segunda-feira, 2 de agosto de 2010

João Cabral de Melo Neto (Poemas Avulsos)


A VIAGEM

Quem é alguém que caminha
Toda a manhã com tristeza
Dentro de minhas roupas, perdido
Além do sonho e da rua?

Das roupas que vão crescendo
Como se levassem nos bolsos
Doces geografias, pensamentos
De além do sonho e da rua?

Alguém a cada momento
Vem morrer no longe horizonte
Do meu quarto, onde esse alguém
É vento, barco, continente.

Alguém me diz toda a noite
Coisas em voz que não ouço.
- Falemos na viagem, eu lembro.
Alguém me fala na viagem.

In "O engenheiro", 1945.

A LIÇÃO DE POESIA

1.

Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.

Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:

nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.

2.

A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.

Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.

Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.

3.

A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.

A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis - naturezas vivas.

E as vinte palavras recolhidas
as águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.

Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.

EDUCAÇÃO PELA PEDRA

Uma educação pela pedra: por lições;
para aprender da pedra, frequentá-la;
captar sua voz inenfática, impessoal
(pela de dicção ela começa as aulas).
A lição de moral, sua resistência fria
ao que flui e a fluir, a ser maleada;
a de poética, sua carnadura concreta;
a de economia, seu adensar-se compacta;
lições da pedra (de fora para dentro,
cartilha muda), para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
(de dentro para fora, e pré-didática).
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
e se lecionasse, não ensinaria nada;
lá não se aprende a pedra; lá a pedra,
uma pedra de nascença, entranha a alma.

João Cabral de Melo Neto (1920 – 1999)



João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade de Recife - PE, no dia 09 de janeiro de 1920, na rua da Jaqueira (depois Leonardo Cavalcanti), segundo filho de Luiz Antônio Cabral de Melo e de Carmem Carneiro-Leão Cabral de Melo. Primo, pelo lado paterno, de Manuel Bandeira e, pelo lado materno, de Gilberto Freyre. Passa a infância em engenhos de açúcar. Primeiro no Poço do Aleixo, em São Lourenço da Mata, e depois nos engenhos Pacoval e Dois Irmãos, no município de Moreno.

Em 1930, com a mudança da família para Recife, inicia o curso primário no Colégio Marista. João Cabral era um amante do futebol, tendo sido campeão juvenil pelo Santa Cruz Futebol Clube em 1935.

Foi na Associação Comercial de Pernambuco, em 1937, que obteve seu primeiro emprego, tendo depois trabalhado no Departamento de Estatística do Estado. Já com 18 anos, começa a freqüentar a roda literária do Café Lafayette, que se reúne em volta de Willy Lewin e do pintor Vicente do Rego Monteiro, que regressara de Paris por causa da guerra.

Em 1940 viaja com a família para o Rio de Janeiro, onde conhece Murilo Mendes. Esse o apresenta a Carlos Drummond de Andrade e ao círculo de intelectuais que se reunia no consultório de Jorge de Lima. No ano seguinte, participa do Congresso de Poesia do Recife, ocasião em que apresenta suas Considerações sobre o poeta dormindo.

1942 marca a publicação de seu primeiro livro, Pedra do Sono. Em novembro viaja, por terra, para o Rio de Janeiro. Convocado para servir à Força Expedicionária Brasileira (FEB), é dispensado por motivo de saúde. Mas permanece no Rio, sendo aprovado em concurso e nomeado Assistente de Seleção do DASP (Departamento de Administração do Serviço Público). Freqüenta, então, os intelectuais que se reuniam no Café Amarelinho e Café Vermelhinho, no Centro do Rio de Janeiro. Publica Os três mal-amados na Revista do Brasil.

O engenheiro é publicado em 1945, em edição custeada por Augusto Frederico Schmidt. Faz concurso para a carreira diplomática, para a qual é nomeado em dezembro. Começa a trabalhar em 1946, no Departamento Cultural do Itamaraty, depois no Departamento Político e, posteriormente, na comissão de Organismos Internacionais. Em fevereiro, casa-se com Stella Maria Barbosa de Oliveira, no Rio de Janeiro. Em dezembro, nasce seu primeiro filho, Rodrigo.

É removido, em 1947, para o Consulado Geral em Barcelona, como vice-cônsul. Adquire uma pequena tipografia artesanal, com a qual publica livros de poetas brasileiros e espanhóis. Nessa prensa manual imprime Psicologia da composição. Nos dois anos seguintes ganha dois filhos: Inês e Luiz, respectivamente. Residindo na Catalunha, escreve seu ensaio sobre Joan Miró, cujo estúdio freqüenta. Miró faz publicar o ensaio com texto em português, com suas primeiras gravuras em madeira.

Removido para o Consulado Geral em Londres, em 1950, publica O cão sem plumas. Dois anos depois retorna ao Brasil para responder por inquérito onde é acusado de subversão. Escreve o livro O rio, em 1953, com o qual recebe o Prêmio José de Anchieta do IV Centenário de São Paulo (em 1954). É colocado em disponibilidade pelo Itamaraty, sem rendimentos, enquanto responde ao inquérito, período em que trabalha como secretário de redação do Jornal A Vanguarda, dirigido por Joel Silveira. Arquivado o inquérito policial, a pedido do promotor público, vai para Pernambuco com a família. Lá, é recebido em sessão solene pela Câmara Municipal do Recife.

Em 1954 é convidado a participar do Congresso Internacional de Escritores, em São Paulo. Participa também do Congresso Brasileiro de Poesia, reunido na mesma época. A Editora Orfeu publica seus Poemas Reunidos. Reintegrado à carreira diplomática pelo Supremo Tribunal Federal, passa a trabalhar no Departamento Cultural do Itamaraty.

Duas alegrias em 1955: o nascimento de sua filha Isabel e o recebimento do Prêmio Olavo Bilac da Academia Brasileira de Letras. A Editora José Olympio publica, em 1956, Duas águas, volume que reúne seus livros anteriores e os inéditos: Morte e vida severina, Paisagens com figuras e Uma faca só lâmina. Removido para Barcelona, como cônsul adjunto, vai com a missão de fazer pesquisas históricas no Arquivo das Índias de Sevilha, onde passa a residir.

Em 1958 é removido para o Consulado Geral em Marselha. Recebe o prêmio de melhor autor no Festival de Teatro do Estudante, realizado no Recife. Publica em Lisboa seu livro Quaderna, em 1960. É removido para Madri, como primeiro secretário da embaixada. Publica, em Madri, Dois parlamentos.

Em 1961 é nomeado chefe de gabinete do ministro da Agricultura, Romero Cabral da Costa, e passa a residir em Brasília. Com o fim do governo Jânio Quadros, poucos meses depois, é removido outra vez para a embaixada em Madri. A Editora do Autor, de Rubem Braga e Fernando Sabino, publica Terceira feira, livro que reúne Quaderna, Dois parlamentos, ainda inéditos no Brasil, e um novo livro: Serial.

Com a mudança do consulado brasileiro de Cádiz para Sevilha, João Cabral muda-se para essa cidade, onde reside pela segunda vez. Continuando seu vai-e-vem pelo mundo, em 1964 é removido como conselheiro para a Delegação do Brasil junto às Nações Unidas, em Genebra. Nesse ano nasce seu quinto filho, João.

Como ministro conselheiro, em 1966, muda-se para Berna. O Teatro da Universidade Católica de São Paulo produz o auto Morte e Vida Severina, com música de Chico Buarque de Holanda, primeiro encenado em várias cidades brasileiras e depois no Festival de Nancy, no Théatre des Nations, em Paris e, posteriormente, em Lisboa, Coimbra e Porto. Em Nancy recebe o prêmio de Melhor Autor Vivo do Festival. Publica A educação pela pedra, que recebe os prêmios Jabuti; da União de Escritores de São Paulo; Luisa Cláudio de Souza, do Pen Club; e o prêmio do Instituto Nacional do Livro. É designado pelo Itamaraty para representar o Brasil na Bienal de Knock-le-Zontew, na Bélgica.

1967 marca sua volta a Barcelona, como cônsul geral. No ano seguinte é publicada a primeira edição de Poesias completas. É eleito, em 15 de agosto de 1968, para a Academia Brasileira de Letras na vaga de Assis Chateaubriand. É recebido em sessão solene pela Assembléia Legislativa de Pernambuco como membro do Conselho Deliberativo da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT).

Toma posse na Academia em 06 de maio de 1969, na cadeira número 6, sendo recebido por José Américo de Almeida. A Companhia Paulo Autran encena Morte e vida severina em diversas cidades do Brasil. É removido para a embaixada de Assunção, no Paraguai, como ministro conselheiro. Torna-se membro da Hispania Society of America e recebe a comenda da Ordem de Mérito Pernambucano.

Após três anos em Assunção, é nomeado embaixador em Dacar, no Senegal, cargo que exerce cumulativamente com o de embaixador da Mauritânia, no Mali e na Giné-Conakry.

Em 1974 é agraciado com a Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. No ano seguinte publica Museu de Tudo, que recebe o Grande Prêmio de Crítica da Associação Paulista de Críticos de Arte. É agraciado com a Medalha de Humanidades do Nordeste.

Em 1976 é condecorado Grande Oficial da Ordem do Mérito do Senegal e, em 1979, como Grande Oficial da Ordem do Leão do Senegal. É nomeado embaixador em Quito, Equador e publica A escola das facas.

A convite do governador de Pernambuco, vai a Recife (em 1980) para fazer o discurso inaugural da Ordem do Mérito de Guararapes, sendo condecorado com a Grã-Cruz da Ordem. Ali é inaugurada uma exposição bibliográfica de sua obra, no Palácio do Governo de Pernambuco, organizada por Zila Mamede. Recebe a Comenda do Mérito Aeronáutico e a Grã-Cruz do Equador.

No ano seguinte vai para Honduras, como embaixador. Publica a antologia Poesia crítica.

Em 1982 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vai para a cidade do Porto, em Portugal, como cônsul geral. Recebe o Prêmio Golfinho de Ouro do Estado do Rio de Janeiro. Publica Auto do frade, escrito em Tegucigalpa.

Ganha o Prêmio Moinho Recife, em 1984 e, no ano seguinte, publica os poemas de Agrestes. Nesse livro há uma sessão dedicada à morte ("A indesejada das gentes"). Em 1986 é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco. Sua esposa, Stella Maria, falece no Rio de Janeiro. João Cabral reassume o Consulado Geral no Porto. Casa-se em segundas núpcias com a poeta Marly de Oliveira.

Em 1987 publica Crime na Calle Relator, poemas narrativos. Recebe o prêmio da União Brasileira de Escritores. É removido para o Rio de Janeiro.

Em Recife, no ano de 1988, lança sua antologia Poemas pernambucanos. Publica, também, o segundo volume de poesias completas: Museu de tudo e depois. Recebe o Prêmio da Bienal Nestlé de Literatura pelo conjunto da obra, e o Prêmio Lily de Carvalho da ABCL, Rio de Janeiro.

Aposenta-se como embaixador em 1990 e publica Sevilha andando. É eleito para a Academia Pernambucana de Letras, da qual havia recebido, anos antes, a medalha Carneiro Vilela. Recebe os seguintes prêmios: Criadores de Cultura da Prefeitura do Recife, Luis de Camões (concedido conjuntamente pelos governos de Portugal e do Brasil), em Lisboa. É condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito Judiciário e do Trabalho. A Faculdade Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro publica Primeiros Poemas.

Outros prêmios: Pedro Nava (1991) pelo livro Sevilha andando; Casa das Américas, concedido pelo Estado de São Paulo (1992); e também nesse ano o Neustadt International Prize for Literature, da Universidade de Oklahoma. Viaja a Sevilha para representar o presidente da República nas comemorações do dia 7 de Setembro, que tiveram lugar na Exposição do IV Centenário da Descoberta da América. No Pavilhão do Brasil, foi distribuída sua antologia Poemas sevilhanos, em edição especial. No Rio de Janeiro, na Casa da Espanha, recebe do embaixador espanhol a Grã-Cruz da Ordem de Isabel, a Católica.

Em 1993 recebe o Prêmio Jabuti, instituído pela Câmara Brasileira do Livro.

João Cabral era atormentado por uma dor de cabeça que não o deixava de forma alguma. Ao saber, anos atrás, que sofria de uma doença degenerativa incurável, que faria sua visão desaparecer aos poucos, o poeta anunciou que ia parar de escrever.

Já em 1990, com a finalidade de ajudá-lo a vencer os males físicos e a depressão, Marly, sua segunda esposa, passa a escrever alguns textos tidos como de autoria do biografado. Conforme declarações de amigos, escreveu o discurso de agradecimento feito pelo autor ao receber o Prêmio Luis de Camões, considerado o mais importante prêmio concedido a escritores da língua portuguesa, entre outros. Foi a forma encontrada para tentar tirá-lo do estado depressivo em que se encontrava. Como não admirava a música, o autor foi perdendo também a vontade de falar ("Não tenho muito o que dizer", argumentava). Era, sem dúvida, o nosso mais forte concorrente ao prêmio Nobel, com diversas indicações dos mais variados segmentos de nossa sociedade.

Transcrevemos abaixo o discurso proferido por Arnaldo Niskier, presidente da Academia Brasileira de Letras, por ocasião da morte do poeta, em 09/10/99:

"Adeus a João Cabral"

"Severino retirante,
deixe agora que lhe diga:
eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, Severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva."

Vida que foi para João Cabral uma bonita e ao mesmo tempo sofrida obra de engenharia poética, como demonstrou no seu inesquecível Morte e Vida Severina.

Aqui está o poeta João Cabral de Melo Neto, presente pela última vez na Academia Brasileira de Letras, de que foi, por 30 anos, uma das figuras fundamentais. Aos 79 anos, apaga-se a voz de significação universal, com a singularidade do seu verso, tantas vezes lembrado para a glória do Prêmio Nobel de Literatura.

A nossa dor, que é também a da sua companheira Marly de Oliveira e dos seus filhos e demais parentes, não apaga da nossa memória a convicção de que foi ele um dos maiores poetas brasileiros de todos os tempos - o poeta da razão - que jamais esqueceu, mesmo nos 40 anos de vida diplomática, as suas raízes pernambucanas. O homem que soube desenhar em versos cálidos a saga do retirante nordestino, quando ainda não havia passado dos 35 anos de idade.

João Cabral, o poeta João, que não se conformava em perfumar a flor, é o mesmo que escreveu aos 22 anos o livro Pedra do Sono, para depois nos brindar, entre outros, com O engenheiro, O cão sem plumas, Poesias completas, A educação pela pedra e o antológico Morte e Vida Severina, com versões no teatro e na mídia eletrônica.

Fecham-se os olhos cansados do poeta João e não conseguimos realizar o sonho que agora desvendo: ver o América Futebol Clube voltar aos seus dias de glória. Nem o daqui do Rio, nem aquele que era a sua verdadeira paixão: o América do Recife.

Quando preparava com ele a Cabraliana, que foi o seu primeiro audiolivro, ouvi fantásticas histórias da vida diplomática, especialmente dos tempos de Portugal, Espanha e Marrocos, além de nele reconhecer um orgulho especial pela família, parente que foi de grandes escritores brasileiros, como Gilberto Freyre, Manuel Bandeira, Mauro Mota e Antônio de Moraes e Silva, o famoso Moraes do Dicionário de Língua Portuguesa. Parece que era herdeiro, no seu jeito tão humilde e cativante, de uma genética literária originalíssima.

É compreensível a nossa consternação. Enquanto a saúde permitiu, honrou esta casa com a sua assiduidade e o seu sentimento da mais pura cordialidade. Sofrendo agora com o seu silêncio, curvamo-nos diante do grande poeta, para afirmar que a Academia sempre o terá presente, com a saudade e a admiração de todos os seus confrades.

Descanse em paz, poeta João. A sua presença jamais deixará de estar conosco. Teremos o consolo da sua poesia imortal."



Bibliografia

OBRAS DO AUTOR

POESIA

- Pedra do sono. Recife: Edição do autor, 1942 (tiragem especial em papel Drexler).
- Os três mal-amados. Rio de Janeiro: Revista do Brasil, 1943.
- O engenheiro. Rio de Janeiro: Amigos da Poesia, 1945.
- Psicologia da composição com a fábula de Anfion e Antiode. Barcelona: O livro inconsútil, 1947.
- O cão sem plumas. Barcelona:0 livro inconsútil, 1950. 2a. ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1984 (com Fotografias de Maureen Bisilliat).
- O rio ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente à cidade do Recife. São Paulo: Edição da Comissão do IV Centenário de São Paulo, 1954.
- Dois parlamentos. Madri: Edição do autor, 1960.
- Quaderna. Lisboa: Guimarães Editores, 1960.
- A educação pela pedra. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1966.
- Museu de tudo. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1975.
- A escola das facas. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1980.
- Auto do frade. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1984; 2a. edição, Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira 1984 (da 2a. edição foi feita uma tiragem de 100 exemplares em papel vergê).
- Agrestes. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985 (tiragem especial em papel vergê).
- Crime na Calle Relator. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1987.
- Primeiros poemas. Rio de Janeiro: Edição da Faculdade de Letras da UFRJ, 1990.
- Sevilha andando. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1990.

POEMAS REUNIDOS

- Poemas reunidos. Rio de Janeiro: Edição de Orfeu, 1954.
- Duas águas Rio de Janeiro: Editora José Olympio. 1956 (tiragem especial em papel Westerprin).
- Terceira feira. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1961.
- Poesias completas. Rio de Janeiro: Editora Sabiá, 1968; 4a. edição, Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1986.
- Poesia completa. Lisboa: Imprensa Nacional/Casa da Moeda, 1986.
- Museu de tudo e depois (Poesia Completa II). Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1988.

ANTOLOGIAS

- Poemas escolhidos. Seleção de Alexandre O'Neil. Lisboa: Portugália Editora, 1963.
- Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora do Autor, 1965; 8a. edição, Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1991.
- Morte e vida severina. São Paulo: Teatro da Universidade Católica, 1965.
- Poesia crítica. Rio de Janeiro: Editora José Olympio, 1982.

PROSA

- Considerações sobre o poeta dormindo. Recife: Renovação 1941.
- Joan Miró. Barcelona: Editions de l'Oc, 1950 (com gravuras originais de Miró).
- Joan Miró. Rio de Janeiro: Cadernos de Cultura do MEC, 1952.
- O Arquivo das Índias e o Brasil [pesquisa histórica]. Rio de Janeiro: Ministério das Relações Exteriores, 1966.
- Poesia e composição. Coimbra: Fenda Edições, 1982.

Fonte:
http://www.luso-poemas.net/

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Sentido da Vida)


A vida só tem sentido
Quando nos pulsa no peito
O mais sublime direito
De ter paz e liberdade,
De perdoar os defeitos
De quem erra sem maldade.

A vida só tem sentido
Quando buscamos o bem,
Quando todos os vinténs
Pelo homem conquistados
Não foram vinténs roubados
Nem tirados de ninguém!

A vida só tem sentido,
Quando se clama o amor,
Quando se propaga a paz,
Quando se dá o calor,
Quando se torna capaz
De afagar o irmão sofrido
Dando alivio a sua dor.

A vida só tem sentido
Quando se faz caridade,
Quando se vê de verdade
No espelho da razão
O reflexo da humildade
Na presença de um irmão...

Fontes:
Colaboração do Autor

Elias Domingos (Baú de Trovas)


Quando ler um livro, atente
em o seu chapéu tirar,
pois nas páginas que sente
difícil Deus não brilhar.

Meu amigo, não lamente
a sua grande pobreza.
A Bíblia diz claramente
Que ao céu não vai a riqueza.

O seu amigo deseja
apenas perene paz;
que nossa amizade seja
laço que não se desfaz.

Eu amo a verdade franca
esta pese a quem pesar
desprezo a mentira branca
nem que seja pra aliviar...

Pesa-me ver um distinto
mendigo pedir a um nobre;
muito mais pesar eu sinto
por aquele rico pobre.

Muita gente por aí
ama somente por fora;
eu tenho um amor aqui
que por dentro me devora.

Numa virgínia mangueira,
com mimo, gravei teu nome.
Hoje, cinzas de fogueira
que em mim este amor consome.

No picadeiro da idéia,
vê-se o circo da ilusão,
aplaudindo-o a platéia
com figura de bufão.

Prazer, sensação sublime,
mais doce que os doces pomos;
vezes nos leva ao inferno
e pensamos que ao céu fomos.

A felicidade é tal
como a fruta que na messe
não é ceifada inicial
e cai e logo apodrece.

Compreende bem, meu amigo,
que tens bastante amargura,
lembra porém o que digo:
do amargo sai boa cura.

Vejo em teus lábios agora
o mar bravio, dominante,
lançando o mal para fora
como se fosse purgante

Zombas sempre desta gente
de aspecto decepcionante;
algum às vezes na mente
esconde o gênio de Dante.

Após a grande procela
de minha forte descrença,
aportei meu barco à vela
ao porto da velha crença.

Dizem que a noite é tristeza
e que o dia é alegria,
porém por diversas vezes
preferi a noite ao dia.

Fui ao banheiro da vida
tirar o pó do passado,
mas encontrei nesta lida
fortes manchas do pecado.

Muito mais do que a arca antiga
meu coração de amor forte
encerrou-te, cara amiga,
não te solta nem na morte.

Ao seres de fato amante,
ainda que sejas bravo,
pois o amor é dominante
tal como o senhor do escravo.

Vários caminhos da vida
eu trilhei com satanás
sem saber, nesta investida
que havia o do Rei da Paz.

Não concordes com aquele
que se arvora em protetor
da doutrina própria dele
por mais sábio que ele for.

Esta flor tão branca e bela
que expõe no traje social
contrasta a pureza dela
com certo cheiro letal.

Eu não sei se sois sombreiros,
ou árvores singulares,
só sei que sois os pinheiros
que cativam meus olhares

Fonte:
ANDRADE, Lairton Trovão de Andrade. Trovas de Elias Domingos. Portal CEN, 2007.

Elias Domingos (1917 – 1997)


Elias Domingos, filho de Domingos Calixto e Maria Jorge, nasceu em 4 de novembro de 1917, na cidade de Arceburgo, Minas Gerais.

Embora não tenha nascido em Pinhalão, tornou-se pinhalonense por opção e amor à terra, onde viveu por mais de setenta anos.

Edificou brilhante conquista literária tornando-se, ao Paraná e ao Brasil, atraente romancista, poeta iluminado e trovador da mais alta envergadura.

A criatividade talentosa, o estilo sóbrio e a impecável correção gramatical fazem com que o escritor Elias Domingos mereça lugar honroso nas históricas páginas da literatura paranaense e nacional.

Suas numerosas trovas tinham o intuito de transmitir idéias edificantes, caracterizando-se, sobretudo, pela natureza educativa, com o intuito de enriquecer a alma do leitor de qualquer idade cultural.

Era membro de diversas academias nacionais e internacionais:
- Centro de Letras do Paraná;
- Centro Cultural “Euclides da Cunha” (Ponta Grossa)
- Academia de Letras José de Alencar;
- Instituto de Cultura Americana (Argentina), como membro de honra
- Grupo Americanista de Intelectuales y Artistas (Uruguai)
- Instituto de Cultura Americana – Seção Brasileira (Membro de Honra)
- Sociedade Geográfica Brasileira , de São Paulo (Medalha Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon)
- Instituto de Poesia Internacional (Porto Alegre/ RS)

Faleceu em 18 de novembro de 1997, após completar oitenta anos de idade.

Fonte:
ANDRADE, Lairton Trovão de Andrade. Trovas de Elias Domingos. Portal CEN, 2007.

Antonio Cândido (Literatura e Cultura de 1900 a 1945: panorama para estrangeiro) Parte 2


Na literatura brasileira há dois momentos decisivos que mudam os rumos e vitalizam toda a inteligência: o Romantismo, no século XIX (1836-1870), e o ainda chamado Modernismo, no presente século (1922-1945). Ambos representam fases culminantes de particularismo literário na dialética do local e do cosmopolita; ambos se inspiram, não obstante, no exemplo europeu. Mas, enquanto o primeiro procura superar a influência portuguesa e afirmar contra ela a peculiaridade literária do Brasil, o segundo já desconhece Portugal, pura e simplesmente: o diálogo perdera o mordente e não ia além da conversa de salão. Um fato capital se torna deste modo claro na história da nossa cultura; a velha mãe pátria deixara de existir para nós como termo a ser enfrentado e superado. O particularismo se afirma agora contra todo academismo, inclusive o de casa, que se consolidara no primeiro quartel do século XX, quando chegaram ao máximo o amaciamento do diálogo e a consequente atenuação da rebeldia.

Convém assinalar que a literatura brasileira no século XX se divide quase naturalmente em três etapas: a primeira vai de 1900 a 1922, a segunda de 1922 a 1945 e a terceira começa em 1945. A primeira etapa pertence organicamente ao período que se poderia chamar pós-romântico e vai, grosso modo, de 1880 a 1922, enquanto as duas outras integram um período novo, em que ainda vivemos: sob este ponto de vista, o século literário começa para nós com o Modernismo. Para compreendê-lo, é necessário partir de antes, isto é, da fase 1900-1922.

Comparada com a da fase seguinte (1922-1945), a literatura aparece aí essencialmente como literatura de permanência. Conserva e elabora os traços desenvolvidos depois do Romantismo, sem dar origem a desenvolvimentos novos; e, o que é mais interessante, parece acomodar-se com prazer nesta conservação. Como a fase 1880-1900 tinha sido, em contraposição ao Romantismo, antes de busca de equilíbrio que de ruptura, esta, que a acompanha sem ter o seu vigor, dá quase impressão de estagnar-se. Uma literatura satisfeita, sem angústia formal, sem rebelião nem abismos. Sua única mágoa é não parecer de todo européia; seu esforço mais tenaz é conseguir pela cópia o equilíbrio e a harmonia, ou seja, o academismo.

No romance, o Naturalismo, desprovido da forte convicção determinista que animou um Aluísio Azevedo e um Adolfo Caminha, enlanguesce nas mãos de Emanuel Guimarães, Xavier Marques, Canto e Mello. A écriture artiste e o relevo psicológico de Raul Pompéia são agora a retórica e o amaneiramento de Coelho Neto, que domina esta fase com foros de gênio. Mas o produto típico do momento é o romance ameno, picante, feito com alma de cronista social para distrair e embalar o leitor. Forma-se pela confluência do que há de mais superficial em Machado de Assis, da ironia amena de Anatole France e dos romances franceses do Pós-naturalismo, sentenciosos, repassados de sexualismo frívolo: Paul Bourget, Abel Hermant. Afrânio Peixoto é o representante-padrão desta tríplice tendência, enquanto Léo Vaz se atem aos aspectos mais puramente iruchadianos. Veiga Miranda, Hilário Tácito, Théo Filho, Benjamin Costallat são exemplos, em escala decrescente, do pendor cada vez mais acentuado para a leviandade do tema sexual-humorístico.

O regionalismo, que desde o início do nosso romance constitui uma das principais vias de autodefinição da consciência local, com José de Alencar, Bernardo Guimarães, Franklin Távora, Taunay, transforma-se agora no "conto sertanejo", que alcança voga surpreendente. Gênero artificial e pretensioso, criando um sentimento subalterno e fácil de condescendência em relação ao próprio país, a pretexto de amor da terra, ilustra bem a posição dessa fase que procurava, na sua vocação cosmopolita, um meio de encarar com olhos europeus as nossas realidades mais típicas. Esse meio foi o "tonto sertanejo", que tratou o homem rural do ângulo pitoresco, sentimental e jocoso, favorecendo a seu respeito idéias-feitas perigosas tanto do ponto de vista social quanto, sobretudo, estético. É a banalidade dessorada de Catulo da Paixão Cearense, a ingenuidade de Gornélio Pires, o pretensioso exotismo de Valdomiro Silveira ou do Coelho Neto de Sertão; é toda a aluvião sertaneja que desabou sobre o país entre 1900 e 1930 e ainda perdura na subliteratura e no rádio.

A publicação de Os sertões, de Euclides da Cunha, em 1902, assim como a divulgação dos estudos de etnografia e folclore, contribuiu certamente para esse movimento. Ele falhou na medida em que não soube corresponder ao interesse então multiplicado pelas coisas e os homens do interior do Brasil, que se isolavam no retardamento das culturas rústicas. Caberia ao Modernismo orientá-lo no rumo certo, ao redescobrir a visão de Euclides, que não comporta o pitoresco exótico da literatura sertaneja.

A poesia se apresenta, nessa fase, bastante solidária em espírito ao romance. Ao contrário do Naturalismo, que trouxe a este um vigoroso impulso de análise social, o Parnasianismo pouco trouxera de essencial à nossa poesia, apesar do grande talento de Olavo Bilac, Alberto de Oliveira, Raimundo Corrêa ou Vicente de Carvalho. Dera-lhe uma regularidade plástica maior, mas agravara a sua tendência para a retórica, aproximando-a do tipo de expressão prosaica e ornamental. Talvez o que haja de melhor nos parnasianos seja o seu romantismo — e foi justamente o que desapareceu nos epígonos deste século, para deixar em campo as fórmulas e a logomaquia, num academismo rotundo que lembra os neoclássicos da última geração (primeiro quartel do século XIX).

O Simbolismo, projeção final do espírito romântico, constitui desenvolvimento mais original, limitando-se, porém, à obra de Cruz e Sousa (ainda próxima dos parnasianos a despeito de tudo), e à de Alphonsus de Guimaraens, pouco conhecida antes dos nossos dias. Como movimento estético e ideológico, o Simbolismo serviu de núcleo a manifestações espiritualistas, contrapostas ao Naturalismo plástico dos parnasianos. As tendências oriundas do Naturalismo de 1880-1900, tanto na poesia quanto no romance e na crítica, propiciaram na fase 1900-1922 um compromisso da literatura com as formas visíveis, concebidas pelo espírito principalmente como encantamento plástico, euforia verbal, regularidade. É o que se poderia chamar Naturalismo acadêmico, fascinado pelo Classicismo greco-latino já diluído na convenção acadêmica européia, que os escritores procuravam sobrepor às formas rebeldes da vida natural e social do Novo Mundo.

Alma de origem ática e paga
Nascida sob aquele Armamento
Que azulou as divinas epopéias,
Sou irmão de Epicuro e de Renan,
Tenho o prazer sutil do pensamento

E a serena elegância das idéias — diz no fim dessa fase Raul de Leoni, resumindo toda a ideologia de que se nutriram os seus contemporâneos mais característicos.

Esta busca de elegância mediterrânea — em que se adelgaçou até esgarçar o Naturalismo vigoroso do século anterior, de intenção mais científica do que estética, — contamina a própria exploração dos temas regionais, pelo gênero ambíguo do conto sertanejo.

Em Alphonsus de Guimaraens e Augusto dos Anjos, em Euclides da Cunha e Lima Barreto, poderiam os escritores dessa fase encontrar discordâncias estimulantes para a sua atividade literária. No entanto, ou os deixaram de lado, ou foram buscar neles o que tinham de comum com as limitações de que padeciam: a tenuidade afetiva do primeiro, o desequilíbrio verbal dos outros dois, a ironia superficial do último.
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Em crítica literária, a fase 1880-1900, por suas três principais figuras — Sílvio Romero, Araripe Júnior e José Veríssimo, — havia desenvolvido e apurado a tendência principal do nosso pensamento crítico, isto é, o que se poderia chamar a crítica nacionalista, de origem romântica. Como em todos os países empenhados então na independência política, o Romantismo foi no Brasil um vigoroso esforço de afirmação nacional; tanto mais quanto se tratava aqui, também, da construção de uma consciência literária. A nossa crítica, rudimentar antes de Sílvio Romero e do Naturalismo, participou do movimento por meio do "critério de nacionalidade", tomado como elemento fundamental de interpretação e consistindo em definir e avaliar um escritor ou obra por meio do grau maior ou menor com que exprimia a terra e a sociedade brasileira.

Fruto direto da estética romântica, — relativista, ciosa dos fatores históricos, inspirada sobretudo em Madame de Staél e Schlegel, através de Garrett e Ferdinand Denis — ela foi no Brasil um elemento importante de autodefinição e diferenciação, principalmente quando se associou às filosofias naturalistas da segunda metade do século.

Na fase que nos ocupa, esta linha se prolonga sem a coerência e sem a necessidade do século anterior. Não é injusto dizer que, amparando-se nos três mestres e modelos já citados, os críticos se eximiram de aprofundar e renovar pontos de vista. Denotam conformismo e superficialidade, indicando não apenas o esgotamento da crítica nacionalista, mas a incapacidade de orientar-se para rumos mais estéticos e menos científicos, como se esperaria de uma geração inclinada ao diletantismo, o purismo gramatical, o culto da forma. A passagem do historicismo à estética se esboçava na obra de José Veríssimo, o mais literário dos nossos velhos críticos, e nessa fase é tentada pela crítica de inspiração simbolista e idealista, representada sobretudo por Nestor Victor, mas que não chegou a amadurecer e realizar-se. A crítica se acomodara em fórmulas estabelecidas pelos predecessores.

A Pequena história da literatura brasileira, de Ronald de Carvalho (1919), resume toda a evolução crítica anterior, combinando o arcabouço interpretativo do nacionalismo com um sentimento mais vivo da beleza, devido, porém, menos a um critério estético definido do que à euforia verbal própria do autor. Neste livro e nos ensaios posteriores de Ronald, se encontra a fusão superficial e elegante da crítica brasileira do século anterior, menos a ideologia naturalista, com a inclinação estética dos simbolistas, menos o fervor espiritualista.
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continua...
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Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006.

domingo, 1 de agosto de 2010

Arnoldo Pimentel Filho (Poemas Escolhidos)


PÉROLA DE ROSAS

Se abre como pérola
Como pérola perfumada
Seduz como seios
Sonhados no frio da madrugada
Inspira como os olhos
Os olhos da minha amada
No meio do jardim florido
Com flores estreladas
Ilude como o coração
Da mulher apaixonada
Que deseja como uma menina
Ser eternamente amada

ANJO DE VIDRO

Sou um anjo de vidro
Papel rasgado
Caído ao lado
Do armário quebrado
Sou vida sem linha para seguir
Peça abandonada
Pela sucata
Do carro usado em frangalho
Sou um anjo decadente
Sem poder mostrar os dentes
Sem ser sobrevivente
Sem modos aparentes
Sou vida sem anjo
Tronco de árvore caída na brisa
Que respingou na calçada
Que deflorou meus dias de beleza

SOLIDÃO

Eu não queria estar aqui
Caminhando numa pequena rua de chão
Cercada por tapete de neve
Dos dois lados a me observar
Não me sinto tão isolado
Pois a neve que forma o horizonte
Que embranquece a folhagem
Ainda aquece meu olhar
Sinto apenas a solidão que chega com o frio
Que rasga a paisagem
E entoa uma canção triste, tão triste
Que talvez ninguém queira cantar
Meu passado é a sinfonia que rege meu futuro
Meu futuro é escuro
Escuro como a neve sem luz
Que nem fechando bem os olhos se pode enxergar
Meu coração foi atirado na neve
Afundou sem vida durante toda minha vida
Ficou sem pedaços para o sangue poder pulsar
Ficou sem estrelas para na noite se guiar
Ficou sem esperança de um dia poder amar

VERSOS AO VIVO

Versos que escaparam na madrugada
Versos ao vivo
Vivos
Indecisos e aflitos
Versos que se mancharam
Nas esquinas das madrugadas
Nas ilusões das palavras
Que ficaram afastadas
Versos sem vida
Sem ondas
Sem amigas
Sem noites nubladas
Versos sem versos
Juntos e separados
Sempre mutilados
Sempre desamparados

AQUARELA

Eu pinto sonhos que nem sempre têm asas
Sonhos vividos
Sonhos esquecidos
Sonhos que poderão viver na minha tela
Na minha triste aquarela
Minha tela pode estar pintada de vazio
Silêncio vazio
Cores incolores que mostram meu rosto
Tela vazia incolor que inspira minhas cores
Eu pinto meus temores na madrugada
Onde a tempestade é a verdadeira tela
Onde a solidão disfarçada
Invade o meu quarto pela janela
Eu pinto a solidão do meu corpo
Pinto as cores da minha voz nua
Pinto meus olhos perdidos no infinito
Minha tela é meu próprio grito

BORBOLETA

Ainda que eu tiver que ver o crepúsculo
Pelo quadrado da janela
Tendo o chão gélido e molhado como colchão
Não desanimarei
Ainda que eu tiver que imprimir jornais
Na calada da noite
Para ser perseguida na calçada
Eu continuarei a panfletar meus ideais
Ainda que eu tiver que ficar com meu corpo nu
Para ser torturada
Para ser massacrada
Eu serei Minerva e firme ficarei
Ainda que eu tiver que sair do casulo
Para bater asas nas ruas de vidro
E sangrar todos os dias
Eu voarei
Ainda que eu tiver que perder minha vida
Na estrada deserta
Para vidas serem livres
Minha vida eu darei

Fonte:
http://redecultura.ning.com/

Arnoldo Pimentel Filho (1961)


Arnoldo Pimentel Filho, nascido em 15 de julho de 1961 na cidade Belford Roxo (RJ) é poeta e ativista cultural, faz parte dos grupos de poesia “Pó-de-poesia”, “Gambiarra Profana” e “Folha Cultural Pataxó”, começou a escrever por volta dos 16 anos de idade, tendo suas poesias um lirismo denso e bucólico, tendo como prioridade escrever poesias de amor, solidão e desesperança.

1984 Poesias escolhidas - Independente
1986 Antologia Poetas brasileiros de hoje - Shogun Editora e Arte
1987 Antologia Nova poesia brasileira - Shogun Editora e Arte
1988 Antologia Nova poesia brasileira - Shogun Editora e Arte
1990 Antologia Poetas brasileiros de hoje- Shogun Editora e Arte
2009 Antologia Poetas brasileiros vol 54 - Câmara Bras. Jovens Escritores
2010 Ventos na Primavera - Folha Cultural Pataxó

Fonte:
http://umcoracaoqueama.blogspot.com/

Silviah Carvalho (A Noite da Minha Poesia!)


Chegou à noite para a minha poesia,
Como se o passado tivesse voltado,
Matando o amor que em mim nascia,
Fim de linha... Página em branco, sem poesia!

Onde está o amor para que ela viva?
Onde está a amizade que a faz criativa?
Amizade... Palavra vazia!
Sem amor como sobreviveria?

Nenhuma palavra expressa o amor,
Quando ele já não existe,
E se não há poesia tudo fica
Ainda mais triste.

Não houve fidelidade nas palavras ditas
__Eu te amo! Era ilusão, e eu não via!
Decepção... Página em branco!

Nada sai do coração da poetisa,
Que desse amor dependia.

Roubaste- me!
Está contigo minha inspiração,
Não consigo escrever, como antes escrevia!
Devolva seu amor!

Antes que morra a poetisa,
E sua poesia.

Fonte:
Blog de Silviah Carvalho

Marita França (Paraná em Trovas)


No jardim do meu solar,
Flores têm a sua história…
Sempre me fazem lembrar,
O que ficou na memória!

Curitiba é tão catita,
Como jovem debutante,
Sempre florida e bonita
– E tem charme, é elegante!

Fazer castelos no ar,
Deixa a gente bem feliz…
Ideais a realizar,
Numa vida que condiz.

Nosso amor um roseiral,
Cheio de flores, espinhos,
Muito doce nosso ideal,
No percorrer dos caminhos!

Numa bandeja de ouro,
Dei-lhe a flor da inspiração
E você, ó meu tesouro,
Deu-me a flor do coração!

Sinto meu nome tão doce,
Ao você chamar por mim,
Escuto como se fosse,
O canto de um Querubim.

A saudade, como a brisa,
Passa de leve na gente;
É lembrança que ameniza,
Igual aura permanente.

Fé nos leva ao infinito
E bem juntinho de Deus,
Num transporte tão bonito,
Que a tristeza diz adeus!

A Deus levantando os braços,
com elegância e vigor;
pinheiros, sem embaraços,
são beijos de Paz e Amor!

A poesia, inspiração
Fulge na alegria e na dor...
são toques do coração
que nos empolgam no amor.

Que maravilha os Pinheiros
de Santa Felicidade;
tem passarinhos fagueiros
que encantam nossa cidade!

Meu querido piano amigo,
com acordes de veludo...
Quando me sinto contigo,
sempre me esqueço de tudo!

Com seu manto, enobrecida,
cobre o povo varonil
a Virgem Aparecida:
Padroeira do Brasil!

“Menino Deus, que ventura,
quero pertinho de mim...
Com sua bênção, doçura,
no meu cantinho sem fim!”
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Fontes:
– Vasco José Taborda e Orlando Woczikosky (organizadores). Antologia de Trovadores do Paraná. Curitiba: O Formigueiro, 1984.
– Pompília Lopes dos Santos. Sesquicentenário da Poesia Paranaense, Antologia. 1985