quarta-feira, 27 de junho de 2012

VII Concurso Rubem Braga de Crônicas (Resultado Final)


VENCEDORES


1º LUGAR
Mulher ao livro
Rui Werneck de Capistrano – Curitiba – PR

2º LUGAR
.. E a vida acontece
Marcelo César da Silva – São João Del-Rei – MG

3º LUGAR
Andarilho
Thiago Oliveira de Carvalho – Rio de Janeiro – RJ

MENÇÃO HONROSA 

Números alienígenas
Lucêmio Lopes da Anunciação – Natal – RN

O peso de um sonho
André Telucazu Kondo – Caraguatatuba – SP

Magrela
Sérgio de Barros Prado Moura – Ponta Verde – AL

Porta-retratos da vida
Carmen Sylvia C. Oliveira Macedo – Porto Alegre –RS

O olhar que se perdeu
João Lisboa Cotta – Ponte Nova – MG

A crise moral
Alcir de Melo Pimenta – Campo Grande – RJ

Quem sou eu?
Geraldo Peres Generoso – Ipaussu – SP

O filatelista
Renato Vieira Ostrowski – Campo Magro – PR

Uma emuitas
Vânia Aparecida Mattozo – Florianópolis - SC

Viagem ao ontem
Athalidia Depes Bueno – Cabo Frio – RJ

Indignação
Antonio Jorge Barbosa – Salvador - BA

Avós
Fernanda Carvalho de Almeida – Fortaleza – CE

Vazio existencial
José Anaildo Soares – Caruaru – PE

Em busca do fim
Araí Terezinha B. dos Santos – Campo Largo – PR

Antigamente
João Carlos de Oliveira – Teixeira de Freitas – BA

Um homem indelicado
Rosângela Vieira Rocha – Brasília – DF

Aprendendo c/o pequeno homem
Ricardo Francisco de Camargo Chagas – Ivaiporã – PR

Crônica da paz
Vera Maria Puget Blanco Bao – Rio de Janeiro – RJ

Um simples toque
Irede Inês Masiero Farenzena – Veranópolis – RS

A Justiça exposta em vitrines
André Luís Soares – Guarapari – ES

DESTAQUE

Memórias...
Darly O. Barros – São Paulo – SP

Autobiografia
Maria Apparecida S. Coquemala – Itararé –SP

Crônica
Rafael Alvarenga Gomes – Cabo Frio – RJ

Mosaico Sérgio Sampaio
Ricardo Maggessi Viola – Lambari – MG

Reato
Rachel Queiroz Zuliani – Anchieta – ES

Pernilongo
Hudson Okada – São Paulo – SP

Pescar
Dirceu Badini Martins - Nova Friburgo – RJ

Arte e vida Severina
Tarlei Martins Ferreira – Brasília – DF

O retorno
Paulo Afonso Correia de Paiva – Recife – PE

A hora do pega-pega
Diogo Maluf de Souza V.de Faria – BeloHorizonte-MG

As velhas figueiras do meu bairro
Pedro Diniz de Araújo Franco – Rio de Janeiro – RJ

Sem quintal, com sótão. Para...
José de Jesus Cordeiro Andrade – São Luís – MA

Futuro leitor
Severino Rodrigues da Silva – Paulista – PE

Lugar dos sonhos
Raquel Zampirolo Santos – Cachoeiro de Itapemirim-ES

A chave perdida
Cassiano Gilberto Santos Cabral – Porto Alegre – RS

12 graus
Maurício Fregonesi Falleiros – Ribeirão Preto – SP

Crônica da ficção e da realidade
Heloisa Helena de Campos Borges – Goiânia – GO

O que cavalga por dentro...
Cláudio Alves da Silva – São João de Meriti – RJ

O prestador de serviços gerais
Tânia Teresinha Lopes – Santa Maria – RS

O ouvido de meu pai
Francisco Carlos Farias Trigueiro – Rio de Janeiro – RJ

* Lembramos aos autores que os textos premiados podem ser enviados para publicação no hhtp://textospremiados.blogspot.com 

Fonte:
Enviado por e-mail pela Academia Cachoeirense de Letras para http://concursos-literarios.blogspot.com 

terça-feira, 26 de junho de 2012

Efigênia Coutinho (Queixumes)


Versos apaixonados ao som duma lira
O amor, com doçura leva meu canto;
Pelos olhos azuis, que te desejam tanto
Derretendo o coração, soluça e suspira.

Audaz sonhadora, essa que aspira
Dos teus mimos, o sonho, a ventura,...
Infundi-me em extremos de ternura,
Sentimentos que ao tempo perdura.

Dizes para não amar! Eu clamo e amo,
Bradando lamentos, lágrimas derramo...
Onde deixaste os sonhos do amor?...

Contudo, em mim, o amor perdura
Ao celeste céu, por benignos lumes,
Amando, com ardor, teus queixumes. 

Fonte:
A Poetisa

Concurso de Trovas Campos dos Goytacazes (Resultado Final)


Os vencedores estão em ordem alfabética 

VENCEDORAS - TEMA: FUTURO

JOGOS FLORAIS - DIAS 17, 18 e 19 DE AGOSTO


Na infância há sempre um futuro
para o bom semeador,
porque não há solo duro
para as sementes do amor...
ALBA CHRISTINA CAMPOS NETTO/SP

Densas nuvens ameaçam
o futuro da criança.
- Mais que as da chuva, que passam,
as nuvens da insegurança.
ANTONIO AUGUSTO DE ASSIS/PR

Minha visão de futuro
faz projeções que eu receio:
- Não quero o mundo um monturo,
e eu... parte desse recheio!
DARLY O. BARROS/SP

O construtor previdente,
na labuta, dando duro,
com tijolos do presente
edifica o seu futuro.
DULCIDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO/MG

Felicidade almejada,
no meu futuro eu diviso:
-Em teus olhos, a alvorada;
no teu corpo, o paraíso.
ELIANA RUIZ JIMENEZ/SC

Viver por viver somente,
faz teu mundo tão perjuro,
que este teu falso presente,
é o presente do futuro.
FRANCISCO GARCIA DE ARAÚJO/RN

Eu posso ver meu futuro
nas estrelas a brilhar,
não no céu, que é tão escuro,
mas no azul do teu olhar.
HEGEL PONTES/MG

Minha vida é sem futuro,
pois sou um plebeu, convenho;
porém nos teus braços, juro,
ninguém tem mais do que tenho!...
JOSÉ TAVARES DE LIMA/MG

No presente, ora, inseguro,
fico em meu sonho ancorado...
como pensar no futuro,
se, estou tão preso ao passado?
JOSÉ VALDEZ C. MOURA/SP

Sonhei, com ele, em criança...
Hoje, estou velho... e asseguro
que ainda tenho esperança
e sonho com o futuro.
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA/SP

TROVAS VENCEDORAS
TEMA SORRISO

Sorriso é vida... eu garanto:
sorria, pois, à miúde,
o seu rosto ganha encanto
e, seu corpo, mais saúde!
ALBA HELENA CORRÊA – Niterói/RJ

A alegria que aparece,
num sorriso de criança,
mostra a vida que floresce
e nos enche de esperança ! 
ALMIR PINTO DE AZEVEDO – Cambuci/RJ

Céu de estrelas pontilhado...
Sol generoso e calor, 
seu sorriso pontilhado
é meu caminho de amor!
DIRCE MONTECHIARI – Nova Friburgo/RJ

Um sorriso de criança
e o desabrochar da flor
trazem ao mundo esperança,
sob a inspiração do amor!
JOTA DE JESUS - Saquarema/RJ

Um sorriso deve ser
aberto, alegre e sincero,
vê-lo em você florescer
é tudo que sempre quero.
MARIA DO ROSÁRIO PRATA/RJ

A meiguice da criança
serve-lhe de proteção,
pois o seu sorriso amansa
o mais feroz coração...
LUIZ CARLOS DE CARVALHO – Niterói/RJ

Uma lágrima sentida
sempre chega sem aviso,
mas para alegrar a vida,
basta apenas um sorriso.
LUIZ POETA – Marechal Hermes/RJ

Nos meus sonhos mais precisos
tento vencer a distância,
para encontrar os sorrisos
que alegraram minha infância...
MARIA NASCIMENTO – RJ

Quantos sóis serão precisos
para espargir tantos brilhos
como os que vêm dos sorrisos
dos filhos de nossos filhos!
SANDRO PEREIRA REBEL – Niterói/RJ

Quando me abraça a saudade
e em sorriso, diz: - Bom dia!
Eu sinto que é falsidade,
seu gesto de cortesia.
SONIA MARIA SOBREIRA DA SILVA – Jacarepaguá/RJ

Fonte:
Neiva Fernandes
Presidente da UBT de Campos dos Goytacazes

Carlos Eduardo Novaes [O Day After do Carioca (Ou: O dia em que o Rio de Janeiro Derreteu)]


Aparentemente aquele dia amanheceu igual a todos os outros do mês de janeiro. Céu azul, lavado, um sol forte e musculoso ainda se espreguiçando, uma promessa de calor. Manhã sob medida para turistas, estudantes em férias e desempregados. O Rio, quando quer, sabe como nenhuma outra cidade se enfeitar para o verão. D. Odete Araújo abriu a janela de sua casinha em Bangu e girou a cabeça como se tentando perscrutar o tempo. Viu um cidadão parado na calçada segurando um cigarro. A fumaça do cigarro subia em linha reta, parecia traçada a régua. Não havia a mais leve brisa no ar. D. Odete respirou fundo, passou as costas da mão na testa gotejante e comentou com a vizinha:

 — Acho que hoje chegaremos aos 45 graus.

 Os moradores de Bangu entendem mais do que todos de altas temperaturas. A vizinha deu de ombros. Um grau a mais ou a menos não faz diferença neste inferno suburbano. Na véspera, os termômetros de Bangu acusaram 44.8 graus, quebrando os recordes dos anos de 84, 85, 86 e 87. D. Odete comentou num tom cabalístico que aquele era o 13º dia consecutivo que o Rio se debatia com uma febre de 40 graus.

 No Centro da cidade, um movimento típico das manhãs de verão. As pessoas procurando as sombras, procurando os bares, procurando diminuir o ritmo. Nada de anormal. O contínuo Ademar Ferreira, porém, percebeu o termômetro digital, que uma hora antes acusava 43 graus, agora marcando 48. O amigo, com quem conversava numa esquina da Avenida Rio Branco, disse que os termômetros estavam de miolo mole. Ontem vira um marcando 54 graus. Ademar continuou conversando, tornou a olhar o termômetro: 49 graus. Notou certa inquietação no ar. Os transeuntes se mexiam mais, tiravam o paletó, afrouxavam a gravata: 50 graus. Outras pessoas começaram a perceber a escalada dos termômetros. O calor aumentava: 51 graus. Um grupo preocupado se reuniu em torno de um orelhão e ligou para o Serviço de Meteorologia. O que está acontecendo? Os cientistas admitiam que a temperatura subia. vertiginosa, mas desconheciam as razões. Estavam acompanhando uma frente fria encalhada na Patagônia.

 As pessoas se aglomeravam diante dos termômetros como se acompanhassem o movimento de apostas no Jóquei: 53 graus. As expressões revelavam medo e tensão. O calor tornava-se escaldante. Era como se tivessem ligado o forno da Rio Branco: 55 graus. Não dava mais para ficar exposto ao sol. As pessoas procuraram proteção embaixo das marquises. Muitas, nervosas, se refugiavam em lojas e escritórios com ar condicionado: 56 graus. Um bando de honrados cidadãos invadiu uma loja de eletrodomésticos:

 — Liguem os ventiladores, pelo amor de Deus! — Infelizmente vendemos todos — respondeu o vendedor, torcendo o lenço empapado de suor.

 Na Zona Sul o pânico se alastrava como um rastilho de pólvora. Edevaldo Santos, vendedor de picolés na praia, notou que algo estranho acontecia quando abriu a caixa de isopor e viu os palitos boiando num caldo de sorvete: 60 graus. Não dava mais para atravessar a areia quente. Quem ficou na praia já não podia sair. Dois helicópteros procuravam transportar os banhistas. Primeiro, velhos e crianças! A praia, como a cidade, já estava sob o império do caos, apesar das rádios e televisões pedirem calma à população. A corda que pendia dos helicópteros era disputada a tapa: 65 graus. Faltava ar, a garganta secava, o corpo parecia incandescente. A estudante Luísa Coelho lembrou-se de Joana D'Arc. Teve início a invasão de bares, restaurantes, supermercados. Todos corriam às prateleiras de bebidas. Água, refrigerantes, cerveja, vinho, champanhe, qualquer líquido. Tinha gente bebendo Pinho-Sol.

 O trânsito enlouqueceu de vez. Os motoristas abandonavam seus carros nos congestionamentos. Os ônibus eram largados em qualquer lugar. Os veículos transformavam-se em fornos crematórios: 74 graus. Os pneus começaram a derreter. Nas ruas as pessoas iam se desfazendo das roupas. Vários executivos foram vistos se esgueirando pelos cantos, de cueca, meias e pasta. Começou a invasão dos apartamentos com ar condicionado. Eles viraram uma espécie de abrigo nuclear. Só na minha sala havia 67 pessoas se empurrando para botar a cara na frente do aparelho: 80 graus. De repente ouviu-se um ruído e logo o silêncio do ar-condicionado. A cidade ficara sem energia. O calor derreteu os cabos da Light. O sol esquentava os vidros e o concreto dos prédios. Era insuportável o calor nos apartamentos. A população desesperada saiu às ruas à cata de sombras. Num poste em Madureira havia 23 pessoas espremidas e perfiladas ao longo de sua tira de sombra: 84 graus!

 Os carros dos Bombeiros circulavam pelas ruas com um restinho de água molhando a população. "Aqui, aqui! Joga aqui antes que eu pegue fogo!" Os chafarizes da cidade. estavam mais cheios do que trem da Central. Milhares de. pessoas mergulhavam na Lagoa Rodrigo dA Freitas. Só que esta, como as outras lagoas da cidade, secava rapidamente. As poucas matas pegavam fogo. As ruas de terra rachavam ao melhor estilo nordestino. O asfalto começou a borbulhar. Ploft! A cidade se transformava num caldeirão: 88 graus. No cais do porto os marinheiros se atiravam do convés como se os navios estivessem naufragando. No Santos Dumont um avião da Ponte-Aérea, ao invés de levantar vôo, embicou dentro d'água. O piloto foi aplaudidíssimo pelos passageiros.

 A temperatura estava em torno dos 94 graus. No Sumaré as antenas das emissoras de televisão adernavam, desmaiando lentamente. O Pão de Açúcar começou a derreter como um sorvete de casquinha. Uma mancha escura se espalhava pelo mar. No meio, boiando, o bondinho com turistas americanos fotografando tudo. Outros morros também derretiam. O Dois Irmãos, para surpresa geral, entrou em erupção. A estátua de Cristo tinha desaparecido do alto do Corcovado. Dizem que, quando o morro começou a desmanchar, Ele saiu voando com seus braços abertos. Todo mundo já estava tendo visões e alucinações. Nas calçadas da Visconde de Pirajá — lado da sombra — as pessoas se arrastavam aos gritos de "água, água". Eram inúmeras as miragens. O pipoqueiro Manuel de Souza jura que viu as Sete Quedas na Praça Nossa Senhora da Paz.

 As 17h12min, por fim, o sol começou a perder a força. As pessoas, ainda desconfiadas, foram saindo de dentro das geladeiras, freezers, frigoríficos. Nas câmaras frigoríficas da Cibrazem — contou-se ... — havia 12 mil 344 pessoas. Uma sensação de forno quente pairava sobre o Rio. Somente à meia-noite os termômetros voltaram ao normal: 40 graus. Terminara o efeito-estufa, deixando um rastro de dor e destruição. Não havia uma única gota d'água na cidade. Fomos dormir e no Day After, como não havia trabalho, saímos todos para a praia. Pois creiam: no meio do comércio de sanduíches naturais, chapéus, cocadas, óleo para bronzear, o diabo, já tinha nego vendendo um aparelhozinho para dessalinizar a água do mar.

Fonte:
Carlos Eduardo Novaes. O Day After do carioca. RJ: Ed. Nórdica, 1985.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 590)


Uma Trova de Ademar

Eu oculto as tristes cenas
dentro da minha poesia.
É mais um disfarce apenas
dos que eu uso todo dia...
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional

As prefeituras gastando
altas somas no São João
e o sertanejo lutando
contra a seca no sertão.

–Petronilo Filho/PB–

Uma Trova Potiguar

Junta-se o poeta aos loucos;
um diário vivo em versos,
expressando como poucos
os sentimentos diversos.
–Manoel Cavalcante/RN–

Uma Trova Premiada

2009 - Cantagalo/RJ
Tema - SERTÃO - 3º Lugar

Quem não tem medo da morte,
quem nunca faz nada em vão,
quem, antes de tudo é um forte...
Este é o homem do sertão!
–Renato Alves/RJ–


...E Suas Trovas Ficaram

No universo da poesia
desejei veredas novas,
e encontrei o que eu queria,
ao lançar o anzol nas trovas!

–Enivaldo Borges/SP–

Uma Poesia  

Fez o poeta Ademar
uma bela moradia,
porém fez contrariando
as normas da engenharia;
em vez de ferro e cimento,
paredes de sentimento
recobertas de poesia!...
–Luiz Dutra/RN– 

Soneto do Dia

 SONETO ANTIGO.
–Reginaldo Albuquerque/MS–

Aquela vez por distração, Senhora,
deixaste um par de luvas num banquinho,
por dentro seda e um fino azul por fora...
Recordação de ti que ao peito aninho.

Foi quando ouviste no quintal vizinho,
sobre a relva molhada pela aurora,
tristes queixas de implume passarinho,
esse mesmo que está cantando agora...

Pouco depois, em cima de um barranco,
que gesto! Erguias o bracinho branco
entre os galhos, até ao lar querido...

Mais que tudo, que tua compaixão
era o modesto encanto da porção
de pernas que escapava do vestido...

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Trova 224 - Arlindo Tadeu Hagen (Belo Horizonte/MG)


Carlos Drummond de Andrade (Poesia)

Gastei uma hora pensando em um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 589)


 Uma Trova de Ademar

Quis saber qual mais doía 
mas descobri no entanto, 
que pranto, dor e agonia 
sempre dói do mesmo tanto! 
–Ademar Macedo/RN– 

 Uma Trova Nacional  

Por mais que em ti não pensasse 
uma lágrima escorria, 
irrigando a minha face 
onde eu plantei nostalgia. 
–Francisco José Pessoa/CE– 

 Uma Trova Potiguar  

Em cada beijo roubado, 
que roubo de ti, meu bem, 
sinto o gosto do pecado 
que o beijo roubado tem. 
–Prof. Garcia/RN– 

 Uma Trova Premiada  

2009 - Nova Friburgo/RJ 
Tema - SAUDADE - M/E 

Ah, saudade do passado !
tão presente e tão intensa,
que penso ouvir teu chamado,
buscando a minha presença.
–Sônia Sobreira/RJ– 

 ...E Suas Trovas Ficaram  

Menino, não tenha medo,
que a lei do retorno é certa:
se a vida estraga um brinquedo,
a mão do tempo conserta. 
–Carmen Ottaiano/SP– 

 Uma Poesia  

Sou a parte que não sei
sou o surreal da arte
sou a parte a qual faltei
sou a parte em toda parte
que se parte em pedacinhos
sou vários pequenininhos
sou até o que sobrou
e o que digo andando a esmo?
Se o que vejo de mim mesmo
é tal parte que não sou.
–Kerlle de Magalhães/PE– 

 Soneto do Dia  

ACENDEDOR DE LAMPIÕES.
–Jorge de Lima/AL– 

Lá vem o acendedor de lampiões da rua!
Este mesmo que vem infatigavelmente,
parodiar o sol e associar-se à lua
quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua
outros mais a acender imperturbavelmente,
à medida que a noite aos poucos se acentua
e a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
ele que doira a noite e ilumina a cidade,
talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua
crenças, religiões, amor, felicidade,
como este acendedor de lampiões da rua!

Ialmar Pio Schneider (Livro de Sonetos V)

SONETO 11515

Aqui a solidão já foi embora,
Pois hoje sei que alguém que tem saudade
Não vive só, não sofre, nem mais chora,
Porque esta é enfim a sua realidade.

Andava sorumbático...; por ora
Me reanimei, sabendo da verdade,
Uma vez que não conhecia outrora,
Que recordar também é felicidade !

Fugindo da aflição, relembro bem,
Que fui amado tanto por alguém,
Mas nos deixamos sem saber por quê...

Ingrata vem a ser a nossa história,
Bem guardada no cofre da memória,
Onde estão habitando eu e você !

(15.05.2010 -Porto Alegre - RS)

SONETO 11514

Eu tive uma saudade da mulher
Que um dia dominou minha ilusão,
Como se desfolhasse um bem-me-quer,
Pra ser feliz depois, na solidão...

Mas não foi nesse céu de rosicler,
Que já me trouxe tanta incompreensão,
A vida que pedi, você não quer,
Pois preferiu esta separação...

Procure agora achar o seu conforto
Nas noites hibernais talvez sozinha,
Ouvindo os pios da coruja agreste...

O nosso bom convívio está tão morto
Porque você não quis o que detinha
Num coração mundano e não celeste…

(16.05.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO 11511

Não precisa me amar como te amo,
basta que seja cândida amizade
nosso conhecimento, a flor no ramo
que cultivamos fulge em nossa herdade !

Enfrentemos, assim, a realidade
neste fervor que em alta voz proclamo,
sabendo, embora, que a felicidade,
se não tive-a, também não a reclamo.

Se foi uma das minhas esperanças,
sua presença nesta caminhada,
só quero amar como amam as crianças...

Assim vai ser melhor ao meu tormento,
quando este devaneio der em nada
e dissipar-se ao sussurrar do vento…

(23.05.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO 11492

Esse amor impossível foi demais
e deixou-me saudosas cicatrizes,
que me fazem lembrar dos infelizes,
que não concretizaram seus ideais...

Vivemos nesta vida de aprendizes,
como viveram nossos ancestrais,
buscando aprimorarmos sempre mais,
tudo aquilo que herdamos das raízes.

Mas vamos combinar,... a perfeição
concentra inatingível utopia,
como sabemos muito bem de cor...

Sigamos o que manda o coração,
embora muito sonho e fantasia,
pois iremos assim viver melhor !

(29.05.2010 - Porto Alegre - RS)

SONETO 11449

Não tenho o que fazer por esses dias,
a não ser assistir ao que aparece
em meu televisor. Noites sombrias
em que vou meditando a longa prece...

Você já foi o tema das poesias
que eu compunha, a sós, quando a tarde desce,
hoje vejo que foram fantasias,
os versos que minh´alma não esquece...

Outro motivo leva-me por diante
e vou seguindo assim o meu caminho
com minhas horas mortas nebulosas...

Ainda a vejo em sonhos, linda amante,
e recordando seu gentil carinho,
também relembro o olor daquelas rosas…

(05.06.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO 11439

A vida foi assim meio bisonha
e procurei dizer o que sentia,
através de uma página tristonha
que turvou por demais minha poesia.

Tu vieste fantástica e risonha
e despertaste as horas do meu dia,
em que julgava a existência enfadonha
e não pensava em sonhos de alegria.

Agora te conheço só de vista,
talvez me baste este conhecimento,
ouço uma voz dizer-me alto: ´´Persista !´´

Então, vou percorrendo a longa estrada
que me leva confiante e sonolento,
a gritar-me: ´´Sozinho não és nada !´´

(08.06.2010 - Porto Alegre - RS)

SONETO AO PÔR-DO-SOL

O pôr-do-sol agora está magnífico,
Parece do Senhor uma pintura,
E por isto o momento é beatífico,
Como se unisse Deus à criatura...

A noite vai descendo... colorífico
O céu em tons diversos se mistura,
E mesmo pelos ares odorífico
Vem a ser o ambiente de verdura...

Então, eu me recolho e penso em ti,
Com serena tristeza e nostalgia,
Lembrando nosso amor de frenesi...

Se agora já vai longe a mocidade,
Não esqueço os momentos de alegria,
Embora hoje só reste esta saudade !

(25.05.2010- Porto Alegre - RS)

SONETO PARA DELCY CANALLES

O verso flui da pena da Delcy
Canalles, como as águas vem da fonte
Rumorejante, a deslizar do monte,
Formando um lindo lago azul ali

No vale verde, que se vê defronte
Do arvoredo, onde passa o colibri,
Beijando as flores, como em frenesi
Se avista o sol caindo no horizonte...

A noite vem descendo na cidade...
Nestas horas visita-me a saudade,
E lembro que já tive os meus amores

Da juventude que ficou distante...
Amo, agora, a poesia inebriante
Que sói acalentar os sonhadores…

(19.05.2010 - Porto Alegre - RS)

SONETO DO AMOR SONHADO

Um dia procurei te sepultar
no cemitério zen do esquecimento,
pra nunca mais te ver ou te lembrar,
mas foi em vão este convencimento...

Hoje, vives mais forte, a maltratar
meu coração ferido, no tormento
de nunca conseguir desenraizar
tanta saudade no meu sentimento...

Por que fui conhecer o amor perdido,
se fosse pra sentir tanta emoção,
que ora se me afigura ser proibido?!

Quero deixar de lado a hipocrisia
e te aguardar na velha solidão
que tanto me acompanha noite e dia…

(5.5.2010 - Porto Alegre - RS)
Fonte:
http://www.sonetos.com.br/sonetos.php?n=15178

Elisa Palatnik (Vida de Pediatra Não é Bolinho, Não)

— Alô, dr. Felipe? Pelo amor de Deus, o senhor precisa ver o Dudu. Aqui é Rita, mãe dele.

— Rita? Mas peraí... eu acabei de ver o menino! Vocês acabaram de sair do meu consultório.

— Justamente. Estou aqui no elevador, falando do celular. Tô achando que do consultório até aqui, ele piorou um pouco...

— Mas...

— No décimo andar, ele ainda estava bem. No sexto, comecei a achar um pouco quente. Agora, cheguei no térreo e... ele está pelando!

— Rita, isso é impossível! Eu tirei a temperatura dele há cinco minutos! Você tem que levar ele pra casa, ficar de olho e não esquecer de pingar as três gotas no ouvido...

— Mas "três gotas" é muito vago. O senhor esqueceu de falar o... o tamanho da gota.

— Como assim, o "tamanho da gota"?! Eu sei lá! Gota é tamanho único!

— De forma nenhuma. Tem gotas gordas e gotas magras. Tamanho P, M e G! Mas tudo bem, se o senhor está dizendo que não é importante...

— Então ótimo.

— Peraí, só pra rememorar... são três gotas em cada ouvido, três vezes ao dia. Se ele tem dois ouvidos, são 18 gotas por dia. Durante 20 dias, 360 gotas. Acertei?

— Acertou. Meus parabéns. Até mais ver.

— Um momento! E se acontecer de caírem quatro gotas em vez de três?!

— Qual é o problema?

— Eu é que pergunto! Qual é o problema? Ele pode ficar, sei lá... com alguma seqüela no tímpano? Ficar surdo? Mudo? Gago? Gay?

— Se você não desligar agora, eu vou ficar com seqüelas! Eu!

— Tá, calma... Eu posso pelo menos pedir uma última coisa? Só pra eu ficar tranqüila?

— Ai, Jesus! O quê?

— Deixa eu dar um subidinha aí, rápido. Só pro senhor tirar a temperatura dele uma última vez. Eu... Tá, nem precisa tirar a temperatura, basta olhar pra ele.

— Rita!

— Tá, então eu nem subo. O senhor vê ele pela janela! Já estou aqui com ele, na calçada. Estou levantando no colo, bem alto, pro senhor ver melhor! Só uma olhadinha pela janela...

***
— Alô, dr. Felipe.

— Alôoorg... Rita, são quatro da madrugada. É a sétima vez que você me liga hoje.

— Dessa vez é grave. O Dudu vomitou!

— Claro. Ele está com uma intoxicação. E eu já passei a medicação.

— Mas é que não tá normal... Tá assim com uns grânulos... e com umas cascas... e uns pêlos... acho, inclusive, que tem uma mosca no meio.

— Rita, eu vou desligar.

— Dessa vez é diferente! Juro! A cor, sei lá... Sabe aqueles catálogos de cortina? Pois é, não encontrei nenhuma cor que corresponda...

— Procura num catálogo de estofados que você encontra. Boa noite!

— Mas a aparência está horrível! O senhor tem que dar uma olhada!

— Acontece que eu estou de férias em Cancún! Você está me fazendo uma ligação internacional! E eu não vou voltar pro Brasil pra ver as "golfadas" do Dudu!

— Então... eu tiro uma fotografia das golfadas! Mando por Sedex.

— Não faça isso!

— Vou aproveitar e mandar uma foto minha, ampliada, pro senhor ver como eu estou completamente acabada de preocupação. Alô, dr. Felipe? Ué... desligou.

***
— Dr Felipe? É o senhor?

— Não, aqui é da Funilaria Alcântara. Foi engano. Passar bem.

— Não adianta me enganar! Reconheci sua voz.

— Fala, Rita...

— É sobre a meleca do Dudu. Ela está completamente verde e...

— Claro que está verde! Eu nunca vi meleca roxa! Nem azul! Sempre foi verde! Antes de Cristo, ela já era verde. Os romanos, os egípcios... todos tinham melecas verdes! Cleópatra tinha meleca verde!

— Acontece que não é só a questão da cor. É a quantidade. Pro senhor ter uma idéia, eu já juntei um balde e dois tupper-wares só de catarro.

— Um balde e dois tupper-wares??!

— Guardei na geladeira pra poder mostrar pro senhor quando eu conseguir marcar uma hora. Mas do jeito que está difícil, pra não estragar, vou ter que congelar no freezer.

— Peraí, só pra ver se eu entendi. Você vai congelar o catarro do seu filho... pra me mostrar?

— No dia da consulta eu boto no defrost, potência alta e descongelo. A não ser que o senhor queira ver logo. Eu posso deixar os tupper-wares na portaria do consultório.

— Não! De forma nenhuma! Os... os porteiros podem pensar que... é meu almoço!

— Tá. Então eu vou deixar a fita cassete aí. Pelo menos isso.

— Fita cassete?! Que fita cassete?!

— Que eu gravei com a tosse do Dudu. Pro senhor ouvir. E gravei ele falando 33. Se o senhor não se incomodar, vou mandar também a tosse da minha mãe, que está uma coisa pavorosa — parece que ela engoliu um urso.

— Eu... tá... Manda a tosse de quem você quiser. Do seu pai, da sua tia, de alguma vizinha. Grava em fita. Faz um vídeo. Um documentário. E já que chegamos até aí... por que não um longa? Sobre catarro! O filme pode se chamar "Matou a mãe do paciente e foi ao cinema". Que tal?
Fonte:
Projeto Releituras

Aluísio Azevedo (Casa de Pensão)

A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de Aluísio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da sociedade sobre o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorada.

Autor fiel à tendência naturalista difundida pelo realismo, Aluísio Azevedo focaliza, nesta obra, problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do romantismo, o naturalismo enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comporta-mento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem.

Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espaço (O Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações ainda estão vinculadas à trajetória do herói, nesse caso, Amâncio de Vasconcelos. Mas, como em O Cortiço, a conquista, ordenação e manutenção de um espaço é que impulsiona, motiva e ordena a ação. Espaço e personagem lutam, lado a lado, para evitar a degradação.

As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, alicerçam a construção das personagens e das tramas.

Romance naturalista de 1884, em que o autor, de carreira diplomática bastante acidentada, move personagens que se coadunam perfeitamente com a análise dos críticos de que seus tipos são, via de regra, grosseiros, não se distinguem pela sutileza da compreensão, nem pela frescura dos sentimentos. São eixos de relações da estrutura da presente narrativa a Província - Maranhão, a Corte - Rio de Janeiro, a casa paterna e a casa de pensão.

Estilo

O naturalismo está plenamente representado em Casa de Pensão desde a abertura do romance, quando Amâncio aparece marcado fatalisticamente pela escola e pela família: uma e outra o encheram de revolta. Por causa de um castigo justo ou injusto, "todo o sentimento de justiça e da honra que Amâncio possuía, transformou-se em ódio sistemático pelos seus semelhantes...". O leite que o menino mamou na ama negra também está contagiado e irá marcá-lo. O médico dizia: "Esta mulher tem reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para o futuro." Amâncio é uma cobaia, um campo de experimentação nas mãos do romancista. Nele o fisiológico é muito mais forte do que o psicológico. É o determinismo que vai acompanhar toda a carreira do personagem.

Está presente também na obra o sentido documental e experimental do romance naturalista, renunciando ao sentimentalismo e à evasão, procura construir tudo sobre a realidade. Como já mencionado, a estória do romance se baseia num caso real.

Linguagem

Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estória caminha devagar, lerda e até monótona. É a necessidade de ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a episódios, a personagens e a ambientes. Num episódio, por exemplo, há minúcias de tempo, local e personagens. E móveis de uma sala até os objetos mais miúdos.

Não se pode dizer que a linguagem do romance é regionalista; pelo contrário, o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura morfo-sintática é completamente fiel aos padrões da velha gramática portuguesa.

Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos da língua portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso da apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que não escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal). São exemplos de apossínclise: "Há anos que me não encontro com o amigo." (Há anos que não me...) "Se me não engano, você está certo." Em Casa de Pensão essa posição pronominal é um hábito comum.

Foco narrativo

O autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do elenco dos personagens. Como um observador atento e minucioso dentro das próprias fórmulas apertadas do naturalismo. No caso deste romance, Aluísio Azevedo trabalhou muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais.

Temática

Como em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na criação de personagens coletivos: a casa de pensão, tão comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem vida, uma vida estudante, nas páginas do romance. Aluísio conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos quartos e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, nivelados pela mediocridade e em fácil decadência moral. O autor faz alguns retratos com evidentes traços caricaturais (a sua velha mania ou vocação para a caricatura...), mas fiéis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as pessoas adquirem outros hábitos, informadas ou deformadas por essa vida comunitária tão promíscua. Aí se encontram e se desencontram, se amontoam e se separam tantos indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às vezes, apenas pelo número do quarto. Em O Cortiço o meio social é mais baixo; na Casa de Pensão é médio.

Às doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, ódios, baixos interesses, dinheiro...) se misturam também doenças físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão, a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amâncio na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar. E, num ambiente como esse, quem seria capaz de estudar? É verdade que o rapaz já trazia a sua mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava não era uma profissão, mas apenas um diploma e um título de doutor. Ele, sendo rico, não precisaria da profissão, mas, por vaidade, de um status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa mania de doutor, doença que pegou no Brasil, já foi magistralmente caricaturada em deliciosa carta de Eça de Queirós ao nosso Eduardo Prado: "A nação inteira se doutorou. Do norte ao sul do Brasil, não há, não encontrei senão doutores! Doutores com toda a sorte de insígnias, em toda a sorte de funções!! Doutores com uma espada, comandando soldados; doutores com uma carteira, fundando bancos: doutores com uma sonda, capitaneando navios; doutores com uma apito, comandando a polícia; doutores com uma lira, soltando carnes; doutores com um prumo, construindo edifícios; doutores com balanças, ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, governando o Estado! Todos doutores..." O próprio Aluísio de Azevedo abandonou a Província para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e, certamente também, um título de doutor...

Personagens

Os personagens, sob nomes fictícios, escondem pessoas reais:

Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - (João Capistrano da Silva) estudante, acusado de sedução. Foi absolvido.

Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da tragédia.

Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do rapaz, assassino) é uma viúva, dona da casa de pensão:

João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido).

Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) advogado da família da moça.

Enredo

Amâncio (Da Silva Bastos e Vasconcelos), rapaz rico e provinciano, abandona o Maranhão e segue de navio para o Rio de Janeiro (a Corte) a fim de se encaminhar nos estudos e na vida. É um provinciano que sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de ilusões e vazio de propósitos de estudar... A mãe fica chorosa e o pai, indiferente, como sempre fora no trato meio distante com o filho. O rapaz tinha que se tornar um homem.

Amâncio começa morando em casa do sr. Campos, amigo do Pai, e, forçado, se matricula na Escola de Medicina. Ia começar agora uma vida livre para compensar o tempo em que viveu escravizado às imposições do pai e do professor, o implacável Pires.

Por convite de João Coqueiro, co-proprietário de uma casa de pensão, junto com a sua velhusca mulher Mme. Brizard, muda-se para lá. É tratado com as maiores preferências: os donos da pensão queriam aproveitar o máximo de seu dinheiro e ainda arranjar o seu casamento com Amélia, irmã de Coqueiro. Um sujo jogo de baixo interesses, sobretudo de dinheiro. Naquele ambiente, tudo concorreria para fazer explodir a super-sensualidade do maranhense.

"Ele, coitado, havia fatalmente de ser mau, covarde e traiçoeiro: Na ramificação de seu caráter e sensualidade era o galho único desenvolvido e enfolhado, porque de todos só esse podia crescer e medrar sem auxílios exteriores."

A casa de pensão era um amontoado de gente, em promiscuidade generalizada, apesar da hipócrita moralidade pregada pelo seu dono: havia miséria física e moral, clara e oculta. Com a chegada de Amâncio, a pensão passou a arapuca para prender nos seus laços o jovem, inesperto e rico estudante: pegar o seu dinheiro e casá-lo com a irmã do Coqueiro. Para alcançar o fim, todos os meios eram absolutamente lícitos. Amélia, principalmente quando da doença do rapaz, se desdobrou nos mais íntimos cuidados. Até que se tornou, disfarçadamente, sua amante. Sempre mantendo as aparências do maior respeito exigido dentro da pensão pelo João Coqueiro...

O pai de Amâncio morre no Maranhão. A mãe chama o filho. Ele pretendo voltar, logo que terminarem os seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para vê-la e ver os negócios que o pai deixara. Mas o rapaz está preso à casa de pensão e a Amélia: este o ameaça e só permite sua ida ao Maranhão, depois do casamento. Amâncio prepara sua viagem às escondidas. Mas, no dia do embarque, um oficial e justiça acompanhado de policiais o prende para apresentação à delegacia e prestação de depoimentos. Amâncio é acusado de sedutor da moça. João Coqueiro prepara tudo: o caso foi entregue ao famigerado e chicanista Dr. Teles de Moura. Aparecem duas testemunhas contra o rapaz. Começa o enredado processo: uma confusão de mentiras, de fingimentos, de maucaratismo contra o jovem rico e desfrutável para os interesses pecuniários de Mme. Brizard e marido. Há uma ressonância geral na imprensa e, na maioria, os estudantes se colocam ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. E se coloca contra quem não soube respeitar nem a sua casa...

Três meses depois de iniciado o processo, Amâncio é absolvido. O rapaz é levado em triunfo para um almoço, no Hotel Paris.

"Amâncio passava de braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma mulher famosa." Todo mundo olhava com curiosidade e admiração o estudante absolvido. E lhe atiravam flores, Ouviam-se vivas ao estudante e à Liberdade. Os músicos alemães tocaram a Marselhesa. Parecia um carnaval carioca.

Em outro plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo. A alma envenenada de raiva. Em casa o destampatório da mulher que o acusava de todo o fracasso. As testemunhas reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele. Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Um homem acuado...

Pegou, na gaveta, o revólver do pai. E pensou em se matar. Carregou a arma. Acertou o cano no ouvido. Não teve coragem. Debaixo da sua janela, gritavam injúrias pela sua covardia e mau caráter... No dia seguinte, de manhã, saiu sinistro. Foi ao Hotel Paris. Bateu no quarto II, onde se encontrava o estudante com a rapariga Jeanete. Esta abriu a porta. Amâncio dormia, depois da festa e da bebedeira, de barriga para cima. Coqueiro atirou a queima-roupa. Amâncio passa a mão no peito, abre os olhos, não vê mais ninguém. Ainda diz uma palavra: "mamãe" ... e morre.

Coqueiro foi agarrado por um policial, ao fugir. A cidade se enche de comentários. Muitos visitam o necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos do morto. Um funeral grandioso com a presença de políticos, notícias e necrológicos nos jornais, a cidade toda abalada. A tragédia tomou conta de todos.

A opinião pública começa a flutuar, a mudar de posição: afinal, João Coqueiro tinha lavado a honra da irmã...

Quando D. Ângela, envelhecida e enlutada, chega ao Rio de Janeiro, se viu no meio da confusão, procurando o filho. Numa vitrine, ela descobriu o retrato do filho "na mesa do necrotério, com o tronco nu, o corpo em sangue. Uma legenda: "Amâncio de Vasconcelos, assassinado por João Coqueiro, no Hotel Paris…

Fonte:
Passeiweb

Tatiana Belinky (Lenda Popular Suiça: Guilherme Tell)

Há muitos anos, antes de ser um país livre e soberano, a Suíça era governada por um regente autoritário chamado Gessler. Todo mundo tinha medo dele, porque quem desobedecesse às suas ordens era impiedosamente castigado. A única pessoa que não o temia era um bravo caçador das montanhas de nome Guilherme Tell, respeitado pelos seus conterrâneos por ser, além de homem de bem, um exímio arqueiro. Ninguém o superava na pontaria certeira com o arco e a flecha.

O tirano Gessler, arrogante e vaidoso, gostava de aterrorizar a gente do povo. Por isso, mandou erguer na praça principal um poste no qual fez pendurar o seu chapéu. Diante desse ridículo símbolo de autoridade, todos os passantes deveriam se curvar. E todos obedeciam, de medo de ser cruelmente punidos. Todos, menos Guilherme Tell, que não se submetia àquela humilhação por considerá-la abaixo de sua dignidade. Até que um dia aconteceu de o próprio Gessler estar na praça quando Tell passou por ali com seu filho de 8 anos.

Vendo que o caçador não se curvara diante do chapéu, Gessler ficou furioso e mandou que seus soldados o agarrassem, gritando:

— Tell, tu me desafiaste, e quem me desafia morre. Mas tu podes escapar da morte se fizeres o que eu te ordeno.

E o perverso Gessler mandou que encostassem o filho do caçador ao poste com uma maçã sobre a cabeça. Então, continuou:

— Agora, Tell, terás de provar a tua fama de grande arqueiro acertando a maçã na cabeça do teu filho com uma única flechada. Se acertares, o que duvido, sairás livre. Mas, se errares, serás executado aqui, na frente de todo este povo.

E Guilherme Tell foi colocado no ponto mais distante da praça, com o seu arco e uma flecha.

— Cumpra-se a minha ordem!, bradou Gessler.

— Atire, meu pai, disse o menino. Eu não tenho medo.

Com o coração apertado, Guilherme Tell levantou o arco, apontou a flecha, esticou a corda e, de dentes cerrados, mirou em direção ao alvo. Zummmm! A flecha zuniu no ar, rapidíssima, e rachou ao meio a maçã sobre a cabeça da criança.

Um suspiro de alívio subiu da multidão, que assistia horrorizada àquele cruel espetáculo.

Nesse momento, Gessler viu a ponta de uma outra flecha escondida debaixo do gibão do arqueiro.

— Para que a segunda flecha, se tinhas direito a um só arremesso?, urrou o tirano.

Guilherme Tell respondeu, em alto e bom som:

— A segunda flecha era para varar o teu coração, Gessler, se eu tivesse ferido o meu filho.

E, pegando o menino pela mão, Guilherme Tell deu as costas ao tirano e foi embora.

Anos mais tarde, o arqueiro foi um valoroso combatente pela independência da sua terra e pela liberdade de seu povo.
Fonte:
Contos, Fábulas e outros. Revista Nova Escola.

domingo, 24 de junho de 2012

Raquel Ordones (Saudade é Reviver)


Mara Melinni (Lembrança de uma Caixa de Sapato)


Era o começo de uma tarde tranquila de fim de semana. Não fazia muito sol e as nuvens pareciam combinar um gesto amigo no céu, criando uma sombra agradável no jardim. Eu tinha acabado de almoçar, mas ainda podia ouvir, ao longe, o barulho dos últimos pratos e talheres que eram removidos da mesa, enquanto vozes sussurravam, entre risos, da cozinha.

Eu estava pensativa e fui me sentar debaixo das árvores. Da cadeira de balanço, no embalo do vai e vem, comecei a olhar para os meus pés pequenos, que buscavam apoio no portão da varanda. Uma leve sonolência me envolvia e revivi, naquele momento, algumas cenas e sensações dos meus primeiros anos na escola, que retornaram em uma lembrança encantadora.

E pensar que tudo começava daquele mero olhar de pés...! Partia por uma viagem no tempo... Recordava-me, perfeitamente, das chinelas que usávamos nos primeiros anos da escola. Eram todas iguais, de borracha e couro, na cor azul escuro. Minha mãe sempre comprava um número acima do meu, senão não suportariam o final do ano, já que pé de criança cresce num piscar de olhos.

Mas o auge da minha ansiedade era passar para a antiga primeira série. Deixaria de lado as sandálias azuis, que combinavam com batinhas de algodão, com uma cor para cada ano, feitas com bicos e com o nome bordado no bolso que geralmente ficava na frente, onde todos os alunos costumavam trazer um lenço. Esse era o uniforme e tudo era preparado, com capricho, em casa.

Enfim, eu estava crescendo. Já sabia ler e escrever. Era tempo de assumir novas responsabilidades e de, finalmente, poder usar o tão sonhado objeto dos meus desejos (e de todas as meninas de seis anos de minha época)! Eu nunca me esqueci da primeira vez em que coloquei os meus pés dentro daquele sapato-boneca! Ele era perfeito, preto, com um detalhe que me orgulhava: tinha um salto quadrado, mas, enfim, era um salto!

Foi amor à primeira vista, um sucesso. Eu queria passar o dia inteiro desfilando com eles nos pés, dentro de casa. Mas minha mãe logo veio me explicar que os sapatos deveriam ficar na caixa, esperando pelo primeiro dia de aula. Eu adorava estar de férias, mas a ânsia de sair com eles, pela primeira vez, fazia-me desejar que os dias corressem.

Para completar, havia outra novidade. Eu, enfim, usaria um novo fardamento na escola, composto por camiseta branca, com o símbolo do educandário pintado no peito, e mais: calça! Sim, calça de tecido azul escuro, que geralmente era brim. Tudo isso, com os meus sonhados sapatos, combinados com meias brancas. Parecia um conto de fadas ir para a escola...! 

E eu me sentia tão majestosa naqueles trajes, que não gostava do dia da educação física, quando os sapatos-boneca ficavam repousando em um dia merecido de folga. Pena que só cheguei a usá-los por dois anos, pois a escola resolveu adotar o tênis como o calçado oficial, para a tristeza de outras tantas meninas que aguardavam o momento de usar os seus quase sapatinhos de cristal.

Sinto saudade... A magia daquele singelo par de sapatos devolve-me puras e valiosas sensações. Olho para os meus pés, após um cochilo no tempo, e a lembrança revivida em minúsculos detalhes, leva-me a rir à-toa... E a vida recupera, mais uma vez, todo o encanto que eu guardava dentro daquela caixa de sapatos...!

Fonte:
http://melinni.blogspot.com.br/2012/03/lembranca-de-uma-caixa-de-sapato.html