segunda-feira, 25 de junho de 2012

Elisa Palatnik (Vida de Pediatra Não é Bolinho, Não)

— Alô, dr. Felipe? Pelo amor de Deus, o senhor precisa ver o Dudu. Aqui é Rita, mãe dele.

— Rita? Mas peraí... eu acabei de ver o menino! Vocês acabaram de sair do meu consultório.

— Justamente. Estou aqui no elevador, falando do celular. Tô achando que do consultório até aqui, ele piorou um pouco...

— Mas...

— No décimo andar, ele ainda estava bem. No sexto, comecei a achar um pouco quente. Agora, cheguei no térreo e... ele está pelando!

— Rita, isso é impossível! Eu tirei a temperatura dele há cinco minutos! Você tem que levar ele pra casa, ficar de olho e não esquecer de pingar as três gotas no ouvido...

— Mas "três gotas" é muito vago. O senhor esqueceu de falar o... o tamanho da gota.

— Como assim, o "tamanho da gota"?! Eu sei lá! Gota é tamanho único!

— De forma nenhuma. Tem gotas gordas e gotas magras. Tamanho P, M e G! Mas tudo bem, se o senhor está dizendo que não é importante...

— Então ótimo.

— Peraí, só pra rememorar... são três gotas em cada ouvido, três vezes ao dia. Se ele tem dois ouvidos, são 18 gotas por dia. Durante 20 dias, 360 gotas. Acertei?

— Acertou. Meus parabéns. Até mais ver.

— Um momento! E se acontecer de caírem quatro gotas em vez de três?!

— Qual é o problema?

— Eu é que pergunto! Qual é o problema? Ele pode ficar, sei lá... com alguma seqüela no tímpano? Ficar surdo? Mudo? Gago? Gay?

— Se você não desligar agora, eu vou ficar com seqüelas! Eu!

— Tá, calma... Eu posso pelo menos pedir uma última coisa? Só pra eu ficar tranqüila?

— Ai, Jesus! O quê?

— Deixa eu dar um subidinha aí, rápido. Só pro senhor tirar a temperatura dele uma última vez. Eu... Tá, nem precisa tirar a temperatura, basta olhar pra ele.

— Rita!

— Tá, então eu nem subo. O senhor vê ele pela janela! Já estou aqui com ele, na calçada. Estou levantando no colo, bem alto, pro senhor ver melhor! Só uma olhadinha pela janela...

***
— Alô, dr. Felipe.

— Alôoorg... Rita, são quatro da madrugada. É a sétima vez que você me liga hoje.

— Dessa vez é grave. O Dudu vomitou!

— Claro. Ele está com uma intoxicação. E eu já passei a medicação.

— Mas é que não tá normal... Tá assim com uns grânulos... e com umas cascas... e uns pêlos... acho, inclusive, que tem uma mosca no meio.

— Rita, eu vou desligar.

— Dessa vez é diferente! Juro! A cor, sei lá... Sabe aqueles catálogos de cortina? Pois é, não encontrei nenhuma cor que corresponda...

— Procura num catálogo de estofados que você encontra. Boa noite!

— Mas a aparência está horrível! O senhor tem que dar uma olhada!

— Acontece que eu estou de férias em Cancún! Você está me fazendo uma ligação internacional! E eu não vou voltar pro Brasil pra ver as "golfadas" do Dudu!

— Então... eu tiro uma fotografia das golfadas! Mando por Sedex.

— Não faça isso!

— Vou aproveitar e mandar uma foto minha, ampliada, pro senhor ver como eu estou completamente acabada de preocupação. Alô, dr. Felipe? Ué... desligou.

***
— Dr Felipe? É o senhor?

— Não, aqui é da Funilaria Alcântara. Foi engano. Passar bem.

— Não adianta me enganar! Reconheci sua voz.

— Fala, Rita...

— É sobre a meleca do Dudu. Ela está completamente verde e...

— Claro que está verde! Eu nunca vi meleca roxa! Nem azul! Sempre foi verde! Antes de Cristo, ela já era verde. Os romanos, os egípcios... todos tinham melecas verdes! Cleópatra tinha meleca verde!

— Acontece que não é só a questão da cor. É a quantidade. Pro senhor ter uma idéia, eu já juntei um balde e dois tupper-wares só de catarro.

— Um balde e dois tupper-wares??!

— Guardei na geladeira pra poder mostrar pro senhor quando eu conseguir marcar uma hora. Mas do jeito que está difícil, pra não estragar, vou ter que congelar no freezer.

— Peraí, só pra ver se eu entendi. Você vai congelar o catarro do seu filho... pra me mostrar?

— No dia da consulta eu boto no defrost, potência alta e descongelo. A não ser que o senhor queira ver logo. Eu posso deixar os tupper-wares na portaria do consultório.

— Não! De forma nenhuma! Os... os porteiros podem pensar que... é meu almoço!

— Tá. Então eu vou deixar a fita cassete aí. Pelo menos isso.

— Fita cassete?! Que fita cassete?!

— Que eu gravei com a tosse do Dudu. Pro senhor ouvir. E gravei ele falando 33. Se o senhor não se incomodar, vou mandar também a tosse da minha mãe, que está uma coisa pavorosa — parece que ela engoliu um urso.

— Eu... tá... Manda a tosse de quem você quiser. Do seu pai, da sua tia, de alguma vizinha. Grava em fita. Faz um vídeo. Um documentário. E já que chegamos até aí... por que não um longa? Sobre catarro! O filme pode se chamar "Matou a mãe do paciente e foi ao cinema". Que tal?
Fonte:
Projeto Releituras

Aluísio Azevedo (Casa de Pensão)

A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de Aluísio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da sociedade sobre o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorada.

Autor fiel à tendência naturalista difundida pelo realismo, Aluísio Azevedo focaliza, nesta obra, problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do romantismo, o naturalismo enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comporta-mento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem.

Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espaço (O Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações ainda estão vinculadas à trajetória do herói, nesse caso, Amâncio de Vasconcelos. Mas, como em O Cortiço, a conquista, ordenação e manutenção de um espaço é que impulsiona, motiva e ordena a ação. Espaço e personagem lutam, lado a lado, para evitar a degradação.

As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, alicerçam a construção das personagens e das tramas.

Romance naturalista de 1884, em que o autor, de carreira diplomática bastante acidentada, move personagens que se coadunam perfeitamente com a análise dos críticos de que seus tipos são, via de regra, grosseiros, não se distinguem pela sutileza da compreensão, nem pela frescura dos sentimentos. São eixos de relações da estrutura da presente narrativa a Província - Maranhão, a Corte - Rio de Janeiro, a casa paterna e a casa de pensão.

Estilo

O naturalismo está plenamente representado em Casa de Pensão desde a abertura do romance, quando Amâncio aparece marcado fatalisticamente pela escola e pela família: uma e outra o encheram de revolta. Por causa de um castigo justo ou injusto, "todo o sentimento de justiça e da honra que Amâncio possuía, transformou-se em ódio sistemático pelos seus semelhantes...". O leite que o menino mamou na ama negra também está contagiado e irá marcá-lo. O médico dizia: "Esta mulher tem reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para o futuro." Amâncio é uma cobaia, um campo de experimentação nas mãos do romancista. Nele o fisiológico é muito mais forte do que o psicológico. É o determinismo que vai acompanhar toda a carreira do personagem.

Está presente também na obra o sentido documental e experimental do romance naturalista, renunciando ao sentimentalismo e à evasão, procura construir tudo sobre a realidade. Como já mencionado, a estória do romance se baseia num caso real.

Linguagem

Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estória caminha devagar, lerda e até monótona. É a necessidade de ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a episódios, a personagens e a ambientes. Num episódio, por exemplo, há minúcias de tempo, local e personagens. E móveis de uma sala até os objetos mais miúdos.

Não se pode dizer que a linguagem do romance é regionalista; pelo contrário, o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura morfo-sintática é completamente fiel aos padrões da velha gramática portuguesa.

Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos da língua portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso da apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que não escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal). São exemplos de apossínclise: "Há anos que me não encontro com o amigo." (Há anos que não me...) "Se me não engano, você está certo." Em Casa de Pensão essa posição pronominal é um hábito comum.

Foco narrativo

O autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do elenco dos personagens. Como um observador atento e minucioso dentro das próprias fórmulas apertadas do naturalismo. No caso deste romance, Aluísio Azevedo trabalhou muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais.

Temática

Como em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na criação de personagens coletivos: a casa de pensão, tão comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem vida, uma vida estudante, nas páginas do romance. Aluísio conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos quartos e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, nivelados pela mediocridade e em fácil decadência moral. O autor faz alguns retratos com evidentes traços caricaturais (a sua velha mania ou vocação para a caricatura...), mas fiéis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as pessoas adquirem outros hábitos, informadas ou deformadas por essa vida comunitária tão promíscua. Aí se encontram e se desencontram, se amontoam e se separam tantos indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às vezes, apenas pelo número do quarto. Em O Cortiço o meio social é mais baixo; na Casa de Pensão é médio.

Às doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, ódios, baixos interesses, dinheiro...) se misturam também doenças físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão, a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amâncio na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar. E, num ambiente como esse, quem seria capaz de estudar? É verdade que o rapaz já trazia a sua mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava não era uma profissão, mas apenas um diploma e um título de doutor. Ele, sendo rico, não precisaria da profissão, mas, por vaidade, de um status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa mania de doutor, doença que pegou no Brasil, já foi magistralmente caricaturada em deliciosa carta de Eça de Queirós ao nosso Eduardo Prado: "A nação inteira se doutorou. Do norte ao sul do Brasil, não há, não encontrei senão doutores! Doutores com toda a sorte de insígnias, em toda a sorte de funções!! Doutores com uma espada, comandando soldados; doutores com uma carteira, fundando bancos: doutores com uma sonda, capitaneando navios; doutores com uma apito, comandando a polícia; doutores com uma lira, soltando carnes; doutores com um prumo, construindo edifícios; doutores com balanças, ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, governando o Estado! Todos doutores..." O próprio Aluísio de Azevedo abandonou a Província para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e, certamente também, um título de doutor...

Personagens

Os personagens, sob nomes fictícios, escondem pessoas reais:

Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - (João Capistrano da Silva) estudante, acusado de sedução. Foi absolvido.

Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da tragédia.

Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do rapaz, assassino) é uma viúva, dona da casa de pensão:

João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido).

Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) advogado da família da moça.

Enredo

Amâncio (Da Silva Bastos e Vasconcelos), rapaz rico e provinciano, abandona o Maranhão e segue de navio para o Rio de Janeiro (a Corte) a fim de se encaminhar nos estudos e na vida. É um provinciano que sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de ilusões e vazio de propósitos de estudar... A mãe fica chorosa e o pai, indiferente, como sempre fora no trato meio distante com o filho. O rapaz tinha que se tornar um homem.

Amâncio começa morando em casa do sr. Campos, amigo do Pai, e, forçado, se matricula na Escola de Medicina. Ia começar agora uma vida livre para compensar o tempo em que viveu escravizado às imposições do pai e do professor, o implacável Pires.

Por convite de João Coqueiro, co-proprietário de uma casa de pensão, junto com a sua velhusca mulher Mme. Brizard, muda-se para lá. É tratado com as maiores preferências: os donos da pensão queriam aproveitar o máximo de seu dinheiro e ainda arranjar o seu casamento com Amélia, irmã de Coqueiro. Um sujo jogo de baixo interesses, sobretudo de dinheiro. Naquele ambiente, tudo concorreria para fazer explodir a super-sensualidade do maranhense.

"Ele, coitado, havia fatalmente de ser mau, covarde e traiçoeiro: Na ramificação de seu caráter e sensualidade era o galho único desenvolvido e enfolhado, porque de todos só esse podia crescer e medrar sem auxílios exteriores."

A casa de pensão era um amontoado de gente, em promiscuidade generalizada, apesar da hipócrita moralidade pregada pelo seu dono: havia miséria física e moral, clara e oculta. Com a chegada de Amâncio, a pensão passou a arapuca para prender nos seus laços o jovem, inesperto e rico estudante: pegar o seu dinheiro e casá-lo com a irmã do Coqueiro. Para alcançar o fim, todos os meios eram absolutamente lícitos. Amélia, principalmente quando da doença do rapaz, se desdobrou nos mais íntimos cuidados. Até que se tornou, disfarçadamente, sua amante. Sempre mantendo as aparências do maior respeito exigido dentro da pensão pelo João Coqueiro...

O pai de Amâncio morre no Maranhão. A mãe chama o filho. Ele pretendo voltar, logo que terminarem os seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para vê-la e ver os negócios que o pai deixara. Mas o rapaz está preso à casa de pensão e a Amélia: este o ameaça e só permite sua ida ao Maranhão, depois do casamento. Amâncio prepara sua viagem às escondidas. Mas, no dia do embarque, um oficial e justiça acompanhado de policiais o prende para apresentação à delegacia e prestação de depoimentos. Amâncio é acusado de sedutor da moça. João Coqueiro prepara tudo: o caso foi entregue ao famigerado e chicanista Dr. Teles de Moura. Aparecem duas testemunhas contra o rapaz. Começa o enredado processo: uma confusão de mentiras, de fingimentos, de maucaratismo contra o jovem rico e desfrutável para os interesses pecuniários de Mme. Brizard e marido. Há uma ressonância geral na imprensa e, na maioria, os estudantes se colocam ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. E se coloca contra quem não soube respeitar nem a sua casa...

Três meses depois de iniciado o processo, Amâncio é absolvido. O rapaz é levado em triunfo para um almoço, no Hotel Paris.

"Amâncio passava de braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma mulher famosa." Todo mundo olhava com curiosidade e admiração o estudante absolvido. E lhe atiravam flores, Ouviam-se vivas ao estudante e à Liberdade. Os músicos alemães tocaram a Marselhesa. Parecia um carnaval carioca.

Em outro plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo. A alma envenenada de raiva. Em casa o destampatório da mulher que o acusava de todo o fracasso. As testemunhas reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele. Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Um homem acuado...

Pegou, na gaveta, o revólver do pai. E pensou em se matar. Carregou a arma. Acertou o cano no ouvido. Não teve coragem. Debaixo da sua janela, gritavam injúrias pela sua covardia e mau caráter... No dia seguinte, de manhã, saiu sinistro. Foi ao Hotel Paris. Bateu no quarto II, onde se encontrava o estudante com a rapariga Jeanete. Esta abriu a porta. Amâncio dormia, depois da festa e da bebedeira, de barriga para cima. Coqueiro atirou a queima-roupa. Amâncio passa a mão no peito, abre os olhos, não vê mais ninguém. Ainda diz uma palavra: "mamãe" ... e morre.

Coqueiro foi agarrado por um policial, ao fugir. A cidade se enche de comentários. Muitos visitam o necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos do morto. Um funeral grandioso com a presença de políticos, notícias e necrológicos nos jornais, a cidade toda abalada. A tragédia tomou conta de todos.

A opinião pública começa a flutuar, a mudar de posição: afinal, João Coqueiro tinha lavado a honra da irmã...

Quando D. Ângela, envelhecida e enlutada, chega ao Rio de Janeiro, se viu no meio da confusão, procurando o filho. Numa vitrine, ela descobriu o retrato do filho "na mesa do necrotério, com o tronco nu, o corpo em sangue. Uma legenda: "Amâncio de Vasconcelos, assassinado por João Coqueiro, no Hotel Paris…

Fonte:
Passeiweb

Tatiana Belinky (Lenda Popular Suiça: Guilherme Tell)

Há muitos anos, antes de ser um país livre e soberano, a Suíça era governada por um regente autoritário chamado Gessler. Todo mundo tinha medo dele, porque quem desobedecesse às suas ordens era impiedosamente castigado. A única pessoa que não o temia era um bravo caçador das montanhas de nome Guilherme Tell, respeitado pelos seus conterrâneos por ser, além de homem de bem, um exímio arqueiro. Ninguém o superava na pontaria certeira com o arco e a flecha.

O tirano Gessler, arrogante e vaidoso, gostava de aterrorizar a gente do povo. Por isso, mandou erguer na praça principal um poste no qual fez pendurar o seu chapéu. Diante desse ridículo símbolo de autoridade, todos os passantes deveriam se curvar. E todos obedeciam, de medo de ser cruelmente punidos. Todos, menos Guilherme Tell, que não se submetia àquela humilhação por considerá-la abaixo de sua dignidade. Até que um dia aconteceu de o próprio Gessler estar na praça quando Tell passou por ali com seu filho de 8 anos.

Vendo que o caçador não se curvara diante do chapéu, Gessler ficou furioso e mandou que seus soldados o agarrassem, gritando:

— Tell, tu me desafiaste, e quem me desafia morre. Mas tu podes escapar da morte se fizeres o que eu te ordeno.

E o perverso Gessler mandou que encostassem o filho do caçador ao poste com uma maçã sobre a cabeça. Então, continuou:

— Agora, Tell, terás de provar a tua fama de grande arqueiro acertando a maçã na cabeça do teu filho com uma única flechada. Se acertares, o que duvido, sairás livre. Mas, se errares, serás executado aqui, na frente de todo este povo.

E Guilherme Tell foi colocado no ponto mais distante da praça, com o seu arco e uma flecha.

— Cumpra-se a minha ordem!, bradou Gessler.

— Atire, meu pai, disse o menino. Eu não tenho medo.

Com o coração apertado, Guilherme Tell levantou o arco, apontou a flecha, esticou a corda e, de dentes cerrados, mirou em direção ao alvo. Zummmm! A flecha zuniu no ar, rapidíssima, e rachou ao meio a maçã sobre a cabeça da criança.

Um suspiro de alívio subiu da multidão, que assistia horrorizada àquele cruel espetáculo.

Nesse momento, Gessler viu a ponta de uma outra flecha escondida debaixo do gibão do arqueiro.

— Para que a segunda flecha, se tinhas direito a um só arremesso?, urrou o tirano.

Guilherme Tell respondeu, em alto e bom som:

— A segunda flecha era para varar o teu coração, Gessler, se eu tivesse ferido o meu filho.

E, pegando o menino pela mão, Guilherme Tell deu as costas ao tirano e foi embora.

Anos mais tarde, o arqueiro foi um valoroso combatente pela independência da sua terra e pela liberdade de seu povo.
Fonte:
Contos, Fábulas e outros. Revista Nova Escola.

domingo, 24 de junho de 2012

Raquel Ordones (Saudade é Reviver)


Mara Melinni (Lembrança de uma Caixa de Sapato)


Era o começo de uma tarde tranquila de fim de semana. Não fazia muito sol e as nuvens pareciam combinar um gesto amigo no céu, criando uma sombra agradável no jardim. Eu tinha acabado de almoçar, mas ainda podia ouvir, ao longe, o barulho dos últimos pratos e talheres que eram removidos da mesa, enquanto vozes sussurravam, entre risos, da cozinha.

Eu estava pensativa e fui me sentar debaixo das árvores. Da cadeira de balanço, no embalo do vai e vem, comecei a olhar para os meus pés pequenos, que buscavam apoio no portão da varanda. Uma leve sonolência me envolvia e revivi, naquele momento, algumas cenas e sensações dos meus primeiros anos na escola, que retornaram em uma lembrança encantadora.

E pensar que tudo começava daquele mero olhar de pés...! Partia por uma viagem no tempo... Recordava-me, perfeitamente, das chinelas que usávamos nos primeiros anos da escola. Eram todas iguais, de borracha e couro, na cor azul escuro. Minha mãe sempre comprava um número acima do meu, senão não suportariam o final do ano, já que pé de criança cresce num piscar de olhos.

Mas o auge da minha ansiedade era passar para a antiga primeira série. Deixaria de lado as sandálias azuis, que combinavam com batinhas de algodão, com uma cor para cada ano, feitas com bicos e com o nome bordado no bolso que geralmente ficava na frente, onde todos os alunos costumavam trazer um lenço. Esse era o uniforme e tudo era preparado, com capricho, em casa.

Enfim, eu estava crescendo. Já sabia ler e escrever. Era tempo de assumir novas responsabilidades e de, finalmente, poder usar o tão sonhado objeto dos meus desejos (e de todas as meninas de seis anos de minha época)! Eu nunca me esqueci da primeira vez em que coloquei os meus pés dentro daquele sapato-boneca! Ele era perfeito, preto, com um detalhe que me orgulhava: tinha um salto quadrado, mas, enfim, era um salto!

Foi amor à primeira vista, um sucesso. Eu queria passar o dia inteiro desfilando com eles nos pés, dentro de casa. Mas minha mãe logo veio me explicar que os sapatos deveriam ficar na caixa, esperando pelo primeiro dia de aula. Eu adorava estar de férias, mas a ânsia de sair com eles, pela primeira vez, fazia-me desejar que os dias corressem.

Para completar, havia outra novidade. Eu, enfim, usaria um novo fardamento na escola, composto por camiseta branca, com o símbolo do educandário pintado no peito, e mais: calça! Sim, calça de tecido azul escuro, que geralmente era brim. Tudo isso, com os meus sonhados sapatos, combinados com meias brancas. Parecia um conto de fadas ir para a escola...! 

E eu me sentia tão majestosa naqueles trajes, que não gostava do dia da educação física, quando os sapatos-boneca ficavam repousando em um dia merecido de folga. Pena que só cheguei a usá-los por dois anos, pois a escola resolveu adotar o tênis como o calçado oficial, para a tristeza de outras tantas meninas que aguardavam o momento de usar os seus quase sapatinhos de cristal.

Sinto saudade... A magia daquele singelo par de sapatos devolve-me puras e valiosas sensações. Olho para os meus pés, após um cochilo no tempo, e a lembrança revivida em minúsculos detalhes, leva-me a rir à-toa... E a vida recupera, mais uma vez, todo o encanto que eu guardava dentro daquela caixa de sapatos...!

Fonte:
http://melinni.blogspot.com.br/2012/03/lembranca-de-uma-caixa-de-sapato.html

Clevane Pessoa (Cordel em Quadras:Lavadeirinhas)

Lavadeiras (pintura de Marcos José)
Para amenizar a lida,
as lavadeiras de Minas
lavam cantando demais
o que lhes vai pela vida...

Rezam louvando a Maria,
cantarolam seus amores,
em coro choram suas dores,
sérias, mostram sua alegria,,,

Nas pedras batem os panos,
às vezes soltam risadas
enquanto dão suas braçadas,
as mesmas de tantos anos...

Às vezes, roupas perseguem,
que lhes fugiram das mãos,
os peixes são seus irmãos
por mais que os peixes o neguem...

Velho Chico, um grande rio,
acostumado às cantigas,
vê nelas grandes amigas,
a ninar seu passadio...

Os passarinhos se intrigam:
de que penas são tais vozes,
cantando lentas, velozes,
que sobre as margens se abrigam?

No Jequitinhonha, do Alto
cantam tanto as de Almenara,
que seu coro, qual jóia rara,
está num CD bem lauto...

Cantavam as ribeirinhas, 
em Portugal, no passado,
e ao vir prá cá, com agrado,
trouxeram suas musiquinhas...

Por isso cantam as baianas 
quando lavam na Abaeté,
linda lagoa - e com fé,
rezem sagradas, profanas...

Sobre madeira flutuante
- cada mulher tem seu porto
por questão de mais conforto
a cabocla lava expectante:

vigia se o boto aparece,
peixe em moço transformado,
um sedutor encantado
(senão a barriga cresce)...

As roupas brancas clareadas 
à luz do sol, clareador,
ficam alvas, sim senhor
e depois serão engomadas...

São lindas as lavadeiras,
em belas coreografias
ensaiadas todos dias,
dançam e cantam faceiras

E esse show, sem ser ensaiado
toca qualquer coração,
pois corpos, braços, sabão,
são um todo sincronizado...

Desaparecem os cansaços
nas canções alegrezinhas
que são seus melhores traços
-Que cantem sempre,avezinhas!

Fonte:
http://www.clevanepessoa.net/visualizar.php?idt=17568
Pintura por Marcos José

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Poesias e Trovas) 2



Vil Metal
Antonio Manoel Abreu Sardenberg
São Fidélis "Cidade Poema"

Nessa vida só descobre
Quem usa a sabedoria
Para entender que o nobre
Nem sempre se avalia
Usando o ouro e o cobre
Para dizer quem é rico
Ou indicar quem é pobre!

A pobreza e a riqueza
não se vêem pelo metal!
Esse juízo é fatal,
é vil, cruel e perverso;
é como julgar poema
simplesmente por um verso!

A riqueza está na alma,
no cerne, no interior,
no âmago de cada um...
por isso digo sem medo
e sem receio nenhum:
(observa e descobre)
tem muito "pobre" que é rico,
tem muito "rico" que é pobre!

O que mais dói 
Patativa do Assaré 
1909 - 2001 

O que mais dói não é sofrer saudade 
Do amor querido que se encontra ausente
Nem a lembrança que o coração sente 
Dos belos sonhos da primeira idade. 
Não é também a dura crueldade 
Do falso amigo, quando engana a gente, 
Nem os martírios de uma dor latente, 
Quando a moléstia o nosso corpo invade. 
O que mais dói e o peito nos oprime, 
E nos revolta mais que o próprio crime, 
Não é perder da posição um grau. 
É ver os votos de um país inteiro, 
Desde o praciano ao camponês roceiro, 
Pra eleger um presidente mau. 

TROVAS

Extraídas do " O TROVADOR"
Órgão Cultural da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte
Ano XII - nº 52 - página 7 -

"Trove lá que eu Trovo cá"
O Boletim que extraímos essas trovas foram enviadas pelo saudoso amigo e grande trovador Francisco Macedo. Uma forma de lembrar o relevante serviço prestado pelo grande poeta a cultura brasileira.

Sabedoria não cabe, 
nas vaidades mortais, 
o sábio mesmo é quem sabe 
que precisa saber mais. 
Geraldo Amâncio/CE 

Estudante noite e dia, 
como quem cumpre uma lei, 
consegui sabedoria 
pra saber que nada sei 
José Lucas de Barros/RN 

Se conselho resolvesse, 
resultasse em melhoria, 
por mais que se pretendesse 
não se dava...se vendia! 
Flávio Stefani/RS 

Conselhos bons, de verdade, 
por mais que já estejam velhos... 
Recolho com humildade, 
nas folhas dos evangelhos!... 
Francisco N. Macedo/RN 

Com o dom do entendimento, 
o bem do mal eu separo, 
evito causar tormento 
e do irmão me torno amparo. 
Leda Colleti/SP 

Quando na terra cessar 
fome, guerra e sofrimento, 
ninguém mais vai duvidar 
do valor do entendimento. 
Hélio Pedro Souza/RN 

O entendimento se faz 
como amor no coração, 
sem guerras, com muita paz 
e abrançando nosso irmão. 
Clério José Borges/ES 

A inspiração é o momento, 
que num poema imortal, 
faz do verso entendimento 
da linguagem universal. 
Hélio A.S. Souza /RN 

Enquanto a ciência avança, 
fato novo se descobre... 
E o fruto do que se alcança, 
Torna a ciência mais nobre! 
Prof. Garcia/RN 

Só peço a Deus fortaleza 
para levar minha cruz; 
- mais vigor (vindo a fraqueza); 
nas trevas ver sua luz! 
Geraldo Lira/RN 

Mesmo na dor, pus de pé, 
com espernças sem fim, 
a fortaleza de fé 
que existe dentro de mim! 
Ademar Macedo/RN 

De posse do entendimento 
das palavras de Jesus, 
as trevas do pensamento 
viram caminho da Luz. 
Jair Figueiredo/RN 

Me ajuda, Ó Deus! Me conforta... 
Piedade, Senhor, piedade! 
Me afasta, da esposa morta, 
o suplício da saudade! 
Humberto R. Neto 

Piedade é chama divina, 
que acende a cada aflição, 
é fonte que me ilumina 
quando concedo perdão. 
Marcos Medeiros/RN 

O dom da Sabedoria 
do Espírito Santo é graça 
de ver, com santa alegria, 
o Bem até na desgraça. 
Lairton Trovão de Andrade/PR

Jorrando sabedoria 
iluminando o univero, 
a trova com maestria 
é um hino de amor ao verso! 
Joamir Medeiros/RN

Fonte:
A.M.A. Sardenberg

Paulo Ramos (Revolução do Gibi)



Segundo o jornalista e professor universitário Paulo Ramos, a obra tem mais de 500 páginas e tem como objetivo explicar as raízes do atual momento do mercado brasileiro de quadrinhos.

Revolução do Gibi, definitivamente vale o quanto pesa! Trata-se de uma obra massiva, com mais de 500 páginas, que reúne de forma organizada, as publicações de um dos Blogs de quadrinhos de maior prestígio do Brasil. Da “queda” da editora Abril à ascensão da Panini como “rainha” das bancas de jornal, dos quadrinhos das bancas para às livrarias, das publicações independentes ao domínio dos mangás, virtualmente todos os momentos importantes do mercado das HQs, desde a virada do século, estão nessa edição. E não é só isso, lançamentos, publicações e sagas de destaque como, por exemplo, a “Morte do Capitão América” ou “Guerra Civil” também são comentadas, acompanhadas de comentários que refletem a sua repercussão, junto aos leitores e ao mercado na época de seu lançamento. Indispensável tanto para curiosos, quanto para profissionais da área. A capa é do cartunista e ilustrador prodígio João Montanaro (Cócegas no Raciocínio), de apenas 15 anos.

Elisa Palatnik (Preparativos de uma morte anunciada)


 — Onofre, acabei de pegar teu exame. O médico disse que você vai morrer em uma semana.

 — Hein?! O quê?!

 — Você morre terça feira que vem. Dia 25. Dia do soldado.

 — Mas... que coisa horrível!

 — Horrível por quê? Melhor que morrer, sei lá, no dia do Índio. No dia da Secretária. No dia do Ginecologista.

 — Meu Deus! Vou morrer em uma semana e você me conta assim, na bucha, sem me preparar?

 — Deixa de ser infantil, Onofre. Você não é prato de bacalhau pra eu te preparar.

 — Uma semana... Eu estou chocado! Se bem que...

 — O quê?

 — Quer saber? De certa forma foi bom saber logo. Assim aproveito o tempo que resta. Vou viajar, beber e comer tudo que eu tenho direito.

 — Aí é que está, Onofre. Você vai ter que fazer dieta.

 — Dieta?!

 — Pra emagrecer. O caixão que a gente tem não é seu número. Com essa barriga, você não entra naquele ataúde de jeito nenhum. Só entra de lado. Você quer ser enterrado de lado, Onofre?

 — Claro que não! Mas... não dá pra trocar de caixão?

 — É da loja do teu primo. Fui do médico direto pra lá, e foi o que ele me deu. Ele só trabalha com modelagem única e a gente não tem dinheiro pra comprar outro.

 — Mas não é justo! Tenho que fazer regime na última semana da minha vida?

 — E ginástica. E cooper. Talvez até balé — que só regime não vai dar conta dos 15 quilos que você precisa perder. Já te matriculei numa academia.


 — Mas...

 — Outra coisa. Não esquece de começar a convidar as pessoas pro velório.

 — Eu?!

 — É, ué. Não é você que vai morrer? Era só o que me faltava... você é que vai morrer e eu é que tenho o trabalho... Aliás, por falar em trabalho, arranja um bico extra essa semana pra conseguir dinheiro — pra pagar a dívida do mercado.

 — Peraí... regime, ginástica, e agora... trabalho extra? Eu estou doente, estou cansado!

 — Deixa de frescura, Onofre. Daqui a uma semana você vai ter tempo de sobra pra descansar. E se eu não pagar essa dívida, o seu Joaquim disse que me mata.

 — Ele disse isso?

 — Disse. E pode me matar em menos de uma semana. E aí eu vou ser enterrada no seu caixão. E você fica sem dinheiro pra comprar outro caixão. E aí você não vai ser enterrado. Vai ficar por aí, pelas ruas, em processo de decomposição.

 — Meu Deus!

 — Mais uma coisa. Você vai ter que visitar a tia Augusta.

 — Ah, não! Visitar a tia Augusta não! Estou brigado com ela, você sabe disso.

 — Vai na quinta feira. Já marquei.

 — Assim não dá! Eu, pensando que ia passar uma semana boa, tranqüila, esperando pra morrer... mas nada. Já vi que vai ser um inferno. E se eu não for na casa da tia Augusta?

 — Ela vai se sentir culpada por não ter feito as pazes antes de você morrer. E vai acabar morrendo de desgosto.

 — E eu com isso? Não quero saber.

 — Não quer saber? Acontece que está provado que uma pessoa leva, em média, uns seis meses pra morrer de desgosto.

 — E daí?

 — Daí que daqui a seis meses é o casamento da tua filha. E se a tua tia morrer, a gente vai ter que adiar o casamento. E se a gente adiar é capaz do noivo desistir de casar. Se ele desistir, tua filha vai ficar arrasada e pode sair por aí namorando o primeiro que aparecer na frente. E o primeiro que aparecer na frente pode ser um drogado. E tua filha pode virar uma drogada. E daí para o crime e para a prostituição é um passo. E daí ela pod...

 — Chega! Eu vou visitar a tia Augusta!

 — Ótimo.

 — Que mais? O que mais você quer que eu faça nessa semana? Já tá perdida mesmo...

 — Mais nada. Só cavar sua cova — pra economizar no coveiro, que coveiro está saindo pela hora da morte.

 — Deixa eu anotar, senão esqueço... com tanta coisa... Cavar a cova.

 — E não esquece de, no dia da tua morte, ir pro lugar do velório cedo. Pra morrer lá mesmo... pra gente também economizar no transporte do corpo. Vai de ônibus.

 — Mas...

 — De preferência atrás, agarrado no pára-choque, pra não pagar.

 — É uma boa... No pára-choque. Só uma coisa. Uma dúvida.

 — Fala.

 — E se, por um acaso... eu não morrer?

 — Tá maluco, Onofre? Depois desse trabalhão todo? Nem pensa nisso! Esquece essa possibilidade!

 — É que de repente...

 — De repente uma pinóia! Vê lá, hein, Onofre? Não vai me fazer a gracinha de aparecer no teu velório... vivo!

Fonte:
http://www.releituras.com/epalatnik_menu.asp

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 588)


 Uma Trova Nacional  

Em sua excelsa grandeza
Deus faz tudo com tal arte!
Basta olhar a natureza
para vê-lo em toda parte! 
–JOSÉ OUVERNEY/SP– 

 Uma Trova Potiguar  

Depois dos sonhos amenos 
que o tempo leva e não traz, 
eu tenho cada vez menos, 
aquilo que almejo mais. 
–JOSÉ LUCAS DE BARROS/RN– 

Uma Trova Premiada 

2008 - Nova Friburgo/RJ 
Tema - FEIRA - 2º Lugar 

A mulher do meu vizinho
faz a feira o mês inteiro,
sem sacola, sem carrinho,
sem vergonha e sem dinheiro...
–Izo Goldman/SP–

 ...E Suas Trovas Ficaram  

Enganam-se os ditadores
que, no seu furor medonho,
mandam matar sonhadores,
pensando matar o sonho!
–JOUBERT DE ARAÚJO E SILVA/ES– 

Uma Poesia

ESTROFE QUE FIZ PARA “MACEDO” NUMA HOMENAGEM 
QUE FIZERAM PARA ELE, LÁ NA NOSSA CIDADE... 

Peço aos céus uma inspiração bendita 
num momento de dor e desengano,
pra eu fazer a poesia mais bonita
pra dizer da saudade do meu mano!
O verso, sempre foi o seu reduto
“Santana do Matos” está de luto
pela perda do grande menestrel;
e os poeta, "Lá em Cima", com alegria
fizeram um sarau de poesia
quando Chico Macedo entrou no Céu !... 
–Ademar Macedo/RN– 

 Soneto do Dia  

A BARCAÇA. 
–Rogaciano Leite/PE– 

O mar soluça e geme. A onda bravia 
num véu de espuma contra o céu se envolve 
e o leito enorme d’água se revolve 
em convulsões de dor e de agonia. 

Ao longe, uma barcaça fugidia 
seu vulto branco às longas praias volve 
como a garça cansada que resolve 
tocar da costa a areia luzidia... 

Eu vou como a barcaça em desalento, 
que as águas corta por mercê do vento 
e após mil temporais toca no porto... 

Também após mil temporais da sorte, 
do mar da vida para o cais da morte 
meu coração vai navegando morto!

Nilton Manoel (Pioneirismo Estudantil em Jogos Florais do Estudante em Ribeirão Preto)


Os I Jogos Florais do Estudante deram a Ribeirão Preto (SP, Brasil) a lei de inclusão curricular há 35 anos. O lançamento do concurso estudantil de Trovas - o evento no Brasil- envolveu todas as redes de ensino. Ribeirão Preto é a única cidade que faz dois Jogos Florais por ano:- o de âmbito estadual e o de âmbito estudantil. No meio estudantil é projeto escolar na Prefeitura do munícipio e Estadual. O evento estudantil, tem (desde o princípio) a inspiração trova luizotaviana:

Haveria paz na terra
não seria a vida inquieta
se a criança em vez de guerra
brincasse de ser poeta.

(Esta trova está em quase todas as publicações da Trova ribeirão-pretana)

Todo este trabalho foi combinado com Luiz Otávio, por carta, entrevista e gravações em fita cassete. A entrevista foi publicada em Didática da Trova, divulgado em todo o Estado paulista as secretarias e entidades educacionais de diversos Estados Brasileiros. O Didatica da Trova que não mereceu referencia em nenhum informativo da UBT, já teve quatro impressões e distribuição gratuita. O livro consagra os méritos literários da UBT, no entanto sabemos que são várias as entidades que se dedicam a Trova dentro das propostas de Luiz Otavio. 

Contribuição de Ribeirão Preto á Trova brasileira

a) 25 Jogos Florais Nacionais e 25 Municipais (maioria com dois temas , (Lirismo e Humor)

b) 1 Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto-SP, 1977

c) 13 Jogos Florais Estudantis ininterruptos

d) 5 jogos florais em cartões postais, divididos em:
2 pela UBT – 2 pela Soc. Amiga dos Pobres e 1 pela Sociedade Irmãos-Unidos Espiritas

e) 5 Concursos de Trovas Nacionais e Municipais intercalando Jogos Florais e um em homenagem ao Centenário da ABL,Oficinas semanais de trovas, palestras e material de divulgação a imprensa e escolas em geral.

f) Edição à pedido de Luiz Otávio do Decálogo de Metrificação, 1975,

g) Edição de folhetos de difusão da Trova,

h) Publicação da monografia Didática da Trova.

i) Seleção de Trovas de Santos Reis 

j) Como fundador e presidente da Casa do Escritor/Poeta realizou vários concursos de Trovas.

Nos sites de busca DIVERSOS textos ribeirãopretanos são encontrados. O Ubeteano, também.

Nota:
A facilidade de lidar com temas literários está sem ser da Educação: Normalista, Pedagogo, prof. de língua portuguesa, ocupando salas de aulas e coordenações pedagógicas.

Fonte:
Nilton Manoel

José Luis Peixoto (Livro)


artigo por Ana Lucia Santana

Nesta bela história o autor exercita a criação dos ancestrais romances de formação. Aqui é Ilídio que protagoniza uma intensa e dramática jornada existencial, permeada pela constante presença da literatura. Sua infância é marcada pelo abandono; a mãe parte e o deixa só em uma via pública, aos 6 anos, espiando o livro confiado por ela a suas mãos e espreitando o tempo que passa veloz e logo converte a luz do sol nas sombras da noite.

Este evento dá início à primeira parte da obra, que retrata a infância e a juventude do protagonista, seus traumas, o encontro com o pedreiro Josué, amigo da mãe, que o acolhe e educa, e a posterior paixão pela doce Adelaide. O autor também apresenta o leitor ao amigo mais intimo do protagonista, Cosme; a um jovem singelo que toma conta do irmão portador de deficiência e de um bando de pombos, Galopim; e Adelaide, a dona do coração de Ilídio, a qual vive com a tia, proprietária do estabelecimento comercial da vila.

No início da trama os caminhos dos dois jovens se entrecruzam e se perdem no percurso entre Portugal e França. A tia de Adelaide, disposta a impedir o romance, a força a partir para Paris. Aí a protagonista desembarca com um livro nas mãos, lembrança de Idílio, a mesma que sua mãe lhe legou quando ainda era um menino.

Em terras francesas a garota, profundamente infeliz, se une em matrimônio a outro homem; seu esposo, porém, supostamente se interessa mais pelos acontecimentos políticos do que por ela, embora os dois tenham se aproximado novamente graças a um livro.

Mesmo assim, ambos alimentam a esperança de se rever, e o protagonista vai para a França à procura de Adelaide, abandonando seu pai adotivo, Josué. Mas é sinuosa a jornada empreendida pelo herói na tentativa de rever a mulher que roubou seu coração. Como nos contos de fadas, os obstáculos se multiplicam ao longo do caminho. Cartas são extraviadas, demandas não se concretizam e paixões atingem um alto grau de complexidade.

A segunda parte desta obra relembra o leitor do significado de seu título; o livro não é um mero artefato, é igualmente o narrador, o fio condutor da história. Ele é filho da jovem Adelaide, e esse é seu nome de batismo. Nesta etapa final o personagem recorre excessivamente ao recurso da metaliteratura, o que converte esta narrativa em um instrumento quase lúdico.

José Luis Peixoto nasceu em Galveias, Portugal, no ano de 1974. Ele cursou línguas e literaturas modernas – inglês e alemão – na Universidade Nova de Lisboa. Em 2001 foi agraciado com o Prêmio José Saramago por seu livro Nenhum Olhar. Sua obra foi vertida para aproximadamente vinte línguas.

Fonte:
http://www.infoescola.com/livros/livro/