertinente que costuma passar por aqui e me cumprimenta com um sorriso muito amável quando me vê à janela... Juro-te que eu devolvia essa carta sem abrir!...

- Abro-a eu! - disse Ludgero, engasgado pela comoção - e rasgou o invólucro. Estava dentro um soneto, escrito em papel ridículo, cercado de florinhas e rendilhado nos cantos.

Ao ler o primeiro verso,

Desde o dia feliz em que, pasmado,

o marido reconheceu logo o seu velho soneto, que tinha sido copiado, palavra por palavra, sofrendo apenas uma alteração no segundo quarteto: o nome de "Laura" fora substituído pelo de "Blandina", o que, aliás, desfigurava o verso, evidenciando que o copista era inteiramente hóspede em metrificação.

Ludgero deu uma gargalhada.

- De que te ris?... Que há que te faça rir? - perguntou Blandina.

- Ri-me, porque o teu infeliz namorado te mandou um soneto que não é dele, e sim meu!

- Teu?

- Sim! A coincidência é notável... Vais ver!

Ludgero abriu uma gaveta, e tirou de dentro dela o número amarelado da Nova Aurora, em que vinha estampada a sua "Súplica".

- Aqui tens! Olha! Compara! Está assinado com as minhas iniciais!

- Tu fazias versos?

- Fazia-os, e ainda os farei, se quiser - tanto assim, que vou escrever outro soneto em resposta a este, e hás de tu copiá-lo com tua letra, e eu mesmo o entregarei ao tal mocinho.

- Está dito!

A prontidão com que Blandina proferiu esse "está dito" foi a melhor prova que Ludgero teve de que poderia continuar a conservá-la junto de si. O mesmo não sucedeu à cozinheira, que foi posta na rua.

No dia seguinte estava escrita a resposta. Blandina copiou-a, e, na mesma tarde, quando o rapazola, parado à esquina, interrogava as janelas, Ludgero aproximou-se dele, e disse-lhe:

- Jovem, aqui tem a resposta de minha mulher ao seu soneto. Espero que, depois de lê-la, o meu amiguinho não me rondará mais a porta; mas, se continuar, previno-o de que o mato a bengaladas!...

O rapazola fugiu, e não consta que reaparecesse no bairro. Foi esta a:

RESPOSTA

Para satisfazer ao seu pedido,
Na parte da denúncia e não do beijo,
Revelei a meu dono o seu desejo.
Os versos entreguei a meu marido.

Este em vez de ficar enfurecido,
E de agarrar um ferro malfazejo,
Tomou a coisa à conta de gracejo,
E pôs-se a rir como um perdido!

Pois se é ele o autor do tal soneto!
O senhor copiou-o da Nova Aurora,
Estragando-lhe apenas um quarteto...

Ele, que a Musa já mandou embora,
Cede-lhe os versos (discrição prometo),
Mas não quer sociedade na senhora.

Blandina Baptista
Blandina leu todos os versos antigos de seu marido, e perdoou-lhe os cabelos grisalhos, o abdômen, o reumatismo e, até, o ressonar alto: adora-o.

Ludgero descobriu que o rapazola era filho de Laura Rosa; provavelmente, encontrou o soneto entre os papéis da mãe, que já não existia...

O ex-poeta viu em tudo isso uma espécie de punição, e, como tem os seus momentos de filosofia barata, pensa muitas vezes que um homem pode ser ferido, mais dia menos dia, pela própria arma que forja com intenção maligna, mesmo quando essa arma seja simplesmente um mau soneto.

Artur Azevedo. Contos. Ed. Escala. Col. Grandes Obras.
http://www.sonetos.com.br/hdus.php

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Sidónio Muralha (1920 - 1982)


Quando Tudo Aconteceu...

– 1920: Em 28 de Julho, Sidónio Muralha nasce na Madragoa, Lisboa, filho do jornalista socialista Pedro Muralha.
– 1941: Publica BECO, poesia político-social.
– 1942: Com a chancela do “Novo Cancioneiro”, publica PASSAGEM DE NÍVEL, outros poemas de intervenção
– 1943: Desembarca no Congo Belga, em exílio voluntário. Ali chegará a ser diretor geral da Unilever Internacional (SM estudara Ciências Econômicas e Financeiras em Lisboa e, mais tarde, estudará Administração de Empresas na Universidade de Louvain, na Bélgica).
– 1944: Casa, por procuração (ela em Portugal, ele no Congo) com Maria Fernanda d’Almeida. O casal terá quatro filhos: Alexandre, José Ricardo, Beatriz e Mário Jorge.
– 1950: Durante umas férias em Portugal, SM promove a edição de COMPANHEIRA DOS HOMENS, novos poemas político-sociais; e também do seu primeiro livro de poemas para crianças: BICHOS, BICHINHOS E BICHAROCOS.
– 1960: Pressionados pela efervescência política, os Muralha se afastam do Congo e, durante dois anos, irão morar em Bruxelas. Neste período, contratado pela Unilever, SM viaja constantemente pelo mundo, prestando assessoria econômica a mercados financeiros. Estagia e trabalha em Bofatá, Guiné-Bissau, Ostende, Dakar, Londres e Paris.
– 1961: SM chega sozinho ao Brasil (a família virá mais tarde). Em São Paulo, com o escritor Fernando Correia da Silva e o pintor Fernando Lemos (ambos portugueses) funda a Editora Giroflé, que irá revolucionar e criar um novo padrão para as publicações dirigidas às crianças. Apoio integral de intelectuais e artistas brasileiros, sucesso de crítica e fracasso de bilheteria.
– 1962: A TELEVISÃO DA BICHARADA, poemas para crianças, chancela Giroflé, recebe o I Prêmio da Bienal do Livro de São Paulo. Entretanto, SM continua trabalhando para a Unilever no Brasil, prestando assessorias financeiras, proferindo conferências pelo país todo. Sempre bem sucedido.
– 1963: SM publica OS OLHOS DAS CRIANÇAS.
– 1974: Ao embarcar para visitar o Portugal libertado, SM declara: “Voltar não voltarei. Sempre lá estive.”
– 1976: SM recebe o “Prêmio Meio Ambiente na Literatura Infantil” pelo seu livro VALÉRIA E A VIDA.
– 1978: Falecimento de Maria Fernanda d’Almeida Muralha.
– 1979: SM recebe o “Prémio Portugal 79 – Livro para Crianças” pelo seu HELENA E A COTOVIA. Casa com a médica obstetra Dra. Helen Butler, com quem passa a viver em Curitiba.
– 1982: A 8 de dezembro falece em Curitiba, Paraná, Brasil. Sidónio Muralha foi um dos precursores do neo-realismo português com BECO (1941). Publicou 21 livros em prosa (contos, um romance, ensaio e depoimento) e versos para adultos e 15 para crianças, por editoras portuguesas e brasileiras. É considerado um dos melhores poetas para crianças em língua portuguesa.

Aventuras Venturosas

Perseguido pela polícia política salazarista, resolveu embarcar com Alexandre Cabral para o Congo Belga. Como não falavam francês, contrataram uma professora com quem treinaram arduamente uma conversa-padrão até decorarem todas as respostas, sem se preocuparem em entender as perguntas... Com evidente surpresa, conseguiram o emprego.

Sidónio era campeão de pingue-pongue e durante a longa viagem marítima, mobilizou os passageiros para investirem em apostas na sua performance com a saltitante bolinha branca. Vitorioso nas disputas conseguiu algum dinheiro que o ajudou a se manter nos primeiros e difíceis tempos de África.

Ele mesmo conta, do seu jeito saboroso, suas primeiras experiências africanas e o desenrolar destas aventuras de exílio:

Quando fui para o Congo, depois de uma conferência de Bento de Jesus Caraça, acompanhado de Alexandre Cabral e perseguidos pela polícia política, conseguimos um emprego, graças ao Soeiro Pereira Gomes (Soeiro Pereira Gomes, que também trabalhou e viveu em África, escreveu um romance notável, ESTEIROS, na beira-Tejo os meninos sem infância. Morreu, de mal incurável, durante a clandestinidade antifascista, solidão.), nosso querido camarada e amigo, na Unilever Internacional (quarto trust mundial, ironia do destino). Fui nomeado gerente de uma loja em Bukavu. Um dia, de repente, apareceu de “Cadillac” um indivíduo chamado Charles Jacquemart, o qual me perguntou que fazia eu ali como gerente, pois, como português, eu deveria estar atrás do balcão, a pesar cebola e batata e a cortar presunto. Pensei esmurrá-lo, mas isso colocar-me-ia na situação de ter de regressar a Portugal, de onde, depois, o Salazar nunca me deixaria sair. E decidi ir cortar presunto. Foram tempos difíceis e dolorosos. Então, prometi a mim mesmo arrebatar o lugar a esse diretor-geral que me havia ofendido. Segui cursos de especialização e freqüentava a Universidade de Lovaina, sempre que ia de férias. Galguei setecentos e vinte lugares e, sete anos depois, estava ao lado desse diretor-geral, como diretor comercial. Quando ele foi de férias escrevi um relatório sobre as suas atitudes desumanas, em relação ao pessoal, e acerca das inúmeras irregularidades cometidas. De Londres, recebi uma carta a nomear-me diretor-geral. Lembrei, mais tarde, a esse indivíduo que os portugueses eram para ser arremessados atrás dos balcões e ordenei-lhe que saísse imediatamente.

Escolhi o Brasil, sobretudo por causa da língua. Mas não acredito na existência de coisa mais trágica que o exílio.”


Entre as altas finanças, a administração exigente e a poesia chamante, viveu sempre de modo intenso e contrastante. Pulou, na mesma semana, da floresta úmida para alguma metrópole sofisticada. Voou entre a África e a Europa conseguindo pernoitar e produzir, em alguns dias intervalados, na selva e Paris, em Bruxelas ou em alguma aldeola perdida. Nunca perto da repetitiva monotonia...

Certa vez contou que fez: “em oito meses oitenta e oito mil quilômetros de avião e vinte e sete mil de estradas” supervisionando várias equipes por todo o Brasil. Dizia e repetia enfaticamente: “A disciplina, a economia de meios, o ordenar as idéias e emoções de maneira harmoniosa e ao mesmo tempo direta, confundem por vezes no meu espírito poesia e organização. Existe em organização uma necessidade de criatividade e de pesquisa que não é incompatível com a poesia. As duas podem ajudar a salvar o mundo».

Viveu intensamente. Viajou incansavelmente. Organizou obsessivamente. Poetou constantemente .

Megafone no Beco

Com pouco mais de 20 anos, em 1941, Sidónio Muralha publicou seu primeiro livro - BECO - reunindo poemas de protesto social, de indignação com a ditadura salazarista, incorporando-se ao neo-realismo que então se iniciava e congregava poetas que ainda nem se conheciam, mas que bradavam - isolada e convictamente - pela justiça.

Em 1942, veio PASSAGEM DE NÍVEL e em 1950 COMPANHEIRA DOS HOMENS, mantendo a sublinhação denunciante das injustiças, soltando gritos raivosos com o descaso com os pobres, os velhos, os negros, as mulheres. Odes indignadas e loas compassivas a todos os marginalizados.

Luís Carlos, jornalista aposentado, comunista de carteirinha, se comove todas às vezes que relê algum destes poemas. Tem todos estes livros (e mais os outros que nunca foram mui divulgados e conhecidos...) em sua estante e em noites de insônia leva algum deles para a sua cabeceira. Então, lê- meditativamente- até a aurora se anunciar ou o sono chegar e o derrubar.

Maria Lúcia, professora liberal e liberada, não segura seu espanto com a estereotipia gritona e gritante dos versos e imagens. Leu por exigência escolar, fez a prova, declarou clara e explicitamente a sua opinião e foi reprovada. No ano seguinte releu os mesmos livros, elogiou no exame engolindo a sem-gracice e conseguiu a nota almejada. Às vezes, apanha um volume na biblioteca pública, folheia, se detém aqui ou ali e se pergunta o que Saramago ou o Álvaro Cunhal realmente diriam...

Sidónio Muralha fez várias profissões de fé. Uma delas: “Escrever é participar.”

Mais maduro, em 1963 publicou OS OLHOS DAS CRIANÇAS, 25 poemas embalados em requintado projeto gráfico. Neles se depara com a tristeza infinda pela solidão e miséria das crianças espalhadas pelo mundo. Desfilam garotos esfarrapados carregando o silêncio, despertando mal-estares em “implacáveis paisagens” . Flashes líricos e nostálgicos se mesclam com crianças indesejadas que “fustigam o rosto da cidade.”

O jornalista Luís Carlos copiou com tinta preta e letras imensas os versos que mais lhe tocaram deste livro e dependurou sobre a sua escrivaninha para se recordar sempre da premência do que deve fazer:

Olham os poetas as crianças das vielas
mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas
o que elas pedem é que gritemos por elas
as crianças sem livros sem ternura sem janelas
as crianças dos versos que são como pedradas
.”

A professora Maria Lúcia se debruçou na janela e cantarolou uma cantiga de antigamente. Lúdica, brincante, risonha. Depois, mansamente caminhou até à sua estante, vasculhou e encontrou o que desejava ler naquela exato momento. Se enroscou na poltrona aveludada e mergulhou nos sonetos de Florbela Espanca...

Quase uma década depois, em 1972, Sidónio publicou O PÁSSARO FERIDO, reunindo muitos poemas e poucas crônicas. Neste pequeno volume, vagueia pelas saudades e reconhecimentos: dele mesmo, de cidades, amigos. Adentra por espantos jubilosos: “Não tenho tempo para ter idade.”, por ternuras contidas, usa de demolidora ironia com heróis pouco heróicos, ousa novas buscas.

No pórtico se lê outra profissão de fé: “Nasci homem, antes de ser poeta. Minha poesia nunca trairá os homens, meus companheiros. Se eles sofrem, ela, que faz parte de mim, sofre com eles e tem movimentos de fúria e de raiva como os bichos encurralados.”

Pela primeira vez, o velho jornalista e a jovem professora que nem se conheciam, concordaram.

Só Sabia o Sabiá

Sidónio cocoricou e começou a poetar para crianças. Em 1950 publicou BICHOS, BICHINHOS E BICHAROCOS uma coletânea divertida, onde se acriança, espanta, brinca, busca aliterações, segue brigas, surpreende. Verseja breve ou se estende por poemas compostos por várias estrofes, sem temer que a criança-leitora desista de chegar ao longínquo final...

Certa vez, perguntado, respondeu: “ Sempre me interessei pelas crianças e dou tudo o que de melhor para dar quando escrevo para elas...Quando escrevo, vejo desfilar imagens da infância que gostaria de ter tido mas não tive, porque custava muito caro. Quero entregar às crianças de hoje o que gostaria de ter recebido. Se não lhes dou mais e melhor é porque não sei. É tudo.”

Audaciou, criou, brincou. Em A TELEVISÃO DA BICHARADA, de 1962 - sem dúvida seu melhor livro - desconserta com os inesperados risonhos:
Boa Noite.
A zebra quis
ir passear
mas a infeliz
foi para a cama
- teve que se deitar
porque estava de pijama.


quebra os preconceitos, aplaude a miscigenação (tão ao gosto luso), se encanta com o novo resultado:

Se é branca a gata gatinha
e é preto o gato gatão
como é que são os gatinhos?
- os gatinhos eles são,
são todos aos quadradinhos
.”

produz o puro deleite ao narrar a oferenda, um lenço colorido, que a girafa deu ao seu marido:

Que alegria!
- disse o marido -
ponha a pata
nesta pata,
com um pescoço
tão comprido
você não podia
ter-me comprado
uma gravata
.”

Sempre humorado, abençoadamente politicamente incorreto nestes momentos criançais, ludicamente conta a conversa entre dois tatus gagos, descreve a imensidão do elefante ou o encantamento vaidoso do cardeal ao ver sua própria imagem espelhada... Não é conivente com as mentiranças natalinas e jocosamente adentra pelo sotaque espanhol dum peru nascido no Peru, cujo destino fatal é conclusivo: “se não houvesse Natais, haveria perus a mais.”

Nestes poemas, irresistível é o ritmo chamante, bailante, sensual, convidativo para os olhos se debruçarem na leitura e os pés e as mãos marcarem os pontos de parada e de andada.

A floresta
acordada
pela madrugada
de um dia
de festa
abria
a saia rodada


ou

partiu do canteiro
e o marinheiro
partiu,
partiu o navio,
partiu o marinheiro
.”

O velho jornalista Luís Carlos vagueou seguindo seu cigarro aceso, espiralou a fumaça e quis que ela também lhe trouxesse a suave boniteza reencontrada:

- mas do cachimbo saíram a voar
um colibri,
dois colibris
três colibris
.”

A jovem professora Maria Lúcia festejou a alegria e a poesia descobertas naquele doce e ocasional momento e dizendo pela primeira vez:
Era um sábio o sabiá.”

sabendo que assim falava do sabiá Sidónio Muralha, que até então tão mal conhecia e tão pouco sabia...

Em A DANÇA DOS PICAPAUS, lançado em 1976, Sidónio continua encantando e provocando, num jogo inusitado entre vários bicharocos , respostas inusitadas da criança-leitora. Propondo que ela faça a prova dos nove se acreditar que a onça é um gato crescido, lendo anúncios chorosos de quem enfrentou agruras dolorosas:
Urso procura mel
que não tenha abelhas
”.

chamando para o movimento contínuo ao se deixar levar pela irresistível sonoridade:
Quebra-se o ovo da rola
sai uma rola do ovo
que bota um ovo de rola
e tudo começa de novo.


VOA, PÁSSARO, VOA, lançado em 1978, é a edição portuguesa destes dois deliciosos livros poemais publicados no Brasil. Reúne as 16 poesias da TELEVISÃO DA BICHARADA , outras 10 da DANÇA DOS PICAPAUS e agrega dois inéditos... FILM EN COULEUR, de 1981, também reimprime poemas da TELEVISÃO DA BICHARADA e alguns outros pedindo tradução urgente para as crianças que - ainda - só lêem em português.

Importante é assinalar que o parceiro visual, o ilustrador e programador gráfico mais constante do poeta Sidónio foi o artista plástico Fernando Lemos, também nascido nas terras lusitanas.

Em 1981, saiu a ciranda lírica TODAS AS CRIANÇAS DO MUNDO e em 1983 O ROUXINOL E SUA NAMORADA onde- entre namoricos passarinhais e de outros bicharocos, se estende a ternura, a procura da liberdade e se reencontra, espalhados pelas páginas, os trocadilhos divertidos, as aliterações inventivas, o ritmo chamante.

A professora Maria Lúcia sentiu subir a indignação. Se perguntou e não conseguiu se responder porque seus professores, quando ela era ainda uma criança, não leram os poemas infantis de Sidónio Muralha para ela e seus colegas. Teria sorrido, se surpreendido, se espantado, se divertido. Teria simplesmente adorado! Teria se iniciado antes nas delícias da poesia... Festejou o que agora sabia. Sabia o que leria para seus alunos, logo amanhã.

mas onde estava a alegria
mas onde estava a poesia
só sabia
o sabiá.
(...)
- era um sábio o sabiá
.”

Sidónio Muralha foi vanguarda na forma de versejar para crianças. Inventou, brincou, inovou, deleitou. E permanece ocupando um dos primeiros lugares entre os que melhor escreveram poesia infantil, em língua portuguesa, no século 20.

Perdido na Prosa Emperrada

Sidónio Muralha também se dirigiu às crianças pelas veredas da prosa e narrou nove histórias, editadas em Portugal ou no Brasil.

O jornalista Luís Carlos conta - sempre emocionado - aos seus netos O COMPANHEIRO e A AMIZADE BATE À PORTA (ambos de 1975) e CATARINA DE TODOS NÓS (de 1979). Relembra seu próprio fervor quando da Revolução de Abril, faz sua voz ressoar mais forte e firme ao ressaltar o discurso político, os males da colonização, a bravura da camponesa anti-racista.

A professora Maria Lúcia não disfarça sua irritação com o dogmatismo, o maniqueísmo, a discurseira político-ensinante destas histórias. Procura a poesia solta e sábia e só encontra a prosa travada.

Luís Carlos considera fundamental o eixo de VALÉRIA E A VIDA (1976), um brado contra a poluição nefasta. Não duvida, na firmeza de sua crença convicta: tem que se conscientar as crianças. Nada é mais importante num livro que se quer e se pretende livro! Maria Lúcia se espantou com a quantidade de frases feitas que encontrou nestas páginas, com a ausência de sabor, de vitalidade...Se disse: ”decididamente não sou adepta duma história que se encolhe e se estreita para dar passagem ao recado-da- participação. Quero literatura, não manifestos. Para mim e para meus alunos.”

Em SETE CAVALOS NA BERLINDA (1977), Maria Lúcia volteou surpreendida. Nas primeiras páginas soltura e leveza, seguidas dum sensível lirismo...Logo empacou. O texto não a fez cavalgar, galopar, nem trotar como os cavalos. Olhou ressabiada, dispensou a carruagem e pegou um poético e colorido bonde que por ali passava e que prometia lhe fazer chegar num lugar cheiinho de gostosuras e belezuras. Encheu-se de saborosas expectativas...

Luís Carlos guarda há anos, com especial desvelo HELENA E A COTOVIA (1979). Sente-se comovido com os vôos libertadores dos pássaros. Encolhe-se na sua cinzenta poltrona e relembra quantas vezes se deparou com estas imagens...Não, não se importa com a obviedade, com o moralismo explícito, nem com os imensos e intermináveis parágrafos. Persiste na sua insistência convicta: seus netos e todas as crianças-leitoras-do-mundo ainda vão entender a amplitude da libertação dos pássaros e de todas as espécies aprisionadas... Fechou o colarinho impecavelmente branco e refez o nó da gravata.

Sidónio, uma vez perguntado, respondeu o que o levava a escrever para este público: “É importante escrever para as crianças e os jovens como um corredor de estafetas que passa o testemunho, para outros prosseguirem, e depois sai do campo, apaga-se, desaparece, leva com ele a certeza do dever comprido.” Ele optou pela tarefa, não pelo deleite provocativo que a literatura pode trazer.

Publicou ainda OS TRÊS CACHIMBOS, um croquis promissor dum texto não finalizado, o divertido O TREM CHEGOU ATRASADO e um ambíguo A REVOLTA DOS GUARDAS CHUVAS, onde se debate entre o non-sense e a chamada ensinante sobre os males da tirania, sem se resolver sobre o tom buscante.

Sidónio declarou certa feita: “Tanto a prosa como o verso para crianças têm que ter ritmo, têm que saber sentido de humor, têm que saber brincar, encaixar as frases umas nas outras, têm que despertar na criança o desejo criativo”.

A professora Maria Lúcia embasbacou quando leu esta resposta. Empalideceu, enraivou. Achou todos estes elementos na poesia do sabiá poeta. Não na sua prosa. Em alguns momentos encontrou um esboço de humor, de non-sense divertido e soltamente brincante, mas sempre apegado a um pano de fundo politizante. Não sentiu as frases encaixadas, escorrendo deslizantemente pelas páginas impressas. Leu um texto sem fluidez, sem envolvência. Não se seduziu, não embarcou e muito menos se viu com seus ímpetos criativos atonados e aflorados. Encontrou personagens apenas esboçados e o prosador preso, sem voar como já tinha mostrado que podia e sabia em seus encantados poemas.

O jornalista Luís Carlos perplexou. Gostou sempre destas histórias, exatamente porque não cediam às brincadeiras bobas e alienantes e ressaltavam a seriedade dos assuntos focados. Fosse a luta antifascista ou a antipoluição, a solução era sempre libertária. Mais do que demonstrados, muito bem provados. Estes eram os temas certos para se falar com as crianças, se repetiu. Gostou porque os personagens não se debatiam em conflitos ou impasses, tão ao gosto dos moderninhos sem compromissos com a luta maior. Gostou sempre porque os personagens não eram maiores do que a história. Gostou sempre, porque a narrativa é simples, clara, caminha numa reta que sabe onde vai chegar. Como todos os homens que lutam por um mundo mais justo! Luís Carlos apanhou vários volumes da prosa escrita por Sidónio e se dirigiu à casa dos netos para viverem, juntos, um entardecer esclarecedor.

A Editora Giroflé

No início dos anos 60, em São Paulo, alguns intelectuais e artistas portugueses capitaneados por Sidónio Muralha, Fernando Correia da Silva e Fernando Lemos, arregimentaram e se cercaram de vários profissionais liberais brasileiros e de exilados portugueses e se reuniram para formatar uma editora absolutamente original: a GIROFLÉ.

Nas pequenas saletas, o clima era de permanente efervescência, febricitação, criatividade impulsionadora e fazedora.

Pela primeira vez, no Brasil, uma editora se dedicava exclusivamente a livros para crianças...E que livros! Ousados no formato retangular, alongado, com um projeto gráfico belo e requintado e belo, papel kraft, capa dura...

Lançaram cinco títulos. Histórias ou poemas escritos por Cecília Meireles, Gerda Brentani, Fernando Correia da Silva, Guilherme de Figueiredo e Sidónio Muralha que por lá editorou o seu maior sucesso e também o maior sucesso da Giroflé: A TELEVISÃO DA BICHARADA (posteriormente relançado por duas outras editoras brasileiras).

Ilustradores do porte de Maria Bonomi e Fernando Lemos, um livro exibindo fotos de Dulce Carneiro no lugar de desenhos, mudava o conceito de ilustração do livro infantil... Inovações em cima de inovações!

O Boletim Pedagógico Giroflé sacudia a cabeça dos professores e pais, propondo questões, levantando novas angulações, ampliando o conceito do que fazer e suscitar nas crianças...Cartões postais reproduzindo desenhos infantis, impressos em impecável qualidade gráfica, embalados em envelopes de design avançado mostravam registros impactantemente coloridos do real olhar da criança. Esteticamente educativos.

A Giroflé buscou o humor, a leveza, o requinte, a formosura. A narrativa bem estruturada, a escrita de qualidade. Trouxe autores e ilustradores que nunca tinham escrito ou desenhado para crianças. Tratou a criança com atento respeito por sua inteligência e percepção atilados. Deslumbrou gentes de todas a idades. Inovou em tudo! Sua ousadia formal e textual (quase 40 anos depois) ainda não foi alcançada por nenhuma outra editora e está longe de ser superada.

Para quem lida com livros infantis, a chegada destes arrojados intelectuais e artistas portugueses, foi mais importante e impulsionante do que a de Cabral com suas caravelas. Trouxeram, efetivamente, a descoberta!

O Sorriso de Sidónio

Sidónio Muralha foi um homem sorridente, gargalhante, certo de suas certezas, entusiasmado, vital, por vezes arrogante. Como acrescentaria o jornalista Luís Carlos brindando com seus amigos: Como ele gostava de mandar as suas pedradas no charco, como a do BECO em 1941, poesia político-social quando a maioria dos poetas, para não sujar as mãos, declamava em esferas metafísicas... Foi a exultação da militância antifascista portuguesa.

E como agregaria a professora Maria Lúcia : Ainda bem que surgiram poetas como ele, que abriram as portas e vielas para que eu pudesse caminhar livre e solta por Lisboa.

Sidónio Muralha foi um enfático, sedutor, arrebanhador de carneiros para se aliarem às suas inadiáveis teimosias, generoso, cobrante, trabalhador, bon-vivant. Um homem dialético.

Escrevia sempre, onde estivesse. Em restaurantes ou aviões, na escrivaninha ou em alguma sala de espera. Apanhava qualquer papelucho disponível, um guardanapo de papel escondido, segurava sua majestática caneta e se punha a versejar. Por puro e irresistível impulso. Raro sair dum jantar, com ele, sem levar - na bolsa - um poeminha divertido, sarcástico e sintetizador do acontecido na noitada.

Sempre foi um correspondente contumaz. Avalanches de cartas para amigos anônimos ou afastados, para escritores famosos, para toda e qualquer criança que com ele quisesse conversar.
Íntegro, solidário, definiu assim a sua rota:

Parar. Parar não paro.
Esquecer. Esquecer não esqueço.
Se carácter custa caro
pago o preço
.”

Pagou!


Fonte
Texto de Fanny Abramovich. http://www.vidaslusofonas.pt/sidonio_muralha.htm

Fanny Abramovich por Fanny Abramovich


Nasci, cresci, estudei, namorei, badalei, trabalhei em São Paulo. Aqui me formei no curso de Pedagogia na Faculdade de Letras da USP. Comecei dando aulas particulares, quando tinha catorze anos. Depois, foram anos como professora de crianças, de jovens, de adultos, de professores. Lecionei pelo Brasil todo, mexendo mais com teatro-educação e criatividade-educação. Mexi com as cabeças, com os corpos, com o autoconhecimento. Curti.

Trabalhei anos como jornalista. Fazendo crítica de livros para crianças, falando do que se produzia para elas usufruírem. Mexi com os monstros sagrados, fiz ver coisas que passavam despercebidas. Adorei. Fiz o mesmo tipo de trabalho na televisão: na Globo e na Cultura. Falava sobre brinquedos, discos, teatro, livros infantis. Foi um barato! Colaborei com vários jornais e revistas.

Dei muita consultoria. Para projectos especialmente bolados para crianças e jovens. Na área do teatro, da literatura, da educação. Palpitei em coleções de livros para crianças e adolescentes. Amei de paixão!

Me iniciei nos mistérios do fazer livros infantis trabalhando, por uns dois anos, como consultora pedagógica da Editora Giroflé.

Circulei por este Brasil inteiro. Fazendo conferências, participando de mesas-redondas, dando cursos. Em grandes capitais ou em cidadezinhas escondidas. Em algumas ficando um dia, em outras três semanas. Foi ótimo!

Escrevi livros para professores. O mais conhecido deles é o Quem educa quem? Fiz antologias que discutiam questões da infância e da adolescência. Cutuquei. O último deles é O professor não duvida? Duvida!. Escrevi um montão de livros para jovens. Os mais conhecidos são Quem manda em mim sou eu, As voltas do meu coração e Que raio de professora sou eu?. Quem leu, curtiu. Maravilha! Tenho também vários livros para crianças publicados. Entre eles Também quero pra mim, Sai para lá dedo-duro e Olhos vermelhos. Adorei escrever cada um deles.

Sempre gostei do que fiz. Também, se não gostava, não fazia. Por isso curti tanto aquilo em que me joguei. E tem valido a pena.

Fonte:
http://www.vidaslusofonas.pt/fanny_abramovitch.htm

Stanislaw Ponte Preta (Cronica: Não sei se você se lembra)

ENTÃO, não sei se você se lembra, nos veio aquela vontade súbita de comer siris. Havia anos que nós não comíamos siris e a vontade surgiu de uma conversa sobre os almoços de antigamente. Lembro-me bem — e não sei se você se lembra — que o primeiro a ter vontade de comer siris fui eu, mas que você aderiu logo a ela, com aquele entusiasmo que lhe é peculiar, sempre que se trata de comida ou de mulher.

Então, não sei se você se lembra, começamos a rememorar os lugares onde se poderia encontrar uma boa batelada de siris, para se comprar, cozinhar num panelão e ficar comendo de mãos meladas, chão cheio de cascas do delicioso crustáceo e mais uma para rebater de vez em quando. E só de pensar nisso a gente deixou pra lá a vontade pura e simples e passou a ter necessidade premente de comer siris.

Então, não sei se você se lembra, telefonamos para o Raimundo, que era o campeão brasileiro de siris e, noutros tempos, dava famosos festivais do apetitoso bicho em sua casa. Ele disse que, aos domingos, perto do Maracanã, havia um botequim que servia siris maravilhosos, ao cair da tarde. Não sei se você se lembra que ele frisou serem aqueles os melhores siris do Rio, como também os únicos em disponibilidade, numa época em que o siri anda vasqueiro e só é vendido naquelas insípidas casquinhas.

Ah... foi uma alegria saber que era domingo e havia siris comíveis e, então, nos dois — não sei se você se lembra — apesar da fome que o uisquinho estava nos dando — resolvemos não almoçar para ficar com mais vontade ainda de comer siris. Passamos incólumes pela refeição, enquanto o resto do pessoal entrava firme num feijão que cheirava a coisa divina do céu dos glutões. O pessoal — aliás — achava que era um exagero nosso, guardar boca para um siri que só comeríamos à tarde, porque podíamos perfeitamente ter preparo estomacal para eles, após o almoço.

Mas — não sei se você se lembra — fomos de uma fidelidade espartana aos siris. Saímos para o futebol com uma fome impressionante e passamos o jogo todo a pensar nos siris que comeríamos ao sair do Maracanã.

Então — não sei se você se lembra — saímos dali como dois monges tibetanos a caminho da redenção e chegamos no tal botequim. Então — não sei se você se lembra — que a gente chegou e o homem do botequim disse que o siri já tinha acabado.

Fonte:
PRETA, Stanislaw Ponte. Garoto Linha Dura. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1964. Disponível em http://www.releituras.com/spontepreta_folga.asp.

Palavras e Expressões Regionais do Amazonas

ABAFAR v. – Apropriar-se do alheio. "O advogado abafou a herança do cliente".
ABANCAR-SE v. – Sentar. "Espere um pouco que ela já vem. Abanque-se, homem!"
ABISCOITAR v. – O mesmo que abafar.
AÇO s.m. – Bebida. "Ele só aparece aqui quando ta cheio do aço".
A COMO? loc. adv. – quanto custa?. "A como tá o tucunaré?" " R$ 10 a enfiada."
AÇU el. comp. – Sufixo de composição com o significado de "grande". Jacaré-açu, cupuaçu.
ADUBAR v. – Bajular com alguma intenção. "Eu não desisto da Rosinha. Continuo adubando".
ALTEAR /altiar/ v. – Aumentar o volume. "Altea aí que não está dando pra ouvir nada".
AGORINHA adv. – Diferentemente do uso no sudeste, agorinha quer dizer "há alguns segundos", referindo-se ao passado e não ao futuro. "Ela estava aqui agorinha, mas sumiu".
ALMENO loc. adv. – Pelo menos. "Tu tens cinco aí. Me dá almeno uma".
ALOPRADO adj. – Exagerado.
AMANCEBADO s.m. - Pessoa solteira que vive maritalmente com outra. "Ela não casou, não. Tá amancebada só".
A PULSO loc. – Obrigado, na marra. "Comendo sem gosto... parece que ta comendo a pulso".
APERREADO adj. - Apressado, muito nervoso, sem saber o que fazer diante de uma situação difícil. "Rapaz, tô aperreado com aquele negócio da dívida".
APOFIAR v. – Apostar. "Vamos apofiar uma corrida até a igreja?"
APRESENTADO adj. – Enxerido, metido a besta. "Deixa de ser apresentado. Quem te deu o direito de me abraçar?"
A PRÓPRIA loc.adj.. A tal, a boa, a melhor. "A Ana Paula comprou um perfume francês e chegou aqui se sentindo a própria".
ARRANCA-TOCO adj. Valentão.
ARRUDEAR v. – Dar a volta. "Ninguém entra pela sala. Quem quiser entrar em casa vai ter que arrudear." "D. Zefa, posso entrar?" "Não, arrudeia"
ASSANHAR v. - Bagunçar, despentear o cabelo. "Pára de assanhar mais meu cabelo. Ele já tá todo assanhado!"
ATÉ O TUCUPI, ATÉ O TALO, ATÉ O TOCO (ou a variação ATÉ O TCHOCO) exp. id. – Até o máximo possível. "Rapá, tô até o toco de trabalho".
ATÉ PARECE... exp.id. – Indica dúvida, incredulidade. "A Priscila vem dormir aqui? Até parece... Ela não dorme fora de casa."
ATENTADO adj. – Muito danado, inquieto. "Esse menino é atentado!"
ATENTAR v. – Perturbar, aperrear.
ATOCHAR v. – Fazer entrar à força, encher demais. "O barco tinha que virar: atocharam mais gente do que cabia".
ATULEIMADO adj. - abestado.
AVALI(E) exp. – Quanto mais. "Se ele namora até mulher feia, avali(e) menina bonita".
AVIAR v. – Apressar. "Avia! Senão tu vais te atrasar!"
BABA-OVO s.m. - puxa-saco. "Esse Mota é o maior baba-ovo que eu conheço!".
BABAU s.m. - 1. O mesmo que SABACU. Punição que um grupo confere a alguém por um malfeito. Todos batem com as mãos, ao mesmo tempo, na cabeça do indivíduo. "Fez besteira. Vai levar um babau por isso!" 2. Prejuízo total, perda irrecuperável de alguma coisa."Pagou serviço adiantado pra marceneiro? Babau, é dinheiro perdido!"
BABITA s.f. Dinheiro, grana. "E aí? Pegou a babita lá?"
BACABA s.f. – Mentira. "O Paulinho Kokay tava lá contando a maior bacaba."
BACABEIRO s.m. – Mentiroso. "O Dudu é um tremendo abacabeiro! Disse que o pai dele é dono da Microsoft".
BAGACEIRA s.f. – Noitada. "Ontem eu fui pra bagaceira e cheguei de madrugada".
BALA (DA VIDA) adj. – fulo, muito chateada. "Sumiu dinheiro da bolsa da mamãe e ela tá bala da vida".
BALDEAR v. – 1. lavar algo usando um balde para transportar a água. "Hélio, vai baldear o pátio antes que teu pai chegue e te dê uma pisa" 2. Vomitar. "Corre, doutor, que o rapaz ta baldeando toda a recepção".
BANHO s.m. – Balneário. "Domingo nós vamos pro banho do Raimundão na rodovia Manaus-Itacoatiara".
BANZEIRO s.m. – Formações semelhantes às ondas do mar que se formam nos rios amazônicos por causa do movimento dos barcos. "Tive muito medo na travessia para Benjamin Constant; o banzeiro quase virou a voadeira"
BARCA s.f. – O povo, todo mundo. "Vai a barca pro show do Reginaldo Rossi hoje"
BATELÃO s.m. – Barco que navega a remo.
BATER CAIXINHA loc. v. – Ajudar alguém a conquistar uma pessoa. "Será que tu podes bater caixinha pra tua irmã? Estou afinzão dela".
BATER FOFO loc. v. - Faltar a um encontro, descumprir algum acordo."Marquei um encontro com a menina e ela bateu fofo. Esperei e nada".
BATORÉ adj. 2 gen. – Baixinho. "Procura por ele lá. O Mauro é um batoré moreno de perna curta".
BEM-MANDADO adj. – Obediente, submisso, disciplinado. "O Zeca é bem-mandado pela mulher dele".
BERADEIRO s.m. - Beiradão, gente do interior.
BIBOCA s.f. – Lugar esquisito, de difícil acesso.
BICHEIRA s.f. – Ferida causada pelo parasitismo de insetos.
BILOTO s.m. – Saliência carnosa, verruga.
BRECHEIRO s.m. - Quem gosta de brechar. Voyeur.
BREGUEÇO s.m. - Objeto imprestável ou de uso duvidoso.
BIQUEIRA s.f. - Próximo, perto de. "De tanta besteira que fez, ela tá na biqueira de ser demitida".
BOBÓ s.m. – pulmão.
BODADO /ó/ s.m. – 1. Com muito sono; cansado. "Cara, vou dormir. Tô bodado!" ; 2. Bêbado. "Leva ele pra casa que ele bebeu todas e ta muito bodado"; 3. Chateado. "Nem vai falar com ele porque ele tá bodado desde de ontem.
BODOZAL s.m. – Bairro pobre, periferia. "Lá no bodozal onde ela mora não tem nem água".
BOI s.m. – Festa realizada em Parintins em que enfrentam-se dois bois, o Garantido (Vermelho) e o Caprichoso (Azul). Em Manaus, nos meses que antecedem o Festival, que acontece em junho, há os ensaios conhecidos como curral do boi.
BOLA s.f. – Rotatória. "Vai direto e, depois da bola, pega a rua do posto".
BONITO PRA TUA CARA! exp. - Usado no sentido de "Tu não tens vergonha do que tu fizeste, não?"
BORA... /ó/ - Vamos. "Bora pra casa?" . "Bora dar uma volta?"
BORA VER... loc. v. – Seja o que Deus quiser. "Rapaz, a gente fez o possível. Bora ver..."
BORIMBORA interj. – Vamos embora. "A gente não tem mais nada a fazer aqui. Borimbora!"
BRECHAR v. – Olhar pela brecha, espionar. "Quando eu era pequeno, eu costumava brechar as empregadas lá de casa tomando banho".
BREAR v. – Colar. "Quebrou o vaso... agora tem que brear antes da mamãe chegar".
BRIBA s.f. - Pequena lagartixa caseira. Provavelmente corruptela de víbora.
BROCADO adj. - Pessoa com fome. "Mano, tô brocado! Vamos comer um x-caboquinho?"
BUCHUDA adj. – Grávida.
BULIADO adj. – Arredondado
CABA – s.f. – Vespa.
CABOCÃO s.m. – Alguém que não se comporta direito.
CABOCO s.m. – Pessoa, cara, sujeito. "Aí o caboco chegou lá e falou um monte de coisa".
CABROCHA s.f. – Mulher de raça cruzada e cabelos lisos.
CACETE (ê) s.m. e adj. – Maçante, importuno.
CADILHO s.m. – Tigela que recebe a seiva da seringueira.
CACHULETA s.f. ou PLETS s.m. – Peteleco dado com o dedo na orelha de alguém. "Vai lá, aproveita que ele está distraído e dá uma cachuleta nele!". "Olha que orelhão! Deve ser gostoso pra dar plets, né?"
CALDO DE CARIDADE s.m. - Caldo feito com farinha para dar sustança.
CALUNDU s.m. – Mau-humor, zanga.
CAMBOTA adj. – Pessoa que tem os pés para dentro ou as pernas arqueadas.
CANGULA adj. – Desengonçado.
CAPAR O GATO loc. v. - Ir embora, sair. "Essa festa não tá com nada. Acho que vou capar o gato".
CAPINA! LAVA! SACA! interj. – Sai fora! "Quando eu olhei, tinha um monte de moleque roubando goiaba. Cheguei lá e gritei: Capina! Lava! Lava daqui! Saca, molecada!"
CAQUEADO s.m. - Um jeito especial de fazer alguma coisa, know-how. "Pô! O cara é cheio de caqueado para trocar o pneu".
CARAPANÃ s .m. – Pernilongo. "Aqui tá cheio de carapanã!"
CARNE DE TETÉU – 1. Usado para descrever qualquer alimento não macio, que foi pouco cozido. "Essa galinha tá mais dura do que carne de tetéu. Nem a besta-fera consegue comer isso". 2. Pessoa difícil, travosa. "A diretora da escola onde eu estudo é a maior carne de tetéu".
CARNE MAGOADA s. – Músculo dolorido. "Joguei futebol ontem e fiquei com a carne magoada".
CASA DO SEM JEITO loc. adv. – Caso perdido. "Teu caso, filho, tá na casa do sem jeito".
CATARACA s.f. – meleca. "Vai lavar essa cara imunda, seu nojento. Tua venta tá cheia de cataraca".
CATINGA s.f. – Cheiro forte. "Daqui a gente sente a catinga do igarapé poluído".
CATINGAR v. – Feder.
CAUXI /ch/ s.m. – Planta esponjosa que causa coceira. "Vou nada aqui não. Tá cheio de cauxi".
CEMITÉRIO s.m. – Jogo de queimada. "Vamos jogar cemitério?"
CEROTO s.m. – Acúmulo de sujeira na pele por falta de banho. "Vai tomar banho, menino. Passou o dia jogando bola e tá com dois cordões de ceroto no pescoço."
CHEIO DE CAQUEADO exp.id. – Cheio de invenção, cheio de presepada desnecessária. "O cara chegou aqui cheio de caqueado dizendo que fazia e acontecia e não fez foi nada".
CHIBATA adj. – Adjetivo para expressar uma coisa muito boa. "Rapá, o filme é chibata!"
CHIBÉ s.m. – Mistura de farinha, água e açúcar. "Mãe, posso fazer chibé pra merendar?"
CIPOADA s.f. – Chibatada com cipó. "Ele fez besteira e a mãe largou a cipoada nele".
COBRINHA s.m. – Fila. "A tia Yá disse que a cobrinha lá no hospital tava dobrando o quarteirão".
COÇA s. f. – Pisa, peia, cipoada. "Se fizer isso vai levar uma coça de mim".
COCOROTE s.m. - O mesmo que CASCUDO.
COQUE s.m. - O mesmo que CASCUDO.
COM BORRA (E TUDO) exp.id. – Com tudo. Expressão de alopro. "A Luciana estava aprendendo a dirigir. Foi entrar na garagem e pisou no acelerador ao invés de pisar no freio. Aí entrou com borra e tudo na garagem, arrebentando o carro todo".
COMER COQUINHO loc. v. – Ficar burro. "Tu é lesa, é? Parece que comeu coquinho".
COMO JÁ ENTÃO?! exp. id. – Expressão de espanto. "Pegou fogo na casa da vizinha.". "Como já então?! Do nada?"
COROCA s.f. – De avançada idade. "Eu moro com minha sogra, que já ta meio coroca". Do tupi curóca, caduco.
CORONEL-DE-BARRANCO s.m. – Homem que manda na região. "Pra resolver as coisas mesmo tem de falar lá com o coronel-de-barranco da área".
CORTAR v. – Falar mal de alguém. "Vocês ficam aí só me cortando, né?"
CORTAR E APARAR exp. - Humilhar ou diminuir de certa forma completamente. "Queria sair hoje, mas meu pai cortou e aparou minha curica".
CORTAR A CURICA exp. - matar a intenção no nascedouro. "Ela queria pular carnaval, mas eu como um bom marido cortei a curica dela".
CUIDAR v. – Apressar-se. "Bora! Cuida, senão a gente vai chegar atrasado".
CUNHANTÃ s.f. – Garota. "Quem essa é essa cunhantã já?"
CURERA s.f. – A massa de mandioca mole que, ao sair do espremedor (tipiti), por ser dura e embolada, não foi coada. Imprópria para a fabricação da farinha. Alguns aproveitam para fazer mingau.
CURIAR v. – Bisbilhotar, xeretar. "O que tu tá curiando aí, mulher?"
CURIBOCA s.m. – Mestiço de branco com índio.
CURICA s.f. – Espécie de papagaio (pipa) pequeno e sem tala. "Levantei uma curica hoje só pra brincar".
CURUBA s.f. – Ferida. "Rapá, to com uma curuba coçando pra burro!"
CURUMIM s.m. – Garoto. "Cheguei lá na festa, cheio de curumim..."
CURUPIRA s.m. – Gênio malfeitor da floresta.
CUSPIR v. – Espanar a rosca, o parafuso. "Acho que essa porca tá cuspida".
DANÇA DE RATO E SAPATEADO DE CATITA – enrolar, postergar algo. "Deixa de dança de rato e sapateado de catita e vai logo tomar banho que é melhor".
DAR BOLO EM CATITA exp.id. – Ser esperto. "Cuidado com o Jurimar. O cara dá bolo em catita. Fica esperto!"
DAR DE ... – loc, v. – Começar a.... "Agora ele deu de sair tarde todo dia".
DAR UM CHAGÃO exp. – esquivar-se. "Fui correr atrás do Rato, mas ele me deu um chagão que eu caí de bunda".
DE LASCAR loc. adv.– Indica intensidade. "O calor tá de lascar". "A prova foi de lascar."
DE MUTUCA loc. adv. - Ligado em alguma conversa, de ouvidos bem atentos "É bom ficar de mutuca na conversa dessa menina...".
DE PIRUADA exp. - Distribuir alguma coisa jogando para o alto. Quem pegar, pegou. "Ele jogou os bombons de piruada".
DE ROCHA loc. adv. – com certeza. "Eu vou aparecer lá, de rocha, pode acreditar".
DESCAIR v. – soltar a linha quando se está empinando papagaio. "Discai se não ele vai ter cortar na mão. Esse teu cerol é do colhe ou do descai?"
DESCANSAR v. – Ter neném. "A Rudervânia descansou ontem. É uma menina".
DESMENTIR v. – Deslocar, luxar, desconjuntar. "Acho que desmenti meu dedo jogando bola ontem. Preciso puxar o dedo".
DESMILINGÜIDO adj. - Sem graça, desarrumado, desajeitado. "O Cara ficou todo desminlingüido quando eu falei que sabia de tudo".
DESPLANAVIADO adj. – Desatento, desmotivado. "Eu não sei mais o que faço. Todos os meus alunos andam tão desplanaviados".
DINDIN s.m. – É o "sacolé" carioca. Possui variações dentro do Estado. Em alguns municípios é conhecido como Flau (Parintins), Totó (Coari), Vip (Ipixuna), Miau (Itacoatiara)
DISCONFORME adj. – Demais, em excesso. "A chuva de ontem à noite foi disconforme".
DISTIORADO adj. – Deteriorado, acabado. "Tem uma casa lá no banho, mas tá toda distiorada..."
DOS VERA loc. adj. - De verdade. "Eu não estou brincando, não. É dos vera".
DRAGA s. 2 gen. – Comilão. "Meu cunhado come demais, rapaz. O homem é uma draga..."
E OLHE OLHE! exp. Id. – E olhe lá. "Ele só faz dois abdominais e olhe olhe".
EMBIOCAR v. – Descer. "Embioca aí senão ela vai te ver aqui".
EMPACHADO adj. - Cheio, estufado. "Fui comer muito agora estou empachado".
EMPINGE s.f. – Micose.
ENCANGADO adj. - Pessoa que anda agarrada com outra o tempo todo. "A mulher dele não deixa ele sair só mermo. Só vive encangada nele".
ENGÜIAR v. - Ter ânsia de vômito. "Quando eu vi o rato morto, eu engüei na hora".
ENGILHADO adj. Enrugado. "Quando a gente fica muito tempo na piscina, o dedo fica todo engilhado".
ENTOJO s. m. Enjôo, nojo. "Não vou nem falar com ela que hoje ela está um entojo só".
ERAS... interj. – Usado para momentos de perplexidade. "Eras...deixei meu carro aqui...cadê ele?"
ÉRASTE, MANINHO! interj.– Expressão de surpresa. "Votou no José Serra? Éraste maninho..."
ESBANDALHAR v. – Quebrar. "Deixei minhas ferramentas com ele e ele esbandalhou tudo!"
ESCABREADO adj. – Desconfiado.
ESCAMBAU s.m. – E o resto. "Ele trouxe pra festa a mulher, os filhos, o cachorro e o escambau!".
ESPOCAR DE RIR exp. id. – Rir até não agüentar. Rir muito. "Contei aquela piada e aí ela se espocou de rir".
ESPORA s. 2. gen. – pessoa ruim, malvada ou insensível. "Poxa, maninha, deixa de ser espora...me empresta tua caneta rapidinho".
ESTAQUEADO adj. – Cabelo repicado. "O Xororó, pai da Sandy e do Junior, tem o cabelo estaqueado".
ESTE UM exp.- Modo de se referir a alguém cujo nome é desconhecido ou que se quer denotar desprezo. "Olha já este um...Cheio de coisa."
ESTICADO ou ESPAÇOSO s.m. – Confiado, enxerido, atrevido, petulante, pessoa invasiva. "A Ermelinda quer saber de tudo. Ela é muito esticada pro meu gosto".
FACULTÁRIO adj. – Quem faz faculdade.
FARINHA-D’ÁGUA – Tipo de farinha fina.
FANTA adj. – Sem graça, fraco. "Esse filme é muito fanta. Me arrependi de ter vindo".
FARDA s.f. - uniforme escolar. "Não vai sujar tua farda, Gilvaney! Só tem essa!"
FAZER MEUÃ exp.id. – Fazer careta, cara feia, geralmente para intimidar. "E não adianta fazer meuã pra mim que eu não tenho medo de cara feia".
FAZER PEZINHO v. – fazer embaixada. "Vamos ver quem faz mais pezinho?"
FRESCAR v. - Encher a paciência, encher o saco. "Não fresque não que hoje eu não tô pra brincadeira!"
FICAR DE BUBUIA exp. id. – Ficar sem fazer nada, ficar flutuando na água. "E aí, Zé, nadando um pouco?" "Não. To só aqui de bubuia um pouquinho".
FOLÓ ou FOLOTE adj. – Frouxo. "O parafuso não cabe nessa rosca. Ela é muito grande. Fica folote".
FONAS! interj. - Interjeição usada no jogo de bolinha de gude. Quando o sujeito quer ser o último a jogar, ele grita: "FONAS !!!"
FORROBODÓ s.m. – Encontro para dançar.
FRESCAR v. – Perturbar, encher o saco. "Pára de frescar comigo senão te cubro de porrada!"
FULEIRO adj. - Ordinário, ruim. Mas pode ser também pessoa muito irreverente, brincalhão, depende do sentido da frase. "O cara é muito fuleiro, só falta matar a gente de rir".
FUTRICAR v. - Mexer, investigar, fazer confusão. "Essa mulher vive futricando a minha vida".
GABULICE s.m. – orgulho besta. "Só porque ele passou no vestibular agora virou o diabo das gabulices".
GALALAU s.m. - Menino ou rapaz muito alto. "O cara já é um galalau e quer jogar com a gente".
GAMBITO s.m. - Perna fina. "Aquela mulher é muito feia. Ólha os gambitinhos dela".
GAMBÃO s.m. – Soldado, militar, meganha. "A briga acabou quando chegou um bando de gambão botando moral".
GAMBIARRA s.f. – Remendo, gatilho. "Como a corda quebrou, ele fez lá uma gambiarra pra puxar o carro".
GASGUITA adj. – Esganiçado. "A voz da minha cunhada Andréa é muito gasguita. Irrita qualquer um!".
GATIADO adj. – Diz-se do olho puxado. "Ontem saí com uma morena dos olhos gatiados".
GRAFITE sm. – Lapiseira. "Me empresta o teu grafite que meu lápis quebrou a ponto".
GUEGUETE s.f,. Mulher, moça, garota. "Vou deixar aquela gueguete em casa depois volto pro futebol, falou?"
GUARAMIRANGA s.m. – Demorado. "Demou muito! Veio no Guaramiranga?"
GUARIBAR v. Dar uma melhorada disfarçando os defeitos de alguma coisa, principalmente de carros. "Vou dar uma guaribada no carro antes de vender".
GUGUENTO adj. – Pessoa feridenta, nojenta, cheia de marcas na pele. "Eu nunca namoraria com a Waldemarina. Ela é toda guguenta, cheia de espinha".
GUISAR v. – destruir, destroçar (um papagaio). "Vou dá uma porrada no merda que guisou o papagaio do meu irmão".
GURUPEMA s.f. – Peneira.
IGAPÓ s.m. – Floresta pantanosa, encharcada e sombreada pelo mato.
IGARAPÉ s.m. – Pequeno rio, riacho, arroio.
IGARITÉ s.m. – Barco a vela de um só mastro.
ILHARGA s.f. – Ao lado. "Fica logo ali, na ilharga da igreja".
INCANDIADO adj. – Ofuscado pelo brilho. "Quando aquela menina bonita entrou, eu fiquei incandiado".
INVOCADO adj. – Difícil de entender, de fazer, etc. "Esse brinquedo é invocado, né?". "Égua! Ele saiu com uma e voltou com outra? Invocado..."
IPADU s.m. – Mingau feito com pouca água, consistente e grosso.
IR PRAS BARCAS – exp.id. – Sair para curtir. "Hoje é sexta. Dia de esquecer o trabalho e ir pras barcas!"
IXE! ou EXE! interj. – Expressão de estranhamento, tédio ou repugnância. "Eu adoro feijão no pão". "Ixe!"
JABÁ s.m. – Charque.
JACINTA s.f. – Libélula. "Meu irmão gostava de pegar jacintas, amarrar uma linha nelas e deixar voar de novo".
JACUMÃ s.m. – Direção da canoa com o remo de mão numa das extremidades. "Nós vamos é no jacumã daqui até lá".
JIQUITAIA s.f. – Pequena formiga de picada dolorosa.
JITINHO adj. – Pequeno. Contrário de maceta. "É um professor assim jitinho, de óculos".
JURURU adj. - Cabisbaixo, tristonho, abatido.
KAMIRANGA s.m. – Urubú.
KETCHBACK s.m. – Um lance amoroso, rolo. "Tive uns ketchbacks com ela no passado".
KIKÃO s.m. - cachorro-quente.
LAMBANÇA s.f. – Gabolice, basófia.
LAPA s.f. – Grande, imenso, desproporcional. "O Ângelo tem uma lapa de pé, meu amigo! Calça 45!". "Sabe a orelha do Abraão? É uma lapa, meu!"
LAVAR A ÉGUA ou LAVAR A BURRINHA loc. verb. - Levar vantagem. Gozar um momento de felicidade. Ganhar com sorte alguma coisa, algum prêmio. "Ele ganhou na loteria e lavou a burrinha. Comprou tudo que tinha direito".
LAVAR URUBU exp. id. – Estar desempregado. "Pois é. Faz seis meses que ele tá lavando urubu. Serviço que é bom: nada".
LAVOURA s.f. – Ganhar tudo na bolinha de gude.
LEGUELHÉ s.m. João-ninguém.
LEPROSO s.m. - pessoa que de alguma forma desagrada. "O juiz não marcou esse pênalti!!! Ah, leproso!!!"
LESO /é/ adj., LESEIRA s.f. – Um leso é alguém que sofre de leseira. Leseira é um abestalhamento momentâneo que acomete o leso. Se a leseira for uma característica contínua, dizemos que o leso sofre de leseira baré. A leseira baré ocorre entre os amazonenses devido ao sol quente na moleira, que frita o cérebro e queima alguns neurônios. Temos ainda as expressões derivadas: "Deixa de ser leso!" e "Pára de leseira!". Dizem que todos nós, amazonenses, temos nossos três minutos de leseira por dia. Mas como tudo tem seus dois lados, dizem que o sol também causa nos amazonense algo chamado tesão de mormaço, um aumento na capacidade sexual do amazonense devido ao sol quente.
LOMBRA s.m. – Algo sem definição, coisa. "Mas que lombra é essa agora, meu irmão?"
LOMBRADO adj. – Bêbado, fora de si. "Esse cara só pode tá lombrado pra fazer isso..."
MACACA s.f. Amerelinha. "Vamos jogar macaca?"
MACACHEIRA s.f. – A mandioca doce, não venenosa.
MACETA /ê/ adj. 2 gen. – Grande, imenso, de proporções anormais. "Eu disse que ia lá brigar com ele e quando eu olhei o cara era macetão. Saí fora..."
MALINAR v. – Reinar, fazer malvadeza gratuita, como por exemplo beliscar um bebê porque ele é muito fofo. "Ele é tão fofinho que dá vontade de malinar com ele".
MALUVIDO s.m. – Mal comportado. "Que menino maluvido!"
MAMADA s.f. - Mamadeira de leite. "Eu tenho que preparar a mamada do Clauzionor Junior".
MANDIOCA s.f. A grossa raiz comestível da maniva.
MANDUQUINHA s.f. – Camburão de polícia. "Maior porrada rolando, aí chegou a manduqinha e levou um bocado".
MANGAR v. - Fazer pouco de alguém. "Eu bati nela porque eu caí e ela ficou mangando de mim".
MANGARATAIA s.f. – Nome tupi para o gengibre.
MANJA s.f. - brincadeira de criança. Há a manja-esconde, manja-pega, manja-trepa.
MANO /ã/ voc. – Tratamento carinhoso entre conhecidos ou não. Muito usado para fazer perguntas e pedidos. "Mana, faz um favor pra mim". "E aí, tudo bem, mano?". Variações no diminutivo: MANINHO, MANINHA.
MÁRRAPÁ! exp. id. – O mesmo que "Olha já!". "Me empresta teu carro?" "Márrapá! Claro que não!"
MAS! - Pronuncia-se "Mách". Interjeição de ênfase. "Tem muita mulher aqui?" "Mách! Só tem!"
MASSA FINA s. – Pão de leite. "Eu gosto de pão leve, de massa fina".
MASSA GROSSA s. – Pão francês. "Compra dois pães de massa grossa".
MATEIRO adj. – Habituado a meter-se no mato ou lá passar parte do dia.
MEGANHA s.m. - Forma depreciativa de se referir a um soldado de polícia. "Esse cara não passa de um meganha!".
MENINO BARRIGUDO exp. id. – Um leso, que só faz besteira. "Pára de meter o dedo no bolo, Nelson! Tamanho paideguão e parece um menino barrigudo!"
MERENDA s.f. – Lanche. "Vou bem ali comprar uma merenda que estou brocado".
MERMO adj. – Corruptela de "mesmo". Pode ser usado para exprimir dúvida ou confirmação. "Ele vai sair hoje, vai?". "É o que vai mermo..." "Não, ele vai mermo".
MEU GRANDE voc. – Tratamento para desconhecidos. Pode ser utilizado intercambiavelmente com "mano". "E aí, meu grande. Tudo bom?". "Fica de olho aí no meu carro, falou, meu grande?"
MILHITO s.m. – Salgadinho de saquinho. Seu uso foi estendido a partir do salgadinho MILHITOS JACK’S.
MOFINEZA s.f. – Fraqueza, indisposição, mal-estar.
MOFINO adj – Fraco, indisposto, que não oferece resistência.
MONDRONGO s.m. - Inchação, tumor subcutâneo, calombo. 2. Alguma coisa grande e esquisita. "Que coisa é esta? Que mondrongo é esse na tua cabeça?".
MUCURA s.f. – Espécie de gambá que come frango.
MURA s.f. – Pessoa invocada, fechada. "Vê se conversa com as pessoas! Parece uma mura!"
NÉ NÃO! exp.id. – Não é não. "É a Leila ali, é?" "Né não".
NÃO FAZER NEM AMARRADO PELO CHINELO PRETO exp. - Não fazer de jeito nenhum. Nem que a vaca tussa.
NO BALDE, NO MUNDO loc. adv.. Ver QUE SÓ
PACOVÃ s.f. – Nome indígena da banana. Hoje designa a banana comprida.
PAGAR SAPO exp. id. – Humilhar. "O chefe entrou aqui e pagou o maior sapo no Walter".
PAGELA s.f. – Diário de classe. "Ainda não lancei as freqüências na pagela nova".
PAID’EGUÃO s.m. – Adulto, marmanjo. Pode ser usado de forma exclamativa precedido de tamanho. "Tamanho paid’eguão brincando no balanço das crianças..."
PANELÃO s.m. – Dente que tem um buraco grande. "Amanhã minha dentista, Dra. Eliana, vai tirar meu panelão".
PANEMA adj. Infeliz, leso.
PAPAGAIADO s.m. - Alguém ou alguma coisa extravagantemente colorido, lembrando um papagaio. "Esta roupa está muito papagaiada!".
PAPEIRA s.f. – Caxumba.
PAPOCO s.m. - Confusão, barulho. "Tava todo mundo em paz e de repente só se ouviu o papoco vindo lá da cozinha".
PARA O MÊS (ANO, etc) exp. – Mês (ano) que vem. "Para o mês, vou ver se compro uma geladeira nova".
PARENTE voc. – Forma de tratamento usado para se falar com alguém. Equivale a mano. "Parente, me dá uma ajudinha aqui?"
PARTINHA s.f. – Franja. "Tu tá igual ao Aritana com essa partinha".
PAVULAGEM, PAVOLAGEM, PAVOLICE ou PAVULICE s.f. – Empáfia, abestalhamento, orgulho besta. "Ah, eu não pego em peixe, não". "Caboco pávulo! Deixa de pavulagem e ajuda logo, vai!"
PEBADO adj. – Lascado, ferrado. "O Jones sofreu um acidente e ficou todo pebado".
PEDIR PENICO loc. v. - Desistir de alguma coisa por falta de coragem ou força. "O cara não agüenta mais. Já está pedindo penico..."
PEGAR O BECO loc. v. – Ir embora. "Tá na hora de eu pegar o beco. Tá tarde".
PEIA s.f. - Sova, surra. "Quem não fizer o que eu mando entra na peia".
PENSEIRA – Compensador para balancear um papagaio penso. "Põe uma penseira nesse papagaio que ele sobe".
PENSO adj – Torto, pendendo para o lado. "Esse papagaio não vai subir não. Tá muito penso".
PERAINDA loc.v. - Forma sintetizada de "Espere ainda um pouco". Pode ser acompanhado de ênfase LÁ ENTÃO. "Perainda lá então! Não me apressa!"
PERREXÉ s. 2. gen. - Ver pardioso.
PICUINHA s.f. – Questiúncula irritante com que se azucrina os outros. "Isso é muito pequeno, menina. Deixa de picuinha e vai fazer algo de útil".
PINDAÍBA s.f. - Miséria, pobreza. "Sabe aquele ricão lá da rua? Hoje tá na maior pindaíba".
PINCHA s.f. – Tampinha de refrigerante. Mas só as de metal. Já meio raras. "Cadê a pincha do guaraná? É que eu faço coleção".
PINGUELO s.m. vulgar – 1. Órgão sexual feminino. "Menino nasce por onde entra: pelo pinguelo". 2. Clitóris.
PINICAR v. – Beliscar, dar bicadas. "Essa roupa felpuda ta me pinicando".
PIPO s.m. - chupeta
PIRA s.f. – Ferida. "Ela tá com uma pira enorme no braço".
PIRACUÍ s.m. – Farinha de peixe.
PIROCAR v. – Perder ou cortar o cabelo. "Rapaz, olha o cara aí...pirocou o cabelo todinho".
PIRUADA s.f. – Jogar para cima alguma coisa para ser pego pelos demais. "Minha tia jogou os bom-bons de piruada na festa"
PISA s.f. - Peia, surra. "Menino, te aquieta! Se não sossegar, vou te dar uma pisa".
PITIÚ s.m. – Cheiro. Geralmente associado a peixe. "Tá sentindo um pitiú danando aqui? Tomou banho, Creuza?"
PIXÉ s.m. - O mesmo que pitiú.
POMBA-LESA adj. 2 gen.– lento, lerdo, mole. "Esse sujeito não dá conta de tanto serviço: é um pomba-lesa". "Sossega, menina! Toda pomba-lesa aí vai acabar quebrando o vaso!"
PORRETA /ô/ adj. – O mesmo que chibata ou maceta.
PORRUDO /ô/ adj. – O mesmo que maceta.
PRESEPADA s.f. - Palhaçada. Confusão. "Deixa de presepada e sossega aí".
PROCURAÇÃO s.f. - Ato de procurar. "Dile, cadê a tesoura?" "Não sei, mas vou fazer uma procuração".
PURO adv. – com cheiro de, cheirando a. Vai lavar tua mão que tá puro cocô"
PUTATEBA exp. id. – Expressão de insatisfação. "Putateba! Deixa eu ver tv em paz!"
PUTIREBA ex. id. – Expressão de insatisfação. "Putireba! Acabou a água!"
PUTITANGA exp. id. – Expressão de insatisfação. "Putitanga! Esqueci minha carteira em casa!"
QUÊDE...? – Cadê? Que é de? Onde está? "Quêde a mamãe?"
QUERIDA voc.– Cuidado! Esse é um falso cognato. O uso da palavra "querida" aqui no Amazonas denota um certo sarcasmo ou uma certa ironia. "Escuta aqui, minha querida. Eu sou a mulher dele, entendeu?" "Você não está entendo, querido. (= você é um burro!)". Mulher odeia, segundo comentário do meu primo Amaro.
QUERO CESSO / NÃO DOU CESSO exp.id. – Expressões que garantem acesso à comida que alguém está comendo. Se alguém chegar e disser "quero cesso", quem está comendo tem de dar. Mas se o comedor se antecipar e disser "Não dou cesso", aí morreu. Sem chances de beliscar.
QUIRIRI adj. – Deserto, silencioso, calmo. "O lago hoje tava quiriri: nem peixe nem pássaros".
RALA-RALA s.m. – Gelo ralado colocado num copo e acrescido de xarope de vários sabores. "Quero um rala-rala de groselha".
RANCHO s.m. – Cesta básica, compras do supermercado. "Tem que fazer o rancho hoje".
RATADA s.f. – Mancada, pisada de bola. "Eu ia fazer uma festa surpresa, mas o João acabou contando antes. Deu a maior ratada!".
REBOLAR NO MATO exp. id. – Jogar fora no lixo.
RECREIO s.m. – Barco. "Que horas sai o recreio para Eirunepé?"
REGATÃO s.m. – Mercador ambulante que em barco ou canoa percorre o interior parando de lugar em lugar.
REIMOSO adj. – Comida que faz mal. "Mãe, já posso comer pirarucu?" "Tá doido, menino. Pirarucu é reimoso."
REPARAR v. – Tomar conta. "Não posso sair porque tenho que reparar o bebê". "Quer que eu repare o carro, tio?"
REQUENGUELO adj. Meio destruído, decadente, mal-vestido, sujo. "Ele tinha um carrinho vermelho, todo requenguelo". "Tu viste aquela mulher, toda requenguela passando pela praia!?"
RÓDO s.m. – Porto. Aportuguesamento de roadway. "Meu irmão vai pegar o motor lá no ródo".
ROER UMA PUPUNHA exp. – Passar por dificuldades. "Depois que ele se separou da mulher, ficou quebrado. Roeu uma pupunha o coitado".
ROTA s.m. - Ônibus de transporte de empresa. "Ontem acordei tarde e perdi o rota".
SACOPEMBA – pessoa gorda. "Tu viu a mulher do Curica? Tá mesmo que uma sacopemba"
SAPECAR v. – Dar, bater. "Ela frescou aí eu sapequei a porrada nela!"
SARNAMBI s.m. – originalmete pequena sobra de borracha que se forma durante o processo de defumação do látex, usado para descrever um bife difícil de cortar. "Esse bife tá mais duro que sarnambi, nem o cachorro quer".
SECO adj. - Vazio. "Claudemir, vai jogar o saco de lixo fora". "Não precisa, mô. O saco está seco".
SUA ALMA SUA PALMA SEU CORAÇÃO SUA PINDOBA - Expressão antiga que o autor ouve muito da mãe quando alguém teima em fazer alguma coisa que ela reprova. "Então meu filho, sua alma sua palma seu coração sua pindoba". Significava que o teimoso estava entregue à sua própria sorte.
SUSTANÇA s.f. – Força, energia. "Tem que comer farinha desde cedo que é pra pegar sustança".
TACACÁ s.m. – Mingau quase líquido de goma de tapioca temperado com tucupi, jambu, camarão e pimenta. "Vou tomar um tacacá bem grande hoje".
TAPIOCA s.f. – Iguaria que se faz de mandioca. Pode ser de manteiga ou de coco. "Quero duas tapiocas de coco, parente".
TÁ, CHEIROSO! exp.id. Não, mesmo! "Vou pegar teu carro esse fim-de-semana, tá bom?" "Tá, cheiroso! Esquece!"
TÁ PORRE exp. – Estar bêbado. "Leva ele que ele tá porre".
TECA /ê/ s.f. vulgar – Órgão sexual masculino. "Aí ele levou uma bolada de cheio na teca dele".
TER UM PASSAMENTO – desmaiar, ter/dar uma bilora
TER/DAR UMA BILORA – desmaiar. "A Terezinha saiu de manhã cedo sem tomar café e teve/deu uma bilora no colégio".
TERÇADO s.m. - facão grande de cortar mato. "O galeroso matou o cara lá a terçadada".
TICAR v. – 1. Cortar o peixe para quebrar as espinhas; 2. Furar alguém com faca.
TIJIBU s.f. – Mulher baixinha e gorda. "Olha que gata ali do lado daquela tijibu".
TIRAR AS BRONCAS – disfarçar, fingir que nada aconteceu. "Depois que peidou no elavedor, o Wandemberg começou a assoviar pra tirar as brocas".
TOMAR TENÊNCIA loc. v. – Tomar jeito. "Tu já faltaste aula três vezes essa semana! Vê se toma tenência".
TOPAR v. – Encontrar. "Quando menos esperava topei com ela na esquina".
TORAR v. – 1. Cortar rente à base. "Esse cabelo ta muito grande. Acho que vou torar ele"; 2. Transar com alguém. "Sabe quem eu torei ontem? A Sheila".
TRAVESSA s.f. – Tiara de cabelo.
TRONCHO adj. - Pessoa torta do juízo ou fisicamente, mutilado. "O cara anda todo troncho depois da surra que levou!".
TURÍTI s.m. Acertar duas bolinhas em uma só jogada no jogo de bolinha de gude.
URUBUSERVAR v. – Olhar atentamente. "Para de ficar urubuservando o papo dos outros!"
VALÊNCIA s.f. – O que serve para livrar de um perigo. "Ficou cara a cara coma onça. A sua valência foi que o filho chegou e atirou na bicha".
VAZADO adj. – 1. Faminto. "Vamos comer alguma coisa? Tô vazado..." 2. adv. Rapidamente. "To super atrasado. Vou ter que sair vazado daqui!"
VISAGEM s.f. – Alma de outro mundo, assombração, fantasma.
VOADEIRA s.f. – Canoa motorizada utilizada para transporte rápido. "Saindo de Parintins, levamos uma hora e meia para chegar a Nhamundá de voadeira".
X-CABOQUINHO s.m. – Sanduíche de pão com queijo e tucumã, fruta regional de carne alaranjada.
ZAMBETA adj. – Tonto.
ZIMPADO adv. - rapidamente. "Quando ele viu o pai da moça atrás dele, ele saiu daqui zimpado".
ZOADA /zuada/ s.f. – Barulho. "O caminhão de som passou aqui fazendo a maior zuada".

Expressões e Suas Origens = Letra B, C, D (Deonísio da Silva)

Beija-me com os beijos da tua bocaEsta frase, inserida em diversos textos literários por escritores de muitos países, está num dos mais belos livros da Bíblia, o Cântico dos cânticos, esplêndido poema sobre o amor, da autoria de Salomão (970-931 a.C.), que, além de construir o famosos templo de Jerusalém, escreveu livros cheios de sabedoria, apaixonou-se, namorou e casou com cerca de mil mulheres, incluídas esposas e concubinas. Não apenas suas proclamada sabedoria, mas também seus amores tornaram-se lendários, como foi o caso daquele que viveu com a Rainha de Sabá. Salomão, fruto do amor arrebatado e dramático vivido pelo rei Davi (1015-975 a.C.) com uma mulher casada, Betsabéia, foi o terceiro rei de Israel.

Cada povo tem o governo que merece
Esta frase é proferida quando se quer falar mal do governo, atribuindo-se ao povo a má escolha. É de autoria do filósofo francês Joseph De Maistre (1753-1821), crítico da Revolução Francesa, inimigo das repúblicas e defensor das monarquias e do papa. Apesar de a frase ter servido sempre para vituperar todos os governos, os alvos preferidos são aqueles escolhidos por voto popular. Porém, nada se diz quando os eleitores mostram sabedoria nas votações. Assim, contrariando a máxima popular, o filho feio sempre tem por pai o próprio povo. No fundo, a crítica não é aos maus governantes, mas aos responsáveis por sua elevação aos cargos.

Chegar de mãos abanando
Os primeiros imigrantes deviam trazer as ferramentas indispensáveis ao cultivo da terra, entre as quais eram importantes a foice e o machado, para a derrubada de matas. Dos colonos europeus esperava-se que trouxessem também galinhas, porcos e vacas, bases de uma economia auto-sustentável. Quem chegasse, pois, de mãos abanando, não vinha disposto a trabalhar. Manter, pois as mãos ocupadas era sinal de disposição para o trabalho e ajuda mútua. O imigrante, que no dizer de Ambrose Bierce (1842-1914), é um indivíduo mal-informado, que pensa que um país é melhor que outro, não poderia chegar de mãos abanando.

Cobra que perdeu o veneno
Aplica-se esta frase a pessoas iradas que, entretanto, nada podem fazer em situações de desespero. Nasceu da crendice popular de que as cobras, para não sucumbirem ao próprio veneno, depositam-no em folhas quando precisam tomar água. Ao voltarem dos riachos, algumas acabam esquecendo-se de onde o puseram, mantendo-se como loucas à procura da peçonha temporariamente dispensada. O escritor maranhense Henrique Maximiano Coelho Neto (1864-1934), autor de mais de cem livros e um dos membros fundadores da Academia Brasileira de Letras, registrou o adágio em sua peça A muralha, numa fala da personagem Ana que, incapaz de resistir ao jogo do bicho, comporta-se como cobra que perdeu o veneno.
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Com uma mão se lava a outraEsta frase resume preceitos de solidariedade, dando conta de que as ajudas devem ser mútuas. Foi originalmente registrada no parágrafo 45 do romance Satyricon, do escritor latino Tito Petrônio Arbiter (século primeiro a.C.), transposto para o cinema pelo famoso cineasta italiano Federico Fellini (1920-1994). Em síntese, o romance narra a história de um triângulo amoroso, envolvendo dois rapazes apaixonados por um terceiro, mas livro e filme põem em relevo a decadência dos costumes políticos. Tanto o romancista como o diretor criticam duramente a civilização ocidental, apesar dos 20 séculos que o separam, onde o que mais falta é justamente a solidariedade.

Custar os olhos da cara
A história desta frase começa com um costume bárbaro de tempos muitos antigos, que consistia em arrancar os olhos de governantes depostos, de prisioneiros de guerra e de indivíduos que, pela influência que detinham, ameaçavam a estabilidade dos novos ocupantes do poder. Cegos, eles seriam inofensivos ou menos perigosos. Naturalmente, a expressão alude também ao incomparável valor da visão. Por isso, pagar alguma coisa com a perda dos olhos passou a ser sinônimo de custo excessivo, que ninguém pode pagar. A expressão tem servido para designar preços exagerados em qualquer produto. Um dos primeiros a registrá-la foi o escritor romano Plauto (254-184 a.C.), numa das 130 peças de teatro que escreveu.

Coisas da casa cuide a mulher
Esta frase, dando conta de que os trabalhos domésticos são incumbência exclusivamente femininas, tem suas origens remotas, mas houve um caso que a tornou ainda mais proverbial e famosa. Guilhaume Budé (1467-1540), um dos fundadores do College de France, onde ensinaram alguns dos maiores intelectuais do mundo nas diversas épocas, estava pesquisando etimologia quando irrompeu em seu escritório, todo esbaforido e aflito, um mensageiro de triste notícia: a casa do já célebre humanista francês tinha pegado fogo. Sem levantar os olhos dos manuscritos de grego, língua cujos estudos disseminou na França toda, limitou-se a pronunciar esta frase. Mas nada restou depois do incêndio para a mulher cuidar.

De boas intenções o inferno está cheioEsta frase é de autoria de um teólogo e santo famoso, o francês São Bernardo de Clairvaux (1090-1153). Muito místico, travou grandes polêmicas com o célebre namorado de Heloísa, o também teólogo e filósofo escolástico Pedro Abelardo (1079-1142). Conselheiro de reis e papas, São Bernardo pregou a segunda Cruzada, destacando-se no combate àqueles que eram considerados hereges por ousarem interpretar de modos plurais a ortodoxia católica. A frase foi brandida, não apenas contra seus desafetos, mas também a seus aliados, e tornou-se proverbial para denunciar que as boas intenções, além de não serem suficientes, podem levar a fins contrários aos esperados.

Deixo a vida para entrar na história
A celebridade desta frase deve-se à carta-testemunha do presidente Getúlio Vargas, assinada momentos antes de suicidar-se, na madrugada de 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Um padre ainda o encontrou consciente e de olhos abertos. Antes de ocupar a Presidência da República por quase 20 anos, ele foi governador do Rio Grande do Sul, seu Estado natal. Um dos maiores estadistas brasileiros, foi sob seu governo que ocorreu a maior industrialização do Brasil. Logo depois de deposto a primeira vez, em 1945, candidatou-se a senador, conseguindo 17 por cento dos votos, recorde jamais alcançado por qualquer outro. No segundo mandato, cumpriu a frase profética.

Deus me defenda dos amigos, que dos inimigos me defendo eu
Frase atribuída ao escritor e filósofo francês Voltaire, pseudônimo de François Marie Arquet. Teve desempenho brilhante nas célebres polêmicas do Século das Luzes, com suas idéias claras, temperadas por cáustica ironia, arma verbal que lhe rendeu muitos inimigos entre os obscurantistas, sendo obrigado a retirar-se de Paris após a publicação do seu livro Cartas filosóficas, em 1734. Foi, porém, apoiado e acolhido pela escritora Madame de Châtelet (1706-1749), sua inspiradora e amiga, da qual Deus não precisou defendê-lo.

Dinheiro não tem cheiro
A frase original foi pronunciada em latim, pelo imperador Vespasiano (9-79), cujo filho, Tito, estava inconformado com o novo imposto baixado pelo pai, que, para melhorar as finanças da antiga Roma, taxara os mictórios públicos. Logo nas primeiras arrecadações, Vespasiano tomou uma das moedas recolhidas nas privadas imperiais e pediu que o filho a cheirasse, dizendo: non olet, isto é, não tem cheiro. Vespasiano fez boa administração, recuperou a economia do império e entre seus feitos está também a construção do Coliseu. Mas, como todo administrador austero, incompatibilizou-se com os meios senatoriais.

Dize-me o que comes e eu te direi quem és
Variação do preceito evangélico "dize-me com quem andas e eu te direi quem és", esta frase famosa está presente em A filosofia do gosto, livro clássico do célebre gastrônomo Anthelme Brillat-Savarin (1755-1826) e faz parte dos 20 aforismos ali reunidos, os mandamentos de quem quer comer bem. Bom gourmet e bom gourmand, esse francês notabilizou-se por suas célebres tiradas a respeito do ato de comer. Entre outras prescrições, recomendou aos cozinheiros e aos visitantes a pontualidade e escreveu que convidar alguém para comer em nossa casa equivale a encarregar-se de sua felicidade. Sempre com verve, proclamou que mais vale para o gênero humano a invenção de um novo prato do que o descobrimento de um novo astro.

Dizer as coisas em alto e bom som
Esta frase nasceu das dificuldades de comunicação em sociedade, principalmente no trabalho, nas lides e em conversas de rua. Não se sabe quem a inventou, com o fim de deixar muito claro o que dizia, mas há um bom exemplo recolhido do célebre escritor, jornalista, orador, político e jurisconsulto brasileiro Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923). Foi também vice-presidente da República e teve uma desastrada atuação como ministro da Fazenda. Redigiu nossa primeira constituição republicana, a de 1891. Esta frase está presente em célebre conferência que fez sobre o dever da imprensa de dizer a verdade em alto e bom som.

Dois bicudos não se beijam
Ao contrário do que se possa parecer, o vocábulo não se aplica às aves, mas aos homens. Antigamente eram chamados de bicudo tanto estiletes compridos e armas pontudas, como certos valentões que, nas bodegas, festas e ajuntamentos diversos, patrocinavam arruaças. Indivíduos de pouca conversa e gestos grosseiros, brigavam por qualquer coisa. O brasileiro, tido por cordial e afável no trato entre colegas e amigos, sempre se caracterizou por abraços, afagos, beijos e outras efusivas demonstrações de carinho. Daí o contraste de dois bicudos que não se beijam, de que são exemplo célebres parcerias impossíveis como certos presidentes e vice-presidentes do Brasil, entre os quais Jânio Quadros e João Goulart. O primeiro mandou o outro para a Cochinchina – oficialmente, seria a China, mas conhecendo as intenções ocultas de Jânio, sabemos que ele queria o vice ainda mais longe – e renunciou para ver que bicho dava. Deu o maior bode, como a História mostrou, resultando, por fim, na deposição do presidente que os militares não queriam empossar.

Dourar a pílula
Esta frase tem o significado de se apresentar algo difícil ou desagradável como coisa fácil de aceitar. Nasceu de conhecida prática das farmácias antigas, que consistia em embrulhar pílulas em finos papéis, com o fim de preparar psicologicamente o cliente para engolir um remédio de gosto amargo. Do sentido literal, passou a metáfora e logo recebeu aplicação literário, estando um de seus mais antigos registros na peça Anfitrião, de Jean Baptiste Poquelin Molière (1622-1673), em que Sósia, na última cena do terceiro ato, diz: "o senhor Júpiter sabe dourar a pílula". Dourar a pílula é ainda hoje tática sutil de persuadir renitentes, quando se procura destacar os aspectos positivos de algo desfavorável.

Fonte:
http://www.portrasdasletras.com.br/pdtl2/sub.php?op=curiosidades/docs/vempalavras1

Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas

Criando Uma Nova Academia

Em solenidade realizada na cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, no dia 5 de setembro de 2003 – em comemoração aos 153 anos da elevação da antiga Comarca do Alto Amazonas à categoria de Província do Império do Brasil, por decisão de D. Pedro II – foi criada a Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas (Alcear). Esta nova Academia pretende resguardar e manter o brilho das Letras, que jamais se poderá apagar; a verdade das Ciências, que identifica soluções para as indagações e angústias da Humanidade; e a beleza das Artes, eternizada desde o momento da Criação, quando Deus ordenou: Faça-se a Luz! É nessa tríade universal que a inteligência, a criatividade e o conhecimento do Homem se fazem imortais.

A Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas - ALCEAR nasceu do idealismo de pessoas reconhecidamente atuantes nos mais diversos setores da vida pública, desde o magistério à magistratura; do jornalismo à medicina; da história às letras e às artes, em suas mais variadas formas de expressão. São homens e mulheres marcantes na sociedade amazonense por suas atitudes exemplares, sempre em busca do aperfeiçoamento pessoal, intelectual e profissional.

Os fundamentos da Alcear

O Amazonas apresenta nas últimas décadas elevados índices de crescimento intelectual. A rede de ensino fundamental e médio experimenta índices de crescimento muito elevados e renova-se a cada dia, em busca da melhoria dos padrões de qualidade do ensino. A educação de grau superior desenvolve-se em níveis que superam as previsões dos especialistas. Concentram-se hoje na cidade de Manaus duas universidades públicas, quatro centros universitários e dezenas de instituições particulares de ensino acadêmico onde se formam anualmente centenas de novos profissionais de nível superior.

Torna-se evidente, a cada dia, a necessidade de se intensificar o debate sobre a realidade econômico-social do Amazonas e as suas perspectivas de desenvolvimento, com a ampla participação dos diversos segmentos da sociedade. É diante desse cenário que se legitima a criação da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – Alcear, uma instituição cultural moderna, aberta a todas as correntes de pensamento, consciente da posição que lhe cabe assumir diante dos grandes questionamentos do Amazonas do Século 21.

O exemplo dos Acadêmicos

Acadêmico é o poeta que transmite sentimentos e provoca no leitor o desejo de ser também poeta. Acadêmicos são os prosadores, os cronistas, os contistas, os historiadores, os educadores, os cientistas, os jornalistas que conseguem apaixonar os leitores, transmitindo uma longa e duradoura felicidade espiritual aos que se aprofundam na leitura de suas obras. Ser acadêmico é ingressar também nas artes plásticas, na escultura, na pintura, e demais manifestações artísticas, com o espírito fartado pelo ideal de ampliar e difundir a beleza. Ser acadêmico é abraçar a Ciência, no afã de perseguir a verdade de forma incansável e desprendida, criando axiomas necessários ao conhecimento científico, embora todos saibamos que a perfeição é inatingível ao Homem e só a Deus pertence.

Os Acadêmicos Fundadores

Declinamos os nomes dos empreendedores do conhecimento, do ensino, do amor, do bem servir, para que os seus nomes não fiquem perdidos nas brumas do passado: Abrahim Sena Baze, Afrânio de Amorim Francisco Soares, Armando Júlio Souto Loureiro, Chloé Ferreira Souto Loureiro, Etelvina Norma Garcia, Eurípedes Ferreira Lins, Expedito Teodoro, Francisco Ferreira Batista, Francisco Ritta Bernardino, Gaitano Laertes Pereira Antonaccio, Garcitylzo do Lago Silva, Guilherme Aluízio de Oliveira Silva, Jorge Humberto Barreto, José Roberto Tadros, José Russo, Liana Belém Pereira Mendonça de Souza, Maria Palmira Soriano de Mello Antonaccio, Mario Jorge Corrêa, Marita Socorro Monteiro, Manoel Bessa Filho, Mário Ypiranga Monteiro Neto, Milton de Magalhães Cordeiro, Orígenes Angelitino Martins, Raimundo Colares Ribeiro, Rene Costa Menezes de Souza, Ruth Prestes Gonçalves, Ruy Alberto Costa Lins, Urias Sérgio de Freitas.

Os Patronos

As quarenta cadeiras da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas – ALCEAR, tem como patronos, pela sua ordem numérica, as seguintes personalidades, todos com os seus nomes registrados na história do Amazonas: Padre Raimundo Nonato Pinheiro Filho, Genesino Braga, Violeta Branca Menescal de Vasconcelos Oliveira, Paulo Herban Maciel Jacob, Samuel Isaac Benchimol, Gaspar Antonio Vieira Guimarães, Agnello Bittencourt, Adriano Queiroz, João Nogueira da Mata, Arthur Cezar Ferreira Reis, Thales de Menezes Loureiro, Vivaldo Palma Lima, Antonio Gonçalves Pereira de Sá Peixoto, Carlos Alberto de Aguiar Corrêa, Manoel Bessa Filho, Felismino Francisco Soares, Manoel Bastos Lira, Djalma da Cunha Batista, Mário Silvio Cordeiro de Verçosa, Jorge de Moraes, Álvaro Botelho Maia, Umberto Calderaro Filho, Mário Jorge Couto Lopes, Octaviano Augusto Soriano de Mello, Manoel Anísio Jobim, Cosme Ferreira Filho, André Vidal de Araújo, João Chrysostomo de Oliveira, Aderson Andrade de Menezes, Plácido Serrano Pinto de Andrade, Esther Thaumaturgo Soriano de Mello, Nilton Costa Lins, Lilá Borges de Sá, Eunice Serrano Telles de Souza, Aristides Rocha, Aristóphano Antony, Josué Cláudio de Souza, Sócrates Bomfim, Plínio Ramos Coelho e Almino Álvares Affonso.

BRASÃO

Adota as cores oficiais da bandeira do Estado do Amazonas: vermelho, azul e branco. Formado por três anéis, o primeiro na cor branca com fundo vermelho, amparando um livro em perspectiva de 45º que apresenta no lado externo da sua capa azul, parte superior, uma Pena e a Escrita simbolizando as Letras; na parte central da capa do livro o planeta Saturno e um Microscópio representam as Ciências; na sua parte inferior, uma Aquarela e uma Figura Humana (em movimento de dança), representando as Artes.

Todo este simbolismo é circundado pelo segundo anel, na cor azul, em cujas bordas, pelo lado externo e em semicírculo, está escrito "Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas", com a sigla ALCEAR em posição verticalmente inferior. Um terceiro anel também da cor azul envolve o conjunto, encimado pela expressão latina "Labor Omnia Vincit Improbus" (Um trabalho perseverante vence tudo) e envolto por duas frondes derivadas do helenismo, influenciador da civilização e da cultura, cujos bastões de sustentação se cruzam na parte de baixo.

INTERPRETAÇÃO

A posição verticalmente inferior e o acentuado destaque da sua sigla ALCEAR, identificam a Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas, de pronto, com o sentimento de altear, elevar, içar, manter sempre erguido, bem no alto, o padrão cultural do Amazonas.

A múltipla significação do vocábulo ALCEAR com um horizonte cada vez mais elevado é partilhada, na posição verticalmente superior, com a expressão latina Labor omnia vincit improbus, que se tornou universal, extraída dos fragmentos de dois versos das Geórgicas de Publius Virgilius Mario (70-19, a.C.), o mais célebre dos poetas latinos pela absoluta perfeição do seu estilo. Ao alcear o trabalho no sentido apresentado por Virgilius, aqui simbolizado como um fenômeno apenas pelo seu lado sócio-cultural, a ALCEAR quer ser um fator decisivo de civilização e progresso, principalmente no seio da intelectualidade amazonense, quando se transforma em um formidável vínculo de cooperação e solidariedade.

Os três anéis estão representando as LETRAS, as CIÊNCIAS e as ARTES, atividades a serem insistentemente perseguidas pela ALCEAR.

O LIVRO, aqui considerado apenas o seu conteúdo, portanto um autêntico livro de ouro repositório dos fatos literários, artísticos e científicos, exibindo em sua capa todo o simbolismo da ALCEAR, é sustentado pelo primeiro anel de cor branca em uma base vermelha. Vejamos, então, como estes significativos e belos símbolos estão dispostos.

A PENA, representando o aparato da escrita, é o fundamento mais expressivo e perene da atividade cultural do ser humano. A ESCRITA utiliza este instrumento para transformar a linguagem falada e as pulsações da razão num sistema de signos gráficos, ou de outra natureza. Desta maneira, a PENA e a ESCRITA por ela produzida representam a simbologia das LETRAS.

SATURNO, o magnífico e estranho planeta do sistema solar, que no período clássico da antiga Roma era identificado com Cronos, o deus grego do tempo, faz um paralelo com o MICROSCÓPIO, o aparelho óptico utilizado na obtenção de imagens ampliadas, para simbolizar as formidáveis conquistas da humanidade no campo das ciências. Assim, SATURNO e MICROSCÓPIO representam a simbologia das CIÊNCIAS.

A AQUARELA, o processo de pintura sobre papel, e a figura humana simulando os movimentos da DANÇA, qualquer que seja a sua forma de expressão dramática ou a sua variação coreográfica, estão representando o simbolismo das ARTES.

A identificação nominal Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas é amparada pelo segundo anel e protegida pelo terceiro anel, ambos da cor azul, abraçados pelas duas frondes laterais com os seus bastões de sustentação, representativas da civilização e da cultura a partir do Renascimento.

Fonte:
http://portalamazonia.globo.com/alcear/alcear.htm

Gaitano Laertes Pereira Antonaccio

Fundador da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas

Cadeira No. 1

Advogado tributarista, contabilista, empresário de turismo, escritor, poeta, articulista e conferencista, Gaitano Antonaccio (G. Laertes Pereira A.) é amazonense de Manaus, nascido a 28 de janeiro de 1940. Filho de Francisco Antonaccio e Neuza Pereira Antonaccio, é casado com a professora Maria do Carmo Azevedo Antonaccio, o casal possui os seguintes filhos: Laerte, Cacilda e Cynthia. iniciou os estudos primários no Colégio Nossa Senhora do Rosário, tendo como primeira professora, sua mãe que o ensinou as primeiras letras, ler, escrever e as quatro operações de aritmética.

Aprovado no exame de admissão para o Colégio Brasileiro estudou o curso ginasial e diplomou-se em 1958, na categoria de Técnico em Contabilidade. Cursou ainda humanidades no Colégio Estadual do Amazonas (antigo Ginásio Amazonense Pedro II) e, em seguida, formou-se em Ciências Jurídicas pela Faculdade de Direito da Universidade do Amazonas, cujo diploma recebeu na noite de 11 de dezembro de 1965.

Com vários cursos de especialização em Contabilidade, Direito e Turismo, Gaitano Antonaccio, apesar de escrever desde muito cedo, tendo começado a fazer poesia com apenas 8 anos de idade, somente em 1982, com a idade de 42 anos, lançou o seu primeiro livro de poesias, passando a editar outros como:
1) Sentimento Sentido (poesia), 1989;

2) Estafa de Amor (poesia), 1991;

3) Denúncias Contra o Amor Reprimido (poesia), 1993;

4) Como Agir Sem Ferir Ética e Prerrogativas, (críticas), 1993;

5) Anedotário de Viagens (anedotas), 1993;

6) Inconsciência do Amor, poesia, 1994;

7) Anedotário de Viagens II (anedotas), 1995;

8) Zona Franca - Um romance polêmico entre Amazonas e São Paulo (História do Amazonas),1995;

9) Anedotário de Viagens III (anedotas), 1996;

10) O Amor Na Busca da Felicidade (poesia), 1996;

11) A Colônia Árabe no Amazonas (História do Amazonas)1996;

12) O Sabor do Amor (poesia) 1997;

13) Para Ler e Guardar (crônicas) 1997;

14) A Decadência das Forças Morais (crônicas) 1997;

15) Coletânea de Anedotário de Viagens, 1997;

16) Entidades e Monumentos do Amazonas (História do Amazonas) 1997;

17) Só Amor (poesia) 1998 ;

18) Turismo, Análise, Críticas e Sugestões (críticas) 1998;

19) Crônicas Anacrônicas (crônicas) 1998;

20) Amor-Do Sacro ao Profano (poesia) 1999;

21) Gibran Kahlil Gibran- O Apóstolo Revolucionário (ensaio) 1999;

22) A Política Os Políticos e o Povo (ensaio) 1999;

23) A Insurreição do Amor (poesia) 1999;

24) O Amor de Cristo e o Amor dos Homens ,(poesia) 1999;

25) Gaitano Antonaccio - Uma Autobiografia (ensaio) 1999;

26) 65 Anos de Rotary Internacional, (história)1999, em parceria com Juarez Klinger do Areal Souto;

27) Duas Águias no Paraíso Amazônico: Mário Ypiranga Monteiro & Samuel Isaac Benchimol (ensaio) 2000;

28) O Amor Sob Todas As Formas (poesia), 2001;

29) A Contabilidade no Desenvolvimento das Empresas (ciências contábeis) 2000;

30) A Força do Amor (poesia), 2001;

31) Poesias Para Reler (poesia), 2001;

32) Newton Sabbá Guimarães, A Polimorfia de um Humanista (ensaio) 2001;

33) João Crhysostomo de Oliveira & João Nogueira da Mata - Duas Culturas, Dois Exemplos (ensaio),2002;

34) Lampejos da Mente (crônicas), 2002;

35) O Poder do Amor (poesia), 2002;

36) Amazonas - A outra parte da História (História do Amazonas), 2001;

37) A Redivisão do Estado do Amazonas (monografia), 2001;

38) A Ficção e a Realidade (poesia),2003;

39) Aspectos Históricos do Amazonas em Sonetos Invertidos (poesia), 2003;

40) Ideal Clube - De 1903 a 2003 - Cem anos de aristocratismo (História do Amazonas), 2003; 41) Poemas e Quadras Imperfeitas (poesias), 2003;

42).Águias da Literatura Brasileira (ensaio), 2003;

43) Pensamentos Filosóficos de Gaitano Antonaccio (pensamentos), 2003;

Membro titular da Academia Brasileira de Ciências Contábeis,

sócio correspondente Academia de Letras do Estado do Rio de Janeiro,

titular da Academia de Letras do Irajá, na cidade do Rio de Janeiro,

correspondente da Arcádia Brasílica de Letras e Ciências Estéticas do Rio de Janeiro,

sócio do Clube Literário de Brasília,

sócio da Writeres and Association Fraternlity (U.S.A.),

sócio do Instituto de Antropologia da Amazônia,

fundador da Academia de História do Amazonas,

fundador e primeiro presidente da Associação dos Escritores do Amazonas,

fundador da Academia de Letras, Ciências e Artes do Amazonas - ALCEAR.


É detentor de inúmeras honrarias:

Medalha Juscelino Kubitscheck,

Medalha Zumbi dos Palmares, em Brasília - DF,

Honra ao Mérito do Clube Literário de Brasília,

Menção Honrosa da Revista Brasília como ganhador do concurso nacional de poesias, em 1992 com o livro Estafa de Amor;

Medalha de Ouro Rodolfo Vale, da Prefeitura Municipal de Manaus,

Láurea Olavo Bilac, da Sociedade Cultural e Condecorativa do Brasil, Rio de Janeiro,

Honra ao Mérito da Academia Del Fiorino, de Firenze, Itália,

Doctor Honoris Causa, da Universidade Samuel Benjamim Thomas, Londres, Inglaterra,

Diploma da Ordem e do Mérito de Educação e Integração, SP;

Mérito Municipalista, SP;

Medalha João Ramalho, SP;

Duas menções honrosas da Prefeitura Municipal de Manaus;

Honra ao Mérito do Rotary Internacional, Belém-PA.;

Honra ao Mérito do Conselho Federal de Contabilidade;

Honra ao Mérito da Prefeitura do Rio de Janeiro;

Honra ao Mérito da Associação Comercial do Amazonas;

Ordem do Mérito da Imprensa Oficial, SP;

Colar do Mérito José de Anchieta, Brasília, DF;

Menção Honrosa do Centro Cultural São Borja, RS;

É Diretor da Associação Comercial do Amazonas,

membro vogal da Junta Comercial do Amazonas,

foi presidente do Conselho Curador da Fundação TV Cultura do Amazonas,

membro do Conselho de Contribuintes do Município (suplente),

membro do Conselho Federal de Contabilidade,

membro do Comitê Estadual de Turismo,

Membro do Instituto Brasileiro de Direito Tributário do Conselho de Turismo da Amazonastur, representando a Federação das Indústrias do Estado do Amazonas como titular e suplente da Associação Comercial.


Fonte:
http://portalamazonia.globo.com/alcear/alcear.htm