quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Florbela Espanca (Cavalgada de Poemas) v.3

ÁRVORES DO ALENTEJO
Ao Prof Guido Battelli

Horas mortas... Curvada aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a bênção duma fonte!

E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!

Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!

Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!


QUEM SABE?...
Ao Ângelo

Queria tanto saber por que sou Eu!
Quem me enjeitou neste caminho escuro?
Queria tanto saber por que seguro
Nas minhas mãos o bem que não é meu!

Quem me dirá se, lá no alto, o céu
Também é para o mau, para o perjuro?
Para onde vai a alma que morreu?
Queria encontrar Deus! Tanto o procuro!

A estrada de Damasco, o meu caminho,
O meu bordão de estrelas de ceguinho,
Água da fonte de que estou sedenta!

Quem sabe se este anseio de Eternidade,
A tropeçar na sombra, é a Verdade,
É já a mão de Deus que me acalenta?


A MINHA PIEDADE
A Bourbon e Meneses

Tenho pena de tudo quanto lida
Neste mundo, de tudo quanto sente,
Daquele a quem mentiram, de quem mente,
Dos que andam pés descalços pela vida,

Da rocha altiva, sobre o monte erguida,
Olhando os céus ignotos frente a frente,
Dos que não são iguais à outra gente,
E dos que se ensanguentam na subida!

Tenho pena de mim... pena de ti...
De não beijar o riso duma estrela...
Pena dessa má hora em que nasci...

De não ter asas para ir ver o céu...
De não ser Esta... a Outra... e mais Aquela...
De ter vivido e não ter sido Eu...

SOU EU!
À minha ilustre camarada Laura Chaves

Pelos campos em fora, pelos combros,
Pelos montes que embalam a manhã,
Largo os meus rubros sonhos de pagã,
Enquanto as aves poisam nos meus ombros...

Em vão me sepultaram entre escombros
De catedrais duma escultura vã!
Olha-me o loiro sol tonto de assombros,
as nuvens, a chorar, chamam-me irmã!

Ecos longínquos de ondas... de universos..
Ecos dum Mundo... dum distante Além,
Donde eu trouxe a magia dos meus versos!

Sou eu! Sou eu! A que nas mãos ansiosas
Prendeu da vida, assim como ninguém,
Os maus espinhos sem tocar nas rosas!

PANTEÍSMO
Ao Botto de Carvalho

Tarde de brasa a arder, sol de verão
Cingindo, voluptuoso, o horizonte...
Sinto-me luz e cor, ritmo e clarão
Dum verso triunfal de Anacreonte!

Vejo-me asa no ar, erva no chão,
Oiço-me gota de água a rir, na fonte,
E a curva altiva e dura do Marão
É o meu corpo transformado em monte!

E de bruços na terra penso e cismo
Que, neste meu ardente panteísmo
Nos meus sentidos postos e absortos

Nas coisas luminosas deste mundo,
A minha alma é o túmulo profundo
Onde dormem, sorrindo, os deuses mortos!

MINHA TERRA
À J. Emídio Amaro

Ó minha terra na planície rasa,
Branca de sol e cal e de luar,
Minha terra que nunca viu o mar
Onde tenho o meu pão e a minha casa...

Minha terra de tardes sem uma asa,
Sem um bater de folha... a dormitar...
Meu anel de rubis a flamejar,
Minha terra mourisca a arder em brasa!

Minha terra onde meu irmão nasceu...
Aonde a mãe que eu tive e que morreu,
Foi moça e loira, amou e foi amada...

Truz... truz... truz... Eu não tenho onde me acoite,
Sou um pobre de longe, é quase noite...
Terra, quero dormir... dá-me pousada!

A UMA RAPARIGA
À Nice

Abre os olhos e encara a vida! A sina
Tem que cumprir-se! Alarga os horizontes!
Por sobre lamaçais alteia pontes
Com tuas mãos preciosas de menina.

Nessa estrada da vida que fascina
Caminha sempre em frente, além dos montes!
Morde os frutos a rir! Bebe nas fontes!
Beija aqueles que a sorte te destina!

Trata por tu a mais longínqua estrela,
Escava com as mãos a própria cova
E depois, a sorrir, deita-te nela!

Que as mãos da terra façam, com amor,
Da graça do teu corpo, esguia e nova,
Surgir à luz a haste duma flor!...

MINHA CULPA
A Artur Ledesma

Sei lá! Sei lá! Eu sei lá bem
Quem sou?! Um fogo-fátuo, uma miragem...
Sou um reflexo... um canto de paisagem
Ou apenas cenário! Um vaivém...

Como a sorte: hoje aqui, depois além!
Sei lá quem Sou?! Sei lá! Sou a roupagem
Dum doido que partiu numa romagem
E nunca mais voltou! Eu sei lá quem!...

Sou um verme que um dia quis ser astro...
Uma estátua truncada de alabastro...
Uma chaga sangrenta do Senhor...

Sei lá quem sou?! Sei lá! Cumprindo os fados,
Num mundo de vaidades e pecados,
Sou mais um mau, sou mais um pecador...

TEUS OLHOS

Olhos do meu Amor! Infantes loiros
Que trazem os meus presos, endoidados!
Neles deixei, um dia, os meus tesoiros:
Meus anéis. minhas rendas, meus brocados.

Neles ficaram meus palácios moiros,
Meus carros de combate, destroçados,
Os meus diamantes, todos os meus oiros
Que trouxe d'Além-Mundos ignorados!

Olhos do meu Amor! Fontes... cisternas..
Enigmáticas campas medievais...
Jardins de Espanha... catedrais eternas...

Berço vinde do céu à minha porta...
Ó meu leite de núpcias irreais!...
Meu sumptuoso túmulo de morta!...

Fonte:
Florbela Espanca. Charneca em Flor.

Aluísio Azevedo (O Mulato)

O romance O Mulato, de Aluísio Azevedo, foi publicado em 1881 e causou escândalo na sociedade maranhense, não só pela crua linguagem naturalista, mas sobretudo pelo assunto de que tratava: o preconceito racial. A obra teve grande sucesso, foi bem recebido na Corte e tomado como marco do Naturalismo no Brasil.

 Na época, a obra foi muito mal recebida pela sociedade maranhense e Aluísio Azevedo, que já não era visto com bons olhos, tornou-se o "Satanás da cidade". Para se ter uma idéia da indignação causada pela obra, pode-se citar o fato de o redator do jornal A civilização ter aconselhado Aluísio a "pegar na enxada, em vez de ficar escrevendo". O clima na cidade ficou tão ruim para o autor que ele decidiu retornar ao Rio de Janeiro.

 Alguns elementos naturalistas quer estão presentes nesta obra são: a crítica social, através da sátira impiedosa dos tipos de São Luis: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o padre relaxado e assassino, e uma série de personagens que resvalam sempre para o imoral e para o grotesco; o anti-clericalismo projetado na figura do padre e depois cônego Diogo, devasso, hipócrita e assassino; a oposição ao preconceito racial que é o fulcro de toda a trama; o aspecto sexual referido expressamente em relação à natureza carnal da paixão de Ana Rosa pelo mulato Raimundo; o  triunfo do mal, pois no desfecho, os crimes ficam impunes e os criminosos gratificados: a heroína acaba se casando com o assassino de Raimundo (grande amor de sua vida), e o padre Diogo, responsável por dois crimes, é promovido a cônego.

 Observa-se no texto abaixo a caracterização dos costumes da província, dos mexericos e do preconceito, manifesto na maledicência de que participam D. Bibina, Lindoca, D. Maria do Carmo e Amância Souselas:

- Ele não é feio... a senhora não acha, D. Bibina?... segredava Lindoca à outra sobrinha de D. Maria do Carmo, olhando furtivamente para o lado de Raimundo.
 - Quem? O primo d’Ana Rosa?
 - Primo? Eu creio que ele não é primo, dona!
 - É! sustentou Bibina, quase com arrelie. É primo sim, por parte de pai!...
 Por outro lado, Maria do Carmo segredava a Amância Souselas:
 - Pois é o que lhe digo, D. Amância: muito boa preta!... negra como este vestido! Cá está quem a conheceu!...
 E batia no seu peito sem seios. - Muita vez a vi no relho. Iche!
 - Ora quem houvera de dizer!... resmungou a outro, fingindo ignorar da existência de Domingas, para ouvir mais. Uma coisa assim só no Maranhão! Credo!

 Há também muitos resíduos românticos, pois foi escrito em plena efervescência da Campanha Abolicionista e o autor não manteve uma posição neutra, imparcial. Ao contrário, ele toma o partido do mulato, idealizando exageradamente Raimundo, que mais parece o herói dos romances (ingênuo, bondoso, ama platonicamente Ana Rosa e ignora a sua condição de homem de cor).

 O autor descreve o ambiente da cidade de São São Luiz com muita nitidez. Observe:

Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade de São Luís do Maranhão parecia entorpecida pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam, os vidraças e os lampiões faiscavam ao sol como enormes diamantes, as paredes tinham reverberações de prata polida; os folhas das árvores nem se mexiam; os carroças d’água passavam ruidosamente a todo o instante, abalando os prédios, e os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçados, invadiam sem cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontra vã viva alma no rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam as compras para o jantar ou andavam no ganho.

 É nessa atmosfera abafada, tanto do ponto de vista climático quanto do convívio social, que são apresentadas as personagens. Até os cães se envolvem no ambiente de letargia preguiçosa: Os cães, estendidos pelas calçadas, tinham uivos que pareciam gemidos humanos, movimentos irascíveis, mordiam o ar querendo morder os mosquitos. O mal cheiro domina o ambiente: Às esquinas, nas quitandas vazias, fermentava um cheiro acre de sabão da terra e aguardente. A grosseria do ambiente envolve as ações das personagens: O quitandeiro, assentado sobre o balcão, cochilava a sua preguiça morrinhenta, acariciando o seu imenso e espalmado pé descalço (...) as peixeiras, quase todas negras, muito gordas, o tabuleiro na cabeça, rebolando os grossos quadris trêmulos e as tetas opulentas.

 Observa-se que, se os cães "tinham uivos que pareciam gemidos humanos", as peixeiras, animalizadas, têm "tetas opulentas". Homens e animais se misturam, portanto, no universo bestializado e asfixiante de São Luís do Maranhão.

 É nesse ambiente que chega a São Luís o jovem advogado Raimundo, sobrinho há muito afastado de Manuel Pescada. Raimundo corresponde perfeitamente ao protótipo do herói romântico, pelo qual Ana Rosa tanto esperava. Sua descrição em tudo contrasta com a de Luís Dias. Ambos são, no entanto, personagens planas, superficiais, e servem apenas para que o autor prove sua tese anti-racista.

Sobre o personagem Raimundo

 Raimundo saíra criança de São Luís para Lisboa. "Em toda a sua vida, sempre longe da pátria, entre povos diversos, cheia de impressões diferentes tomada de preocupações de estudos, jamais conseguira chegar a uma dedução lógica e satisfatória a respeito da sua procedência. Não sabia ao certo quais eram as circunstâncias em que viera ao mundo, não sabia a quem devia agradecer a vida e os bens de que dispunha. Lembrava-se no entanto de haver saído em pequeno do Brasil e podia jurar que nunca lhe faltara o necessário e até o supérfluo. "Esse jovem rico e virtuoso regressa a São Luís, depois de anos na Europa, formado e com o intuito de desvendar o mistério de seu passado. Antes, passara um ano no Rio de Janeiro e agora volta a São Luís para rever seu tio e protetor distante, Manuel Pescada.

 Depois do nascimento de Raimundo, José Pedro casou-se com Quitéria Inocência de Freitas Santiago, mulher branca e impiedosa. Enciumada com a atenção especial que José Pedro dedicava ao pequeno Raimundo e à escrava Domingas, Quitéria ordenou que a negra fosse açoitada e que suas partes genitais fossem queimadas.

 José Pedro, indignado com tamanha crueldade, leva o filho para a casa do irmão em São Luís. Voltando à fazenda, flagra a mulher e o então jovem e sedutor Padre Diogo em pleno adultério. Enfurecido, José Pedro mata Quitéria e forma um pacto de cumplicidade com o Padre Diogo: esconderão a culpa um do outro. Desgraçado e doente, José Pedro refugia-se na casa do irmão. Ao se restabelecer, resolve voltar à fazenda, mas, no meio do caminho, é assassinado por ordem do Padre Diogo, que já começara a insinuar-se também na casa de Manuel Pescada.
 Raimundo é bem recebido pela família do tio, com exceção da sogra de Manuel, a racista radical Dona Maria Bárbara. Estranha alguns olhares enviesados da população, mas imagina-os fruto do estranhamento causado por um forasteiro.

 O sedutor advogado, como não poderia deixar de ser, logo cai nas graças de sua prima Ana Rosa que, arrebatada, declara-lhe seu amor. Raimundo corresponde à paixão da prima, mas os jovens encontram fortes obstáculos. Principalmente a oposição de Manuel Pescada, que queria a filha casada com Luís Dias, da avó Maria Bárbara, racista intransigente e do Cônego Diogo, velho amigo da casa e adversário não declarado e ardiloso de Raimundo.

 Acontece que, ao contrário dos amantes, seus três grandes opositores conheciam as raízes negras de Raimundo. Aos poucos o leitor vai tomando conhecimento das origens do herói, que, no entanto, permanece ignorando tudo.

 Obcecado por desvendar suas origens, Raimundo insiste em visitar a fazenda onde nascera. Após diversos adiamentos, seu tio finalmente o leva até a Fazenda São Brás. No caminho, o mulato começa a obter as primeiras informações sobre o passado trágico de seus pais. Ao pedir ao tio a mão de Ana Rosa em casamento, vê-se recusado. Perplexo, Raimundo acaba descobrindo que a recusa se deve a suas origens negras. Na fazenda, Raimundo é abordado, à noite, por uma velha negra de aspecto fantasmagórico, que o quer abraçar. Assustado, por pouco não mata a estranha aparição. No caminho de volta a São Luís, descobre que se tratava de sua mãe, Domingas.

 Ao retornar à capital do Maranhão, Raimundo resolve voltar para o Rio de Janeiro. Não suporta mais viver com o tio e muda-se de sua casa, enquanto prepara-se para viajar. Pouco antes do embarque, manda uma carta a Ana Rosa confessando seu amor. O amor pela prima o impede de partir. Os amantes se encontram e Ana Rosa acaba engravidando. Contra tudo e contra todos, armam um plano de fuga. No entanto, o Cônego Diogo usa das confissões de Ana Rosa e da colaboração subserviente do caixeiro Dias, que intercepta as cartas do casal, para, ardilosamente, impedir a concretização da fuga. No momento em que planejavam partir, os amantes são surpreendidos. O Cônego Diogo orquestra o escândalo e finge-se de protetor do casal. Raimundo volta para casa atordoado e, ao abrir a porta de casa, é atingido nas costas por um tiro disparado por Luís Dias, com uma pistola que lhe emprestara o Cônego Diogo.

 Ana Rosa, desolada, aborta o filho de Raimundo. "A nova firma comercial, Silva e Dias, nasceu entretanto, no meio da mais completa prosperidade."

Desfecho irônico

 Seis anos depois da morte de Ramundo, no Clube Familiar, vemos Ana Rosa e seu marido Dias saindo de uma recepção oficial:

"O par festejado eram o Dias e Ana Rosa, casados havia quatro anos. Ele deixara crescer o bigode e aprumara-se todo; tinha até certo emproamento ricaço e um ar satisfeito e alinhado de quem espera por qualquer vapor o hábito da Rosa; a mulher engordara um pouco em demasia, mas ainda estava boa, bem torneada, com a pele limpa e a carne esperta.
 Ia toda se saracoteando muito preocupada em apanhar a cauda do seu vestido, e pensando, naturalmente, nos seus três filhinhos, que ficaram em casa a dormir.
 - Grand'chaine, double, serré! berravam nas salas.
 O Dias tomara o seu chapéu no corredor e, ao embarcar no carro, que esperava pelos dois lá embaixo, Ana Rosa levantara-lhe carinhosamente a gola da casaca.
 - Agasalha bem o pescoço, Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho!..."

 A ironia final, bem a gosto naturalista, coloca por terra toda a idealização romântica de Ana Rosa e Raimundo. Morto o primo, a prima acaba por se casar com seu assassino, e parece levar, ao lado do marido que tão ferozmente rejeitara anteriormente, uma feliz e próspera vida burguesa. O mal triunfa, associado à igreja corrupta e ao comércio burguês.

Personagens principais

Raimundo - filho do irmão de Manuel Pescada, José Pedro da Silva, com sua escrava negra Domingas. A idealização própria dos romancistas românticos, a superioridade absoluta: moral, intelectual e mesmo física, observa-se na descrição deste personagem: "Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro, se não foram os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos, tez morena e amulatada, mas fina, - dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode, estatura alta e elegante, pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa. A parte mais característica de sua fisionomia era os olhos grandes, ramalhudos, cheios de sombras azuís, pestanas eriçadas e negras, pálpebras de um roxo vaporoso e úmido,- as sobrancelhas, muito desenhadas no rosto, como a nanquim, faziam sobressair a frescura da epiderme, que, no lugar da barba raspada, lembrava os tons suaves e transparentes de uma aquarela sobre papel de arroz.
 Tinha os gestos bem educados, sóbrios, despidos de pretensão, falava em voz baixa, distintamente, sem armar ao efeito, vestia-se com seriedade e bom gosto; amava os artes, as ciências, a literatura e, um pouco menos, a política."

Ana Rosa - prima e noiva de Raimundo, filha de Manuel Pescada que não consentia no casamento da filha com seu sobrinho, por ser ele filho da escrava Domingas. Leitora ávida de romances, como a Emma Bovary, de Flaubert, ou a Luísa do Primo Basílio, de Eça de Queirós. Seu pai, Manuel Pescada, quer fazê-la casar-se com seu colaborador, o caixeiro Luís Dias.

Cônego Dias - assassino do pai de Raimundo.

Luís Dias - empregado de Manuel Pescada, que por instigação do cônego acabou por assassinar Raimundo. (...) era um tipo fechado como um ovo, um ovo choco que mal denuncia na casca a podridão interior. Todavia, nas cores biliosas do rosto, no desprezo do próprio corpo, na taciturnidade paciente daquela exagerada economia, adivinhava-se-lhe uma idéia fixa, um alvo para o qual caminhava o acrobata, sem olhar dos lados, preocupado, nem que se equilibrasse sobre um corda tesa. Não desdenhava qualquer meio para chegar mais depressa aos fins; aceitava, sem examinar, qualquer caminho desde que lhe parecesse mais curto; tudo servia, tudo era bom, contanto que o levasse mais rapidamente ao ponto desejado. Lama ou brasa - havia de passar por cima; havia de chegar ao alvo - enriquecer. Quanto à figura, repugnante: magro e macilento, um tanto baixo um tanto curvado, pouca barba, testa curta e olhos fundos. O uso constante dos chinelos de trança fizera-lhe os pés monstruosos e chatos quando ele andava, lançava-os desairosamente para os lados, como o movimento dos palmípedes nadando. Aborrecia-o o charuto, o passeio, o teatro e as reuniões em que fosse necessário despender alguma coisa; quando estava perto da gente sentia-se logo um cheiro azedo de roupas sujas.

Manuel Pescada
- um português de uns cinqüenta anos, forte, vermelho e trabalhador. Diziam-no afilado para o comércio e amigo do Brasil. Gostava da sua leitura nas horas de descanso, assinava respeitosamente os jornais sérios da província e recebia alguns de Lisboa. Em pequeno meteram-lhe na cabeça vários trechos do Camões e não lhe esconderam de todo o nome de outros poetas. Prezava com fanatismo o Marquês de Pombal, de quem sabia muitas anedotas e tinha uma assinatura no Gabinete Português, a qual lhe aproveitava menos a ele do que à filha, que era perdida pelo romance.

Resumo

 Após a morte da filha, D. Bárbara, deixa sua fazenda para morar com o genro Manuel Pescada, próspero comerciante, e com a neta Ana Rosa, em São Luís do Maranhão. Enérgica com os escravos, D. Bárbara comanda-os aos berros e sovas, o que muito desagrada Pescada, chegando, algumas vezes, a verbalizar o seu arrependimento em ter concordado com a vinda da sogra.

 O irmão de Pescada, José da Silva, fazendeiro e ex-comerciante de escravos, foi assassinado, há muitos anos atrás, em suas terras. Sua esposa, D. Quitéria Inocência de Freitas Santiago já era viúva, sem filhos e muito rica, quando se casou com ele. Embora fosse extremamente religiosa, achava que escravo não era gente e o simples fato de alguém não ser branco, já era um crime. José teve um filho, Raimundo, com uma ex-escrava alforriada de nome Domingas. A atenção que o marido devotava a esse afilhado, fez com que D. Quitéria descobrisse a verdade sobre o menino.

 Num ataque histérico, a chibatas e queimaduras a ferro em brasa, a senhora quase mata Domingas. Diante do ocorrido, Quitéria, aconselhada pelo jovem vigário, Padre Diogo, refugia-se na propriedade da mãe. José vai buscá-la, flagrando-a em adultério com o padre. Transtornado, a estrangula, matando-a na frente do sacerdote que, para se livrar do escândalo, sugere a José um pacto de silêncio mútuo; para todos, a esposa teve morte natural e, assim, foi enterrada.

 José deixa a fazenda para Domingas e mais três pretos velhos, que já alforriara, e parte para São Luís, onde pretende liquidar seus bens e, em seguida, voltar a Portugal com o filho Raimundo. Ele e o menino hospedam-se na casa do Pescada em São Luís. Mas, logo adoece e, impossibilitado de embarcar, recebe visitas diárias de seu "fervoroso" amigo, Padre Diogo. Este vai conquistando a amizade da família e quando nasce Ana Rosa, Pescada e esposa escolhem-no para padrinho.

 Tendo José se restabelecido, insiste em voltar para a fazenda, mas para o desespero de Domingas, no caminho, bem próximo da casa, é morto em uma emboscada, e Raimundo, o Mundico, sob a guarda do tio, é enviado ao padrinho em Portugal, segundo o desejo paterno.

 Após estudar advocacia na Europa, onde se forma em advocacia, Mundico volta à terra natal, para vender as propriedades do pai e se estabelecer no Rio de Janeiro. Excetuando-se os imensos olhos azuis, que herdara do pai, é um tipo acabado de brasileiro: alto, elegante, pele bem morena e fina; pescoço largo e nariz direito; cabelos negros, lustrosos e crespos; dentes claros sob um bigode negro.

 Interessado no lucro que teria, auxiliando o sobrinho na venda das terra, Pescada resolve acomodá-lo em sua casa, mesmo sabendo que o mulato no seio de sua família geraria comentários desfavoráveis na sociedade local. Padre Diogo, agora Cônego Diogo, conselheiro da família, concorda com o argumento de Pescada.

 O Cônego, que parece ter culpa na morte de José, é, por sua vez, adversário natural de Raimundo. Sentindo-se ameaçado, por temer a descoberta de seu segredo, quer vê-lo bem longe de São Luís. Na casa do tio, Raimundo alheio às histórias envolvendo sua mãe, empenha-se em descobrir os mistérios em torno de seu nascimento e da morte paterna. Acredita que, voltando à fazenda de São Brás, será possível desvendar o passado e reconstruir sua história.

 Ana Rosa herda do pai o corpo rijo e os dentes fortes e, da mãe, a beleza das formas, os olhos negros e os cabelos castanhos. Como toda donzela da época, aos quinze anos, já sente as transformações operadas em seu corpo e espírito, ansiando por um marido "o homem da sua casa, dono de seu corpo, a quem ela pudesse amar abertamente como amante e obedecer em segredo como escrava".

 A jovem Ana Rosa sonhava com um casamento romântico, "sonhava umas criancinhas louras, ternas, balbuciando tolices engraçadas e comovedoras, chamando-lhe "mama!"". E lembrava-se sempre do conselho que lhe dera a mãe ao leito de morte: "não consintas nunca que te casem, sem que ames deveras o homem a ti destinado para marido. Não te cases no ar! Lembra-te que o casamento deve ser sempre a conseqüência de duas inclinações irresistíveis. A gente deve casar porque ama, e não ter de amar porque casou. Se fizeres o que te digo, serás feliz!" Assim, Ana Rosa vai formando a imagem de um herói romântico que virá salvá-la da mediocridade da vida em São Luís do Maranhão.

 O pai via no seu empregado português, Luís Dias, muito trabalhador, discreto, econômico e com tino comercial aguçado, as qualidades de um futuro genro. Apesar de tudo isso, o moço, com seu eterno ar de piedade, resignação e humildade espera a decisão da moça. Toda vez que o pai tocava em casamento e sugeria o nome do Dias, ela exclamava um ora, papai!

 A convivência com o primo Mundico desperta em Ana Rosa uma grande paixão. Passava o dia pensando nele, idealizando o calor de seu rosto. Numa espécie de embriaguez dormia, ouvindo sua voz, colhendo no ar seus beijos quentes; ao acordar, ficava horas inteiras prostrada, entre os lençóis a cismar.

 Raimundo que, por sua vez, ainda não havia reparado na beleza da prima, numa manhã à mesa do café, nota-lhe as mãos claras, os dentes asseados, a frescura pele, a boca e os cabelos fartos. Mas, fica só nisso, devotando-lhe uma afeição e atenção fraterna. Anica torna-se pálida, chamando a atenção de todos. Achavam que tal estado só se curaria com casamento. Padre Diogo e D. Bárbara, que nunca viram com bons olhos a presença do mulato no seio familiar, acham que para acertar o casamento da menina com o Dias, Raimundo deve sair de casa o mais rápido possível. Ana Rosa não quer Luís Dias para esposo e o Pescada, que punha o interesse financeiro acima de tudo, acha que o amigo Diogo estava criando coisas sem fundamento, pois fora o próprio Mundico que sugerira casamento para a prima.

 Quando Raimundo saía, Ana Rosa visitava seu quarto e numa bisbilhotice, voluptuosa e doentia, fantasiava eventos com os objetos encontrados; passava momentos inesquecíveis naquela adoração. Raimundo, desconfiando dessas visitas, um dia volta sorrateiramente e flagra a prima com um livro na mão. Repreendendo-a por aquela atitude comprometedora, pede que ela se retire. Depois de muito chorar, a moça declara seu amor ao primo.Num abraço, oferece-lhe os lábios e o rapaz dá-lhe um beijo tímido; em troca, beijá-o duas vezes, ardentemente.

 Depois de vários adiamentos, Raimundo e o tio partem para o Rosário e durante a viagem, Mundico conhece um portuguesinho que lhe conta muita coisa acerca da fazenda São Brás e seus moradores. Fica sabendo que o Cônego Diogo tinha sido o pároco da região e muito ligado ao pessoal da fazenda. Além disso, passam pela cruz de madeira, à beira da estrada, marcando o local da morte de seu pai. Os guias não vão além dela, temendo a maldição ali existente.

 Tio e sobrinho chegam à fazenda ao anoitecer. O administrador Cancela, que conhecera Raimundo, ainda menino, hospeda-os com alegria. Na manhã seguinte, após as transações comerciais, partem bem cedo para São Brás. Ali, com muita emoção, olhando as datas nas lápides das sepulturas do pai e de D. Quitéria, Raimundo conclui que era filho bastardo.

 Como no dia anterior, havia pedido Ana Rosa em casamento e Manuel declinara sem dizer a razão, acha agora que esse seria o motivo. Insiste para que o tio lhe conte a verdade, e este lhe diz que Domingas está viva, e é a velha negra louca, encontrada momentos atrás. Assim, o caso amoroso dele com a prima tornava-se proibido e Ana Rosa afigura-se-lhe uma felicidade indispensável.

 Quando o pai conta a Ana Rosa o ocorrido, denigre a imagem do primo e esta tem um ataque histérico. Enquanto isso, Raimundo leva o Cônego Diogo a seu quarto e conta-lhe suas suspeitas. Mas o velho Cônego, num jogo de retórica brilhante, força Raimundo até a lhe pedir desculpas. Diogo desce as escadas entre resmungos: "Deixa estar, que me pagarás". Sete dias depois, Raimundo deixa a casa do tio, esperando o dia da partida do vapor para o Rio.

 No dia da partida, Manuel e o Cônego se dirigem ao porto para dizer-lhe adeus. Após alguns momentos de indecisão, acerca de sua viagem, Mundico, minutos antes de embarcar, vai ao quarto de Ana Rosa, que o proíbe de sair e terminam fazendo amor, ouvindo, ao longe, o assobio do vapor, partindo. Raimundo resolve instalar-se no Caminho Grande e os amantes, que se comunicam por carta, marcam um dia para a fuga.

 O Cônego contava com os préstimos de Dias, com quem se aliara, e este farejava os movimentos e cartas recebidas por Anica, para contar ao padre. Após três meses, o Cônego e Dias descobrem o plano dos amantes e aparecem na hora exata, acompanhados de um juiz. Arma-se um escândalo; Ana Rosa fala de sua gravidez, chocando a todos. O cônego rebate, dizendo que a afilhada continua pura; aquilo era apenas um recurso para forçar o casamento. Diogo aconselha Raimundo a ir embora de São Luís para não ser processado.

 Ao sair com Dias, o Cônego parece conspirar; entrega-lhe algo, mas o companheiro escrupuloso se nega a receber. Logo o astuto Cônego convence-o de que estaria vingando sua honra ultrajada e lembra-lhe: "quem o seu inimigo poupa, nas mãos lhe morre". Após vagar pela noite, Raimundo resolve voltar para casa e, ao abrir a porta, é atingido pelo revólver de Dias. Mundico, num gemido, tomba contra a parede; vendo-o morto, Ana Rosa aborta. Seis anos depois, ela reaparece, em solenidade pública, bem casada com o Sr. Dias - o assassino de Raimundo. Está preocupada em cuidar dos três filhos e também do marido: "Agasalha bem o pescoço Lulu! Ainda ontem tossiste tanto à noite, queridinho".

Fonte:
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/o/o_mulato

Rubens Figueiredo (Nos Olhos do Intruso)

 Não lembro a primeira vez. Mas aqui e ali comecei a ouvir comentários:

Aquela é a cidade que interessa, é onde as coisas acontecem, o futuro fugiu para lá. Advertências que repetiam a verdade mais simples, não há como negar. Hoje, parecem ressoar a voz de um oráculo. Mas era uma verdade que entendi mal, que me apressei em traduzir totalmente errado, nos termos da euforia de um menino, ou até de um tolo.

Talvez eu pudesse ter ficado como estava, talvez o futuro ainda dormisse bem longe até hoje, se naquela noite eu não tivesse ido ao teatro. Três atores representavam vários papéis e a história da peça quase não importava. O espetáculo consistia muito mais na velocidade e na perfeição das metamorfoses dos atores. Em poucos minutos, eles trocavam de roupa, peruca e maquiagem, encarnavam outra voz, outra personalidade, e tudo com um vigor que só podia nascer de um tipo de vida.

No final da peça, algumas fileiras à minha frente, aconteceu. Quando as pessoas se levantaram, entrevi, no intervalo das cabeças, um homem parecido com alguém que eu conhecia. Talvez fosse a dança de tantos rostos a meu redor, mas o efeito era o de muitas feições distintas convergindo e se sobrepondo no ar transparente.

Uma desconfiança incômoda me obrigou a olhar melhor e então deparei com um sujeito igual a mim mesmo, apenas um pouco mais novo. Sacudido por uma espécie de insulto, experimentei o temor de estar sendo sorrateiramente substituído.

Com os olhos naquele homem, esqueci que devia continuar andando. As pessoas atrás de mim, na minha fileira, me repreenderam com resmungos. Tentei me livrar do meu estupor, mas o máximo que consegui foi observar o homem da maneira mais discreta que podia. As fileiras escorriam todas na mesma direção, o público escoava ligeiro para o funil da saída e logo o perdi de vista.

Se uma coisa deriva sempre de outra, se todo fato espalha efeitos em todas as direções, por que não ver no que se seguiu uma continuação, um sistema? Podia parecer um desses acasos bobos, uma dessas situações tão corriqueiras que nem paramos para pensar. Em um intervalo de semanas, pelo menos três amigos se aproximaram de mim para dizer que me tinham visto em lugares que eu não conhecia, locais aonde eu nunca fora, fazendo coisas que eu absolutamente não podia ter feito, porque estava ocupado, em outra parte.

Na primeira vez, juro, tentei negar. Depois, diante da alegre certeza da pessoa à minha frente, me resignei a ouvir em silêncio. A seguir, de uma maneira que eu mal percebi, passei pouco a pouco a acreditar que era eu mesmo que ia àqueles lugares e punha em prática aquelas ações. Eu até sorria e pelo menos uma vez cheguei a inventar explicações adicionais, coerentes, que vi serem bem aceitas pelo meu ouvinte.

Outros talvez não prestassem atenção. Outros talvez não encadeassem uma coisa à outra. Sei que, mesmo na vida mais banal, há lugar para tudo. Mas, um dia, no centro da cidade, um homem completamente desconhecido me cumprimentou com familiaridade. O sinal fechou e, enquanto eu atravessava a rua, o homem, andando em sentido contrário, acenou ligeiro com a mão. Receoso de me mostrar mal-educado com algum conhecido, correspondi ao aceno. O sinal abriu, os carros e ônibus andaram, bloquearam minha visão e eu o perdi na multidão da calçada oposta.

Tempos depois, eu vinha andando distraído pela rua. Quando dei por mim, uma pessoa que não pude reconhecer me dirigia palavras apressadas. Mencionou de passagem um nome estranho para mim como se fosse um amigo comum. Depois pediu desculpas pela pressa, se despediu e foi embora. Algo desse tipo se repetiu ainda, talvez em um espaço de alguns meses, duas ou três situações que outras pessoas poderiam interpretar como encontros fortuitos com lunáticos, do tipo que prolifera nas ruas, eu sei. Mas a minha lua é a mesma de todo mundo.

Aos poucos, as atividades que esses desconhecidos atribuíam a mim começaram e me parecer familiares. As pessoas que eles mencionavam chegaram a se tornar íntimas para mim, com seus nomes e suas ambições cotidianas. Tudo ia se incorporando à minha memória. O meu passado se expandia com um novo elenco de pessoas e fatos, ao mesmo tempo em que o meu presente também se ampliava, numa espécie de movimento de conquista. Minha vida abarcava muitas outras vidas e assim eu conseguia me sentir mais vivo do que nunca.

Um dia, numa rua do centro, tomei coragem. Arrisquei cumprimentar alguém que eu, com absoluta certeza, não conhecia. Após um instante de surpresa bem natural, nas circunstâncias, a pessoa respondeu ao meu cumprimento, de forma discreta. Sua expressão deu a entender que, naquele momento, não tinha tempo para conversar comigo como gostaria, e seguiu adiante.

Por que pedir mais? Vi naquilo uma confirmação, e não poderia ser de outro modo. Agora, eu olhava o mundo à minha volta com o ardor de uma simpatia desconhecida. Via as pessoas entrando e saindo pelas portarias dos prédios, contemplava a fila de cabeças voltadas para mim nas janelas dos ônibus e sabia que no mundo ninguém mais seria para mim um estranho.

Vivi assim um tempo, até que, certa manhã, o telefone me acordou. A voz do outro lado avisou que uma determinada pessoa havia morrido. Citou um nome, que não reconheci nem me dei ao trabalho de memorizar. Mas anotei a hora e o lugar do funeral. A voz ainda lamentou que ele tivesse morrido ainda jovem, e garantiu que "todos" iriam lá.

Cheguei em cima da hora, um pouco atrasado até. Achei que por isso ninguém se aproximou para me cumprimentar. Raciocinei que temiam perturbar a cerimônia. Uma música de órgão descia gelada das paredes e só um segundo antes de o caixão ser fechado distingui as feições do defunto. Foi rápido, uma sombra correu sobre o véu transparente. Mas creio ter reconhecido o homem que eu, nem sei quanto tempo antes, vira no teatro. O homem igual a mim. Com a tampa fixada em seu lugar, o caixão deslizou por uma esteira na direção de uma porta e desapareceu no crematório.

Antes que eu me refizesse da surpresa, todos haviam ido embora sem sequer se despedir de mim. Em poucos dias, as coisas começaram a mudar. Encostei no balcão de uma lanchonete, pedi um cafezinho, na esperança de que o garçom conversasse um minuto comigo, sobre o tempo, o trânsito, o que fosse. Mas ele logo virou a cara para o meu sorriso, como se estivesse diante de um estranho, um intrometido.

A rigor, aqui e ali, eu descobria motivos para pensar que me consideravam um importuno. Em lugares onde eu esperava ser recebido como um irmão me rechaçavam com a frieza e a hostilidade educada que só se descarrega sobre os intrusos. Mesmo nos ambientes que, antes, eram para mim perfeitamente familiares - meu trabalho, minha vizinhança, meus colegas - eu me via tratado como alguém indesejável. Foi nessa altura que resolvi me mudar para uma outra cidade, a cidade de que eu ouvia falar com tanta simpatia.

Tratei de me adaptar o mais depressa possível. Tentei refazer minha vida, reconstituir à minha volta um convívio humano que me justificasse. Mas isso se revelou difícil. Pelo menos, eu não era tratado como um invasor.

Acho que eu poderia ter vivido assim bastante tempo, sem maiores problemas. Mas agora isso não será possível. Há poucos dias, em uma barbearia, rodeado de espelhos que corriam diante de mim e às minhas costas, entendi o que era o futuro e por que ele estava nesta cidade.

O barbeiro terminou de aparar meu cabelo, ergueu dos meus ombros o pano branco com um floreio do braço e então me levantei. Quando contemplava a mim mesmo no espelho, reparei com o canto dos olhos o reflexo de um homem, umas três cadeiras à esquerda. Ele me fitava com insistência. Tinha um ar quase desnorteado, na verdade, e achei que já devia estar me observando desde algum tempo.

Por instinto desviei o rosto, pois o homem me pareceu agitado. Fingi que não o via e estou certo de que o deixei convencido disso. Mas os espelhos permitiam olhares diagonais. Por esse ângulo, pude notar que o sujeito era extraordinariamente parecido comigo. Apenas um pouco mais velho.

Fui para a rua. Forcei minhas pernas a caminhar e vi a calçada fugindo para trás sob os meus passos. Sei agora por que vim para esta cidade. O olhar admirado do homem na barbearia foram as boas-vindas e também uma despedida para mim. Já posso sentir o calor das chamas estalando. Mas, até que chegue a minha vez, esse sujeito ainda vai ouvir falar muito de mim.

 Fonte:
Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século.

Boanerges Ribeiro (Histórias da Estrada)

 Foi ao regressar do Tibet que o “sadu” Sundar Singh passou por uma das experiências mais desagradáveis da sua vida.

A Igreja Indiana desenvolvia-se sob o bafejo de orientação perigosa: possuidores de desejo incontido de ajudar, os missionários facilitavam muito a vida aos jovens convertidos que revelassem inteligência e desejo de aprender, admitindo-os aos estudos nos seus colégios sem qualquer sacrifício que correspondesse ao bem recebido.

A noção de sacrifício na carreira cristã obliterava-se. A cruz de que Cristo falava seria imposta por circunstâncias externas: animosidade do ambiente, perseguições. Mas nunca deveria ser voluntariamente procurada. Quem tivesse oportunidade de ser cristão e viver tranqüilo, necessariamente devia fazê-lo. Gestos como o de Sundar Singh, que buscava tarefas difíceis e perigosas, e elegia como campo do seu apostolado o país mais perigoso do mundo, eram raríssimos na Igreja da índia.

Tal atitude espiritual necessariamente repontaria com maior nitidez nos Seminários.

O doutor Lefroy, superintendente de Lahore, nutria pelo “sadu” profunda amizade e não abandonara a esperança de enriquecer o ministério anglicano com a colaboração daquela vigorosa personalidade cristã. Em 1909 convidou-o para cursar o Seminário de Lahore. Constrangido pela amizade, Sundar resolveu tentar.

Logo compreendeu o erro. Sentia-se isolado. Os colegas não o compreendiam e chegavam a aborrecê-lo. Faltava espírito de sacrifício àqueles futuros ministros cristãos. Preparavam-se para teólogos e oradores, sairiam cheios de ambição, dispostos a conquistar rapidamente um lugar onde brilhasse como merecia a luz dos seus talentos. O seminário de Lahore fazia mestres de teorias religiosas, mas não edificava grandes personalidades cristãs.

Entre os demais, um dos jovens candidatos ao ministério salientou-se pela antipatia que votava ao "místico". Certo dia o “sadu”, isolado à sombra de uma árvore, contemplava o chão, esquecido do mundo. Sorrateiramente o inimigo aproximou-se, pronto para uma boa peça. Os lábios do santarrão moviam-se. Estaria falando sozinho? Pareceu ao rapaz ouvir o próprio nome. Curioso, aplicou o ouvido. Sundar Singh, orando, pedia a Deus que lhe perdoasse qualquer ofensa cometida contra aquele colega. Que Deus o ajudasse a conquistar a sua simpatia, para que ambos vivessem como amigos. A partir dessa data iniciou-se entre os dois sólida amizade, só interrompida quando o “sadu” desapareceu.

Mas o constrangimento permanecia. Não se adaptava à carreira eclesiástica. Andrews, que freqüentemente o visitava tinha a impressão de que ele era uma ave engaiolada, saudosa da liberdade e dos vôos amplos.

Mesmo o superintendente logo compreendeu que o seu amigo nunca seria bom ministro. Chegava o tempo de ele ser ordenado diácono. Antes do exame foi perguntar se após a ordenação teria licença para pregar em qualquer Igreja Cristã.

- Não - respondeu-lhe o superintendente. - Nem para pregar, nem para comungar na Ceia do Senhor.

Depois de examinar cuidadosamente o assunto, Sundar Singh renunciou uma vez mais, e para sempre, às oportunidades do ministério regular e voltou à vida livre, aventurosa e rica de experiências das estradas indianas, deixando-se guiar e governar inteiramente pela Providência Divina.

Os anos que viveu obscuramente, de aldeia em aldeia, reforçaram as qualidades da sua alma. Uma série de incidentes ligados a esses anos ajudar-nos-á a compreendê-lo. Alguns narrados por ele próprio; outros, por testemunhas oculares. É difícil estabelecer datas: o “sadu” não se preocupava excessivamente com elas.

Encontrava almas famintas que mal viam a sua roupa de “sadu”, imediatamente o procuravam para pedir conselhos. Encontrava também malandros endurecidos e cínicos. As estradas da Índia são como quaisquer outras.

Certa vez dirigia-se para uma aldeia, quando dois homens passaram por ele, andando depressa, e desapareceram numa curva da estrada. Ao fazer a mesma curva viu um homem em pé, consternadíssimo. Aproximou-se e verificou que era um dos que haviam passado por ele. Apontava um vulto coberto, à beira do caminho. Erguendo a capa, o “sadu” viu uma face rígida de cadáver.

- Caiu morto aqui, de repente. Ai de mim! Nem uma moeda de cobre tenho para enterrar o meu maior amigo! Santo Homem, socorre-me!

Adiante havia uma ponte e o “sadu” recebera duas moedas para pagar a licença de atravessá-la. Tomou as moedas e entregou-as ao infeliz, com uma palavra de simpatia. Continuou o caminho, mas logo depois ouviu rumor de passos na estrada. Voltou-se e deu com o homem, ofegante, olhos esbugalhados de pavor.

- “Sadu”, o meu amigo morreu mesmo!

Não compreendeu bem. Morreu mesmo. Como?

E o outro pálido, explicou que era um velho truque com que costumava enganar os viajantes: cada vez um se fingia de morto e o outro pedia a esmola. Pois desta vez, vendo que o companheiro não se erguia, descobrira-o e o encontrara imóvel, sem vida. E acrescentou:

- Benditos sejam os deuses; não era a minha vez! Estava certo de que o “sadu” era um grande santo; a divindade matara o seu companheiro por castigo. Pedia perdão Não o amaldiçoasse, ali estavam as moedas...

O “sadu” expôs ao infeliz a mensagem evangélica.

- Santo Homem, quero ser teu discípulo.

- Mas como serás meu discípulo, se eu próprio já o sou de outro?

- Mas permite ao menos que eu te acompanhe, Santo Homem. Quero reformar a minha vida.

E assim o acompanhou algumas semanas. Depois Sundar encaminhou-o aos missionários de Garhwal, que mais tarde o batizaram.

 Fonte:
RIBEIRO, Boanerges. O Apóstolo dos Pés Sangrentos.

Nilton Manoel (Didática da Trova) Parte 11

2. PROJETO DE TROVAS

                 Duração e período:

         A duração deve ser quinzenal ou mensal dependendo do objetivo que se pretenda. Buscamos  estimular o aparecimento de poetas.

               Apresentação:    

O projeto tem por finalidade  despertar o gosto leitura,declamação e produção poética, através da Trova.

 Justificativa:

     Tendo em vista a presença da poesia nos livros didáticos, nas cantigas de roda e  diversos concursos de Trovas e Jogos Florais de Ribeirão Preto, a Oficina de Trova desenvolverá o gosto pela leitura e elaboração de trovas.

Objetivo

     Desenvolver a sensibilidade; valorizar o universo poético, como forma de comunicação com o mundo; trabalhar com as palavras e imagens obtendo novas possibilidades de expressar sentimentos, emoção, lirismo e humor.

Estratégia:

Apresentar a origem e a história da Trova. A Trova, como movimento literário no Brasil.  A Versificação: a forma e o fundo ou seja o corpo e a alma da trova. O Decálogo de Metrificação. Hoje os dicionários trazem as sílabas divididas, mas em poesia conta-se sons. Há diferença entre trova literária e popular. Temos por  classificação: humorismo, lirismo, filosófico, etc. Os elementos essenciais: coesão e coerência. A União Brasileira de Trovadores e os concursos. Livros de Trovas de resultados de  Concursos. Pesquisas virtuais sobre a Trova no Brasil e no mundo.

Avaliação:

O interesse de cada participante pela literatura, a produção literária, o preparo de textos para concursos e o domínio da versificação trovadoresca.

3. COMO PARTICIPAR DE CONCURSOS

 SISTEMAS DE REMESSA:
ENVELOPE,
CARTÃO POSTAL,
A4,
E-MAIL.

O interessado em participar de um concurso literário, deve em primeiro lugar ler com muita atenção o regulamento do certame. Tudo o que for solicitado deve ser cumprido. A quantidade de remessa de trovas não deve ser ultrapassada. Hoje temos variação de concurso para concurso. Há concurso que só se pode enviar uma trova, outros duas, três, cinco, dez... sem limite! Num passado, não distante muitos remetiam cinqüenta, cem, duzentas trovas se o tema fosse do seu agrado. Hoje notamos, em alguns casos, a recauchutagem (adequação composição não premiada) de trovas para novo concurso. Não somos favoráveis ao reaproveitamento. A escrita atinge melhor os objetivos da temática solicitada.

– Sistema envelope

O Sistema envelope (mais usual) deve ter a trova escrita na face de envelopes, no interior deste nome,endereço com cep,.e-mail e colado. Remeter em envelope comercial ao endereço do concurso e no remetente o nome que pedir no regulamento. O prazo, geralmente, é da chegada na cidade promotora. As cartas simples demoram de três a dez dias no Brasil e até quinze para Portugal. A melhor orientação quanto a remessa e chegada quem presta é a  ECT.

– Cartão postal

O sistema cartão postal teve realizações por várias entidades  de Ribeirão Preto. Na ocasião  foram oportunos e estão dentro das propostas da UBT. O nome do trovador vem no cartão com seu endereço completo. Todos são transcritos ou xerocados e da mesma forma do concurso de envelopes, forma-se caderno para  cada julgador. Não há conhecimento de quem está concorrendo. A maioria reclamava pela compra do cartão e tarifa postal. Procedimento caro.

– Sulfite A4

O sulfite A4, em três vias, é usado nos concursos promovidos por entidades Portuguesas. Ora solicitam endereçamento no próprio trabalho, ora identificação em envelope à parte sob pseudônimo usado no trabalho enviado.

– E-mail

Os concursos por e-mail têm ocorrido por algumas entidades. Apesar da  resistência por parte de alguns veteranos da trova, bons livros virtuais tem sido editados. Com os concursos via internet, tem havido concursos em língua espanhola.

No ano de 2.007, longas polêmicas em torno dos concursos semanais de trovas. A internet tem garantido a História da literatura atual. Os jornais diários não cobrem a vida literária das cidades onde circulam e são mantidos por publicidade. Como dissemos, é elástica a lacuna histórica que temos por parte da imprensa diária. Os jornais ampliaram o número de páginas, reduziram as fontes e vivem sem espaços  nesta temporada em que a pluralidade cultural vive em alta.

Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.

Luís Coelho (Ninguém mais se perderá por Luba)

A história de Luba Soares é difícil de contar, mormente depois do crime, desde que se queira contá-la de uma maneira interessante. Eu conheci bem o caso e, por isso, vou tentar.

Luba, antes de ser Soares, fora Luchesi e, antes de Luchesi, Veletch. Filha de imigrante lituano, desde cedo trabalhou duro para ajudar o pai. Mas, Luba era bonita demais para continuar trabalhando daquele jeito. Foi eleita rainha dos comerciários e, no ano seguinte, a mais bela do Estado. Assediada pelos “gaviões”, a pobrezinha andou às tontas com as ofertas, preferindo, Sandro Luchesi, um fabricante de torneiras que ganhava dinheiro como água. Luchesi financiou a "política" do concurso, porém um senador do Nordeste fechou a questão em torno de sua pupila.

Foi-se o título de "Miss Brasil", mas Luba ganhou um marido e tanto. Sim, porque Luchesi se casou com Luba. Ela saiu do mercado por uns tempos, até que certo dia um avião enfiou o nariz numa montanha do Rio Grande, tornando Luba a viúva mais bela e mais rica deste meu torrão natal. Eu, quando falo de Luba, me entusiasmo, porém preciso tomar cuidado, porque aos outros interessa apenas sua história.

Começou de novo a luta dos “gaviões”, mas dessa vez Luba tinha outro interesse: entrar para a sociedade. Casou-se com o pobretão Dorival Soares, herdeiro de um bom nome e de apreciáveis relações.

Um dia apareceu o marido, cheio de dedos, no meu escritório. (Esqueci-me de informar que sou detetive particular, mas não desses que anunciam: "O olhar de Lince", "O farol", e outras coisas. Fui bem educado, visto-me com esmero, freqüento lugares respeitáveis. Pouca gente conhece minha verdadeira profissão).

- Desconfiava Dorival que a mulher o traía; então, me contratou para esclarecer o caso. É desnecessário relatar os métodos que emprego, mas alguns dias depois eu conhecia a história da pomba-rola como a palma de minha mão. A gente pensa que uma mulher extraordinariamente bela, amada de todos os homens, tem prazer em alimentar paixões, mas não se apaixona por ninguém. Com Luba, pelo menos, não aconteceu assim. Perdeu-se de amores por um jovem bonitão, que trabalhava no interior. Vejam o que Luba chegou a fazer: alugou uma pequena chácara no começo da estrada de Lavínia, para se encontrar com o amante, que, dessa maneira, nem entrava na cidade.

Agora, o mais triste da história: Luba foi assassinada. Encontraram-na estrangulada no quarto da chácara, estendida na cama em desalinho. Os dedos do assassino ficaram marcados no pescoço níveo, assinalados em roxo, confundindo-se os polegares na garganta. De um lado havia uma escoriação acima da marca do mínimo e do anular e as duas outras manchas eram menos nítidas.

* * *

Quando o investigador abriu a porta de meu escritório, percebi que Dorival tinha dado com a língua nos dentes. Também não era para menos: haviam encontrado uma cigarreira de prata com as iniciais dele embaixo de um dos móveis do quarto. Além disso, as pontas de cigarro, de uso recente, depositadas nos cinzeiros, eram de duas marcas: "Lucky Strike", preferida por Luba, e "Continental", pelo marido. O negócio ficou preto para ele. E o extraordinário é que narrou à policia uma história comprometedora! Já vi criminosos fazerem coisas admiráveis: escondem a verdade, por exemplo, confessando uma versão perigosa, mas não suficientemente perigosa para levá-los à grade. Não sabia se esse era o caso de Dorival, mas o certo é que contou tudo à polícia: suas dúvidas quanto ao comportamento da mulher, o contrato que fez comigo, as informações por mim prestadas. Na noite do crime, segundo ele, Luba saiu às 8 horas, dizendo, apenas e como sempre, que ia jogar "pif-paf". Quando eu, pelo telefone, lhe comuniquei o endereço do ninho da pomba, Dorival pôs-se a matutar no que ia fazer. Nesse momento, chega ao apartamento Gregório Veletch, irmão e único parente de Luba, pois já lhe havia morrido o pai.

Esqueci-me de apresentar esse malandro. Fingia que trabalhava na fábrica de torneiras, mas, na verdade, vivia à custa da irmã.

Continuando, informou Dorival que pôs o cunhado a par da situação; envenenou-se a tal ponto com a própria narrativa que, de repente, abandonou o apartamento para acertar contas com a mulher, segundo declarou. Tomou o automóvel, rumou em direção à chácara, mas durante o trajeto esfriaram os propósitos do marido desonrado. Afirmou Dorival então que parou o carro nas imediações da chácara, no largo Ferreira de Sá, entrou num bar e lá ficou a beber para criar coragem. A coragem não passou dos primeiros vagidos, morrendo afogada no uísque. De lá voltou para casa, num meio pifão que o levou para a cama imediatamente.

Confirmei, no meu depoimento, as informações que prestara a Dorival, completando-as com os dados sobre o amante de Luba. Eu havia descoberto que se tratava de um engenheiro, Ernesto Azambuja, a quem o governo confiara parte das construções de uma usina em Iguatemi. Era o felizardo de quem Luba gostou de verdade. Morava em Caiapó com a família, ou melhor, com a esposa, que é completamente cega.

Certa noite, logo depois do casamento, Azambuja bebera demais numa festa. Apesar da insistência da esposa para que não guiasse o automóvel, ele teimou e acabou metendo o carro em cima de uma árvore; além de ter o rosto deformado, a mulher perdeu a vista no desastre.

Prenderam o pássaro no mesmo dia. Azambuja a princípio quis negar suas relações com Luba, mas em face de minhas informações sobre o automóvel, o lugar onde o colocava na chácara, os dias em que lá esteve ultimamente, o "Romeu" acabou entregando os pontos. É ocioso dizer: negou terminantemente a autoria do crime e declarou ter passado aquela noite no acampamento, na sua barraca.

Caso intrincado esse da morte de Luba. Sim, intrincado porque Gregório Veletch meteu-se nele também. O zelador do prédio informou que na noite do crime Gregório desceu do apartamento logo depois do cunhado, perguntou por ele, mas Dorival já havia ido. Explicou o irmão de Luba, ao depor, que não se impressionara com o planejado acerto de contas por parte do cunhado, pois já assistira a diversas brigas do casal. Informou, afinal, que saíra do prédio e perambulara pela cidade até entrar num cinema para assistir à última fita de Betty Grable (aliás, muito parecida com Luba).

Mas há cada uma neste mundo! Imaginem que naquela noite um operário andava pelos arredores da chácara, quando viu, escondido entre árvores, um automóvel abandonado, com as luzes traseiras acesas. Essa gente simples, em geral, é muito boa. Aproximou-se o rapaz do automóvel e desligou o contato, para que a bateria não se estragasse. Era o carro de Gregório Veletch. O operário reconheceu-o com segurança. Gregório negou de pé junto que o automóvel fosse o dele.

Procuro não falar em Luba, mas que vou fazer, se ela é o centro de toda esta história? Ela usava na noite em que morreu um vestido de linho azul que combinava com a cor de seus olhos. Sob o vestido, uma combinação branca, que chamou a atenção da polícia quando examinou o cadáver: estava vestida de trás para diante.

Sinto que me meti numa empresa difícil, esta de contar a história de Luba Veletch Luchesi Soares, mas agora vou até o fim.

Quando o mistério se instalou no caso, a policia recorreu ao velho Leite, especialista em deslindar enigmas criminais. Trata-se, sem dúvida, de uma autoridade excepcional, não só pelos dotes de argúcia e inteligência, como também porque sabe reconhecer o mérito alheio. É muito comum o pessoal da polícia desprezar e humilhar os detetives amadores ou particulares. A mim, por exemplo, chamam "Oito Dedos", estabelecendo, com perversidade, uma relação entre este honesto detetive e o célebre ladrão "Sete Dedos"!

Não é desses o velho Leite. Prestigia o trabalho da gente e às vezes, solicita com franqueza a nossa colaboração. Quando me telefonou, pedindo para passar na Delegacia, conclui que desejava trocar idéias sobre o caso de Luba. Dito e feito: a primeira coisa que perguntou foi a minha opinião, considerando os conhecimentos por mim adquiridos na investigação que fizera por conta de Dorival. Fiquei vaidoso, porque não confessar? Eu estava preparado para falar, pois meditara muito sobre o crime. Comecei logo a responder:

- Conhecidas as circunstâncias e as pessoas envolvidas num crime, se elas, por si sós, não proporcionam a solução ou não a proporcionam satisfatoriamente, deve o detetive consagrar a sua atenção ao exame dos motivos que poderiam ter levado cada suspeito a delinqüir. No nosso caso, por exemplo, Dorival tinha duplo interesse em sacrificar a esposa: vingava-se da traição e empolgava a fortuna. A Gregório interessava a morte da irmã, porém a herança só lhe chegaria às mãos se Dorival morresse também ou se ficasse impedido de herdar. O senhor sabe muito bem que ao marido, assassino da esposa, a lei nega o direito de receber a herança.

- E o motivo do amante, qual seria?

- Azambuja é o responsável pela cegueira da mulher. Por isso, desfaz-se em carinhos e cuidados com a esposa, procurando assim compensar a sua existência empobrecida e amenizar o próprio sentimento de culpa. Luba amava de verdade. Pela primeira vez, quem sabe. Era voluntariosa, até então tinha feito o que queria. Estava disposta a deixar Dorival para casar-se com Azambuja. Insistiu a princípio - exigiu depois - em que o amante procedesse da mesma forma e, por fim, ameaçou falar pessoalmente com a rival, a quem faltava o direito de prender um homem moço que gostava de outra mulher.

O velho Leite sorriu e disse com simpatia:

- Vai indo bem... continue.

- Pesam contra Dorival as provas colhidas no local do crime. O senhor há de concordar comigo que uma cigarreira de prata faz barulho quando cai ao chão e escorrega para debaixo de um móvel. Dorival teria notado. Mas que não notasse. É admissível que um homem dotado de mediana inteligência deixasse no cinzeiro, depois de cometer o crime, as pontas dos cigarros fumados por ele?

Assentindo com a cabeça, o delegado reconhecia a força do argumento. Prossegui:

- Vejamos, agora, o ponto central de nossos raciocínios. O fato de se ter encontrado a combinação de seda de trás para frente demonstra que alguém, pouco dado a esse mister, vestiu Luba. Uma mulher não se engana na prática desse gesto cotidiano. Se assim é, Luba estava nua quando foi assassinada. Vestiram-na depois. Não havia sinal de luta no quarto, podendo-se conseqüentemente supor que o criminoso lá se achava, num momento de intimidade com Luba. Isto exclui Gregório Veletch, mas não o afasta da cena: quando, à procura de Dorival, chegou ao quarto da chácara, Luba estava morta. Sentindo no bolso a cigarreira que o cunhado esquecera e que ele tentou entregar assim que desceu do apartamento, Gregório imaginou inculpar Dorival ou aumentar os indícios, caso fosse ele o assassino, largando no local a cigarreira, não sem antes fumar dois cigarros, abandonando as pontas no cinzeiro. Criminoso o cunhado, Gregório seria o herdeiro da fortuna.

- Admirável. Gregório, no novo depoimento, confessou exatamente isso.

- Restam Dorival e Azambuja. Jamais Dorival podia encontrar-se na situação do criminoso. Luba já não tinha mais interesse algum por ele, nem admitiria a sua presença na chácara. Não existe o menor indicio de violência ou de reação, como seria natural da parte de Luba se o marido surgisse inopinadamente pelo quarto adentro. O assassino gozava, naquele momento, da intimidade da vítima; passou de repente, do carinho para o estrangulamento. Somente Azambuja - Dr. Leite - poderia ter essa oportunidade e só ele tinha interesse em ocultar a nudez de Luba, presente que ela lhe dava com exclusividade, nos últimos tempos. O horror de que a amante fosse enfrentar a esposa cega levou Azambuja ao crime.

Eu me lembro até hoje. O velho Leite sorriu, movimentou-se na cadeira e falou com voz pausada:

- Meus parabéns, Luís Antonio, pela precisão dos raciocínios. Estou de pleno acordo com eles, exceto com a conclusão. E você tinha, como tem, todos os elementos para dar a solução absolutamente exata. Algumas vezes, um pormenor ilumina o mistério, desfazendo-o por inteiro.

Fez uma pausa e continuou:

- O criminoso deixou sua assinatura no pescoço de Luba. Com exceção dos polegares, confusamente marcados, as equimoses dos demais dedos são perfeitas, menos duas: a do indicador e a do médio da mão direita, mais raras e irregulares que as outras. Isso me faz crer, Luís Antonio, que o criminoso não tinha aqueles dois dedos. Notando, depois do crime, que deixara no corpo de Luba sua marca pessoal, o assassino imprimiu com os dedos da mão esquerda as equimoses complementares, mas sem a força e o jeito necessários para igualá-las, às outras manchas.

Olhei para as minhas mãos, como se não soubesse que, há dez anos, me faltam dois dedos da mão direita!

Luba, lindíssima Luba, vítima de minha paixão desvairada, vítima de minha chantagem, vitima de minhas mãos alucinadas contra a frieza com que resgatava o meu silêncio!

 Fonte:
Obras-Primas do Conto Policial

Literaturas Africanas de Expressão Portuguesa (Guiné-Bissau) Parte final

Guiné Bissau

1. A Lírica

Estamos perante o capítulo menos expressivo do espaço literário africano de expressão portuguesa. Praticamente até antes da independência nacional não foi possível ultrapassar a fase da literatura colonial. E esta mesmo de reduzida extensão. Um homem que ali viveu por largos anos, Artur Augusto, escritor dotado, de origem cabo-verdiana, colaborador do primeiro número de Claridade, em Portugal e com larga vivência na Guiné-Bissau, ficou-se, ao que sabemos, por escassos contos publicados n'0 Mundo Português (1935 a 1936). A obra romanesca de Fausto Duarte (1903-1955): Auá, 1934; O negro um alma, 1935; Rumo ao degredo, 1939; A revolta, 1945; Foram estes os vencidos, 1945, cabo-verdiano por dilatados anos radicado na Guiné-Bissau, merece uma palavra especial. Mas é difícil, não obstante o seu empenhamento humanístico e de certa objectividade social, libertá-lo do peso colonial e credenciá-lo como verdadeiro escritor guineense. Deixou um romance inédito sobre cabo-verdianos. Testemunhará ele uma nova face da romanesca de Fausto Duarte? (Benjamin Pinto-Bull defendeu ultimamente na Sorbonne tese de doutoramento, que desconhecemos, sobre Fausto Duarte).

Com efeito, da Guiné-Bissau, durante a dominação portuguesa, não veio um poeta ou um romancista de mérito. Ali foram edificadas durante esse período as condições suficientes ao entrave do desenvolvimento criativo.

Com um índice altíssimo de analfabetismo, até há cerca de duas décadas sem ensino secundário, e só nos últimos anos abrangendo o sétimo ano dos liceus, o seu primeiro jornal (Pró-Guiné) surgido apenas em 1924, as suas infra-estruturas não possibilitaram o aparecimento de gerações letradas de onde poderiam ter saído vocações capazes de se responsabilizarem pelo surto de uma literatura guineense de expressão portuguesa num país de cerca de meio milhão de habitantes.

Nas duas últimas décadas do domínio colonial apenas uma actividade cultural oficial se fez sentir, orientada, porém, para os sectores da investigação histórica e etnográfica (Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 1946-1973), e sempre marcada, é evidente, pelo espírito oficial. Em nada ou pouco alteram este quadro empobrecido.

O livro de Carlos Semedo (Poemas, 1963) também não modifica os dados desta análise, até porque se trata de obra de modesta qualidade estética. Amilcar Cabral, o fundador da nacionalidade, autor de alguns poemas mas de substância cabo-verdiana, optámos por incluí-lo na parte dedicada a Cabo Verde [119].

Ainda em plena guerra colonial tinha surgido, no ano de 1973, em português, o folheto de poesia Poilão, iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino. Alguns dos poetas incluídos são guineenses. As suas vozes, necessariamente resguardadas, ou desviadas, ficam insignificativas. Embora durante a guerra colonial, nas áreas libertadas pelo P. A. I. G. C, se tivesse procedido a uma profunda alfabetização, compreende-se que a sua juventude, essencialmente empenhada na luta da libertação nacional, ou então retraída que vivia na capital (Poi/ão, em certa medida, pode ser um exemplo), só agora encontre os meios necessários para se revelar no plano da criação e construir a autêntica literatura do seu país.

O primeiro sinal é dado em Janeiro de 1977, com Mantenhas para quem luta! — a nova poesia da Guiné-Bissau. Iivrinho de cento e três páginas, que reúne catorze jovens poetas, onde o mais novo tem dezanove anos e o mais velho trinta. Acompanha-o um breve prefácio onde se diz: «Hoje, somos jovens trabalhadores no campo da poesia: esta não se define para nós, em termos puramente estéticos. A forma, destinando-se a garantir a eficácia da obra, a fazê-la atingir os objectivos visados, impõe-se como elemento manifestamente importante, mas o que lhe determina a qualidade é a função, pelo valor social que possa representar». A seguir uma questão que tem a ver com o espaço linguístico da Guiné-Bissau, povoado pelas línguas-mãe, pelo crioulo e ainda pela língua oficial, o português: «Se é verdade que esta poesia se escreve actualmente em crioulo e em português, cabe-nos a tarefa da sua fixação nas línguas nacionais, enquanto depositárias dos verdadeiros valores africanos».

Agnelo Augusto Regalia desenvolve um tema comum a outros poetas africanos, como, por exemplo, Costa Andrade e Henrique Guerra: o tema do assimilado. «Fui levado/A   conhecer   a   nona   Sinfonia/Beethoven   e Mozart/Na música/Dante, Petrarca e Bocácio/Na literatura,/Fui levado a conhecer/A sua cultura...» para depois colocar a interrogação:

Mas ti, Mãe África?
Que conheço eu de ti?
Que conheço eu de ti?
A não ser o que me impingiram?
E a fome e a miséria
Como complementos...[120]

António Cabral (Mores Djassy), o tema de constância revolucionária:

Somos crianças do tempo da Revolução
Frutos das sementes de séculos de angústias
Somos crianças da luta
Restos da soma do napalm
Restos da soma do napalm e fósforo [121]

Hélder Proença, o da identidade poeta-povo:

Poema que será a arma dos oprimidos! Poema que confunde com os anseios do povo O MEU POEMA SERÁ A VOZ DO POVO [122]

E deste modo se definem algumas das linhas essenciais que nesta jovem poesia guineense se contêm. Por um lado, os poetas reencontram-se como cidadãos verdadeiramente africanos, por outro a Revolução está em marcha e a poesia (a arte), «arma dos oprimidos!», «voz do povo» vai assumir-se como parte integrante da Revolução.

Daí a denúncia, a determinada acusação: «Para onde vão/Estes troncos de íizmzo/estendidos em caixotes/Como se fossem cargas de porão» (António Sérgio Maria Davyes = Tony Davyes) [123].

«Pelo colonialista/Fui chamado Terrorista.../Como Digno Defensor da minha existência» mas «Pela história/o colonialista é o terrorista/Eis a crua verdade e realidade» (Jorge Ampla Cumelerbo = Jorge António da Costa) [124].

«Não sei quando começaste a bater-me/Em que idade/Em que eternidade/Em que revolução astral/Talvez no ventre da minha mãe» (Kôte = Norberto Tavares de Carvalho) [125].

Ou em Tomás Paquete: «A fome torcia-se, como as velas/dos barcos,/Onde os pais, por um punhado de peixe,/Deixavam viúvas/As jovens mães solteiras.../Onde os irmãos, por uma sorte de ilusão,/deixavam orfãos/os sobrinhos...» [126].

Acusação que tem como alvo imediato o colonialismo, a longa era da escravidão, feita «de dor e lágrimas», como diz António Lopes Jr.: «Prisões! Sacrifícios!/O peso da fome.../Da subalimentação/O peso da História/História de dor e lágrimas/Imposta pela violência repressiva».[127]

Ao contrário do que acontece, não só com a poesia de Cabo Verde, de S. Tomé e Príncipe como também com a de Angola e Moçambique, esta poesia da Guiné-Bissau toda ela nasce em pleno período da luta armada ou então já no período pós-libertação nacional. E natural, portanto, que alguns destes poetas se reencontrem na exaltação da «ÁFRICA MÁRTIR», dos chefes revolucionários e, sobretudo, de Amilcar Cabral. E daí também um profundo sentido gregário, uma real consciência colectiva, como em José Pedro Sequeira:

Encontramo-nos em toda a parte, / Em toda a parte irmãos: / Nos arrozais e no dendém / Nas savanas e nas hortas / Na tabanca e nos pântanos [128]

Ou ainda um largo sentido ecuménico, universal, na voz de Nagib Said:

«Quando o som do tam-tam/Levar o grito d'África/Ao cume mais alto das consciências/E os    processos    mentais    superiores    se conjugarem/Traduzidos      no      código      puro      da fraternidade» então O eco da revolução propagar-se-á Através das mil montanhas do Mundo [129]

Ou em Carlos Almada:

«Porque o sol que hoje arde/Brilha p'ra todos nós/E p'ra toda a África» [130].

Numa luta de libertação fatalmente há os que hesitam ou se destróem, mas a história o registará. Será isso mesmo que o verbo repousado, mas liricamente impressivo de José Carlos significa: «E vi na tabanca queimada devastada/As mesmas botas calcar o sangue, o corpo a morte inocente/De crianças da tua cor, do teu credo perdido/E soube que na terra em pranto pela tua afronta/Tu terias uma morte desenraizada» [131].

«[...] Contribuição militante a todo um processo de desenvolvimento cultural que decorre no nosso País», como se afirma no Prefácio, ela não podia deixar de ser também a expressão da libertação, da esperança, de uma colagem ao futuro, e aqui vem a propósito citar dois nomes, Armando Salvaterra: «Qu'importa que eu não venha/A saborear os frutos da própria árvore?/Que é isso/Ao pé da inabalável certeza desse dia admirável?!...[132]

E Justino Nunes Monteiro (fusten):

Libertar a África, / Libertar o Homem / Libertar o tam-tam e o Korá / Libertar o canto das crianças e o grito sufocado da esperança. / Uma esperança vermelho-sangue / Temperada na luta e na morte / Abrindo um caminho novo [133]

Em resumo,

«arma de combate, ferramenta de construção, ela [a poesia] forja-se no quotidiano árduo mas exaltante da Nação emergente, contribuição modesta no património da Humanidade, por uma Revolução Cultural», são ainda palavras do citado Prefácio.


2.    A EXPRESSÃO EM CRIOULO

Entre as várias etnias circula o dialecto crioulo (semelhante ao de Cabo Verde: criado na Guiné ou levado para lá?) [133] e parece cada vez mais, a esse nível, tender a funcionar como língua de contacto, sobrepondo-se às línguas de várias etnias, até porque progressivamente aumenta o seu número de utentes. Só recentemente as tentativas poéticas em dialecto crioulo começam a ganhar o espaço textual. Não só nas canções, nos cantos revolucionários, gravados em disco, como também na lírica que desponta. Curiosamente, no entanto, em Mantenhas para quem luta! há apenas duas poesias em crioulo, e subscreve-as José Carlos.
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Notas:

119 Amílcar Cabral nasceu na Guiné-Bissau, filho de pais cabo-verdianos. Viveu em Cabo Verde desde criança e ali concluiu o curso dos liceus. Isto explica a natureza da sua poesia.

120 Agnelo Augusto Regalia, «Poema de um assimilado» in Conselho Nacional de Cultura (Guiné-Bissau), Mantenhas para ai, 1977, p. 15.

121    António Cabral, «Somos crianças», idem, p. 22.

122    Hélder Proença, «Escreverei mais um poema», idem, p.51.

123    Tony Davyes, «Desespero», idem, p. 26.

124    Jorge Ampla Cumelerbo, «O julgar pertence à história», idem, p. 55.

125    Kôte, «Soba Quinty», idem, p. 86.

126    Tomás Paquete, «Ao acaso... no mar ...», idem, p. 93.

127    António Simões Lopes Jr. «Abusivamente», idem, pp. 29-30.

128    José Pedro Sequeira, «A vida real dos homens nossos irmãos, idem, p. 67.

129    Nagib Said «A agonia dos impérios», idem, p. 80.

130    Carlos Almada, «Geba», idem, p. 46.

131    José Carlos, «Morte desenraizada», idem, p. 61.

132    Armando Salvaterra, «Depois de mim», idem, p. 39.

133    Justen, «Poema», idem, p. 73.

134 Foi sempre considerável a comunidade cabo-verdiana na Guiné-Bissau. Tenhamos presente que esta ex-colónia portuguesa esteve administrativamente vinculada a Cabo Verde até 1879.


FIM

BIBLIOGRAFIA PASSIVA
(selectiva)

Nota:
Dada a impossibilidade de irmos além de uma bibliografia selectiva, aceitamos correr o risco de qualquer omissão discutível ou involuntária.

Aconselhamos, porém, aos que estiverem interessados, a consulta com destaque para Alfredo Margarido, Mário Pinto de Andrade, Jaime de Figueiredo, António Aurélio Gonçalves, Mário António, Pires Laranjeira, Serafim Ferreira e Manuel Ferreira. Útil poderá ser também a leitura de prefácios a algumas das obras mencionadas, como as de Agostinho Neto, Costa Andrade, Manuel Rui, Bobella-Mota.

Por certo que a Bibliografia africana de expressão portuguesa de Gerald Moser e de Manuel Ferreira, no prelo, será um guia indispensável.

GERAL

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Concurso de Trovas Literárias José Barros de Vasconcellos (Resultado Final)

- TEMA: “EXEMPLO”
CATEGORIA ESTADUAL
1º Lugar: Milton Sebastião Souza, de Porto Alegre – RS
2º Lugar: Wilson Tubino, de Porto Alegre – RS
3º Lugar: Ialmar Pio Schneider, de Porto Alegre – RS
4º Lugar: Delcy Canalles, de Porto Alegre – RS
5º Lugar: Sebastião Teixeira Corrêa, de Caxias do Sul – RS

Comissão Avaliadora: A cargo da UBT – Coordenador Flávio Stefani (Porto Alegre)
Luiz Carlos Abritta (Belo Horizonte); Elizabeth Souza Cruz (Nova Friburgo); Gisele Bueno Pinto (Dom Pedrito); Maurício Friedrich (Curitiba) e Alice Brandão (Caxias do Sul)


CATEGORIA NACIONAL
1º Lugar: Wandira Fagundes Queiroz, de Curitiba – PR
2º Lugar: Darly O. Barros, de São Paulo – SP
3º Lugar: José Ouverney, de Pindamonhangaba – SP
4º Lugar: Darly O. Barros, de São Paulo – SP
5º Lugar: Olympio da Cruz Simões Coutinho, de Belo Horizonte – MG

Comissão Avaliadora: A cargo da UBT – Coordenador Flávio Stefani (Porto Alegre)
Luiz Carlos Abritta (Belo Horizonte); Elizabeth Souza Cruz (Nova Friburgo); Gisele Bueno Pinto (Dom Pedrito); Maurício Friedrich (Curitiba) e Alice Brandão (Caxias do Sul)


Fonte:
http://www.ocariucho.com.br/?p=7992
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

Concurso de Contos Alcides Maya (Resultado Final)

1º Lugar: Juarez Nunes da Silva, de Caxias do Sul – RS
Conto: “A Rádio Mamangava”

2º Lugar: Gilney Muñoz Braz, de Curitiba – PR
Conto: “Seu Ayres”

3º Lugar: Leandro de Araújo, de Esteio – RS
Conto: “Respeito”

4º Lugar: Quatro autores: Antônio Cândido de Azambuja Ribeiro, de Santa Maria – Athos Ronaldo Miralha da Cunha, de Santiago – Tânia Lopes, de Itaqui e Vitor Biasoli, de Pelotas
Conto: “Cancha reta”

5º Lugar: Jurema Chaves, de São Leopoldo – RS
Conto: “O vento, o menino e as pandorgas”

Comissão Avaliadora: Sidnei Azambuja, José Machado Leal e Danci Ramos

Fonte:
http://www.ocariucho.com.br/?p=7992
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

Concurso de Poesias Taveira Junior (Resultado Final)

1º Lugar: Luis César Soares, de Gravataí – RS
Poema: “Tributo a memória de um carreteiro”

2º Lugar: Augusto César Brasil, de Canoas – RS
Poema: “Sou Rio Grande”

3º Lugar: Gargione Ávila, de Rio Grande – RS
Poema: “O silêncio das guitarras”

4º Lugar: Rômulo Chaves, de Palmeira das Missões – RS
Poema: “Don’ Ana, o tempo e a bandeira”

5º Lugar: Otavio Geraldo Reichert, de Santo Ângelo – RS
Poema: “Das lendas do sul… Hogaraitai ”

Comissão Avaliadora: Léo Ribeiro de Souza, Cristiano Ferreira e Agenor de Mello Coelho

Fonte:
http://www.ocariucho.com.br/?p=7992
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

Concurso Literário Cristóvão Pereira de Abreu (Resultado Final)

TEMA: “TROPEIRISMO”

CATEGORIA PESQUISA HISTÓRICA


1º Lugar: Adilar Signori, de Canoas – RS
Obra: “O Tropeiro Francisco Pinto Bandeira”

2º Lugar: Paulo Gonçalves, de Porto Alegre – RS
Obra: “Tropeirismo – Início e fim de um ciclo”

3º Lugar: Carlos Eugênio da Costa Silva, de Pelotas – RS
Obra: “O legado das tropeadas”

Comissão Avaliadora: Francisco Pereira Rodrigues, Dilmar Paixão e Paulo Roberto de Fraga Cirne

CATEGORIA POESIA

1º Lugar: Alberto Sales, de Caxias do Sul – RS
Poema: “De pouso e estrada”

2º Lugar: Sebastião Teixeira Corrêa, de Caxias do Sul – RS
Poema: “Quando a tropa perde um centauro”

3º Lugar: Ari Pinheiro, de Florianópolis – SC
Poema: “Desafiando agosto”

Comissão Avaliadora: Léo Ribeiro de Souza, Norberto Castro e Cristiano Ferreira

CATEGORIA TROVA LITERÁRIA

1º Lugar: Sebastião Teixeira Corrêa, de Caxias do Sul – RS

2º Lugar: Cleomar Brasil, de Nova esperança do Sul – RS

3º Lugar: Pedro Junior da Fontoura, de Bento Gonçalves – RS

Comissão Avaliadora: A cargo da UBT – Coordenador Flávio Stefani (Porto Alegre)
Gisele Bueno Pinto (Dom Pedrito); Clênio Borges (Porto Alegre) e Alice Brandão (Caxias do Sul)

Fonte:
http://www.ocariucho.com.br/?p=7992
Http://concursos-literarios.blogspot.com 

XV Concurso de Contos Alípio Mendes (Resultado Final)


André Luís Soares
O MEDALHÃO


Alberto Moby Ribeiro da Silva
ALAMEDA O’HIGGINS


Diego César Soares Ribeiro
AS BROINHAS DO CONHECIMENTO


Renato Alves
NOSSO NATAL COM PAPAI


André Telucazu Kondo
A MÁSCARA


Marcos Eduardo Neves
A VIÚVA FELIZ


Antônio Roberto de Carvalho
HUMBERTO E LINDALVA


Rejane Maria dos G. Paschoal
MULHER CO MCHAPÉU INVISÍVEL


Thoshio Katsurayama
DOCINHO DE CÔCO


Sarah de Oliveira Passarella
A CONTADORA DE HISTÓRIA


Benedito Paulo Corrêa
O CONTO DO VIGÁRIO


Luciana Conde Rodrigues Maia
SINESTESIA

Fontes:
http://concursos-literarios.blogspot.com
http://www.ateneuangrense.com.br/contos/15ccam.htm