segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

José Rodrigues dos Santos (Estante de Livros)

A Vida num Sopro

Através da história de uma paixão que desafia os valores tradicionais do Portugal conservador, este fascinante romance transporta-nos ao fogo dos anos em que se forjou o Estado Novo.
Portugal, anos 30.

Salazar acabou de ascender ao poder e, com mão de ferro, vai impondo a ordem no país.
Portugal muda de vida. As contas públicas são equilibradas, Beatriz Costa anima o Parque Mayer, a PVDE abafa a oposição.

Luís é um estudante idealista que se cruza no liceu de Bragança com os olhos cor de mel de Amélia. O amor entre os dois vai, porém, ser duramente posto à prova por três acontecimentos que os ultrapassam: a oposição da mãe da rapariga, um assassinato inesperado e a guerra civil de Espanha.
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A Filha do Capitão

Decorrendo durante a odisseia trágica da participação portuguesa na Primeira Guerra Mundial, A Filha do Capitão conta-nos a aventura de um punhado de soldados nas trincheiras da Flandres e traz-nos uma paixão impossível entre um oficial português, o capitão Afonso Brandão e uma bonita francesa Agnés Chevallier. Mais do que uma simples história de amor, esta é uma comovente narrativa sobre a amizade, mas também sobre a vida e sobre a morte, sobre Deus e a condição humana, a arte e a ciência, o acaso e o destino.

Até ao final de 2007, esta obra de José Rodrigues dos Santos já havia alcançado uma tiragem de 85.000 exemplares o que constitui um grande sucesso editorial no mercado português. No entanto, as obras seguintes, tais como O Codex 632, A Fórmula de Deus e O Sétimo Selo, ultrapassaram em muito aquele número.
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O Sétimo Selo

Um cientista é assassinado na Antártida e a Interpol contata Tomás Noronha para decifrar um enigma com mais de mil anos, um segredo bíblico que o criminoso rabiscou numa folha e deixou ao lado do cadáver: 666.

O mistério em torno do número da Besta lança Tomás numa aventura de tirar o fôlego, uma busca que o levará a confrontar-se com o momento mais temido por toda a humanidade.

O apocalipse.
De Portugal à Sibéria, da Antártida à Austrália, O Sétimo Selo transporta-nos numa empolgante viagem às maiores ameaças que se erguem à sobrevivência da humanidade.
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A Ilha das Trevas

Paulino da Conceição é um timorense com um terrível segredo. Assistiu, juntamente com a família, à saída dos portugueses de Timor-Leste e a todos os acontecimentos que se seguiram, tornando-se um mero peão nas circunstâncias que mediaram a invasão Indonésia de 1975 e o referendo de 1999 que deu a independência ao país.

Só há uma pessoa a quem Paulino pode confessar o seu segredo - mas terá coragem para o fazer?

A vida e tragédia de uma família timorense serve de ponto de partida para aquele que é o romance de estréia de José Rodrigues dos Santos,.

Um romance pungente onde a ficção se mistura com o real para expor, num ritmo dramático, poderoso e intenso, a trágica verdade que só a criação literária, quando aliada à narrativa histórica, consegue revelar.
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A Formula de Deus

Contratado para decifrar um manuscrito de Einstein só agora descoberto, Tomás Noronha, professor universitário, envolve-se num jogo duplo entre o Ministério da Ciência Iraniano e a CIA, procurando desvendar a prova científica da existência de Deus, descoberta por Einstein, embora o Irão e os EUA julguem que o documento do cientista expõe a fórmula para fabricar facilmente uma bomba nuclear.

Com a ajuda de Ariana Pakravan, por quem se apaixona, ele tenta sair ileso de mais uma aventura. Enquanto o seu pai tem os dias contados devido a um cancro do pulmão, Tomás tem de escapar às perseguições dos iranianos, após os ter traído para ajudar a CIA. É Ariana quem o ajuda, acabando por se deixar levar pelos seus sentimentos relativamente ao português.

Após uma viagem que vai desde o Irão ao Tibete, e ainda em Portugal, eles conseguem provar, precisamente no dia do funeral do pai de Tomás, que o documento de Einstein não contém a fórmula para o fabrico para uma bomba nuclear, mas sim uma tese científica relativa à existência de Deus.

Personagens
Tomás Noronha: protagonista da trilogia, Tomás é professor de História na Universidade Nova de Lisboa e criptanalista, divorciado desde há cerca de cinco anos. É contratado por Ariana Pakravan em nome do Ministério da Ciência iraniano para decifrar o Die Gottesformel, o documento de Einstein que tematiza a existência de Deus. Mais tarde, é forçado a espiar os iranianos para a CIA, uma vez que quer esta quer o Irão, pensam que o Die Gottesformel dá a fórmula para a criação de uma bomba nuclear fácil, barata e destrutiva como nunca antes visto. Acaba por se apaixonar por Ariana.
Ariana Pakravan: física nuclear a trabalhar para o Ministério da Ciência do Iran. Ajuda Tomás a decifrar o manuscrito de Einstein e chega a trair o seu país para salvar o português. Apesar de apaixonada por ele, Ariana resiste às investidas de Tomás devido às severas leis iranianas e à diferença cultural entre ela e ele.
Frank Bellamy: dirige o Diretório de Operações da CIA. Pensando que os iranianos estão a tentar fabricar uma nova arma nuclear, obriga Tomás a fazer um jogo duplo, ajudando os iranianos, mas revelando todas as informações à agência americana.
Manuel Noronha: pai de Tomás, fica com um cancro pulmonar devido ao tabagismo. Apesar de morrer por causa da doença no final, Manuel, professor de Matemática na Universidade de Coimbra, revela-se uma ajuda importante na investigação de Tomás, com quem nunca teve uma relação tão próxima como deveria ser entre pai e filho.
Luís Rocha: assistente do professor Augusto Siza, que colaborou com Einstein na criação de Die Gottesformel e foi raptado pelos iranianos, ajuda Tomás na interpretação dos resultados na investigação acerca do manuscrito.

Temática
Este romance trata principalmente as provas para a existência de Deus. Expõe também argumentos contra o modo como a Bíblia caracteriza Deus, embora mostre cálculos que mostram a existência de certas verdades científicas no Gênesis.
Trata ainda temas como a diferença entre culturas (Irã, Tibete, Portugal), o plano nuclear iraniano, o modo como a CIA opera, as semelhanças entre a ciência ocidental e o pensamento oriental e o cancro pulmonar.

Tese principal: a existência de Deus
A tese exposta no livro é baseada em teorias verdadeiras, algumas até conhecidas, como a Teoria da Relatividade, de Einstein, o Princípio Antrópico, ou o Teorema da Incompletude. Há um grande foco sobre o Big Bang, devido à comparação entre este e a famosa frase do Gênesis: "faça-se luz!".

Neste livro, defende-se a existência de um Deus não antropomórfico, como afirma a Igreja, mas sim como uma inteligência superior e com uma determinada intenção na criação do Universo e no surgimento da Humanidade.
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O Códex 632

Baseado em documentos históricos genuínos e fundamentalmente no trabalho do historiador Augusto Mascarenhas Barreto (The Portuguese Columbus: Secret Agent of King John II, 1992, McMillan Edition), (“Cristovão Colombo – Agente Secreto de EL Rei D.João II”, em 1988, Editora Referendo), ao longo das suas 552 páginas, "O Codex 632" conta a história de uma investigação em torno da possibilidade de Cristóvão Colombo ser português, apoiando-se em lacunas do percurso do navegador cuja identidade e missão continuam a suscitar dúvidas.

Em 2005, José Rodrigues dos Santos estabeleceu um acordo com uma das principais editoras a operar nos Estados Unidos da América, a Harper Collins, com o objectivo de lançar "O Codex 632" naquele país. O livro foi apresentado na Book Fair America de 2007 como um dos principais lançamentos daquela editora, estando agendada a sua publicação para o dia 1 de Abril de 2008 sob a chancela da William Murrow, um dos principais selos do grupo. O livro estará à venda na Barnes & Noble e na Borders, as duas principais livrarias dos EUA. Entretanto, outro acordo foi obtido pelo autor e e pela Gradiva com o Gotham Group, uma empresa de Los Angeles ligada às principais produtoras de Hollywood, tal como a Paramount, Twentieth Century Fox ou a Universal Studios, com o objectivo de adaptar "O Codex 632" ao cinema. A acontecer, José Rodrigues dos Santos será o segundo autor português, a seguir a José Saramago com "Ensaio sobre a Cegueira", a ver uma obra ser transposta para o cinema pelos estúdios de Hollywood.

Até ao final de 2008, "O Codex 632" já havia alcançado a sua 32ª edição, com uma tiragem total de 175.000 exemplares. Encontra-se editado em Portugal, no Brasil, Espanha, Itália e Reino Unido.

Fontes:
http://www.portaldeliteratura.com.br
http://pt.wikipedia.org

José Rodrigues dos Santos (1964)



José António Afonso Rodrigues dos Santos (Beira, 1 de Abril de 1964) é um jornalista e escritor português nascido na antiga colônia portuguesa de Moçambique.

Anos iniciais em África

Natural da província de Sofala, Cidade da Beira, na antiga colônia de Moçambique do Império Português, mudou-se ainda bebê para a cidade de Tete onde permanece até aos nove anos, convivendo com a Guerra Colonial. Tal como a esmagadora maioria dos portugueses, alguns dos seus antepassados estiveram envolvidos na Primeira Guerra Mundial, na Flandres e na Guerra Colonial em África, sendo que o seu segundo romance, intitulado "A Filha do Capitão" é assumido como um tributo que lhes é prestado.

Percurso durante a adolescência

Após a separação dos seus pais, vai para Lisboa onde vive com a mãe. No entanto, as dificuldades econômicas da mãe levam-no a mudar-se para a residência do pai, em Penafiel, no norte de Portugal. A difícil adaptação do pai a terras lusas motivou a partida para Macau. Já no oriente, participa na elaboração de um jornal escolar, que desperta o interesse dos responsáveis da rádio local e leva o jovem estudante a ser entrevistado por uma jornalista que acabara de chegar a Macau: Judite de Sousa, hoje outra bem conhecida jornalista portuguesa e sua colega na RTP. Em 1981, aos 17 anos, o jovem José Rodrigues dos Santos inicia-se verdadeiramente no Jornalismo, ao serviço da Rádio Macau.

Carreira como jornalista

Em 1983, regressa a Portugal para frequentar o curso de Comunicação Social da Universidade Nova de Lisboa. Terminado o curso, candidata-se a um estágio na BBC, (British Broadcasting Corporation), a bem conhecida emissora britânica de televisão. A resposta é positiva mas não lhe é concedido qualquer financiamento. Aplica então a herança do pai, entretanto falecido, em três meses de experiência profissional em Inglaterra.

Regressa a Portugal, onde obtém duas distinções: o Prêmio Ensaio do Clube Português de Imprensa, em 1986 e o Prêmio de Mérito Académico do American Club of Lisbon, em 1987. Devido a essas credenciais é convidado pela BBC World Service para trabalhar em Londres, onde fica durante três anos, até 1990.

Da BBC seguiu para a RTP, onde começou a apresentar o noticiário "24 Horas". Em 16 de Janeiro de 1991, as forças coligadas de 28 países liderados pelos Estados Unidos da América dão início ao bombardeio aéreo de Bagdad, no Iraque, dando início à Primeira Guerra do Golfo. José Rodrigues dos Santos protagoniza então uma maratona televisiva de cerca de 10 horas, sobre o ataque americano ao Iraque, acabando posteriormente por se tornar o rosto mais conhecido da televisão pública.

Em 1991 passou para a apresentação do diário "Telejornal", o principal jornal diário da televisão portuguesa, no ar já por quarenta anos, e tornou-se colaborador permanente da CNN (Cable News Network), a cadeia norte americana de informação em contínuo, de 1993 a 2002. Hoje continua a apresentar o telejornal, em conjunto com Judite de Sousa e José Alberto Carvalho.

Doutorado em Ciências da Comunicação, com uma tese sobre reportagem de guerra, é professor da Universidade Nova de Lisboa e jornalista da RTP, ocupando por duas vezes o cargo de Diretor de Informação da televisão pública portuguesa. É um dos mais premiados jornalistas portugueses, tendo sido galardoado, além dos prêmios já referidos, com o Grande Prêmio de Jornalismo, em 1994, atribuído pelo Clube Português de Imprensa. Internacionalmente, venceu três prêmios da CNN: o Best News Breaking Story of the Year, em 1994, pela história "Huambo Battle" relacionada com a Guerra de Angola; o Best News Story of the Year for the Sunday, em 1998, pela reportagem "Albania Bunkers"; e o Contributor Achievement Award, em 2000, pelo conjunto do seu trabalho, aquele que é considerado o Pullitzer do jornalismo televisivo.

Romancista

José Rodrigues dos Santos é hoje um dos jornalistas mais influentes para as novas gerações e no panorama informativo nacional. No entanto, além da sua mais conhecida faceta como jornalista, José Rodrigues dos Santos é também um ensaísta e romancista. Especialmente nesta última vertente, tornou-se dos escritores portugueses contemporâneos a alcançar maior número de edições com livros que venderam mais de cem mil exemplares cada. Até ao final de 2007 publicou quatro ensaios e cinco romances. O romance de estréia, intitulado "A Ilha das Trevas" foi reeditado pela Gradiva, em 2007, atual editora do autor.

Em 2005, José Rodrigues dos Santos estabeleceu um acordo com uma das principais editoras a operar nos Estados Unidos da América, a Harper Collins, com o objetivo de lançar naquele país a obra "O Codex 632". O livro foi apresentado na Book Fair America de 2007 como um dos principais lançamentos daquela editora, estando agendada a sua publicação para o dia 1 de Abril de 2008 sob a chancela da William Murrow, um dos principais selos do grupo. O livro estará à venda na Barnes & Noble e na Borders, as duas principais livrarias dos EUA. Entretanto, outro acordo foi obtido pelo autor e e pela Gradiva com o Gotham Group, uma empresa de Los Angeles ligada às principais produtoras de Hollywood, tal como a Paramount, Twentieth Century Fox ou a Universal Studios, com o objetivo de adaptar "O Codex 632" ao cinema. A acontecer, José Rodrigues dos Santos será o segundo autor português, a seguir a José Saramago com "Ensaio sobre a Cegueira", a ver uma obra ser transposta para o cinema pelos estúdios de Hollywood.

Conforme é descrito no site da RTP, José Rodrigues dos Santos é um homem que perante os sérios problemas de um mundo em constantes convulsões não perde o sentido de humor, sendo-lhe atribuída a frase irônica: "Ainda não percebo porque é que o meu boneco do Contra Informação tem as orelhas tão grandes..."

Obras publicadas

Ensaio
• Comunicação, Difusão Cultural, 1992; Prefácio, 2001
• Gradiva, 2001; Círculo de Leitores, 2002
• Crónicas de Guerra II - De Saigon a Bagdad, Gradiva, 2002; Círculo de Leitores, 2002
• A Verdade da Guerra, Gradiva, 2002; Círculo de Leitores, 2003

Ficção
• A Ilha das Trevas, Temas & Debates, 2002; Prefácio e Círculo de Leitores, 2003; Gradiva, 2007
• A Filha do Capitão, Gradiva, 2004
• O Codex 632, Gradiva, 2005
• A Fórmula de Deus, Gradiva, 2006
• O Sétimo Selo, Gradiva, 2007
• A Vida Num Sopro, Gradiva, 2008

Fonte:
http://pt.wikipedia.org

Katherine Martins de Oliveira (Pela Estrada da Vida)



Andar pela estrada da vida;
Seguir sem ter medo do que vem à frente;
Acreditar na sorte seguida;
Espero que tente:

Juntar os amigos,
Rir a noite inteira,
Nunca ficar sozinho,
Ser aquilo que queira.

A viagem contínua
Feita por todos nós
É você que tem que escolher.

Onde for
Sempre estará alguém
Que te guie, que te cuide,
Que te ame, que te ajude,

Que queira seguir
O caminho escolhido por ti,
Que queira apenas viver
Sem saber a razão e o porquê.

Se decida
Aqui e agora
Na estrada da vida
O caminho tem várias saídas.

Não olhe para trás
Se arriscar é assim
O medo vai embora
Você pode ser feliz.

Onde for
Sempre estará alguém
Que te guie, que te cuide,
Que te ame, que te ajude,

Que queira seguir
O caminho escolhido por ti,
Que queira apenas viver
Sem saber a razão e o porquê.

Sempre que estiver sozinho
Lembre-se de seus amigos
Aqueles que não se importam
De você ser como é.

Amigos Fiéis...
Que te ajudam.
Amigos Fiéis...
Que te cuidam.
Amigos Fiéis...
Que sempre irão te seguir.
Amigos Fiéis...
Que sempre estarão aqui.

Onde for...
Sempre estarão aqui!
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Sobre a autora
Katherine Martins de Oliveira (1994)
Possui 13 anos de idade e mora na cidade de Sorocaba/SP. Seu primeiro livro sem figuras que leu, foi "O Cachorrinho Samba na Fazenda", de Maria José Dupré. Seus autores favoritos são Fernando Sabino, Pedro Bandeira, Marcos Rey, Carlos Drumnmond de Andrade, Mario Quintana, Paulo Coelho, Sidney Sheldon, Agatha Christie, Emily Rodda, entre outros.
Katherine escreve quando dá vontade, quando uma idéia vem na cabeça, quando necessita fazer. Não fica horas na frente de um papel. "Se a idéia vem, pronto, num pedaço já anoto e o resto é moleza".
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Fonte:
MORAES, Cintian e LARA, Douglas (organizadores). Antologia Rodamundinho 2008. Itu(SP): Ottoni Editora, 2008. p. 67-68.

O Nosso Português de Cada Dia (Senão e Se Não)



Temos aí um caso comum que causa bastantes confusões. No entanto, é bastante fácil de resolvermos esse problema.

A expressão SE NÃO é formada pela conjunção condicional SE mais a palavra NÃO, que é um advérbio de negação.

Portanto, essas palavras devem ser usadas sempre que a frase indicar a condição da segunda frase. Observe os seguintes exemplos:
1. Se não estudar, você não será aprovado.
2. Se não ganhar na loteria, será pobre pelo resto da vida.

Em TODOS os outros casos, você usará sempre SENÃO. Observe os seguintes exemplos:
1. Seu currículo possui um senão.
2. Ele não conhece senão as garotas bonitas da escola.
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Fonte:
Prof. Dr. Ozíris Borges Filho.
http://www.movimentodasartes.com.br/

Luis Kandjimbo (Breve História da Ficção Narrativa Angolana nos últimos 50 anos) Parte 2

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1. Narrativa Literária Angolana e a sua Identidade

O CONCEITO DE LITERATURA ANGOLANA

Ora, ao cuidarmos da narrativa literária angolana temos como objeto um segmento da arte verbal angolana. Donde ressalta uma idéia preliminar que reputamos fundamental, segundo a qual a narrativa angolana é anterior ao uso da língua portuguesa. O que do ponto de vista estético, ajuda a compreender o fato de estar subjacente uma realidade pré-existente que deve articular-se a novas elaborações ontológicas e epistemológicas que visem a autonomização da literatura angolana e a fundamentação substantiva do adjetivo que qualifica a narrativa e a ficção. Por outras palavras, teremos de responder à seguinte interrogativa: como e quando é que a narrativa e a ficção literária podem ser consideradas angolanas?

A resposta àquela questão sugere o que pode ser designado por identidade narrativa que, traduzindo a idéia de algo permanente, seja numa pessoa individual, seja numa comunidade histórica, permite, no dizer de M. a. M. Ngal, consagrar a expressão de uma “coesão totalizadora indispensável ao poder da distinção”. É neste sentido que aplicada à história das narrativas literárias, a referida noção “ conforma o caráter durável de uma personagem (…) construindo o tipo de identidade dinâmica própria da intriga que faz a identidade da personagem”. Mas a identidade narrativa não se circunscreve exclusivamente à personagem.

Em Literatura Angolana e Texto Literário, Jorge Macedo detecta quatro tipos de discursos narrativos apresentando as seguintes características concorrentes:

- textologia angolanizada na forma e na expressão ( Luandino Vieira, Jofre Rocha, Boaventura Cardoso);

- angolanidade no quadro do uso vernáculo da língua portuguesa ( Arnaldo Santos, António Cardoso);

- prosa de veridicção ( Uanhenga Xitu, Raúl David , Pepetela);

- texto de reduplicação cultural ou texto de motivação histórica e etnográfica ( Manuel Pedro Pacavira, Henrique Abranches e Pepetela).

A perspectiva de Jorge Macedo permite sustentar que as características distintivas são múltiplas, pois à personagem juntam-se elementos como a linguagem e outros recursos correlatos do texto narrativo.

Ora, seguindo de perto a noção de identidade narrativa, concluiremos que só no quadro do conceito de literatura angolana se pode compreender o alcance da “coesão totalizadora”. Semelhante conceito há de comportar o extensional e o intensional. O que entender então por literatura angolana?

Será literatura angolana aquele conjunto que compreende os textos orais, as versões escritas dos textos orais em línguas nacionais, os textos escritos em línguas nacionais, língua portuguesa ou outras línguas européias, produzidos por autores angolanos com recurso às técnicas da ficção narrativa, de outros modos da escrita desde que se verifique neles uma determinada intenção estética, crítica ou histórico-literária, veiculando elementos culturais angolanos.

Na sua dimensão extensional, este conceito cobre o seguinte:
• textos orais;
• versões escritas de textos orais;
• textos escritos em línguas angolanas, língua portuguesa ou outras europeias.

Do ponto de vista intensional compreende:
• angolanidade literária;
• expressão de elementos culturais angolanos;
• utilização de técnicas e modos da escrita poética, narrativa ou outra;
• intencionalidade estética.

Do ponto de vista ontológico os autores são angolanos no sentido de que são objetos e sujeitos da experiência angolana.
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continua... A Geração de 1890:Pedro Féliz, José de fontes Pereira e Joaquim Dias Cordeiro da Matta
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Fonte:
http://www.nexus.ao/kandjimbo/breve_historia.htm

Sandoval Ferreira (Poesia da Água)


Chuva que cai maneira
Deixando a terra molhada
O orvalho da madrugada
Sereno molhando a planta
Uma criança que dança
Sentindo o seu rosto molhado

O chão inteiro encharcado
Marcando o fim do verão
É uma nova canção na boca.
Do sertanejo é como ganhar
Um beijo de uma linda donzela...
A sensação é aquela

De ver uma criança nascer
Ver a vida florescer
Brotando frutos da terra
Água pura e cristalina
Que pura chega na fonte
Que jorra do horizonte

Como uma benção de DEUS
Que enche os olhos meus
Barragens rios e nascente
Que numa linda corrente
Faz a gente perceber
Que não dá pra viver

Sem vê-la jorrar no chão
Pois tudo vira torrão
Sem ela pra beber
E tudo pode morrer
Sem ela pingar no chão
Sou em forma de união

É que podemos conter
Juntar a água e beber
Esse líquido das colinas
Água pura e cristalina
Que faz a gente viver
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Sobre o Autor
Sandoval Ferreira (1983)
Nasceu em 27 de fevereiro de 1983, em Iati, Pernambuco. Morou no povoado da zona rural chamado Bela Vista até os 21 anos. Filho de pais pobres, morava numa casa sem energia onde a principal atração à noite era à luz do candeeiro a gás, folhetos (literaturas de cordel). O pai reunia os vizinhos e seu irmão mais velhoera quem lia os folhetos. Depois, Sandoval passou a ler e aidespertou o interesse pela poesia.

Aos 18 anos fez uma apresentação de cordel em sua escola parao Secretário de Educação de Pernambuco, sendo que todos gostaramo que lhe deu motivação para seguir em frente.
Hoje, aos 26 anos, mora em Garanhuns, PE. Possui 12 cordéis escritos em um CD que serve para divulgação do seu trabalho.

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Fonte:
Colaboração do autor por e-mail.
Imagem = http://inatitude.wordpress.com/

domingo, 11 de janeiro de 2009

Aventuras de Pedro Malasartes



De como Malasartes fingiu que se matava

Vendo que a vitima vinha em sua perseguição, deu tudo quanto tinha e, ao aproximar-se de um riacho, encontrou uma mulher a lavar roupa. Estava perdido, porque a lavadeira daria ao perseguidor a sua direção.

Mais que depressa tocou a carneirada a atravessar o riacho, e tomando um dos carneiros, tirou-lhe as tripas e meteu-as debaixo da camisa. Quando a manada passou, ele arrancou da faca, fingiu que abriu o ventre e deixou cair na água as tripas do carneiro, que ali levou ocultas.

A lavadeira deu um grito, caiu desmaiada ao presenciar tal cena e Malasartes desapareceu.

Quando o perseguidor chegou à toda, e perguntou à lavadeira se tinha visto passar um homem tocando uma carneirada, ela respondeu, quase sem poder falar, que Pedro Malasartes havia feito o que ficou dito.

E, porque Pedro já estava longe com o rebanho, o homem voltou soltando um milhão de pragas.

De como Malasartes passa adiante a carneirada

Já muito longe, encontrou um porqueiro que vinha tocando também. Pedro Malasartes que já previa que o fazendeiro havia de vir no seu rasto, propôs troca dos carneiros, (que valiam menos, pelos porcos, que valiam mais).

Fecharam o negócio, tendo o porqueiro feito uma volta em dinheiro.

Malasartes seguiu com a porcada e o outro com os carneiros, em direção oposta.

O porqueiro foi pousar em casa do dono dos carneiros. Ao ver o seu rebanho, o homem avançou para o porqueiro, e exigiu entrega do que era seu. O porqueiro quis resistir, mas vendo que o homem estava armado até os dentes e tinha muitos capangas, não teve outro remédio senão fazer a restituição, ficando no prejuízo, e tocou pra trás a ver se encontrava o Malasartes que já estava longe, tendo tomado por um atalho que foi dar numa fazenda. E, vai então, vendeu a porcada por um precinho barato, mas com a condição de o comprador deixar que ele cortasse a ponta do rabo de cada porco.

Fecharam o negócio e Pedro Malasartes meteu no embornal os rabinhos dos porcos e bateu o pé na estrada.

De como Malasartes rouba as jóias de uma família.

E foi dar no castelo de um ricaço que era casado e tinha uma filha, e ofereceu-se para empregado. E foi aceito. Como era tempo de chuva, o chiqueiro estava que era mesmo um lameiro. E Malasartes teve logo uma idéia. De noite tocou para longe a porcada do ricaço e, voltando, espetou no lameiro as caudas dos porcos. E, quando de manhã o dono da casa veio ver a porcada, Malasartes lhe apontou o lameiro e disse-lhe que os porcos estavam atolados, apenas com os rabos de fora.

O dono da casa mandou-o logo que fosse em casa buscar duas enxadas a ver se podiam desenterrar os animais. Pedro Malasartes foi numa corrida e, lá chegando, viu a dona e a filha passeando no jardim e lhes disse:

- O patrão mandou que as senhoras me acompanhem. Elas duvidaram, mas Malasartes gritou, perguntando ao patrão que estava lá embaixo:

- As duas, patrão?

- Sim, as duas, e sem demora! As duas, pateta!

E, então, as senhoras não puseram mais diferença e acompanharam Pedro que tomou com elas outra direção. Já longe o velhaco amarrou-as numa árvore, tirou-lhes todas as jóias que eram de grande preço, fugiu e foi tocar a porcada que tinha ocultado no dito retiro.

E, quando o ricaço, cansado de esperar, foi a casa e não encontrou a mulher e a filha, bateu a procurá-las até que as achou amarradas onde Malasartes as havia deixado.

Quando voltou é que viu que dos porcos só havia os rabinhos, que ele é que era um pateta de marca.

A muitas léguas dali, o Malasartes negociou a porcada, recebeu o cobre, comprou um bom terno de roupa e foi parar em certa cidade, onde, logo na entrada, havia uma bonita chácara que era do dr. Juiz de Direito.

De como Malasartes faz mais uma que parecia duas

Eram já por umas dez da noite. O Malasartes bateu à porta e pediu pousada, dando o nome de doutor Fulano, que vinha visitar aquela terra. O Juiz costumava entrar tarde, pois ficava até à meia-noite fora de casa, jogando marimbo com um seu compadre. E vai então o filho do Juiz na sua simplicidade, mandou entrar o hóspede e, depois de um bom chá, deu-lhe pousada, no quarto da sala, onde o Juiz costumava se vestir. E quando o Juiz chegou, o filho lhe contou o que se tinha passado e o tolo ficou muito satisfeito daquela hospedagem.

E vai então lá pela madrugada o Malasartes começou a sentir umas coisas na barriga...Procurou o vaso e, não o encontrando, abriu a janela... mas lá fora havia uma cachorrada, que foi um barulho de latidos que nunca se viu.

O Malasartes estava suando frio: Mas nisto avistou na prateleira uma caixa. Abriu, havia dentro uma cartola de pelo. Estava salvo! Tirou a cartola, fez nela o que quis, pôs outra vez na caixa e esta no lugar onde antes estava.

De manhã, quando ouviu tropel dos criados saiu e... este mundo é meu!...

Quando vieram chamar o Malasartes para o café, não o acharam mais.

À hora do almoço, o Juiz saiu do quarto e foi para o cômodo em que se costumava vestir.

Era dia de júri. Vestiu a sobrecasaca, e, distraído, tirou a cartola que enterrou, de um golpe, na cabeça.

Para que tal fizeste! Ficou com a cara enlameada e sentiu um cheiro que quase o afogou. Começou então a gritar. A família veio toda, pensando que tinha acontecido alguma desgraça.

Ao vê-lo naquele estado, correram todos a buscar socorro. O filho trouxe-lhe um banho, a filha água florida, a mulher sabonete de cheiro.

E depois houve risada que não foi brinquedo, enquanto o Juiz bufava de raiva. E os jurados já estavam cansados de esperar por ele...

Mas o Malasartes já estava longe. Até parecia que tinha parte com Beizebum.

Fonte:
http://victorian.fortunecity.com/postmodern/135/pedromala.htm
Imagem =
http://climashopping.jacotei.com.br

Murilo Mendes (Poesias Avulsas)

Pintura de Flávio de Carvalho (1951)
A Tesoura de Toledo

Com seus elementos de Europa e África,
Seu corte, inscrição e esmalte,
A tesoura de Toledo
Alude às duas Espanhas.

Duas folhas que se encaixam,
Se abrem, se desajustam,
Medem as garras afiadas:
Finura e rudeza de Espanha,
Rigor atento ao real,
Silêncio espreitante, feroz,
Silêncio de metal agindo,
Aguda obstinação
Em situar o concreto,
Em abrir e fechar o espaço,
Talhando simultaneamente
Europa e África,
Vida e morte.
In: MENDES, Murilo. Antologia poética. Sel. João Cabral de Melo Neto. Introd. José Guilherme Merquior. Rio de Janeiro: Fontana; Brasília: INL, 1976
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Canção do Exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.

A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
In: MENDES, Murilo. Poesias, 1925/1955. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1959
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Somos todos Poetas

Assisto em mim a um desdobrar de planos.
as mãos vêem, os olhos ouvem, o cérebro se move,
A luz desce das origens através dos tempos
E caminha desde já
Na frente dos meus sucessores.

Companheiro,
Eu sou tu, sou membro do teu corpo e adubo da tua alma.
Sou todos e sou um,
Sou responsável pela lepra do leproso e pela órbita vazia do cego,
Pelos gritos isolados que não entraram no coro.
Sou responsável pelas auroras que não se levantam
E pela angústia que cresce dia a dia.

In: MENDES, Murilo.. Poesia Completa e Prosa. Organização, preparação do texto e notas, por Luciana Stegagno Picchio. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1995.

Fontes:
http://www.lusofoniapoetica.com/
Pintura = http://i-digitais.blogspot.com

Murilo Mendes (1901 - 1975)



Murilo Monteiro Mendes nasceu em Juiz Fora, Minas Gerais, em 13 de maio de 1901 e morreu em Lisboa, no dia 13 de agosto de 1975. Jamais escreveu um verso ou poema banal. Foi barroco e surrealista. Moderno e tradicional; sempre mantendo uma independência e um certo desprezo, pelo enquadramento dos manifestos.

Defensor da liberdade, Mendes se declarou inimigo pessoal de Hilter, como foi e seria sempre de quaisquer tiranos. Talvez, por isso, o governo General Franco o tenha considerado "persona non grata", quando deveria ir à Espanha. Em tudo Murilo foi revolucionário. Até sua conversão para o cristianismo, tão incompreendida, na polaridade angelismo/demonismo, foi ao contrário um ato de resistência, (que estava ao mesmo tempo acontecendo na Europa, principalmente na França) e não se tratava de aceitação e sim, uma nova proposição: a saber, a proposta de um catolicismo mais voltado para os problemas humanos, terrenos.

Veio à luz como poeta no mesmo ano (1930) que Drummond, e foi logo saudado por Mario de Andrade. Publicou Poemas, seu primeiro livro, e ligou-se a Manuel Bandeira, Carlos Drummond, Oswald de Andrade, Raul Bopp, Ismael Nery e outros combatentes do modernismo. Ele participava, eventualmente, nas revistas do movimento. Aos 24 anos, escreveu na publicação Antropofagia o poema Mapa, onde diz não se enquadrar em nenhuma teoria.

Em 1941, conheceu Maria da Saudade Cortesão, filha do grande historiador português, Jaime Cortesão, exilado no Brasil. Seis anos depois Murilo e Saudade casaram-se.

Em 1956, ele e Saudade mudaram-se para a Itália e Murilo foi ser professor de Cultura Portuguesa e Literatura Brasileira em Roma, onde ficou bastante conhecido como poeta, tradutor e crítico de arte. Responsável pela apresentação de várias exposições de pintura, mantinha contato e relações de amizades com Ezra Pound, Camus, Miró, Breton, entre outros. O casal formou um círculo lítero-artístisco-cultural (no mesmo prédio morava Audrey Hepburn, amiga do casal), freqüentado por músicos, artistas plásticos, atores, homens de letras e artes; críticos, como o linguista Roman Jakobson, que muito o admirava.

Influenciou e foi reverenciado por alguns dos maiores poetas brasileiros de sua época. Foi um arrebanhador de poetas futuros. Com seus poemas, grafittis e murilogramas, o Poeta era apenas e sempre *o Poeta*. Um Imperador das Palavras, que sofreu, se atormentou sempre, com o descaso e a indiferença com que o Brasil costuma tratar e dedicar a seus filhos grandiosos.

Fonte:
http://www.lusofoniapoetica.com/

Pearl S. Buck (A Boa Terra)



Segundo romance da escritora norte-americana Pearl S. Buck, ganhadora do Prêmio Nobel de Literatura, este livro é um clássico que retrata a vida na China numa época em que grandes mudanças políticas e sociais transformaram um país agrário em uma potência mundial. Tendo como fio condutor a trajetória de um camponês e sua família, A Boa Terra traça todo o ciclo da vida , os horrores, as paixões, as ambições desmedidas e as recompensas. Best-seller nos Estados Unidos, onde vendeu quase 2 milhões de exemplares apenas em 1931, ano de seu lançamento, o livro foi traduzido para mais de trinta línguas e adaptado para o teatro e para o cinema.

A história começa no dia do casamento do jovem camponês Wang Lung com O-lan, uma escrava da abastada família Hwang. Juntos, eles trabalham duro no campo, até o nascimento de seu primeiro filho. No Ano Novo, a mãe orgulhosa leva o bebê para seus antigos senhores conhecerem. É quando descobre que os Hwang estão em dificuldades financeiras e querem vender suas terras. Com as economias de um ano de boa colheita, o jovem casal compra parte da propriedade. A vida prospera, nascem mais dois filhos, mas as dificuldades logo chegam.

Um tio inescrupuloso, investimentos equivocados e uma seca inclemente trazem a primeira crise financeira e forçam a família a vender os móveis para ter o que comer. A miséria leva O-lan a estrangular a terceira filha, assim que a criança nasce, para evitar que morra de fome. Wang Lung recusa-se a abrir mão de suas terras, mas se vê obrigado a migrar com a mulher e os filhos para a cidade, onde sobrevivem mendigando. Quando grupos de revolucionários saqueiam a casa de uma família rica, o casal aproveita a oportunidade. Com o dinheiro e as jóias do saque, eles voltam para o campo, onde uma sucessão de boas colheitas lhes proporciona nova fortuna. A riqueza, no entanto, não garantirá felicidade a Wang Lung e O-lan.

Fonte:
http://www.quebarato.com.br/classificados/a-boa-terra-pearl-s-buck__190402.html
Capa do livro = http://livrarianaftalina.blogspot.com

Pearl S. Buck (1892 - 1973)



Pearl Sydenstricker Buck, nascida Pearl Comfort Sydenstricker (Hillsboro, 26 de junho de 1892 – Danby, 6 de março de 1973), também conhecida por Sai Zhen Zhu foi uma sinologista e escritora estado-unidense, ganhadora do Prémio Pulitzer de 1932 e do Prémio Nobel de Literatura de 1938.

Biografia

Filha de pais missionários presbiterianos, foi levada em 1892 com eles com apenas três meses de idade e criada na China, país cuja vida e ambiente evoca em suas obras. Estudou em Xangai até os quinze anos, tendo um preceptor confucionista, e trabalhou em um abrigo chinês para mulheres escravas e prostitutas.

Foi estudar Psicologia nos Estados Unidos, em 1910, onde se formou em 1914, para depois retornar à China para lecionar na Escola Presbiteriana e cuidar da mãe doente. Casou-se com um especialista americano em agricultura que lá trabalhava. Sua primeira filha nasceu deficiente mental. Viveu na China até a Guerra Civil no fim da década de 1920, quando, em 1934 foi removida para o Japão e de lá para os Estados Unidos da América, nunca mais retornando à China, tendo ficado desgostosa da política chinesa após a guerra.

Mestre em Literatura pela Universidade de Cornell em 1926, escreveu em 1930 Vento Leste, Vento Oeste, que obteve grande reconhecimento da crítica. Sua obra A Boa Terra, de 1931, vendeu 1,8 milhão de cópias somente no primeiro ano e, por ela, recebeu o Prémio Pulitzer em 1932. Venceu também o Prémio Nobel de Literatura em 1938.

Escreveu mais de 110 livros e várias novelas de rádio. Era contemporânea de Sinclair Lewis e Eugene O'Neil, dois grandes escritores norte-americanos. Era tão prolífica que em 1945 escreveu cinco livros e duas novelas de rádio. Muitos de seus livros foram transformados em filmes. Seu estilo combinava prosa bíblica com a saga narrativa chinesa, cuja vida e ambiente eram constantemente presentes em suas obras. Seu tema mais recorrente era sobre o amor interracial. Seu livro A Flor Escondida tem o mesmo insight da ópera Madame Butterfly, pois a história narra os problemas de uma família japonesa cuja filha se enamora por um soldado americano. Vários de seus livros foram escritos sob o pseudônimo de John Sedges.

Amiga de Eleanor Roosevelt, advogou muito pelos direitos que deveriam ser concedidos às mulheres e pela igualdade racial bem antes dos movimentos dos direitos civis, nos Estados Unidos. Fundou e dirigiu o "Movimento de Auxílio à China". Pearl S. Buck fez com que a China moderna se tornasse compreensível para os povos ocidentais. Morreu em 1973, aos oitenta anos.

Informações recentes dão conta que, na verdade, nunca conseguiu voltar à China, porque até poucos meses antes de sua morte, o governo chinês ainda lhe negava um visto de entrada, por ela ser considerada 'agente imperialista', e a queda de Mao ocorreu em 1976. Seus livros mostram aquilo de que os próprios chineses ainda não tocam bem: A China rural, de estrutura ainda medieval, na época, o desdém pelas mulheres, a hierarquia da vida em família. Atualmente, os chineses se empenham na sua reabilitação, tanto que em sua antiga residência, na cidade de Zhenjiang, próximo de Xangai, o governo chinês forma um museu em sua homenagem.

Obras principais
Romances:
East Wind: West Wind(1930) (Trad. "Vento Leste, Vento Oeste")
The House of Earth (Trad. "A Casa da Terra") - formado pela trilogia:
The Good Earth (1931) (Trad. "A Boa Terra" ou, no Brasil, "Terra dos Deuses")
Sons (1932) (Trad. "Os Filhos de Wang Lung")
A House Divided (1935) (Trad. "A Casa Dividida")
The Mother (1933) (Trad. "A Mãe")
Fighting Angel (1935) (Trad. "O Anjo Guerreiro") - biografia de seu pai Absalom Sydenstricker
The Exile (1936) (Trad. "A Exilada") - biografia de sua mãe Caroline
The Patriot (1939) (Trad. “O Patriota”)
This Proud Heart (1938)
Other Gods (1940)
China Sky (1941)
Dragon Seed (1942) (Trad. “A Estirpe do Dragão) (Filmado em 1944, sob a direção de Harold S. Bucquet e Jack Conway, tendo no elenco Katharine Hepburn, Walter Huston, Akim Tamiroff, Agnes Moorehead)
The Promise (1943)
The Townsman (1945) – sob o pseudônimo de John Sedges
Portrait of a Marriage (1945) (Trad. "Retrato de um Casamento")
Pavilion of Women (1946) (Trad. "Pavilhão de Mulheres")
The Angry Wife (1947) – sob o pseudônimo de John Sedges
Peony (1948)
The Big Wave (1948)
A Long Love (1949) – sob o pseudônimo de John Sedges
God's Men (1951)
The Hidden Flower (1952) (Trad. “A Flor Escondida”)
Come, My Beloved (1953)
Voices in the House (1953) – sob o pseudônimo de John Sedges
My Several Worlds (1954) (Trad. "Meus Diversos Mundos")- autobiografia.
Imperial Woman (1956) (Trad. "A Mulher Imperial")
Letter from Peking (1957) (Trad. "Cartas de Pequim")
Command the Morning (1959)
Satan Never Sleeps (1962)
A Bridge for Passing (1962) - autobiográfico
The Living Reed (1963)
Death in the Castle (1965) (Trad. “Morte no Castelo”)
The Time Is Noon (1966)
Matthew, Mark, Luke and John (1967)
The New Year (1968)
The Three Daughters of Madame Liang (1969) (Trad. “As três filhas da Sra. Liang”)
Mandala (1970)
The Goddess Abides (1972)
All Under Heaven (1973) (Trad. “Debaixo do Céu”)
The Rainbow (1974)
Não ficção:
Of Men and Women (1941)
How It Happens: Talk about the German People, 1914-1933, com Erna Pustau (1947)
The Child Who Never Grew (1950) (Trad. "A Criança que nunca cresceu") - sobre a filha excepcional.
For Spacious Skies (1966)
The People of Japan (1966)
The Kennedy Women (1970)
China as I See It (1970)
The Story Bible (1971)
Pearl S. Buck's Oriental Cookbook (1972)
Contos:
The First Wife and Other Stories (1933) (Trad. “A Primeira Mulher e outras Histórias”)
Today and Forever: Stories of China (1941)
Twenty-Seven Stories (1943)
Far and Near: Stories of Japan, China, and America (1949)
Fourteen Stories (1961)
Hearts Come Home and Other Stories (1962)
Stories of China (1964)
Escape at Midnight and Other Stories (1964)
The Good Deed and Other Stories of Asia, Past and Present (1969)
Once Upon a Christmas (1972)
East and West Stories (1975)
Secrets of the Heart: Stories (1976)
The Lovers and Other Stories (1977)
Mrs. Stoner and the sea and others works (1978) (Trad. "A Sra. Stoner e o mar (Livro de contos onde figura seu último conto, escrito em janeiro de 1973, dois meses antes de morrer, The Miracle Child ("A Estrela do Menino"))
The Woman Who Was Changed and Other Stories (1979)

Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Pearl_S._Buck

Luis Kandjimbo (Breve História da Ficção Narrativa Angolana nos últimos 50 anos) Parte I


Do ponto de vista histórico, o romance é o género literário mais recente em Angola e de um modo geral nas literaturas africanas. A poesia, a narrativa curta, o conto, a narrativa genealógica e retórica são géneros mais antigos que encontramos nas literaturas orais dos povos angolanos.

Originário da literatura ocidental dos séculos XVIII e XIX, durante a ascensão da burguesia e da sociedade industrial, o romance é introduzido nas literaturas africanas com a implantação do sistema colonial. Uma das manifestações mais evidentes da sua existência no espaço angolano é a proliferação da literatura colonial no princípio deste século.

De acordo com os resultados de pesquisas que realizei no Arquivo do Tribunal da Comarca de Benguela, consultando processos de inventário e de abertura de herança quando pretendia obter informações sobre as leituras e obras que circulavam em Benguela na época em que José da Silva Maia Ferreira por lá passou, cheguei a conclusões valiosas sob o ponto de vista sociológico.

As dedicatórias inscritas nas epígrafes dos poemas em Espontaneidades da Minha Alma daquele autor, permitem inferir, na perspectiva da intertextualidade exoliterária, a existência de um universo de leitores, entre naturais de Angola e Portugal, cuja competência é corroborada pela circulação de obras de autores europeus tais como Victor Hugo, Thiers, Alexandre Dumas, Walter Scott.

Com efeito, os primeiros textos romanescos escritos por naturais de Angola são da autoria de membros da geração de 1890. Trata-se de Scenas de África e O Filho Adulterino, obras de Pedro Félix Machado publicadas na segunda metade do século XIX. São igualmente conhecidas referências de textos narrativos escritos por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, embora não tenham chegado ao nosso conhecimento por não terem sido publicadas, nomeadamente O Loandense da alta e baixa esfera, O Doutor Gaudêncio (romance). Mas, a prova inequívoca da capacidade deste autor é-nos dada pelo seu Repositório de Coisas Angolenses, uma compilação de textos contendo informações de variável importância para a história social e política de Angola no século XIX.
À semelhança do que se verifica em outros espaços africanos de colonização europeia, também em Angola emerge um romance colonial de pendor exótico e assente na mistificação racialista. Forma-se um conjunto de textos centralmente motivados por uma certa “missão civilizadora” atribuída a personagens brancas, sendo as personagens de raça negra secundárias e vítimas na urdidura da história.

É a chamada literatura ultramarina, designação que na década de 60 é substituída pela de literatura colonial. Em Angola, ela desenvolve-se a partir dos anos 20 deste século, com os concursos de literatura colonial portuguesa, promovidos pela Agência Geral do Ultramar e de estudos sobre Angola numa perspectiva etnográfica, cobrindo as línguas e o folclore.

No parágrafo único do artigo 1º da Portaria nº 6.119 que em 1926 consagra a realização regular daqueles concursos de literatura colonial, lê-se: “será sempre preferida a literatura na forma de romance, novela, narrativa, relato de aventuras, etc. que melhor faça a propaganda do império português de além-mar, e melhor contribua para despertar, sobretudo na mocidade, o gosto pelas causas coloniais.”

Os primeiros prémios de literatura colonial foram atribuídos a dois autores portugueses, nomeadamente, Gastão de Sousa Dias com África Portentosa e Brito Camacho com Pretos e Brancos. Um outro autor de assídua participação nos referidos concursos e cujas obras e pertença podem dar lugar a fecundos debates sobre a estética da narrativa angolana, é Castro Soromenho. Em 1939 concorre com o livro de contos Nhari. A opinião que o júri consagra em acta sustenta que a obra se ocupa do “drama de gente negra (…) a paisagem e a psicologia dos seus protagonistas [é] interessante, cheia de colorido e de vida e, por vezes, a tese que encerram envolve moral e ensinamentos construtivos, pela análise rigorosa e conscienciosa e bem deduzida da psicologia dos indígenas e pelo rico colorido que sabe emprestar ao decorrer da acção.” Em 1941, Castro Soromenho apresenta Noite de Angústia, a melhor obra do XIV concurso segundo o júri.

A progressiva expansão do romance, enquanto género do discurso em prosa, deve-se ao florescimento de jornais nos fins do século XIX e à institucionalização do ensino liceal, no princípio do século XX, em cujo quadro se formam leitores e potenciais escritores. Assim, além das obras de Pedro Félix Machado e Joaquim Dias Cordeiro da Matta, publicam-se nos anos 10 e 20 importantes narrativas, algumas das quais de cunho autobiográfico como é História de Uma Traição de Pedro da Paixão Franco.

O período que se segue ao fim do século XIX e à proclamação da República em Portugal, além de ser marcado pelo jornalismo apologético da causa africana, é esmagador, caracterizando-se pela atitude das autoridades coloniais que tomam as mais diversas providências para cercear as liberdades e reprimir a actividade jornalística dos naturais que defendiam, desde o século passado, a autonomia e a independência de Angola.

Até à década de 30, apenas um romance de António de Assis Júnior, O Segredo da Morta, dava sinais de autonomia de uma verdadeira ficção literária moderna, devendo ser considerado o romance fundador. A sua publicação em livro foi precedida de folhetins no jornal A Vanguarda. Só em 1934 viria a ser editado com a chancela de A Lusitânia. Publicou ainda Relato dos Acontecimentos de Ndala Tando e Lucala, uma narrativa e ao mesmo tempo um testemunho sobre actividades de reivindicação reprimidas cujos actores constituíam um grupo da elite local de que ele próprio fazia parte. António de Assis Júnior é natural de Luanda onde nasceu em 13 de Março de 1887 e faleceu em 1960, em Lisboa.

Nos fins da década de 30, emerge o nome de Óscar Ribas, um outro narrador que viria a confirmar os seus méritos com a publicação do romance Uanga em 1950. Segundo o ensaísta Mário António, Óscar Ribas “surge como um elo necessário entre essa tradição em perigo e os anseios de afirmação literária das gerações mais novas da sua terra.” Mas os seus créditos firmam-se com Ecos da Minha Terra, publicado em 1952.

Em 1947, na ressaca do terrível período de repressão exercido sobre a imprensa e o associativismo autóctones, durante o regime de Norton de Matos, destaca-se no meio jornalístico e literário luandense o nome de Domingos Van-Dúnem, que se estreia no Diário de Luanda com o conto A Praga. Os seus companheiros de geração, entre os quais António Jacinto, Viriato da Cruz e Agostinho Neto, têm uma intervenção reduzida ao mínimo no domínio da ficção. Agostinho Neto publica em 1952 o conto Náusea e em 1979 António Jacinto traz à lume o conto Vovô Bartolomeu. Com esta geração – a Geração de 48 -, a grande narrativa deixa de ser cultivada, para dar lugar à poesia. É uma geração de poetas que se notabiliza e em que avultam os grandes nomes da poética fundadora angolana.

Os narradores reaparecem na cena literária nas décadas de 50 e 60 com os nomes de Manuel Santos Lima, Luandino Vieira e Arnaldo Santos. A estes vêm juntar-se outros autores como Henrique Abranches, Manuel Rui, Pepetela e Uanhenga Xitu.

No panorama literário angolano, a geração de 60, caracteriza-se pela sua dimensão ética que se sedimenta no compromisso político com a causa do nacionalismo, embora seja ela a exercitar a introdução de rupturas significativas no plano da linguagem. Por conseguinte, uma boa parte dos seus integrantes vivem profundas experiências associadas a tal compromisso como presos políticos condenados a pesadas penas de reclusão. São os casos Agostinho Neto, António Jacinto, Uanhenga Xitu, Luandino Vieira, António Cardoso. Outros engajam-se no Movimento de Libertação Nacional dentro e fora do país. Outros ainda actuam em grupos de intelectuais de esquerda na Europa e em África.

Em A Geração da Utopia, Pepetela traça uma espécie de biografia romanesca da sua geração com incidências sobre aquilo que eram os ideais e o desencanto que suscita o comportamento do grupo após a independência, particularmente com a instauração da II República e o pluralismo político.

A geração de 70 é um prolongamento natural da anterior, já que não há grandes soluções de continuidade. Observa-se ainda entre alguns dos seus membros uma atitude ética que se sobrepõe aos imperativos estético-literários da sua época. Com ela chega-se à independência e integram-na nomes como Jofre Rocha, Jorge Macedo, Arístides Van-Dúnem. No plano da ficção, Boaventura Cardoso é sem dúvida o nome de referência tendo em atenção a vitalidade da produção global e as suas preocupações de ordem estética.

Apesar da vitalidade destas experiências de heróis e mártires, vividas pelas duas gerações sucessivamente anteriores, não nos parece que elas e a sua escrita se tenham constituído em modelo de superação para a geração de 80.

Luandino Vieira foi um dos poucos a manifestar a frustração e o estado de espírito que traduzem bem essa ideia. Na entrevista que concedeu a Michel Laban, debita abundante reflexão e crítica sobre a situação do escritor em Angola, em que o imperativo do compromisso político por mais relevante substituíra o imperativo estritamente literário. No dizer de Luandino Vieira, “ o escritor se cortou do mundo do espírito (…) os escritores mais velhos - salvo algumas excepções e mesmo assim penso que eles não se sentem completamente realizados – são intelectuais que vivem do capital acumulado durante os anos todos (…) Muito embora viajem muito e participem em muitos eventos internacionais, essas viagens são, de um modo geral, acontecimentos em que o facto de ser angolano, resistente, de África Austral, do MPLA, conta muito mais do que ser escritor…”[1] Como se depreende das palavras de desencanto de Luandino Vieira, pode dizer-se que no contexto pós-independência ou pós-colonial, aquela atitude de compromisso dos escritores perante o político privava o fundamento da actividade criativa que é radicalmente crítica.Ao aceitarem o status de funcionários do Estado, os escritores das gerações anteriores, acabavam por comportar-se como homens emprestados à política.Mas é essa cumplicidade com a razão de Estado que está na origem no tipo de ensino praticado para a literatura.

Há, por essa razão, uma descontinuidade observável na escrita de ficção e nos padrões estéticos, provocada pela excessiva valorização de temas literários marcados pela ideologia política e sua introdução nos manuais escolares. Mas tal constatação só faz sentido se a associarmos ao facto de, à data da independência, os liceus e os três centros universitários de todo o país serem frequentados por um número de jovens angolanos, até aí nunca visto. Para um país que saía de um colonialismo atroz, essa população de estudantes não deixava de representar uma justificada expectativa. A política educacional portuguesa para Angola colonial sofrera um profundo abalo a partir de 1960.

Mas a filosofia que subjaz a tais modificações da política colonial assenta ainda no assimilacionismo. Em 1970, Pinheiro da Silva, o secretário provincial da educação de Angola, falava da “integração dos portugueses africanos no modo de vida moral, espiritual e material dos portugueses europeus”.

Segundo estatísticas da época, de uma taxa de matrícula inferior a Moçambique no início das reformas, a população escolar angolana do ensino liceal, por exemplo, passaria a 10779, uma cifra superior a de Moçambique, que era de 19524. No ensino universitário, o efectivo angolano, com 1557 era igualmente superior ao de Moçambique, registando 1145.

Ora, quando em 1975 se realizava a ruptura no plano dos fundamentos do próprio Estado, lançavam-se, nos anos imediatamente a seguir à independência, bases para as necessárias reformas do sistema de ensino. A instauração de um regime político de partido único e o seu desmantelamento nos fins da década de 80, sugerem a constatação de uma reforma educativa inconclusa. Com efeito, passados mais de vinte de independência, chega-se à conclusão de não ter sido ainda realizada a reforma educativa. A comprová-lo estão os produtos desse sistema de ensino pós-colonial, representando os suportes da referida discontinuidade em relação à geração de 70. Estamos a referir-nos à geração de 80. Apesar de marcada por experiências catastróficas como as convulsões políticas de 1974-75, a repressão de 27 de Maio de 1977 e a guerra civil, ela afirma-se logo no princípio da década, através das manifestações associativas e participações em concursos literários. É a vaga das Brigadas Jovens de Literatura. As primeiras formam-se nos principais centros urbanos, nomeadamente, Luanda, Lubango e Huambo, coincidentemente cidades em que se concentram estabelecimentos dos três níveis de ensino (liceal, pré-universitário e universitário), aos quais se juntam os seminários e outros estabelecimentos eclesiásticos. Uma das poucas revelações registadas no domínio da narrativa, é José de Freitas que publica em 1979 Silêncio em Chamas.

Para a ficção narrativa angolana, a geração de 80 traz uma plêiade de nomes. Do interior destacam-se entre outros Cikakata Mbalundu, que com o autor destas linhas formava o núcleo dos fundadores da Brigada Jovem de Literatura da Huíla; Mota Yekenha, um dos poucos clérigos da geração que se dedica ao romance. Despontam igualmente alguns vozes femininas como Ana Major e Rosária Silva. Da diáspora pontificam Sousa Jamba e José Eduardo Agualusa.

CRÓNICA E LITERATURA INFANTIL

O leitor está perante uma síntese que, privilegiando a narrativa de fõlego e o conto, no entanto não perde vista a crónica e as narrativas da literatura infantil. A representar a artesania destes dois géneros da prosa de ficção, temos três nomes: Roberto Carvalho, Ernesto Lara Filho e Sílvio Peixoto. Os dois últimos cronistas tiveram uma morte prematura, não fazendo já parte do mundo dos vivos. Ernesto Lara Filho é na verdade um dos maiores vultos da crónica em Angola. Nasceu em 1932 e morreu atropelado em 1977. Sílvio Peixoto era natural de Malanje onde nasceu em 1962

Morreu em 1995, num acidente de aviação.

No domínio da literatura infantil destacam-se Dario de Melo, Octaviano Correia, Maria Eugénia Neto, Gabriela Antunes, Ceslestina Fernandes, Cremilda Lima, Maria João, Rosalina Pombal e Zaida Dáskalos.
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continua...
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João Maimona (Idade das Palavras)

(mantida a grafia original)

o instante da chegada e as flores da alegria.
perdidos estavam os profetas que condenavam
as testemunhas do silêncio do mar. a reencontrada
confusão da escuridão e o livro do profundo
isolamento do pastor. diante da janela do palácio
de exílio crescia uma esclarecida pátria.

a obscura solidão dos olhos de crinças errantes.
as pedras vinham dos refractários que navegavam
quando o mar vacilava inconfundível. infinito.
invisível. imperceptível. incessante. inarticulado.
inconsciente. sob as cinturas apertadas de um
palácio em exílio. o dia esquecia-se do esplendor
do incêndio. do mapa apenas se libertavam
o deserto e sua cegueira. imprevisível era a voz
intangível que facilitava o descanso da
juventude cristalina: comigo a areia ardente
julga as periferias da alma.
comigo as vitórias da distância mergulham em
caminhos de luz. comigo as notícias enrugadas
dissipam a fidelidade da elegia do instante
da chegada. e pude dissecar o instante da
chegada e as flores da glória.

a alegria e o sal do saber.
enorme por persistir nas sílabas
da harmonia. a chuva pública
continua a testemunhar o
despertar das estrelas. o anoitecer
das folhas que fazem da chama
frágil a segunda respiração
necessária. a sétima árvore
anunciava a efervescência
do novo planeta. o olhar
da linguagem sobre a aliança
dos sorrisos. a madrugada
da inovação sobrevoando
a delicada diluição da música.
a experiência da aproximação
nocturna proclamava a
intenção dos lábios. as fotografias
do espaço dependiam da harmonia
singular do céu. renovei a paisagem
nocturna saudando uma enorme
madrugada por suturar.

a infância do mendigo e a promessa do poema.
imensas interrogações sobre a sintaxe da felicidade.
a chuva como resposta tardia quando
a benevolência do império dispersa seu esplendor.
há na calçada do mendigo o mar e o poema.
na espuma azul do novo dia há milhares
de candeeiros desenhado a arquitectura
da convalescência com letras maíusculas.
são janelas misteriosas. anunciados
crepúsculos em cartas de Deus dispersas
por colinas ensoleiradas. de súbito
o coração do mendigo alegra-se
por ler cartas com suspiros de liberdade
e a fome de outros mendigos dedica
uma noite de amor aos loucos do palácio
de exílio quando a chuva se despede da catedral.

o sentido do regresso e a alma do barco.
antes que o mar anuncie a sua existência
os capitães transfigurados trespassam a
linha do amor. as noites evasivas de
passageiros castigam as raparigas
de saias amarelas. assim se mostravam
as horas selváticas que destapavam
os enigmas da navegação crepuscular.
inicia-se uma peregrinação. os anjos
enviam mensagens para as raparigas
de olhos castanhos.
arrogantes eram os homens que
saudavam o barco.

nestes crepúsculos de agosto
a diluição da incerteza.
murmúrios que abrigam
porções de humidade vindas
de uma cidade corrosiva:
a noite nunca era sinónimo
de melancolia. em aldeias
africanas as aves aprendem
a usufruir da sabedoria
da luz matinal: não hesites
em amar as reticências
obscuras. não procures a alegria
que se aproxime do sinal
da síncope. entre esplêndidas
heranças da adjectivação, verás
o limiar do colapso entrando
pela Ilha do Cabo. nas próximas
décadas culpadas da fidelidade
do lugar de pedra.
um sorriso se desprende dos lábios
do poeta. sobre os séculos que vigiam
o lugar de pedra sobrevivem
a música de renascimento e a luz
harmoniosa em cada folhagem.

dias sorridentes que não reflectem
a fluvial metamorfose.
era a multiplicação do elogio
retorcido no limiar
da inominável chama.
silêncio ignorado ao pé de um
mosaico de lágrimas. serena
a luz do dia volta a olhar
a elegia mais profunda do milênio.
decidi transpor a folha verde
proveniente de uma manhã
de janeiro:este é o instante
de enriquecer a luz serena.

a planicie voltou a soletrar palavras amargas.
ontem as aves sonhavam que os gatos
padeciam de pneumonia crónica:
estas datas tranquilas trazem um perfume
de mar: a claridade oculta que canta.
na penumbra desfilava o equilíbrio da
cidadela decadente. fatia de luz serena.
veio um vento exibir sua ternura
e pronunciei meu discurso em lugar
preparado para proclamar o instante
da ventura, a angústia de uma chuvada
vagabunda que se anuncia interminável.
amanhecer frio, histórico pelas cores que
a pátria aberta mostra mal articuladas,
pôs-se a devorar a solidão das trevas da
penúltima torre da cidade arruínada.
lugar de pedra onde a minúscula aldeia
multiplica uma sequela de plasma.
a folhagem que se faz anunciar,
sólida, trazendo o aroma da fogueira
da união, é apenas o percurso das estrelas
do norte, centro e sul do crepuscular ofício
de séculos e séculos na compartilhada
esperança que procura o dia da estátua.
surgem ondulações que ainda escuto
com minúcia. com o silêncio sinfónico
não se chega ao paraíso: privilegiava
uma voz orgulhosa que transitou pelos
meus ouvidos. canto uma vez mais
o lugar de pedra. o olhar da noite
anónima chega a imaginar
ternuras envelhecidas.
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Sobre o autor
João Maimona (1955)
João Maimona nasceu em 1955, em Quibocolo, município de Maquela do Zombo, na província de Uíge. Em 1961, refugiou-se na República do Zaire. Estudou Humanidades Científicas em Kinshasa e em 1975 ingressou na Faculdade de Ciências, regressando a seu país em 1976. Dois anos depois, fixou residência em Huambo, onde se licenciou em Medicina Veterinária. É membro-fundador da Brigada Jovem de Literatura do Huambo e membro da União dos Escritores Angolanos.
Publicou, entre outros títulos,
Idade das palavras (1997),
Festa de monarquia (2001)
Lugar e origem da beleza (2003).

Fontes:
http://www.lusofoniapoetica.com/
Foto = http://www.antoniomiranda.com.br

Jorge Arrimar (Flor de Milho)

(mantida a grafia original)

Soltaste um pássaro de sol
pelo infinito dos caminhos
a desintegrarem-se em espuma
no vale das estrelas caídas…

Somente aquele poema de fogo
gravado no corpo descarnado dos vulcões
te faz ainda promessas de silêncio,
a mais pura das vozes a descer sobre ti
em gotas de orvalho perfumado.
Do seio prateado das lagoas
enlaçam-te raízes brancas
como asas de borboleta,
mas da tua boca eleva-se um sorriso
lavado com a água da saudade:
-“Nunca me esqueci que vim do Sul”
onde o mágico crepúsculo se banhava
no rio Chilo
e os cafeeiros em flor
cantavam versos de luar
ao som do velho kissanje
de Paulino Valúnje!
Das folhas do teu cajueiro
dispersas na tempestade de uma noite
que jamais se apagará
começa já a despontar a aurora
de uma flor de milho
que tu depuseste no colo nordestino
do teu ser em fuga…
(Açores, ilha de S. Miguel, 24 Out. 1982

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Sobre o Autor
Jorge Arrimar (1953)
Jorge Manuel de Abreu Arrimar, nasceu em Chibia, Huíla (Angola), em 1953. Na década de 1970, criou com amigos o Grupo Cultural da Huíla (Grucuhuíla). Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Luanda, tendo concluído a licenciatura em História e especializando-se em Ciências Documentais. Foi professor de português nos Açores, onde dirigiu, com Carlos Loureiro, um suplemento literário chamado Página Africana.
Em 1985 radicou-se em Macau, onde ocupou o cargo de director da Biblioteca Nacional. É colaborador do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, organizado pelo Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro e prepara uma Antologia de Poetas de Macau em parceria com Yao Jingming.
Reside hoje em Portugal.
Bibliografia
Ovatylongo (1975),
Poemas (1979, em parceria com Eduardo B. Pinto),
20 Poemas de Savana (1981),
Murilaonde (1990),
Fonte do Lilau (1990),
Secretos Sinais (1992) e Confluências (1997, em parceria com Manuel Yao).

Fontes:
http://www.lusofoniapoetica.com/
Foto =
http://moodle.crie.min-edu.pt

Folclore Indigena da Tribo Kaingang

Kaingang do PR (desenho de João Henrique
Elliot 1809-1888)
Os Kaingang formam, até o presente, vários grupos espalhados pelo oeste dos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, pelo norte do Rio Grande do Sul e pelo leste das Missões Argentinas. Sua língua relaciona-se com a família Gê, podendo ser, provisoriamente, considerada como Grupo Meridional dela. Os fragmentos de lendas abaixo relatados procedem de índios da região do rio Ivaí, e foram coletados em 1912.

A origem dos Kaingang

A tradição dos Kaingang afirma que os primeiros da sua nação saíram do solo; por isso têm cor de terra. Numa serra, não sei bem onde, no sudeste do estado do Paraná, dizem eles que ainda hoje podem ser vistos os buracos pelos quais subiram. Uma parte deles permaneceu subterrânea; essa parte se conserva até hoje lá e a ela se vão reunir as almas dos que morrem, aqui em cima. Eles saíram em dois grupos chefiados por dois irmãos, Kanyerú e Kamé, sendo que aquele saiu primeiro. Cada um já trouxe consigo um grupo de gente. Dizem que Kanyerú e toda a sua gente eram de corpo delgado, pés pequenos, ligeiros, tanto nos seus movimentos como nas suas resoluções, cheios de iniciativa, mas de pouca persistência. Kamé e seus companheiros, pelo contrário, eram de corpo grosso, pés grandes, e vagarosos nos seus movimentos e resoluções.

A criação dos animais

Como esses dois irmãos com a sua gente foram os criadores das plantas e dos animais, e povoaram a Terra com os seus descendentes, tudo neste mundo pertence ou à metade Kanyerú ou à metade Kamé, conhecendo-se a sua descendência já pelos traços físicos, já pelo temperamento, já pela pintura: tudo o que pertence a Kanyerú é manchado, o que pertence a Kamé é riscado. Essas pinturas, o índio vê tanto na pele dos animais como nas cascas, nas folhas ou nas flores das plantas, e para objetivos mágicos e religiosos cada metade emprega material tirado de preferência de animais e vegetais da mesma pintura.

Kanyerú fez cobras, Kamé, onças. Este fez primeiro uma onça e a pintou, depois Kanyerú fez um veado. Kamé disse à onça: "Come o veado, mas não nos coma!" Depois ele fez uma anta, ordenando-lhe que comesse gente e bichos. A anta, porém, não compreendeu a ordem. Kamé repetiu-lhe ainda duas vezes, em vão; depois lhe disse, zangado: "Vai comer folhas de urtiga! Não prestas para nada!" Kanyerú fez cobras e mandou que elas mordessem homens e animais. Queimou um espinho chamado sodn e esfregou a cinza nos dentes da cobra a fim de torná-los venenosos. Kamé quis então fazer um animal muito feroz, e começou a fazer o tamanduá. Eles estavam trabalhando durante a noite, e quando o dia começou a romper, o tamanduá ainda não estava pronto: já tinha unhas enormes, mas a boca ainda estava por fazer. Então Kamé arrancou um cipó e meteu-o como língua na boca do estranho animal, que ficou mal acabado.

Quando já estava claro, eles começaram a correr, e logo uma onça pegou um Kanyerú, e Kamé foi mordido por uma cobra. Pararam para tratar o doente, quando o surucuá (Trogon sp.) cantou: Tug! Tug! Tug! Um velho explicou essa cantiga como tu (- carregar) e mandou que carregassem o doente para o lugar do acampamento. Um pequeno gavião cantou: Tokfín! (- amarrar) e o velho mandou amarrar o membro lesado. Um outro passarinho cantou: Ngidn! (- cortar), e eles abriram a ferida com um corte. Outro cantou: Iandyóro! (- espremer) e eles espremeram a ferida. Por fim um outro cantou: Kaimparará! (kaimpára - inchado), e o velho disse: "Isto é; um mau grito! Amanhã o membro estará inchado!" Assim foram tratando o doente até que se restabelecesse.

A origem dos nomes de pessoas

Quando, depois, os dois irmãos com a sua gente começaram sua migração pela terra, aproveitaram os acontecimentos durante a viagem para impor nomes aos seus companheiros: encontrando um passarinho vermelho de nome erégn, Kanyerú achou bom este nome e o deu a seu filho. Quando mataram um gavião real (hu-mbagn), Kanyerú deu a um dos seus companheiros o nome de Hu-mbagn-niká - penacho de gavião real. Passando, com sol quente, por um campo, uma menina Kamé quebrou um galho de uma árvore chamada soke para usá-lo a jeito de guarda-sol. Quando chegaram ao acampamento, Kamé chamou a menina Soke-kign. No dia seguinte mataram uma onça (mi), e Kamé deu a um dos seus companheiros o nome de Mi-yantkí (- boca de onça), enquanto Kanyerú batizou um outro por Mi-nindó (- braço de onça). Depois outra vez Kamé chamou uma mulher de Mi-kané (- olho de onça) etc. O rezador, que sabe de todos esses episódios pela tradição que ele e os seus colegas guardam, é, por isso, competente para impor o nome à criança, e, já pelo nome, se conhece a qual metade o indivíduo pertence.

As almas de defuntos

A alma do defunto (vaekruprí) penetra no chão, imediatamente ao lado do cadáver, começando logo a se encaminhar rumo ao Toldo dos Defuntos. O primeiro pedaço do caminho é nas trevas, mas logo ela sai outra vez ao claro, onde se encontra com algumas outras almas que lhe oferecem comida. Se comer, continuará o caminho; se não, voltará à superfície da terra, entrando novamente no corpo que a alma abandonara. Assim se explicam os casos em que pessoas aparentemente mortas tornam à vida. Para lá daquele ponto, começam para a alma as dificuldades e perigos do caminho: primeiro, encontra uma encruzilhada onde um caminho errado conduz a um lugar onde uma caba preta, gigantesca (kokfumbágn) espera as almas para devorá-las. Em outro trilho errado, acha-se armado um laço que colhe a alma, atirando-a dentro de uma panela com água a ferver. Finalmente, tem de atravessar um brejo por uma pinguela estreita e escorregadia. Se escorregar e cair, é devorada por um enorme caranguejo ou, segundo outros, por um cágado.

Além da pinguela, a alma encontra o Toldo dos Defuntos, onde os seus conhecidos finados já a esperam com góyo-kuprí (Bebida fermentada de milho) para festas e danças. Nesse Toldo dos Defuntos, tudo é mais ou menos como aqui em cima, na Terra. Algumas coisas, porém, têm lá significado diferente ou oposta: assim, os defuntos tratam umas formigas grandes de "onças"; as minhocas são "peixes"; as aranhas, "cobras" etc. O milho é preto. Naturalmente, as almas também brigam entre si, e quando isto acontece, sempre há entre os vivos algum desastre. Nos cemitérios acham-se muitas vezes vestígios de cacetadas, golpes de terçado e marcas de quedas de corpos impressos no chão, especialmente poucos dias depois do enterro, no lugar que o Pényê (ver nota abaixo) varreu com ramos. Se aparecerem só pegadas, é sinal que logo alguém vai morrer. Bem junto ao cadáver, enquanto este ainda não tiver sido tirado do seu leito de morte, o Pényê encarregado de tratá-lo espalha cinza no chão, alisa-a e marca os lugares da vizinhança: o toldo X, o toldo Y etc. Pouco depois aparecem na cinza, no lugar correspondente, aqueles sinais acima mencionados, e até rastros de cobra, se alguém tiver de ser mordido por um desses répteis. Não é, porém, qualquer um que enxerga essas coisas e sabe explicá-las.

O dilúvio

Quando o dilúvio chegou, os índios se transformaram em macacos-pregos, e os negros, em guaribas, o que se pode verificar pela catinga destes, que é a mesma dos negros. Um homem salvou-se, trepando numa palmeira jerivá. Estava comendo as frutas, enquanto as pontas dos seus pés pendiam n'água. Os dourados vieram para apanhar os caroços, mas de repente morderam também os dedos dos pés do homem. Por isso, o dedo miudinho do nosso pé é menor que os outros. Quando os índios já estavam meio mortos de fome, apareceu o biguá (Krukrú) (Phalacrocorax olivacens, Humb., ave passeriforme que vive nos rios e costas marítimas) e disse: "Eu farei uma terra para vós!" Trouxe uma das mãos cheia de terra que espalhou na superfície da água, de maneira que formou uma ilha. Depois tornou a trazer outra mais, e assim trabalhou durante dias. Quando não espalhava bem a terra, esta formava colinas e montanhas.

Nota: Os Kaingang do Ivaí reconheciam, em ambas as suas metades exogâmicas, quatro (ou mais?) classes, consideradas de maior ou menor sensibilidade quanto a influências más, e consequentemente com funções cerimoniais diversas. A classe dos Pényê era considerada inferior, sendo a menos sensível a feitiço, impureza e doenças. Aos Pényê cabiam as funções de mais importância na ocasião de um óbito, pois só eles podiam lidar sem prejuízo com o cadáver e com a viúva.

Fontes:
http://www.terrabrasileira.net/

Folclore Indigena da Tribo Kuniba

Esta tribo, hoje extinta, habitou até 1912 a terra firme entre a margem esquerda do médio rio Juruá e as cabeceiras do Jutaí. Em conseqüência de um assalto que fizeram a um barracão, a maior parte dela foi morta pelos neobrasileiros. Alguns sobreviventes foram transferidos pelo Serviço de Proteção aos Índios para o Rio Branco. Sua língua é Aruak, do Grupo Pré-andino. A lenda foi anotada em 1921.

A lua

Um homem tinha ido a uma viagem, deixando sua mulher em casa. Esta, durante a ausência do marido, recebia todas as noites, na sua rede, a visita de um desconhecido. Num dia preparou tinta de jenipapo e passou-a no rosto do visitante noturno, para reconhecê-lo de dia. Então verificou que se tratava de um dos seus próprios irmãos. De manhã, contou logo a sua mãe o que tinha feito, mas todos procuraram em vão o homem marcado com a tinta de jenipapo. Então, o chefe da maloca mandou reunir os homens, apresentando-se todos, com exceção do irmão culpado. Ele se escondera e teve de ser trazido à força. Quando seu delito foi descoberto, os outros deram-lhe uma surra e o soltaram. Já em liberdade, ele ameaçou que havia de voltar e acabar com a maloca toda.

Seu irmão, porém, seguiu-o às escondidas, para observar o que pretendia fazer.

À boca da noite, o malfeitor chegou a uma maloca estranha, na qual entrou. Imediatamente os habitantes caíram em massa sobre ele, abatendo-o. Seu irmão, porém, que o havia seguido, escondeu-se perto, no oco de um pau, de onde observou como os inimigos cortaram a cabeça do morto, jogando-a num monturo, enquanto lhe queimavam o corpo. Ele resolveu levar a cabeça para casa.

Assim que anoiteceu completamente, saiu do seu esconderijo e, apanhando muitos vagalumes, esfregou-os no próprio rosto, no corpo e nos membros, que ficaram fosforescentes. Seu aspecto era, agora, o de um fantasma, e quando entrou no meio dos inimigos, que ainda estavam sentados reunidos no terreiro, estes correram apavorados, escondendo-se na maloca. Ele apanhou a cabeça do irmão e fugiu, levando-a. Por mais que corresse, não lhe foi possível alcançar sua maloca na mesma noite. Então resolveu enterrar a cabeça na manhã seguinte e, depois de ter feito uma cama, adormeceu.

Pela manha, cedo, a cabeça a seu lado começou a falar: "Meu irmão, dá-me água!" 0 homem assustou-se grandemente: "Que história é esta dessa cabeça?" Foi buscar água, oferecendo-a à cabeça para que bebesse, mas o líquido escorria imediatamente pelo pescoço cortado. Foi buscar mais, porém o efeito era o mesmo. Então cavou, no mesmo lugar, um buraco fundo e nele deixou sepultada a cabeça, continuando o seu caminho em direção à maloca. Vendo, porém, uma fruteira, subiu para comer frutas, pois estava com fome. Nisto, a cabeça tinha-se libertado do buraco e veio pulando pelo rastro do irmão e, vendo-o sentado na fruteira, pediu-lhe que atirasse algumas frutas. O homem apanhou uma e a atirou pelo mato adentro; sem demora, a cabeça pulou atrás a fim de apanhá-la.

O homem aproveitou a ausência da cabeça para descer a toda pressa, e correr para sua maloca. "Mataram meu irmão e a sua cabeça virou fantasma!", contou ele aos outros. Todos se esconderam na maloca, fechando bem as portas, porque a cabeça já vinha perto, pulando. Chegou à porta e pediu a sua mãe que a abrisse; mas ninguém lhe respondeu.

Chorou e se lamentou do lado de fora durante a noite toda: "Que me resta fazer agora?! Macaco eu não posso ser, porque me comeriam. Água não posso ser, porque me beberiam e me ferveriam. Pedra eu não posso ser, porque sobre mim defecariam."

Assim foi discorrendo e, já pela manhã, lembrou-se da lua. "Serei a lua", disse. "Depois de três dias, eu aparecerei, e então acontecera uma coisa à minha irmã (isto é: ela ficará menstruada; naquele tempo, como não havia ainda lua, as mulheres não ficavam menstruadas nem davam à luz). E assim será cada vez que eu aparecer de novo." Depois pediu à sua mãe que lhe desse um novelo de fio de algodão; esta lhe atirou o objeto pedido, por uma fenda na parede, no terreiro.

Ele atirou o novelo para o céu, mas o fio era curto demais; pediu mais outro novelo. Agora alcançou o céu pelo fio que desenrolara. Quando já estava alto, sua gente saiu da maloca e viu como ia subindo cada vez mais e como, por fim, desapareceu no céu.

Fonte:
http://www.terrabrasileira.net/

Folclore Indigena (Mandioca ; Mavutsin - o primeiro homem ; O primeiro Kuarup - festa dos mortos)



Mandioca - o pão indígena

Mara era uma jovem índia, filha de um cacique, que vivia sonhando com o amor e um casamento feliz. Certa noite, Mara adormeceu na rede e teve um sonho estranho. Um jovem loiro e belo descia da Lua e dizia que a amava. O jovem, depois de lhe haver conquistado o coração, desapareceu de seus sonhos como por encanto. Passado algum tempo, a filha do cacique, embora virgem, percebeu que esperava um filho. Para surpresa de todos, Mara deu à luz uma linda menina, de pele muito alva e cabelos tão loiros quanto a luz do luar.

Deram-lhe o nome de Mandi e na tribo ela era adorada como uma divindade. Pouco tempo depois, a menina adoeceu e acabou falecendo, deixando todos amargurados. Mara sepultou a filha em sua oca, por não querer separar-se dela. Desconsolada, chorava todos os dias, de joelhos diante do local, deixando cair leite de seus seios na sepultura. Talvez assim a filhinha voltasse à vida, pensava. Até que um dia surgiu uma fenda na terra de onde brotou um arbusto.

A mãe surpreendeu- se; talvez o corpo da filha desejasse dali sair. Resolveu então remover a terra, encontrando apenas raízes muito brancas, como Mandi, que, ao serem raspadas, exalavam um aroma agradável. Todos entenderam que criança havia vindo à Terra para ter seu corpo transformado no principal alimento indígena. O novo alimento recebeu o nome de Mandioca, pois Mandi fora sepultada na oca.
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Mavutsin - o primeiro homem

O primeiro homem (kamaiurá). No começo só havia Mavutsinim. Ninguém vivia com ele. Não tinha mulher. Não tinha filho, nenhum parente ele tinha. Era só. Um dia ele fez uma concha virar mulher e casou com ela. Quando o filho nasceu, perguntou para a esposa: É homem ou mulher? é homem. Vou levar ele comigo. E foi embora. A mãe do menino chorou e voltou para a aldeia dela, a lagoa, onde virou concha outra vez. - Nós - dizem os índios - somos netos do filho de Mavutsinim.
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O primeiro Kuarup – a festa dos mortos

O primeiro Kuarup, a festa dos mortos (Kamaiurá) Mavultsinim queria que os seus mortos voltassem à vida. Foi para o mato, cortou três toros da madeira de kuarup, levou para a aldeia e os pintou. Depois de pintar, adornou os paus com penachos, colares, fios de algodão e braçadeiras de penas de arara. Feito isso, mavutsinim mandou que fincassem os paus na praça da aldeia, chamando em seguida o sapo cururu e a cutia (dois de cada), para cantar junto dos Kuarup. Na mesma ocasião levou para o meio da aldeia, peixes e beijus para serem distribuídos entre o seu pessoal. Os maracá-êp (cantadores), sacudindo os chocalhos na mão direita, cantavam sem cessar em frente dos kuarup, chamando-os à vida. Os homens da aldeia perguntavam a Mavutsinim se os paus iam mesmo se transformar em gente, ou se continuariam sempre de madeira com eram. Mavutsinim respondia que não, que os paus de kuarup iam se transformar em gente, andar como gente e viver como gente vive.

Depois de comer os peixes, o pessoal começou a se pintar, e a dar gritos enquanto fazia isso. Todos gritavam,. Só os maracá-êp é que cantavam. No meio do dia terminaram os cantos. O pessoal, então, quis chorar os kuarup, que representavam os seus mortos, mas Mavutsinim não permitiu, dizendo que eles, os kuarup, iam virar gente, e por isso não podiam ser chorados. Na manhã do segundo dia Mavutsinim não deixou que o pessoal visse os kuarup. "Ninguém pode ver" - dizia ele. A todo momento Mavutsinim repetia isso. O pessoal tinha que esperar. No meio da noite desse segundo dia os toros de pau começaram a se mexer um pouco. Os cintos de fios de algodão e as braçadeiras de penas tremiam também. As penas mexiam como se tivessem sendo sacudidas pelo vento.

Os paus estavam querendo transformar-se em gente. Mavutsinim continuava recomendando ao pessoal para que não olhasse. Era preciso esperar. Os cantadores - os cururus e as cutias - quando os kuarup começaram, a dar sinal de vida cantaram para que se fossem banhar logo que vivessem. Os troncos se mexiam para sair dos buracos onde estavam plantados, queriam sair para fora. Quando o dia principiou a clarear, os kuarup do meio para cima já estavam tomando forma de gente, aparecendo os braços, o peito e a cabeça. A metade de baixo continuava pau ainda. Mavutsinim continuava pedindo que esperassem, que não fossem ver. "Espera... espera... espera" - dizia sem parar.

O sol começava a nascer. Os cantadores não paravam de cantar,. Os braços dos kuarup estavam crescendo. Uma das pernas já tinha criado carne. A outra continuava pau ainda. No meio do dia os paus começavam a virar gente de verdade. Todos se mexiam dentro dos buracos, já mais gente do que madeira. Mavutsinim mandou fechar todas as portas., só ele ficou de fora, junto dos kuarup. Só ele podia vê-los, ninguém mais. Quando estava quase completa a transformação de pau para gente, Mavutsinim mandou que o pessoal saisse das casas para gritar, fazer barulho, promover alegria, rir alto junto dos kuarup. O pessoal, então, começou a sair de dentro das casas. Mavutsinim recomendava que não saíssem aqueles que durante a noite tiveram relação sexual com as mulheres.

Um, apenas, tinha tido relações. Este ficou dentro da casa. Mas não aguentando a curiosidade, saiu depois. No mesmo instante, os kuarup pararam de se mexer e voltaram a ser pau outra vez. Mavutsinim ficou bravo com o moço que não atendeu à sua ordem. Zangou muito, dizendo: - O que eu queria era fazer os mortos viverem de novo. Se o que deitou com mulher não tivesse saído de casa, os kuarup teriam virado gente, os mortos voltariam a viver toda vez que se fizesse kuarup. Mavutsinim, depois de zagar, sentenciou: - Está bem. Agora vai ser sempre assim. Os mortos não reviverão mais quando se fizer kuarup. Agora vai ser só festa. Mavutsinim depois mandou que retirassem dos buracos os toros de kuarup. O pessoal quis tirar os enfeites, mas Mavutsinim não deixou. "Tem que ficar assim mesmo", disse. E em seguida mandou que os lançassem na água ou no interior da mata. Não se sabe onde foram largados, mas estão até hoje lá, no Morená.

Fonte:
PINTO, Wilson. As Mais Belas Lendas Brasileiras. Santa Catarina: Excelsus.
http://www.desvendar.com/especiais/indio/lendas.asp