segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Roza de Oliveira (Poetas do Paraná)



A PALMEIRA

Na escalada da Montanha
a palmeira ameaçada
por estranho vendaval
entrelaçou-se a um Carvalho
que contente lhe ofertou
segurança paternal

Embora tão diferente
dentro da vegetação...
unida é bem mais feliz
do que todas as demais
que vivem na solidão.

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INSTANTÂNEO

Sempre que me inauguro
em teu sorriso
sinto tocar de leve
o Paraíso

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METAMORFOSE

Dentre as setas
com que me feres
eu forjarei a Agulha
com que bordarei a tela
da minha noite escura.
Nela tecerei
a Estrela que nos guia
com mãos de ternura
====================

RELÓGIO DE SOL

Relógio de sol
Eu sou.
Nuvens e trevas
Rejeitando vou…
Só registro as horas
Em que o sol brilhou
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MAGIA

Sempre que me inauguro
Em teu sorriso
Sinto tocar de leve o paraíso!
===============

PRIMAVERA

Todo ser tem seu tempo de expressão.
Baila a ave se a vida é movimento,
E canta quando a vida é uma canção,
Seja na alegria ou no tormento.

A primavera é um festival de vida.
Da planta sai poesia colorida:
Poesia-flor que transborda docemente
O prazer de ser fruto e ser semente.

Cada flor tem seu verso e sua rima
Nas florestas, nas praças e nas casas,
Do amor é poesia cristalina!

E na expressão que vitaliza esse planeta
Se, de repente as flores criam asas…
Não é verso-fantasma! – é borboleta!
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CASA ONÍRICA

Bem no pico dos meus sonhos
Construí minha morada
Sem paredes, sem telhados…
Sem limites nos seus lados.

Bem que o telhado varia:
Varia…conforme o dia:
Há telhado de gaivotas…
De estrelas…de andorinhas.

Minha cama – é uma nuvem.
Minha mesa – a lua cheia.
O vento – é o meu cavalo!
Sou turista do infinito!…
––––––––––––
Fontes:
– Andrea Motta. http://simultaneidades.blogspot.com/
- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.

Roza de Oliveira (1941)


Roza de Oliveira, nasceu em Monte Alegre, distrito de Santo Antônio de Pádua, no Rio de Janeiro a 26 de agosto de 1941, Filha de Sebastião Bembém de Oliveira (de saudosa memória) e Dona Elazir Azevedo de Oliveira.

Morou em Paranavaí dos 7 aos 38 anos, onde concluiu seus estudos no curso de Letras e lá exerceu o magistério. Professora desde os 15 anos de idade. Já atuou no primeiro, segundo e terceiro graus em Paranavaí, Londrina e Curitiba. Tem mestrado em literatura brasileira. Mora em Curitiba desde 1979. Docente do Departamento de Letras da Universidade Tuiuti do Paraná. Casada com o maestro Júlio Enrique Gomez, participa do projeto poético musical “Lançando a rede na Lua”

Roza de Oliveira é eximia declamadora, fez palestras e conferências em entidades de várias cidades do Estado do Paraná. Recebeu várias homenagens, diplomas, medalhas, troféus e menções honrosas referentes aos serviços prestados e participações de concursos literários.

A escritora desenvolve, ainda, a Oficina Permanente de Poesia, na Biblioteca Pública do Paraná,

Formação Escolar:
Letras Franco-Portuguesas pela faculdade de filosofia de Paranavaí.
Mestrado em Letras-Literatura Brasileira - pela Universidade Federal de Santa Catarina.

Membro de:
- Academia Paranaense da Poesia, da qual é presidente.
- Centro de Letras do Paraná.
- Academia Feminina de Letras do Paraná. Cadeira 32.
- Centro Paranaense Feminino de Cultura.
- Academia de Letras José de Alencar, Cadeira 17.
- União Brasileira de Trovadores (UBT).
- Círculo de Estudos Bandeirantes (PUC).

Livros Publicados:

POESIAS:
- Escalada, 1979.
- Halley Cruzado & Cia - Poesia do Dia-a-Dia, 1986.
- S.O.S. Vida, Verde, Paz, no Pesadelo da Violência, 1990.
- Poemas de Amor, 1993.
- Minhas Trovas de Humor e Retrucando Minhas Trovas de Humor, 1993.
- Paródias Musicais, Poemas e Trovas para as Celebrações Escolares, 1992
- Caracolando - Poesias, 1997.

PROSA INFANTO-JUVENIL:
- Passeio Cósmico, 1989.
- A Menina que Queria Voar, 1990.
- O Cavalinho de Guilherme, 1993.

ENSAIO CRÍTICO:
- As Imagens do Ar nos Poemas de Tasso da Silveira - Publicação da Secretaria de Estado da Educação - 2001

PARTICIPAÇÕES EM ANTOLOGIAS:
- Seara Nova - Contos e Poesias, 1978.
- Sesquicentenário da Poesia Paranaense,1985

- Caderno Pedagógico da Assintec - Associação Interconfessional de Curitiba, 1994.
- O Lúdico na Trova, 1995.
- Mulheres Escrevem - Centro Paranaense Feminino de Cultura, 1997.
- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar, 2001
- Semeadura da Paz - Publicação do Clube Soroptismista Internacional, 2000.

Fontes:
– Agência de Notícias do Estado do Paraná. http://www.aenoticias.pr.gov.br/modules/news/article.php?storyid=9359
– Andrea Motta. http://simultaneidades.blogspot.com/

- Antologia dos Acadêmicos - Edição comemorativa dos 60 anos da Academia de Letras José de Alencar. SP: Scortecci, 2001.

Rachid Boudjedra (1941)



Rachid Boudjedra nasceu em 1941 em Aïn-Beïda, Argélia. Sua obra ocupa importante espaço na literatura produzida após a guerra de libertação de seu país (1954-1962). Escreveu sempre em francês, mas atualmente se dedica também à produção em árabe. Desde seu primeiro romance, La Répudiation (1969), Boudjedra volta seu olhar para as contradições da Argélia independente — nação em que ainda é notável o embate entre a modernidade e o respeito à tradição.

Preocupação constante em seu trabalho são as condições do imigrante magrebino na Europa, especialmente na França, como ocorre no presente Topografia ideal para uma agressão caracterizada. Fortemente influenciado pelo nouveau roman francês, ganhou notoriedade por sua escrita sofisticada.

Além de romancista, Rachid Boudjedra é professor, poeta, ensaísta, autor de teatro e cinema, tendo assinado o roteiro do notável Crônica dos anos de brasa (Palma de Ouro em Cannes, 1975), dirigido por Mohammed Lakhdar Amina. Ministrou aulas em diversas universidades do mundo árabe e europeu. Em 1987, uma fatwa islâmica com sentença de morte foi emitida contra o escritor, por considerarem que sua obra representa uma afronta aos fundamentos do Islã. Entre suas obras mais recentes, constam La Fascination(2000), Les Funérailles (2002) e L’Hôtel Saint Georges (2007).

Fonte:
http://www.estacaoliberdade.com.br/autores/boudjedra.htm

Flávia Nascimento, Professora da UFPB Concorre ao Prêmio Jabuti de Literatura



Flávia Nascimento, doutora em Literatura Francesa pela Universidade de Paris, está entre as 10 finalistas do Prêmio de Literatura, na categoria da Tradução.

A professora adjunta da Universidade Federal da Paraíba (DLEM/PPGL), pesquisadora do CNPq e tradutora literária e de humanidades, Flávia Nascimento, é uma das dez finalistas do Prêmio Jabuti de Literatura, concorrendo na categoria ‘Tradução de Obra Literária Francês-Português’ com o trabalho “Topografia ideal para uma agressão caracterizada”, publicado pela Editora Estação Liberdade Ltda.

Em entrevista à Agência de Notícias da UFPB, a doutora em Literatura Francesa pela Universidade de Paris falou sobre seu trabalho e a importância do prêmio a que está concorrendo.

ENTREVISTA:

Agência de Notícias – Qual a importância no mundo literário do prêmio Jabuti?

Flávia Nascimento – O prêmio Jabuti é o prêmio literário mais relevante do país. Mas sua importância deve ser entendida mais propriamente no âmbito do mundo editorial brasileiro, e não apenas no do mundo literário. Isso porque o Jabuti não contempla somente textos literários (romance, conto, poesia), mas também outras categorias textuais importantes, entre as quais “tradução”, “biografia”, “ciências humanas”, e etc. Ao todo, são vinte categorias, que premiam, inclusive, aspectos artísticos do processo de fabricação do objeto estético a que chamamos livro; assim, por exemplo, as categorias “projeto gráfico” e “ilustração de livro infantil ou juvenil”. O prêmio é anual. Todos os anos, há uma premiação para a melhor tradução de língua estrangeira. Agora, em 2009, foi criada excepcionalmente a categoria “melhor tradução francês-português” (21ª categoria), no âmbito das comemorações do ano da França no Brasil. Meu trabalho está concorrendo como finalista nesta última categoria.
O Jabuti, que está em sua 51ª edição, foi criado por iniciativa da CBL (Câmara Brasileira do Livro). A escolha do pequeno quelônio para simbolizar a premiação ocorreu num contexto de valorização da cultura popular brasileira, na esteira do pensamento de Sílvio Romero, Mário de Andrade, Câmara Cascudo e Monteiro Lobato (um dos personagens de Lobato é precisamente um jabuti).

Agência de Notícias – De que trata o seu trabalho?

Flávia Nascimento - Topografia ideal para uma agressão caracterizada (1ª edição francesa: 1975), que traduzi para a editora paulista Estação Liberdade, é de autoria do escritor argelino de expressão francesa Rachid Boudjedra (nascido em 1941), um dos mais importantes, hoje, de seu país (Boudjedra escreve também em árabe). Essa é a primeira tradução de uma obra sua em língua portuguesa. Nesse texto, ele narra as desventuras de um herói anônimo – um imigrante argelino – pelos corredores do metropolitano parisiense, labirinto urbano subterrâneo em que ele se perde por algumas horas e do qual não sairá vivo. A intriga é minimalista, como se vê, mas seu poder de impacto sobre o leitor é desconcertante, graças à sofisticada arte do narrador de Boudjedra. O tema do imigrante pobre em busca de melhores condições de vida, do imigrante vitimado pelo ódio racista, é universal, e já originou obras em línguas diversas. Creio que ele encontra um eco longínquo, por exemplo, tanto em certos versos de João Cabral de Melo Neto quanto na letra da canção “Construção”, de Chico Buarque. A atualidade desse tema é desesperadoramente real: quer sejam eles nordestinos ou “hermanos” em São Paulo, indianos em Londres, haitianos em Nova Iorque, turcos em Berlim, angolanos em Lisboa ou argelinos em Paris, nosso mundo está repleto de migrantes e imigrantes em busca de trabalho. Escrevi para minha tradução um posfácio que intitulei precisamente “Morte e vida magrebina”, lembrando-me dos terríveis versos de João Cabral em “Morte e vida severina”.

Agência de Notícias – Qual a classificação de sua obra nessa disputa, até agora?

Flávia Nascimento - Meu trabalho ficou entre os dez finalistas, depois de ter concorrido com dezenas de outras traduções de obras literárias originalmente escritas em francês. Ao todo, nas 21 categorias, foram mais de 2.000 inscrições (uma média de quase 100 inscritos para cada uma). A próxima etapa, agora, é a escolha dos três primeiros colocados. Sinto-me profissionalmente muito gratificada por já estar entre as dez melhores traduções do francês para o português selecionadas pelo júri do Jabuti.

Agência de Notícias - Quando sairá o resultado final do concurso?

Flávia Nascimento – Os nomes dos três vencedores serão anunciados em São Paulo, no final de setembro.

Fonte:
Douglas Lara (http://www.sorocaba.com.br/acontece)

Convite na I Bienal do Livro de Curitiba

Fonte: museu de imagem e som

4a. Coletânea do Espaço Literário “Sorocult”



A capa dele continua seguindo o mesmo padrão dos livros anteriores, porém agora vem com alguns diferenciais devido ao fato do site Sorocult ter mudado de visual desde o início deste ano. As capas são iguais porque os livros fazem parte de uma coleção

Ele passou por duas revisões ortográficas ao invés de uma só, seguindo assim padrões mais modernos de revisão. Uma delas foi feita pela também co-autora no livro, Angela Cristina Santos de Jesus, que já faz a revisão dos livros dos Sorocultinhos. A outra está sendo feita pela revisora da Ottoni editora, com ambos os trabalhos se completando, dando assim ainda mais qualidade para o livro.

Uma Leitura Crítica da parte teórica, que estará no final do livro, feita pela também co-autora no livro, Angela Maria de Godoy Theodorovickz. Um livro muito bom que trará excelentes textos e belíssimas poesias. Um livro completo em vários sentidos.

O prefácio do livro foi feito pelo Secretário da Cultura de Sorocaba, Anderson Santos,. Ele escreveu um excelente texto, agregando desta forma, ainda mais valor ao livro.

O lançamento do livro será na 3ª Expo Literária de Sorocaba que acontecerá de 21 a 24 de outubro, na Biblioteca Municipal de Sorocaba. O lançamento será no último dia do evento, sábado, dia 24, provavelmente em torno das 14h.

Co-autores
Amadeu de Carvalho Junior---Pilar do Sul)
Angela Cristina Santos de Jesus---(Sorocaba) – (participa com 2 cotas no livro)
Angela Maria de Godoy Theodorovicz---(São Paulo)
Carmen Silveira de Abreu ---( Sorocaba)
Cláudia Salck---( Sorocaba)
Daniela Larissa Madureira Salcedo ---(Sorocaba)
Débora Valio Corrêa Fidêncio---(Pilar do Sul)
Dorothy Jansson Moretti ---( Sorocaba)
Fabiana Aparecida dos Anjos Souza ---(Sorocaba)
Fábio Souza Santos---(Votorantin)
Gonçalves Viana ---( Sorocaba)
Isabela Maria Madureira Salcedo ---(Sorocaba)
Jair Pereira da Silva---(Pilar do Sul)
Jairo Valio (Sorocaba)---(Sorocaba)
Joaquim Evónio ---(Portugal) – (participa com 2 cotas no livro)
Josefa Maria Portela ---(Sorocaba)
Leandro Galhardi Paez---(São Caetano do Sul)
Lourdinha Ribeiro Blagitz ---(Sorocaba)
Luis Fernando Costa Daher ---(Sorocaba)
Maria Antonia Canavezzi Scarpa ---(Sorocaba) - (participa com 3 cotas no livro)
Maria Antonieta Pincerato---(Salto de Pirapora)
Maria Thereza Moreira Pereira (Sorocaba)
Mariana Domitila Padovani Martins (Sorocaba)
Marianice Straub Terra Barth---(São Paulo)
Natali Cristiane dos Santos Silva ---(Sorocaba)
Neusa Padovani Martins ---(Sorocaba)
Nícolas Estevan Padovani Martins ---(Sorocaba)
Paula Regina Bissoli Nattis---(Itu)
Pedro Milan---(Itu)
Tereza Cristina Galvão Cesar ---(Sorocaba)
Therezinha Aparecida Válio Corrêa---(Pilar do Sul)
Tífani Postali ---(Sorocaba)
Valter de Jesus Martins ---(Sorocaba)
Vânia Moreira Diniz---(Brasília)
Vilma Padovani Borsari---(Itu)
Wagner Ferreira ---(Sorocaba)

Fonte:
Douglas Lara (http://www.sorocaba.com.br/acontece)

3ª Expo Literária de Sorocaba



Como será a Expo Literária: haverá uma tenda gigante para 600 pessoas destinada às apresentações dos escritores convidados (grandes escritores da atualidade) e os escritores sorocabanos.

Cada escritor sorocabano poderá se inscrever, para palestrar, declamar poesias e para bater papo com os visitantes (o que ocorrerá na tenda gigante). O Sorocult terá alguns horários pré-definidos para atender todos seus escritores em atividades diferenciadas. Gostaríamos de receber sugestões e pedidos de vocês para podermos acertar nossa agenda.

Todos que são do Sorocult participarão automaticamente do evento, em espaço que será montado nele e também assistindo as palestras que forem oferecidas pelo evento, mediante a retirada de convite antecipadamente.

Quem desejar fazer algum tipo de apresentação na Expo poderá se inscrever previamente através de uma ficha de inscrição que se encontra à disposição de todos em Divulgação no site www.sorocult.com. É só copiar a ficha, imprimir, preencher e entregá-la na Secretária da Cultura ou na Biblioteca Municipal em Sorocaba.

A data limite para inscrição é dia 31 de agosto, mas a data será prorrogada. De qualquer forma, se tiverem interesse em participar com alguma atividade individual, preencham a ficha e entreguem. Os colegas de fora de Sorocaba poderão enviar a ficha preenchida via e-mail para : taniakalil@yahoo.com.br .

Maiores informações pelo fone (15) 3238-1955 com Tânia Kalil. Caso marquem alguma apresentação, avisem para ser colocada na programação também. Mas, observem: só participa palestrando, declamando e outros, quem quiser. Quanto aos livros a serem vendidos na Expo, junto há uma ficha própria para eles. O nº de títulos que consta lá também será mudado.

Se´rá lançado também na Expo a “5ª Coletânea dos Sorocultinhos - Profissões e trabalho” que faz parte do PLRS (Projeto Leitura Responsável Sorocult) e é feito para ser doado para crianças carentes das entidades assistenciais de Sorocaba e região.

Fonte:
Doulas Lara (http://www.sorocaba.com.br/acontece)

Caldeirão Poético do Pernambuco



Saulo Novaes

QUADRO DE OUTONO

Cai a última folha da árvore nua
Lentamente
Amparada pelos traços invisíveis
Do vento de Outono
E da janela, olhos que não vêem
Observam a dança da natureza
Enquanto os olhos reais
Passam ilesos por aquela cena

EXPLOSÃO POÉTICA

Pratico meu egoísmo
Numa poesia em primeira pessoa
Ao rimar-me num oásis poético
De versos livres.
Cantando a liberdade,
Saio à procura da perfeita
Forma que expressará
Aquilo que sinto,
E que me foge
Como a explosão de átomos.
============================
Sérgio Bernardo

HERANÇA DAS VÁRZEAS

-Que herança foi deixada
por teu pai, poeta?
-Uma serra gasta de suor
seixos de maré faminta
que afiava a lua minguada
em suas mãos

-E o teu pai, o que deixou?
-Uma casa no campo
outra na praia e contas bancárias
pela cidade

-Mas, e o teu? Só a lua minguada
e nada mais?
-Ele fora carpinteiro
e tantas vezes canoeiro
sabia das marés obesas e nuas.
Por isso não sou poeta
sou canoa e serra amanhecendo

-Diga-me então, já que não és poeta:
-o que ele faz hoje?
-Poda as nuvens em silêncio
para a minha chegada.

UMA LUZ, SÓ UMA LUZ

A um ano-luz ou laços infinitos
De uma aritmética suicida?

O calendário no mofo da parede
Sustenta a agonia das asas
E milhões de vidas
Juntam-se aos tigres enterrados

Quando começa a morrer o sol
De teus olhos
O calendário outra vez
Mostra-me o inatingível

Aí, vem a consciência:
Não compreendes?
A China já mora em teu rosto.

As nuvens de um chão aberto
Em rugas e brasas
Ainda se vestem de esperança.

O coração do amado
Viaja continentes
E chega ao teu, faz morada,
As fontes renascem
E a incadescência da manhã
Vive cantigas de pássaros.
===============================

Sergio Leandro

CANÇÃO PARA LISBOA

Há um mundo de águas e seres abissais
entre meu coração e Lisboa.
Mas eu sei que nos confins do dia
uma fogueira arde contra o frio e minha pátria espera

Minha canção também é feita de silêncio
e o meu tumulto se derrama nas horas vazias da noite...

Eu invoco as palavras sagradas
e ergo ao vento o meu estandarte
porque nos confins do dia
uma fogueira arde contra o frio e minha pátria espera.

ETERNA SÚPLICA

Morrer na flor da idade
Sem andar pelos pomares,
Sem colher os frutos doces...

Ai, meu Deus, não permitas tal!

Morrer na flor da idade
Sem ver se quer um filho.
Um filho!

Ai, Deus meu, não permitas tal, Senhor.

Ó Deus de todos os mortais,
De todos os crentes,
Deus de todos os ateus...

Deixa crescer a árvore junto às águas,
Deixa em silêncio a voz dos sinos,
Deixa.

CONCLUSÃO

O amor,
O ódio,
A violência,
O cosmo,
O infinito.

O que há de novo em tudo isso?

Nenhum dia se passou
Sem que eu pensasse na morte...

A vida é como a poeira
Que o vento leva,
Como teus olhos embaçados pela chuva,
Como eu mesmo quando me escondo.
======================
Sérgio Ricardo Soares

EPILIMNO

nunca bordou-se de singelas ondinhas azuis
o lago frio
nunca foi cisterna por cujo brilho
via-se plâncton

existiu -como é o comum nos dias -
com demasiada pouca luz
mal se distinguia o extenso lodo
que afinal nunca fora muralha assim tão mordaz

nunca o lago frio coalhou-se de gansos
os últimos fugiram sem grasnar
da sombra dos salgueiros

nunca pôde haver inverno branco
sob a sombra dos salgueiros
nunca se soube o sabor da pouca água
porque se desprezava com simples olhar
as poças pululantes de camarões

era remoto de qualquer rio
entre três montes humildes
só cheirava o vento forte
a longos juncos amarelados
aroma até doce
se vagasse em brisa
que no frio do lago nunca houve
e durou tanto

DRAMA

em verdade não é mais belo
o vôo do ranforrinco

atenção e notarás
como hesita um de seus braços
como se o espaço baixo fosse vastidão
e mãe dramática a vociferar algemas
como seus olhos repitílicos estão cheios
de falta de brilho de quem não encontra sua paz
e não a busca
e nem discerne os seres que lhe causam
esses embriões de pavor

o ranforrinco já é o assombro
de hibridez e esterilidade
vôo alçado ontem
e urgência de repouso
mas não se pousa no chão do futuro

não funciona por enquanto
a vida do ranforrinco
se ele soubesse que à frente
do ir está apenas a morte tamanha
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Hélio Pólvora (A Chuva, Sol e Grilo Falante)



Veio a chuva e disse:

— Amigo, você anda triste, mas aqui estou para lhe dar firmeza. Deite, durma e esqueça tudo. Esqueça que árabes e israelenses se matam, não pense no Iraque devastado, esqueça as crianças mutiladas no Pará, as balas perdidas, o desemprego, as drogas, os assaltos, o roubo quase institucionalizado.

E a chuva companheira se pôs a cair no telhado e a pingar no cimento com o leve rumor doce de fonte escorrendo no prado.

— Ora essa, Chuva, você promete firmeza e, mal o sol surge em Salvador, você desaba outra vez. É chuva de mais para as minhas lavouras. Mas, sendo pessoa de ordinário cordata, eu lhe digo: obrigado, Chuva, você chove dentro de mim, lava minhas nódoas, que são poucas, e renova minhas purezas, que são muitas e sem valia.

— Não tem de que, amigo. Chovo porque você merece chuvas novas e antigas, grossas e finas, especialmente sem trovões, para serem bem melodiosas — chuvas mozartianas, que tal? Chuvas são para adiar, imaginar e criar, sonhar, recriar, conhecer falsas condessas e ciganas esquivas. Vamos, feche esses olhos e vá dormir, amanhã é outro dia e talvez você acorde num Brasil rico, direito e decente.

Acordei horas depois com o sol ardendo nos olhos e me queimando a cara inteira. E o Sol me disse, zangado:

— Levante, endireite a vida, você já pensou demais, quando é que resolve botar a cartucheira e empunhar o fuzil? Seus amigos já estão todos no campo de batalha.

— Bom dia, Sol. Sou da guerrilha e não sei atirar. Hay que pelear, pero sin perder la ternura. Você fala igual ao meu pai, que me mandava arar muito cedo para garantir no futuro minha cabeça de vento. Muito tenho laborado, quarenta, cinqüenta anos, sei lá, em repartições e jornais, dando aulas, redigindo, emendando prosa alheia, fazendo discursos para ministros. Pois é, acho que aprendi a escrever, o que já é alguma coisa, também a beber e traduzir,.e respirei na cidade grande o gás venenoso dos ônibus. Agora eu lhe pergunto, amigo Sol: adiantou?

— Adiantou, sim. Então você não vê que o trabalho de que tanto fala é falso, aparente e vão, servindo somente de base para o outro trabalho, o verdadeiro, do seu íntimo, do seu interior?

Fiquei comovido, mas não convencido. O sol tirou um reflexo da vidraça.

— É isso aí, filho. Você tem crescido com nossa ajuda de muitos sóis, luas e chuvas. Parabéns por sua riqueza.

— Eu, rico? Não tenho um décimo da aposentadoria de um desembargador.

— Rico, sim senhor. Veja as minas que você explora dentro de si. Você é uma África do Sul em diamantes, e sem apartheid. E agora, contista, com licença, tenho de ir ao Iguatemi conversar com os escritores que acordam sempre cedo e arregimentam forças para a Academia.

E o Sol sumiu. Pela janela avistei apenas os mares da baía, que pareciam anoitecidos em plena manhã. O Grilo Falante saudou-me então com sua voz estridente:

— Não acredite nessas falas de sonhos embalados pela chuva, nem em promessas de diamantes de metáfora. São miragens, meu velho, miragens de sol no deserto. Para encher os seus dias de riqueza deveras substancial, maior que a dos cantores de trio elétrico e dos auditores corruptos, basta ler Turgueniev em francês.

A essa altura, irritei-me com tanto conselho desatinado, pois afinal o sol arde demais no Nordeste calcinado, a chuva chove em demasia nas terras úmidas do sul, e Grilo Falante eu só conheço de contos da carochinha. O Grilo saltou. Gritou-me que ia dar um piparote na cabeça da ministra Benedita da Silva. Subi a Ladeira da Barra por entre levas de pivetes, pedintes e bandidos armados, e lá em cima Franz Kafka de roupa preta me piscou um olho, enquanto Joyce me acusava aos berros de nunca ter lido o Ulisses inteiro.

Fonte
http://www.jornaldecontos.com/cronica_achuvasolegrilofalante.htm

Monteiro Lobato (O Saci)



A rotação da terra produz a noite; a noite produz o medo; o medo gera o sobrenatural: – divindades e demônios têm a origem comum da treva

Quando o sol raia, desdemoniza-se a natureza. Cessa o Sabá. Satã afunda no Inferno, seguido da alcatéia inteira dos diabos menores.

A bruxa reveste a forma humana. O lobisomem perde a natureza dupla. Os fantasmas diluem-se em névoa. Evaporam-se os duendes. Os gnomos subterrâneos mergulham no escuro das tocas. A caipora deixa em paz o viajante. As mulas sem cabeça reincabeçam-se e vão pastar mansamente. As almas penadas trancam-se nas tumbas. Os sacis param de assobiar e, cansados duma noite inteira de molecagens, escondem-se nos socavões das grotas, no fundo dos poços, em qualquer couto onde não penetre a luz, sua mortal inimiga. Filhos da sombra, ela os arrasta consigo mal o Sol anuncia, pela boca da Aurora, o grande espetáculo em que a Luz e sua filha a Côr esplendem numa fulgurante apoteose.

A treva, batida de todos os lados, refoge para os antros onde moram a coruja e o morcego. E nessas nesgas de escuro apinha-se a fauna inteira dos pesadelos, tal qual as rãs e os peixinhos aprisionados nas poças sem esgoto, quando após as grandes enchentes as águas descem. E como nas poças verdinhentas a atraíra permanece imóvel e a rã muda, assim toda a legião dos diabos se apaga. Inutilmente tentaríamos surpreender unzinho sequer.

O saci, por exemplo.

Abundante à noite como o morcego, nunca se deixou pilhar de dia. Metido nas tocas de tatú, ou nos ocos das árvores velhas, ou alapado à beira-rio em solapões de pedra limosa com retrança de samambaias à entrada, o moleque de carapuça vermelha sabe como ninguém o segredo de invizibilizar-se. Não colhesse ele, todos os anos, nas noites de São João, a misteriosa flor da samambaia!…

Mal, porém, o sol afrouxa no horizonte e a morcegada faminta principia a riscar de vôos estrouvinhados o ar cada vez mais escuro da noitinha, a “saparia” pula dos esconderijos, assobia o silvo de guerra – Saci-pererê! – e cai a fundo nas molecagens costumadas.

As primeiras vítimas são os cavalos. O saci corre aos pastos, laça com um cipó o animal escolhido – e nunca errou laçada! – trança-lhe a crina para armar com ela um estribo e dum salto monta-o à sua moda. O cavalo toma-se de pânico, e deita a corcovear pelo campo afora enquanto o perneta lhe finca os dentes numa veia do pescoço e chupa gostosamente o sangue. Pela manhã o pobre animal aparece varado, murcho dos vazios, cabeça pendida e suado como se o afrouxasse uma caminheira de dez léguas beiçais.

O sertanejo premune-o contra esses malefícios pendurando-lhe ao pescoço um rosário de capim ou um bentinho. É água na fervura.

Farto, ou impossibilitado daquela equitação vanpírica, o saci procura o homem para atenazá-lo.

Se encontra na estrada algum viajante tresnoitado, ai dele! Desfere-lhe de improviso um assobio ao a ouvido escarrancha-se-lhe à garupa – e é uma tragédia inteira o resto da jornada. Não raro o mísero perde os estribos e cai sem sentidos à beira do barranco.

Outras vezes diverte-se o saci a pregar-lhe peças menores: desafivela um lóro, desmancha o freio, escorrega o pelego, derruba-lhe o chapéu e faz mil outras picuinhas brejeiras.

O saci tem horror à água. Um depoente no inquérito demonológico do “Estadinho” narra o seguinte caso típico. Havia um caboclo morador numa ilha fluvial onde nunca entrara saci, porque as águas circunvolventes defendiam a feliz mansão. Certa vez, porém, o caboclo foi ao “continente” de canoa, como de hábito, e lá se demorou até à noite. De volta notou que a canoa vinha pesadíssima e foi com enormes dificuldades que conseguiu alcançar o abicadouro da margem oposta. Estava a ‘maginar no estranho caso – um travessio que fora fácil de dia e virara osso de noite – quando, ao firmar o varejão em terra firme, viu saltar da embarcação um saci às gargalhadas. O malvado aproveitara o incidente do travessio a deshoras para localizar-se na ilha, onde, desde então, nunca mais houve sossego entre os animais nem paz entre os homens.

Nos casebres da roça há sempre uma pequena cruz pendurada às portas. É o meio de livrar a vivenda do hospede não convidado. Mesmo assim ele ronda a moradia, arma peças a quem se aventura a sair para o terreiro, espalha a farinha dos monjolos, remexe o ninho das poedeiras, gora os ovos, judia das aves.

Se a casa não é defendida, é lá dentro que ele opera. Estraga objetos, esconde a massa do pão posta a crescer, esparrama a cinza dos fogões apagados em cata de algum pinhão ou batata esquecidos. Se encontra brasas, malabariza com elas e ri-se perdidamente quando consegue passar uma pelo furo das mãos. Porque, além do mais, tem as mãos furadas, o raio do moleque…

As porteiras, como as casas, são vacinadas contra o saci. Rara é a que não traz uma cruz escavada no macarrão. Sem isto o saci divertir-se-ia fazendo-a ringir toda a noite ou abrindo-a inopinadamente diante do transeunte que a defronta, com grande escândalo e pavor deste, pois adivinharia logo o autor da amabilidade e o repeliria com esconjuros.

Os cães apavoram-se quando percebem um saci no terreiro, e uivam retransidos.

Refere um depoente o caso da Dona Evarista. Morava esta excelente senhora numa casinha de barro, já velha e buraquenta, em lugar bastante infestado. Certa noite ouviu a cachorrada prorromper em uivos lamentosos. Assustada, pulou da cama, enfiou a saia e, tonta de sono, foi à cozinha, cuja porta abria para o quintal. E lá estarreceu de assombro: um saci arreganhado erguia-se de pé na soleira da porta, dizendo-lhe com diabólica pacholice: Boa noite, dona Evarista! A veha perdeu a fala e desabou na terra-batida, só voltando a si pela manhã. Desde então nunca mais lhe saiu das ventas um certo cheirinho a enxofre…

Se fossem só essas aparições…

Mas o saci inventa mil coisas para azoinar a humanidade. Furta o piruá da pipóca deixado na peneira, entorna vasilhas d’água, enreda a linha dos novelos, desfaz os crochês, esconde os roletes de fumo.

Quando um objeto desaparece, dedal ou tesourinha, é inútil campeá-lo pela casa inteira. Para reavê-lo basta dar três nós numa palha colhida num rodamoinho e pô-la sob o pé da mesa. O saci, amarrado e imprensado, visibilizará incontinente o objeto em questão para que o libertem do suplício.

Rodamoinho… A ciência explica este fenômeno mecanicamente, pelo choque de ventos contrários e não sei mais que. Lérias! É o saci que os arma. Dá-lhe, em dias ventosos, a veneta de turbilhonar sobre si próprio como um pião. Brincadeira pura. A deslocação do ar produzida pelo giroscópio de uma perna só é que faz o remoinho, onde a poeira, as folhas secas e as palhinhas dançam em torno dele um corrupio infrene. Há mais coisa no céu e na terra do que sonha a tua ciência, Ganot!

Nessas ocasiões é fácil apanhá-lo. Um rosário de capim, bem manejado, laça-o infalivelmente. Também há o processo da peneira: é lançá-la, emborcada, sobre o núcleo central do rodamoinho. Exige-se, porém, que a peneira tenha cruzeta…

A figuração do saci sofre muitas variantes. Cada qual o vê a seu modo. Existem, todavia, traços comuns em relação aos quais as opiniões são unânimes: uma perna só, olhos de fogo, carapuça vermelha, ar brejeiro, andar pinoteante, cheiro a enxofre, aspecto de meninote. Uns têm-no visto de camisola de baeta, outros de calção curto; a maioria o vê nu.

Quanto ao caráter, há concordância em lhe atribuir um espírito mais inclinado à brejeirice do que à malvadez. Vem daí o misto de medo e simpatia que os meninos peraltas revelam pelo saci. É um deles – mais forte, mais travesso, mais diabólico; mas é sempre um deles o moleque endemoniado capaz de diabruras como as sonha a “saparia”.

A curiosidade despertada pelo inquérito do “Estadinho” denota como está generalizada entre nós a crendice. Raro é o brasileiro que não traz na memória a recordação da quadra saudosa em que “via sacis” e os tinha sempre presentes na imaginação exaltada. Convidados agora para falar sobre o duendezinho, todos impregnam seus depoimentos da nota pessoal das coisas vividas na infância. Referem-se a ele como a um velho conhecido que a vida, a idade e o discernimento fizeram perder de vista, mas não esquecer…

E – dubitativos uns, cépticos outros, afirmativos muitos – a conclusão de todos é a mesma: o Saci existe!…

- Como o Putois, de Anatole France?

Que importa? Existe. Deus e o Diabo ensinaram-lhe essa maneira subjetiva de existir…

Fontes:
http://contosdocovil.wordpress.com/2008/05/15/o-saci/
Imagem = http://brincandonaescola.blogspot.com