segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Mostra de Literatura de Mulheres (Aconteceu entre 27 e 30 de Julho)


O que há em comum entre Luce Pereira, Jussara Salazar e Elisa Lucinda? Estas e outras escritoras foram destaques da Mostra de Literatura de Mulheres, promovida pelo Sesc Santa Rita, no período de 27 a 30 de julho. O evento, que acontece no Laboratório de Autoria Literária Ascenso Ferreira, irá reunir ícones femininos que fazem, leem e criticam literatura.

Para participar foi preciso levar uma obra literária em bom estado de conservação para garantir a vaga. Além de palestras sobre a influência da mulher na literatura, o público conferiu gratuitamente recitais de poesia, exposição fotográfica, minicursos e cantorias e rodas de conversa.


27 a 30 de julho - Mostra de Literatura de Mulheres

27, quarta-feira

Oficina de Literatura Popular e Crítica Literária
Com Maria Alice Amorim (PE) –

Oficina "Os 5 sentidos de Clarice Lispector',
com a biógrafa de Clarice Lispector e Doutora em Estudos literários pela PUC- RJ, Teresa Montero (RJ) –

28, quinta-feira

Oficina de Literatura Popular e Crítica Literária
Com Maria Alice Amorim (PE) –

Oficina "Os 5 sentidos de Clarice Lispector',
com a biógrafa de Clarice Lispector e Doutora em Estudos literários pela PUC- RJ, Teresa Montero (RJ) –

Abertura da Mostra –
Local: Salão de Festas do SESC Santa Rita
Pinceladas para Ladjane Bandeira–
Récita com Mariane Bigio (PE) e participação especial de Susana Morais (PE).

Literatura substantivo feminino,
conversa com Viviane Mosé (SC/RJ).
Mediação: Luce Pereira (PE)

Vire poesia,
Performance com Silvana Menezes (PB/PE) e
Recital Poético
com Elisa Lucinda (ES/RJ) –

29, sexta-feira

Oficina de Literatura Popular e Crítica Literária
Com Maria Alice Amorim (PE) –

Oficina "Os 5 sentidos de Clarice Lispector',
biógrafa de Clarice Lispector e Doutora em Estudos literários pela PUC- RJ, Teresa Montero (RJ) –

A mulher é do Repente - Cantoria
com Mocinha de Passira (PE) e Santinha Maurício (PE)
Canto do Limite: A poética do Fim,
conversa com Jerusa Pires Ferreira (BA/SP) e Jussara Salazar (PE/PR).
Mediação: Maria Alice Amorim (PE) –

30, sábado

Récita: Procurando Cecé –
Renata Santana (PE) encontra-se com Celina de Holanda

Escrituras de Mulheres,
conversa com Elizabeth Siqueira (MG/PE), Luzilá Gonçalves (PE) e Nelly Carvalho (PE) –

A criação literária,
conversa com Eunice Arruda (SP) e Lucila Nogueira (PE).
Mediação: Cida Pedrosa (PE)

Recital do Sertão ao Mar,
o grupo de poesia Vozes Femininas recebeu 4 recitadoras do Sertão Nordestino: Isabely Moreira, Mariana Teles, Monique D'Angelo e Verônica Sobral.

Editores
Sennor Ramos, Raimundo de Moraes & Cida Pedrosa
Recife, 26 de julho de 2011

Fonte:
Eunice Arruda

Monteiro Lobato (Viagem ao Céu) XI – Continua a Viagem


Depois de algumas horas de bem-dormido sono, Pedrinho acordou e viu no relógio Terra, suspenso no céu da Lua, que o continente americano vinha de novo aparecendo — sinal de seis horas da manhã lá no sítio. Pedrinho foi ter com São Jorge, que estava longe dali dando ordens ao dragão. Era um dragão verde, escamudo, com dois tocos de asas nas costas. O gosto dele era enrolar a cauda como saca-rolha, com a ponta de flecha erguida para cima. Volta e meia punha de fora a língua cor de tomate, também com ponta de flecha.

Pedrinho explicou ao santo que iam continuar a viagem pelos domínios celestes, não só porque tinham vindo com esse fim como porque era indispensável descobrirem o paradeiro do Doutor Livingstone e salvarem o Burro Falante, que com certeza andava enroscado na cauda de algum cometa.

— Não sei se poderão salvar o Doutor Livingstone — observou São Jorge. — Se ele foi projetado da Lua pela força do tal pó maravilhoso, o mais certo é estar transformado em satélite da Lua.

— Já pensei nisso — tornou Pedrinho apreensivo. — Vovó diz que a força de atração dos astros puxa todos os corpos para o centro deles. Quando a gente joga para o ar uma laranja, a laranja sobe até certa altura e depois volta. Que é que a faz voltar? Justamente a força de atração que puxa todos os corpos para o centro deles. Enquanto a força que jogou a laranja é maior que a força de atração que puxa a laranja, a laranja sobe; quando a força de atração se torna maior, a laranja cai.

São Jorge admirou-se dos conhecimentos de mecânica daquele menino.

— O pó de pirlimpimpim que o Visconde cheirou — prosseguiu Pedrinho — era muito pouco, não dava nem para levá-lo até à Terra. E como ele não caiu de novo sobre a Lua e não podia ter chegado à Terra, o certo é estar parado na zona em que a força de atração da Terra empata com a força de atração da Lua — e nesse caso não sobe nem desce — fica toda vida girando em redor da Lua como um satélite. Acho que foi o que sucedeu — concluiu Pedrinho com a maior gravidade.

— Também acho — disse Emília.

Pedrinho riu-se com ar desdenhoso.

— A boba! “Também acho!...” Eu acho com base, mas que base tem você para achar?

— Eu acho com base no meu desejo de achar — respondeu Emília.

— Deseja, então, pestinha, que o Visconde fique toda vida como satélite da Lua?

— Desejo, sim. Ando me implicando com esse Doutor Livingstone. É sério demais. Não brinca. Não faz o que eu mando. Está mesmo bom para satélite da Lua. Quando voltarmos à Terra, vou pedir a Tia Nastácia para fazer um Visconde igualzinho ao antigo. Aquele é que era o bom — era o “legímaco”.

Emília não dizia “legítimo”, dizia “legímaco”. Pedrinho e Narizinho também andavam a implicar-se com o Doutor Livingstone, de modo que deram razão à boneca e resolveram deixá-lo como satélite da Lua. Mas o Burro Falante precisava ser salvo.

— Esse, sim — concordou Emília. — Temos de virar de cabo a rabo os mundos celestes até descobri-lo, porque Dona Benta ficará furiosa se o deixarmos enroscado nalguma cauda de cometa. Sabe, São Jorge, que ele é o único burro falante que existe na Terra?

— Burros falantes de dois pés — respondeu o santo — conheci numerosos em minha vida terrena, mas de quatro jamais ouvi falar de algum. Mas se esse precioso burro estiver enganchado num rabo de cometa, como vão fazer vocês para alcançar esse cometa?

Pedrinho embatucou. Não havia pensado naquilo. Mas Emília veio com uma daquelas idéias do tamanho de bondes.

— Nada mais fácil — disse ela. — Basta arranjarmos um cometa mais veloz que o do burro; montamos nele e o tocamos a chicote e espora atrás do cometa do burro.

— Isso é perigoso — declarou São Jorge. — Tudo no espaço está muito bem regulado. Cada astro segue o seu caminho certo, sempre na mesma velocidade. Se um deles se apressasse demais ou diminuísse a marcha, a “harmonia universal” estaria destruída.

— Para nós não há impossíveis — afirmou Pedrinho com orgulho. — Quem tem no bolso este pó mágico, zomba das leis da natureza. Sabe o que podemos fazer? Montar num cometa e esfregar no nariz dele um pouco de pirlimpimpim — e juro que ele alcança o outro num instantinho! Ah, São Jorge, o senhor não faz idéia do que é o pó de pirlimpimpim!...

O santo ficou atrapalhado. Realmente não conhecia o tal pó, mas o fato de o pirlimpimpim ter trazido aquelas crianças à Lua queria dizer que era na verdade o mais mágico de todos os pós existentes, e capaz de outras coisas assombrosas. Por isso não duvidou da possibilidade de caçarem um cometa montados em outro. Apenas insistiu num ponto: que se eles fizessem isso, o mais certo seria atrapalharem a “harmonia universal”, causando os mais sérios transtornos no universo.

— Admito a hipótese — respondeu Pedrinho com a importância dum Bonaparte diante das pirâmides — mas acha então que devemos perder o nosso Burro Falante? A tal “harmonia universal” que me perdoe. Entre ela e o nosso burro, não tenho o direito de escolher.

— Ela que se fomente! — interveio Emília.

São Jorge meditou uns instantes e depois disse:

— Bom, façam lá como quiserem, mas muito receio que por causa desse burro venha a estragar-se o maravilhoso equilíbrio celeste a que chamo “harmonia universal”, e existe desde os começos do mundo. Meu conselho é um só: prudência, prudência e mais prudência.

Pedrinho ficou um tanto abalado com aquelas altíssimas palavras, e Emília de novo meteu o bedelho.

— Senhor capadócio, para nós esse burro vale mais que todas as harmonias do mundo e se o universo ficar atrapalhado, pior para ele. Havemos de pegar o burro, haja o que houver.

São Jorge ainda lembrou uma coisa. Lembrou que como o espaço é infinito, e os cometas não são inúmeros, ninguém vai pegando um cometa com a facilidade com que se pega um animal no pasto.

A discussão estava se prolongando. Por fim Narizinho veio com uma proposta que foi aceita.

— Sabem do que mais? — disse ela. — O verdadeiro é deixarmos isso para depois. Se em nossa viagem pelo espaço encontrarmos algum cometa que sirva, então pularemos nele e sairemos em procura do burro. Se não encontrarmos cometa nenhum, daremos outro jeito qualquer. Agora estou com vontade de ir ao planeta Marte, para ver se realmente existem aqueles canais de que os astrônomos tanto falam. Marte me parece um planeta muito simpático.

Todos aceitaram a idéia e imediatamente começaram os preparativos da viagem. Narizinho foi à cozinha da cratera despedir-se de Tia Nastácia. Encontrou-a de nariz muito comprido, fungando e resmungando enquanto fritava uns bolinhos para São Jorge. A pobre negra nem ânimo de falar tinha. Só suspirava — uns suspiros vindos lá do fundo das crateras de seu coração.

— Pois é, Tia Nastácia — foi dizendo a menina. — Vamos partir para o planeta Marte e você comporte-se, hein? Perigo não há nenhum. São Jorge já levou o dragão para longe daqui, de modo que nem os seus bufos você ouvirá. E não se esqueça de que a maior honra para uma cozinheira como você é ficar fazendo bolinhos para um santo de tanta importância.

— Eu sei, eu sei — soluçou Tia Nastácia. — Vou fazer tudo direitinho. Mas ninguém pode governar o coração — e o meu coração está que é uma pontada atrás da outra. Vai demorar muito essa viagem?

— Não — respondeu a menina. — Vamos apenas dar um pulo até Marte e outros planetas. Quero muito conhecer os anéis de Saturno.

Tia Nastácia benzeu-se.

— Pois até anel esse diabo tem? É algum dragão?

Narizinho, com preguiça de explicar à pobre negra o que era, prometeu contar tudo na volta.

— E agora, adeus! Se você fizer cara triste, isso até ofende ao santo. Mostre-se alegre e de boa vontade. Não desmoralize o Sítio do Pica-Pau Amarelo...

Tia Nastácia arrancou um profundo suspiro; prometeu que sim e voltou à frigideira enquanto a menina saía correndo, leve como pluma, ao encontro dos outros.

— Tudo pronto? — perguntou.

— Sim — respondeu Pedrinho. — Já dividi o pó em pitadas. Tome a sua — e deu-lhe uma pitadinha de pirlimpimpim, dizendo: — Temos todos de aspirá-lo ao mesmo tempo, quando eu disser três. Vamos agora nos despedir de São Jorge.

As despedidas foram quase comoventes. Emília chegou a armar cara de choro, e ao beijar a mão do santo prometeu trazer-lhe um presente lá das regiões estelares.

— Que poderá ser? — indagou São Jorge.

— Um fio da Cabeleira de Berenice serve?

São Jorge, comovido, deu-lhe um beijo na testa. Terminados os adeuses, Pedrinho começou a contar:

— Um... dois... e três! ...

O fiunnn foi agudíssimo — e lá se sumiram todos na imensidão do espaço.
____________
Continua … XII – O Planeta Marte
–––––––––––-
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 278)


Uma Trova Nacional

A paz se faz com amor
e o que mais nos desafia
não é plantar uma flor,
mas regá-la todo dia!
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Uma Trova Potiguar

Eu me curvo ante os conselhos
que recebo todo dia,
quando dobro os meus joelhos
aos pés das Virgem Maria!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - Curitiba/PR
Tema - MADRUGADA - Venc.

Em teus traços eu diviso
a natureza espelhada:
a alvorada em teu sorriso,
e em teus olhos... Madrugada!
–ARLINDO TADEU HAGEN/MG–

Uma Trova de Ademar

A distância nos redime,
nos encanta e não revolta;
ir pra longe é tão sublime
como sublime é a volta!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Que me importa a despedida
dos meus dias mais risonhos.
Eu sinto a aurora da vida,
no que resta dos meus sonhos.
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

POR SOBRE AS NUVENS.
–Eduardo Toledo/MG–

Por sobre as nuvens, meu sonho
vai dedilhando, disperso,
as ilusões que componho
na pauta azul do universo.

Por sobre as nuvens me ponho,
preso às estrelas, imerso,
como se fosse um risonho
canteiro cheio de versos.

Por sobre as nuvens, são tantos
devaneios e acalentos,
que o céu parece um coreto

de estrelas doidas, vadias,
declamando poesias
sob as nuvens de um soneto!!!

Estrofe do Dia


Para ser bom Trovador,
inteligência não basta,
que a cabeça se desgasta
e o Q.I. perde o valor!
É preciso estar marcado
com aquele dom sagrado
que em seu coração virá!
Sim, o estudo e a inteligência,
dão-lhe conceitos, fluência,
mas alma à Trova... quem dá?!
–CAROLINA RAMOS/SP–

Soneto do Dia

SOLIDÃO COMPANHEIRA.
–Alba Christina/SP–

A solidão chegou, sem companhia,
e eu, que já andava triste, e sem motivo,
me enamorei da sua voz macia
que dissolveu as ânsias em que vivo.

Por um momento apenas, a alegria
pareceu se afundar no mesmo crivo
onde a velha e constante nostalgia
tomou lugar da paz da qual me privo.

Num contrastante estilo malfadado,
eu comecei até a enxergar beleza,
onde, de um modo simples e estudado,

a solidão me diz, que com certeza
existe sempre um sol desgovernado
pairando sobre as nuvens da tristeza…

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://minhaconstelacao.blogspot.com/2011/04/aprendendo-regar.html

domingo, 31 de julho de 2011

Retorno das Postagens


VOLTEI!!!

As postagens começarão a se normalizar, com novidades, novos colaboradores assim como velhos colaboradores, Concursos da UBT São Paulo, onde tive o prazer de estar presente e acompanhar a solenidade de entrega de prêmios, a homenagem ao grande Trovador Ademar Macedo (do RN), aquele das mensagens poéticas, uma grande realização da UBT SP sob a batuta de Selma Spinelli, Domitila Beltrame, J B Xavier, Therezinha Brisolla, e outros trovadores de São Paulo. Lançamento de livros, contos, muita poesia, muitas trovas.

José Feldman

Fonte da Imagem:
http://www.senado.gov.br/portaldoservidor/jornal/jornal121/qualidade_vida_paz.aspx

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 277)


Uma Trova Nacional

Na estação do meu anseio,
nos perdemos de nós dois...
-Não foi o trem que não veio:
fui eu que cheguei depois...!
–PEDRO MELO/SP–

Uma Trova Potiguar

A bíblia é minha passagem,
meu porto, minha estação
e o norte em minha viagem
em busca da salvação.
–TARCÍSIO FERNANDES/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Nova Friburgo/RJ
Tema - ESCOLHA - M/H

Estou só... Mas sou feliz;
vou vivendo mesmo assim:
por escolhas que não fiz,
mas a vida fez por mim!
–SELMA PATTI SPINELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Aos Meus Irmãos Trovadores
e a Selma Patti, Saúdo...
Nestes versos, meus louvores:
Muito Obrigado por Tudo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Veja, amada companheira,
este quadro, que beleza.
Temos a família inteira
ao redor de nossa mesa.
–ALYDIO C. SILVA/MG–

Simplesmente Poesia

ÓRION.
–Edla Feitosa/PE–

Não está escuro !
Existe um jogo de luz e sombra
E um certo silêncio.
Órion muda de lugar
E me confunde ....
Um cão ladra ao longe
Um gato ágil escala telhados
A taça enche e esvazia
Como a maré que sussurra ao longe.
As nuvens cobrem as estrelas ....
E dói a solidão.

Estrofe do Dia

Roberto é rei da canção
do barro, foi Vitalino,
do cangaço, é Virgulino
o famoso lampião,
Gonzaga, rei do baião
Brasil foi rei do café,
do futebol foi Pelé,
pinto foi rei do repente,
existe um rei entre a gente:
PATATIVA DO ASSARÉ.
–Oliveira de Panelas/PE–

Soneto do Dia

AUSÊNCIA.
–Thalma Tavares/SP–

O teu jardim ainda está florido,
mas não refletem vida as suas flores.
Há um pálido lírio emurchecido
e a velha fonte já não tem rumores...

Há pela casa um pranto mal contido
gritando a tua falta em seus labores.
No quarto o teu retrato colorido
por tua culpa vai perdendo as cores.

No leito que era nosso, em desalinho,
reclamam, como eu, por teu carinho
as fronhas e os lençóis que perfumaste.

E este poema que a compor me atrevo,
no vazio da noite em que te escrevo,
é filho da saudade que deixaste.

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://reikiana.blogs.sapo.pt/arquivo/362362.html

Concursos da UBT São Paulo 2011 (Resultados Finais) 1a. Parte


















Concurso Nacional/Internacional da UBT São Paulo
Tema: Sal

Vencedores


A vida é drama brutal
para a criança sem nome,
em que a lágrima de sal
tempera o prato da fome!
ADILSON MAIA (Niterói/RJ)

Numa lágrima salgada
eis a vida resumida,
nas emoções da chegada
e nas dores da partida!
ADILSON MAIA (Niterói/RJ)

O rancor é um sal barato
que ao longo do tempo oxida
todas as faces do prato
no qual provamos a vida!
ANTONIO DE OLIVEIRA (Rio Claro/SP)

Por um contraste cruel,
de razões mal explicadas,
dos teus olhos cor de mel
descem lágrimas salgadas!
ARLINDO TADEU HAGEN (Belo Horizonte/MG)

Seria oposto e fatal
porém tão bom se assim fosse:
teu amor... um mar de sal
e o meu... um riacho doce!
CLENIR NEVES RIBEIRO (Nova Friburgo/RJ)

Por maior que seja o mal,
sê persistente na sina.
Uma montanha de sal
não resiste à chuva fina.
DULCIDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO (Juiz de Fora/MG)

Na festa plena de encanto
um brinde, um beijo, um anel...
E em vez de sal, no meu pranto
impera o gosto do mel!
ELEN DE NOVAIS FELIX (Niterói/RJ)

Numa paixão imortal,
minhas tristezas eu venço,
beijando o sabor de sal
que deixaste no meu lenço!
HERMOCLYDES SIQUEIRA FRANCO (Rio de Janeiro/RJ)

Por minha culpa partiste;
e o sal do pranto, sem dó,
agora, torna mais triste
o triste viver de um só...
JOSÉ TAVARES DE LIMA (Juiz de Fora/MG)

Deixei-te... Agora eu lamento
a decisão da partida,
pois vi que o arrependimento
põe gosto de sal na vida!
THEREZA COSTA VAL (Belo Horizonte/MG)

Depois de tua partida
por desavença banal,
o que foi "a doce vida"
hoje é uma vida sem sal!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ (Belo Horizonte/MG)

Mar agitado e bravio
foi teu amor sem ternura,
só me deixando um vazio
e as salinas da amargura.
WANDA DE PAULA MOURTHÉ (Belo Horizonte/MG)

VENCEDORES DO ÂMBITO INTERNACIONAL Tema: Sal

No auge duma tormenta
com teu corpo divinal,
no teu olhar há pimenta
e os beijos sabem a sal.
ANTÓNIO JOSÉ BARRADAS BARROSO (Parede/Portugal)

O teu riso é o sal da vida
que tempera as emoções.
Traz de volta a fé perdida
e do pranto faz canções.
DOMINGOS FREIRE CARDOSO (Ilhavo/Portugal)

Se o ciúme é o sal do amor
como muita gente diz...
Só provoca dissabor
e não faz ninguém feliz.
EMÍLIA PEÑALBA DE ALMEIDA ESTEVES (Porto/Portugal)

Lábios doces e dourados
que a sul o sol faz tostar,
regalam beijos salgados
com vento vindo do mar.
VICTOR MANUEL CAPELA BATISTA (Barreiro/Portugal)

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Nota por J. B. Xavier:
O verbo saber, em Portugal tem uso e significado mais abrangente que no Brasil.
É uma diferença sutil e muito dificil de explicar cognitivamente.

No caso da trova cujo verso é "e os beijos sabem a sal", o significado do verso se aproxima de: "os beijos tem gosto de sal" ou, "sabe o gosto de sal? os beijos tem esse gosto".

Viu como é dificil dar um sentido exato? Mas em Portugal, o verso está perfeito. E, se é um concurso internacional, há que se respeitar os estrangeirismos.

CONCURSO ASSINANTES DO INFORMATIVO Âmbito Nacional: Vencedores Tema: Duna

As minhas mãos, em desvelos,
vão surfando, sem receios,
nas ondas dos teus cabelos
rumo às dunas dos teus seios.
ARLINDO TADEU HAGEN (Belo Horizonte/MG)

Paciência e lentidão
constroem coisas perfeitas.
Reparem: de grão em grão
aquelas dunas são feitas!
CÉLIA GUIMARÃES SANTANA (Sete Lagoas/MG)

Durante o sono do Sol,
enquanto a Lua desperta,
tomo a duna por lençol
e as estrelas por coberta...
ÉLBEA PRISCILLA DE SOUSA E SILVA (Caçapava/SP)

Ondulantes areias,
ao sabor do vento incerto,
as dunas são sensuais
odaliscas do deserto...
ÉLBEA PRISCILLA DE SOUSA E SILVA (Caçapava/SP)

Brincando, o vento travesso
pelas areias se espraia,
enquanto muda o endereço
das brancas dunas da praia!
ELEN DE NOVAIS FELIX (Niterói/RJ)

O mar num longo suspiro
inveja a serenidade
da brisa que faz seu giro
pelas dunas da saudade.
ELEN DE NOVAIS FELIX (Niterói/RJ)

As dunas que, à beira-mar,
tanto encantam nossa vista,
por certo, querem provar
que o vento é também artista...
JOSÉ TAVARES DE LIMA (Juiz de Fora/MG)

No deserto desta vida,
sozinho e de amor sedento,
sou triste duna esquecida,
que espera o afago de um vento!...
JOSÉ TAVARES DE LIMA (Juiz de Fora/MG)

Já na planície, alquebrada,
transcendo tempo e distância:
procuro a duna encantada
dos sonhos da minha infância!
JOSÉ VALDEZ DE CASTRO MOURA (Pindamonhangaba/SP)

Paixões - eu digo e sustento -
pela inconstância da forma
são dunas de sentimento
que o tempo varre e transforma!...
MARIA HELENA DE C. COSTA (Ponta Grossa/PR)

Sob a luz da lua cheia,
as dunas fazem lembrar
lençóis corando na areia
que o vento enruga ao passar!
MARIA MADALENA FERREIRA (Magé/RJ)

Às vezes, grandes fortunas
têm uma vida fugaz:
são semelhantes a dunas
que o vento faz... e desfaz!...
MARIA MADALENA FERREIRA (Magé/RJ)

No deserto, eu penso, absorto
ante as dunas em cadeia:
são as ondas de um mar morto,
que o vento esculpe na areia!!!
MARIA MADALENA FERREIRA (Magé/RJ)

Nas miragens de um deserto
em que vivo, hoje, os meus dias,
sei que os sonhos que acoberto
são dunas de fantasias...
THEREZA COSTA VAL (Belo Horizonte/MG)

Aquela duna imponente,
que na paisagem se alteia,
tem na origem, certamente,
minúsculos grãos de areia.
VANDA FAGUNDES QUEIROZ (Curitiba/PR)

Teu amor, em nossa história,
inconstante, me atormenta,
feito duna migratória
que o vento não sedimenta...
WANDA DE PAULA MOURTHÉ (Belo Horizonte/MG)

ASSINANTE INTERNACIONAL Tema: Duna

Minha vida é um grão de areia
em duna perto do mar
enfrentando a maré cheia
que consigo a quer levar...
DOMINGOS FREIRE CARDOSO (Ilhavo/Portugal)

CONCURSO INTERSEDES DA UNIÃO BRASILEIRA DE TROVADORES

Seção Vencedora em 2010 - São Paulo/ SP
Trovadora: Marina Bruna
Tema: Jura

VENCEDORA 2011

De mim... tu juras que gostas...
- Mas, tal cinismo realças,
que eu juro - até de mãos postas! -
que as tuas juras são falsas!!!
MARIA MADALENA FERREIRA (Rio de Janeiro/RJ)

MENÇÕES HONROSAS

Erra feio quem calcula
na equação da vida a dois,
que uma mentira se anula
quando há uma jura depois!
ANTONIO DE OLIVEIRA (Rio Claro/SP)

Puseste-me na clausura!
E hoje, em sonhos sem sentido,
eu me alimento da jura
que murmuras noutro ouvido.
MANOEL CAVALCANTE DE SOUZA CASTRO - Natal/RN

Na igreja, em rito divino,
nossa jura faz supor
que as badaladas do sino
são de aplauso ao nosso amor!
WANDA DE PAULA MOURTHÉ (Belo Horizonte/MG)

Continua... Concurso Associados da Seção São Paulo/SP Concurso Humorístico Associados da Seção São Paulo/SP Homenagem ao Nordeste Homenagem a Ademar Macedo

Fonte:
Revista "Concursos UBT São Paulo - 2011"
Fotos: J B Xavier e José Feldman

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 276)


Uma Trova Nacional

Brigamos, mas a tormenta
em instantes se desfaz;
um grande amor sempre inventa
um arco-íris de paz!...
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–

Uma Trova Potiguar

A seca nos causa pena,
mas nosso povo se veste
desta saúde morena,
tingida ao sol do nordeste
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN–

Uma Trova Premiada


2005 - Nova Friburgo/RJ
Tema: MOTIVO - M/E

Quando a inspiração vagueia
à procura de um motivo,
o meu passado passeia
em cada verso que eu vivo!
–SELMA PATTY SPNILELLI/SP–

Uma Trova de Ademar

Sedento dos teus abraços
num desejo que é só nosso,
quero correr pra os teus braços
mas de muletas... Não posso!...
–ADEMAR MACEDO/RN–(PARA MINHA ESTRELA DALVA!)

...E Suas Trovas Ficaram

A chuva que cai serena
quando a seca surge agreste,
faz a ponte de safena
no coração do nordeste.
–HILDEMAR DE ARAÚJO/BA–

Simplesmente Poesia

–SERGIO AUGUSTO SEVERO/RN–
Xaxado

De "Apragatas de Rabicho",
chapéu de Couro e Gibão,
os "Cabras de Lampião",
vão xaxando, "no capricho"!

"Matanto o Bicho", a Cachaça
"Papo-Amarelo" na mão,
e cortando a escuridão,
os lampeões, lá da Praça.

Pé à frente, deslizando,
num vai e vem levantando
a poeira, sem ter medo...

numa Dança, sem Parceira,
vai xaxando a Tropa inteira,
no Nordestino Folguedo !

Estrofe do Dia

Fica triste o cantar dos sabiás,
se a graúna, cantar, canta de dor;
fica mudo o concriz e o beija-flor
de tristeza e de dor não voa mais;
se esta morte abalou os animais
imaginem a dor do seu irmão
ao ensaiar na viola uma canção
que ele fez para o mano Vitorino;
quando morre um poeta nordestino
nasce um pé de saudade no sertão.
(ADEMAR MACEDO/RN)
(homenagem Póstuma ao Poeta Diniz Vitorino)


Soneto do Dia

–PEDRO ORNELLAS/SP–
Refúgio

Todo poeta tem, por ser poeta,
um mundo à parte, pleno de magia!
Só ele sabe a porta, que é secreta,
fronteira entre o real e a fantasia.

Ali depõe a mágoa que o alfineta,
se o mundo o fere, ali se refugia...
É ali que encontra a paz e se completa
quando conversa, a sós, com a poesia.

Nesse lugar que a mente humana cria
o Amor é a lei, o bem a ordem-do-dia,
o idioma é a Paz e quem governa é a Arte!

Não é um lugar nas dimensões terrenas,
mas um estágio ao qual se eleva apenas
quem da Poesia faz seu mundo à parte!

Fontes:
Textos enviados pelo Autor
Imagem = http://gifsj.blogspot.com/2011/01/gifs-arco-iris.html

terça-feira, 19 de julho de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 275)



Uma Trova Nacional

Ao vê-la, sente que a odeia,
fica tenso e encolhe a pança...
todo dia a briga é feia
entre um gordo... e uma balança!
–TEREZINHA BRISOLLA/SP–

Uma Trova Potiguar

Eu choro igual Madalena,
pra não perder uma farra.
Mas, pra missa ou pra novena,
eu só vou, se for na marra!
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Trova Premiada

2003 - Belém/PA
Tema: CORETO - M/E


No coreto, atrapalhado,
o maestro me dá dó:
prometeu tocar dobrado
mas tocou uma vez só...
–MARINA BRUNA/SP–

Uma Trova de Ademar

Pelas “coisas” que fazia,
vive o malandro enjaulado;
usando de noite a dia
o seu “pijama listrado”.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


A solteirona infeliz
viu sua casa assaltada,
ladrão levou o que quis:
menos a pobre coitada.
–GRAZIELA LYDIA MONTEIRO/MG–

Simplesmente Poesia


MOTE:
“Veado” talvez não seja,
mas trejeitos ele tem.

GLOSA:
Em qualquer canto que esteja
quer sentado, quer de pé,
parece mais que é mulher,
“veado”, talvez não seja.
Toda mão que aperta beija,
chama todos de meu bem,
casar, não quer com ninguém
e só fala afeminado;
pode até não ser veado,
mas trejeitos ele tem.
–LUIZ XAVIER/RN–

Estrofe do Dia


Lá em casa a crise é tanta
que eu nem sei como resisto,
a roupa que estou usando
é minha e do Evaristo,
quando em não visto, ele veste;
quando ele não veste, eu visto.
AFONSO PEQUENO/PE–

Soneto do Dia


–LUIZ LEITÃO/PE–
Na Loja

Seguida da vovó, meiga e bonita,
ela entrou numa loja, no armarinho...
– Tem fita de cetim azul-marinho?
Qual o preço? –perguntou ela, catita.

Um beijo cada metro, senhorita!
Respondeu-lhe o caixeiro com carinho.
– É muito caro, mas, enfim, mocinho,
corte-me doze metros desta fita!

Já se sabe: o caixeiro como um raio,
cortava a fita quase num desmaio
sem ter sequer da tesourinha dó.

– Pronto, formosa! O pagamento agora...
E a moça lhe responde sem demora:
– Adeus! Quem paga as compras é a vovó...

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Cesário Verde (Caravelas da Poesia)



EU E ELA

Cobertos de folhagem, na verdura,
O teu braço ao redor do meu pescoço,
O teu fato sem ter um só destroço,
O meu braço apertando-te a cintura;

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
Sobre um banco de mármore assentados.
Na sombra dos arbustos, que abraçados,
Beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos,
Sem gozos sensuais, sem más ideias,
Esquecendo para sempre as nossas ceias,
E a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
Dos mistérios que estão para além das lousas,
Onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distracção,
Leremos bons romances galhofeiros,
Gozaremos assim dias inteiros,
Formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
Nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos-Sanctorum místico e devoto
E o laxo Cavalheiro de Flaublas...

ARROJOS

Se a minha amada um longo olhar me desse
Dos seus olhos que ferem como espadas,
Eu domaria o mar que se enfurece
E escalaria as nuvens rendilhadas.

Se ela deixasse, extático e suspenso
Tomar-lhe as mãos "mignonnes" e aquecê-las,
Eu com um sopro enorme, um sopro imenso
Apagaria o lume das estrelas.

Se aquela que amo mais que a luz do dia,
Me aniquilasse os males taciturnos,
O brilho dos meus olhos venceria
O clarão dos relâmpagos nocturnos.

Se ela quisesse amar, no azul do espaço,
Casando as suas penas com as minhas,
Eu desfaria o Sol como desfaço
As bolas de sabão das criancinhas.

Se a Laura dos meus loucos desvarios
Fosse menos soberba e menos fria,
Eu pararia o curso aos grandes rios
E a terra sob os pés abalaria.

Se aquela por quem já não tenho risos
Me concedesse apenas dois abraços,
Eu subiria aos róseos paraísos
E a Lua afogaria nos meus braços.

Se ela ouvisse os meus cantos moribundos
E os lamentos das cítaras estranhas,
Eu ergueria os vales mais profundos
E abateria as sólidas montanhas.

E se aquela visão da fantasia
Me estreitasse ao peito alvo como arminho,
Eu nunca, nunca mais me sentaria
Às mesas espelhentas do Martinho.

Cesário Verde
Lisboa, Diário de Notícias, 22 de Março de 1874

O SENTIMENTO DUM OCIDENTAL

I

Avé-Maria

Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.

O céu parece baixo e de neblina,
O gás extravasado enjoa-me, perturba;
E os edifícios, com as chaminés, e a turba
Toldam-se duma cor monótona e londrina.

Batem carros de aluguer, ao fundo,
Levando à via-férrea os que se vão. Felizes!
Ocorrem-me em revista, exposições, países:
Madrid, Paris, Berlim, S. Petersburgo, o mundo!

Semelham-se a gaiolas, com viveiros,
As edificações somente emadeiradas:
Como morcegos, ao cair das badaladas,
Saltam de viga em viga os mestres carpinteiros.

Voltam os calafates, aos magotes,
De jaquetão ao ombro, enfarruscados, secos;
Embrenho-me, a cismar, por boqueirões, por becos,
Ou erro pelos cais a que se atracam botes.

E evoco, então, as crónicas navais:
Mouros, baixéis, heróis, tudo ressuscitado!
Luta Camões no Sul, salvando um livro a nado!
Singram soberbas naus que eu não verei jamais!

E o fim da tarde inspira-me; e incomoda!
De um couraçado inglês vogam os escaleres;
E em terra num tinir de louças e talheres
Flamejam, ao jantar alguns hotéis da moda.

Num trem de praça arengam dois dentistas;
Um trôpego arlequim braceja numas andas;
Os querubins do lar flutuam nas varandas;
Às portas, em cabelo, enfadam-se os lojistas!

Vazam-se os arsenais e as oficinas;
Reluz, viscoso, o rio, apressam-se as obreiras;
E num cardume negro, hercúleas, galhofeiras,
Correndo com firmeza, assomam as varinas.

Vêm sacudindo as ancas opulentas!
Seus troncos varonis recordam-me pilastras;
E algumas, à cabeça, embalam nas canastras
Os filhos que depois naufragam nas tormentas.

Descalças! Nas descargas de carvão,
Desde manhã à noite, a bordo das fragatas;
E apinham-se num bairro aonde miam gatas,
E o peixe podre gera os focos de infecção!

II

Noite Fechada

Toca-se às grades, nas cadeias. Som
Que mortifica e deixa umas loucuras mansas!
O Aljube, em que hoje estão velhinhas e crianças,
Bem raramente encerra uma mulher de <>!

E eu desconfio, até, de um aneurisma
Tão mórbido me sinto, ao acender das luzes;
À vista das prisões, da velha Sé, das Cruzes,
Chora-me o coração que se enche e que se abisma.

A espaços, iluminam-se os andares,
E as tascas, os cafés, as tendas, os estancos
Alastram em lençol os seus reflexos brancos;
E a Lua lembra o circo e os jogos malabares.

Duas igrejas, num saudoso largo,
Lançam a nódoa negra e fúnebre do clero:
Nelas esfumo um ermo inquisidor severo,
Assim que pela História eu me aventuro e alargo.

Na parte que abateu no terremoto,
Muram-me as construções rectas, iguais, crescidas;
Afrontam-me, no resto, as íngremes subidas,
E os sinos dum tanger monástico e devoto.

Mas, num recinto público e vulgar,
Com bancos de namoro e exíguas pimenteiras,
Brônzeo, monumental, de proporções guerreiras,
Um épico doutrora ascende, num pilar!

E eu sonho o Cólera, imagino a Febre,
Nesta acumulação de corpos enfezados;
Sombrios e espectrais recolhem os soldados;
Inflama-se um palácio em face de um casebre.

Partem patrulhas de cavalaria
Dos arcos dos quartéis que foram já conventos:
Idade Média! A pé, outras, a passos lentos,
Derramam-se por toda a capital, que esfria.

Triste cidade! Eu temo que me avives
Uma paixão defunta! Aos lampiões distantes,
Enlutam-me, alvejando, as tuas elegantes,
Curvadas a sorrir às montras dos ourives.

E mais: as costureiras, as floristas
Descem dos magasins, causam-me sobressaltos;
Custa-lhes a elevar os seus pescoços altos
E muitas delas são comparsas ou coristas.

E eu, de luneta de uma lente só,
Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:
Entro na brasserie; às mesas de emigrados,
Ao riso e à crua luz joga-se o dominó.

III

Ao gás

E saio. A noite pesa, esmaga. Nos
Passeios de lajedo arrastam-se as impuras.
Ó moles hospitais! Sai das embocaduras
Um sopro que arripia os ombros quase nus.

Cercam-me as lojas, tépidas. Eu penso
Ver círios laterais, ver filas de capelas,
Com santos e fiéis, andores, ramos, velas,
Em uma catedral de um comprimento imenso.

As burguesinhas do Catolicismo
Resvalam pelo chão minado pelos canos;
E lembram-me, ao chorar doente dos pianos,
As freiras que os jejuns matavam de histerismo.

Num cutileiro, de avental, ao torno,
Um forjador maneja um malho, rubramente;
E de uma padaria exala-se, inda quente,
Um cheiro salutar e honesto a pão no forno.

E eu que medito um livro que exacerbe,
Quisera que o real e a análise mo dessem;
Casas de confecções e modas resplandecem;
Pelas vitrines olha um ratoneiro imberbe.

Longas descidas! Não poder pintar
Com versos magistrais, salubres e sinceros,
A esguia difusão dos vossos reverberos,
E a vossa palidez romântica e lunar!

Que grande cobra, a lúbrica pessoa,
Que espartilhada escolhe uns xales com debuxo!
Sua excelência atrai, magnética, entre luxo,
Que ao longo dos balcões de mogno se amontoa.

E aquela velha, de bandós! Por vezes,
A sua trai^ne imita um leque antigo, aberto,
Nas barras verticais, a duas tintas. Perto,
Escarvam, à vitória, os seus mecklemburgueses.

Desdobram-se tecidos estrangeiros;
Plantas ornamentais secam nos mostradores;
Flocos de pós-de-arroz pairam sufocadores,
E em nuvens de cetins requebram-se os caixeiros.

Mas tudo cansa! Apagam-se nas frentes
Os candelabros, como estrelas, pouco a pouco;
Da solidão regouga um cauteleiro rouco;
Tornam-se mausoléus as armações fulgentes.

E, nas esquinas, calvo, eterno, sem repouso,
Pede-me esmola um homenzinho idoso,
Meu velho professor nas aulas de Latim!

IV

Horas mortas

O tecto fundo de oxigénio, de ar,
Estende-se ao comprido, ao meio das trapeiras;
Vêm lágrimas de luz dos astros com olheiras,
Enleva-me a quimera azul de transmigrar.

Por baixo, que portões! Que arruamentos!
Um parafuso cai nas lajes, às escuras:
Colocam-se taipais, rangem as fechaduras,
E os olhos dum caleche espantam-me, sangrentos.

E eu sigo, como as linhas de uma pauta
A dupla correnteza augusta das fachadas;
Pois sobem, no silêncio, infaustas e trinadas,
As notas pastoris de uma longínqua flauta.

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
Esqueço-me a prever castíssimas esposas,
Que aninhem em mansões de vidro transparente!

Ó nossos filhoes! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!
Eu quero as vossas mães e irmãs estremecidas,
Numas habitações translúcidas e frágeis.

Ah! Como a raça ruiva do porvir,
E as frotas dos avós, e os nómadas ardentes,
Nós vamos explorar todos os continentes
E pelas vastidões aquáticas seguir!

Mas se vivemos, os emparedados,
Sem árvores, no vale escuro das muralhas!...
Julgo avistar, na treva, as folhas das navalhas
E os gritos de socorro ouvir, estrangulados.

E nestes nebulosos corredores
Nauseiam-me, surgindo, os ventres das tabernas;
Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as pernas,
Cantam, de braço dado, uns tristes bebedores.

Eu não receio, todavia, os roubos;
Afastam-se, a distância, os dúbios caminhantes;
E sujos, sem ladrar, ósseos, febris, errantes,
Amareladamente, os cães parecem lobos.

E os guardas, que revistam as escadas,
Caminham de lanterna e servem de chaveiros;
Por cima, as imorais, nos seus roupões ligeiros,
Tossem, fumando sobre a pedra das sacadas.

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés, de fel, como um sinistro mar!

Manias!

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

LÚBRICA

Mandaste-me dizer,
No teu bilhete ardente,
Que hás-de por mim morrer,
Morrer muito contente.

Lançaste no papel
As mais lascivas frases;
A carta era um painel
De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,
Teus dedos delicados
Traçaram do prazer
Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar
É muito mais fogoso,
Que a febre epistolar
Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval
Os olhos tão nefandos
Traduzem menos mal
Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais
Libidinosa Marta,
Teus olhos dizem mais
Que a tua própria carta.

As grandes comoções
Tu, neles, sempre espelhas;
São lúbricas paixões
As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,
Mulher, que me dissecas,
Teus olhos dizem mais,
Que muitas bibliotecas!

EU, QUE SOU FEIO...

Eu, que sou feio, sólido, leal,
A ti, que és bela, frágil, assustada,
Quero estimar-te, sempre, recatada
Numa existência honesta, de cristal.

Sentado à mesa dum café devasso.
Ao avistar-te, há pouco, fraca e loura.
Nesta Babel tão velha e corruptora,
Tive tenções de oferecer-te o braço.

E, quando socorreste um miserável,
Eu que bebia cálices de absinto,
Mandei ir a garrafa, porque sinto
Que me tornas prestante, bom, saudável.

«Ela aí vem!» disse eu para os demais;
E pus-me a olhar, vexado e suspirando,
O teu corpo que pulsa, alegre e brando,
Na frescura dos linhos matinais.

Via-te pela porta envidraçada;
E invejava, - talvez não o suspeites!-
Esse vestido simples, sem enfeites,
Nessa cintura tenra, imaculada.

Ia passando, a quatro, o patriarca.
Triste eu saí. Doía-me a cabeça.
Uma turba ruidosa, negra, espessa,
Voltava das exéquias dum monarca.

Adorável! Tu muito natural,
Seguias a pensar no teu bordado;
Avultava, num largo arborizado,
Uma estátua de rei num pedestal.

CONTRARIEDADES

Eu hoje estou cruel, frenético, exigente;
Nem posso tolerar os livros mais bizarros.
Incrível! Já fumei três maços de cigarros
Consecutivamente.

Dói-me a cabeça. Abafo uns desesperos mudos:
Tanta depravação nos usos, nos costumes!
Amo, insensatamente, os ácidos, os gumes
E os ângulos agudos.

Sentei-me à secretária. Ali defronte mora
Uma infeliz, sem peito, os dois pulmões doentes;
Sofre de faltas de ar, morreram-lhe os parentes
E engoma para fora.

Pobre esqueleto branco entre as nevadas roupas!
Tão lívida! O doutor deixou-a. Mortifica.
Lidando sempre! E deve conta à botica!
Mal ganha para sopas...

O obstáculo estimula, torna-nos perversos;
Agora sinto-me eu cheio de raivas frias,
Por causa dum jornal me rejeitar, há dias,
Um folhetim de versos.

Que mau humor! Rasguei uma epopeia morta
No fundo da gaveta. O que produz o estudo?
Mais uma redacção, das que elogiam tudo,
Me tem fechado a porta.

A crítica segundo o método de Taine
Ignoram-na. Juntei numa fogueira imensa
Muitíssimos papéis inéditos. A Imprensa
Vale um desdém solene.

Com raras excepções, merece-me o epigrama.
Deu meia-noite; e a paz pela calçada abaixo,
Um sol-e-dó. Chovisca. O populacho
Diverte-se na lama.

Eu nunca dediquei poemas às fortunas,
Mas sim, por deferência, a amigos ou a artistas.
Independente! Só por isso os jornalistas
Me negam as colunas.

Receiam que o assinante ingénuo os abandone,
Se forem publicar tais coisas, tais autores.
Arte? Não lhes convém, visto que os seus leitores
Deliram por Zaccone.

Um prosador qualquer desfruta fama honrosa,
Obtém dinheiro, arranja a sua "coterie";
Ea mim, não há questão que mais me contrarie
Do que escrever em prosa.

A adulaçãao repugna aos sentimento finos;
Eu raramente falo aos nossos literatos,
E apuro-me em lançar originais e exactos,
Os meus alexandrinos...

E a tísica? Fechada, e com o ferro aceso!
Ignora que a asfixia a combustão das brasas,
Não foge do estendal que lhe humedece as casas,
E fina-se ao desprezo!

Mantém-se a chá e pão! Antes entrar na cova.
Esvai-se; e todavia, à tarde, fracamente,
Oiço-a cantarolar uma canção plangente
Duma opereta nova!

Perfeitamente. Vou findar sem azedume.
Quem sabe se depois, eu rico e noutros climas,
Conseguirei reler essas antigas rimas,
Impressas em volume?

Nas letras eu conheço um campo de manobras;
Emprega-se a "réclame", a intriga, o anúncio, a "blague",
E esta poesia pede um editor que pague
Todas as minhas obras...

E estou melhor; passou-me a cólera. E a vizinha?
A pobre engomadeira ir-se-á deitar sem ceia?
Vejo-lhe a luz no quarto. Inda trabalha. É feia...
Que mundo! Coitadinha!
--

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN

Cesário Verde (1855 - 1886)



José Joaquim Cesário Verde (Lisboa, 25 de Fevereiro de 1855 — Lumiar, 19 de Julho de 1886) foi um poeta português, sendo considerado um dos precursores da poesia que seria feita em Portugal no século XX.

Filho do lavrador e comerciante José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde, Cesário matriculou-se no Curso Superior de Letras em 1873, mas apenas o frequentou alguns meses. Ali conheceu Silva Pinto, que ficou seu amigo para o resto da vida. Dividia-se entre a produção de poesias (publicadas em jornais) e as actividades de comerciante herdadas do pai.

Em 1877 começou a ter sintomas de tuberculose, doença que já lhe tirara o irmão e a irmã. Estas mortes inspiraram contudo um de seus principais poemas, Nós (1884).

Tenta curar-se da tuberculose, mas sem sucesso, vem a falecer no dia 19 de Julho de 1886. No ano seguinte Silva Pinto organiza O Livro de Cesário Verde, compilação da sua poesia publicada em 1901.

No seu estilo delicado, Cesário empregou técnicas impressionistas, com extrema sensibilidade ao retratar a Cidade e o Campo, que são os seus cenários predilectos. Evitou o lirismo tradicional, expressando-se de uma forma mais natural.

A DICOTOMIA CIDADE/CAMPO

A supremacia exercida pela cidade sobre o campo leva o poeta a tratar estes dois espaços em termos dicotómicos. O contacto com o campo na sua infância determina a visão que dele nos dá e a sua preferência. Ao contrário de outros poetas anteriores, o campo não tem um aspecto idílico, paradisíaco, bucólico, susceptível de devaneio poético, mas sim um espaço real, concreto, autêntico, que lhe confere liberdade. O campo é um espaço de vitalidade, alegria, beleza, vida saudável… Na cidade, o ambiente físico, cheio de contrastes, apresenta ruas macadamizadas/esburacadas, casas apalaçadas (habitadas pelos burgueses e pelos ociosos)/quintalórios velhos, edifícios cinzentos e sujos… O ambiente humano é caracterizado pelos calceteiros, cuja coluna nunca se endireita, pelos padeiros cobertos de farinha, pelas vendedeiras enfezadas, pelas engomadeiras tísicas, pelas burguesinhas… É neste sentido que podemos reconhecer a capacidade de Cesário Verde em trazer para a poesia o real quotidiano do homem citadino.

Ao ler-se o poema "De Tarde", pertencente a "Em Petiz", é visível o tom irónico em relação aos citadinos, mas onde o tom eufórico também sobressai, ao percorrer os lugares campestres ao lado da sua "companheira". A preferência do poeta pelo campo está expressa nos poemas "De Verão" e "Nós" (o mais longo), onde desaparecem a aspereza e a doença ligadas à vida citadina e surge o elogio ao ambiente campesino. A arte de Cesário Verde é, pois, reveladora de uma preocupação social e intervém criticamente. O campo oferece ao poeta uma lição de vida multifacetada (por exemplo, os camponeses são retratados no seu trabalho diário) que ele transmite com objectividade e realismo. Trata-se, pois, de uma visão concreta do campo e não da abstracção da Natureza.

A força inspiradora de Cesário é a terra-mãe, sendo nela que Cesário encontra os seus temas. É por isto que, habitualmente, se associa o poeta ao mito de Anteu.

A mulher em Cesário Verde

Deambulando pelos dois espaços, depara com dois tipos de mulher, que estão articulados com os locais. A cidade maldita surge associada à mulher fatal, frívola, calculista, madura, destrutiva, dominadora, sem sentimentos. Em contraste com esta mulher predadora, surge um tipo feminino, por exemplo em "A Débil", que é o oposto complementar das esplêndidas aristocráticas, presentes em poemas como "Deslumbramentos" e "Vaidosa". Essa mulher é frágil, terna, ingénua e despretensiosa.

Outra perspectiva nos é mostrada da mulher (desfavorecida) no campo . A vendedora em "Num Bairro Moderno", ou a engomadeira em "Contrariedades" mostram as características da mulher do povo no campo. Sempre feias, pobres e por vezes doentes, ou em esforço físico, as mulheres trabalhadoras são objecto da admiração de Cesário.

"Depois de referir o cenário geral da acção em "Num Bairro Moderno", os olhos do sujeito poético retêm, como uma objectiva, um elemento novo - a vendedeira. A sua caracterização é de uma duplicidade contrastante: ela é pobre, anémica, feia, veste mal e tem de trabalhar para sobreviver, mas aparece envolvida numa força quase épica, de "peito erguido" e "pulsos nas ilhargas", encarnando, pela sua castidade, a força genuína do povo trabalhador, que Cesário tão bem defende."

A poética de Cesário e as escolas literárias

Podemos afirmar a sua aproximação a várias estéticas, embora seja visível a proximidade com Baudelaire, por retratar realidades cotidianas, o que o aproxima dos poetas portugueses do século XX e o fez incompreendido em seu tempo.

Embora Cesário Verde não pudesse ser enquadrado em nenhuma das escolas poéticas dos países de língua portuguesa da época podemos dizer que ele não poderia não estar relacionado às estéticas do seu tempo de alguma forma. Se se tiver em conta o interesse pela captação do real, por exemplo, ao considerarmos o tipo de cena a serem retratadas pelas quais o poeta optou, seus quadros e figuras citadinos, concretos, plásticos e coloridos, é fácil detectar aqui a afinidade ao Realismo. A ligação aos ideais do Naturalismo verifica-se na medida em que o meio surge determinante dos comportamentos. Se considerarmos o fato do poeta figurar plasticamente uma cena, poderia aproximá-lo, inclusive, do Parnasianismo. Porém, sua obra ainda tem um certo sentimentalismo que remete ao Romantismo e as imagens retratadas, muitas vezes de personagens doentes ou pobres, jamais poderiam ser retratadas por um parnasiano.

Aproxima-se dos impressionistas que captam a realidade mas que a retratam já filtrada pelas percepções, o que, definitivamente, o inscreve no quadro dos poetas fundadores da modernidade. Ecos de sua obra podem ser vistos nos poemas de Fernando Pessoa, parecendo Cesário Verde o predecessor do heterônimo Álvaro de Campos de Opiário e sendo citado várias vezes por Alberto Caeiro.

Importância da representação do cotidiano na poesia de Cesário Verde

A observação das situações do quotidiano é o ponto de partida preferencial para os poemas de Cesário Verde. É o mundo real, rotineiro, que é retratado e analisado, servindo de suporte às ideias e sentimentos do poeta.

Os sujeitos poéticos criados por Cesário Verde são atentos ao que se passa. Aquilo que para outro transeunte seria uma banalidade é, na perspectiva do poeta, parte de um quadro do real. Veja-se que antes de se focar numa situação particular, que prenda a atenção, o poeta dá-nos uma visão geral do ambiente: "Dez horas da manhã, os transparentes/Matizam uma casa apalaçada(…)E fere a vista, com brancuras quentes, a larga rua macadamizada" (em "Num bairro moderno"). Mas, apesar de existirem situações particulares, estas poderiam ser integradas no movimento quotidiano de uma rua de uma cidade onde "(…) rota, pequenina azafamada,/Notei de costas uma rapariga" (em "Num bairro moderno"), mas que para o sujeito poético tomam uma nova dimensão. Um processo análogo pode verificar-se em "Cristalizações", onde as primeiras estrofes constituem uma visão panorâmica, para se focar mais à frente nos "calceteiros" ou na "actrizita".

É essencialmente destacado o quotidiano urbano, onde o sujeito poético deambula, sendo o poema "O sentimento de um ocidental" aquele em que é mais clara a descrição do dia-a-dia como ponto de partida para a revolta contra a vivência desumana da cidade. Aliás, Cesário Verde está longe de se deixar na passividade da observação casual, e repara naquilo, que tendo-se tornado parte de cada dia, é um factor de animalização e doença. Outras vezes, partindo da realidade, transfigura-a, num impulso salutar, em que tudo parece tomar formas orgânicas e vivas em oposição ao emparedamento das ruas da cidade: "Se eu transformasse os simples vegetais, num ser humano que se mova e exista/Cheio de belas proporções carnais?!".
Linguagem e estilo

Eis algumas das características estilísticas e linguísticas: vocabulário objectivo; imagens extremamente visuais de modo a dar uma dimensão realista do mundo (daí poeta-pintor-calceteiro-condutor de metro); pormenor descritivo; mistura o físico e o moral; combina sensações; usa sinestesias, metáforas, comparações, hipálage; emprega dois ou mais adjectivos a qualificar o mesmo substantivo; quadras, em versos decassilábicos ou versos alexandrinos.

Fonte:
Wikipedia