segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Hans Christian Andersen (A Sombra)

Além de sua fama no campo da literatura infantil, H. C. Andersen (1805-75) é um dos grandes autores do conto maravilhoso do século XIX, como o comprova esta história construída com sutileza e criatividade extraordinárias. A idéia lhe ocorreu em Nápoles, num dia de sol intenso; a sombra que se destaca do corpo é um dos grandes temas da imaginação fantástica, que aqui se articula a um dos aspectos essenciais da psicologia de Andersen: o amargo pessimismo dedicado a si mesmo.

Foi Adelbert von Chamisso quem deu, com o Peter Schlemihl (1813), a primeira e insuperável história de perda da sombra. Corriam os anos do Fausto goethiano, e a perda da sombra foi interpretada como a perda da alma. Mas o símbolo é mais indefinível e complexo: essência fugidia da pessoa, "duplo" que cada um de nós carrega consigo. E. T. A. Hoffmann, que sempre foi obcecado pela idéia do "duplo", gostou tanto da novela de Chamisso que introduziu Peter Schlemihl em seu "Aventuras de uma noite de São Silvestre" (1817), fazendo-o encontrar-se com um homem que havia perdido o reflexo no espelho.

O reflexo no espelho havia sido deixado pela personagem de Hoffmann ao lado de uma mulher, feiticeira diabólica, para que ele pudesse continuar o seu amor com ela. A sombra de Andersen também se destaca da pessoa como emanação do desejo de estar perto da jovem amada; mas ela continua sua vida independente, acumulando fortunas, freqüentando a alta sociedade e, quando reencontra o homem de quem se separou, o obriga a servi-la e a servir-lhe de sombra.

Portanto, a situação se inverte: a sombra se torna um patrão implacável e inimigo; o reencontro da sombra é uma condenação.

O símbolo da sombra perdida continua presente na literatura do nosso século (Hugo von Hofmannsthal, A mulher sem sombra).

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É nas terras quentes que o sol arde realmente! As pessoas ficam cor de mogno, de tão morenas; inclusive, nas mais quentes delas, ficam negras. Mas foi apenas para as terras quentes — e não para as mais quentes delas — que se dirigiu um sábio vindo das terras frias; ele achava que lá poderia perambular como costumava fazer em seu próprio país, mas em pouco tempo se desiludiu. Ele e todas as pessoas sensatas tinham de ficar dentro de casa, com os batentes das janelas e as portas fechados o dia inteiro; a impressão que se tinha era de que a casa inteira dormia, ou de que não havia ninguém. A rua estreita de casas altas onde ele morava também era construída de forma a ser banhada pela luz solar da manhã até a noite. Impossível sair! O sábio vindo das terras frias — um jovem, um homem inteligente — tinha a sensação de estar sentado sobre um forno repleto de brasas; aquilo o afetou, ele ficou muito magro, até sua sombra murchou, ficou bem menor do que era antes, o sol também a consumira. Só à noite, depois que o sol se punha, os dois recomeçavam a viver.

Era uma verdadeira festa para os olhos; assim que a vela era trazida ao aposento, a sombra se espichava até o alto da parede, chegava ao teto, de tão comprida que ficava, precisava se espreguiçar para recuperar as forças. O sábio saía para o balcão para desenferrujar um pouco, e à medida que as estrelas iam surgindo na deliciosa limpidez do ar, ele tinha a impressão de voltar à vida. Em todos os balcões da rua — e nas terras quentes toda janela tem um balcão - as pessoas saíam, pois não há quem não tenha necessidade de ar, inclusive as pessoas habituadas a ser cor de mogno! Tudo se animava, em cima e embaixo. Sapateiros e alfaiates, todos corriam para a rua, surgiam mesas e cadeiras e velas acesas, sim, milhares de velas acesas, e enquanto um falava, o outro cantava, muita gente passeava, carruagens rodavam, burros andavam — blim-blão! de sineta no pescoço; mortos eram enterrados ao som de salmos, os moleques da rua faziam algazarra e os sinos da igreja bimbalhavam; sim, a rua ficava repleta de vida. Apenas em uma das casas, justamente a que ficava na frente daquela em que morava o sábio estrangeiro, tudo permanecia quieto; e certamente alguém morava naquela casa, pois havia flores no balcão, flores que cresciam tão bem naquele lugar ensolarado, flores que não existiriam se não fossem regadas, e portanto alguém deveria regá-las; alguém morava naquela casa. À noite a porta daquele balcão também se entreabria, mas o interior era escuro, pelo menos o aposento da frente não tinha luz, embora se ouvisse o som de música vindo lá de dentro. O sábio estrangeiro achava que era uma música incomparável, mas talvez fosse imaginação dele, porque para o sábio estrangeiro tudo naquelas terras quentes era incomparável, a única coisa que atrapalhava era o sol. O senhorio do estrangeiro dizia não saber quem havia alugado a casa da frente, nunca se via ninguém por lá, e, quanto à musica, achava-a tremendamente aborrecida. 'Até parece que tem alguém ensaiando uma peça que nunca consegue concluir, toca sempre a mesma peça. 'Eu acabo conseguindo', diz a pessoa, mas nunca consegue, por mais que toque."

Uma noite o estrangeiro acordou, dormia com a porta do balcão aberta, a cortina balançava ao vento, e teve a impressão de que havia uma luminosidade estranha no balcão da casa em frente: todas as flores brilhavam como labaredas nas cores mais fantásticas, e no meio das flores estava uma jovem esguia, belíssima, que dava a impressão de também estar impregnada de luz; a luz feriu os olhos do estrangeiro, mas a verdade é que ele os tinha muito arregalados e que acabara de acordar; levantando-se de um salto, ele se aproximou devagar da cortina, mas a jovem se fora, a luminosidade desaparecera; as flores já não brilhavam, embora tivessem o ótimo aspecto de sempre; a porta estava entreaberta e do âmago da casa vinha uma música tão maravilhosa, tão suave, que o ouvinte era invadido por pensamentos delicados. Parecia um encantamento, mas quem viveria ali? E onde ficaria a porta de entrada? Todo o andar térreo era ocupado por lojas, uma ao lado da outra, não era possível que para entrar para a residência, em cima, fosse necessário passar sempre por alguma delas.

Uma tarde o estrangeiro estava sentado em seu balcão enquanto atrás dele, no interior do quarto, queimava uma vela, de modo que era muito natural que sua sombra fosse parar do outro lado da rua, na parede da casa do vizinho da frente; com efeito, lá estava ela, sentada entre as flores do balcão; e sempre que o estrangeiro se movia, sua sombra também se movia, porque era assim que ela sempre se comportava.

"Acho que minha sombra é o único ser vivo que se avista por lá!", disse o sábio. "Veja com que elegância está sentada no meio das flores, com a porta entreaberta! Agora... A sombra bem que poderia ser mais esperta e entrar na casa para dar uma olhada e depois vir me contar o que viu! Vamos, faça alguma coisa útil", disse ele, brincando. "Faça-me o favor de se introduzir na casa! E então?! Vai entrar ou não vai entrar?", insistiu ele com um aceno, e a sombra acenou também. "Entre de uma vez, mas não vá desaparecer", disse o estrangeiro, levantando-se, e sua sombra no balcão da casa do vizinho da frente se levantou também; o estrangeiro se virou, e sua sombra também se virou; e se houvesse alguém prestando atenção na cena, teria visto claramente a sombra entrar pela porta entreaberta do balcão da casa do vizinho da frente no exato instante em que o estrangeiro entrava em seu quarto e deixava a longa cortina voltar para o lugar.

Na manhã seguinte o sábio saiu para tomar café e ler os jornais. "Mas o que é isso?", exclamou, ao sair para o sol. "Estou sem sombra! Quer dizer que ela entrou mesmo na casa ontem à noite e não saiu mais; que problema eu fui arranjar!"

Aquilo o deixou agastado: não tanto por causa do desaparecimento da sombra, e sim porque conhecia uma história sobre um homem sem sombra muito divulgada nas terras frias de onde vinha, e se por acaso chegasse lá contando a sua, todo mundo iria dizer que estava imitando a outra, coisa que ele não queria de jeito nenhum. Diante disso, resolveu que não tocaria no assunto, e foi uma decisão muito acertada.

À noite o sábio saiu novamente para seu balcão, depois de posicionar a vela corretamente atrás de si, pois sabia que as sombras sempre desejam ter seus senhores como telas, mas não conseguiu atraí-la; fez-se pequeno, fez-se grande, mas nenhuma sombra apareceu! Chegou a falar "Ei! Ei!", mas não adiantou nada.

Era desmoralizante, mas nas terras quentes tudo cresce de maneira desordenada; passados oito dias ele observou, para sua grande satisfação, que uma nova sombra havia começado a crescer de suas pernas sempre que ele saía para o sol. A raiz devia ter ficado enterrada. Passadas três semanas, já adquirira uma sombra bastante adequada, a qual, quando ele rumou novamente para as terras do norte, continuou crescendo sem parar durante a viagem, de tal modo que no fim estava tão comprida e tão grande que com metade dela já seria mais do que suficiente.

E assim o sábio voltou para sua terra e escreveu livros sobre o que era verdade no mundo e sobre o que era bom e sobre o que era belo, e passaram-se dias, e passaram-se anos, e passaram-se muitos anos.

Uma noite ele estava em seu quarto e alguém bateu suavemente à porta.

"Entre!", disse, mas ninguém entrou; quando ele foi abrir a porta, viu diante de si uma pessoa tão extraordinariamente magra que o deixou perturbado. No mais, vestia-se com muita elegância, devia ser um homem distinto.

"Com quem tenho a honra de falar?", perguntou o sábio.

"Bem que eu estava imaginando que o senhor não iria me reconhecer!", disse o homem distinto. "Hoje em dia tenho tanto corpo, cheguei mesmo a adquirir carne e vestimentas. Imagino que jamais lhe tenha passado pela cabeça verme assim tão próspero. Então o senhor não reconhece sua antiga sombra? Sim, vejo que o senhor não acreditava que eu pudesse voltar para casa algum dia. As coisas correram muito bem para mim desde a última vez que estivemos juntos, fui muito bem-sucedido, de todos os pontos de vista! Se for o caso de eu comprar minha liberdade, tenho os meios para tal!" Dizendo isso, sacudiu um punhado de valiosos selos pendurados à corrente de seu relógio e enfiou a mão na grossa corrente de ouro que lhe pendia do pescoço. Todos os seus dedos cintilaram com anéis de diamantes! E todos eles, pedras sem jaça.

"Não consigo me refazer de minha surpresa!", disse o sábio. "O que está acontecendo aqui?!"

"De fato, coisa simples não é!", disse a sombra. "Mas o senhor mesmo tampouco se conta entre os simples e eu, como o senhor sabe muito bem, desde criança sigo suas pegadas. Nem bem o senhor concluiu que eu estava preparado para sair sozinho mundo afora, segui meu próprio rumo; minha situação atual é das mais estupendas, mas fui tomado por uma espécie de nostalgia, um desejo de voltar a vê-lo pelo menos uma vez antes de sua morte, pois mais dia, menos dia o senhor vai morrer! Além disso, eu também queria rever estas terras, pois é fato que sempre nos sentimos ligados à pátria-mãe! Sei que o senhor obteve uma outra sombra. Devo pagar-lhe, ou pagar-lhes, alguma coisa? Faça-me o favor de dizer!"

"Mas então é mesmo você!", disse o sábio. "Que coisa extraordinária! Eu jamais teria acreditado que nossa antiga sombra pudesse reaparecer sob a forma de ser humano!"

"Diga-me quanto lhe devo!", disse a sombra. "Não quero permanecer em débito."

"Como você pode falar desse modo?", exclamou o sábio. "A que dívida se refere? Sinta-se inteiramente livre! Sua felicidade me dá imensa alegria. Sente-se velho amigo, e me conte um pouco como as coisas se passaram e o que você viu na casa do nosso vizinho das terras quentes!"

"Sim, já lhe contarei tudo", disse a sombra, sentando-se, "mas o senhor terá de me prometer que jamais revelará a ninguém aqui na cidade, onde quer que possa encontrar-me, que um dia fui sua sombra! Tenho a intenção de ficar noivo; meus meios me permitem manter até mais de uma família!"

"Pode ficar sossegado!", disse o sábio. "Jamais direi a ninguém quem você realmente é! Aperte a minha mão! Dou-lhe minha palavra de honra."

"Palavra de sombra!", disse a sombra, que não podia dizer outra coisa.

Era notável, aliás, até que ponto aquela sombra era um ser humano; toda vestida de negro, envergando as mais elegantes vestimentas negras que se podiam encontrar, botas de verniz e chapéu dobrável, de modo a virar apenas copa e aba; e isso sem falar no que já sabemos que possuía: selos, corrente de ouro e anéis de diamante; sim, a sombra estava extraordinariamente bem vestida, e era somente esse fato que a transformava num verdadeiro ser humano.

'Agora vou lhe contar minhas aventuras!", disse a sombra, apoiando as pernas munidas das botas de verniz com quanta força pôde sobre o braço da nova sombra do sábio, que estava deitada aos pés dele como um cachorrinho poodle. Talvez tivesse feito isso por arrogância, talvez para imobilizar a outra; e a sombra prostrada se manteve perfeitamente quieta e tranqüila para poder ouvir a história; ela bem que queria saber o que era preciso fazer para soltar-se e igualar-se a seu próprio senhor.

"O senhor sabe quem morava na casa do outro lado da rua?", perguntou a sombra. "Era a figura mais encantadora deste mundo, a Poesia! Passei três semanas lá, e foi como se tivesse vivido três mil anos e lido toda a poesia e todos os textos jamais escritos. É o que lhe digo e atesto. Tudo vi e tudo sei!"

"A Poesia!", gritou o sábio. "Sim! Sim! Acontece muitas vezes de ela ser uma eremita nas cidades grandes! A Poesia! É verdade, eu a avistei por um curto instante, mas o sono obnubilou meus olhos! Ela estava no balcão e brilhava tanto que parecia a Estrela do Norte! Conte-me, conte-me! Você estava no balcão, depois entrou porta adentro e viu...!"

"Entrei, e me vi na antecâmara!", disse a sombra. "E o senhor permaneceu sentado, olhando na direção da antecâmara. Não havia vela alguma, só urna espécie de penumbra, mas em seguida abria-se uma série de portas escancaradas, uma depois da outra, formando uma longa sucessão de aposentos e salões, estes sim profusamente iluminados. Eu teria sido fulminado por toda aquela luz se tivesse me precipitado até a donzela; mas avancei com prudência, dei-me tempo, que é o que devemos fazer!"

"E o que você viu?", perguntou o sábio.

"Vi todas as coisas, e pretendo contar ao senhor o que vi, mas... não se trata de orgulho da minha parte, mas... em minha qualidade de ser livre e com os meios de que disponho, sem falar em minha excelente posição, em minha situação confortável... eu lhe pediria que me desse o tratamento de 'senhor'!"

"Peço-lhe que me perdoe!", disse o sábio. "São os velhos hábitos que se aferram. O senhor tem toda a razão! Não se preocupe, tratarei de lembrar-me! Mas, por favor, agora me conte tudo o que viu!"

"Sim, tudo!", declarou a sombra. "Pois tudo vi, e tudo sei!"

"Qual era o aspecto dos aposentos mais íntimos?", perguntou o sábio. "Tinham o frescor da floresta? Lembravam a santidade da igreja? Essas salas íntimas eram como um claro céu estrelado quando o contemplamos das mais altas montanhas?"

"Tudo isso ao mesmo tempo!", respondeu a sombra. "Na verdade, não entrei até a parte mais interna, fiquei no aposento da frente, na penumbra, mas estava muito bem posicionado e tudo vi, tudo sei! Estive na corte da Poesia, na antecâmara."

"Mas o que o senhor viu? Todos os deuses da Antigüidade andavam pelos vastos salões? Os velhos heróis travavam combate? Crianças gentis brincavam e contavam seus sonhos?"

"Estou lhe dizendo que estive lá, e o senhor pode imaginar que vi todas as coisas que havia para ver! Se o senhor tivesse estado lá, não teria se transformado em homem, mas foi o que aconteceu comigo! E em pouco tempo aprendi a conhecer minha natureza mais íntima, minhas características inatas, meu parentesco com a Poesia. Na época em que eu vivia com o senhor, não pensava nessas coisas, mas, como o senhor bem sabe, toda vez que o sol nascia ou se punha eu ficava fantasticamente grande; com efeito, à luz do luar eu quase ficava mais nítido do que o senhor; naquele tempo eu não compreendia minha natureza; naquela antecâmara é que tudo se desvendou para mim! Eu me transformei em homem! Saí de lá amadurecido, mas o senhor já não se encontrava nas terras quentes; como homem, eu me envergonhava de andar com aquele aspecto. Precisava de botas, de vestimentas, de todo aquele verniz de homem que caracteriza um homem como tal. Saí dali, sim, digo-lhe que saí dali, mas por favor não divulgue o que lhe conto, saí dali diretamente para debaixo da saia da mulher que vendia bolos, me escondi debaixo da saia dela; ela nem desconfiava de que escondia tudo aquilo; eu só saía de lá à noite; corria pelas ruas à luz do luar; encostava-me nas paredes para sentir aquele delicioso roçar em minhas costas! Corria para cá, corria para lá, espiava para dentro das janelas mais altas, para dentro das salas, por sobre os telhados, observava todos os lugares que ninguém mais conseguia ver e via o que ninguém mais via, o que não era para ser visto por ninguém! Basicamente, nosso mundo é um mundo muito baixo! Eu nunca teria querido ser homem, não fosse a crença tão amplamente difundida de que ser homem é uma coisa excelente! Vi as coisas mais impensáveis acontecerem entre as mulheres, entre os homens, entre os pais e entre as doces e admiráveis crianças. Vi", continuou a sombra, "o que homem algum deveria conhecer, mas que todos, invariavelmente, dariam qualquer coisa para saber, ou seja, os pecados do vizinho. Se eu tivesse escrito um jornal, todos gostariam de lê-lo! Mas eu escrevia diretamente para a pessoa envolvida e todas as cidades por onde eu passava eram tomadas pelo pânico. Todos ficaram com tanto medo de mim! E todos tinham uma estima incomensurável por mim! Os professores fizeram de mim um professor, os alfaiates me deram roupas novas. Fiquei muito bem abastecido. Os moedeiros cunharam moedas para mim e as mulheres disseram que eu era lindo! Foi assim que me transformei no homem que sou! E agora preciso me despedir; aqui está meu cartão, moro na calçada do sol e estou sempre em casa quando chove!' E, dizendo isso, a sombra se retirou.

"Que acontecimento extraordinário!", disse o sábio.

Dias e anos se passaram, e a sombra voltou.

"Como vão as coisas?", perguntou ela.

"Nem me pergunte!", respondeu o sábio. "Escrevo sobre a verdade e sobre o bem e sobre o belo, mas ninguém se interessa por esse tipo de coisa. Estou verdadeiramente desesperado, são coisas tão importantes para mim..."

"Pois para mim não!", disse a sombra. "Estou engordando, e é unicamente com isso que deveríamos nos preocupar! É que o senhor não entende as coisas deste mundo, vai acabar mal. Está precisando viajar! No próximo verão, farei uma viagem. O senhor gostaria de viajar comigo? Bem que eu gostaria de ter um companheiro de viagem! Aceitaria viajar comigo como minha sombra? Para mim, será uma grande satisfação tê-lo ao meu lado. Faço questão de pagar suas despesas!"

"Que proposta extraordinária!", disse o sábio.

"Depende do ponto de vista!", disse a sombra. "Viajar vai lhe fazer bem! Se aceitar ser minha sombra, não precisará pagar por coisa nenhuma durante toda a viagem."

"Mas seria muita loucura!", disse o sábio.

"Contudo, assim é o mundo e assim ele continuará sendo!", disse a sombra, e se retirou.

As coisas estavam verdadeiramente complicadas para o sábio; o sofrimento e o desgosto seguiam-no por todo lado e tudo o que ele dissesse sobre a verdade e sobre o bem e sobre o belo não significava mais para a maioria das pessoas do que uma rosa para uma vaca! No fim, ele acabou ficando gravemente enfermo.

"O senhor está parecendo uma sombra!", diziam-lhe todos, e o sábio estremecia, pois era exatamente o que estava pensando.

"Uma temporada numa estação de águas certamente lhe faria muito bem!", disse a sombra, que fora visitá-lo. "Não há coisa melhor! Vou levá-lo em nome de nossa antiga amizade; pago a viagem e o senhor escreve um relato, e assim me distraio um pouco durante o trajeto! Também eu preciso de um tratamento com as águas termais: minha barba não está crescendo tanto quanto deveria e isso é uma forma de doença, pois ter barba é uma necessidade! Faça-me o favor de ser razoável e aceite meu convite! Viajemos como dois bons amigos!"

E assim foi feito; a sombra era o amo e o amo era a sombra; os dois viajaram juntos de carruagem, a cavalo e a pé, lado a lado ou um na frente e o outro atrás, ao sabor da posição do sol; a sombra estava sempre querendo ocupar o lugar do amo; e o sábio não se incomodava nem um pouco com isso; tinha um ótimo coração, era um homem amável e doce, e por isso um dia disse à sombra:

"Já que agora somos companheiros de viagem, como somos, e já que antes disso crescemos juntos desde a mais tenra infância, não lhe parece que seria o caso de fazermos um brinde à nossa amizade e abandonarmos o tratamento formal de 'senhor'? Acho que seria mais íntimo, não lhe parece?"

"Vamos pensar um pouco em sua proposta!", disse a sombra, que agora era o verdadeiro amo. "Sua ponderação é muito franca e bem-intencionada, por isso serei igualmente franco e bem-intencionado. O senhor, como sábio, certamente não ignora a que ponto é surpreendente a natureza humana. Algumas pessoas não conseguem nem encostar a mão em papel pardo que logo se sentem mal, outras ficam com o corpo inteiro abalado quando alguém fricciona alguma coisa aguda em uma vidraça; sou tomado por sensação semelhante ao ouvi-lo tratar-me de 'você', é como se estivesse sendo empurrado de encontro à terra, tal como acontecia em minha primeira permanência ao seu lado. Como o senhor vê, trata-se de uma sensação, e não de orgulho; não posso permitir que me chame de 'você', mas de minha parte terei muito prazer em chamá-lo de 'você', de modo a realizar seu desejo pelo menos em parte!"

E assim a sombra passou a chamar o antigo amo de "você".

"É insensato, isso de eu chamá-lo de 'senhor' e ele a mim de 'você'", pensava o sábio, sem ter como alterar a situação.

E assim os dois chegaram a uma estação de águas onde havia vários estrangeiros, entre eles a linda filha de um rei, que sofria da enfermidade de ver tudo bem demais, o que era, claro, muito preocupante.

Na mesma hora a moça percebeu que aquele que acabara de chegar era uma pessoa totalmente diferente das outras que estavam ali: "Ele está aqui para fazer sua barba crescer, dizem, mas vejo que a razão verdadeira é o fato de que ele não projeta nenhuma sombra".

"Vossa Alteza Real deve estar melhorando!", disse a sombra. "Sei que seu mal é ver bem demais, mas isso acabou, a senhora está curada! A verdade é que tenho uma sombra muito pouco convencional. A senhora não está vendo aquela pessoa que anda sempre ao meu lado? Outras pessoas têm sombras comuns, mas eu não gosto de coisas comuns. Muitas vezes acontece de gastarmos mais com a libré de nossos empregados do que com nossos próprios trajes, e eu permiti que minha sombra se transformasse em homem! É isso mesmo, a senhora pode observar que cheguei ao ponto de dar-lhe uma sombra. É uma coisa muito onerosa, mas faço questão de ter coisas de qualidade!"

"O quê?", pensou a princesa. "Será possível que eu tenha me curado? Esta estação de águas é verdadeiramente de primeira categoria! Nos tempos que correm, a água tem de fato poderes extraordinários. Mas não vou partir ainda; agora é que as coisas estão ficando divertidas. Aquele estrangeiro me agrada sobremaneira. Espero, pelo menos, que a barba dele não cresça, porque se crescer, ele vai embora!'

À noite, no grande salão de bailes, a filha do rei dançou com a sombra. Ela era leve, mas a sombra era ainda mais leve; a jovem jamais dançara com parceiro como aquele. A princesa contou à sombra de que país tinha vindo e a sombra conhecia seu país, já estivera lá, mas num momento em que ela não estava em casa, e espiara pelas janelas mais altas e pelas janelas mais baixas, vira de tudo um pouco, e desse modo teve condições de responder às perguntas da filha do rei e dar-lhe informações que a deixaram boquiaberta; aquela devia ser a pessoa mais bem informada do mundo! A princesa desenvolveu um respeito imenso pelas coisas que a sombra sabia, e quando os dois dançaram juntos novamente a princesa se apaixonou, e a sombra imediatamente percebeu, pois o olhar da princesa parecia atravessá-la. E assim os dois dançaram juntos mais uma vez e a princesa esteve a ponto de declarar-se, mas era muito ponderada, pensava em seu país e em seu reino e nas muitas pessoas sobre as quais haveria de reinar. "Sábio ele é, e isso é bom!", pensou a moça consigo mesma. 'Além disso, é excelente dançarino, o que também é ótimo. Mas será que possui uma base cultural sólida? Isso é igualmente muito importante. Será preciso avaliá-lo com rigor." Com isso, começou a interrogá-lo sobre algumas questões particularmente difíceis, questões para as quais nem ela mesma tinha resposta, e a sombra ficou com uma expressão muito estranha no rosto.

"Para esta questão, o senhor não tem resposta!", disse a filha do rei.

"Mas se são coisas que aprendi quando criança!", disse a sombra. 'Acredito que até minha sombra, que lá está, perto da porta, sabe responder!"

"Sua sombra!?", estranhou a princesa. "Isso seria verdadeiramente extraordinário!"

"Bem, não estou cem por cento certo de que ela saiba!", disse a sombra. "Contudo acredito que sim, pois faz muitos anos que me segue e me escuta... Acredito que sim! Mas permita-me Vossa Alteza Real uma advertência: veja que minha sombra tem tanto orgulho de fazer-se passar por homem que para que apresente boa disposição — e será necessário que seja assim, para que tenha condições de responder adequadamente — será preciso que a trate como se fosse de fato um homem."

"Quanto a isso, não há problema!", disse a filha do rei.

E então ela se dirigiu ao sábio, que estava junto à porta, e conversou com ele sobre o sol e sobre a lua e sobre os homens tanto por fora como por dentro, e ele respondeu muito bem e com muita propriedade.

"Que homem deve ser aquele, para ter uma sombra assim!", pensou ela. "Será uma verdadeira bênção para o meu povo e para o meu reino que eu o escolha para consorte; e é exatamente isso o que vou fazer!"

E em pouco tempo os dois chegaram a um entendimento, a filha do rei e a sombra, só que ninguém deveria saber a respeito enquanto ela não estivesse de volta a seu próprio reino.

"Ninguém saberá, nem mesmo minha sombra!", disse a sombra, que tinha boas razões para dizer isso.

E assim eles chegaram às terras sobre as quais reinava a filha do rei quando não estava viajando.

"Ouça, meu caro amigo!", disse a sombra ao sábio, "agora que sou a mais feliz e poderosa das pessoas, quero fazer alguma coisa especial por você! Você viverá para sempre ao meu lado no castelo, viajará comigo em minha carruagem real e terá centenas de milhares de moedas por ano; em troca, deverá aceitar que todos, sem exceção, o chamem de sombra; jamais deverá revelar que um dia foi um homem, e uma vez por ano, quando eu me sentar ao sol no balcão e permitir que todo o povo me veja, deverá prostrar-se a meus pés como se fosse mesmo uma sombra! Saiba que vou me casar com a filha do rei, e que o casamento terá lugar hoje à noite."

"Não, isso é completamente insano!", disse o sábio. "Não quero, não aceito! Isso seria enganar o país inteiro e a filha do rei também! Revelarei tudo! Direi que sou um homem e que você é uma sombra, direi que você é uma sombra que usa roupas, só isso!"

"Ninguém vai acreditar!", disse a sombra. "Comporte-se, do contrário eu chamo a guarda!"

"Vou imediatamente falar com a filha do rei!", disse o sábio.

"Mas eu vou primeiro!", disse a sombra, "e você vai para a prisão!"

E foi exatamente para onde ele foi, pois as sentinelas obedeceram às ordens do homem com quem sabiam que a princesa ia se casar.

"Você está trêmulo!", disse a princesa, quando a sombra se aproximou dela. 'Aconteceu alguma coisa? Não vá adoecer logo na noite do nosso casamento!”

"Tive a mais terrível das experiências!", disse a sombra. "Imagine só... Claro, o cérebro de uma pobre sombra não agüenta grande coisa! Imagine que minha sombra enlouqueceu! Pensa que é um homem e que eu... Imagine só... Que eu é que sou a sombra!"

"Que horror!", disse a princesa. "Espero que pelo menos ela esteja bem trancafiada!"

"E está mesmo. Temo que jamais recupere a razão."

"Pobre sombra!", disse a princesa. "Tão infeliz! Seria uma verdadeira boa ação libertá-la dessa minúscula vida que tem. Na verdade, agora que penso nisso, acredito que será necessário acabar discretamente com ela."

"É uma solução muito severa! Serviu-me tão fielmente!", disse a sombra, soltando uma espécie de suspiro.

"Quanta nobreza em seu caráter!", disse a filha do rei.

À noite a cidade inteira se iluminou, os canhões fizeram bum! e os soldados apresentaram armas. Foi um casamento e tanto! A filha do rei e a sombra saíram para o balcão para que os súditos pudessem vê-los e os saudassem com um último "Viva!".

O sábio não ouviu nada disso, pois já perdera a vida.

Tradução de Heloísa Jahn

Fonte:
Contos fantásticos do século XIX : o fantástico visionário e o fantástico cotidiano / organização de ítalo Calvino. — São Paulo : Companhia das Letras, 2004.

Guilherme de Almeida (Canção do Expedicionário)

Você sabe de onde eu venho?
Venho do morro, do engenho,
Das selvas, dos cafezais,
Da boa terra do coco,
Da choupana onde um é pouco,
Dois é bom, três é demais,
Venho das praias sedosas,
Das montanhas alterosas,
Dos pampas, do seringal,
Das margens crespas dos rios,
Dos verdes mares bravios
Da minha terra natal.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Eu venho da minha terra,
Da casa branca da serra
E do luar do meu sertão;
Venho da minha Maria
Cujo nome principia
Na palma da minha mão,
Braços mornos de Moema,
Lábios de mel de Iracema
Estendidos para mim.
Ó minha terra querida
Da Senhora Aparecida
E do Senhor do Bonfim!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Você sabe de onde eu venho?
É de uma Pátria que eu tenho
No bojo do meu violão;
Que de viver em meu peito
Foi até tomando jeito
De um enorme coração.
Deixei lá atrás meu terreiro,
Meu limão, meu limoeiro,
Meu pé de jacarandá,
Minha casa pequenina
Lá no alto da colina,
Onde canta o sabiá.

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Venho do além desse monte
Que ainda azula o horizonte,
Onde o nosso amor nasceu;
Do rancho que tinha ao lado
Um coqueiro que, coitado,
De saudade já morreu.
Venho do verde mais belo,
Do mais dourado amarelo,
Do azul mais cheio de luz,
Cheio de estrelas prateadas
Que se ajoelham deslumbradas,
Fazendo o sinal da cruz!

Por mais terras que eu percorra,
Não permita Deus que eu morra
Sem que volte para lá;
Sem que leve por divisa
Esse "V" que simboliza
A vitória que virá:
Nossa vitória final,
Que é a mira do meu fuzil,
A ração do meu bornal,
A água do meu cantil,
As asas do meu ideal,
A glória do meu Brasil.

Nilton Manoel (Didática da Trova) Parte 9

 Luiz Otávio deixou-nos um estudo moderno de como fazer uma boa trova literária. Na página 3 do Decálogo informa: “buscando um denominador comum ou uniformização  de normas “que propiciaram mais liberdade e segurança para quem concorre ou promova concursos literários no país”. Olavo Bilac no Tratado de Versificação, na II parte trata da Métrica. Castilho, também, preocupado com a arte deixou-nos  orientações sobre  literatura poética.

Quando falamos na forma poética, buscamos provocar, no leitor, o envolvimento necessário para que no momento de inspiração consiga compor  a sua trova que além da métrica (forma) tem ainda a mensagem (fundo) ou seja toda trova tem corpo e alma e as rimas desempenham um rico papel no contexto. No decorrer do tempo, diversas outras leituras chegam-nos à mão e buscando melhorar nossa qualidade de desempenho. Silveira Bueno  editou em 1.958, em 5ª edição, um Manual de Califasia, Califonia, Carritmia e Arte de Dizer, indicando-o “para uso das escolas normais, ginásios oficiais –canto orfeônico e declamação”. A p.190,nos orienta sobre sílabas; Na leitura de versos  é indispensável observar rigorosamente as sílabas dispostas pelo poeta. O guia único e absoluto é o ouvido; na prosa as sílabas são contadas pela maneira de pronunciar; na poesia, pelo modo de ouvir.

O autor de trovas, participando dos concursos , integra-se, rapidamente, ao movimento literário da trova por todo o Brasil e co-irmãos de Portugal. Temos trovadores por todo o mundo e, via internet. Os concursos em língua espanhola tem sido o destaque do momento. Os concursos literários são responsáveis pela integração nacional em torno da Trova . Os trovadores, numa imensa confraria, têm um trabalho cultural, social e turístico através da poesia. Conhecedor do imenso legado que deixaria, Luiz Otávio, reforçava sempre esta mensagem:“ Amor, idealismo, trabalho, disciplina e união eu peço a todos”.

 Nas cantigas de roda, A Barata diz que tem (folclore) ou em músicas populares como a Banda de Chico Buarque sentimos a vida dos sete sons poéticos usados na Trova moderna.
Estava à toa na vida,
o meu amor me chamou,
pra ver a banda passar,
falando coisas de amor 
(Goldstein, 1991,p.8),

Conversando, conversando... é que percebemos pelos  versos falados em sete sons, o poeta que há em cada um de nós.

O que precisamos saber para fazer uma trova? Saber o que é uma trova! Estudar a vida da trova! Sentir que no telúrico nacional. A poesia está presente em tudo. Os bons letristas cantam em versos setissilábicos coisas que tocam fundo a alma e animam nossos sentidos. Ouça  Disparada  na voz de Jair Rodrigues. A letra de Geraldo Vandré, e música de Theo de Barros, explodiu nas paradas de sucesso há quarenta e dois anos depois do festival de MPB. Ouvindo a letra faça a escansão verso por verso e sinta nos heptassílabos, a força poética da forma (rítmo, melodia e expressão -gramatical e poética) e no Fundo (a mensagem, a originalidade e o achado, a comunicabilidade, a simplicidade, a harmonia interna) e podemos vibrar com a importância de cada verso da letra (forma) e a interpretação ( fundo) da produção musical que revela em sua letra importante exemplo da produção poética que tanto bem faz a cultura brasileira. Numa sala de aula, podemos usar o retro-projetor, ou animar em PowerPoint através de um projetor de imagens:
“Pre/pa/re o/ seu/ co/ra/cão/
pras/ coi/sas/ que eu / vou /com/tar/
eu /vê/nho /lá /do /ser/tão/
eu/ vê/nho/ lá/ do/ ser/tão/,
eu /vê/nho/ lá /do /ser/tão/,
e /pos/so/ não/ lhe a/gradar/.

                No www.google.com.br, podemos buscar além do texto a apresentação histórica do festival que ocorreu durante o período militar.

               Diversas outras canções enriquecem o estudo literário, métrico e sonoro das palavras; A Banda de Chico Buarque, Pois é pra quê de Sidney Miller; as cantigas de roda e declamações de Cordel. No site www.professorjuscelino.com.br, o prof. Dr. Juscelino Pernambuco apresenta interessantes análises musicais

                  Discorremos bastante sobre o que é trova e, justamente no nº 1, ano I, 1997, que Trovas & Cantigas nos informa sobre Trova Bonita:

– Evitar duas palavras iguais numa mesma trova, desde que essa repetição, beleza não contribua para reforçar a beleza e originalidade da trova.

– Manter nos três últimos versos o mesmo ritmo do primeiro,evitando assim a quebra do ritmo.

– Evitar sons cacófatos ou  não recomendáveis:

Esperanças sempre dão ( predão, pridão),
Só no amor foi-me ensinado. ( sono),
Toda ilusão que ela tinha. ( latinha)

Observar se os quatro versos da trova guardam, entre si, o sentido completo do tema. Embora a trova esteja bem feita quanto à forma, muitas vezes observa-se  o sentido dos dois últimos versos “ desligados” dos dois primeiros. As trovas comparativas exigem riqueza de imagem e uma boa idéia para serem bem-sucedidas. Ex.:
Minhas netas, sempre rindo,
são meu alegre evangelho.
Musgo verde revestindo,
de esperança, um muro velho.                    
Lilinha Fernandes

As trovas conceituais devem evitar o lugar-comum para não caírem na mera repetição de outros autores. A palavra saudade é a que mais tem sido “vítima” disso.

Também se observa um verso inteiro de outra trova (e de outro autor) sendo costumeiramente repetido por alguém. Não se trata de plágio, mas coincidência ou “traição” do subconsciente. Deve-se  conferir essa situação ao compor uma trova.

É melhor evitar rimas já muito exploradas como amor/dor, vida/querida, lusão/coração, há-de/saudade, alacridade/ saudade, abrolho/olhos, entre outras.

Luiz Otávio deixou, além do Decálogo de Metrificação, um estudo inédito sobre: A Música, O Ouvido e A Metrificação, datado de 2/9/1975, onde destacamos alguns trechos oportunos da trova:Há música em tudo: Música, no sentido dilatado da palavra, é som.

(...) Há música na poesia. Ora, se a Poesia é composta de palavras e se estas possuem sons, naturalmente a Poesia tem música. Bela ou feia,rica ou pobre,agradável ou não, todo verso tem um som. (...) No entanto, se a música de um verso é importante na Poesia, um fator inestimável para seu enriquecimento e valorização; não deve ser tomada como um fim,mas, simplesmente, como um meio. (...) Assim pois, a Música é útil e importante na Poesia, como assessório, como um pormenor da moldura, do quadro e não como a pintura ou a  mensagem poética propriamente dita. É não é só a  música que é um elemento  da moldura poética, que é Forma da Poesia. Na forma teríamos o ritmo conseguido pelas tônicas e pela metrificação, assim como a melodia é conseguida pelas rimas, pelo emprego harmonioso de vogais e consoantes e rejeição de sons duros de cacofonias, de homofonias, etc, E teríamos ainda na forma, na moldura, a música – no sentido de melodia-, da metrificação que é um elemento bem mais peculiar do Ritmo. Embora, em última análise, o ritmo seja um componente da Música. Mas separemos, para melhor entendimento, melodia ( ou linha melódica) e ritmo (dado pelo compasso) ou , no verso, pelas tônicas e pela métrica.Assim, quando me referir à música do verso, estarei falando em melodia, do som, da sonoridade, abstraindo-me, passageiramente, do ritmo (tônicas e métrica)..
               
 Luiz Otávio refere-se ao ouvido e a música; reforça que cada um tem seu gosto musical,

...na Poesia, o ouvido é importantíssimo para a composição de um verso melodioso, para distinguir ou julgar se um poema ou uma trova possuem ou não sonoridade, observando ou ouvindo suas rimas, o emprego harmonioso das vogais e consoantes, a ausência de junções duras, de cacofonias, de homofonias,etc.
         
CONCLUSÃO

Nestes três capítulos desenvolvemos a vida da trova através dos séculos, definindo a diferença que há sobre a trova popular e literária. Trouxemos diversas produções de autores que escreveram a história literária de nosso povo, sabendo que muitos outros poetas aqui não citados têm mensagens que reaparecem como por encanto reforçando a frase: A trova e o trovador são imortais. Sentimos plenamente que está no sistema de educação adotado a reinação literária de nossos autores. Lamentamos aqui que jornais e revistas distanciaram-se da difusão poética e deixamos claro que poesia é arte e que cada artista tem seu estilo, sua percepção de vida. O espírito criativo de nossos trovadores revela-se em todos os gêneros e sentimos que a trova humorística tem um encanto especial. Nela não está presente a maldade, mas a lapidação conveniente ao tema de circunstância.

Nos concursos literários, sob o tema não podemos dizer que são trovas de encomenda, mas endereçadas aos concorrentes, com a finalidade de selecionar as melhores que o momento social oferece. O trovador, como todo artista tem o seu estado de graça, e numa competição literária as melhores trovas saem de acordo com a banca de julgadores. Quanto maior o número de julgadores, melhor a seleção. Não lidamos, mais com a simplicidade das cantigas de roda, mas com a beleza da mensagem que ocupa a forma de 28 sons poéticos tendo na alma a originalidade, comunicabilidade, simplicidade e harmonia. Nas músicas apresentadas, sentimos o cuidado de cada letrista.

Procuremos mais envolvimento com a trova. Busquemos em cada leitura novas fontes mensageiras. Sejamos poetas, sempre! Luiz Otávio, Príncipe dos trovadores Brasileiros deu-nos um movimento literário e turístico. Confraria que promove a interação social dos trovadores com prefeituras, secretarias de educação, cultura, promoção social  e entidades literárias.

Temos que relembrar BELTRÃO (1975,p.21): Nunca existiu no Brasil maior movimentação literária do que a que faz a União Brasileira de Trovadores através dos seus Jogos Florais, iniciados em Nova Friburgo (RG) e seguindo-se-lhe a cidade de Pouso Alegre (MG)

Hoje, dezenas de cidades trabalham em prol da trova, promovendo seus poetas e escrevendo a nova história da literatura brasileira. A grande maioria de escritores com obras registradas na Biblioteca Nacional, ainda, são desconhecidos pelas publicações do MEC

No entanto, anualmente, temos a escolha de livros didáticos e  módulos para-didáticos, sem inovações significativas. BELTRÃO (1975,p.22) reforça:

Daí levarmos  ao conhecimento de todos os professores de português e literatura a existência do Ciclo da Trova, solicitando a inclusão em programas didáticos de um capítulo sobre a Trova, como medida justa e necessária, preenchendo uma lacuna existente nos programas oficiais de português e literatura.

Continua…

Fonte:
Nilton Manoel. A Didática da Trova. Batatais, 2008.

José de Alencar (O Pampa)

Como são melancólicas e solenes, ao pino do sol, as vastas campinas que cingem as margens do Uruguai e seus afluentes! A savana se desfralda a perder de vista, ondulando pelas sangas e coxilhas que figuram as flutuações das vagas nesse verde oceano. Mais profunda parece aqui a solidão, e mais pavorosa, do que na imensidade dos mares.

É o mesmo ermo, porém selado pela imobilidade, e como que estupefato ante a majestade do firmamento.

Raro corta o espaço, cheio de luz, um pássaro erradio, demandando a sombra, longe na restinga de mato que borda as orlas de algum arroio. A trecho passa o poldro bravio, desgarrado do magote; ei-lo que se vai retouçando alegremente babujar a grama do próximo banhado.

No seio das ondas o nauta sente-se isolado; é o átomo envolto numa dobra do infinito. A âmbula imensa tem só duas faces convexas, o mar e o céu. Mas em ambas a cena é vivaz e palpitante. As ondas se agitam em constante flutuação; têm uma voz, murmuram. No firmamento as nuvens cambiam a cada instante ao sopro do vento; há nelas uma fisionomia, um gesto. A tela oceânica, sempre majestosa e esplêndida, ressumbra possante vitalidade. O mesmo pego, insondável abismo, exubera de força criadora; miríades de animais o povoam, que surgem à flor d’água.

O pampa ao contrário é o pasmo, o torpor da natureza. O viandante perdido na imensa planície, fica mais que isolado, fica opresso. Em torno dele faz-se o vácuo: súbita paralisia invade o espaço, que pesa sobre o homem como lívida mortalha. Lavor de jaspe, embutido na lâmina azul do céu, é a nuvem. O chão semelha a vasta lápida musgosa de extenso pavimento. Por toda a parte a imutabilidade. Nem um bafo para que essa natureza palpite; nem um rumor que simule o balbuciar do deserto. Pasmosa inanição da vida no seio de um alúvio de luz!

O pampa é a pátria do tufão. Aí, nas estepes nuas, impera o rei dos ventos. Para a fúria dos elementos inventou o Criador as rijezas cadavéricas da natureza. Diante da vaga impetuosa colocou o rochedo; como leito de furacão estendeu pela terra as infindas savanas da América e os ardentes areais da África.

Arroja-se o furacão pelas vastas planícies; espoja-se nelas como o potro indômito; convole a terra e o céu em espesso turbilhão. Afinal a natureza entra em repouso; serena a tempestade; queda-se o deserto, como dantes plácido e inalterável. É a mesma face impassível; não há ali sorriso, nem ruga. Passou a borrasca, mas não ficaram vestígios. A savana permanece como foi ontem, como há de ser amanhã, até o dia em que o verme homem corroer essa crosta secular do deserto.

Ao pôr do sol perde o pampa os toques ardentes da luz meridional. As grandes sombras, que não interceptam montes nem selvas, desdobram-se lentamente pelo campo fora. É então que assenta perfeitamente na imensa planície o nome castelhano. A savana figura realmente em vasto lençol desfraldado por sobre a terra, e velando a virgem natureza americana.

Essa fisionomia crepuscular do deserto é suave nos primeiros momentos; mas logo após ressumbra tão funda tristeza que estringe a alma. Parece que o vasto e imenso orbe cerra-se e vai minguando a ponto de espremer o coração.

Cada região da terra tem uma alma sua, raio criador que lhe imprime o cunho da originalidade. A natureza infiltra em todos os seres que ela gera e nutre aquela seiva própria; e forma assim uma família na grande sociedade universal.

Quantos seres habitam as estepes americanas, sejam homem, animal ou planta, inspiram nelas uma alma pampa. Tem grandes virtudes essa alma. A coragem, a sobriedade, a rapidez são indígenas da savana.

No seio dessa profunda solidão, onde não há guarida para defesa, nem sombra para abrigo, é preciso afrontar o deserto com intrepidez, sofrer as privações com paciência, e suprimir as distâncias pela velocidade.

Até a árvore solitária que se ergue no meio dos pampas é tipo dessas virtudes. Seu aspecto tem o que quer que seja de arrojado e destemido; naquele tronco derreado, naqueles galhos convulsos, na folhagem desgrenhada, há uma atitude atlética. Logo se conhece que a árvore já lutou à sua nutrição. A árvore é sóbria e feita às inclemências do sol abrasador. Veio de longe a semente; trouxe-a o tufão nas asas e atirou-a ali, onde medrou. É uma planta emigrante.

Como a árvore, são a ema, o touro, o corcel, todos os filhos bravios da savana. Nenhum ente, porém, inspira mais energicamente a alma pampa do que o homem, o gaúcho. De cada ser que povoa o deserto, toma ele o melhor; tem a velocidade da ema ou da corça; os brios do corcel e a veemência do touro. O coração, fê-lo a natureza franco e descortinado como a vasta coxilha; a paixão que o agita lembra os ímpetos do furacão; o mesmo bramido, a mesma pujança. A esse turbilhão do sentimento era indispensável uma amplitude de coração, imensa como a savana.

Tal é o pampa.

Esta palavra originária da língua quíchua significa simplesmente o plaino; mas sob a fria expressão do vocábulo está viva e palpitante a idéia. Pronunciai o nome, com o povo que o inventou. Não vedes no som cheio da voz, que reboa e se vai propagando expirar no vago, a imagem fiel da savana a dilatar-se por horizontes infindos? Não ouvis nessa majestosa onomatopéia repercutir a surdina profunda e merencória da vasta solidão?

Nas margens do Uruguai, onde a civilização já babujou a virgindade primitiva dessas regiões, perdeu o pampa seu belo nome americano. O gaúcho, habitante da savana, dá-lhe o nome de campanha.

Fonte:
Texto extraído de "O Gaucho".

domingo, 19 de agosto de 2012

Hermoclydes S. Franco (Album de Recordações) n. 6


Olivaldo Junior (De Costas Para o Sol)

Pois é, de costas para o sol,
só vejo a lua,
ilustro a rua
com distintas cores,
somos eu, mais meus amores.

Pois é, de costas para o sol,
só vejo estrelas,
anseio vê-las
por diversas horas,
somos eu e tais auroras.

Pois é, de costas para o sol,
só vejo a noiva,
inundo a noite
com distantes órbitas,
somos eu, mais minhas mortes.

Fonte:
O Autor

Pam Orbacam (1970)

Pseudônimo de Paula Miasato, que nasceu em Santo André, São Paulo, em 1970.

Formada em Pedagogia, trabalha, atualmente, como assessora de coordenação e mediadora em oficinas culturais e artísticas de um projeto da Secretaria de Educação e Formação Profissional da Prefeitura de Santo André.

É escritora e artista plástica.

Teve artigos publicados em sites literários e da Prefeitura de Santo André: Teve a publicação de um poema na “Agenda Cultural de Santo André”.

É prêmio prata no concurso internacional de poesias José Lins do Rego 2007.

Foi expositora individual de artes plásticas na 1ª Jornada de Ações Sociais ABCD Maior.

Foi brevemente convidada a participar de três antologias com poemas e mini-contos pelas editora Andross e Câmara Brasileira de Jovens Escritores.

'Participação no CD 'Todos por Um' com as obras "Minha Morte" e "Alguma Coisa Assim", produzido pela ARCA - Associação Ribeirãopirense de Cidadãos Artistas.

Fonte:
Saciedade dos Poetas Vivos n.6

Pam Orbacam (A Poetisa em Xeque, por Carmo Vasconcellos)

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever ?

PAM ORBACAM - Sou educadora não por opção, por mero acaso, por questão de sobrevivência mesmo. Escrevo para viver, não para sobreviver. Amo arte, sou artista plástica autodidata, poeta e contista.

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário ?

PAM ORBACAM - Meu pai tinha uma estante cheia de livros dentro de casa. Ele tinha muito orgulho deles. Eu adorava fuçar na estante. Ainda não sabia ler, mas fazia de conta que lia. Quando aprendi a ler percebi que meu mundo poderia ser de papel. Meu mundo não foi, mas minha vida é.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País ?

PAM ORBACAM - Pode parecer descaso, mas não é. Simplesmente não tenho idéia de quantos livros participei. Guardo na memória ?"Vide Verso" e "Saciedade dos Poetas Vivos". Números e nomes não têm importância para mim. Gosto mesmo é de escrever no meu blog. La estou em casa.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesia ?

PAM ORBACAM - Noite, Silêncio, definitivamente. A felicidade não provoca em mim inspiração. A dor e o cotidiano sim.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira ?

PAM ORBACAM - Clarah Averbuck, Pearl S. Buck, Nilo Oliveira, Rubem Fonseca. Olavo Bilac, Augusto dos Anjos, Fernando Pessoa.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?

PAM ORBACAM - Escrever é um exercício de prazer, de descoberta, de aprimoramento. Escreva, escreva, escreva. Leia, leia, leia. Releia. Escreva. Um dia uma aluna minha de nove anos me perguntou: Como faço para escrever uma poesia? Eu disse: Pense em coisas que vocÊ gosta, em coisas que você odeia. Escreva sobre elas. Ela escreve coisas belas, leves, pesadas, como é a vida. Adoro "Lê-la". Poesia é leveza e intensidade, desmedidamente na medida certa.

Fonte:
http://4.bp.blogspot.com/_LeZahUxRZc4/TBzjX9nSGDI/AAAAAAAABrQ/MLGvzCDM3oc/s1600/PAM3.jpg

Pam Orbacam (Cavalgada de Poemas)

ACIDEZ

Verdade cítrica
Saliva a boca
Num prazer agro.
Sorriso oculto
Nos olhos críticos
Do que profere.
Não é um teste
É tão somente
O deleite que dói
O que equilibra
Ou desequilibra,
O que confirma
Que fato e medo
São insolúveis.

ANALOGIA

Onde o sol jaz
E as palavras se dissimulam
Não há calor.
O juízo trepida
O olho entorpece
E a carcaça teima posicionar-se na vertical.

Onde a lua reverencia o escuro que a cerca
E as estrelas são velas caravelas
Que navegam sem discernimento
O frio abraça doce.
E eu amo.

Penso que estou
Imagino que sou
Porque se fosse
Jamais amaria
Por isso a certeza voraz que
Tudo não passa de falsa identidade.

APELO

Vinhas
Rosa e quente
Úmida e latente.
Vias
Entre cílios e pupilas
Saliva e lágrima.
O cálice seco,
A vulva molhada.
Hálito de vinho
Sussurrava
Apelo.

BORBOLETARIA

Se hoje minha vida secasse
E se ninguém se importasse
No dia seguinte eu borboletaria.
Faria vibrar o ar com minhas asas
E viveria apenas alguns dias.
Beijaria tenras flores,
Assistiria o mundo lá de cima
Desceria somente quando a fadiga chegasse...
E se, o cansaço fosse exorbitante
De tal forma que eu não conseguisse mais voar
Aí então eu mais uma vez eu morreria.
Sob a luz das estrelas, eu secaria.
E de fato ninguém perceberia
Porque ninguém se preocupa com as borboletas
Apenas cobiçam a sua liberdade.
Por isso eu borboletaria.

CASULO

Viver em silêncio. Doce silêncio.
Ruído nenhum. Nem luz, nem sombra.
Só a brisa do tempo.
Olhos fechados, assim como o corpo.
Silêncio sem movimento.
Sem fome, sem sede. Sem ninguém que abale meu terno silêncio.
Doce silêncio, doce sono, só sonhos...
Sonhos de um sono só.
Sozinha em minha cama, eu: pós lagarta, pré borboleta.

CHUVA

Chove.
Eu olho para o céu
Pescoço em seta
E não vejo de onde ela vem.
Brota no ar a chuva
Ou esconde sua nascente?
Molha ela meus olhos
Para que eu não a veja surgir?
Lacrimeja o céu em meus olhos
E me cega para sua raiz.

LABIRINTO

Luz e sombra... Encanta e cega.
Labirinto com espelhos.
Desnorteia...
Luz que não se apaga,
Sombra que abala o chão.
Calor e frio:
Quando quente, acolhe,
Quando frio, aparta.
Multidão e solidão.
Dia e noite.
De dia exposto
De noite, fetal.
Na multidão, acessível
Na solidão, comprimido.
O dia não existe,
Á noite é o parto.
Da nascente
Do sono profundo.
Encanto e desencanto
Lembrança e saudade
Amargura e doçura
Que assassina e ressuscita.
Ódio intenso sem tamanho.
Carinho imenso sem medida.
Audaciosa carência escondida
Em envelope sem destino.
Labirinto sem saída...
Caminho com curvas, muralhas,
Espelhos que iludem
A inexistente saída.
Voz que ordena,
Mãos que oferecem
Tortura e afago.
Boca que cala,
Olho que fala...
Eco no labirinto que
Enlouquece os sentidos.

LUZ

O cheiro e a umidade deixaram saudades.
O cheiro e a umidade agora se foram
E o rosa tão rosa das rosas agora é pálido
Como um anêmico crônico na ânsia por sangue fresco e quente,
Embora as borboletas nadem com sincronicidade no ar,
Embora as estrelas continuem a iluminar o céu,
Mesmo que mortas, mesmo que mortas.

O BEIJO

Basta.
Um toque úmido
É o beijo que aquece e
Em instantes morre.
Gela e seca a boca.

Diz adeus ao frio que corre
Dentro do peito,durante o beijo.
Diz adeus quando se acaba.
E o calor vai embora,
E a saliva evapora.
Um segundo na lembrança
Que se transforma em horas.

Ele basta,
É vida e morte,
Ressuscita e assassina,
Encontra e perde,
Aquece e gela,
Molha, seca,
Porém basta,
Por si só,
O momento do beijo.

O POETA

O poeta segurou minhas mãos
Abriu meus olhos
Espremeu meu coração.
O poeta secou minhas lágrimas
Molhou meu sexo
destrancou meu pensamento.
O poeta sugou meus olhos
Bebeu meu coração
Comeu minha alma.
O poeta assassinou
para fazer ressuscitar.

TRANCAS

Porque a porta
É o horizonte obsessivo
E o café coado
Ferrão da boca amante
Secreções
Sentidos semi-serrados
Onde se perdem as chaves
E o café cheira queimado.

Fontes:
http://4.bp.blogspot.com/_LeZahUxRZc4/TBzjX9nSGDI/AAAAAAAABrQ/MLGvzCDM3oc/s1600/PAM3.jpg
http://www.blocosonline.com.br/literatura/poesia/obrasdigitais/saciedigpv/06/pamorbacam03.php#borboletaria

Marco Antonio Orsi

MARCO ANTONIO BAPTISTA ORSI, nascido e criado no Rio Grande do Sul, na cidade de Campo Bom, pequeno município da Grande Porto alegre.

Perdeu seu pai aos 6 anos de idade e foi criado pela mãe e 5 irmãs. Caçula da família.

Estudou no Colégio Idelfonso Pinto, da rede pública, fez o segundo grau (Cientifico) em dois colégios. Cursou também o Curso Técnico de Contabilidade.

Formou-se em Matemática pela Universidade do Vale dos Sinos, na qual também lecionou por mais de 30 anos.

Lecionou Matemática, Física e Estatística em vários Colégios. Iniciei sua carreira de professor aos 19 anos de idade e foi professor somente.

Como sempre amava o canto, frequentou escola de canto quando jovem.

Sempre gostava de escrever, desde os seus 7 anos de idade era sempre escolhido para declamar poesias nas festas da escola e daí criando um amor pela poesia.

Escrevia esporadicamente artigos para jornais, depois é que voltou seus olhos para a poesia. Versejador, aprendiz de poeta, iniciou em 2002 e na internet é que deu asas a essa vocação.

Fonte:
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br/2012/07/marco-antonio-orsi-entrevista-n-416.html

Marco Antonio Orsi (O Poeta em Xeque, por Selmo Vasconcellos)

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever ?

MARCO ANTONIO ORSI - Escrever é para mim uma distração muito prazerosa. Gosto muito de cantar, tenho um site de músicas www.marcors.com.br, tenho uma pagina no Youtube “orsi650” e um Canal no YouTube.

Por incrível que pareça sou Professor Universitário de Matemática, Física e Estatística, completamente avesso as letras...

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário ?

MARCO ANTONIO ORSI - Sempre gostei de escrever, já quando estudava no curso primário era sempre solicitado para declamar poesias nos eventos da escola e dali já começava a ensaiar meus primeiros rabiscos.

Mas, realmente vim me dedicar a poesia aqui na Net, iniciei em 2003, escrevia artigos em jornais esporadicamente.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados ?

MARCO ANTONIO ORSI - Não tenho nenhum livro solo publicado, tenho dois em andamento.

Participei da Antologia da Alma VI volume, e fui escolhido entre os melhores da poesia de 2011, que originou uma publicação.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesia ?

MARCO ANTONIO ORSI - Gosto de dizer que sou mais um menestrel, um versejador do que um poeta, contudo, escrevo sobre tudo, principalmente elevo ao máximo o amor. Busco inspiração no quotidiano.

Não posso negar que muitas situações propiciam a confecção de um poema, uma musa, um amor desfeito, um novo amor, além da própria inspiração inata.

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira?

MARCO ANTONIO ORSI - É difícil citar autores, já que existem tantos e excelentes, mas tenho uma admiração muito grande por Luiz de Camões, Castro Alves, Casemiro de Abreu, Mario Quintana, Pablo Neruda e tantos outros, muitos do próprio virtual. Aqui existem ótimos poetas dos quais sou fã incondicional.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?

MARCO ANTONIO ORSI - Para os poetas novos e para todos eu deixaria uma mensagem simples e objetiva: Jamais permita que pereça o romantismo, isso eu acho fundamental.

Fonte:
http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br/2012/07/marco-antonio-orsi-entrevista-n-416.html

Marco Antonio Orsi / RS (Poemas Sem Fronteiras)

TEATRO DA VIDA

São abismos de sonhos onde caio lentamente,
que nem chego a sentir como são profundos.
Tão inconseqüentes diante desse nosso mundo,
que se revela mais promíscuo e decadente.

Até quando serei apenas um mero figurante,
desse teatro burlesco encenado todo o dia?
Em qual dos atos encontrarei a minha alegria?
Tal qual o palhaço neste cenário ambulante.

Sei que saio de cena cada vez que eu desperto,
deste sono invulgar, que invoca a nostalgia,
pois, quando olho em minha volta está deserto.

São os pesadelos que contemplam a fantasia,
de que possa ser, entre muitos, o mais esperto,
entretanto, no fim o que encontro é melancolia.

O ANJO MULHER

Não sei bem como, mas notadamente usas,
perfeitas palavras crescentes, em profusão.
Expões tu’ alma e não escondes o teu coração,
e, ainda por cima, com tua beleza abusas...

Vais ao rumo do amor e não ficas confusa.
Concedes a vida bem mais do que emoção.
Nunca aos que te cercam mostras desilusão.
És mulher de escol, e de alguns poetas, musa.

Confortas o fraco, sem deixar de enaltecer
os fortes que te cercam, para ter o carinho
o qual, jamais negas a quem o pretender.

Às vezes, penso que és um anjo que sozinho,
perambulas na terra, por teu proceder.
Consolas a todos que cruzam teu caminho.

CRIANÇAS INOCENTES

Somos cúmplices neste amor,
Que nos devora a alma e clama
Ao corpo por uma ardente chama,
Que nos envolva com todo o calor.

Quem poderá a nós argumentar,
Da inconveniência dessa paixão,
Que arde e queima de excitação,
E que expõe todo o nosso desejar.

Como saídos de um novo ritual.
Insinuamos passos envolventes,
Buscando, a rigor, outro visual.

Neste delírio estamos coniventes,
Envoltos que somos ao natural,
Parecemos crianças inocentes.

SIMBIOSE VIRTUAL

Tu vives em mim, como eu vivo em ti,
nesta simbiose insana e virtual.
Postulamos da vida, cada qual,
poder ficarmos para sempre aqui.

Somos pioneiros da ordem que vi,
desabrochar num plano digital.
No início parecia ser irreal,
Mas, agora, acredito no que li.

Amamos e vivemos por anseios.
O ciúme acelera a impaciência.
E rodamos em meio a devaneios.

A cibernética criou um mundo,
onde o espírito supera a aparência,
e vive-se uma vida num segundo...

MENSAGEM DE AMOR

Esqueças que é mulher,
pois és uma flor.
Esqueças também,
de como eu sou,
e assim poderás
saber aonde estou,
quando receberes
esta minha mensagem
de amor.
Escuta a minha voz,
pausada e calma,
que vai do meu,
ao teu coração.
É uma mensagem
de amor, que mostra,
uma grande paixão,
transmitindo com calma,
o meu amor a tua alma.

SINGELO PRESSÁGIO

As asas douradas, o perfume agreste,
d'aurora celeste, que o vento me traz.
Suspiro profundo, minha ânsia incontida
pelo tempo retido, que já não vem mais.
Restou tão somente meu olhar antigo,
tal como um amigo que ficou para trás.
Relíquias do tempo, antigas saudades
que tem na verdade seu refúgio capaz.
Singelo o presságio dessa esperança,
como uma lança em meu peito cravou.
Deixou meus sonhos ao pé do caminho,
e o teu carinho o vento levou.

ALMA ALFORRIADA

A alma é do sonho uma prisioneira,
que clama por amor e liberdade,
quer ficar junto da felicidade,
e assim tornar-se sua companheira.

Mesmo que isso lhe traga ansiedade,
procura com afinco outra maneira,
pra poder chegar e ser a primeira,
num patamar onde ninguém invade.

Ecos, visões a tornam dependente,
Da chegada de um novo anoitecer,
Tornando-a mais uma penitente.

Talvez ela possa reconhecer,
a trilha que a tornará finalmente,
alforriada do seu padecer.

LENDA DA PAIXÃO

Ele foi caminhando por entre os túmulos silenciosamente,
pouco a pouco, sua memória voou, percorreu todo espaço.
Então, de repente, ele sentiu como se estivesse nos braços,
de sua inesquecível amada. E continuou, vagarosamente.

Foram amantes, muito antes, no tempo em que o romance,
perseguia àqueles que queriam viver mais do que fantasia.
Em lentas passadas, percorreu para onde ele mais queria,
ao encontro daquela que amou com inacreditável alcance.

Haviam, eles vivido, bem mais, do que uma ligação amorosa,
Viveu um épico, no qual o amor foi a sua figura principal.
E agora, mostrava-se como uma lenda, essa paixão sensual,
Porém, à época fora, sem duvida, uma das mais ardorosas.

Aos poucos ele se recupera e começa a voltar ao seu normal.
Com as mãos alisa seus brancos cabelos de forma vagarosa,
Dá-se conta, que o tempo passou com velocidade assombrosa.
Olha em volta e percebe que logo, logo, estará com ela, afinal.

PONTEIROS FEITICEIROS

Vou abrir as janelas d'alma,
e deixar o vento entrar,
para dar-me a calma
da qual eu vou precisar,
para o tempo incessante,
deixar-me mais confiante
quando a luz no ocaso brilhar.
Posso guiar-me pelas estrelas,
e as minhas amarras soltar,
e ainda que não possa vê-las,
sentir a tranqüilidade do ar.
Levo comigo o vento,
as lembranças e o sentimento,
que só de longe vi passar.
Canto o silêncio agora,
onde os sonhos não se calam.
E busco nas retinas, na hora,
em que as imagens não se apagam.
Mas, o tempo com seus ponteiros,
movendo-se como feiticeiros,
por meus pensamentos falam.

PORTO DAS ALMAS
Vens buscar-me em teu barco,
para navegarmos mar a fora?
Ah, com meus conhecimentos parcos,
como eu te entendo agora.
Porque fazias tantas juras de amor,
e depunhas-te assim a meu dispor,
mesmo antes de irmos embora.
Por que em meus braços tremias,
somente hoje que eu entendi.
Pois de grande paixão padecias,
tal qual um desamparado colibri.
Procuravas beijar a cada flor,
na busca do alimento do amor,
que era vital para ti.
Não fiques mais preocupada,
pois vou contigo navegar.
Tomes o leme do teu barco
quem sabe nós poderemos chegar,
por águas tranqüilas e calmas,
a um porto, onde todas as almas,
resolveram habitar.

A ÚLTIMA ROSA VERMELHA
 
Ofereço-te esta última rosa vermelha,
na hora da minha definitiva partida.
Guarde-a e deixe que fique esquecida,
como a fonte donde o amor se espelha.

Já nada mais tenho para te oferecer,
foi tudo arrasado pelo furor da vida,
e de roldão levou os sonhos na saída,
deixou apenas a marca do meu sofrer.

Um vento forte, tal como um furacão,
varreu as plagas verdes e os caminhos,
onde andamos levando nossa paixão.

Agora sigo nessa trilha, de mansinho,
levando comigo o meu velho coração,
cansado da luta, que eu travei sozinho.

Fontes:
1 - http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com.br/2012/07/marco-antonio-orsi-entrevista-n-416.html
2 - http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=7195&categoria=Z

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 642)

Uma Trova de Ademar 

Vendo o navio ancorado
e o lindo sol quase posto,
sinto, lembrando o passado,
uns pingos d’água em meu rosto..
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional 


Se caem do céu as águas
com tanta beleza e encanto,
por que desencanto e mágoas
há nas águas do meu pranto?
–Maria Conceição Fagundes/PR–

Uma Trova Potiguar 


Até o coração, se oprime,
ante ao intenso fulgor,
do sentimento sublime,
de uma carícia de amor...
–Fabiano Wanderley/RN–

Uma Trova Premiada 


2000  -  Pouso Alegre/MG
Tema  -  PASSADO  -  1º Lugar


Eu sinto, com desconforto,
que ainda sou teu vassalo:
nosso passado está morto,
mas não consigo enterrá-lo!
–Wanda de Paula Mourthé/MG–

...E Suas Trovas Ficaram 


Quando não vens, na ansiedade
desses momentos perversos,
vem a musa da saudade
pôr mais saudade em meus versos!
–Aloísio Alves da Costa/CE–

Uma  Poesia 


Poeta canta o que pensa
das coisas de um casarão,
onde a sombra do oitão
chega sem pedir licença;
o queijo feito na prensa
riquíssimo de proteína,
a tocha da lamparina
triste no canta da mesa
-Não há quem negue a beleza
da poesia nordestina.
–Pedro Ernesto Filho/CE–

Soneto do Dia 

SONETO DA SEPARAÇÃO.
–Vinicius de Moraes/RJ–


De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Sheila Pavanelli (Poemas Escolhidos)

DESPEDAÇOS

foram tantos corações
sete agrados
onze fados
amores endiabrados

onze argolas de prata
nos braços errantes
acenos e despedidas
barcos já distantes

lenços muito brancos
tremulando na janela
vidros soltos e quebrados
onze destinos acabados

recolho os pedaços
os lençóis desarrumados
espero o esquecimento
neste porto abandonado

restou a esperança
alguns traços da paixão
leves despedaços
deste forte coração

FERA

sai... solta
macias patas
agudos olhos
fera de mim

feita em fogo
caminha... cresce
dança com o vento
doma o pensamento

rosna... inquieta
volteia o dorso
crava-me as unhas
rasga meu vestido
torna-me nua

mulher de mim mesma
tremo...
fera liberta
entrego-me ao fogo

OLHA-ME

Olha-me nos olhos

tece o veludo
da tua fala
olhando-me
nos olhos

assim quero conhecer-te

desfia as dobras
da mousseline
e desvela
meus segredos

deixa nossos corpos se entenderem
a alma não
a saciedade do nosso desejo
a alma não entenderia…

OLHOS DE GATO

se eu quiser...

te espio na noite
quando tu dormes,
rondo teu sono
com olhos de gato.

se eu quiser...

persigo em silêncio
todos teus passos
ouço teus suspiros
adivinho teus desejos
na noite...

se eu quiser,
com olhos de gato.

RIMAS E RAIOS

Não me peças versos
nem rimas
hoje não!
talvez amanhã

Tenho a boca em agulhas
os punhos cerrados
o peito em guerra
hoje firo
hoje mato

Tenho os raios
como pena
não queiras minha rima
hoje escrevo
as feridas dos punhais

Das flechas
desta vida
estou arqueira
hoje eu quero
desforrar

Tenho garras
em meus dedos
prendo,rasgo
tudo posso
tudo ataco
estou revolta

Quero o porre
a sorte
a morte
rimar? hoje não

Quero as tabernas
o vinho
as vadias
cafajestes
a ralé toda!

A vida nos porões
paixão detrás dos corpos
quero a vida nua
explodindo
em relâmpagos

rimar?
hoje não
talvez amanhã

SERPENTES

Domo feras e serpentes
numa luta íntima
de encanto
e fados

Meu corpo é coliseu
tua voz macia
incita as feras
à luta...

Bailam as serpentes
no meu corpo
quem vence
é tu…

PEDRAS

Vamos...
atire-me pedras !
me chame inconstante
eu sorrio
o riso distraído
das amantes

Enquanto lapidas pedras sem brilho
sou aquela abandonada
sem ternura
que rola na mão bruto diamante
dos amores perdidos

Aranha eu
teço minha teia
traço meu labirinto
com espinhos
e sobras do amor
porque sou em desatino

Suas pedras são para mim, estrelas
esferas sem lei
o sonho ou  sol
essência do que sou
a angústia com que te afogas

Atire-me pedras, companheiro
pois tem a alma dura
nunca caminhará comigo
porque nesta vida eu prossigo,
...Tu ficas!!!

Fontes:
1 - http://www.blocosonline.com.br/literatura/autor_poesia.php?id_autor=2786&id_categoria=337&flag=nacional&tipo=c
2 - http://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=1125

Carmen Cardin (A Escritora em Xeque por Selmo Vasconcellos)

SELMO VASCONCELLOS - Quais as suas outras atividades, além de escrever ?
CARMEN CARDIN - Além de escrever, sou professora e assessora administrativa.

SELMO VASCONCELLOS - Como surgiu seu interesse literário ?

CARMEN CARDIN - Escrevo desde os nove anos de idade. Desde que me entendo por gente, amo poesia! Entretinha-me nas horas vagas, nas tardes ensolaradas, debaixo de uma amendoeira, lendo Fernando Pessoa, Gonçalves Dias, Fagundes Varela e Augusto dos Anjos. Adoçava-me o espírito perceber a beleza incutida na nuvem perfumada dos seus versos. Essa aragem refrescava-me a alma e revigorava-me os sonhos nas tórridas tardes de um subúrbio carioca.

SELMO VASCONCELLOS - Quantos e quais os seus livros publicados ?

CARMEN CARDIN - Em antologias e coletâneas poéticas, além de sites e blogs há diversas publicações ilustrando a poesia de Carmen Cardin, que possui um acervo que ultrapassa os seiscentos poemas. Ultimamente, na XV Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro lancei "Atalho Para O Banquete" - Poesia - 80 páginas - Oficina Editores.

SELMO VASCONCELLOS - Qual (is) o(s) impacto(s) que propicia(m) atmosfera(s) capaz(es) de produzir poesias?
CARMEN CARDIN - A aspiração - diuturna - de sonhar e idealizar, o "ser, enquanto poeta" e o "poeta enquanto ser" são a evocação natural que norteia minha existência. As pessoas costumam dizer que isso ou aquilo são a sua segunda natureza... A Poesia é a minha única natureza, portanto, ela é o meu espírito incorporado em palavras, lampejos efetivamente reais do meu ser! Não há uma necessidade de se escrever: há uma naturalidade. Penso, logo versifico!

SELMO VASCONCELLOS - Quais os escritores que você admira ?

CARMEN CARDIN - Além dos poetas acima citados, nutro profunda e absoluta admiração por Victor Hugo que, na minha opinião, é único. Aprecio, asseveradamente, Sthendall, Flaubert, Baudelaire, Schoppenhauer, Gibran Kalil Gibran, Saramago, Neruda, Borges, Shakespeare, Voltaire, Goethe, García Marques.

SELMO VASCONCELLOS - Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas ?

CARMEN CARDIN - Ler, acima e antes de tudo, para tentar entender a si mesmo, isso é pontual. Se pretende obter lucros com a literatura, pode esquecer. Deve ser um ideal e não um objetivo comercial. Mas, eu acredito, se você escrever, efetivamente bem, o sucesso será uma consequência natural desse sacerdócio. Ame primeiro, escreva depois.Mas, não desista jamais!

Fonte:
1a. Antologia Poética Momento Lítero Musical