terça-feira, 10 de julho de 2012

Folclore Brasileiro: Negrinho do Pastoreio (Recontada por Moacyr Scliar)

Olhem o mapa do Brasil. Na ponta do nosso país, lá perto da Argentina e do Uruguai, vocês vão encontrar o Rio Grande do Sul. Esse grande Estado não fazia parte do Brasil, quando os portugueses aqui chegaram; foi conquistado aos espanhóis depois de muita luta. Os chefes dessa campanha vitoriosa dividiram entre si aquele território, e assim ficaram com enormes propriedades. Elas se localizam principalmente na metade sul do Rio Grande, uma região que é conhecida como o pampa. É muito plana, só tem colinas suaves (conhecidas como coxilhas) e presta-se para a criação do gado. Assim surgiram as estâncias e nelas, o personagem típico do sul, o gaúcho. Seu trabalho principal era cuidar do gado, o que ele fazia montado a cavalo. Até fins do século dezenove, porém, boa parte dessa atividade estava entregue aos escravos negros. E foi por causa desses escravos que surgiu aquela que é a lenda mais famosa do Rio Grande do Sul, a lenda do Negrinho do Pastoreio. Tão famosa é esta história que ela foi recontada por grandes escritores, como Simões Lopes Neto. E há também uma canção dedicada ao personagem, uma canção que todos os gaúchos gostam de cantar. Vamos então conhecer o Negrinho do Pastoreio.

Isso aconteceu há muito tempo, na época em que ainda existiam escravos. Nessa época vivia no Rio Grande do Sul um estancieiro, um homem muito rico - e muito malvado, tão rico quanto malvado. Todos sabem que os gaúchos costumam ser generosos, hospitaleiros, mas esse estancieiro não oferecia sua casa para ninguém. E também não ajudava os necessitados.

O estancieiro tinha muitos bois, e também muitos cavalos. Entre estes, o seu preferido era um baio, quer dizer, um animal cujo pêlo era castanho puxando para o amarelado. O baio era um bom corredor, e o estancieiro gostava de desafiar os seus vizinhos para corridas de cavalo. Quem montava o baio era um escravo do estancieiro, um negrinho pequeno e magro. Tão desamparado era o pobre que nem nome tinha, muito menos padrinho ou madrinha; por isso se dizia afilhado de Nossa Senhora. O negrinho sofria muito, inclusive porque o filho do estancieiro, menino malvado, volta e meia batia nele.

Um dia, o estancieiro e um de seus vizinhos, dono de um belo cavalo, fizeram uma aposta alta - mil moedas de ouro - para ver qual dos dois animais era mais rápido. Muita gente veio assistir a essa corrida. Os gaúchos abriam suas guaiacas - uns cinturões muito enfeitados, que servem para guardar objetos - e de lá tiravam dinheiro para apostar. Dada a partida, os dois cavalos saíram em disparada, lado a lado. O pobre negrinho fazia o que podia: se perdesse a corrida, o estancieiro iria castigá-lo sem dó nem piedade.
E foi, infelizmente, o que aconteceu. Quase na chegada, o baio estacou de repente, empinou-se nas patas traseiras. Quando o negrinho conseguiu controlá-lo, já era tarde: o adversário tinha ganho a corrida.

O estancieiro, furioso, atirou no chão o dinheiro que devia. E quando chegou em casa descarregou sua raiva no negrinho: mandou aplicar-lhe uma surra de relho. E deu-lhe um castigo. Como a corrida tinha sido de trinta quadras (quadra é uma antiga medida de comprimento), o rapaz teria de ficar trinta dias no campo, cuidando de cavalos (um pastoreio, no linguajar dos gaúchos). Eram trinta cavalos pretos e mais o baio.

E ali ficou o negrinho. Como estava preso a uma estaca por uma corda, não podia se abrigar da chuva ou do sol forte. Uma noite vieram os guaxinins (uma espécie de cães selvagens) e, com os afiados dentes, cortaram o laço que prendia o baio. O cavalo saiu a galope pelo campo, e os outros o seguiram.

O negrinho, que estava dormindo, não viu nada. Quando acordou, o dia já clareando, e viu que os cavalos tinham fugido, começou a chorar. O estancieiro, avisado pelo filho malvado do que tinha acontecido, mandou dar outra surra no escravo. Surrou-o até a noite e aí mandou que fosse, na escuridão, procurar os cavalos. O negrinho acendeu uma vela e, gemendo de dor, saiu pelo campo, subindo e descendo as coxilhas. Os pingos da vela iam caindo no chão e, coisa prodigiosa, a cada pingo que caía, nascia uma luz, que iluminava o pampa. E assim o negrinho pôde achar os cavalos. Juntou-os todos e, exausto, deitou no chão e adormeceu. Ao clarear do dia apareceu de novo o filho do estancieiro, que - mas era um demônio, mesmo, aquele guri! - soltou os cavalos.

Desta vez, o estancieiro enlouqueceu de raiva. Mandou dar de novo uma surra no negrinho, mas uma surra de relho muito pior que de outras vezes. O negrinho ficou todo lanhado, quase em carne viva, o sangue escorrendo das feridas. E o perverso estancieiro mandou que o colocassem num formigueiro, para que as formigas o devorassem. E ali o deixou. Naquela noite e nas noites seguintes, teve o mesmo sonho: sonhou que tinha ficado muito rico, que tinha mil escravos, mil cavalos baios, mil filhos, um milhão de moedas de ouro.

Três dias depois, foi até o lugar onde estava o formigueiro, para ver o que tinha sobrado do pequeno escravo. Quando lá chegou, arregalou os olhos, cheio de espanto.

O negrinho estava ali, de pé, a pele intata - nenhuma ferida, nada. Junto a ele, o baio e os trinta cavalos pretos. E, vigiando-os, Nossa Senhora. Risonho, o negrinho pulou no baio e saiu a galope, conduzindo a tropa de cavalos...

Para a gente da região o pequeno escravo tinha morrido no formigueiro. Mas então os gaúchos do campo começaram a falar de uma tropa de cavalos que passava à noite, conduzida por um negrinho montando um baio. E daí nasceu uma tradição, no Rio Grande do Sul: quem perdeu alguma coisa no campo deve acender uma vela para o Negrinho do Pastoreio. É o que diz a canção: "Negrinho do Pastoreio / acendo esta vela pra ti / e peço que me devolvas / a querência que eu perdi". Querência, no linguajar gaúcho, é o lar, o lugar a que estamos ligados por laços de afeição. O Negrinho do Pastoreio mora para sempre na grande e acolhedora querência que é a bela tradição do Rio Grande do Sul.
Fonte:
“História recontada por Moacyr Scliar, com base no folclore gaúcho e na narrativa de Simões Lopes Neto”.

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 603)

Praia dos Ingleses - Florianópolis/SC
Uma Trova de Ademar

Deus vendo que não tem fim
essa fé que me conduz,
deixou cair sobre mim
uma cascata de luz!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional


Quero ser sábio, Senhor,
pra ser humilde, e com fé,
crer na Encarnação do Amor
na Virgem de Nazaré.
–Adamo Parquarelli/SP–

Uma Trova Potiguar


Xeroquei as tuas cartas
pra reler com todo o amor,
mas vejo que não te fartas
de arranhar a minha dor!
–José Lucas de Barros/RN–

Uma Trova Premiada

1993 - Petrópolis/RJ
Tema - CANÇÃO - 1º Lugar


Quando um grande amor se afasta
deixa uma nota escondida
na canção que o vento arrasta
nas folhas secas da vida...
–Alba Christina C. Netto/SP–

...E Suas Trovas Ficaram

Na moldura envelhecida,
a nossa fotografia
é a mocidade retida
numa eterna fantasia!
–Enivaldo Borges/SP–

U m a    P o e s i a  


A nossa matéria-prima
deve ser sempre o amor.
Quem não tiver isto em mente
será só compositor
de muitos versos bonitos,
sem alma de Trovador!
–Arlindo Tadeu Hagen/MG–

Soneto do Dia

PRA MATAR AS SAUDADES DO SERTÃO.
–Brás Ivan Costa/PE–


Terra mãe, quanta falta me fizeste,
quantos dias sonhei poder rever-te,
cada vez que te deixo me investe
uma febre com medo de perder-te.

O caráter que tenho tu me deste,
minha alma da tua é uma parte;
como posso esquecer de ti Nordeste
se viver para mim é recordar-te.

Minha sina é de ti viver distante,
porém quando meus dias de errante
terminarem, terei como jazigo

o teu ventre, e depois de tão ausente
poderei sepultar-me eternamente
onde foi sepultado o meu umbigo.

FBN expande programa de tradução e internacionalização de livros

Títulos técnicos e científicos poderão pleitear verbas; tradutores receberão bolsas para vir ao Brasil e autores brasileiros receberão bolsas para intercâmbio

A Fundação Biblioteca Nacional (FBN) anunciou ontem, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), novos programas para a internacionalização da literatura brasileira. O anúncio ocorreu um ano após a reformulação do programa de apoio à tradução, que já concedeu 111 bolsas e registra dez novos pedidos por mês.

Segundo comunicado da FBN, os novos programas consistem na concessão de bolsas de tradução para livros técnicos, científicos e profissionais; apoio à publicação nos países de língua portuguesa; programa de residência de tradutores no Brasil; e editais para patrocinar viagens de escritores brasileiros para divulgar suas obras no exterior. Os editais para essas iniciativas serão publicados no Diário Oficial da União entre julho e agosto.

Todas as ações serão feitas pelo recém-criado Centro Internacional do Livro. Elas incluem ainda a participação do Brasil em feiras onde o país foi ou será homenageado – Bogotá em 2012, Frankfurt em 2013 e Bolonha em 2014, por exemplo.

Para todas as ações, a FBN e o Ministério da Cultura estimam um investimento de R$ 76 milhões até 2020 – não são necessariamente investimentos novos, mas o orçamento total. Veja abaixo detalhes dos programas e dos investimentos.

- Ampliação do programa de apoio à tradução e à publicação de autores brasileiros no exterior: voltado para editoras estrangeiras que queiram publicar autores brasileiros. O edital se encontra permanentemente aberto. Para se candidatar, a editora deve elaborar um projeto de edição ou reedição no formato impresso ou digital ou em ambos. As avaliações são realizadas periodicamente por uma comissão, composta por consultores externos, por representantes da Fundação Biblioteca Nacional e de outros setores do Ministério da Cultura. A bolsa é de até R$ 8 mil e agora também permite e-books. Graças a uma parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, também serão apoiadas as traduções de obras técnicas ou científicas nas áreas de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, Ciências da Vida, Engenharias, Ciências Exatas e da Terra. Também estão previstos editais específicos da FBN para apoiar traduções para regiões e/ou idiomas específicos, efemérides e temas, como a literatura infantil e juvenil.

- Programa de apoio à publicação de autores brasileiros na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP): aberto às editoras dos estados-membros da CPLP com projetos de publicação de obras literárias ou da área de humanidades de autores brasileiros. O objetivo é estimular a difusão da literatura e dos livros brasileiros nos países da África onde o português é a língua oficial (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe), no Timor Leste e em Portugal. A bolsa é de até US$ 6 mil. O edital será publicado na próxima semana e deve contemplar, inicialmente, 12 bolsistas.

- Programa de residência de tradutores estrangeiros no Brasil: Tradutores estrangeiros que estejam realizando a tradução de livros brasileiros vão poder se candidatar a uma bolsa de até R$ 15.000,00 para a residência de trabalho de até cinco semanas no Brasil. A bolsa cobrirá custos com passagens, hospedagem, alimentação e transporte. Na primeira parte, os tradutores irão realizar uma imersão na cultura brasileira que atenda a necessidades da obra. Na segunda parte, participarão de oficinas e palestras nas comunidades em que estiverem hospedados e, ainda, em cursos em centros de estudos de tradução parceiros do programa. Alguns dos centros associados ao programa são a Universidade Federal Fluminense (UFF), a Casa Guilherme de Almeida, da Secretaria Estadual de Cultura de São Paulo, e a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). No primeiro ano, o programa deve trazer 10 tradutores de diversos idiomas ao Brasil e contemplar, ainda, 80 brasileiros e estrangeiros em seminários, encontros e outras atividades de formação. O edital será publicado na segunda semana de agosto.

- Programa de intercâmbio de autores brasileiros no exterior: editoras estrangeiras podem se candidatar a esse programa, que tem como objetivo apoiar o intercâmbio de autores brasileiros no exterior, para que promovam suas obras e a literatura brasileira por meio de palestras, sessões de autógrafos e entrevistas, entre outros. O edital será publicado na segunda semana de agosto e prevê o pagamento de bolsas até U$ 3 mil para 30 autores.

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

Concurso Literário Lucinerges Couto (Resultado Final)


CONTOS:

1º Lugar:

Nome: José Ronaldo Siqueira Mendes
Mutum/MG
Obra: Quando colher girassóis

2º Lugar:

Nome: Lázaro Sebastião de Oliveira Falcão
Marituba/PA
Obra: O foguete do Chico Torquato

1º Lugar abordando Marituba:

Nome: Orlando Tadeu Ataide Leite
Marituba/PA
Obra: Festança no Arimatéia

Menção Honrosa:

Nome: Gerson Augusto Gastaldi Leite
Jardim Caravelas/SP
Obra: As chamas sagradas

POESIAS:

1° Lugar:

Nome: Benedito José Almeida Falcão
Bauru/SP
Obra: Pacto de (in)fidelidade

2° Lugar:

Nome: Luís Hilário Ferreira da Silva
Ananindeua/PA
Obra: Para não esqueceres de mim

Menção Honrosa:

Nome: Solange Gonzaga Pena Passos
Recanto das Emas/D.F
Obra: Sensibilidade

COMISSÃO JULGADORA:

Cleide Rosana Gomes Araújo
Formação: letras (UFPA), pedagogia (IFPA);
Pós-Graduação: abordagem textual (UFPA).
João da Silva da Silva Rodrigues
Formação: letras (UFPA);
Pós-Graduação: linguística textual (UFPA).
Ruth Helena Leite de Souza Rodrigues
Professora Graduada em Letras (UNAMA).
Déo de Araujo Victor
Professor Graduado em Letras (UFPA).
Simone Carvalho Silva
Licenciatura: letras-habilitação em Língua Portuguesa (UFPA).

Fonte:
Http://concursos-literarios.blogspot.com

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Haicai Ecológico 1 - Ademar Macedo (RN)



Arnaldo Jabor (Crônica do Amor)


 Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

 O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

 Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

 Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

 Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

 Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

 Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

 Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

 Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

 Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

 Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

 É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

 Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

 Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

 Não funciona assim. 

 Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

 Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

 Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Doze em Ritmo de Sextilhas (Parte 10, final)


217 - Assis
Injustiça é coisa feia,
mais ainda quando explora
aquele que ao sol, na roça,
diuturnamente labora
a fim de encher a barriga
de quem na cidade mora.

218 - Delcy
 Às vezes, a gente chora
ao ver tanta desventura:
miséria...fome...doenças...
tristeza...pranto...amargura,
que é bem  menor, eu garanto,
que ter    falta  de ternura!

219 - Elisabeth 
Neste tempo de ventura, 
às vésperas do Natal, 
possa a igualdade se dar 
de uma forma bem total, 
trazendo a fartura a todos 
num  mundo mais fraternal! 

220 - Prof. Garcia
Até no próprio Natal 
há ingratidão desmedida: 
mesa farta tendo tudo 
e mesa sem ter comida, 
convida-se todo mundo 
só Jesus ninguém convida! 
  
221 – Gislaine 
Para melhorar a vida, 
o mundo devia ser 
feito somente de amor, 
e, após, cada entardecer 
o calor do Sol ficasse, 
entre nós, para aquecer! 

222 - Hélio 
Surge em cada alvorecer, 
o sol que cumpre o seu plano 
de aquecimento ao planeta 
sem que falte ano após ano, 
mas no mundo o que mais falta 
é o calor do ser humano. 

223 - Milton
O meu destino, cigano,
manda que eu vá mais além...
Nas caminhadas encontro
gente que vai e que vem,
com eles eu vou tentando,
sempre, praticar o bem...

224 - Ouverney
"Faça-o, sem olhar a quem."
O rifão me diz que sim,
mas, na hora, é que são elas:
falo por ti e por mim,
a gente fala e não faz,
fica o assado por assim!

225 - Tadeu
 Fazer o Bem, para mim,
é bem difìcil também.
Com muito esforço encontramos
o resultado, porém.
Pois nao hà bem que supere
o bem de fazer o Bem.

226 – Thalma 
Agradeço e digo amém
o ensejo que os céus me dão
de o bem fazer sem cobranças
a qualquer carente irmão,
sem que a mão esquerda saiba
como me ordena a razão.

227 - Vanda
É tempo de reflexão:
Mais um Natal - que ventura!
Onze nomes conto a mais 
no rol da amizade pura.
Meu abraço aos sextilheiros,
meu punhado de ternura.
  
228 - Zé Lucas
O Natal se me afigura
festa de paz e harmonia,
e nesse que se aproxima
serei o rei da alegria
se ninguém for para o leito
sem o pão de cada dia. 

229 - Assis
Por sorte nossa e alegria,
podemos, neste final,
misturar a despedida
com o abraço de Natal,
dessa forma concluindo
o debate em alto astral.

230 – Delcy
Que esse debate, ao final,
cresça, com propriedade,
que o Natal e o Ano-Novo
tragam mais felicidade
para os doze  sextilheiros,
neste pacto de amizade!

231 - Elisabeth
Foi mesmo felicidade
e uma glória para mim,
juntar-me a tantos amigos...
E agora que chega ao fim
desejo Feliz Natal!
Felicidades!!! Tim Tim!!

 232 - Prof. Garcia
Todo final é assim,
não há outra explicação:
deixa um cheiro de saudade
e um gosto de solidão,
batendo nas cordas tristes
das cordas do coração!

233-Gislaine
Termina com emoção,
assim como começou,
nosso debate em sextilhas
que, muito lindo ficou;
por isso, neste Natal,
bem mais feliz eu estou!

234 - Hélio Pedro
Nosso debate passou
como um barco que flutua,
deixando muita saudade
mas um palpite insinua:
que outros debates virão
pois a vida continua.

235 - Milton
A vida nunca recua:
última ceia da trilha...
Doze apóstolos mostrando
como a poesia brilha,
comungando pensamentos
com esta deusa: a sextilha.

 236 - Ouverney
Vanda, Thalma, Hélio da Ilha,
Gislaine, Delcy, Tadeu,
Milton, Zé Lucas, Garcia,
Elisabeth, Assis... Eu!
A "deusa" há de estar em êxtase!
Arrivederci!  Valeu!!!

237 - Tadeu
O mais contente fui eu
por tão boa companhia.
E hoje que o debate finda
e a saudade principia,
digo aos irmãos sextilheiros:
-Valeu! Até qualquer dia!

238 – Thalma 
Neste Natal, na alegria,
na força que o verso tem,
eu peço que os sinos dobrem
pelos poetas também,
por meus irmãos sextilheiros
que são arautos do Bem!

239 - Vanda
... E o bonito vaivém
dos versos passou veloz,
 mas nosso adeus no Natal
 ganhou luz! E a nossa voz
 diz - "Glória  a Deus nas alturas!
 Paz na terra a todos nós"!!!

240 - Zé Lucas
Termina o debate, após
passar onze meses no ar,
mas, como valeu a pena,
mesmo andando devagar,
porque doze amigos, juntos,
têm mil coisas pra contar! 

FIM.

Parte 1 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/06/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-1.html 
Parte 2 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-2.html 
Parte 3 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-3.html
Parte 4 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-4.html
Parte 5 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilha-parte-5.html
Parte 6 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-6.html
Parte 7 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-7.html
Parte 8 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-8.html
Parte 9 = http://singrandohorizontes.blogspot.com/2012/07/doze-em-ritmo-de-sextilhas-parte-9.html

Fonte: 
Doze em Ritmo de Sextilhas: Debate pela Internet. 20.02.2010 a 22.12.2010., 2012.

Yara Camillo (Duas Vias)


jf

Ele abriu a porta do carro para que ela entrasse.

 – A velhice dando passagem à juventude?

 – Não: a sabedoria dando vez à pretensão.

 Riram. Era uma brincadeira antiga, da época em que se conheceram: ela, preparando a tese. Ele, o orientador que não chegou a sê-lo… A relação aconteceu e, de comum acordo, decidiram que ela procuraria outro professor. Nem por isso a pressão foi menor. Em muitos olhares, o imediatismo rotulava, sem sursis: veterano-estende-as-asas-sobre-a-novata. E poderia ter sido pior; tivesse a “vítima” alguns anos a menos e o crime estaria consumado, não se podia brincar com essas coisas.

 – A maré do politicamente correto extrapolou, afrontando os limites do bom senso – dizia ele. – Facilite... E até Lolita e Morte em Veneza acabarão queimados em praça pública.

 – Não exagere – dizia ela.

 Ele ria:

 – E a lei contra os Adônis que enfeitiçam os velhinhos? Deveria existir uma, não?

 Ela ria:

 – E qual seria o nome desse crime... Gerofilia?

 – Sim... Muito próprio. – E ele improvisava a premissa: – Não gerofile, para não ser pedofilado. 

 – Proponha esta na próxima reunião e estaremos condenados em duas vias, sem direito a habeas corpus.

 – Falando em habeas…

 – Falando em corpus…

 A brincadeira se repetiu ao longo dos anos, mesmo depois de perder a graça; ela, mais que ele, chamava o riso como tábua de salvação, como refúgio das crises que também se repetiam, indefinidamente.

 Passado o espanto geral, que de roldão consumira também certos encantos, as coisas começaram a se acomodar. Ninguém mais estranhava a parceria, nem a ironia que permeava o enredo natural daquele amor: ela, já não bastasse os muitos anos a menos, aparentava ser tão menina... Para entrar no cinema, só mostrando Identidade que provasse ao menos dezoito, dos vinte e três já completos. Ele, em contrapartida, já aos dezesseis se passava por “maior”, nos bailes e cinemas da cidade interiorana onde nascera. Cabelos precocemente grisalhos e o sagrado costume da cerveja completavam o quadro, adiantavam o tempo e, aos olhares alheios, alongavam mais ainda a distância entre os dois.

 O tempo. O curso. Da universidade e das coisas. E a tese, que não saía nunca.

 – Se você não pode ser meu orientador, então não quero mais ninguém – ela dizia. E se por algum tempo esse argumento surtiu efeito, foi também se desgastando, como tudo, como um todo.

 – Não era isso – ela confessou, numa das raras noites de cerveja que conseguiram a sós, porque a universidade era um mundo que se estendia para além do campus, até o bar, até a casa, até os amigos e tantas horas compartilhadas. – A Dança seria o princípio e, a Geografia, o meio... Sabe? O meio pelo qual a Dança viria a acontecer, sem as amarras das concessões profissionais necessárias à sobrevivência. Mas tudo virou do avesso, a Geografia se espalha e não faço outra coisa a não ser projetos.

 – Não há lugar para dois, com a Geografia. Ou é ela ou é ela, se é que você me entende, e eu às vezes acho que não.

 – Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no tempo e no espaço? Nunca, dirá você.

 – Nunca, tu o disseste.

 – “Salvo quando se amam”, disse o poeta. E se essa verdade não pode harmonizar a Dança e a Geografia, então quero nascer de novo.

 – Você já nasceu tantas vezes, lembra… Ou não, não mais?

 Ela fechou os olhos, fazia isso quando sentia dor ou acusava o golpe, claro, quantas vezes não dissera “acho que nasci de novo”, depois do amor?

 Foi naquele amanhecer que os dois se descobriram de partida, ele para o campus, de corpo e alma, porque aquela era mesmo sua vida, sua escolha, desde antes dela e, com um pouco de sorte, também depois dela – embora no momento ele não soubesse, não tivesse a menor ideia de como faria para sobreviver àquela ausência. E ela enfim para a dança, habeas corpus, habeas anima. Ele, que não acreditava em deuses, acabou maldizendo os desígnios que deram a ela uma bolsa, no ano seguinte, para um estágio fora do país.

 Encontraram-se uma vez, na Europa, mas aquela não valeu: ela estava embriagada demais com a liberdade e ele embriagado demais com a alegria de revê-la.

 Agora, anos depois, um novo reencontro: ele gostou de achá-la, ainda, bela. Gostou de gostar de vê-la, embora a dor.

 – Você ficou bem famoso – ela brincou, recurso que sempre usava para driblar o embaraço. – Ouvi falar, por aí. 

 – E você?

 – Como? Você não ouviu falar de mim?

 Ele ficou sério, um segundo antes do riso. Ela riu, também, e tudo foi como antes, por um instante.

 – Você está dançando?

 – Às vezes. 

 – O que houve?

 – O de sempre. Não sou articulada, não me relaciono com as pessoas “certas”, não me enquadro muito nas coisas. – E imitou o tom de voz que ele usava, quando queria ser categórico: – Se é que você me entende, e eu acho que não.

 Ele riu, de novo, agora sem muita vontade. Ela continuou:

 – Mas eu tinha que ver, não é? Eu precisava ir. E fui bem, por uns tempos… E “ir bem”, ainda que por uns tempos, deixa um gosto de “sempre”, quando se trata de Arte.

 – Isso me lembra aquela sua velha máxima: “A Arte acima de tudo.” 

 – Não – ela responde. E ele vê nisso algo de novo. – Não existe acima, nem medida alguma, nesses casos. Só uma sensação de que as coisas têm um sentido.

 – Isso você podia ter…

 – Você podia. Não eu.

 – Então, perdemos uma geógrafa brilhante… para uma bailarina…

 – Apenas razoável?

 – Eu não disse isso.

 – Claro que disse. Mas não faz mal.

 – Escute, ainda dá tempo.

 – Tempo do que, meu amor?

 – Esse “meu amor” me pegou de surpresa.

 – O que prova que você continua o mesmo… Surpreendendo-se com o óbvio e olhando com cara de velho para o que é realmente novo. Agora me leve daqui para um lugar mais decente, onde se possa tomar um bom vinho.

 – Você também não mudou. E isso, não sei por que, me faz bem.

 – Não era o que você dizia.

 – Não era o que você pedia.

 Ele abre a porta do carro, ela sorri:

 – A velhice dando vez à juventude?

 – Não, o cansaço dando lugar a algo que não quero definir agora.

 – E quem disse que é preciso definir?

 – Temes definhar ao definir?

 – Idiota! – Ela ri. – O fim vai chegar, para nós. Para todos nós. Mas não hoje.

 – Você não vai acreditar, mas isso, para mim, já é alguma coisa.

 “Acredito”, ela quis dizer, mas achou que não seria preciso.

Fonte:
Revista Pesquisa, da FAPESP, em fevereiro de 2011.

Adriana Lisboa (Quintais)


 Na casa do meu avô, havia quatro quintais.

 No principal, o portão se abria para a rua, e ali ficava a casa propriamente dita, e por cima do muro baixo a gente via as cabeças das pessoas que passavam pela rua, sempre tão devagar. Às vezes vinha dar na varanda o cheiro do rio, um cheiro de pano e de barro. Na garagem descoberta, sobre os cascalhos, dormia a Variant marrom do meu avô.

 À esquerda, separado por um muro com uma passagem, ficava o universo dos abacateiros e o quartinho que o meu avô chamava de Petit Trianon. Nós apanhávamos abacates para fazer boizinhos com palitos de fósforo. O Petit Trianon eu não me lembro para que servia, ficava quase sempre fechado. Mas eu tinha pesadelos com ele.

 À esquerda, separado por outro muro com outra passagem, ficava um universo híbrido em que cabiam orquídeas numa estufa, galinhas, goiabeiras e um pé de romã quase esquecido, lá no fundo, longe de tudo. Era o quintal mais colorido. Uma vez minha irmã caiu de uma goiabeira, a barriga enterrou numa torneira e ela foi parar no hospital.

 À direita do quintal principal, ficava o último, e quase proibido. Havia o muro, mas na passagem tinha um portãozinho baixo de madeira, que às vezes a gente pulava por prazer. Lá só havia mato. Árvores altas, sombras, coisas indizíveis se arrastando junto às raízes, barulhos de insetos que nunca existiram de se ver. Lá fazia calor e férias, invariavelmente, mas também podia cair chuva, e a chuva ficava guardada para os nossos pés no tapete de folhas velhas, de frutos podres, de vermes lentos e moles.

 Os quatro quintais da casa do meu avô arrumaram-se numa bússola, e quando eu pisei pela primeira vez numa caravela fervilhando de adultos, vinha com ela no bolso. Se não como guia, ao menos como amuleto.

Fonte:
Luiz Ruffato (organização). 25 mulheres que estão fazendo a nova literatura brasileira, RJ: Editora Record, 2004.

Adônes Alves Pereira / MG (Poemas Escolhidos)


jf
NOSSOS QUATORZE VERSOS

 Repara, meu amor, que estes quatorze versos
 traduzem, em sua modéstia e singeleza,
 toda a estória dos lindos sonhos (tão diversos!)
 que alicerçaram nossas vidas - com certeza.

 Outrora, entre nós, de tudo houve: idas e vindas...
 brigas... distanciamentos... reaproximações...
 As Leis do Amor - conciliadoras e bem-vindas -
 pra sempre harmonizaram nossos corações.

 Lendo estes versos, que são teus (ou de nós dois),
 verás um enamorado coração beijando
 esse teu bondoso coração... E, depois,

 se os releres bem mais alto (e estando tu a sós
 em tua alcova), imaginarás me escutando
 falar do nosso amor co´a tua própria voz!…

MEU SÍTIO MARUPIARA

 Amigo, amo um lugar mais lindo deste mundo:
 lugar sagrado... e de um rico céu profundo,
 onde a lua-cheia, com seu brilho bem risonho,
 vem me ´´ditando´´ cada verso que componho. 

 Ali o arvoredo é mais belo... e os passarinhos
 têm muito mais cuidado ao construir seus ninhos
 nos balouçantes galhos, repletos de flores,
 exaltando a vida... multiplicando amores!...

 No amplo pomar há frutos, aves, hortaliças...
 no varandão, mi´a vida é a dos ´´marajás´´...
 nele dou asas ao meu estro... e às preguiças!

 Amigo, esse céu terreno existe!... Tomara
 que tu me venhas visitar... E, então, verás,
 na bela Ituiutaba, o meu ´´MARUPIARA´´!

SOU SERESTEIRO!...

 Num célebre soneto de Camões,
 Jacó serviu Labão, por sete anos,
 alentando a maior das pretensões
 de ter Raquel - como era de seus planos!

 Também faria tudo que eu pudesse
 pra ter-te, um dia, como esposa minha...
 Serviria a teu pai, se ele quisesse,
 até fazer de ti uma rainha...

 Mas ele não me quer... e tu me odeias...
 (então, a ele não mais vou servir!)
 Fico eu aqui, co´as minhas luas-cheias

 e o meu violão - amigo e companheiro
 que sabe as minhas horas distrair.
 Jacó frustrado?!... não, sou SERESTEIRO!…

CLANDESTINO AMOR

 Devemos ocultar, meu bem, sem mais tardança
 (não somente do mundo, mas de todo o mundo),
 o nosso clandestino amor ´´sem aliança´´,
 que a humana hipocrisia diz ser ´´vagabundo´´.

 Seria até bom se pudéssemos, um dia,
 mostrar a todos esse amor, sem qualquer medo...
 Se pudéssemos externar nossa alegria,
 inda que um invejoso nos mostrasse o dedo.

 Porém, que fique tudo mesmo como está...
 vamos deixar que pensem: - É só amizade!...
 Deus sabe muito bem o que depois virá.

 Não posso te exaltar aos olhos do universo...
 mas como é difícil conter minha vontade
 de pôr teu nome neste derradeiro verso!…

ADEUS, ILUSÕES...

 Ouve esta bela canção que eu compus pra ti...
 partiu do meu coração - sempre mui contente,
 vibrante e gazeteiro, como um bem-te-vi,
 por entender que o teu amor é meu somente!

 Outras canções farei afora pela vida
 (pois não me faltarás com tua inspiração).
 O estro meu de ti depende, ó querida,
 e o meu cantar é mudo sem tua afeição!

 Inda que mude a vida os teus negros cabelos
 em luar de prata de belíssimos novelos...
 ...ainda assim hei de compor tuas canções!

 Mas, quando eu partir lá pro além, sem muitas flores,
 na minha campa tu verás - se lá tu fores -
 a derradeira delas - ´´Adeus, Ilusões´´!

SONHAR É BOM, MAS...

 Quando, ao largo, tu passas... assim tão airosa...
 e toda a rapaziada te olha, cobiçosa,
 fico a considerar: ´´tadinhas´´ dessas flores,
 que, preteridas, não me inspiram mais amores!

 Vou eu, também, atrás de ti, em pensamento,
 apreciando-te as formas de rara beleza...
 Para meus olhos é o maior deslumbramento
 e glória poder ver tão grande boniteza!

 Tal qual um visionário, sonho-te na cama...
 na cama... so nós dois... em plena intimidade,
 naquele ´´laissez-faire´´ mui próprio de quem ama!

 Que sonho lindo me inspirou tua passagem!
 Vamos sonhar - é bom - nos traz felicidade!
 (Té que a razão nos diga: - Deixa de bobagem!...)

SÃO TEUS ESTES MEUS VERSOS...

 São teus estes meus versos, minha doce amada!
 Traduzem eles toda a ânsia de um amor
 profundo e belo, como as curvas desta estrada 
 que vimos percorrendo, em sonho cismador...

 São teus estes meus versos, pois te dizem eles
 de toda esta ventura de que desfrutamos
 em nosso doce idílio e, muito mais, naqueles
 momentos de intimidade em que nos amamos!

 São teus estes versos... e em cada verso meu
 encontrarás teu puro e meigo coração
 de JULIETA, bem colado ao de ROMEU!

 São teus estes meus versos... lê-os...e relê-os...
 Mesmo estando a sós, não sentirás solidão:
 contigo estarão, sempre , estes versinhos meus!…

O CORAÇÃO TEM RAZÕES...

 Nunca ela me disse por que me abandonou...
 Por mais que eu perguntasse, ela não dizia...
 Falava: - Meu bem, entre nós tudo acabou!...
 (deixando-me angustiado... e de alma tão vazia!

 Terminou aí toda a nossa intimidade,
 que deu lugar a um formalismo cruciante:
 ´´Como vai?... tudo na maior tranquilidade?´´
 E a vida, indiferente, foi seguindo adiante!

 Mas o tempo... Ah, hoje (até que enfim) nos falamos.
 Grande remorso observei em seu olhar...
 e compreendi, então, o quanto nos amamos:

 ela, chorando muito, me pediu perdão...
 Apaixonadamente (e também a chorar)
 perdoei tudo... e lhe entreguei meu coração!...

Fonte:
Bernardo Trancoso. Sonetos