sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Gena Maria (Divagações Poéticas)


O POETA QUANDO CHORA

Suas palavras são coloridas
como as cores do arco-íris
O poeta quando chora
Deixa a emoção falar mais alto
e transporta para o papel
toda a sua dor contida

O poeta quando chora
escreve seus lindos versos
deixando o coração falar
sobre a dor que tem no peito
falando do amor, da saudade
da tristeza, sem maldade

O poeta quando chora
dizendo tudo que sente
leva consigo outros amores
outros corações também
machucados pela
mesma dor do amor

O poeta quando chora
leva a todos os cantos seus versos
emocionando sempre com suas
líricas palavras de amor e dor

O poeta quando chora
faz chorar também, quem ama
quem sente saudade de um amor,
que se foi deixando em seu lugar,
alegria, tristeza e a dor!
FALANDO DE AMOR...

Como é bom falar de amor!
Sentir o coração bater forte
Saltitante, como se fosse pular
Do nosso peito em chamas!

Como é bom amar e sentir-se amado
Saber que mesmo estando longe
Tem alguém pensando em você...
Com a mesma saudade e a mesma saudade...
É uma vontade de estar junto, de se abraçar
Como se aquele momento fosse o último!

Como é bom beijar e sentir que
O mesmo desejo está nos lábios
De quem nos beija, com o mesmo ímpeto
Da paixão adolescente, ofegante e desejoso
De que esta emoção nunca se acabe!

Como é bom amar e ouvir
A voz do seu amado dizendo...
Muitas vezes, bobagens... Outras vezes,
Palavras profundas e sinceras!

Como é bom amar e poder dizer:
"Eu amo você meu amor e,
vou amá-lo eternamente!"

PROCURO UM AMOR

Procuro um amor
Que me faça sonhar... realizar fantasias...
Esquecer o ontem... viver o hoje
sem pensar no amanhã...

Procuro um amor
Que me veja linda por dentro e bela por fora
Ouvindo-me com atenção e me fazendo carinhos

Procuro um amor
Que ao findar do dia chegue saudoso de meus beijos
Abraçando-me com saudade, dizendo palavras de amor

Procuro um amor
Que não me troque por amigos ao entardecer
E ao chegar me procure com muito ardor

Procuro um amor
Que me ame acima de tudo e de todos
Que me faça sentir o quão importante sou

Procuro um amor
Que ao anoitecer me beije com carinho
Que tire minha roupa, me ame inteira...
Que me faça ir aos céus pedindo mais e mais...
Que me faça sentir, que sou a mulher de sua vida

Procuro um amor
Maior que eu, maior que nós, único e grandioso
Para que eu esqueça que nesta vida conheci
Alguém como você…
DE TOMBOS EM TOMBOS

Tanto fiz, tanto fiz que acabei assim
Sem você e muito machucada!
Ontem, seu amor era só meu...
Hoje, ele é de quem estiver por perto...
Amanhã sei lá, de quem será!
Nesta vida, o amor é assim
sempre nos pregando peças!
Quando pensamos que amamos,
de repente, descobrimos que não!
Quando pensamos ser amados,
de repente, somos abandonados!
E assim vamos levando a vida
de tombos em tombos...
E cada vez que nos levantamos
duma queda, esquecemos
rapidinho da dor...
Levamos outra rasteira e para
o chão novamente somos lançados...
E, lá ficamos inconformados
prometendo não mais
cair em ciladas...
Até que nosso sensível coração
sobreponha a nossa razão...
E de novo somos lançados
a uma nova chama da paixão!
Será que não existe um amor
total, completo, eterno entre
um homem e uma mulher?
Será que temos sempre
que amar sem ser amado
E ser amado sem amar?
Isto me lembra aquela música antiga...
“Quem eu quero não me quer...
Quem me quer mandei embora...
E por isso já não sei o que
será de mim agora..."
Mas, desta vez eu juro, eu prometo não
mais cair e, também não mais derrubar...
Assim quem sabe, serei feliz...
Bem mais feliz!

CADERNINHO DE MUSICAS

Meu caderninho de músicas
Só letras de amor escrevi
Cantei a paixão e a dor
E de amor quase morri

Nas letras e nas canções
Muita tristeza e algumas alegrias
Um amor mal resolvido
Uma traição, um reencontro...
E muitos beijos!

Uma despedida sem volta
Um encontro, um recomeço.
Um amor á primeira vista
Beijos ardentes
Promessas não cumpridas
E abraços "calientes!”.

Um coração "espinhado"
E um adeus para finalizar!
Ás vezes uma vida é rompida
Mas há os reencontros
Para não mais separar!

Ficaria horas
Lendo as músicas e ouvindo
Os famosos a cantar
Como é bom a adolescência
E voltar a amar!

Fontes:
http://magiadaspalavras.vilabol.uol.com.br/
http://genapoeta.blogspot.com

Lima Barreto (O Cemitério)


Pelas ruas de túmulos, fomos calados. Eu olhava vagamente aquela multidão de sepulturas, que trepavam, tocavam-se, lutavam por espaço, na estreiteza da vaga e nas encostas das colinas aos lados. Algumas pareciam se olhar com afeto, roçando-se amigavelmente; em outras, transparecia a repugnância de estarem juntas. Havia solicitações incompreensíveis e também repulsões e antipatias; havia túmulos arrogantes, imponentes, vaidosos e pobres e humildes; e, em todos, ressumava o esforço extraordinário para escapar ao nivelamento da morte, ao apagamento que ela traz às condições e às fortunas.

Amontoavam-se esculturas de mármore, vasos, cruzes e inscrições; iam além; erguiam pirâmides de pedra tosca, faziam caramanchéis extravagantes, imaginavam complicações de matos e plantas—coisas brancas e delirantes, de um mau gosto que irritava. As inscrições exuberavam; longas, cheias de nomes, sobrenomes e datas, não nos traziam à lembrança nem um nome ilustre sequer; em vão procurei ler nelas celebridades, notabilidades mortas; não as encontrei. E de tal modo a nossa sociedade nos marca um tão profundo ponto, que até ali, naquele campo de mortos, mudo laboratório de decomposição, tive uma imagem dela, feita inconscientemente de um propósito, firmemente desenhada por aquele acesso de túmulos pobres e ricos, grotescos e nobres, de mármore e pedra, cobrindo vulgaridades iguais umas às outras por força estranha às suas vontades, a lutar...

Fomos indo. A carreta, empunhada pelas mãos profissionais dos empregados, ia dobrando as alamedas, tomando ruas, até que chegou à boca do soturno buraco, por onde se via fugir, para sempre do nosso olhar, a humildade e a tristeza do contínuo da Secretaria dos Cultos.

Antes que lá chegássemos, porém, detive-me um pouco num túmulo de límpidos mármores, ajeitados em capela gótica, com anjos e cruzes que a rematavam pretensiosamente.

Nos cantos da lápide, vasos com flores de biscuit e, debaixo de um vidro, à nívea altura da base da capelinha, em meio corpo, o retrato da morta que o túmulo engolira. Como se estivesse na Rua do Ouvidor, não pude suster um pensamento mau e quase exclamei:

— Bela mulher!

Estive a ver a fotografia e logo em seguida me veio à mente que aqueles olhos, que aquela boca provocadora de beijos, que aqueles seios túmidos, tentadores de longos contatos carnais, estariam àquela hora reduzidos a uma pasta fedorenta, debaixo de uma porção de terra embebida de gordura.

Que resultados teve a sua beleza na terra? Que coisas eternas criaram os homens que ela inspirou? Nada, ou talvez outros homens, para morrer e sofrer. Não passou disso, tudo mais se perdeu; tudo mais não teve existência, nem mesmo para ela e para os seus amados; foi breve, instantâneo, e fugaz.

Abalei-me! Eu que dizia a todo o mundo que amava a vida, eu que afirmava a minha admiração pelas coisas da sociedade—eu meditar como um cientista profeta hebraico! Era estranho! Remanescente de noções que se me infiltraram e cuja entrada em mim mesmo eu não percebera! Quem pode fugir a elas?

Continuando a andar, adivinhei as mãos da mulher, diáfanas e de dedos longos; compus o seu busto ereto e cheio, a cintura, os quadris, o pescoço, esguio e modelado, as aspáduas brancas, o rosto sereno e iluminado por um par de olhos indefinidos de tristeza e desejos...

Já não era mais o retrato da mulher do túmulo; era de uma, viva, que me falava.

Com que surpresa, verifiquei isso.

Pois eu, eu que vivia desde os dezesseis anos, despreocupadamente, passando pelos meus olhos, na Rua do Ouvidor, todos os figurinos dos jornais de modas, eu me impressionar por aquela menina do cemitério! Era curioso.

E, por mais que procurasse explicar, não pude.

Fonte:
BARRETO, Lima. A Nova Califórnia - Contos. São Paulo: Brasiliense, 1979. Texto proveniente de A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro

VII Concurso de Trovas da UBT-Maranguape (Resultado Final)


ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: ECOLOGIA (L/F)

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)

1º. Lugar:
Não é moda, nem magia,
ou prova de inteligência;
preservar a ecologia
é lei de sobrevivência.
Almerinda F. Liporage
Rio de Janeiro/RJ

2º. Lugar:
A queimada em tempo breve
apagando a luz do dia,
anula o que Deus escreve
no livro da ecologia!
Elen de Novais Felix
Niterói/RJ

3º. Lugar:
Defender a Ecologia
de forma séria e decente,
é preservar a harmonia
da própria casa da gente.
Wandira Fagundes Queiroz
Curitiba/PR

4º. Lugar:
Quem trabalha a ecologia
Com exemplo e amor profundo
Sente o prazer e a alegria
De estar melhorando o mundo.
Roberto Resende Vilela
Pouso Alegre/MG

5º. Lugar:
A Ecologia é tão vasta...
exige estudo profundo;
mas saber só isto basta:
- Vou fazer mais verde o Mundo!
Gisela Alves Sinfrónio
Olhão – Portugal

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares)

ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: ECOLOGIA
(Trovas líricas ou filosóficas)

6º. Lugar:
Político demagogo
faz da ecologia guerra
e acende a língua do fogo
que lambe o verde da Terra!
Gabriel Bicalho
Mariana/MG

7º. Lugar:
A planta, o animal, o inseto,
Em equilíbrio e harmonia,
Ao homem – seu desafeto –
Dão aulas de Ecologia!
Therezinha Dieguez Brisolla
São Paulo/SP

8º. Lugar:
Defendendo a natureza,
por amor a ecologia,
resguardamos a beleza,
que o Pai do Céu nos confia!
Carlos Alberto de Carvalho
São Gonçalo/RJ

9º. Lugar:
Cada vez mais me convenço,
de que bem mais que ciência,
a ecologia é bom senso,
fator de sobrevivência.
Campos Sales
São Paulo/SP

10º. Lugar:
Muito mais que a competência,
em compêndios reunida,
ecologia é Ciência
que defende a própria vida.
Emilia Peñalba de Almeida Esteves
Porto – Portugal

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares)

ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: ECOLOGIA (Trovas líricas ou filosóficas)

11º. Lugar:
Quem frustra as graves sequelas,
praticando ECOLOGIA,
exerce uma das mais belas
lições de Cidadania!!!
Maria Madalena Ferreira
Magé/RJ

12º. Lugar:
Indo assim, num triste dia,
uma criança, decerto,
vai pensar que ecologia
é o estudo do deserto...
Austregésilo de Miranda Alves
Senhor do Bonfim/BA

13º. Lugar:
À expansão da Ecologia,
agradecem, fauna e flora,
estimulando a alegria
do nosso mundo de agora!
Gislaine Canales
Balneário Camboriú/SC

14º. Lugar:
Ecologia é loucura
aos olhos de um pregador,
prosperidade e doçura
nas mãos do trabalhador.
Cecília de Amaral Cardoso
Sorocaba/SP

15º. Lugar:
Por gerar a diretriz
Que mantém sua medida,
A ecologia é raiz
Que sustenta nossa vida...
Giovanelli
Nova Friburgo/RJ

DESTAQUES (16º ao 20º lugares)

ÂMBITO: NACIONAL/INTERNACIONAL
TEMA: ECOLOGIA (Trovas líricas ou filosóficas)

16º. Lugar:
Ser humano, jamais lese
A Natureza, um legado
Que Ecologia foi tese
De Deus em seu doutorado.
Élbea Priscila de Sousa e Silva
Caçapava/SP

17º. Lugar:
A ecologia assegura
que a natureza é assim:
Se ofendida não tem cura,
bem amada, não tem fim!
Antônio Messias da Rocha Filho
Juiz de Fora/MG

18º. Lugar:
Quem defende a ecologia
Com ação firme, segura,
Não se agarra a uma utopia:
Defende a vida futura!
Thereza Costa Val
Belo Horizonte/MG

19º. Lugar:
A ecologia é ciência
hoje muito comentada.
Busca o fim da violência
Aos seres vivos, mais nada!
Gilson Faustino Maia
Petrópolis/RJ

20º. Lugar:
Vamos dar mais alegria
E prazer à natureza,
Cuidando da ecologia
Com requintes de nobreza.
Amael Tavares da Silva
Juiz de Fora/MG
*********************
ÂMBITO:
NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: QUEIMADA(S)
(Trovas humorísticas)

VENCEDORES (1º ao 5º lugares):

1º. Lugar:
Pra combater a queimada,
o bombeiro luso, em choque,
deixou a loja encharcada
temendo a “queima”... de estoque.
Maurício Cavalheiro
Pindamonhangaba/SP

2º. Lugar:
É queimada a Dona Benta
no bairro de Botafogo,
por já passar dos oitenta
e não ter baixado o fogo...!
Manoel Cavalcante de Souza Castro
Pau dos Ferros/RN

3º. Lugar:
De tanto ser “amassada”
Pelo padeiro, a vizinha,
Acabou sendo “queimada”
Pela língua da Candinha!...
Marisa Rodrigues Fontalva
São Paulo/SP

4º. Lugar:
Foi beber uma “queimada”
com vinho, pinga e limão,
acordou numa calçada
sem cueca e sem calção!
Ademar Macedo
Natal/RN

5º. Lugar:
Vejo moita esfumaçada,
já vou mudando de rumo:
Ou é sinal de queimada,
ou gente "puxando fumo"!...
Roberto Tchepelentyky
São Paulo/SP

MENÇÕES HONROSAS
(6º ao 10º lugares)

ÂMBITO:
NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: QUEIMADA(S)
(Trovas humorísticas)

6º. Lugar:
Maria pula a fogueira,
mas cai, nas brasas, sentada.
Eis o fim da brincadeira:
a parte de trás queimada.
Gilson Faustino Maia
Petrópolis/RJ

7º. Lugar:
Quis apagar a queimada,
mas caiu numa esparrela,
pois, estando “alambicada”,
a mais queimada foi ela!
Wanda de Paula Mourthé
Belo Horizonte/MG

8º. Lugar:
Ao ver a sogra chegar
Da praia, toda queimada,
Diz o genro pra zombar:
“É picanha mal passada?”
Licínio Antônio de Andrade
Juiz de Fora/MG

9º. Lugar:
Era um dia de queimada.
E o desavisado peão
ao “verter água”, na estrada,
queimou o que tinha em mão!...
Renato Alves
Rio de Janeiro/RJ

10º. Lugar:
Devota de Santo Antônio,
Numa fogueira, animada,
Procurando um matrimônio,
Caiu e ficou queimada.
Zeni de Barros Lana
Belo Horizonte/MG

MENÇÕES ESPECIAIS
(11º ao 15º lugares)

ÂMBITO:
NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: QUEIMADA(S)
(Trovas humorísticas)

11º. Lugar:
Cumádi... quanta queimada!
Em qui lugá queimou mais?
Cumpádi... ti contu nada:
Queimou a parti di trás!
Luiz Gilberto de Barros
Rio de Janeiro/RJ

12º. Lugar:
Ante a floresta queimada
Quis prestar o seu tributo:
Saiu na rua pelada
Para exibir o seu luto!
Adilson Maia
Niterói/RJ

13º. Lugar:
Pôs fogo, achando bacana,
Mas viu-se numa enrascada:
Lá se foi sua cabana,
Em meio à mata queimada!
Éderson Cardoso de Lima
Niterói/RJ

14º. Lugar:
De queimada o odor sentido
Na padaria que é tosca,
Confirma que é o seu marido
Que vive queimando a rosca...
Edmar Japiassu Maia
Rio de Janeiro/RJ

15º. Lugar:
O fogaréu da queimada
Nem “despacho” ele respeita...
-Atravessa a encruzilhada –
“e já deixa a janta feita”.
Wandira Fagundes Queiroz
Curitiba/PR

DESTAQUES
(16º ao 20º lugares)

ÂMBITO:
NACIONAL/INTERNACIONAL

TEMA: QUEIMADA(S)
(Trovas humorísticas)

16º. Lugar:
No rango de sexta-feira,
Ficou queimada a patroa,
Quando viu que a cozinheira
Deixou queimar a leitoa!!!
Ailto Rodrigues
Nova Friburgo/RJ

17º. Lugar:
Quando nasceu a pretinha
Que era filha da empregada,
Disse o filho da vizinha:
- Ela já nasceu queimada!
Luiz Machado Stabile
Uruguaiana/RS

18º. Lugar:
Tantas queimadas aprontas,
e a tantas matas dás cabo,
que algum dia, em tais afrontas,
queimarás teu próprio rabo!...
Antonio Augusto de Assis
Maringá/PR

19º. Lugar:
A negra Gigi, vaidosa,
Quer ter pedigree de escol.
Diz, que a pele afro, sedosa,
É queimada, pelo sol.
Fabiano de C. M. Wanderley
Natal/RN

20º. Lugar:
Eu entrei numa gelada,
Na noite de São João,
Fiquei com a calça queimada,
Quando soltava balão.
Iracema C. Neves Bull
Jundiaí/SP

TROVAS CLASSIFICADAS

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)

ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: FLORESTA (Trovas líricas ou filosóficas)

1º. Lugar:
Todo o viço, eu aprecio,
Da floresta, que beleza!
Parece fêmea no cio
Explicando a natureza.
Deusdedit Rocha
Fortaleza/CE

2º. Lugar:
A floresta tão gigante,
Já não respira por nós.
O predador, num rompante,
Faz calar a sua voz.
Hortêncio Pessoa
Fortaleza/CE

3º. Lugar:
Salvemos nossa floresta
Com um alerta geral,
Pois o caos se manifesta
O aquecimento global.
José Aureilson C. Abreu
Maranguape/CE

4º. Lugar:
É pena, mas é verdade
Floresta vai se acabar
Só vai ficar a saudade
E gente a se lamentar.
Luiz Carlos de Abreu Brandão.
Maranguape/CE

5º. Lugar:
Sou parte da sua vida
Se o machado me devora
Ninguém sara esta ferida
A floresta geme e chora.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares)

ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: FLORESTA (Trovas líricas ou filosóficas)

6º. Lugar:
Deus queira que essa ganância,
Que o madeireiro contesta,
Fuja junto com a arrogância
Para longe da floresta.
Haroldo Lyra
Fortaleza/CE

7º. Lugar:
É irreparável o dano
Uma floresta queimada
Entretanto, o ser humano
Não a deixa preservada.
Ana Maria Nascimento
Aracoiaba/CE

8º. Lugar:
O pé de ponta virada
Enganando o caçador,
É Curupira que guarda
A floresta, por amor
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

9º. Lugar:
Escondi-me na floresta
para ocultar minha dor
era tão rala e modesta
que ela veio e me encontrou.
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

10º. Lugar:
Qual o valor da floresta
Para a vida florescer
É ela que nos empresta
O ar puro para viver.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares)

ÂMBITO:ESTADUAL

TEMA: FLORESTA (Trovas líricas ou filosóficas)

11º. Lugar:
Se o homem branco quisesse
ver no índio um bom retrato,
bastaria que ele desse
à floresta o mesmo trato.
Haroldo Lyra
Fortaleza/CE

12º. Lugar:
Sua a floresta nativa
Sou vida na mesma terra
Não procede essa evasiva
Da foice, o machado a serra.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/CE

13º. Lugar:
Na floresta do sertão
No calar da madrugada
Ouço o vento qual canção
E canto da passarada.
Léa Campelo Rêgo
Pentecoste/CE

14º. Lugar:
No meu país há floresta
Rica de canto de amor
Com vida, bom humor e festa,
Cheia de glória e esplendor.
Antônio Andrade
Maranguape/CE

15º. Lugar:
O planeta bem contente
Também faz as suas festas
Filtra bem o ar ambiente
Bem replantando as florestas
Maria Florinda Dos Santos Moreira
Fortaleza/CE

DESTAQUES (16º ao 20º lugares)

ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: FLORESTA (Trovas líricas ou filosóficas)

16º. Lugar:
Colocar nossa floresta
Nas regras da "Integração"
Faz a nossa vida em festa:
Viva a civilização!
Maria Florinda dos Santos Moreira
Fortaleza/CE

17º. Lugar:
A floresta se ressente
Das atitudes do homem.
Nosso futuro e o presente
Na agonia se consomem.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

18º. Lugar:
Nos disse assim a floresta:
– Um dia vais me perder,
Com tua meta funesta
Não pode retroceder?
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

19º. Lugar:
Crimes contra a natureza
As previsões são funestas
Pois acaba com a riqueza
De nossas lindas florestas.
Alzenira Rodrigues
Morada Nova/CE

20º. Lugar:
Encontrei uma floresta
Somente para nós dois.
Vai ser mês de muita festa
O resto? Conto depois!
Olga Rosália Silva Pedrosa
UBT-Maranguape/CE

Âmbito Estadual:

Tema Macaquice


VENCEDORES (1º ao 5º lugares):

1º. Lugar:
É mentira de quem disse,
que descendo do macaco!
eu não faço macaquice,
nem mijo fora do caco.
Hortêncio Pessoa
Fortaleza/CE

2º. Lugar:
Chegou depressa à velhice
E o velho que foi discreto
Se desmancha em macaquice
Só para agradar o neto.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/ CE

3º. Lugar:
Macaquice vira manha
Para quem colhe o cajú
Se não pega na castanha
Ele quebra o mucumbú
Maria Florinda Dos Santos Moreira
Fortaleza/CE

4º. Lugar:
Um palhaço a gargalhar
Fez macaquice a valer
Que a calça veio a rasgar
Viu-se o que não se quer ver.
Cléa Campêlo
Pentecoste/ CE

5º. Lugar:
Macaquice só tem graça
Em circo ou mesa de bar
Um ébrio na rua ou praça
Cantando: eu quero mamar.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/ CE

ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: MACAQUICE(S) (Trovas humorísticas)

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares):

6º. Lugar:
Era um garoto travesso,
Um mestre na peraltice:
virava tudo ao avesso,
era o rei da macaquice.
Haroldo Lyra
Fortaleza/CE

7º. Lugar:
Macaquice é um bom tema
Se o bicho sogra vem nela,
Que esconde qualquer problema
Se for da família dela.
Deusdedit Rocha
Fortaleza/ CE

8º. Lugar:
Trepando pra tirar coco
E fazendo macaquice,
O vô não caiu por pouco:
Esqueceu-se da velhice.
Maria Florinda Dos Santos Moreira
Fortaleza/CE

9º. Lugar:
A macaquice do Zé
Ninguém olhava, nem ria
Gritou na ponta do pé
Pulava igual uma gia.
Ana Luiza
Pentecoste/ CE

10º. Lugar:
A menina Doralice
É safada pra danar
Fazia só macaquice
E depois ia chorar.
Léa Campêlo Rêgo
Pentecoste/ CE

MENÇÕES ESPECIAIS
(11º ao 15º lugares)

ÂMBITO: ESTADUAL

TEMA: MACAQUICE(S)
(Trovas humorísticas)

11º. Lugar:
Olha aqui, gritava o velho,
O povo olhava a velhice,
Desdentado mais zarelho,
Sorrindo. Que macaquice!
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

12º. Lugar:
O ébrio ao padre disse:
sem saber o que dizia,
“já vi muita macaquice
na porta da sacristia”.
Haroldo Lyra
Fortaleza/CE

13º. Lugar:
Tem humor os animais
Vejam quantas peraltices
O homem também é sagaz
Quando faz as macaquices
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

14º. Lugar:
Já vi tanta macaquice
Feita pela a tua boca.
Me acostumei com a mesmice,
Desta aparência louca.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

15º. Lugar:
Tua macaquice faz
Estátua gargalhar,
Olhar de lado, pra atrás
Correr, pular, se sentar.
Luiz Carlos de Abreu Brandão.
Maranguape/CE

DESTAQUES - (16º ao 20º lugares)

ÂMBITO: - ESTADUAL

TEMA: MACAQUICE(S)
(Trovas humorísticas)

16º. Lugar:
O homem disse: benzedeira,
Nasci com esta gaguice,
Estrabismo e bebedeira
Cura minha macaquice
Sonia Nogueira
Fortaleza/CE

17º. Lugar:
Olhando a minha vizinha
Eu relembrei a meninice
Dançava mesmo sozinha.
Era a pior macaquice.
Ana Luiza
Pentecoste/CE

18º. Lugar:
Meninos em peraltices
Verdadeiras palhaçadas
Um avô com macaquices
Crianças dando risadas.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

19º. Lugar:
O carnaval de outrora
Era muita macaquice
Mas na folia de agora
Só há brigas que burrice
Antônio Andrade
Maranguape/CE

20º. Lugar:
Que infernal macaquice
Na Justiça Federal,
Pois já furtaram a Eunice:
seu piso salarial.
Olga Rosália Silva Pedrosa
UBT-Maranguape/CE

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)

ÂMBITO: MUNICIPAL

TEMA: SOL (Trovas líricas ou filosóficas)

1º. Lugar:
Nasce o sol de um novo dia
Pondo em tudo muita cor;
Trazendo mais poesia
Ao poeta sonhador.
João Osvaldo Soares (Vaval)
Maranguape/CE

2º. Lugar:
Fecha a cortina do dia
A noite acalenta o sol
A lua invejando espia
E faz das nuvens lençol.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/CE

3º. Lugar:
És como sol a brilhar
Mistério de meu calor
Fez meu corpo transpirar
Qual sereno sobre flor.
Olga Rosália Silva Pedrosa
UBT-Maranguape/CE

4º. Lugar:
Sol é estrela cadente
Do universo sideral
Aquece a vida da gente
Sem ele seria o mal.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

5. Lugar:
Já que o Sol é para todos,
Carece também dizer
Que ele aquece até os “lodos”
Que teimam sobreviver.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS (6º ao 10º lugares)

ÂMBITO: MUNICIPAL

TEMA: SOL (Trovas líricas ou filosóficas)

6º. Lugar:
“Ver o sol nascer quadrado”
É um dito popular
Se por ti sou apaixonado
É sina, praga, sei lá!
Luiz Carlos de Abreu Brandão.
Maranguape/CE

7º. Lugar:
Abre a porteira do dia
O sol faz sua carreira
Esmorece a tarde esfria
Vai dormir a noite inteira.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/CE

8º. Lugar:
Quando o sol enfim se deita
Para um pouco repousar
Busca então a sua eleita
Que feliz vai lhe ninar.
João Osvaldo Soares
Maranguape/CE

9º. Lugar:
O sol é nosso astro rei
E a nós todos ilumina
Dele muita coisa eu sei
Além de ser luz divina.
Luciano Pereira
Maranguape/CE

10º. Lugar:
Sendo você, o meu sol
Nada tenho a reclamar
Sou um lírio no arrebol
Que nasceu para te amar.
Luiz Carlos de Abreu Brandão.
Maranguape/CE

MENÇÕES ESPECIAIS (11º ao 15º lugares)

ÂMBITO: MUNICIPAL

TEMA: SOL (Trovas líricas ou filosóficas)

11º. Lugar:
O sol brilha alegremente
Nas manhãs de primavera
Brilha meu sol docemente
Rosa – estrela bem sincera.
Antônio Andrade
Maranguape/CE

12º. Lugar:
O sol com sua magia
É subIime portador
E nos traz muita alegria
Com seu belo resplendor
Luciano Pereira
Maranguape/CE

13º. Lugar:
Para o Sol fiz um pedido:
Aquece-me todo dia,
E para o meu amor querido
Deixe-lhe paz e alegria.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

14º. Lugar:
Nossa terra sem o sol:
Que mundo mais boreal.
A vida sairia do rol
Para a zona glacial.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

15º. Lugar:
O Sol aquece minha alma
No frio do meu verão
Vem dizer-me bem na calma:
Dias melhores virão.
Lucia de Fátima Mapurunga Batista
UBT-Maranguape/CE

VENCEDORES (1º ao 5º lugares)

ÂMBITO: MUNICIPAL

TEMA: LOCUTOR (a, as, es)
(Trovas humorísticas)

1º. Lugar:
Locutor preocupado
Com o pedido insistente
Meyre tinha debandado
Quem fugiu? Foi bicho ou gente.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/CE

2º. Lugar:
Locutor com muita graça
Com voz melosa anunciou
Eu falo para os gays da praça,
Pois da classe também sou.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

3º. Lugar:
O locutor já sabia
Que o microfone falhava.
E a mensagem se perdia
Se danava quem pagava.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

4º. Lugar:
Eu possuí grande amigo
Um exímio trovador
Em segredo eu ti digo
Ele adora um locutor.
João Osvaldo Soares (Vaval)
Maranguape/CE

5º. Lugar:
Um locutor empolgado
Disse ao vivo o que não devia
Por pouco não foi linchado
Se salvou, na sacristia.
Luiz Carlos de Abreu Brandão.
Maranguape/CE

MENÇÕES HONROSAS
(6º ao 10º lugares)

ÂMBITO: MUNICIPAL

TEMA: LOCUTOR (a, as, es)
(Trovas humorísticas)

6º. Lugar:
Locutora apaixonada
Por alguém que não lhe quer
A pessoa desejada
Detesta o nome “mulher”.
Raimundo Rodrigues de Araújo
Maranguape/CE

7º. Lugar:
O locutor eloquente
Que pregava o fim do mundo
Claro que estava demente
Com um braseiro no fundo.
José Aureilson Cordeiro de Abreu
Maranguape/CE

8º. Lugar:
O locutor, Seu Augusto
Num morcego colidiu,
Então sofreu um grande susto:
Seu microfone engoliu.
Maria Ruth Bastos de Abreu Brandão
Maranguape/CE

9º. Lugar:
Caros ouvintes, bom dia!
Assim falou a locutora
Bem fanhosa que fazia
Tremer qualquer emissora.
Antônio Andrade
Maranguape/CE

10º. Lugar:
Locutor ou locutora
Fazem a comunicação
Cuidado na emissora
Com aquele palavrão...
Luiz Carlos de Abreu Brandão.
Maranguape/CE
---------------------
Mensagem do Presidente da UBT Maranguape

Poetas,

Segue no arquivo anexo as trovas vencedoras no VII Concurso de Trovas da UBT-MARANGUAPE, âmbitos Nacional/Internacional, estadual e municipal.

Nosso agradecimento aos poetas participantes do Concurso.

A UBT-MARANGUAPE está preparando os diplomas e os livros com as trovas para envio aos interessados.

Cada livro está orçado em R$ 15,00 (já incluido os custos do correio). Em cada livro constam as trovas vencedoras outras trovas classificadas.

No caso do livro com as trovas de âmbito Nacional/Internacional constam 20 trovas premiadas, mais 109 trovas classificadas e as participações especiais de trovadores cearenses. Nos âmbitos estadual e municipal constam as trovas premiadas e as participações especiais selecionadas pelos julgadores.

O interessados em receber o livro devem efetuar depósito na conta corrente abaixo indicada, informando por e-mail o nome completo, data e valor do depósito, a fim de que a UBT-MARANGUAPE possa providenciar a remessa dos livros, que deve ocorrer no mês de outubro/2011.

As trovas vencedoras estão no Orkut, comunidade Maranguape, fórum Trovas - Maranguape, onde cada trovador poderá fazer comentários. Ainda postaremos as trovas classificadas e participação especial.

Abraços.

Moreira Lopes

Presidente da UBT-MARANGUAPE


Fonte:
Moreira Lopes. Presidente da UBT Maranguape

Machado de Assis (O Alienista) III – Deus sabe o que faz; IV – Uma teoria nova


CAPÍTULO III - DEUS SABE O QUE FAZ

Ilustre dama, no fim de dois meses, achou-se a mais desgraçada das mulheres: caiu em profunda melancolia, ficou amarela, magra, comia pouco e suspirava a cada canto. Não ousava fazer-lhe nenhuma queixa ou reproche, porque respeitava nele o seu marido e senhor, mas padecia calada, e definhava a olhos vistos. Um dia, ao jantar, como lhe perguntasse o marido o que é que tinha, respondeu tristemente que nada; depois atreveu-se um pouco, e foi ao ponto de dizer que se considerava tão viúva como dantes. E acrescentou:

—Quem diria nunca que meia dúzia de lunáticos...

Não acabou a frase; ou antes, acabou-a levantando os olhos ao teto,—os olhos, que eram a sua feição mais insinuante,— negros, grandes, lavados de uma luz úmida, como os da aurora. Quanto ao gesto, era o mesmo que empregara no dia em que Simão Bacamarte a pediu em casamento. Não dizem as crônicas se D. Evarista brandiu aquela arma com o perverso intuito de degolar de uma vez a ciência, ou, pelo menos, decepar-lhe as mãos; mas a conjetura é verossímil. Em todo caso, o alienista não lhe atribuiu intenção. E não se irritou o grande homem, não ficou sequer consternado. O metal de seus olhos não deixou de ser o mesmo metal, duro, liso, eterno, nem a menor prega veio quebrar a superfície da fronte quieta como a água de Botafogo. Talvez um sorriso lhe descerrou os lábios, por entre os quais filtrou esta palavra macia como o óleo do Cântico:

—Consinto que vás dar um passeio ao Rio de Janeiro.

D. Evarista sentiu faltar-lhe o chão debaixo dos pés. Nunca dos nuncas vira o Rio de Janeiro, que posto não fosse sequer uma pálida sombra do que hoje é, todavia era alguma coisa mais do que Itaguaí, Ver o Rio de Janeiro, para ela, equivalia ao sonho do hebreu cativo. Agora, principalmente, que o marido assentara de vez naquela povoação interior, agora é que ela perdera as últimas esperanças de respirar os ares da nossa boa cidade; e justamente agora é que ele a convidava a realizar os seus desejos de menina e moça. D. Evarista não pôde dissimular o gosto de semelhante proposta. Simão Bacamarte pagou-lhe na mão e sorriu,—um sorriso tanto ou quanto filosófico, além de conjugal, em que parecia traduzir-se este pensamento: — "Não há remédio certo para as dores da alma; esta senhora definha, porque lhe parece que a não amo; dou-lhe o Rio de Janeiro, e consola-se". E porque era homem estudioso tomou nota da observação.

Mas um dardo atravessou o coração de D. Evarista. Conteve-se, entretanto; limitou-se a dizer ao marido que, se ele não ia, ela não iria também, porque não havia de meter-se sozinha pelas estradas.

—Irá com sua tia, redargüiu o alienista.

Note-se que D. Evarista tinha pensado nisso mesmo; mas não quisera pedi-lo nem insinuá-lo, em primeiro lugar porque seria impor grandes despesas ao marido, em segundo lugar porque era melhor, mais metódico e racional que a proposta viesse dele.

—Oh! mas o dinheiro que será preciso gastar! suspirou D. Evarista sem convicção.

—Que importa? Temos ganho muito, disse o marido. Ainda ontem o escriturário prestou-me contas. Queres ver?

E levou-a aos livros. D. Evarista ficou deslumbrada. Era uma via-láctea de algarismos. E depois levou-a às arcas, onde estava o dinheiro.

Deus! eram montes de ouro, eram mil cruzados sobre mil cruzados, dobrões sobre dobrões; era a opulência.

Enquanto ela comia o ouro com os seus olhos negros, o alienista fitava-a, e dizia-lhe ao ouvido com a mais pérfida das alusões:

—Quem diria que meia dúzia de lunáticos...

D. Evarista compreendeu, sorriu e respondeu com muita resignação:

—Deus sabe o que faz!

Três meses depois efetuava-se a jornada. D. Evarista, a tia, a mulher do boticário, um sobrinho deste, um padre que o alienista conhecera em Lisboa, e que de aventura achava-se em Itaguaí cinco ou seis pajens, quatro mucamas, tal foi a comitiva que a população viu dali sair em certa manhã do mês de maio. As despedidas foram tristes para todos, menos para o alienista. Conquanto as lágrimas de D. Evarista fossem abundantes e sinceras, não chegaram a abalá-lo. Homem de ciência, e só de ciência, nada o consternava fora da ciência; e se alguma coisa o preocupava naquela ocasião, se ele deixava correr pela multidão um olhar inquieto e policial, não era outra coisa mais do que a idéia de que algum demente podia achar-se ali misturado com a gente de juízo.

—Adeus! soluçaram enfim as damas e o boticário.

E partiu a comitiva. Crispim Soares, ao tornar a casa, trazia os olhos entre as duas orelhas da besta ruana em que vinha montado; Simão Bacamarte alongava os seus pelo horizonte adiante, deixando ao cavalo a responsabilidade do regresso. Imagem vivaz do gênio e do vulgo! Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades, outro devassa o futuro com todas as suas auroras.

CAPÍTULO IV - UMA TEORIA NOVA

Ao passo que D. Evarista, em lágrimas, vinha buscando o 1 [Rio de Janeiro, Simão Bacamarte estudava por todos os lados uma certa idéia arrojada e nova, própria a alargar as bases da psicologia. Todo o tempo que lhe sobrava dos cuidados da Casa Verde, era pouco para andar na rua, ou de casa em casa, conversando as gentes, sobre trinta mil assuntos, e virgulando as falas de um olhar que metia medo aos mais heróicos.

Um dia de manhã,—eram passadas três semanas,—estando Crispim Soares ocupado em temperar um medicamento, vieram dizer-lhe que o alienista o mandava chamar.

—Trata-se de negócio importante, segundo ele me disse, acrescentou o portador.

Crispim empalideceu. Que negócio importante podia ser, se não alguma notícia da comitiva, e especialmente da mulher? Porque este tópico deve ficar claramente definido, visto insistirem nele os cronistas; Crispim amava a mulher, e, desde trinta anos, nunca estiveram separados um só dia. Assim se explicam os monólogos que ele fazia agora, e que os fâmulos lhe ouviam muita vez:—"Anda, bem feito, quem te mandou consentir na viagem de Cesária? Bajulador, torpe bajulador! Só para adular ao Dr. Bacamarte. Pois agora agüenta-te; anda, agüenta-te, alma de lacaio, fracalhão, vil, miserável. Dizes amem a tudo, não é? aí tens o lucro, biltre!"—E muitos outros nomes feios, que um homem não deve dizer aos outros, quanto mais a si mesmo. Daqui a imaginar o efeito do recado é um nada. Tão depressa ele o recebeu como abriu mão das drogas e voou à Casa Verde.

Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um sábio, uma alegria abotoada de circunspeção até o pescoço.

—Estou muito contente, disse ele.

—Notícias do nosso povo? perguntou o boticário com a voz trêmula.

O alienista fez um gesto magnífico, e respondeu:

—Trata-se de coisa mais alta, trata-se de uma experiência científica. Digo experiência, porque não me atrevo a assegurar desde já a minha idéia; nem a ciência é outra coisa, Sr. Soares, senão uma investigação constante. Trata-se, pois, de uma experiência, mas uma experiência que vai mudar a face da Terra. A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.

Disse isto, e calou-se, para ruminar o pasmo do boticário. Depois explicou compridamente a sua idéia. No conceito dele a insânia abrangia uma vasta superfície de cérebros; e desenvolveu isto com grande cópia de raciocínios, de textos, de exemplos. Os exemplos achou-os na história e em Itaguaí mas, como um raro espírito que era, reconheceu o perigo de citar todos os casos de Itaguaí e refugiou-se na história. Assim, apontou com especialidade alguns personagens célebres, Sócrates, que tinha um demônio familiar, Pascal, que via um abismo à esquerda, Maomé, Caracala, Domiciano, Calígula, etc., uma enfiada de casos e pessoas, em que de mistura vinham entidades odiosas, e entidades ridículas. E porque o boticário se admirasse de uma tal promiscuidade, o alienista disse-lhe que era tudo a mesma coisa, e até acrescentou sentenciosamente:

—A ferocidade, Sr. Soares, é o grotesco a sério.

—Gracioso, muito gracioso! exclamou Crispim Soares levantando as mãos ao céu.

Quanto à idéia de ampliar 0 território da loucura, achou-a 0 boticário extravagante; mas a modéstia, principal adorno de seu espírito, não lhe sofreu confessar outra coisa além de um nobre entusiasmo; declarou-a sublime e verdadeira, e acrescentou que era "caso de matraca". Esta expressão não tem equivalente no estilo moderno. Naquele tempo, Itaguaí que como as demais vilas, arraiais e povoações da colônia, não dispunha de imprensa, tinha dois modos de divulgar uma notícia; ou por meio de cartazes manuscritos e pregados na porta da Câmara, e da matriz;—ou por meio de matraca.

Eis em que consistia este segundo uso. Contratava-se um homem, por um ou mais dias, para andar as ruas do povoado, com uma matraca na mão.

De quando em quando tocava a matraca, reunia-se gente, e ele anunciava o que lhe incumbiam,—um remédio para sezões, umas terras lavradias, um soneto, um donativo eclesiástico, a melhor tesoura da vila, o mais belo discurso do ano, etc. O sistema tinha inconvenientes para a paz pública; mas era conservado pela grande energia de divulgação que possuía. Por exemplo, um dos vereadores,—aquele justamente que mais se opusera à criação da Casa Verde,—desfrutava a reputação de perfeito educador de cobras e macacos, e aliás nunca domesticara um só desses bichos; mas, tinha o cuidado de fazer trabalhar a matraca todos os meses. E dizem as crônicas que algumas pessoas afirmavam ter visto cascavéis dançando no peito do vereador; afirmação perfeitamente falsa, mas só devida à absoluta confiança no sistema. Verdade, verdade, nem todas as instituições do antigo regímen mereciam o desprezo do nosso século.

—Há melhor do que anunciar a minha idéia, é praticá-la, respondeu o alienista à insinuação do boticário.

E o boticário, não divergindo sensivelmente deste modo de ver, disse-lhe que sim, que era melhor começar pela execução.

—Sempre haverá tempo de a dar à matraca, concluiu ele.

Simão Bacamarte refletiu ainda um instante, e disse:

—Suponho o espírito humano uma vasta concha, o meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair a pérola, que é a razão; por outros termos, demarquemos definitivamente os limites da razão e da loucura. A razão é o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia, insânia e só insânia.

O Vigário Lopes a quem ele confiou a nova teoria, declarou lisamente que não chegava a entendê-la, que era uma obra absurda, e, se não era absurda, era de tal modo colossal que não merecia princípio de execução.

—Com a definição atual, que é a de todos os tempos, acrescentou, a loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas. Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa. Para que transpor a cerca?

Sobre o lábio fino e discreto do alienista rogou a vaga sombra de uma intenção de riso, em que o desdém vinha casado à comiseração; mas nenhuma palavra saiu de suas egrégias entranhas.

A ciência contentou-se em estender a mão à teologia, — com tal segurança, que a teologia não soube enfim se devia crer em si ou na outra. Itaguaí e o universo ficavam à beira de uma revolução.
–––––––––––––
continua… Capitulo V – O terror ; Capítulo VI – A rebelião
––––––––––––-
Fonte:
ASSIS, Machado de. O Alienista.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 334)


Uma Trova Nacional

Busquei na noite desejos
porém não encontrei nada;
terminei roubando beijos
da boca da madrugada.
–JUNIOR ADELINO/PB–

Uma Trova Potiguar

Já se passou tanto tempo,
mas, pra mim, nada passou...
Sinto o teu cheiro com o vento
que o ingrato tempo levou.
–MARA MELINI/RN–

Uma Trova Premiada


2010 - Curitiba/PR
Tema: MADRUGADA - M/H

Madrugada, por que insistes
- na solidão que apavora –
em arrastar horas tristes...
se eu anseio pela aurora?
–THEREZA COSTA VAL/MG–

Uma Trova de Ademar

Descalço, pelos caminhos
nas caminhadas cruéis,
não vi flor, somente espinhos
que machucaram meus pés...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Tudo sempre se renova
por extensão do progresso,
tudo cabe numa trova...
Mesmo as coisas do Universo.
–AGOSTINHO CARDOSO/CE–

Simplesmente Poesia


O Disfarce
–BERNARDO TRANCOSO/SP–

Cobre a máscara
O jeito verdadeiro que tens.
Quando estás próxima a mim,
Veste-a e finge ser um falso alguém.
Teu cheiro mostra-me o teu disfarce.
É por modéstia?
Temes não me agradar, pois,
Por inteiro, sendo honesta.
Mas, mesmo que eu
Deteste-a ao ver quem és,
De fato,
Vou primeiro partir por tua mentira
Ante a moléstia.
Se existe algum problema,
Algum motivo prá enganação,
Permite-me ajudá-la agora,
Antes que eu pense
Estar errado ao te amar.
Já tem sido inofensivo - não mais -
Meu coração que, hoje, te fala
Em forma de um soneto
Disfarçado.

Estrofe do Dia

No presídio o bandido violento
se rebela temendo a cela ingrata,
o cansaço não mata mas maltrata
o mendigo do corpo feridento
que alta noite sozinho no relento,
se revolta e blasfema contra a vida,
passa a unha na casca da ferida
chega o sangue do corpo se derrama;
o mistério noturno enfeita o drama
no teatro da noite mal dormida.
CHICO SOBRINHO/PB–

Soneto do Dia

Sol
–DOROTHY JANSSON MORETTI/SP–

Hoje estás escondido. Olhando para fora,
em meio à névoa densa, em vão eu te procuro.
Que falta fazes quando, ao se esboçar a aurora,
vejo o céu carrancudo e tão cinzento e escuro!

És tu que trazes vida, a ausência eu te censuro.
Sem ti sofre a semente a emergir para a flora,
falta a luz dos teus raios ao trigo maduro,
esmaecem os tons quando te vais embora.

De repente, através de uma nesga apareces...
Com que força vital a alma da gente aqueces
e afastas tão depressa as nuvens de tristeza!

És dono do universo, a nada te comparas;
e ao sentir teu calor reconfortando as searas,
feliz volta a sorrir, de novo, a Natureza!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A. A. de Assis (Trovas Ecológicas) - 16

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 333)


Uma Trova Nacional

Do que tenho adquirido
da melhor forma usufruo,
pra nunca ser possuído
pelas coisas que possuo.
–GERALDO AMÂNCIO/CE–

Uma Trova Potiguar

Covarde, pobre e mesquinho;
quem durante a caminhada
ante às pedras do caminho,
decreta o final da estrada.
–MANOEL CAVALCANTE/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - CTS-Caicó/RN
Tema: OCASO - 15º Lugar

Mesmo no ocaso da vida
do pranto, não sinto o gosto,
que a esperança, comovida,
esparge luz no meu rosto!
–ADILSON MAIA/RJ–

Uma Trova de Ademar

De tanto adubar o amor
sem usar inseticida,
eu fiz brotar uma flor
no outono da nossa vida!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Tirem-me tudo. Eu aceito.
Nunca os meus sonhos porém...
Sonhar, por certo, é um direito
que o ser humano inda tem.
–ALBERTO FERNANDO BASTOS/RJ–

Simplesmente Poesia

Não Precisa Sonhar
–DJALMA MOTA/RN–

Dorme... Dorme querida!
Repousa o seu cansaço.

Sonhar?
Não precisa sonhar!
Talvez o sonho seja tentador.

Apenas ao acordar, lembre de mim!
Por quê?...
Estarei sempre torcendo por você!

Estrofe do Dia

Eu encontro poesia,
quando vem a madrugada
e quando surge a alvorada
trazendo a barra do dia;
a passarada em folia
da dormida despertando,
de dois em dois debandando
a procura de comer,
em tudo isto se vê
a poesia jorrando.
–ZÉ DE CAZUZA/PB–

Soneto do Dia

Imaginemos um Mundo Melhor
–JOÃO COSTA/RJ–

Imaginemos um mundo perfeito,
com liberdade e direitos iguais,
onde não haja nenhum preconceito,
jamais as discriminações raciais.

Vamos imaginar um mundo feito
de amor e de ternura, onde jamais
se ouça falar em guerra, em desrespeito,
em violência, em miséria... não mais!...

Imaginemos toda a Humanidade
em meio a uma aura de felicidade,
saudável, próspera e em harmonia.

Vamos dar asas à imaginação!
Vamos sonhar, abrir o coração!
E que Deus abençoe nossa utopia!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Pedro Ornellas (As Artes do Pedro VI)


A FIGUEIRA

Orgulho da casa de outrora, na frente,
altiva figueira, frondosa se erguia...
Seu porte soberbo me fez reverente
sem nunca supor que tombasse algum dia!

Mas num vendaval que se armou de repente,
partiu-se a figueira e, sem crer no que via,
então constatei que a gigante imponente
por dentro era podre e ninguém percebia!

Também muita gente que bem nos parece
perdendo valores por dentro apodrece
mantendo por fora a aparência altaneira.

Ilude algum tempo com falsa nobreza,
porém, cedo ou tarde, terá com certeza
o mesmo destino da velha figueira!

Trovas:

Ouço um tropel de boiada,
olho a estrada, olho a distância...
Mas o som não vem da estrada
- é tropel que vem da infância!

A dor no peito é mais crua
de quem a muitos quer bem
porque sente a dor que é sua
e a dor dos outros também!

Humorísticas:

Minha sogra é uma figura,
provoca riso na prole
quando põe a dentadura
pra comer maria mole!

Pior que a esposa queixando
que o feijão tinha acabado
foi ver a sogra chegando
trazendo junto o cunhado!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Vendaval de Trovas (UBT-São Paulo) Parte I


ANA CRISTINA DE SOUZA

És tudo que sempre espero
tomando posse de mim,
quando murumuro "não quero"
e tu respondes "quer sim"!

Foi punhal atravessado,
que me feriu mortalmente,
o desprezo disfarçado
em teu sorriso descrente…

Na saudade, de horas loucas,
tento ouvir, num sonho vão,
tua voz em frases roucas
de um murmúrio de paixão.

No fim da nossa jornada,
o amor dói feito ferida.
-Porcelana delicada
manchada pela vida...

Teu amor é sedução,
é carinho, é bem-me-quer,
na perfeita tradução
dos meus donhos de mulher...

MYRTES NEUSALI SPINA DE MORAES
Delegada da UBT Atibaia - SP

Naquela casa da esquina
a minha infância passei.
Quando ainda era menina
doce paz eu vivenciei.

No inverno, um pobre mendigo,
com frio, e fome sorriu,
quando um maltrapilho amigo
com velha manta o cobriu.

Poesia é o doce marulhar
que vem das ondas cantantes.
É a borboleta a bailar,
sobre flores por instantes.

Quando a saudade dorida
sufocar-lhe o coração,
busque em Deus uma saída
pois só Ele é a solução.

MARIA VANEIDE ANJOS BLANCO –

Foi no Pátio do Colégio
que Anchieta vislumbrou
de São Paulo, o sortilégio
que o futuro confirmou!

MARIA CECÍLIA QUARTIN BARBOSA –

Vida - princípio da morte,
Morte - final desta vida;
ficando ao sabor da sorte,
o metro dessa medida.

CECÍLIA AMARAL CARDOSO

Em qualquer tema se ajeita,
faz trova o bom trovador.
É como a orquídea perfeita
que em qualquer tronco dá flor!

BEATRIZ SANDOVAL CAMARGO

Infância lembra alegria,
tecida só de ternura.
Se pudesse voltaria,
nesses anos de candura.

Inverno cobre minha alma,
vazia na solidão...
Levo, gravados na palma,
rastros de buscas em vão.

De flores, toda vestida,
surgiu a linda donzela.
Perfumou caminhos, vida,
tornando a Terra mais bela.

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

Se, a foto, o orvalho umidece
-depois que o amor teve fim -
à minha ilusão parece
que ainda choras...por mim!

Passado o tempo, eu percebo
-e o teu regresso me atesta-
que, desse amor, só recebo
migalhas de fim de festa!

Em silêncio, ante a proposta
da vida, a razão assunta...
Quando decora a resposta
a vida muda a pergunta!

Por meu pranto...por meus ais...
por meu viver infeliz...
sei que a saudade é bem mais
do que o dicionário diz!

CAMPOS SALES

Nos telhados da cidade,
a garoa não cai mais,
somente a minha saudade
ainda escorre nos beirais!

A chama aos poucos se apaga
velando este amor desfeito,
enquanto a saudade afaga
o sonho morto em meu peito!

Lembro o sertão, seu encanto,
a lua cheia tão minha,
sem nada eu ter, tinha tanto,
naquele nada que eu tinha!

Nossas culpas divididas,
por castigo ou por maldade,
dividiram nossas vidas,
sem dividir a saudade!

MARILÚCIA REZENDE

Eu suplico: "Volte breve",
num bilhete... e na verdade,
a esperança é quem escreve
e quem assina é a saudade!...

Teu retrato, enraivecida,
eu rasguei sem embaraços...
Mas a saudade atrevida
juntou de novo os pedaços.

Resisto...mas, distraída,
minha razão nem percebe
quando a emoção atrevida
abre a porta...te recebe!

Se voltas, não sei ao certo,
mas a emoção, sem cautela,
deixa a esperança por perto,
rondando a minha janela!

Melhor entretenimento
não existe para mim:
é ver, a cada momento,
mais flores no meu jardim!

Cai o orvalho ,de mansinho,
nesta aridez do sertão...
e o povo aceita o carinho
que ameniza a insolação!

Semeaste tanto amor
pelos jardins desta vida
que a saudade se fez flor,
depois da tua partida!

Nas carícias, em meu rosto,
tu finges não perceber
os sinais que, de mau gosto,
o tempo brinca ao fazer.

Quando os teus olhos eu fito,
tua meiguice, tão pura,
toca os sinos do infinito,
louvando tanta ternura!

Tua deixaste o teu recado,
sem palavras...mas, no olhar,
meu coração abalado
discerniu: não vais voltar...

Oh chuva, molha o meu rosto
e esconde a lágrima triste
que verteu pelo desgosto
do amor, que não mais existe!

Andei por verdes colinas,
pela imensidão do mar...
mas o amor, só tu me ensinas
na luz deste teu olhar.

ANO NOVO! A humanidade
faz promessas, "simpatia",
não vê que a felicidade
se conquista dia a dia!

Não vou por esse caminho
que é sem censura e sem prumo;
prefiro seguir sozinho
e traçar meu próprio rumo!

Esperança é combustível
no engenho do bom viver,
mas labor é imprescindível
para tudo acontecer!

Ondas que vêm e vão
mar a dentro, a rebuscar
um sonho...ou a ilusão
de um barquinho a despontar!

Lá estão as borboletas...
coloridas, no infinito;
nas asas levam facetas
do meu sonho mais bonito!

A verdadeira bondade
é genuina canção
que enaltece a humanidade
pois vem lá do coração!

Fonte:
UBTrova

Machado de Assis (O Alienista) Capítulos I e II


CAPÍTULO I – DE COMO ITAGUAÍ GANHOU UMA CASA DE ORATES

As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.

—A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.

Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas,—únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.

D. Evarista mentiu às esperanças do Dr. Bacamarte, não lhe deu filhos robustos nem mofinos. A índole natural da ciência é a longanimidade; o nosso médico esperou três anos, depois quatro, depois cinco. Ao cabo desse tempo fez um estudo profundo da matéria, releu todos os escritores árabes e outros, que trouxera para Itaguaí, enviou consultas às universidades italianas e alemãs, e acabou por aconselhar à mulher um regímen alimentício especial. A ilustre dama, nutrida exclusivamente com a bela carne de porco de Itaguaí, não atendeu às admoestações do esposo; e à sua resistência,—explicável, mas inqualificável,— devemos a total extinção da dinastia dos Bacamartes.

Mas a ciência tem o inefável dom de curar todas as mágoas; o nosso médico mergulhou inteiramente no estudo e na prática da medicina. Foi então que um dos recantos desta lhe chamou especialmente a atenção,—o recanto psíquico, o exame de patologia cerebral. Não havia na colônia, e ainda no reino, uma só autoridade em semelhante matéria, mal explorada, ou quase inexplorada. Simão Bacamarte compreendeu que a ciência lusitana, e particularmente a brasileira, podia cobrir-se de "louros imarcescíveis", — expressão usada por ele mesmo, mas em um arroubo de intimidade doméstica; exteriormente era modesto, segundo convém aos sabedores.

—A saúde da alma, bradou ele, é a ocupação mais digna do médico.

—Do verdadeiro médico, emendou Crispim Soares, boticário da vila, e um dos seus amigos e comensais.

A vereança de Itaguaí, entre outros pecados de que é argüida pelos cronistas, tinha o de não fazer caso dos dementes. Assim é que cada louco furioso era trancado em uma alcova, na própria casa, e, não curado, mas descurado, até que a morte o vinha defraudar do benefício da vida; os mansos andavam à solta pela rua. Simão Bacamarte entendeu desde logo reformar tão ruim costume; pediu licença à Câmara para agasalhar e tratar no edifício que ia construir todos os loucos de Itaguaí, e das demais vilas e cidades, mediante um estipêndio, que a Câmara lhe daria quando a família do enfermo o não pudesse fazer. A proposta excitou a curiosidade de toda a vila, e encontrou grande resistência, tão certo é que dificilmente se desarraigam hábitos absurdos, ou ainda maus. A idéia de meter os loucos na mesma casa, vivendo em comum, pareceu em si mesma sintoma de demência e não faltou quem o insinuasse à própria mulher do médico.

—Olhe, D. Evarista, disse-lhe o Padre Lopes, vigário do lugar, veja se seu marido dá um passeio ao Rio de Janeiro. Isso de estudar sempre, sempre, não é bom, vira o juízo.

D. Evarista ficou aterrada. Foi ter com o marido, disse-lhe "que estava com desejos", um principalmente, o de vir ao Rio de Janeiro e comer tudo o que a ele lhe parecesse adequado a certo fim. Mas aquele grande homem, com a rara sagacidade que o distinguia, penetrou a intenção da esposa e redargüiu-lhe sorrindo que não tivesse medo. Dali foi à Câmara, onde os vereadores debatiam a proposta, e defendeu-a com tanta eloqüência, que a maioria resolveu autorizá-lo ao que pedira, votando ao mesmo tempo um imposto destinado a subsidiar o tratamento, alojamento e mantimento dos doidos pobres. A matéria do imposto não foi fácil achá-la; tudo estava tributado em Itaguaí. Depois de longos estudos, assentou-se em permitir o uso de dois penachos nos cavalos dos enterros. Quem quisesse emplumar os cavalos de um coche mortuário pagaria dois tostões à Câmara, repetindo-se tantas vezes esta quantia quantas fossem as horas decorridas entre a do falecimento e a da última bênção na sepultura. O escrivão perdeu-se nos cálculos aritméticos do rendimento possível da nova taxa; e um dos vereadores, que não acreditava na empresa do médico, pediu que se relevasse o escrivão de um trabalho inútil.

— Os cálculos não são precisos, disse ele, porque o Dr. Bacamarte não arranja nada. Quem é que viu agora meter todos os doidos dentro da mesma casa?

Enganava-se o digno magistrado; o médico arranjou tudo. Uma vez empossado da licença começou logo a construir a casa. Era na Rua Nova, a mais bela rua de Itaguaí naquele tempo; tinha cinqüenta janelas por lado, um pátio no centro, e numerosos cubículos para os hóspedes. Como fosse grande arabista, achou no Corão que Maomé declara veneráveis os doidos, pela consideração de que Alá lhes tira o juízo para que não pequem. A idéia pareceu-lhe bonita e profunda, e ele a fez gravar no frontispício da casa; mas, como tinha medo ao vigário, e por tabela ao bispo, atribuiu o pensamento a Benedito VIII, merecendo com essa fraude aliás pia, que o Padre Lopes lhe contasse, ao almoço, a vida daquele pontífice eminente.

A Casa Verde foi o nome dado ao asilo, por alusão à cor das janelas, que pela primeira vez apareciam verdes em Itaguaí. Inaugurou-se com imensa pompa; de todas as vilas e povoações próximas, e até remotas, e da própria cidade do Rio de Janeiro, correu gente para assistir às cerimônias, que duraram sete dias. Muitos dementes já estavam recolhidos; e os parentes tiveram ocasião de ver o carinho paternal e a caridade cristã com que eles iam ser tratados. D. Evarista, contentíssima com a glória do marido, vestiu-se luxuosamente, cobriu-se de jóias, flores e sedas. Ela foi uma verdadeira rainha naqueles dias memoráveis; ninguém deixou de ir visitá-la duas e três vezes, apesar dos costumes caseiros e recatados do século, e não só a cortejavam como a louvavam; porquanto,—e este fato é um documento altamente honroso para a sociedade do tempo, —porquanto viam nela a feliz esposa de um alto espírito, de um varão ilustre, e, se lhe tinham inveja, era a santa e nobre inveja dos admiradores.

Ao cabo de sete dias expiraram as festas públicas; Itaguaí, tinha finalmente uma casa de orates.

CAPÍTULO II - TORRENTES DE LOUCOS

Três dias depois, numa expansão íntima com o boticário Crispim Soares, desvendou o alienista o mistério do seu coração.

—A caridade, Sr. Soares, entra decerto no meu procedimento, mas entra como tempero, como o sal das coisas, que é assim que interpreto o dito de São Paulo aos Coríntios: "Se eu conhecer quanto se pode saber, e não tiver caridade, não sou nada". O principal nesta minha obra da Casa Verde é estudar profundamente a loucura, os seus diversos graus, classificar-lhe os casos, descobrir enfim a causa do fenômeno e o remédio universal. Este é o mistério do meu coração. Creio que com isto presto um bom serviço à humanidade.

—Um excelente serviço, corrigiu o boticário.

—Sem este asilo, continuou o alienista, pouco poderia fazer; ele dá-me, porém, muito maior campo aos meus estudos.

—Muito maior, acrescentou o outro.

E tinha razão. De todas as vilas e arraiais vizinhos afluíam loucos à Casa Verde. Eram furiosos, eram mansos, eram monomaníacos, era toda a família dos deserdados do espírito. Ao cabo de quatro meses, a Casa Verde era uma povoação. Não bastaram os primeiros cubículos; mandou-se anexar uma galeria de mais trinta e sete. O Padre Lopes confessou que não imaginara a existência de tantos doidos no mundo, e menos ainda o inexplicável de alguns casos. Um, por exemplo, um rapaz bronco e vilão, que todos os dias, depois do almoço, fazia regularmente um discurso acadêmico, ornado de tropos, de antíteses, de apóstrofes, com seus recamos de grego e latim, e suas borlas de Cícero, Apuleio e Tertuliano. O vigário não queria acabar de crer. Quê! um rapaz que ele vira, três meses antes, jogando peteca na rua!

—Não digo que não, respondia-lhe o alienista; mas a verdade é o que Vossa Reverendíssima está vendo. Isto é todos os dias.

— Quanto a mim, tornou o vigário, só se pode explicar pela confusão das línguas na torre de Babel, segundo nos conta a Escritura; provavelmente, confundidas antigamente as línguas, é fácil trocá-las agora, desde que a razão não trabalhe...

—Essa pode ser, com efeito, a explicação divina do fenômeno, concordou o alienista, depois de refletir um instante, mas não é impossível que haja também alguma razão humana, e puramente científica, e disso trato...

—Vá que seja, e fico ansioso. Realmente!

Os loucos por amor eram três ou quatro, mas só dois espantavam pelo curioso do delírio. O primeiro, um Falcão, rapaz de vinte e cinco anos, supunha-se estrela-d’alva, abria os braços e alargava as pernas, para dar-lhes certa feição de raios, e ficava assim horas esquecidas a perguntar se o sol já tinha saído para ele recolher-se. O outro andava sempre, sempre, sempre, à roda das salas ou do pátio, ao longo dos corredores, à procura do fim do mundo. Era um desgraçado, a quem a mulher deixou por seguir um peralvilho. Mal descobrira a fuga, armou-se de uma garrucha, e saiu-lhes no encalço; achou-os duas horas depois, ao pé de uma lagoa, matou-os a ambos com os maiores requintes de crueldade.

O ciúme satisfez-se, mas o vingado estava louco. E então começou aquela ânsia de ir ao fim do mundo à cata dos fugitivos.

A mania das grandezas tinha exemplares notáveis. O mais notável era um pobre-diabo, filho de um algibebe, que narrava às paredes ( porque não olhava nunca para nenhuma pessoa ) toda a sua genealogia, que era esta:

—Deus engendrou um ovo, o ovo engendrou a espada, a espada engendrou Davi, Davi engendrou a púrpura, a púrpura engendrou o duque, o duque engendrou o marquês, o marquês engendrou o conde, que sou eu.

Dava uma pancada na testa, um estalo com os dedos, e repetia cinco, seis vezes seguidas:

—Deus engendrou um ovo, o ovo, etc.

Outro da mesma espécie era um escrivão, que se vendia por mordomo do rei; outro era um boiadeiro de Minas, cuja mania era distribuir boiadas a toda a gente, dava trezentas cabeças a um, seiscentas a outro, mil e duzentas a outro, e não acabava mais. Não falo dos casos de monomania religiosa; apenas citarei um sujeito que, chamando-se João de Deus, dizia agora ser o deus João, e prometia o reino dos céus a quem o adorasse, e as penas do inferno aos outros; e depois desse, o licenciado Garcia, que não dizia nada, porque imaginava que no dia em que chegasse a proferir uma só palavra, todas as estrelas se despegariam do céu e abrasariam a terra; tal era o poder que recebera de Deus.

Assim o escrevia ele no papel que o alienista lhe mandava dar, menos por caridade do que por interesse científico.

Que, na verdade, a paciência do alienista era ainda mais extraordinária do que todas as manias hospedadas na Casa Verde; nada menos que assombrosa. Simão Bacamarte começou por organizar um pessoal de administração; e, aceitando essa idéia ao boticário Crispim Soares, aceitou-lhe também dois sobrinhos, a quem incumbiu da execução de um regimento que lhes deu, aprovado pela Câmara, da distribuição da comida e da roupa, e assim também da escrita, etc. Era o melhor que podia fazer, para somente cuidar do seu ofício.—A Casa Verde, disse ele ao vigário, é agora uma espécie de mundo, em que há o governo temporal e o governo espiritual. E o Padre Lopes ria deste pio trocado,—e acrescentava,—com o único fim de dizer também uma chalaça: —Deixe estar, deixe estar, que hei de mandá-lo denunciar ao papa.

Uma vez desonerado da administração, o alienista procedeu a uma vasta classificação dos seus enfermos. Dividiu-os primeiramente em duas classes principais: os furiosos e os mansos; daí passou às subclasses, monomanias, delírios, alucinações diversas.

Isto feito, começou um estudo aturado e contínuo; analisava os hábitos de cada louco, as horas de acesso, as aversões, as simpatias, as palavras, os gestos, as tendências; inquiria da vida dos enfermos, profissão, costumes, circunstâncias da revelação mórbida, acidentes da infância e da mocidade, doenças de outra espécie, antecedentes na família, uma devassa, enfim, como a não faria o mais atilado corregedor. E cada dia notava uma observação nova, uma descoberta interessante, um fenômeno extraordinário. Ao mesmo tempo estudava o melhor regímen, as substâncias medicamentosas, os meios curativos e os meios paliativos, não só os que vinham nos seus amados árabes, como os que ele mesmo descobria, à força de sagacidade e paciência. Ora, todo esse trabalho levava-lhe o melhor e o mais do tempo. Mal dormia e mal comia; e, ainda comendo, era como se trabalhasse, porque ora interrogava um texto antigo, ora ruminava uma questão, e ia muitas vezes de um cabo a outro do jantar sem dizer uma só palavra a D. Evarista.
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continua… Capitulo III – Deus sabe o que faz; Capítulo IV – Uma teoria nova
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Fonte:
ASSIS, Machado de. O Alienista.