terça-feira, 31 de maio de 2011

Sidnei Schneider (Cuidados Com Quem Faz da Palavra Arte)


Ao ficcionista ou poeta, explorar o vórtice das contradições do ser humano, da sociedade e do mundo não é algo ocasional, mas parte inafastável do seu cotidiano. O que outros varreriam para baixo do assoalho, a fim de se ocuparem das responsabilidades, o escritor coloca sobre a mesa e usa como matéria-prima para dar conta das suas.

Daí que talvez não seja exatamente mais sensível, como se acredita serem os artistas, mas simplesmente mais aberto a manusear o que, de uma forma ou outra, a todos atinge. Contudo, ao transformar tais questões em palavras, se obtém alguma gratificação, paga um custo. Entrar na caverna do Minotauro pode ser heróico, mas também doloroso. Seja para Ariadne, seja para Teseu.

Alie-se a isso as dificuldades criadas pelo fato de exercer uma atividade que exige longa formação; trabalho solitário e exaustivo, normalmente contabilizado em anos a cada obra; certo desapego para encarar uma remuneração inadequada ou inexistente. Mesmo distante de uma escrita autobiográfica, expõe-se até os ossos, oferecendo a face à crítica e ao público. O conjunto faz do escritor alguém potencialmente frágil.

As histórias de superação ou sucumbência a situações de miserabilidade, internamentos e suicídio são bem conhecidas na literatura. Recordo sempre do que disse o poeta russo Nicolai Assiéiev após a morte de Vladimir Maiakóvski, ao avaliar que a essa fábrica de felicidade, de aspecto invulnerável, os amigos e cidadãos deveriam ter dedicado maiores cuidados.

A um artista da palavra (ou a qualquer outro), esse cuidado recompensa de forma peculiar e distinta. Pequenos gestos sinceros o tocam seguramente mais do que a estrondosa pompa de um prêmio. Gestos desse tipo me fazem relembrar certa madrugada. Um ônibus com a ventarola quebrada circundava os picos de neve, entre Cuzco e Arequipa, a trinta graus abaixo de zero. Nos vidros, cristalizavam-se as infinitas formas das rosáceas de gelo. Três pares de meia nos coturnos, duas calças e camisas, blusão de lhama e sobretudo não me aqueciam o suficiente. A mulher do condutor enrolava e queimava revistas para descongelar o parabrisa e manter o velho ônibus a caminho. Um homem de aspecto incaico levantou e sem dizer nada me estendeu um cobertor. O gesto entalhou-se para sempre na xilogravura da memória. Não exatamente em função de me salvar do frio, mas porque ali estava um ser humano ajudando a outro sem outro interesse a não ser o de lhe fazer bem. Não tenho medo de errar: de tais coisas, mais do que de benesses ou facilidades, alimentam-se poetas e prosadores. De alguma forma, buscam reparti-las com o leitor. E no campo oposto, as execráveis são apontadas e dissecadas.

Há pouco tempo, tive de cumprir algo que não fazia parte das minhas tarefas habituais. Criticar comparativamente e por escrito, enquanto jurado de um concurso, obras de autores meus amigos. Fazê-lo e ser ao mesmo tempo cuidadoso não é simples de alcançar fora de uma conversa informal com o colega. Não sei se obtive o bom termo, o fato me ocupa até hoje. Pois quem escreve não está imune à necessidade de prestar atenção e cuidados a seus pares. E, evidentemente, a todos que o cercam, leitores ou não. Assim, ser cuidadoso em relação aos outros é também cuidar-se, no sentido de habilitar cada vez mais a sua humanidade para o convívio.

Sugestionado por uma amiga, escrevi este pequeno texto para meninos e meninas que faziam quimioterapia e seus familiares. Talvez com ele se possa ampliar a discussão.

CONFIANÇA

Vi um pai e uma mãe ao redor de uma pedra redonda de granito, três as filhas. Elas subiam na pedra, deixavam-se cair de costas, e o pai as salvava. A menor, numa das vezes, olhou para trás, insegura. Então o pai falou, olha pra frente, fecha os olhos. Ela fez, e se deixou cair, livre de ter de confiar apenas em si.

Penso que esse liame, a possibilidade de poder contar um com o outro, por mínimo que seja, mina a lei da selva que nos quer indiferentes ou inimigos. Move cordilheiras e outras galáxias.

Tema sugerido pela revista O Cuidador. Texto originalmente publicado na edição Ano III, N° 14, 2011/ 1.

Fonte:
Artistas Gaúchos

Tânia Tomé (Livro de Poesias)


MOÇAMBIQUE

Quando me sento descalça
sobre o sapato do menino pobre
que me enche o pé
muito mais que outro qualquer
me lembro que existir
não é sozinha
é com toda gente.
E me lembro
que tenho de embebedar-me de ti
Moçambique
Porque tenho saudades de mim

SONS EM UNÍSSONO

A mão que me lê
ganha no espelho
a pupila
de uma luz imensa
no fundo da concha.

É o que se me vê(m) além
da cotilédone da pele:
sons ruidosos
em uníssono.

SERMENTE

E se Paul Celan
me entrasse
aqui, no futuro verso
eu seria a flor
tu serias a morte
e não te escreveria
neste desejo
incerto
de morrer-te
como murcha a flor
para ser semente

SE O MEU PESCADOR PESCASSE

Se o meu pescador me pescasse
pelo arpão me agarrasse os versos
um a um, sem pressa
a melhor palavra do mar...

Mas em que lugar da asa
a palavra poderia ser mais bela?
Com que cheiro? Com que sabor?
Onde seria o lugar do sol
Com que cor? Com que brilho?

E sei que hei de escolher
depressa mas devagar
a palavra mais carnuda para comer
E vou comer intensamente
Com toda forca dos meus (d)entes
na ponta dos dedos
as palavras que não me calo
E um peixe com asas
Há de nascer
E há de pescar-me no alto
o pescador
Espero

ENCANTOEMA

Pois ha urna verdade,
é a verdade do poema.
Urna verdade que não existe
e que não importa.
O que importa és tu
e és tu que existes
no peixe que sonhas.

ENCANTAMENTE

Uma confusão de dedos
procurando as mãos
da menina
— Onde estão, mãe,
as minhas asinhas da loucura?

A PALAVRA

A palavra quer deitar-se
sozinha, reflexa
contemplar devagar
o sol morre ao silêncio
Não há pressa, não há medo
A palavra quer morrer
quantas vezes for preciso

SONHO

Inspirada num poema que de igual forma me caracteriza de poeta amigo CAVALAIRE (Adilson Pinto).
Não tenho medo de assumir quem sou, uma eterna sonhadora que luta por aquilo em que acredita. (Tânia Tomé)

Eu tenho um sonho,
e dentro dele milhares
de sonhos possiveis...
em que acredito,
quase sempre
na plenitude
como na forma
em que respiro.

AMOR

Meu poema infinito
Tu escreves-me tão bem
esse amor todo nos teus dedos
escrevives-me exactamente
como me sonhei

Tânia Tomé (1981)


Cantora, poeta e compositora moçambicana.

Tânia Teresa Tomé, nasceu a 11 de novembro de 1981, na cidade de Maputo, Moçambique. Ingressa na vida artística aos 7 anos, ao vencer o prêmio de melhor voz no Concurso de Música organizado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em Moçambique..

Aos 13 anos, participa do seu primeiro sarau, onde canta, declama e toca ao piano poemas de José Craveirinha, em espetáculo que inclui a presença do homenageado.

Com 17 anos, entra para a Universidade Católica Portuguesa, no curso de Economia..È Licenciada em Economia e Pos-graduada em Auditoria e Controlo de Gestão pela Universidade Católica Portuguesa (Portugal,Porto).

Em 2002, adere ao Movimento Humanista, e faz algumas atuações em Portugal para angariar fundos para as crianças desfavorecidas de Moçambique.

Um ano mais tarde, ganha o Prêmio de Mérito da Fundação Mario Soares de Portugal pelo bom desempenho acadêmico e por conciliar estudos e atividades artístico-sociais.

Em 2004, é co-autora da antologia Um abraço quente da Lusofonia, com outros jovens poetas representantes de cada país da CPLP. Nesse mesmo ano, faz parte do CD intitulado Encontro (Iniciativa dos Leigos da Boa Nova), cuja totalidade dos lucros se destina a apoiar os projetos em favor das crianças e jovens de Angola e Moçambique. Regressa a Moçambique, e contribui para diversos movimentos artísticos e culturais, a destacar Movimento 100 crítica, Clave de Soul e Amigos do Livro. Faz-se então Membro da Associação dos Escritores Moçambicanos, da Associação dos Músicos Moçambicanos e dos Poetas del Mundo.

Em 2006, produz e apresenla, ao lado do músico Julio Silva, um programa cultural na Televisão de Moçambique (TVM).

Em 2008, realiza e produz o espetáculo "Poesia em Moçambique", em tributo a José Craveirinha, onde todas as artes interagem para tornar vivo o poema. Introduz o conceito de Showesia (neologismo criado por ela) em Moçambique, com o qual se faz espetáculo de poesia com urna banda de músicos, ao lado da qual Tânia canta e recita poemas, havendo teatro da poesia, dança da poesia, entre outros.

Participou em alguns projectos de poesia e declamação, de referenciar "Dentro de mim outra ilha de Júlio Carrilho" com Jaime Santos (Declamador Moçambicano), e participação na Feira da Voz no Franco-Moçambicano como Júri de Declamação e actuação com Eduardo White (Poeta Moçambicano), ganhou alguns prémios de poesia, e têm "mão" alguns projectos para o futuro presente. Já foi igualmente Júri Residente de Musica em Programas de Descoberta de Novos Talentos na Televisão Nacional de Mocambique.

E em 2009 nasce o seu primeiro bebe germinado no processo de mais de 15 anos intensos de vida artística bebendo a arte e a cultura e fazendo o casamento profundo entre a música e a poesia, o seu DVD SHOWESIA (primeiro e único DVD de Poesia em Moçambique) que é o espectáculo de poesia produzido e realizado pela mesma em 2008 em homenagem ao poeta José Craveirinha.

Showesia é um conceito e movimento criado e divulgado pela Tania que designa Show/ espectáculo de Poesia, um evento cultural que incorpora poesia, declamação de poesia e todas as outras formas de expressão artística, tais como dança tradicional e moderna, e musica nas suas mais diversas variantes desde tradicional com instrumentos tradicionais (tais como as timbilas, tambores, mbiras entre outros), e outros instrumentos como Baixo, Guitarra, Piano, voz, e Skach teatral com cenários diversos para dar vida a poesia.

O objetivo num mundo de constante desenvolvimentos tecnológico e globalizado é resgatar e valorizar o patrimônio cultural mundial, criando uma plataforma e nekwork cultural mundial.
A ideia subjacente é a de que é possível fazer algo pela educação e pela cultura que seja aliciante e interessante, através de um formato entretido chamado Edutainement (Educação e cultura com entretenimento). Contribuir para mudança deste conceito linear de que a poesia, a literatura, a educação e cultura não são atractivas e são apenas elitistas e para um grupo de pessoas.

Existe uma consciência plena da dificuldade, mas nada é impossível, e a mudança mesmo que lenta acontecerá, e mesmo que não aconteça enquanto vivos estaremos a contribuir para as gerações vindouras.

Em seguida, lança oficialmente a página web www.showesia.com, e faz parte do Poetry África em Maputo, representando Moçambique, repetindo atuação e representação no Festival Internacional Poetry África na África do Sul.

Faz parte da antologia Worid Poetry Almanac 2009 (Com 190 poetas oriundos de 100 países).

Participa do primeiro ano de comemoração de Celebração da língua e Cultura Portuguesa da CPLP em Moçambique, ao lado de Mia Couto e Calane da Silva.

Lançou em Maio de 2010 em Moçambique seu livro de poesia “Agarra-me o Sol por traz” que é uma das referências bibliográficas da Pós-graduação em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Finais de 2010 a editora brasileira escrituras lançou o livro “Agarra-me o Sol por traz, outros escritos e melodias” com prefácio do Brasileiro Floriano Martins e pintura de Eduardo Eloy.

Participa do livro The bilingual anthology on african poetry (China).

Atualmente preside a associação Showesia com objetivo de resgatar o patrimônio cultural através de uma plataforma de interação entre o tradicional e o tecnológico/ocidental e de uma network cultural mundial.

Conta já com vários prêmios internacionais entre os quais se destacam premio academico da Fundação Mário Soares (presidente de Portugal), Premio Festival da Canção, Porto, Portugal, Premio soundcity music award (África), Premio de música da Organização Mundial de Saude, Premio de Poesia Millenium Bim.

" Escrevo, para que numa dimensão sem espaço e sem tempo, eu possa interagir comigo e com os outros. Promovendo cultura para todos, conscientizando pessoas, alimentando espíritos e fazendo emergir por momentos constantes e incessantes "PRAXIS" E "GNOSES". Para que possa eu, ver de mim a crescer e aprender com tudo e todos os que me possam guiar. E com isso contribuir com o que tenho na alma e na mente para fazer crescer outrem, fazer crescer meu MOÇAMBIQUE, fazer crescer MUNDO "
Tânia Tomé

www.taniatome.com
www.showesia.com

Fontes:
http://www.antoniomiranda.com.br
http://www.recantodasletras.com.br/autor.php?id=4351

Suely Braga (A Mulher Na Literatura Brasileira)


A mulher historicamente teve um papel secundário. Relegada ao espaço doméstico, as mulheres viviam enclausuradas. As meninas, desde cedo, aprendiam as prendas domésticas, preparando-se para o casamento. Saiam do jugo do pai, para entrar debaixo do jugo do marido, seu chefe. Sem direito a aprender a ler, escrever e votar.

Houve desde o século VI alguns nomes femininos com relevante atuação em suas comunidades: heroínas, guerreiras, beneméritas,administradoras como Ana Pimental, que geriu a capitania hereditária em lugar do seu marido.

A imprensa inexistia no Brasil. colônia, só facultada por D. João em 1808. Assim desde a década de1820 a mulher começou a expressar em letra de forma seus sentimentos, anseios e ideais. Interessante que foram as mulheres as primeiras a produzir literatura, porque ao homem cabia atividades expansionistas e econômicas.

De abrangência nacional,as primeiras intelectuai foram: a sul rio-grandense Maria Clemência da Silveira Sanpaio com suas Poesias de exaltação ao imperador, em 1823, Nísia Floresta, do Rio Grande do Norte, com sua Tradução Feminista, em1832, a cega Delfina Benigna da Cunha de São José do Norte, RS com suas poesias sentimentais e sofridas, em1834. Ana Eurídice de Barandas de Porto Alegre, em 1845, trouxe poesias e crônicas de denúncia à Guerra dos Farrapos, Ana Luiza de Azevedo Castro, de Florianópolis e Maria Firmina dos Reis,do Maranhão, foram as primeira romancista, em 1859. Nísia Floresta Brasileira Augusta publicou seu primeiro Livro: ”Direitos das mulheres e injustiça dos homens “, em 1932 e o primeiro a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho.

Em 1910, Raquel de Queiroz, de Fortaleza, ensaísta, cronista, dramaturga, tradutora, em 1940, integrou a União das Classes Femininas do Brasil. Recebeu o prêmio Machado de Assis, em 1977, da Academia Brasileira de Letras, na qual foi a primeira mulher a ingressar, em 1977. Também romancista.

Escreveu o Quinze (1932), Caminho de pedras, (1937). Muitas de suas obras são traduzidas no estrangeiro.

No regime militar, algumas escritoras se posicionaram contra o governo ditatorial, revelando suas posições politicas como Nélida Pinõn.Eleita para a Academia Brasileira de Letras(1989), foi a primeira mulher a presidir a entidade, em 1996. Nossa gaúcha Lila Ripoll, professora, poetisa.

Foi militante comunista, desde o assassinato de seu irmão.
Ganhou o prêmio Pablo Neruda com Poemas e canções, em 1957.

O rol das grandes escritora do século XX é vasto:
Cecília Meirelles, Lígia Fagundes Telles, Clarice Lispector, Hilda Hist , Marina Colassanti, Lya Luft, Maria Dinorath do Prado, Patrícia Bins,Marta Medeiros, Letícia Wierzchowski e tantas outras.

As mulheres vêm conquistando seu espaço na literatura.

Atualmente está surgindo uma plêiade de escritoras e poetisas jovens, outras nem tão jovens, que se espalham pelas editoras com suas obras literárias. A Historiadora Hilda Flores buscou as escritoras para seu livro “ Dicionário de mulheres”, que já está no prelo e vai ser lançado em Porto Alegre, em 17 de maio próximo.

Ela escreveu o “Dicionário de Mulheres” , em Porto Alegre, em 1999.. Surgiram também muitas Academias Literárias femininas. Com a internet é infindável o número de escritoras com seus sites, seus blogs e seus twitters.

As mulheres de hoje deixaram de ser Amélias, para navegarem em todos os setores da sociedade e no mundo das letras.
Link
Bibliografia: Flores,Hilda –Dicionário de Mulheres - 1999.

Fonte:
Artistas Gaúchos

Biblioteca Comunitária de Itu (VERBALIZE - Sarau Literário e Musical) sábado, 4 de junho


ITU-SP | Neste sábado, 4 de junho, o Ponto de Leitura de Itu - Biblioteca Comunitária prof. Waldir de Souza Lima - realizará o VERBALIZE!, um Sarau Literário e Musical. O evento terá início às 19 horas e é gratuito e livre para todas as idades.

Haverá apresentações musicais e recitais livres de poesia, inclusive com a participação do público. A ideia é mostrar que um Sarau não é necessariamente um evento feito pela e para a elite, e sim um local de troca de conhecimentos e experiências de pessoas das mais diversas idades e classes sociais. Através da variedade de poemas e canções apresentadas, pode-se ter uma visão da diversidade da cultura brasileira.

Quem desejar apresentar algum poema ou música é só se dirigir ao local do evento. Não há necessidade de inscrição. O participante pode levar um ou mais textos pré-selecionados ou escolher no acervo literário da biblioteca, que contempla autores clássicos e modernos.

A Biblioteca Comunitária fica na rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu. Mais informações pelo telefone (11) 8110.3598.

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PONTO DE LEITURA
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA PROF. WALDIR DE SOUZA LIMA
Rua Floriano Peixoto, 238, Centro, Itu.SP
CEP 13300-005
Contatos: (11) 8110.3598
www.bibliotecacomunitaria.wordpress.com

Feira Literária de Londrina Seleciona Atividades, até 24 de junho


O Festival Literário de Londrina 2011 (Londrix), está recebendo para inscrições de propostas na área de literatura. Os proponentes, poderão realizar debates, lançamentos e exposições de livros, apresentações artísticas, shows e outras atividades ligadas ao mundo literário.

Londrix acontece na cidade norte-paranaense no mês de setembro. As inscrições para o festival permanecerão abertas até o dia 24 de junho.

Em sua sétima edição, o encontro , realizado todos os anos, reúne em Londrina os grandes nomes da literatura nacional para refletir a produção e as experiências desenvolvidas no país. O objetivo final do evento é estimular a formação de leitores e divulgar escritores e obras.

O festival promove debates, palestras, shows, lançamentos de livros, sessões de autógrafos, oficinas e leituras. Em 2010, Londrix contou com lançamento de livros de autoras como Tríade Beatriz Bajo, Célia Musilli e Edra Moraes, debates com Fausto Fawcet e Alex Lima, entre outros eventos.

As inscrições de atividades literárias no Londrix devem ser feitas pela internet e são gratuitas.


EDITAL DE SELEÇÃO DE TRABALHOS PARA O FESTIVAL LITERÁRIO DE LONDRINA LONDRIX2011

O presente edital institui normas para seleção de trabalhos para o Festival Literário de Londrina – Londrix2011, que acontecerá de 20 a 24 de setembro de 2011.

1. ORGANIZAÇÃO

1.1. A seleção será organizada pela AARPA – Atrito Arte Artistas e Produtores Associados e pela Equipe Organizadora do Festival sob Coordenação do Curador Marcos Losnak.

2. DAS CATEGORIAS

2.1. Cada candidato deverá inscrever apenas uma proposta em cada uma das categorias:

2.1.1 DEBATES/PALESTRAS / NACIONAL: os candidatos devem possuir currículo representativo no cenário literário nacional. Serão selecionados dois trabalhos nesta categoria.

2.1.2 DEBATES/PALESTRAS DE ARTISTAS / LOCAL: os candidatos devem possuir vínculo com a cidade de Londrina, ter nascido em Londrina, e/ou desenvolvido sua carreira em Londrina e/ou residir em Londrina comprovadamente há mais de um ano. Serão selecionados 6 trabalhos nesta categoria.

2.1.3 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS / NACIONAL: os candidatos devem possuir currículo representativo no cenário literário nacional. Será selecionado um trabalho nesta categoria.

2.1.4 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS / LOCAL: os candidatos devem ter este trabalho desenvolvido na cidade de Londrina. Serão selecionados 3 trabalhos nesta categoria.

2.1.5 LANÇAMENTO DE LIVROS: os candidatos deverão possuir trabalho publicado em 2011 na área literária. Serão aceitos 10 trabalhos nesta categoria.

3 DAS INSCRIÇÕES

3.1 Período de 30 de abril a 24 de junho de 2011

3.1.1 INSCRIÇÃO PELO CORREIO: cada candidato deverá enviar 01 (uma) cópia da sua proposta, o currículo e a ficha de inscrição preenchida (anexo 1). A postagem deverá ser efetuada até 24 de junho, comprovadas pelo carimbo do Correios até esta data.Endereço: Festival Literário de Londrina – Londrix2011 Rua João Pessoa, 103 A Londrina Pr CEP 86020-220).

3.1.2 INSCRIÇÃO PELA INTERNET: a inscrição será efetuada no site do Festival: www.festivalliterariodelondrina.com.br, devendo enviar 01 (uma) cópia da proposta, o currículo e preencher a ficha de inscrição, que estará disponível no site.

4. PARTICIPAÇÃO

4.1 As inscrições são gratuitas.

4.2 É vetada a participação de funcionários públicos municipais de Londrina. Por funcionário público municipal entende-se, além dos funcionários contratados e estatutários da Administração Direta, também os funcionários de autarquias e fundações municipais e os funcionários terceirizados.

4.3 O ato da inscrição implica, automaticamente, na cessão dos direitos de imagem para uso específico na divulgação do Festival Literário de Londrina – Londrix2011.

5. SELEÇÃO

5.1 A equipe organizadora do Festival Literário de Londrina – Londrix2011, sob coordenação do Curador Marcos Losnak é responsável pela seleção dos trabalhos e se baseará nos seguintes critérios: análise de currículo, representatividade na área literária, tema da proposta e perfil do Festival.

5.2 A decisão da Comissão é soberana não cabendo recursos.

6. DIVULGAÇÃO DO RESULTADO

6.1 O resultado será divulgado em 24 julho de 2011 através do site do Festival. A partir desta data a Organização do Festival entra em contato com os autores dos trabalhos selecionados.

7. DOS VALORES

7.1 Os valores a serem pagos são diferenciados para cada categoria:

7.1.1 DEBATES/PALESTRAS / NACIONAL: Serão selecionados dois trabalhos nesta categoria com valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) cada. Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.2 DEBATES/PALESTRAS / LOCAL: Serão selecionados 6 trabalhos nesta categoria com valor de R$500,00 (quinhentos reais) cada. Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.3 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS / NACIONAL: Será selecionado um trabalho nesta categoria com valor de R$2.000,00 (dois mil reais). Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.4 PERFORMANCES, APRESENTAÇÕES TEATRAIS, SHOWS/ LOCAL: Serão selecionados 3 trabalhos nesta categoria com valor de R$ 1.000,00 (hum mil reais) cada. Para pagamentos de pessoas físicas serão descontados 16% (dezesseis por cento) correspondentes aos tributos legais (INSS e ISS).

7.1.5 LANÇAMENTO DE LIVROS: Serão aceitos 10 trabalhos. Não há pagamento de cachê nesta categoria.

8. OUTRAS DISPOSIÇÕES

8.1. Não serão aceitos trabalhos que não estiverem estritamente de acordo com este REGULAMENTO e não tiverem a ficha de inscrição preenchida corretamente.

8.2. Os trabalhos enviados que não estiverem de acordo com o REGULAMENTO terão automaticamente suas inscrições invalidadas.

8.3. A inscrição dos trabalhos implica conhecimento integral dos termos do presente.

8.4. Pedidos de informações sobre este Edital poderão ser feitos pelo e-mail festivalliterariodelondrina@bol.com.br.

CHRISTINE DO CARMO VIANNA
Diretora do Festival Literário de Londrina – Londrix2011

segunda-feira, 30 de maio de 2011

José Feldman (Poesia para um Amigo Querido)













Ao meu cãozinho Fluffy, falecido há um ano, que estaria fazendo 11 anos.

O sol nasceu cedinho
E seus raios de calor
Caíram sobre a terra adormecida.
A manhã despontou
E você despertou
E seus olhos brilhavam
E havia um calor intenso
Em cada gesto seu.

O dia começava e
Você estava feliz,
Mais feliz ainda
Ao me ver junto a si.

Seu rabo negro e branco
Agitava de felicidade,
E voce pulou,
E voce me lambeu,
E voce me abraçou.

Corremos pelo quintal,
E senti o seu calor,
O seu amor…incondicional.

Briguei contigo,
Mas sua amizade
Era muito forte.
E sempre fui
Dominado pelo seu amor.

As borboletas voavam pelas flores,
Os passarinhos cantavam alegremente,
O próprio dia era mais radiante.

Mas,
O céu foi ficando escuro,
Os raios estremeceram a terra,
O sol sumiu nas trevas,
Seus olhos perderam o brilho
Seu rabo parou de agitar,
Suas pernas já não se moviam.

O sol se foi para sempre,
E só restou a noite,
Só restou as lágrimas,
Encharcando minhas lembranças.

Nem houve um tempo para um adeus!
Um ano sem voce, meu amigo!
Ainda parece que foi ontem
Que estavamos juntos.

Um dia estaremos juntos,
Novamente,
E o sol voltará a brilhar!
Até mais, meu amigo!

Adolfo Casais Monteiro (1908 – 1972)


Adolfo Victor Casais Monteiro nasceu no Porto em 1908 e morreu em São Paulo em 1972.

A sua juventude foi típica de um filho da burguesia portuense ilustrada e liberal, cedo revelando propensão artística. É ainda durante a sua licenciatura, na Faculdade de Letras do Porto, em Ciências Históricas e Filosóficas, num meio influenciado por Leonardo Coimbra, que se estreia nas Letras com os poemas de Confusão em 1929. Embora nunca ostente a sua formação em Filosofia, ela será indelével em dois aspectos: o interesse pela conceptualização e pela Linguagem, e o norte orientador da liberdade.

Depois de ter obtido qualificação pedagógica em Coimbra, começa a ensinar no Porto em 1934 no Liceu Rodrigues de Freitas. Casa-se com Alice Pereira Gomes, irmã de Soeiro Pereira Gomes, de quem só se separa um ano após partir para o Brasil, duas décadas mais tarde. No final dos anos 30 e na década seguinte foi demitido do ensino pela ditadura e preso sete vezes, vivendo uma vida profissional atribulada por motivos políticos, mantendo a sua atividade de poeta e crítico através de trabalhos de tradução e edição. Sob anonimato, coordena o semanário Mundo Literário. Não menos relevante é a sua ligação com Fernando Pessoa, que data dos dias em que dirigirá a Presença. Logo em 1942 organizara e prefaciara uma antologia poética de Pessoa, que conhecerá sucessivas re-edições e influenciará sucessivas gerações de leitores. Essa atividade iniciada na crítica e correspondência com o próprio Pessoa na década de 1930 e prosseguida editorialmente na década seguinte, terá no início de 1950 expressão em Francês, traduzindo «Tabacaria» com Pierre Hourcade.

Grande parte do trabalho destas duas décadas encontra-se na reunião de ensaios O Romance e os Seus Problemas de 50; edição modificada no Brasil, mais tarde, como O Romance: Teoria e Crítica. É também sua a fixação do texto primitivo e versão em português moderno da Peregrinação de Fernão Mendes Pinto (2 vols., Lisboa e Rio de Janeiro, 1952/3).

Em 1954, ano em que parte para o Brasil para participar num congresso mas já com a intenção de aí ficar e enviar uma «carta de chamada» para a mulher e o filho, João Paulo Monteiro, que se lhe juntará em 1963, publica Voo sem Pássaro Dentro (poesia) e vê uma antologia de poema seus surgir em castelhano.

No Brasil mantém atividade poética. Surgirá em 1969, como original nas Poesias Completas, O Estrangeiro Definitivo, além de continuar a organizar antologias, com destaque para A Poesia da Presença em 1959, no Brasil e 1972 em Portugal, re-editada aqui em 2003. Contudo, é sobretudo à crítica e à teoria literária que se dedica. Colaborador habitual de órgãos de comunicação social influentes como O Globo e O Estado de São Paulo, publica regularmente crítica literária que incide equitativamente sobre autores brasileiros, portugueses e escritores de outras línguas.

Tendo ensinado em várias universidades brasileiras, fixa-se em 1962 na Universidade de São Paulo, lecionando Teoria da Literatura, o que lhe permite elaborar aspectos conceptuais da crítica a que dava atenção desde a sua estreia ensaística em 1933.

Manteve sempre em vista a atividade artística e literária em Portugal onde nunca voltou, como as dedicatórias dos poemas dos últimos livros deixam perceber. Depois de décadas sem que a Censura permitisse, sequer, a publicação do seu nome, em 1969 a Portugália Editora lança o volume Poesias Completas, marcando a recepção da sua Obra pela geração que fará o 25 de Abril. Morreu em S. Paulo em 1972 a 24 de Julho.

Será entre essa recepção imediata (à falta de melhor termo) que outras obras surgiram, por iniciativa de seu filho e nora, Maria Beatriz Nizza da Silva, no imediato pós-revolução, como O país do absurdo (textos políticos, edição República em 1974 e A Poesia Portuguesa Contemporânea editada pela Sá da Costa em 1977. Progressivamente, as Obras Completas de Adolfo Casais Monteiro começam a ser (re)publicadas na Imprensa Nacional.

Fonte:
Estudo Raposa

Olivaldo Junior (Pois é, está frio...)


Ainda estamos no outono.
Eu sei: ninguém é meu dono.
Mas eu também sei: sonho.
Sonho com o sol mais risonho,
nestes dias que abandono.

Pois é, está frio...
Faz tempo que não nos escrevo.
Mas inda sorrio.
É difícil, mas inda lhe prescrevo,Alinhar ao centrofeito um médico,
pílulas de alegoria, “o” remédio.
Pois é, é o tédio...

Durante a falta de versos,
ninguém que me importasse
mandara um dos servos
da alegria (notícias), nem fax,
nem carta, nem uns versos...

Pois é, está frio...
Durante a falta de assunto,
fui negado ao pedir perdão,
fiquei sozinho no mundo,
esqueceram-me com violão,
poesia e pão, num segundo.
Pois é, está frio...

Sonhei que estaria cantando.
Cantei que estaria ensinando.
Ensinei que acordaria sonhando.
Sonhei com amigos tocando.
Toquei, sozinho, o acalanto.
Acalento o frio. Mas até quando?

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Texto enviado pelo autor

Monteiro Lobato (Histórias de Tia Nastácia) XXXIX – O Camponês Ingênuo


Era um camponês muito ingênuo, que um dia partiu para a cidade de Bagdá a fim de vender uma cabra; foi montado num jumento, a puxar a cabra, que ia, tlin, tlin, tlin, com um cincerro ao pescoço. Três ladrões resolveram roubá-lo.
— Eu me encarrego de furtar a cabra — disse um deles.

— E eu, de furtar o jumento — disse o segundo.

— E eu, de furtar-lhe as roupas — disse o terceiro.

Assim combinados; os três malandros seguiram o pobre camponês. O primeiro deu jeito de passar a campainha do pescoço da cabra para o rabo do burro sem que o pobre homem percebesse. Sempre a ouvir o toque da campainha, só muito lá adiante é que olhou para trás e não viu cabra nenhuma.

Desesperado com aquilo, porque aquele animalzinho representava muito para ele, pulou do jumento abaixo e pediu a um homem que viu por ali que o segurasse enquanto ele ia em procura da cabra. Com a maior boa vontade o homem prontificou-se a segurar o jumento — e, assim que o camponês se afastou, fugiu. Esse homem era o segundo ladrão.

Quando o camponês voltou e não encontrou nem sinal do jumento, abriu a boca, desesperado. Nisto deu com outro homem que olhava para dentro dum poço, com grande aflição.

— Que houve? — perguntou o camponês. — Perdeu também algum jumento?

— Perdi muito mais — disse o homem com voz de desespero. — Imagine que fui encarregado de entregar um escrínio de ouro ao califa, e sentando-me à beira deste poço, para descansar, não sei que jeito dei que o escrínio caiu lá dentro.

— Por que não desce para pegá-lo?

— Já pensei nisso, mas tenho medo de resfriar-me. Sou muito sujeito a resfriados. Estou esperando que apareça alguém que queira prestar-me este serviço.

— Quanto paga? — perguntou o camponês.

— Oh, pago dez moedas de ouro, porque se trata dum escrínio riquíssimo.

O camponês não disse mais nada. Sacou fora a roupa e desceu ao poço. E o tal portador do escrínio, que não era portador de escrínio nenhum e sim o terceiro ladrão, fugiu com a roupa dele...
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— Coitado! — exclamou Narizinho. — A vida é bem cruel. Os ingênuos e os bons são sempre iludidos pelos maus.

— Verdade, sim — concordou dona Benta.

— Os homens de boa fé saem sempre perdendo. Por isso o meu bisavô, que foi o homem mais matreiro da sua zona, costumava dizer: "Quando alguém me procura para propor um negócio, eu fico ouvindo e pensando cá comigo: "Onde estará o gato?" e descubro, porque em todo negócio que alguém propõe há sempre um gato escondido." Nesse pau tem "mé"! — dizem os caboclos.

Mas Narizinho não tirava da idéia o pobre camponês.

— Coitado! Perder a cabrinha já foi um desastre. Perdeu depois o jumento, que valia muito mais que a cabrinha. E por fim acabou nu em pêlo. E por quê? Só porque teve boa fé, só porque acreditou nos três homens...

— Por isso é que eu não gosto de gente — gritou Emília. — São os piores bichos da terra. Entre as formigas ou abelhas, por exemplo — quem é que já viu uma furtando outra, ou mentindo para outra, ou amarrando outra em rabo de burro bravo? Vivem em sociedade, aos milhares de milhares, na mais perfeita harmonia. Ah, quem quiser saber o que é honestidade de vida, vá a um formigueiro ou a uma colméia. Aqui entre os homens é que não fica sabendo disso, não. Quanto mais conheço os homens, mais aprecio as abelhas e as formigas.

— E agora vovó? Que história vai contar? — perguntou Pedrinho.

— Vou contar uma do Congo, na qual os negros explicam como é que apareceram os macacos.
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Continua… XL – A História dos Macacos
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Histórias de Tia Nastácia. SP: Brasiliense, 1995.
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