terça-feira, 14 de agosto de 2012

Nilton Manoel (Didática da Trova) Parte 4

CAPITULO II

A ESTRUTURA POÉTICA DA TROVA


Pelo tamanho não deves
medir valor de ninguém;
-Sendo quatro versos breves
como a trova nos faz bem”
.
(Luiz Otávio)

Nos dicionários, ainda, a antiga definição de trova:

1.Composição lírica ligeira e mais ou menos popular. 2. Quadra de tom popular.TROVADOR:-Designação dos poetas líricos dos séculos XII e XIII, do sul da França, especialmente da Provença.2. Designação dos poetas líricos portugueses que, nos últimos séculos da Idade Média, seguiam o estilo dos poetas provençais.3. Aquele que trova;poeta (1). 4. Poeta medieval; menestrel. (FERREIRA, 2001,p.690).

Como nas trovas apresentadas no capítulo I, todas têm a mesma forma, ou seja, a definição literária “composição poética de quatro versos com sete sílabas, rimando pelo menos o segundo com o quarto e tendo sentido completo”. A definição está em Meus Irmãos, os Trovadores, de Luiz Otávio, pág. 12, Vecchi,1956, considerado como o início do Movimento Literário de Trovadores. A trova é síntese; é um micro-poema que encanta tanto que, o trovador, com arte transforma célebres sonetos (dois quartetos e dois tercetos) em uma “quadrinha” apenas. Em Língua e Literatura-Luso Brasileira, Delson Gonçalves Ferreira, afirma;

“Djalma de Andrade escreve:
“Carlos Góis, grande professor de português que aqui viveu cerca de trinta anos,era, com muita razão,admirado e querido. (...) Quando colecionava cantigas populares para seu livro de mil trovas, acreditava que o “Mal Secreto” de Raimundo Correia fora inspirado na seguinte quadra sertaneja:

“De muita gente que existe
E que julgamos tão ditosa,
Toda ventura consiste
Em parecer venturosa”. (*)


Engano do mestre. A trova não é popular. Medeiros e Albuquerque a compôs, entre outras, quando quis sintetizar em poucos versos os sonetos de célebres poetas brasileiros.” ( Estado de Minas 5 - 6- 1959 ). (*) No rodapé da página, encontramos; 10 - C.Góis – Mil quadras populares brasileiras- RJ.1916.

Sonetos inesquecíveis são reduzidos a 28 sílabas de uma Trova.

Há quem me julgue perdido,
porque ando a ouvir estrelas...
Só quem ama tem ouvido
para ouvi-las e entendê-las.


Apresentamos aqui, o soneto XIII, de Olavo Bilac: Ouvir Estrelas, para que possamos verificar em cada verso, três sílabas a mais do que os setissilábicos da Trova. Este tipo de poema é composto de duas quadras e dois tercetos. Temos os sonetos heróicos com dez sílabas poéticas e os alexandrinos com doze sílabas poéticas. O soneto e a trova têm história secular. Na feitura, o poeta, precisa cuidar do entrelaçamento dos versos para fortalecer a oralidade da mensagem.

OUVIR ESTRELAS

Ora (direis)ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso! ” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las. Muita vez desperto
Abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do Sol, saudoso e em pranto
inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora:” Tresloucado amigo
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?

E eu vos direi: Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”


Nos concursos literários em geral, exigem-se rimas ABAB, ao estilo deste feliz achado de Adelmar Tavares

Que linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer;
-Tão fácil depois de feita.
-Tão difícil de fazer!


Sentimos na mensagem que a produção literária requer cuidados especiais de “ corpo (forma) e alma (fundo)”. Isto lembra Olavo Bilac em “Profissão de Fé”:

Quero que a estrofe cristalina,
dobrada ao jeito
do ourives, saia da oficina
sem um defeito.


Alguns trovadores, por vezes, descontentes com o produto final de seus textos, como justificativa, usam da mensagem de Somerset Maughan: “ eu não escrevo como quero; escrevo como posso”. (LOUREIRO, p.17,1976)

continua

Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.

UBT/Seção Curitiba (Convite para Eventos de 16 a 19 de Agosto)

DIA 18 DE AGOSTO DE 2012:
Reunião Mensal.

A União Brasileira de Trovadores - Seção de Curitiba, convida todos os Trovadores, Poetas e Amigos simpatizantes da Trova, para a reunião mensal da UBT - Curitiba, dia 18 de agosto de 2012, das 14h30m às 17h, no Centro de Letras do Paraná, Rua Fernando Moreira, nº 370, quase esquina com o SESC da esquina.

* Tema para o concurso interno do mês de agosto:

- PRANTO (Lírica/Filosófica) (O resultado será divulgado na reunião interna do mês de SETEMBRO).

* DENTRO DA PROGRAMAÇÃO:

- Entrega de homenagens aos trovadores Apollo Taborda França e Angelo Batista.

- Revoadas de trovas (Reunião dedicada a Trovas referentes aos temas de agosto, tais como: Pai, Soldado, Advogado, Exercito brasileiro, Folclore, Estudante, Selo Nacional, Nutricionista, etc.).

- Divulgação do Resultado dos concursos interno temas: Mulher e Cristal.

- Apresentações Musicais:

- Sorteio de Brindes

- Lanche

* Participe durante a reunião das revoadas, declamando trovas sobre os temas do mês de maio e também com temas de sua preferência.

SUA PRESENÇA RENOVA A TARDE DA TROVA!
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DIA 16 DE AGOSTO DE 2012:
Palestra comemorativa dos 10 anos da Oficina Permanente da Poesia.

A Academia Paranaense da Poesia convida para Palestra a ser proferida por Fabrício Carpinejar em comemoração aos 10 anos da Oficina Permanente da Poesia. O poeta Gaúcho virá a Curitiba a convite da Biblioteca Pública do Paraná. O Evento acontecerá no dia 16 de agosto de 2012 (quinta feira), no Auditório Paul Garfunkel, das 18h às 20h na BPP 2º andar. É aberto ao público em geral e tem entrada franca. Durante o evento também haverá um painel com fotos dos principais momentos da Oficina nestes 10 anos de existência.
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DIA 19 DE AGOSTO DE 2012:
Tertúlia e almoço em comemoração ao Centenário do Centro de Letras do Paraná.

09h00min: Saída em carros alegóricos, ocupantes vestidos a caráter, da sede do Cenáculo, até a Av. Luiz Xavier (Boca Maldita), em seguida para o Parque Barigui, estacionamento nas proximidades do Salão de Atos da Prefeitura no parque.

10h30min: Tertúlia Literária no Parque Barigui.

12h30min: Tertúlia no interior do apontado Salão de Atos. Almoço por adesão, ao valor de R$38,00 (trinta e oito reais), com água mineral e refrigerante.

Obs.: ingressos à venda na secretaria do Centro de Letras do Paraná, ou, entrar em contato com Vania Ennes.

Não deixe para a ultima hora, adquira já o seu ingresso!!!

Abraços,
Andréa Motta
Presidente da UBT-Curitiba


Fonte:
Andréa Motta

XXXII Concurso da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte (Classificação Final)

CONCURSO PARA SÓCIOS EFETIVOS

Tema LAGO:


1º lugar: José Lucas de Barros,
2º lugar: Mara Melinni de Araújo Garcia,
3º lugar: Ubiratan Queiroz de Oliveira,
4º lugar: Ademar Macedo;
5º lugar: Francisco Garcia de Araújo,
6º lugar: Manoel Cavalcante Souto de Castro,
7º lugar: Francisco Garcia de Araújo,
8º lugar: José Lucas de Barros,
9º lugar: Hélio Pedro de Souza,
10º lugar: Ademar Macedo,
11º lugar: Manoel Cavalcante S. de Castro
12º lugar: Ivaniso Galhardo,
13º lugar: Antônio Rodrigues Neto,
14º lugar: Severino Campelo,
15º lugar: Hélio Pedro de Souza.

COMISSÃO JULGADORA:
Lisete Johnson,
Alba Christina Campos Neto
Geraldo Nogueira


CONCURSO PARA SÓCIOS CORRESPONDENTES

Tema ILHA:


1º lugar: Arlindo Tadeu Hagen/MG
2º lugar: Wanda de Paula Mourthé/MG
3º lugar: Arlindo Tadeu Hagen/MG
4º lugar : Therezinha Brisolla/SP
5º lugar: A. A. de Assis/PR
6º lugar: Maria Madalena Ferreira/RJ
7º lugar: Maria Madalena Ferreira/RJ
8º lugar: A. A. de Assis/PR
9º lugar: Wanda de Paula Mourthé/MG
10º lugar: Gislaine Canalles/SC
11º lugar: Delcy Canalles/RS
12º lugar: Gislaine Canalles/SC
13º lugar: Wandira Fagundes Queiróz/PR
14º lugar: Delcy Canalles/RS
15º lugar: Wandira Fagundes Queiróz/PR

COMISSÃO JULGADORA:
Antonio Colavite/SP
Darly O. Barros/SP
Newton Vieira/SP.


CONCURSO DE ÂMBITO ESTADUAL
Tema MELODIA:


1º lugar: Manoel Cavalcante de Souza Castro,
2º lugar: Paulo Roberto da Silva,
3º lugar: José Lucas de Barros,
4º lugar: Hélio Pedro Souza,
5º lugar: Ademar Macedo,
6º lugar: Paulo Roberto da Silva,
7º lugar: Fabiano de Castro Magalhães Wanderley,
8º lugar: Hélio Pedro Souza,
9º lugar: Francisco Garcia de Araujo (Prof. Garcia),
10º lugar: Ivaniso Galhardo,
11º lugar: Antônio Rodrigues Neto,
12º lugar: Ivaniso Galhardo
13º lugar: Ademar Macedo,
14º lugar: Israel Maria dos Santos Segundo,
15º lugar: Severino Campêlo.

COMISSÃO JULGADORA
Edna Gallo
Maria Nelsi Sales Dias
Antônio Colavite Filho
Todos da UBT de SANTOS/SP.


CONCURSO DE ÂMBITO NACIONAL
Tema SOM:


1º lugar: José Valdez de Castro Moura/Pindamonhagaba/SP
2º lugar: Ercy Maria M. de Faria/Bauru/SP,
3º lugar: Adilson Maia/Niterói/RJ,
4º lugar: Darly O. Barros/são Paulo/SP,
5º lugar: Ercy Maria M. de Faria/Bauru/SP,
6º lugar: Therezinha Diegues Brisolla/São Paulo/SP,
7º lugar: Renato Alves/Rio de Janeiro/RJ,
8º lugar: Almerinda F. Liporage/Rio de Janeiro/RJ,
9º lugar: Darly O. Barros/são Paulo/SP,
10º lugar: Wanda de Paula Mourthé/Belo Horizonte/MG,
11º lugar: J. B. Xavier/São Paulo/SP,
12º lugar: Simão Elane Marques Rangel/Rio de Janeiro/RJ,
13º lugar: Domitilla Beltrame/São Paulo/SP,
14º lugar: Antônio Claret Marques/Guaxupé/MG,
15º lugar: Therezinha Diegues Brisolla/São Paulo/SP,

COMISSÃO JULGADORA:
Marcos Antônio Medeiros
Hélio Pedro de Souza
Hélio Alexandre S. Souza


CONCURSO DE ÂMBITO NACIONAL
Tema BARULHO(H):


1º lugar: Sandro Pereira Rebel/Niterói/RJ,
2º lugar: Therezinha Diegues Brisolla/São Paulo/SP,
3º lugar: José Ouverney/Pindamonhangaba/SP,
4º lugar: Edmar Japiassú Maia/Nova Friburgo/RJ,
5º lugar: Manoel Cavalcante de Souza Castro/P.Ferros/RN,
6º lugar: Giva da Rocha/São Paulo/SP,
7º lugar: Elen de Novais Félix/Niterói/RJ,
8º lugar: Sandro Pereira Rebel/Niterói/RJ,
9º lugar: A.A. de Assis/Maringá/PR,
10º lugar: Flávio Roberto Stefanii/Porto Alegre/RS,
11º lugar: Arlindo Tadeu Hagen/Belo Horizonte/MG,
12º lugar: Francisco José Pessoa/Fortaleza/CE,
13º lugar: Therezinha Tavares/Nova Friburgo/RJ,
14º lugar: Maria Madalena Ferreira/Magé/RJ,
15º lugar: Therezinha Tavares/Nova Friburgo/RJ,

COMISSÃO JULGADORA:
Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia),
Marcos Antônio Medeiros,
José Lucas de Barros.

-
Sinceros parabéns a todos os classificados, e convidamo-los a participarem da Festa de Premiação que ocorrerá em Natal/Parnamirim, nos dias 11 e 12/10/2012, e em Caicó, nos dias 13 e 14/10/2012.

Aos que vêm de outros Estados,encarecemos o obséquio de confirmarem sua participação até o dia 15/9/2012, indicando dia e hora de chegada, nº de voo, empresa aérea e número de pessoas.

Fraternalmente,

José Lucas de Barros,
presidente da Academia de Trovas do Rio Grande do Norte.


Fonte:
José Lucas de Barros

Concurso Literário Lucinerges Couto (Resultado Final)

CONTOS:

1º Lugar:
Nome: José Ronaldo Siqueira Mendes
Mutum/MG
Obra: Quando colher girassóis

2º Lugar:
Nome: Lázaro Sebastião de Oliveira Falcão
Marituba/PA
Obra: O foguete do Chico Torquato

1º Lugar abordando Marituba:
Nome: Orlando Tadeu Ataide Leite
Marituba/PA
Obra: Festança no Arimatéia

Menção Honrosa:
Nome: Gerson Augusto Gastaldi Leite
Jardim Caravelas/SP
Obra: As chamas sagradas

POESIAS:

1° Lugar:

Nome: Benedito José Almeida Falcão
Bauru/SP
Obra: Pacto de (in)fidelidade

2° Lugar:
Nome: Luís Hilário Ferreira da Silva
Ananindeua/PA
Obra: Para não esqueceres de mim

Menção Honrosa:
Nome: Solange Gonzaga Pena Passos
Recanto das Emas/D.F
Obra: Sensibilidade

ROMANCE:

Ainda sem resultado desta categoria.

COMISSÃO JULGADORA:

Cleide Rosana Gomes Araújo
Formação: letras (UFPA), pedagogia (IFPA);
Pós-Graduação: abordagem textual (UFPA).
João da Silva da Silva Rodrigues
Formação: letras (UFPA);
Pós-Graduação: linguística textual (UFPA).
Ruth Helena Leite de Souza Rodrigues
Professora Graduada em Letras (UNAMA).
Déo de Araujo Victor
Professor Graduado em Letras (UFPA).
Simone Carvalho Silva
Licenciatura: letras-habilitação em Língua Portuguesa (UFPA).


Fonte:
http://concursos-literarios.blogspot.com

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Hermoclydes S. Franco (Album de Recordações) n.3


Errata e Biografia (Nilton da Costa Teixeira)

O poema Meu Pai, peço que me perdoem, me equivoquei no nome do autor, e o autor que eu havia colocado, Nilton Manoel, de Ribeirão Preto/SP, enviou e-mail me corrigindo.

O nome do poeta é na verdade, Nilton da Costa Teixeira, pai do Nilton Manoel.


Nilton da Costa Teixeira (1920 - 1983)

Nilton da Costa Teixeira, nasceu na cidade de Monte Alto, interior de São Paulo, em 03 de maio de 1920, filho dos portugueses Manoel dos Santos Teixeira e Conceição da Costa Teixeira. Veio com a família para Ribeirão Preto, prosseguindo os estudos no Grupo Escolar Guimarães Júnior, onde concluiu em 1930/31. Trabalhou desde a infância, tendo sido prático de farmácia, depois ser provador de café e, na mesma firma, passou a exercer funções na contabilidade, enquanto prosseguia seus estudos no ginásio do Estado, hoje Otoniel Mota. Na Escola da Biblioteca dos Pobres foi cursar o “guarda livros”, mais tarde na Escola de Comércio São Sebastião, Contabilidade e científico no colégio Progresso.

Dedicou-se à contabilidade e ao comércio. Aposentou-se por tempo de serviço em 1.976. A contabilidade exerceu-a até os últimos dias de sua vida. Era associado do Conselho Regional de Contabilidade e graças ao vasto conhecimento contábil, assessorava colegas nas constantes mutações do setor.
Teve participações esportivas e literárias. Na literatura, 45 anos de atividades. Em 1936, co-fundara o Grêmio Literário Humberto de Campos.

Na imprensa, Nilton sempre editou crônicas, contos, poemas, trovas, sonetos, divulgando parte de sua produção literária, nos jornais de Ribeirão Preto, oferecendo subsídios para que professores e alunos trabalhassem, nas escolas, seus projetos de poesia. Em torno da Fonte Luminosa, da praça XV de novembro, por vários anos, estiveram expostas as trovas dos Jogos Florais de Ribeirão Preto, em placas pintadas, com as trovas vencedores. Nilton sempre tinha alguma premiada.

Como professor, na Escola dos Pobres, estimulava o alunado à vida literária e o que continuou fazendo no correr dos anos. Sua esposa também lecionava na entidade. Prefaciou diversos livros. Gostava de escrever sobre a cidade.

No correr dos anos, durante campanhas eleitorais, à pedido de candidatos compunha “marchinhas” de campanha eleitoral e, num só pleito, viu candidatos eleitos com o apoio suas mensagens poético-eleitorais. Era comum, ao passar por cartórios de paz, ser solicitado a fazer trovas de homenagem a casamento ou nascimento. O poeta gostava do que fazia e fazia com inspiração.

No ano de 1966, foi um dos vencedores dos I Jogos Florais de Ribeirão Preto, numa promoção do Clube dos Antônios com o patrocínio do jornal O Diário, tendo duas de suas trovas premiadas. O tema da promoção era Santos Dumont. A respeito, no dia 6 de novembro de 1967, o dr. Antonio Rocha Lourenço, presidente do Clube, se manifestou: Ao ofertar-lhe o prêmio que sua inteligência conquistou, não deseja o Clube dos Antônios, deixar embora em poucas palavras, de dizer o quanto agradece a sua destacada participação. Foi premiado em diversos concursos de trovas e sonetos. Era considerado uma usina poética e conseguia produzir centenas de trovas de um mesmo assunto ou tema.

Em 1970, a pedido do dr. Antônio Duarte Nogueira, então prefeito, editou Versos à Ribeirão Preto. O historiador Prisco da Cruz Prates, destacava-o em seus textos como o príncipe regional da trova ribeirãopretana. O trabalho literário de Nilton merecia elogios nos mais diferentes recantos do país.

Em 19 de junho de 1977, trovadores de diversas cidades e estados, estiveram reunidos na casa do poeta. Ocasião festiva e literária, onde cada um demonstrava a sua versatilidade. O escritor e acadêmico santista Walter Waeny ao partir deixou em manuscrito a mensagem:

“ Esta alegria maior,
Sempre guardá-la prometo:
visitei, hoje, o melhor,
poeta de Ribeirão Preto”.


O trovador José Valeriano Rodrigues, mineiro de diversas academias, assim escreveu:

Senti-me de tal maneira
à vontade neste lar,
como na casa mineira
para a qual eu vou voltar”.


Deixou vários inéditos, mas na imprensa diária divulgada boa parte daquilo que produzia. Suas constantes premiações literárias, perpetuam seus textos em livros de resultados de concursos. A biblioteca municipal e a Casa da Cultura têm as edições dos livros de jogos florais de Ribeirão Preto.

Vem sendo organizada uma antologia com os textos dos escritores da família Teixeira. O poeta Lauro da Costa Teixeira (irmão, freqüentava a Casa do Poeta Lampião de Gás), Nilton Manoel e Ivan Augusto (filhos) e alguns sobrinhos do poeta com prêmios e vida literária.

Nilton fez parte de várias comissões de Jogos Florais de Ribeirão Preto.
Nilton, co-fundador e vice-presidente da seção municipal da União Brasileira de Trovadores, instalada por Luiz Otávio (príncipe dos trovadores). Co-fundador da União dos Escritores de Ribeirão Preto e membro correspondente de academias pelo Brasil. Hoje é patrono de cadeiras acadêmicas.

No decorrer dos anos conquistou prêmios, nos Jogos Florais da Bahia, pela Academia Castro Alves de Letras, Academia Valenciana de Letras, Grupo Alec de Corumbá, Academia Pedralva de Letras e Artes, Sesc Três Rios- RJ, União Brasileira de Escritores, Revista Brasília, centenária Sociedade Legião Brasileira Civismo e Cultura, em Ribeirão Preto, monografia sobre Padre Euclides, Casa da Cultura de Ribeirão Preto, Clube da Velha Guarda, Jogos Florais de Ribeirão Preto, Santos, Rio de Janeiro,etc.

Na antologia Poetas de Ribeirão Preto, terra da poesia, editada por Nilton Manoel, em 1979, figura com um agrupamento de textos sob o título “Encanto dos meus dias” onde são encontrados sonetos, poemas e trovas, concebidos em verdadeiros estados de graça. Foi haicaísta.

A FONTE LUMINOSA

Da fonte luminosa, emergem espargidos,
contínuos jatos de água em cores variantes,
que , em suaves vai-vens, tão sempre repetidos
em mesclas divinais de encantos e corantes.

Seus azuis celestiais, nos jatos expelidos,
parodiam, no céu, os azuis contagiantes,
enquanto pela relva, os grilos escondidos
teimam a musicar esses vai-vens constantes

Sempre a água sobe e desce e sofre mutações,
imita nossa vida onde há tão falsos pomos
colhidos cegamente em muitas ocasiões...

A fonte é um painel de passageiras cores,
a vida é um painel de mentirosos cromos,
dois cromos celestiais, cromos enganadores.


Com a difusão de informativos, jornais, revistas, colunas de poesia em jornais O Diário, Diário de Notícias, Diário da Manhã, A Cidade e em Folha do Subúrbio (do Eduardo Cavalcanti da Silva, Camaçari - BA), a coluna de Trovas da Gazeta Esportiva, assinada pela jornalista Maria Thereza Cavalheiro, Almanaques como o Santo Antonio, da Editora Vozes, a folhinha do Sagrado Coração de Jesus, álbuns e revistas acadêmicas, os poemas de Nilton da Costa Teixeira popularizam-se cada vez mais, principalmente, em volantes, editados para distribuição gratuita a alunos de nossas escolas. O movimento literário de Ribeirão Preto, tomou vulto com as edições diárias do poeta, considerado o marco de nacionalização da literatura ribeirãopretana.

Nos Jogos Florais de Ribeirão Preto, oficializados pelo executivo, por ser o evento que consagrou a cidade no mundo internacional da literatura, realizados em modalidades: estudantil, municipal, internacional, Nilton conseguiu diversas e boas trovas vencedoras, entre elas:

Neste abraço em que te aperto,
Com a beatitude de um monge,
Sinto meu amor tão perto...
Minha esperança tão longe!

Para salvar aparências,
Nós pela vida, mentindo,
Entre silêncios e ausências,
Sofremos sempre sorrindo.

O Judas de hoje, moderno,
Maneiroso, demagogo,
Não teme os clarões do inferno,
Porque dança sofre o fogo.

Despreocupado com a morte
Para quem tão pouco resta,
Mesmo os rigores da sorte
São verdes sonhos de festa!


Comentários sobre o poeta:

“... vemos o perfil de um homem, que foi inspirado cultor do sonho e requintado burilador do verso. Sei que foi, em sua terra natal, por várias gerações, um dos seus valores mais dignificantes, que, se o presente tanto o admirou, a posteridade saberá respeita-lo”.

Um poeta adormeceu,
e, porque tanto sonhou,
se algo, aqui, se escureceu,
todo o céu se iluminou”.
Helvécio Barros- Bauru-SP.:


“Com profundo pesar recebemos a infausta notícia do falecimento do poeta Nilton da Costa Teixeira, que enluta as letras de Ribeirão Preto e entristece seus irmãos trovadores de todo o Brasil”..
Carolina Ramos, presidente da União Brasileira de Trovadores –secção de Santos-SP

“ Trovador e poeta que todos aprendemos a estimar e admirar”.
Jornalista Paulina Martha Frank, Campinas,SP.

"O Brasil inteiro precisa ler o que ele escreve, para render homenagem a um talento e a uma versatilidade assim tão grandes”.
Walter Waeny, trovador da Academia Santista de Letras
----------
Na literatura de Ribeirão Preto sua prosa e poesia fez a nossa história literária e, ficou comprovado nos certames em que foi premiado. Seus livros: A Mansão do Morro Branco, Versos à Ribeirão Preto, Mãe, Minha Trova em Ribeirão Preto, Sonetos de várias datas,Restos de Ventura, entre outros, enriquecem o mundo literário desta cidade que tanto amou.

Faleceu a 5 de novembro de 1983; casado com d. Ophélia de Andrade Teixeira.

Fontes:
- Nilton Manoel.
- http://corauci.com.br/n0004.htm

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 636)

Uma Trova de Ademar

Com certa preponderância
eu impus esta verdade:
Quem inventou a distância
não conhecia a saudade!..

–Ademar Macedo/RN

Uma Trova Nacional


A "Poesia" é pura imagem
vestida em traje de gala;
metafísica linguagem
através da qual Deus fala!

–Roza de Oliveira/PR–

Uma Trova Potiguar


Percorri muitos espaços...
Tantos jardins visitei...
Mas depois de tantos braços,
aos teus braços eu voltei.

–Israel Segundo/RN–

Uma Trova Premiada

2011 - Concurso do CTC/ES
Tema - F É - 9º Lugar


Eu sempre narrei um fato
da minha falta de fé:
" - Eu não tinha nem sapato
até ver alguém sem pé...".

–Antônio Colavite Filho/SP–

...E Suas Trovas Ficaram


Há, Senhor, muita tristeza
na criança sem escola.
Por favor dê-me a certeza
que o Saber não pede esmola.

–Cecim Calixto/PR–

Uma Poesia


Quando o verso é bem urdido
e a estrofe fica bem feita,
a peça logo acabada
fica tão linda e perfeita,
que a musa sente ciúme
e ao lado dela se deita!

–Prof. Garcia/RN–

Soneto do Dia

SUBLIME AMOR.
–Haroldo Lyra/CE–


Numa clínica, um velho procurava
rápido curativo à mão doente.
Dizia-se apressado, que era urgente,
pois tinha um compromisso e se atrasava.

O médico, atendendo ao paciente,
perguntou por que tanto se apressava!
É que, num certo Asilo, costumava
tomar café co’a esposa, já demente.

O médico ressalta: “Por descaso,
não reclamara ela desse atraso?”
E ele: “Nem mais me reconhece, até”.

“Então! É apenas um capricho seu?”
“Oh, não! Ela não sabe quem sou eu,
mas eu sei muito bem quem ela é”.

-Fonte:
Colaboração de Ademar Macedo

Montagem da trova e imagem por José Feldman

domingo, 12 de agosto de 2012

Hermoclydes S. Franco (Álbum de Recordações - n.2)


Francisco Pessoa (Décima de Dia dos Pais)

Fonte:
O Autor

O Pai em Trovas

Como é bom saber que o filho
 vida afora alegre vai,
 dando forma, força e brilho
 aos sonhos do velho pai!
            A.A. de Assis – Maringá/PR

A bênção, queridos pais,
 que às vezes sois mães também.
 Em nome de Deus cuidais
 dos filhos que d’Ele vêm!
            A. A.  de Assis – Maringá/PR

Com amor segue em teus trilhos,
 do bom caminho não sai
 para que, sempre, teus filhos
 possam chamar-te de...Pai!
            Antonio Juraci Siqueira – Belém/PA

Todo pai - parece troça -
 qual jaca é como se fosse:
 se por fora é um "casca grossa",
 por dentro...como ele é doce!
            Antonio Juraci Siqueira – Belém/PA

É de dor a sensação:
 meu pai... arrastando os passos;
 e eu... puxando pela mão
 quem já me levou nos braços!
            Antonio Carlos Teixeira Pinto – Brasília/DF

É tão bom ser tua filha,
 me espelhar em teu caminho.
 desta vida, és maravilha,
 espalhando teu carinho.
            Carmen Pio – Porto Alegre/RS

Esse mesmo pai que um dia
 Deus me ofertou, ao nascer,
 é o pai que eu escolheria,
 caso pudesse escolher!
            Carolina Ramos - Santos/SP

Dia dos Pais,  eu  desejo
 que seja um dia de brilhos,
 que a brisa leve o meu beijo
 a  cada  pai  e  seus filhos!
            Delcy Canalles – Porto Alegre/RS

12 de agosto,  eu  te  digo:
 -Chega alegre e de mansinho,
 faze do "PAI",  um  amigo,
 que dá, aos "FILHOS", carinho"!
            Delcy Canalles - Porto Alegre/RS

No  Dia dos Pais, queria,
 abraçar-te,  meu  irmão,
 e  te  dizer, em  poesia,
 o que vai no  coração!
            Delcy Canalles - Porto Alegre/RS

Que tenhas muita ventura
 no  universo do teu lar,
 que só o amor e a ternura
 possam  contigo,  ficar!
            Delcy Canalles - Porto Alegre/RS

Um homem sem preconceito,
 um sábio diante da vida,
 meu pai legou-me o direito
 de andar de cabeça erguida...
            Élbea Priscila de Souza e Silva - Caçapava/SP

Meu velho pai me dizia
 com profunda lucidez:
 -Nem a mais alta honraria
 vale mais do que a honradez!
            Eliana Dagmar - Amparo/SP

A frase dura que escapa
 da boca de muitos pais
 é tão cruel quanto um tapa
 e, às vezes, machuca mais!
            Gerson César Souza - São Mateus do Sul/PR

Ah... meu pai! Por tua ação
 eu não temia revés:
 – Segurando a tua mão,
 eu tinha o mundo a meus pés!
            João Freire Filho - RJ/RJ

Num retrato amarelado,
a saudade em mim se deu.
Ontem tinha meu pai ao lado
sem ele, hoje, o pai sou eu.
José Feldman - Maringá/PR
Oh, que sentir singular!
 Saudade imensa me dói,
 quando me ponho a lembrar
 do Pai maior que um herói.
            Lairton Trovão de Andrade - Pinhalão/PR

Meu pai foi homem prudente,
 de caráter e lealdade.
 Foi grande exemplo pra gente
 como homem de verdade.
            Lairton Trovão de Andrade - Pinhalão/PR

Uma saudade doída
 me vem assim de repente,
 papai deixou esta vida,
 foi morar longe da gente.
            Lêda Terezinha de Oliveira- Pinhalão/PR

Do céu, meu pai é por mim,
 qual querubim protetor,
 muito sinto que é assim,
 meu pai, um anjo de amor.
            Lêda Terezinha de Oliveira - Pinhalão/PR

O papai mesmo zangado
 tem bondade em seu olhar.
 Mesmo bastante ocupado
 dos filhos vive a zelar
            Lyzete Maria - 1a.colegial - Pinhalão/PR

Meu pai, amigo sincero,
 me dá, de modo conciso,
 não as respostas que eu quero
 mas aquelas que eu preciso.
            Marisol – Teresópolis/RJ

Foi amigo de verdade,
 meu exemplo, meu herói.
 Hoje meu pai é saudade,
 e como a saudade dói!...
            Nádia Huguenin – Nova Friburgo - RJ

Desta vida eu devo o brilho
 por você ter me ensinado.
 Hoje, pai, com o meu filho,
 sou você no meu passado.
            Nei Garcez – Curitiba/PR

No calor do ensinamento
 você sempre esteve certo.
 Hoje, o arrependimento...
 Você não está por perto!
            Nei Garcez – Curitiba/PR

Você sempre foi meu guia
 nos abismos desta vida,
 e eu jamais o percebia,
 ó meu pai... Que linda lida!
            Nei Garcez – Curitiba/PR

Neste mundo, eu vivo aqui,
 é meu pai, meu grande amigo;
 das lições que eu aprendi
 tua imagem vem comigo!
            Nei Garcez – Curitiba/PR

Pai, a saudade me acorda
 e traz, do nosso passado,
 o rancho, o fumo de corda...
 e o teu chapéu amassado!
            Neide Rocha Portugal - Bandeirantes/PR

Se a vida, enche-se de brilho
 no dia a dia de pai,
 é porque a vida do filho
 é a grande graça do PAI!
Nilton Manoel – Ribeirão Preto / SP

Meu pai, exemplo perfeito,
 de luta e vitalidade!
 ao partir, por ser direito,
 deixou sincera saudade.
Nilton Manoel – Ribeirão Preto / SP

É força que vem comigo
 e no tempo não se esvai...
 – Sempre que falo de amigo
 eu me lembro de meu pai!
            Rodolpho Abbud – Nova Friburgo/RJ

Um homem, quando se vai,
 deixa esta imagem no adeus:
 perante Deus... a de um pai:
 perante o filho... a de um deus!
            Sérgio Bernardo - Nova Friburgo/RJ

Longe agora a infância vai...
 E nos caminhos que trilho,
 que triste é dizer "meu pai",
 sem que respondas "meu filho"!
            Sérgio Bernardo - Nova Friburgo/RJ

Fonte:
http://www.movimentodasartes.com.br/trovador/pop_062/060813a.htm

Ladyce West (Quem é?)

Quem é
aquele homem alto,
que me abraça forte,
com muito carinho?
Quem vem me acudir
num salto,
que me deseja sorte
e me chama filhinho?

Meu Pai —
é seu nome completo,
Não tem sobrenome,
nem para o carteiro.
Com ele, eu me sinto repleto,
ando bem ereto, cheio de afeto.
Pra mim ele é valioso,
Se dá por inteiro,
este homem discreto.
Amoroso, muito circunspecto,
ele vai à luta,
samurai guerreiro.

Fonte:
À Meia Voz

Nilton Manoel (Meu Pai)

Eu,era bem criança e inda me lembro quando
 adentravas-te ao lar sorrindo comovido,
 e aos beijos ias para a minha mãe contando
 vários fatos de mais esse dia vivido.

E então cada um ia sentar-se pra merenda
 defronte a mesa antiga e de tábuas de pinho,
 posta na sala, em que na casa da fazenda
 a família ceava em fraternal carinho.

E á hora da janta, enquanto a sopa fumegava,
 numa terrina grande e exalando temperos,
 cada um se levantava e  com ardor rezava,

Ante meu pai, que em pé, sempre ao bom Deus louvava,
 com as orações, que, eu em hora de desespero
 repito inda hoje, assim como ele me ensinava.
 
Fonte:
 Publicado no Jornal O Diário - Ribeirão Preto - SP.
 em 14/08/1966

Nei Lopes (Quanto Dói Uma Saudade)

Um dos maiores violonistas anônimos do subúrbio carioca foi o Athaúde — com "th", como exigia. Mas o que tinha de cobra, tinha de baixo astral.

Papo bom pra ele, era doença, epidemia, catástrofe. E a introdução preferida de seus papos era a célebre "sabe quem morreu?".

Essa opção preferencial pelo fúnebre Athaúde levava consigo em seus endereços, na medida em que o tempo ia passando e seus já parcos recursos iam escasseando ainda mais. Tanto que da rua Real Grandeza, onde nasceu, foi morar no Catumbi, depois no Caju, depois em lnhaúma, depois na Cacuia, depois no lrajá (na Freguesia, que no Pau-Ferro todo mundo é vivo!), depois em Ricardo de Albuquerque... até seu repouso eterno no Murundu, em Realengo.

Mas o caso é que, debaixo daquela sua mortalha roxa e amarela, Athaúde também usava uma máscara deste tamanho. E isto porque sabia-se quase um Zé Menezes — tocava todos os instrumentos de corda, "menos harpa e relógio", como, passando pelo tenor, que a gente chamava de "viola americana" e pelo banjo, que Seu Acácio da Venda achava que era um "pandeiro de rabo". E, aí, sabendo que abafava, ficava dando uma de virtuose pobre-coitado:

— Eu não toco nada! Você precisava ver meu finado irmão...

Esse irmão falecido, que a gente nunca soube ao certo se era uma saudade ou uma desculpa, não saía da nossa roda — é óbvio — de choro: "Lamento", "Tristezas do Sólon", "Saxofone Por Que Choras?", "Bonifrates de Muletas", "Chorando baixinho", "Quanto Dói Uma Saudade", "Tristeza de Um Violão", eram as preferidas do Athaúde, naquele seu interminável in memoriam.

— Porra, toca "Brasileirinho", ô Ataíde ! — esbravejou o Fornalha já cheio de timbuca, naquela extemporânea e blasfema roda formada, de improviso, na Sexta-feira da Paixão.

— "Ataíde", não! A—tha-ú-de! Com "th". E "Brasileirinho" é choro de cavaco — fez doce o lúgubre instrumentista mascarado.

— Então, pega o cavaco, ô mão de vaca! Tu brinca nas onze, que eu sei! Deixa de modéstia, ô Segóvia! botou pilha o Jorge Bagunça, debochado como ele só. Mas o baixo astral foi irredutível:

— Quando eu perdi meu irmão, jurei nunca mais pegar no cavaquinho.

Acontece que um dia — sei lá o que houve, se ganhou no bicho, se comeu alguém, se bebeu, se fumou, se cheirou — o Athaúde chegou no boteco do Zé Calcinha completamente diferente. Ria, falava com todo mundo, chegou até a passar a mão na bunda da Dona Alzira que, como sempre, não entendeu nada. E, pra acabar com o baile, tomou o cavaco da mão do Vavá, riscou o tom e solou um "Brasileirinho" com uma rapidez, uma destreza e uma alegria nunca vistas, de São Cristóvão a Padre Miguel.

Foi nessa que o sacana do Jorge Bagunça chegou, não acreditou no que viu, pediu uma Faixa Azul, encheu um copo, tomou um gole, limpou a espuma do bigode (naquele tempo cerveja tinha espuma), foi-se chegando devagarzinho pra roda e, no último acorde, no fecha, naquela do "tchan-tchan", berrou na alça da orelha do Athaúde:

— Irmão desnaturado !!!!!!!!!!!!

Fonte:
http://www.releituras.com/neilopes_saudade.asp

Wilson Woodrow Rodrigues (Poemas Avulsos)

" BALADA DO RAIO DE LUAR "

De uma lagrima vim . . . pingo de lua
feito orvalho de lua sempre a dançar.
Na transparência clara se insinua
que o meu eterno destino é dançar no ar.
Ali! beleza imortal da forma nua
    beijada pelo luar.
E quando a lua, no céu, leve flutua
como se fosse nau a velejar,
eu levo aos anaias, de rua em rua,
saudades que vem, de mar em mar.
Ah! beleza imortal da forma nua
beijada pelo luar.

Sempre escuto uma voz que diz "sou tua"
nas noites brancas, brancas de luar,
que os namorados são filhos da lua
e irmãos mais novos do raio de luar.
Ah! beleza imortal da forma nua
beijada pelo luar.

" LEMBRANÇA "

Das três tristezas que tenho
uma foi lagrima só,  
a outra foi lave gemido,
e a última desfez-se em pó.

Das três alegrias que tenho
uma foi sorriso vão,
a outra foi manso gorjeio,
e a última foi a ilusão.

Das três saudades quê tenho
uma bem cedo murchou,
a outra durou muito pouco,
e a última foi que ficou.

" LUNDU DE DONA SINHÁ "

Tanta brancura na pele,
tanta negrura nos olhos,
tanta risada sonora
no mundo não há
fora do colo macio,  
dos olhos tão envolventes,
da boquinha tão vermelha
de Dona Sinhá.

Pegar com jeito no leque,
fazer mesura na valsa,
dizer adeus com o lenço
    no mundo não há
como o jeito delicado,
o sapatinho de seda,
a mãozinha tão alva
de Dona Sinhá .  

Rezar na igreja, sonhando.
dizer "não" sempre sorrindo  
prometer tanto em silêncio
    no mundo não há
como a reza mais sincera,
os lábios enganadores
e as promessas escondida
    de Dona Sinhá.

fingir chilique de choro,
zombar do próprio marido
e trair o próprio amante
    no mundo não há
como as lagrimas fingidas,
os carinhos mentirosos
a os amores levianos
    de Dona Sinhá.

" NASCIDA FOSTE... "

Nascida foste sobre um mar de bruma
e ao mar roubaste as curvas peregrinas.
E guardas em teu corpo a cor da espuma
e em teu olhar desejos de neblinas.

Danças em torno a mim. São névoas finas
os gestos sensuais. E dança alguma
sugere tanto o misto de onda a pluma,
de mar e céu de dúbias bailarinas.

És para mim paisagem de delícias
diversa e vaga, lúbrica e ondulante
perdida numa tarde tão nevoenta.

que eu mesmo temo que sutis carícias
me poderão fugir num breve instante,
quando de instante a instante o amor aumenta.

" O MURUCUTUTU "
( Cantiga de ninar )

Murucututu,
que esta escondidinho
na copa folhuda
do pé de araçá.

Murucututu,
o meu irmãozinho
precisa de sono,
onde a que ele está ?

Murucututu,
amigo da lua,
que não teme a noite
que não tem luar.

Murucututu,
que sorte é a sua
ir dentro da noite
o sono buscar.

Murucututu.
o meu irmãozinho
que não tinha sono
sonhando já. está?

Fonte:
Antologia da Nova Poesia Brasileira . J.G . de  Araujo Jorge - 1a ed.   1948 

Júlia Lopes de Almeida (A Caolha)

A caolha era uma mulher magra, alta, macilenta, peito fundo, busto arqueado, braços compridos, delgados, largos nos cotovelos, grossos nos pulsos; mãos grandes, ossudas, estragadas pelo reumatismo e pelo trabalho; unhas grossas, chatas e cinzentas, cabelo crespo, de uma cor indecisa entre o branco sujo e o louro grisalho, desse cabelo cujo contato parece dever ser áspero e espinhento; boca descaída, numa expressão de desprezo, pescoço longo, engelhado, como o pescoço dos urubus; dentes falhos e cariados.

O seu aspecto infundia terror às crianças e repulsão aos adultos; não tanto pela sua altura e extraordinária magreza, mas porque a desgraçada tinha um defeito horrível: haviam lhe extraído o olho esquerdo; a pálpebra descera mirrada, deixando, contudo, junto ao lacrimal, uma fístula continuamente porejante.

Era essa pinta amarela sobre o fundo denegrido da olheira, era essa destilação incessante de pus que a tornava repulsiva aos olhos de toda gente.

Morava numa casa pequena, paga pelo filho único, operário numa fábrica de alfaiate; ela lavava a roupa para os hospitais e dava conta de todo o serviço da casa inclusive cozinha. O filho, enquanto era pequeno, comia os pobres jantares feitos por ela, às vezes até no mesmo prato; à proporção que ia crescendo, ia-se a pouco e pouco manifestando na fisionomia a repugnância por essa comida; até que um dia, tendo já um ordenadozinho, declarou à mãe que, por conveniência do negócio, passava a comer fora...

Ela fingiu não perceber a verdade, e resignou-se.

Daquele filho vinha-lhe todo o bem e todo o mal.

Que lhe importava o desprezo dos outros, se o seu filho adorado lhe pagasse com um beijo todas as amarguras da existência?

Um beijo dele era melhor que um dia de sol, era a suprema carícia para o triste coração de mãe! Mas... os beijos foram escasseando também, com o crescimento do Antonico! Em criança ele apertava-a nos braços e enchia-lhe a cara de beijos; depois, passou a beijá-la só na face direita, aquela onde não havia vestígios de doença; agora, limitava-se a beijar-lhe a mão!

Ela compreendia tudo e calava-se.

O filho não sofria menos.

Quando em criança entrou para a escola pública da freguesia, começaram logo os colegas, que o viam ir e vir com a mãe, a chamá-lo - o filho da caolha.

Aquilo exasperava-o; respondia sempre:

- Eu tenho nome!

Os outros riam e chacoteavam-no; ele se queixava aos mestres, os mestres ralhavam com os discípulos, chegavam mesmo a castigá-los - mas a alcunha pegou. Já não era só na escola que o chamavam assim.

Na rua, muitas vezes, ele ouvia de uma ou outra janela dizerem: o filho da caolha! Lá vai o filho da caolha! Lá vem o filho da caolha!

Eram as irmãs dos colegas, meninas novas, inocentes e que, industriadas pelos irmãos, feriam o coração do pobre Antonico cada vez que o viam passar!

As quitandeiras, onde iam comprar as goiabas ou as bananas para o lanche, aprenderam depressa a denominá-lo como os outros, e, muitas vezes, afastando os pequenos que se aglomeravam ao redor delas, diziam, estendendo uma mancheia de araçás, com piedade e simpatia:

- Taí, isso é para o filho da caolha!

O Antonico preferia não receber o presente a ouvi-lo acompanhar de tais palavras; tanto mais que os outros, com inveja, rompiam a gritar, cantando em coro, num estribilho já combinado:

- Filho da caolha, filho da caolha!

O Antonico pediu à mãe que não o fosse buscar à escola; e muito vermelho, contou-lhe a causa; sempre que o viam aparecer à porta do colégio os companheiros murmuravam injúrias, piscavam os olhos para o Antonico e faziam caretas de náuseas.

A caolha suspirou e nunca mais foi buscar o filho.

Aos onze anos o Antonico pediu para sair da escola: levava a brigar com os condiscípulos, que o intrigavam e malqueriam. Pediu para entrar para uma oficina de marceneiro. Mas na oficina de marceneiro aprenderam depressa a chamá-lo - o filho da caolha, a humilhá-lo, como no colégio.

Além de tudo, o serviço era pesado e ele começou a ter vertigens e desmaios. Arranjou então um lugar de caixeiro de venda: os seus colegas agruparam-se à porta, insultando-o, e o vendeiro achou prudente mandar o caixeiro embora, tanto que a rapaziada ia-lhe dando cabo do feijão e do arroz expostos à porta nos sacos abertos! Era uma contínua saraivada de cereais sobre o pobre Antonico!

Depois disso passou um tempo em casa, ocioso, magro, amarelo, deitado pelos cantos, dormindo às moscas, sempre zangado e sempre bocejante! Evitava sair de dia e nunca, mas nunca, acompanhava a mãe; esta poupava-o: tinha medo que o rapaz, num dos desmaios, lhe morresse nos braços, e por isso nem sequer o repreendia! Aos dezesseis anos, vendo-o mais forte, pediu e obteve-lhe, a caolha, um lugar numa oficina de alfaiate. A infeliz mulher contou ao mestre toda a história do filho e suplicou-lhe que não deixasse os aprendizes humilhá-lo; que os fizesse terem caridade!

Antonico encontrou na oficina uma certa reserva e silêncio da parte dos companheiros; quando o mestre dizia: sr. Antonico, ele percebia um sorriso mal oculto nos lábios dos oficiais; mas a pouco e pouco essa suspeita, ou esse sorriso, se foi desvanecendo, até que principiou a sentir-se bem ali.

Decorreram alguns anos e chegou a vez de Antonico se apaixonar. Até aí, numa ou outra pretensão de namoro que ele tivera, encontrara sempre uma resistência que o desanimava, e que o fazia retroceder sem grandes mágoas. Agora, porém, a coisa era diversa: ele amava! Amava como um louco a linda moreninha da esquina fronteira, uma rapariguinha adorável, de olhos negros como veludos e boca fresca como um botão de rosa. O Antonico voltou a ser assíduo em casa e expandia-se mais carinhosamente com a mãe; um dia, em que viu os olhos da morena fixarem os seus, entrou como um louco no quarto da caolha e beijou-a mesmo na face esquerda, num transbordamento de esquecida ternura!

Aquele beijo foi para a infeliz uma inundação de júbilo! Tornara a encontrar o seu querido filho! Pôs-se a cantar toda a tarde, e nessa noite, ao adormecer, dizia consigo:

- Sou muito feliz... o meu filho é um anjo!

Entretanto, o Antonico escrevia, num papel fino, a sua declaração de amor à vizinha. No dia seguinte mandou-lhe cedo a carta. A resposta fez-se esperar. Durante muitos dias Antonico perdia-se em amarguradas conjecturas.

Ao princípio pensava: - É o pudor.

Depois começou a desconfiar de outra causa; por fim recebeu uma carta em que a bela moreninha confessava consentir em ser sua mulher, se ele se separasse completamente da mãe! Vinham explicações confusas, mal alinhavadas: lembrava a mudança de bairro; ele ali era muito conhecido por filho da caolha, e bem compreendia que ela não se poderia sujeitar a ser alcunhada em breve de - nora da caolha, ou coisa semelhante!

O Antonico chorou! Não podia crer que a sua casta e gentil moreninha tivesse pensamentos tão práticos!

Depois o seu rancor se voltou para a mãe.

Ela era a causadora de toda a sua desgraça! Aquela mulher perturbara a sua infância, quebrara-lhe todas as carreiras, e agora o seu mais brilhante sonho de futuro sumia-se diante dela! Lamentava-se por ter nascido de mulher tão feia, e resolveu procurar meio de separar-se dela; iria considerar-se humilhado continuando sob o mesmo teto; havia de protegê-la de longe, vindo de vez em quando vê-la à noite, furtivamente...

Salvava assim a responsabilidade do protetor e, ao mesmo tempo, consagraria à sua amada a felicidade que lhe devia em troca do seu consentimento e amor...

Passou um dia terrível; à noite, voltando para casa levava o seu projeto e a decisão de o expor à mãe.

A velha, agachada à porta do quintal, lavava umas panelas com um trapo engordurado. O Antonico pensou: "Ao dizer a verdade eu havia de sujeitar minha mulher a viver em companhia de... uma tal criatura?" Estas últimas palavras foram arrastadas pelo seu espírito com verdadeira dor. A caolha levantou para ele o rosto, e o Antonico, vendo-lhe o pus na face, disse:
- Limpe a cara, mãe...

Ela sumiu a cabeça no avental; ele continuou:

- Afinal, nunca me explicou bem a que é devido esse defeito!

- Foi uma doença, - respondeu sufocadamente a mãe - é melhor não lembrar isso!

- E é sempre a sua resposta: é melhor não lembrar isso! Por quê?

- Porque não vale a pena; nada se remedeia...

- Bem! Agora escute: trago-lhe uma novidade. O patrão exige que eu vá dormir na vizinhança da loja... já aluguei um quarto; a senhora fica aqui e eu virei todos os dias saber da sua saúde ou se tem necessidade de alguma coisa... É por força maior; não temos remédio senão sujeitar-nos!...

Ele, magrinho, curvado pelo hábito de costurar sobre os joelhos, delgado e amarelo como todos os rapazes criados à sombra das oficinas, onde o trabalho começa cedo e o serão acaba tarde, tinha lançado naquelas palavras toda a sua energia, e espreitava agora a mãe com um olhar desconfiado e medroso.

A caolha se levantou e, fixando o filho com uma expressão terrível, respondeu com doloroso desdém:

- Embusteiro! O que você tem é vergonha de ser meu filho! Saia! Que eu também já sinto vergonha de ser mãe de semelhante ingrato!

O rapaz saiu cabisbaixo, humilde, surpreso da atitude que assumira a mãe, até então sempre paciente e cordata; ia com medo, maquinalmente, obedecendo à ordem que tão feroz e imperativamente lhe dera a caolha.

Ela o acompanhou, fechou com estrondo a porta, e vendo-se só, encostou-se cabaleante à parede do corredor e desabafou em soluços.
O Antonico passou uma tarde e uma noite de angústia.

Na manhã seguinte o seu primeiro desejo foi voltar à casa; mas não teve coragem; via o rosto colérico da mãe, faces contraídas, lábios adelgaçados pelo ódio, narinas dilatadas, o olho direito saliente, a penetrar-lhe até o fundo do coração, o olho esquerdo arrepanhado, murcho - murcho e sujo de pus; via a sua atitude altiva, o seu dedo ossudo, de falanges salientes, apontando-lhe com energia a porta da rua; sentia-lhe ainda o som cavernoso da voz, e o grande fôlego que ela tomara para dizer as verdadeiras e amargas palavras que lhe atirara no rosto; via toda a cena da véspera e não se animava a arrostar com o perigo de outra semelhante.

Providencialmente, lembrou-se da madrinha, única amiga da caolha, mas que, entretanto, raramente a procurava.

Foi pedir-lhe que interviesse, e contou-lhe sinceramente tudo o que houvera.

A madrinha escutou-o comovida; depois disse:

- Eu previa isso mesmo, quando aconselhava tua mãe a que te dissesse a verdade inteira; ela não quis, aí está!

- Que verdade, madrinha?

Encontraram a caolha a tirar umas nódoas do fraque do filho - queria mandar-lhe a roupa limpinha. A infeliz se arrependera das palavras que dissera e tinha passado a noite à janela, esperando que o Antonico voltasse ou passasse apenas... Via o porvir negro e vazio e já se queixava de si! Quando a amiga e o filho entraram, ela ficou imóvel: a surpresa e a alegria amarraram-lhe toda a ação.

A madrinha do Antonico começou logo:

- O teu rapaz foi suplicar-me que te viesse pedir perdão pelo que houve aqui ontem e eu aproveito a ocasião para, à tua vista, contar-lhe o que já deverias ter-lhe dito!

- Cala-te! - murmurou com voz apagada a caolha.

- Não me calo! Essa pieguice é que te tem prejudicado! Olha, rapaz! Quem cegou a tua mãe foste tu!

O afilhado tornou-se lívido; e ela concluiu:

- Ah, não tiveste culpa! Eras muito pequeno quando, um dia, ao almoço, levantaste na mãozinha um garfo; ela estava distraída, e antes que eu pudesse evitar a catástrofe, tu o enterraste pelo olho esquerdo! Ainda tenho no ouvido o grito de dor que ela deu!

O Antonico caiu pesadamente de bruços, com um desmaio; a mãe acercou-se rapidamente dele, murmurando trêmula:

- Pobre filho! Vês? Era por isto que eu não queria dizer nada!

Fonte:

Ladyce West/ RJ (Teia de Poemas)

PRESENÇA INVISÍVEL                

                                      Ao contemplar a obra  de João Bez Batti no Instituto Moreira Sales, RJ,  Novembro de 2006

Senti a presença invisível
De mãos grossas, calejadas,
Que acariciaram a pedra,
O basalto negro
Ou vermelho,
Ou até mesmo o mármore.

 Constatei mesmerizada
Que trouxeram à superfície
A essência;
Que libertaram, a Michelangelo,
A forma presa no seixo,
O orgânico escondido,
Inerte,
Meio-solto,
Quase-aprisionado.

 Mãos que revelaram os escravos encapsulados,
Seres encarcerados no mesozóico,
Como se, conhecendo o desastre de Pompéia
Depois do escarro fulminante do Vesúvio,
Soubessem encontrar:
O cactos florescente, o cágado,
A abóbora moranga. 
Caracóis.
E bólidos petrificados.

 Estas mãos, que brincam
Sedutoramente
Com o poder divino,
Conhecem o conteúdo,
A alma invisível da pedra.
Descobrem o cascalho gaúcho,
Chocam os grandes ovos de rio,
E parem os seres cativos nas  pedras,
Como Eva o tinha sido na costela de Adão.

 E o que surpreende: estas mãos,
Que revelam o coração do basalto
Regurgitado  pela Terra,
Lixado pelas águas,
Rolado, burilado e aveludado pelo tempo,
São humanas.
Mãos peãs.
Agraciadas pela arte da divinação,
Que brincando de Deus,
Mostram o divino em todos nós.

A BORBOLETA AMARELA

A borboleta amarela
pousou no beiral da janela.
Abriu suas asas listradas
cansadas de muitas estradas
e dormiu.

 Ficou um bom tempo parada
até se sentir renovada.
Limpando as patinhas da frente,
jogou-se pelo muro bem rente
e seguiu.

 Lá foi ela pelos ares
saltitando em ziguezagues.
Pousou na flor do caqui,
pulou daqui para ali
e partiu.

 Por entre a grade de ferro, passou.
Por trás dos ramos floridos, voou.
Parou no banco da praça,
eis que um gato lhe ameaça…
e fugiu.

TUPI

Hoje acordei bem cedo.
Vou pra casa da vovó!
Vou feliz e vou sem medo,
Vou levando o meu totó.

Tupi é meu melhor amigo.
Um vira-lata legal!
Quando o peguei no abrigo,
Chamava-se Tiquinho de tal.

Este nome não lhe cabia,
Já que era bem grandão!
Musculoso, ele se fazia
Respeitar na multidão.

Tupi, um nome guerreiro.
De índio, bem brasileiro!
Foi assim que o batizei,
No dia em que o adotei.

Com Tupi vou a todo lado,
De minha casa para escola,
Da pracinha pro gramado
Onde sempre jogo bola.

Vovó gosta das visitas
Que eu e Tupi lhe fazemos.
Prepara uma mesa bonita,
Com quitutes que comemos.

Tupi gosta do passeio.
Grunhe e corre, late e pula.
Nem um pingo de receio,
Vovó lhe incentiva a gula.

Truques e truques ele faz:
Pára e senta, deita e rola.
Quer bolachas da sacola
Que vovó sempre lhe traz.

O GAÚCHO

A minha caixinha mágica
Tem oito lápis de cor,
Folhas de papel branco
E um bom apontador.

E só levantar a tampa:
Vejo um homem a cavalo.
Parece trotar no pampa
Ouvindo o canto do galo.

Com o lápis azul eu faço
A grande parte do céu;
Com o castanho eu traço
Cavalo, bota e chapéu.

O verde fica pra grama,
Capim alto que nem cana.
No canto amarelo o sol
Brilhando que nem farol.

O vermelho é do lenço
Que ele usa no pescoço;
A calça é de pano preto;
Na garupa leva o almoço.

Por fim no canto direito
Do desenho que surgiu
Assino meu nome bem feito
Com data de vinte de abril.


A CHUVA FEZ AZUL NOSSO HORIZONTE

A chuva fez azul nosso horizonte.
Pintou no vale a cor da esperança.
Encheu de anêmonas, miosótis, margaridas,
Do campo aberto, ao sopé do monte.
Brotaram pintassilgos e abelhas.
No rio, a cada curva um jatobá.
No cheiro do capim ao sol ardente
Paravam insetos, lagartos e até o ar.
Na sombra escura o gado se perfila,
Debaixo de mangueiras generosas,
E espera em silêncio sonolento
O alívio do calor.  Passam-se as horas.
Ao sinal distante da capela na aldeia,
Quando o sol se apaga atrás da serra,
As nuvens, uma a uma,  se enfileiram.
Primeiro, brancas, alegres, arredondadas,
Depois cinzas, sem forma e pesadas.
Acomodam-se, ao sul,  entre montanhas.
E qual ninhada de cachorros desmamada,
Que luta, reclama e se aquieta ’inda faminta
Com roncos e rugidos passam a noite.
O vento as nina… Mas ao brilho de relâmpago
Fugaz,  recomeça o murmúrio no horizonte.
Qual relógio mecânico e em tempo,
As nuvens acordam o sol sem cerimônia,
E em prantos limpam bem o firmamento,
Para de novo azularem o horizonte.

BANDEJA DE MADEIRA

Comprei uma bandeja de madeira,
No mercado de usados da cidade.
O preço alto, verdadeiro assalto,
Testava a minha vontade…
Invocada reclamei:
Preço muito apimentado!
O feirante desfiou, então,
A ladainha da ocasião:
Uma cascata de palavras
E de muitas abobrinhas.
Listadas de um modo simples,
Em fileira memorizada,
Uma tabuada de dados,
Sem nexo e sem sentido,
Qual jovem guia turístico
Treinado para repetir,
Sem nenhuma compreensão,
História de monumentos,
Batalhas, guerra ou ação.
Um rol de características,
Uma lista de preciosismos,
Que turistas escutam em vão.
No caso do comerciante,
Era manobra astuta,
Artimanha obstrucionista,
Inspirada na política
Do partido oposicionista,
Com intenção de impedir
Barganhas, regateio, pechincha.
Mas não me dei por vencida
E esbocei, na medida,
Uma ensaiada choradeira
De compradora matreira,
Desconfiada confessa.
Mas para meu desagrado,
A manobra desta vez
Não deu nenhum resultado.
E o vendedor perturbado,
Não se fazendo de rogado,
Disse em português claro:
O preço é este e está acabado!
Era esperteza, eu sabia.
Manha de ressabiado
Recalque de gato escaldado.
Experiente e esperta,
Também lhe disse umas tantas,
Questionei ainda uma vez
Os dados da tal bandeja
Que sabia muito bem
Não ser uma antigüidade.
Mas minha senhora veja,
Já não se faz trabalho
Detalhado como este.
Marqueteria finíssima,
Olhe a delicadeza
Deste desenho aqui em cima!
Mantive meu ar incrédulo
De pessoa que conhece:
Reclamei do acabamento,
Das alças, das bordas, do centro,
Do verniz barato – opaco.
Não sou caloteiro!
Nem tampouco pirateio.
A Sra. pode confirmar
Nos antiquários da cidade!
Vai ver que é coisa boa,
Que tem uma certa idade!
Pus-me a andar, dando o fora,
No velho ardil de negócios
Fazendo-lhe acreditar
Que era fácil ir embora.
Ele veio correndo atrás,
É vintage, minha senhora,
É vintage, repetia!
Como se a palavra,
A denominação,
A expressão estrangeira,
Respondesse às perguntas
Corriqueiras que lhe fiz.
Mas parei.  E voltei.
Queria muito a bandeja
Rica em marqueteria.
Não pode ser, eu dizia,
Eu me lembro dessas bandejas,
Dessas lembranças para turistas,
Vendidas nas barraquinhas
Da Quinta da Boa Vista…
De súbito ele parou.
De cima abaixo me olhou.
E puxando lá do fundo
De sua sabedoria, perguntou:
– Mas quantos anos a senhora tem?
Num breve momento de pausa,
Disse para mim mesma:
Que história!  Traída pela memória!
Olhei para a bandeja de novo
E ainda uma vez mais…

ESTE LAGO SERENO

Este lago sereno exerce uma atração,
Uma obsessão misteriosa,
Alucinante em mim.
Um desejo de mergulhar na sua profundeza,
De me perder em seu mistério,
De desaparecer na paisagem tranqüila,
Pintada em suas águas sombrias,
Sossegadas, calmas e imóveis. 
Seu silêncio me hipnotiza e seduz.

Este lago manso me mesmeriza
No tratar invertido da natureza:
A dupla imagem, a ambigüidade.
Céu e água. Água e céu.
O reflexo do vôo de um pássaro no ar…
Um  peixe fugidio a nadar?
Verso e reverso.  Corpo e alma.
Inferno e paraíso.
Meu mundo unido num só horizonte.

O FLAMBOYANT DA CASA AO LADO

Morreu o flamboyant da casa ao lado.
Foi-se o calor de verão da minha infância.
Apagaram-se suas flores alaranjadas,
Fogosos anúncios do início da estação.
Doente e velho, tombou calado e emagrecido.
Sóbrio e distinto, evaporou-se nos cupins.
Deixou em seu lugar espaço raro,
Um ar aberto, um nada enorme, que me espanta.
Um espaço devassado diariamente,
Onde antes, a sombra clara era presente.
O vácuo preencheu meu horizonte.
Galhos partidos, quebrados sobre a ponte.
O tronco doente jogado num instante.
Vergou molhado, encharcado pela chuva.
Mostrando a todos o que só a terra conhecia:
Suas raízes, engrossadas pelo tempo,
Eram agora desvendadas pelo vento.
Tombou sozinho com um único gemido
Doloroso, aceitando o seu destino.
Pernas pra cima em impudico descaso.
Meu companheiro de verões ardentes,
Guardião de minha infância e adolescência.
Exuberante, florescia ano após ano
Desabrochando incandescente em dezembro.
Entre nós havia um rio bem estreito,
Que nascia lá no alto da Rocinha,
Cascateava da nascente até a Gávea,
De onde então serpenteava rumo ao mar.
Era aqui, que deslizava sob as pontes
E atravessava minha rua de mansinho.
De um lado, o flamboyant enraizado;
Do outro, o edifício com meu ninho.
Crescemos juntos, eu e ele aqueles anos.
Nossa distância era pouca e amenizada,
Pois reservava uma flor para meu gozo,
Que escondida pelo batente da janela,
Aos poucos, foi-se chegando espevitada.
E me espreitava, esticando o seu florão.
Curiosa, assim passava os dias quentes.
A cada ano parecia mais chegada.
Era de casa.  Sem receio se hospedava.
Com jeitinho, batia na vidraça,
E enrubescendo se apoiava ao janelão.
Esta flama de verão me viu crescer,
Chorar amores, estudar, adormecer.
Custa-me vê-lo cair, velho soldado!
Quem irá agora anunciar-me o verão?

O PRAZER DE VIVER

Quem primeiro decidiu comer um caracol?
Quem descobriu a trufa e a carne no siri?
Quem na lufa-lufa abriu uma ostra,
Encontrou uma  pérola à mostra?
Que antecessor nosso, faminto, esquálido,
Descobriu quais cogumelos comer?
Teria morrido ou só desfalecido?
Quantos de nossos avós: nossa linhagem,
Humanos de diferentes origens,
Se envenenaram?  Com desespero ou coragem?
À cata da janta, para manter, fortalecer
Seus corpos minguados, doentes, arados.
Quem sobreviveu, como aprendeu?
Caracóis são venenosos: têm que regurgitar
E evacuar antes que possamos comê-los.
Um décimo dos caranguejos são comestíveis.
Quem achou estes crustáceos irresistíveis,
Saboreou-os sem medo?
São todas iguarias refinadas.  Caras.  Sofisticadas.
Não são encontradas em qualquer caserna ou taberna.
Graças ao sacrifício do homem das cavernas?

Verdadeira iguaria é o bisão,
Principal figura das pinturas nas grutas.
Verdadeira iguaria é o mamão, 
A maçã, o figo, a uva, qualquer das frutas.
Não aparecem todas no Jardim do Éden?
Elas vêm no tamanho certo de consumo,
Em embalagens de fácil manuseio,
As frutas foram os primeiros insumos,
Produtos com design perfeito. 
Só a maçã pegou grande má fama,
Já pela manhã, complicou toda trama,
Expulsando o primeiro casal do Paraíso
Depois de lhes ter  dado o primeiro sorriso.
E levou-os a ter que plantar para comer…
Mas trouxe com ela o prazer de viver!

Fontes:
Peregrina Cultural
À Meia Voz