sexta-feira, 7 de junho de 2013

Vírgula

Vírgula pode ser uma pausa... ou não.

Não, espere.
Não espere.
 
Ela pode sumir com seu dinheiro.
23,4.
2,34.
0,234...

Ela pode ser autoritária.
Aceito, obrigado.
Aceito obrigado.
 
Pode criar heróis.
Isso só, ele resolve.
Isso só ele resolve.
 
E vilões.
Esse, juiz, é corrupto.
Esse juiz é corrupto.
 
Ela pode ser a solução.
Vamos perder, nada foi resolvido.
Vamos perder nada, foi resolvido.
 
A vírgula muda uma opinião.
Não queremos saber.
Não, queremos saber.
 
A vírgula pode ser ofensiva.
Não quero comprar seu porco.
Não quero comprar, seu porco.
 
Uma vírgula muda tudo.
Detalhes Adicionais
SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.
Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.
Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.

Fonte:
Fábulas e Contos

Jakob e Wilhelm Grimm (O Pássaro de Ouro)

Era uma vez, há muito tempo, num reino distante, havia um rei que tinha um pomar muito belo nos fundos de seu castelo. Nesse pomar havia uma árvore que produzia maçãs de ouro muito deliciosas. Quando as maçãs amadureciam eram contadas uma a uma. Certo dia o rei notou que faltava uma maçã e então deu ordem para que todas as noites alguém ficasse vigiando a macieira.

Esse rei tinha três filhos, príncipes herdeiros, e então enviou o maior deles, ao cair da noite, a vigiar o pomar e a árvore; porém, antes da meia-noite o jovem não se conteve de sono e adormeceu profundamente. Na manhã seguinte, ao despertar, notou que faltava uma maçã. Na noite seguinte o rei enviou o filho do meio a vigiar o pomar. E da mesma forma este não teve melhor sorte que seu irmão mais velho. Adormeceu antes mesmo da meia-noite e, quando despertou na manhã seguinte, notou que faltava uma maçã na árvore.

Terceira noite. Chegou a vez do menor, do caçulinha cuidar do pomar. O rei, porém, não botava muita fé no menorzinho e achava que aconteceria o mesmo com ele, e que não teria melhor sorte que seus irmãos mais velhos, motivo pelo qual não queria deixá-lo ir. O jovem, porém, pediu, implorou e insistiu tanto que o seu pai acabou consentindo. Então o caçula postou-se debaixo da árvore, ficou alerta, em vigília, e não deixou que o sono o vencesse. Ficou de olhos bem abertos e vigiando a macieira.

À meia-noite, como era noite enluarada, ele ouviu um grande barulho no ar e viu um grande pássaro voar ao redor da árvore - suas penas eram de ouro puro e brilhavam sob a luz do luar. O pássaro pousou na macieira e bicou uma maçã. Ao fazer isso o príncipe-caçula pegou o estilingue e atirou-lhe uma pedra. O pássaro voou com a maçã no bico mas, atingido na cauda, deixou cair uma pena dourada.

 Na manhã seguinte o caçula levantou-se, pegou a pena e levou-a ao rei seu pai e contou-lhe o que vira durante a noite. O rei então reuniu os sábios do seu reino e todos foram unânimes em dizer que uma pena de ouro daquelas era raríssima, mais cara que todo o seu reino. Então o rei lhes disse:

"Se uma pena assim é tão valiosa, então de nada me adianta ter apenas uma pena dourada. Eu quero o pássaro todo, vivo."

No dia seguinte o pai chamou o filho mais velho e enviou-o em busca da ave. Ladino, pôs-se a caminho em busca do pássaro de ouro, acreditando que logo o acharia. Mal havia andado alguns quilômetros quando, ao entrar em uma floresta, viu uma raposinha à beira do caminho.

Preparou a espingarda e mirou. A pobre raposinha suplicou:

"Por favor, não me mate. Eu vou lhe dar um bom conselho: Você está em busca do pássaro dourado, não é mesmo ?  Pois bem, hoje à tarde, antes mesmo do por do sol, você irá chegar a uma aldeiazinha. Logo na entrada, na primeira rua dessa aldeiazinha você verá duas pensões - uma diante da outra. Uma delas estará toda iluminada e com música alta. Lá só tem folia e algazarra. Não entre nessa não. Vá à outra, do outro lado da rua, mesmo que ela tenha um aspecto horrível – mas essa é boa."

 E o príncipe pensou consigo:

"Só se eu fosse muito bobo pra seguir um conselho dessa raposa tola...”

E assim pensando, apertou o gatilho da espingarda mas errou o alvo e não acertou a raposinha que esticou a cauda e os pelos e correu para dentro da floresta. Então o príncipe continuou seu caminho. Ao cair da tarde, chegou a uma aldeiazinha onde havia duas pensões, uma em frente da outra.  Numa delas, só música, festa, folia e bagunça e, na outra, silêncio e um aspecto não muito agradável aos olhos.

 E pensou consigo:

"Eu seria um tolo se eu me hospedasse naquela espelunca feia que mais parece uma favela e cemitério...”

E assim dizendo, entrou na casa onde imperava a bagunça e a folia. E viveu a vida comendo e bebendo, dançando e gastando tudo.  Esqueceu-se do pássaro, do seu pai e de tudo de bom que havia aprendido.

 Como o tempo se passou e o filho mais velho não retornava, o pai enviou o filho do meio. Este se pôs a caminho em busca do pássaro dourado.  E, da mesma forma como acontecera com o seu irmão mais velho, encontrou a raposinha à beira do caminho, a qual deu-lhe conselhos. Porém ele não a ouviu. Chegando àquela aldeiazinha viu, pela janela da casa de folia, seu irmão bebendo e dançando. E lá dentro só algazarra. Seu irmão o chamou. Ele entrou e também levou a vida só no bem-bom.

 Passou-se o tempo e, como nenhum dos dois irmãos retornava, o caçula quis partir em busca do pássaro de ouro, porém seu pai não botava fé nele e não queria deixá-lo partir. Então o rei, seu pai, falou-lhe:

 "É inútil. Se seus irmãos não encontraram o pássaro dourado, você não terá melhor sorte... Você é muito pequeno... “

E tanto insistiu, e implorou o caçula que o rei, seu pai, acabou consentindo na sua partida.

  No caminho, logo na entrada da floresta, o príncipe-caçula encontrou a raposinha a qual disse-lhe que se não a matasse ela lhe daria bons conselhos. O caçula gostava de animais e adorou a raposinha, e disse-lhe:

"Fique tranqüila, raposinha bonitinha, eu não vou causar-lhe mal algum... Eu não vou matar você não..."

E a raposinha disse-lhe:

 "Meu nome é Sabedoria. Seguindo meus conselhos você não irá se arrepender... E para que você chegue mais depressa, suba às minhas costas."

 Nem bem o jovem havia subido às costas da raposinha esta correu como um raio, passando sobre paus e pedras, até que chegaram àquela cidadezinha. O jovem príncipe desceu e, sem olhar para os lados, seguiu o bom conselho da raposinha. Pernoitou na casa feia, porém sossegada e limpa por dentro; e adormeceu tranqüilamente.

 Na manhã seguinte, ao prosseguir seu caminho, deparou-se novamente com a raposinha à beira do caminho, a qual lhe disse:

"Eu quero continuar lhe ajudando, aconselhando e dizendo o que você deve fazer. Vá sempre em frente, direto e reto, sem olhar para os lados, até que você irá chegar a um castelo diante do qual há um batalhão de soldados, deitados. Mas não se preocupe, pois todos eles estão dormindo e roncando. Passe por entre eles, entre no castelo e vá até o último quarto. Dentro desse quarto você irá encontrar o pássaro dourado dentro de uma gaiola velha, de madeira, pendurada na parede. Ao lado dessa gaiola de madeira estará uma outra gaiola, de ouro maciço, porém vazia; tome cuidado ! Não pegue o pássaro de ouro e o coloque na gaiola dourada. Se você fizer isso algo de mal irá lhe acontecer...."

Após dizer-lhe essas palavras, a raposinha abaixou-se, o jovem príncipe subiu-lhe às costas e esta correu tanto que até o vento zunia e assobiava.

 Chegando ao castelo o caçula encontrou tudo conforme a raposinha lhe havia dito. O príncipe foi até o quarto onde o pássaro dourado estava dentro de uma gaiola de madeira. Notou que, ao lado, pendurado na parede, havia uma gaiola de ouro.

Então ele pensou:

“Até parece uma piada.... Já pensaram ! Eu levar um pássaro de ouro em uma simples gaiola de madeira e deixar aqui uma gaiola de ouro...??? Brincadeira, né???... . “

Assim pensando, abriu a gaiola de ouro e colocou o pássaro dourado nela.

No mesmo instante o pássaro dourado começou a piar e a  graznar muito forte e alto acordando todos os guardas do castelo, e fugiu da gaiola. O guardas do castelo entraram correndo no quarto, prenderam o príncipe-caçula e o lançaram na cadeia.

 Na manhã seguinte ele foi levado a julgamento e condenado à morte.  Porém, o rei daquele castelo disse-lhe que poderia dar-lhe uma chance e salvar-lhe a vida se lhe trouxesse o cavalo de ouro e de crina branca, o qual era mais veloz que o vento; e, ainda por cima, poderia ganhar de presente o pássaro e a gaiola de ouro.

 Triste e desconsolado o príncipe pôs-se a caminho.  Mas, onde encontrar o cavalo de ouro ?  Pensando nisso ele viu sua amiga raposinha, à beira do caminho, a qual lhe disse:

"Viu só ? Eu não lhe falei ?? Você não seguiu meus conselhos... Tudo isso lhe aconteceu porque você não deu ouvidos aos meus conselhos... Mas, coragem. Você terá outra chance. Eu vou lhe mostrar como conseguir o cavalo dourado. Você deve seguir direto e reto esse caminho, sem olhar para os lados nem para trás, até que você irá chegar a um castelo onde encontrará o cavalo dourado em um estábulo. Diante do estábulo você verá, deitados, muitos guardas, mas não se preocupe, pois eles estarão dormindo e roncando. Passe por entre eles, entre na estrebaria, pegue o cavalo e parta a galope. Mas, cuidado ! Coloque sobre ele a sela feita de madeira e couro e não a feita de ouro que estará pendurado ao lado, senão algo de ruim irá lhe acontecer..”.

 Após dizer-lhe essas palavras, a raposinha abaixou-se, o jovem príncipe subiu-lhe às costas e esta corria tanto que até o vento zunia e assobiava.  Chegando ao estábulo o caçula encontrou tudo conforme a raposinha lhe havia dito. Foi até onde o cavalo de ouro estava, com uma sela de madeira e couro.  Pendurada, ao lado, havia uma sela de ouro puro.

Então ele pensou:

“Até parece uma piada.... Já pensaram ! Eu levar um cavalo bonito e alazão como esse com uma simples sela de madeira e couro velho?? ... E deixar aqui uma sela novinha de ouro???   Brincadeira, né ?? ... . “

Assim pensando, rechaçou a sela velha e colocou a de ouro no alazão. No mesmo instante o cavalo começou a relinchar tão alto e forte que acordou todos os guardas do castelo, os quais vieram e prenderam-no levando-o diante do rei.

Depois o jovem príncipe foi posto na cadeia.

 Na manhã seguinte ele foi levado a julgamento e condenado à morte. O rei daquele castelo, porém, disse-lhe que poderia dar-lhe uma chance e salvar-lhe a vida se lhe trouxesse a princesa que morava no castelo de ouro. Se trouxesse a princesa poderia levar de presente o cavalo e a sela de ouro.

  Muito triste e com o coração angustiado o jovem pôs-se a caminho em busca do castelo de ouro e da princesa que nele morava. Por sorte ele logo encontrou no caminho a fiel raposinha, que lhe disse:

"Eu deveria abandoná-lo à sua própria sorte, mas eu tenho pena de você e quero ajudá-lo mais uma vez. Siga esse caminho direto e reto, sem olhar para os lados nem para trás. Ao entardecer você irá chegar a um castelo dourado. Ao soar meia-noite, quando tudo estiver em silêncio, a princesa sairá para nadar na piscina. Então, assim que ela entrar na piscina, mergulhe também e beije-a. Então ela irá seguir você. Porém não a deixe despedir-se e beijar os pais, porque se você deixá-la fazer isso, algo muito ruim irá lhe acontecer."

Após dizer-lhe essas palavras, a raposinha abaixou-se, o jovem príncipe subiu-lhe às costas e esta corria tanto que até o vento zunia e assobiava.

Quando o príncipe chegou ao castelo dourado encontrou tudo conforme a raposinha lhe havia dito. Esperou dar meia-noite e, quando tudo estava calmo e silencioso a jovem e bela princesa foi até a piscina, entrou, e logo a seguir o príncipe mergulhou e deu-lhe um beijo. Ela disse-lhe então que havia gostado dele, que o amava, e que gostaria de ir embora com ele; porém, antes teria que despedir-se de seus pais. Ele, lembrando-se dos conselhos da raposinha, disse que não. Mas ela tanto chorou e implorou e beijou-lhe tanto que ele acabou consentindo que ela se despedisse dos pais.

 Logo que a jovem princesa entrou no quarto de seus pais, que estavam dormindo, beijou-os, e estes despertaram;  acordaram-se também todos que estavam dormindo no castelo. Houve uma gritaria e o jovem foi preso e colocado na cadeia.

 Na manhã seguinte o rei daquele castelo disse-lhe:

"Sua vida está por um fio, mas você poderá salvá-la se conseguir retirar esta montanha que está diante do meu castelo, montanha difícil de ser transposta e que me impede de ver o outro lado do meu reino. Mas veja bem, você tem que fazer isso no prazo de oito dias. Faça isso e você terá a mão de minha filha em casamento."

E o príncipe começou a cavar, a retirar terras, paus e pedras da base  da montanha que ficava diante do castelo. E trabalhou, e trabalhou e, no sétimo dia não havia feito muitos progressos, tinha retirado pouca terra. Cansado e exausto, caiu, desanimado e desesperançado, chorou.

 Ao entardecer do sétimo dia apareceu novamente a raposinha sua fiel amiga e disse-lhe:

"Você não merece que eu o ajude pois foi desobediente e não seguiu meus conselhos. Última chance. Deite-se e durma ali na grama que eu vou fazer esse serviço em seu lugar”

E começou a cavar.

Na manhã do oitavo dia, quando o rei acordou e olhou pela janela, a montanha havia desaparecido. Por seu turno, feliz da vida, o jovem príncipe correu ao castelo e disse ao rei que agora este teria de cumprir a palavra e a promessa e dar-lhe a mão da princesa em casamento. Então, alegres e felizes, partiram ambos, príncipe e princesa, em uma carruagem muito bonita, puxada por seis cavalos brancos.

Não demorou muito, a raposinha apareceu-lhe no caminho e falou:

- "O melhor você já conseguiu, mas acontece que o cavalo dourado  também é da princesa do castelo de ouro..."

- "Mas como eu poderei pegá-lo ?”   Perguntou o príncipe.

- “Eu vou lhe explicar. Primeiramente você apresenta ao rei daquele castelo a princesa que ele lhe pediu. Então haverá uma grande alegria naquele castelo e irão lhe dar o cavalo dourado com a sela dourada. Despeça-se de todos no castelo, um por um, e deixe de despedir-se da princesa por último. E, quando você for abraçar a princesa, agarre-a, coloque-a no cavalo e parta a galope dali, pois ninguém conseguirá pegá-los porque o cavalo dourado é mais rápido que o vento."

 E tudo aconteceu exatamente assim. Após pegar o cavalo, a sela e a princesa, partiu a galope. No caminho encontrou a raposinha que lhe disse:

"Agora irei ajudá-lo a conseguir o pássaro dourado. Quando você se aproximar do castelo onde o pássaro dourado vive, apeie do cavalo dourado e o conduza até o interior do castelo. Ao virem o cavalo dourado, haverá grande alegria naquele castelo e então irão lhe trazer o pássaro dourado na gaiola dourada. Quando você estiver com o pássaro e a gaiola na mão, monte no cavalo, pegue a princesa e parta dali a galope, pois ninguém conseguirá pegá-los porque o cavalo corre mais rápido que o vento."

E tudo aconteceu exatamente assim. Após pegar o cavalo, a sela, o pássaro dourado e a princesa, o príncipe partiu a galope.

No caminho encontrou a raposinha que lhe disse:

"Então, como você já conseguiu tudo que queria, agora é hora de você me recompensar pela ajuda que lhe prestei.”

"O que você quer em troca ? “ Perguntou o príncipe.

"Quando entrarmos na floresta, mate-me;  decepe-me a cabeça e as patas.”

E o príncipe disse:

"Mas isso seria uma ingratidão de minha parte... Isso eu não farei.”

A raposinha falou:

"Então eu não poderei mais continuar do seu lado. Se você não fizer isso eu vou lhe abandonar; antes, porém, vou lhe dar mais um conselho: Não compre corpo de enforcado ou espancado e nem sente-se à beira de poço."

Após falar isso a raposinha entrou na floresta.

 Então o jovem príncipe, pensou:

"Mas que bicho estranho essa raposinha... Tem cada mania estranha… Quem iria comprar carne enforcada ?? E também nunca me passou pela cabeça e nem tenho vontade alguma de sentar-me à borda de algum poço...."

E assim pensando, ao lado da jovem princesa, cavalgando, continuou em direção ao castelo de seu pai. No caminho teve que passar por aquela cidadezinha na qual haviam ficado na bagunça seus dois irmãos mais velhos. Havia ali um tumulto e barulheira infernais.

Perguntando sobre o que estava acontecendo, soube que dois rapazes seriam enforcados. Ao se aproximar mais, viu que eram seus dois irmãos que estavam sendo espancados e iriam ser enforcados porque haviam cometido muitos crimes naquele vilarejo e contraído muitas dívidas. Então ele perguntou ao carrasco se podia resgatá-los e libertá-los, ao que o carrasco respondeu:

 "Pagando bem, que mal tem… "

 O príncipe deu-lhes uma pena de ouro e seus irmãos foram libertados; ambos subiram em uma carruagem e se puseram em marcha rumo ao castelo do velho rei e pai.

 Chegaram novamente à floresta onde haviam visto a raposinha pela primeira vez. Os irmãos mais velhos viram um poço e, como estavam com sede, disseram:

"Pare a carruagem, deixe-nos descansar um pouco aqui à beira desse poço e beber água... "

O jovem príncipe, bobinho, consentiu. Conversa vai, conversa vem, sentou-se à beira do poço e esqueceu-se dos conselhos da raposinha. Os seus dois irmãos então empurraram-no para dentro do poço, pegaram a jovem princesa, o cavalo, a sela, o pássaro dourado e a gaiola e partiram pra casa, em direção ao castelo. Lá chegando, disseram ao velho rei e pai:

 "Pai, não trouxemos somente o pássaro dourado, mas também a gaiola dourada, o cavalo dourado, a sela dourada e a princesa do castelo de ouro."

E a alegria naquele castelo foi imensa. Muita festa. 

O cavalo, porém, não queria comer, o pássaro não queria cantar e a jovem princesa ficava sentada a um canto, triste e chorando.

Entrementes, ao cair no poço, o jovem príncipe não morrera. Por sorte o poço estava seco e ele caíra sobre um lodo macio, sem se machucar, porém não conseguia subir porque o poço era muito fundo. Gritando e pedindo por socorro, a raposinha, sua fiel amiga, não o abandonara, veio em seu socorro, estirou-lhe a cauda e retirou-o do fundo do poço e disse-lhe para não se esquecer dos seus conselhos, acrescentando:

 "Eu não posso abandoná-lo, eu tenho que mostrar toda a verdade."

 Após dizer-lhe essas palavras a raposinha disse-lhe que o levaria até o castelo de seu pai. Abaixou-se, o jovem príncipe subiu-lhe às costas e esta corria tanto que até o vento zunia e assobiava.

A caminho do castelo a Prudência lhe dizia: 

"Você não está totalmente livre do perigo - seus irmãos não estão seguros de que você tenha morrido, por isso enviaram bandidos a lhe procurar pela floresta para então dar cabo de sua vida. Portanto, não se deixe notar.”

Então o príncipe encontrou um mendigo pelo caminho, vestido com farrapos, e com ele trocou as roupas, motivo pelo qual, ao chegar ao castelo de seu pai não foi reconhecido. Só que, lá dentro do castelo, nesse exato momento, o pássaro dourado começou a cantar, o cavalo começou a comer e a bela princesa parou de chorar.   Notando a mudança repentina, o rei perguntou:

“O que significa isso ???”

E a jovem princesa respondeu:

"Eu não sei... Eu estava tão triste e depressiva e de repente fiquei alegre... É como se meu verdadeiro noivo estivesse por perto... “

Apesar de os dois irmãos malvados terem-na ameaçado de morte, caso contasse ao rei a verdade;  ela relatou ao rei o que de fato havia acontecido e o modo como os dois irmãos mais velhos procederam com o caçula.

 O rei chamou e reuniu todas as pessoas de seu reino e, dentre elas estava o jovem príncipe em trajes de mendigo. A jovem princesa logo o reconheceu, beijou-o, lançou-se ao seu pescoço e o abraçou. Os irmãos malvados foram julgados e expulsos do reino. O jovem príncipe casou-se com a bela princesa e herdou todo o reino e os tesouros.

 Mas, o que aconteceu com a raposinha ? 

Certa vez, estando o príncipe e a princesa passeando pela floresta depararam-se com a raposinha, a qual lhe disse:

    "Agora você está feliz e possui tudo que desejava. A minha sorte, porém ainda não está completa e está em suas mãos resolver meu problema. "

E tanto ela insistiu que o jovem príncipe decepou-lhe as patinhas e a cabeça.    Logo a seguir a raposinha transformou-se em um belo e forte rapaz. Para surpresa de todos esse jovem era ninguém mais que o irmão da jovem princesa e que havia sido enfeitiçado por uma bruxa malvada e transformado em raposinha. Desfeito o encanto, voltaram para o castelo e viveram felizes para sempre. O príncipe, a bela princesa e a Sabedoria.

Fonte:
http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=17

Affonso Romano de Sant'Anna (Lançamento de “Que presente te dar?”)



LIVRO TRAZ SÉRIE DE CRÔNICAS PUBLICADAS AO LONGO DA VIDA DO JORNALISTA, ENSAÍSTA E POETA.

Chega às livrarias, pela editora LeYa, o livro de crônicas de Affonso Romano de Sant’Anna, Que presente te dar? – Crônicas de amor e outros afetos. A obra reúne crônicas publicadas em jornais desde a década de 1980, quando foi contratado pelo Jornal do Brasil (1984) para substituir Carlos Drummond de Andrade, até o período de 1990, quando passou a fazer parte da presidência da Fundação Biblioteca Nacional (1990-1996) e foi considerado pela revista Imprensa um dos 10 jornalistas que mais influenciavam a opinião pública no país.

Considerado um dos mais destacados poetas e ensaístas brasileiros, Affonso Romano de Sant’Anna já publicou mais de 50 livros, lecionou literatura no Brasil e no exterior e já foi presidente da Fundação Biblioteca Nacional, onde reformou e informatizou a instituição, criando programas novos e fazendo com que BN fosse considerada a melhor instituição federal do Rio de Janeiro.

“Há uma serenidade nos seus gestos, longe dos desperdícios da adolescência,quando se esbanjam pernas, braços e bocas ruidosamente. A adolescente não sabe ainda os limites do seu corpo e vai florescendo estabanada. É como um nadador principiante, faz muito barulho, joga muita água para os lados. Enfim, desborda. A mulher madura nada no tempo e flui com a serenidade de um peixe.”

Falando sobre a mulher já madura, os trinta anos, a paternidade, os amantes, o envelhecer, a inveja, o amor, entre outros, o livro Que presente te dar? tem como maior foco a vida. Tudo um pouco, observado do camarote, pelo escritor que tem a mente inquieta e precisa mostrar ao leitor os detalhes despercebidos, a vida como ela é.

Partindo de pormenores que vão do mundo abstrato ao concreto, Affonso Romano vai mostrando, com sábias palavras, o que é e o que passa por nossa vivência; contextualizando e intercalando com outros tantos textos que completam as observações e nos garantem emoções do começo ao fim.

Com crônicas como, “Fazer 30 anos", "A mulher madura", "Na espera do amanhã", “Quando os amantes dormem” e “O homem que conheceu o amor”, entre outras, “Que
presente te dar” é um livro memorável.

“Envelhecer deveria ser como plainar. Como quem não sofre mais (tanto) com os inevitáveis atritos. Assim como a nave que sai do desgaste da atmosfera e vai entrando noutro astral, e vai silente, e vai gastando nenhum-quase combustível, flutuando como uma caravela no mar ou uma cápsula no cosmos.”

Ficha Técnica
Título: Que presente te dar
Autor: Affonso Romano de Sant’Anna
Formato: 14 x 21 cm
Nº de páginas: 173
Preço: R$ 29,90

Sobre o autor
Affonso Romano de Sant'Anna é um dos mais destacados poetas e ensaístas brasileiros. Com mais de 50 livros publicados, já lecionou literatura no Brasil e no exterior e foi considerado pela revista Imprensa, nos anos 1990, um dos 10 jornalistas que mais influenciam a opinião pública no país. Como Presidente da Fundação Biblioteca Nacional (1990-1996), reformou e informatizou a instituição, criou programas novos e a BN foi considerada a  instituição federal que melhor funcionava no Rio de Janeiro.
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A LeYa é o grupo editorial que integra algumas das mais prestigiadas editoras portuguesas.
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quinta-feira, 30 de maio de 2013

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas "Trovia" - n.162 - junho de 2013)

I

Se acaso eu fosse rainha,
dava a você meu reinado;
e, se fosse uma andorinha,
o meu ninho no telhado.
Colombina

A esperança, na viagem,
é ter a felicidade
de chegar junto à miragem,
e a miragem ser verdade.
Élton Carvalho

Muita gente que eu não gabo
lembra a pipa colorida:
– quanto mais comprido o rabo
mais alto sobe na vida!...
Joubert de Araújo e Silva

Os bons vi sempre passar
no mundo graves momentos;
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Luís de Camões

Desconfio que a saudade
não gosta de ti, meu bem.
Quando tu vens, ela vai...
quando tu vais, ela vem...
Luiz Otávio

Isto é próprio das mulheres,
não tem quase nem talvez:
– Nem dizes que não me queres
nem me queres de uma vez...
Luiz Rabelo
 
Do cigarro, a xepa fria
atira com precisão.
Mostra boa pontaria,
mas bem pouca educação.
Adélia Woellner – PR

É sovina a minha amiga:
se vai à feira gastar,
não compra nem uma briga
sem primeiro pechinchar!
Arlindo Tadeu Hagen – MG

Vovó, num desejo enorme
de um milagre conseguir,
por teimosia, não dorme
nem deixa vovô dormir!...
Edmar Japiassú Maia – RJ

Quando, dengosa, tu piscas
os teus olhinhos assim,
não precisas de outras iscas,
esse anzol cuida de mim...
Nélio Bessant – SP
 
O presente desatina
quem cai no conto falaz:
trocar voto por botina
leva sempre um pé por trás.
João B. X. Oliveira – SP

O carro virou paçoca
num acidente invulgar...
– Socorro!, grita a dondoca,
salvem o meu celular!
Maria Ignez Pereira – SP

Tem, por sorte, a fofoqueira
o noivo que lhe interessa:
– é de família açougueira,
e de “língua” entende à beça.
Osvaldo Reis – PR
 
Na noite do seu casório,
sendo um noivo muito antigo,
usou até suspensório,
mas não sustentou o artigo...
Wanda Mourthé – MG
 
Dê-se ao jovem liberdade
para sem medo ele ousar.
– É no ardor da mocidade
que o sonho aprende a voar!
A. A. de Assis – PR

A arte da dança é linda
quando fazemos brilhar
nos passos a graça infinda
de amar quem nos faz sonhar.
Agostinho Rodrigues – RJ

O medo é perturbador
e afeta a nossa razão;
faz que as coisas sem valor
pareçam mais do que são.
Amilton Maciel – SP

Tudo acabou em quimera
na tarde chuvosa e fria
e a grande perda me espera
dentro da casa vazia...
Angélica Villela Santos – SP

Paixão, doação, entrega,
cada um sabe da sua;
ninguém vê como se apega,
mas vai pro mundo da lua.
Antonio Cabral Filho – RJ

Vês as ondas deste mar
enormes e violentas?
Igual meu jeito de amar
que com o teu apascentas.
Benedita de Azevedo – RJ

Sempre acolho de mãos postas
e humilde tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar.
Carolina Ramos – SP

Sei quando vais demorar...
Mesmo assim tudo ofereço:
quem espera para amar
paga ao tempo qualquer preço!
Clenir Neves Ribeiro – Austrália
 

A neve nos pinheirais,
nestas paragens do Sul,
forma brincos de cristais
na terra da gralha azul.B
Cônego Telles – PR

Quiero siempre despertar
con trinos por la ventana,
que las aves saben dar
con fervor cada mañana.
Cristina Oliveira Chávez – USA

Não ligo às perdas e danos
que o destino impõe, porque
podem passar dez mil anos
que eu hei de esperar você!
Dáguima Verônica – MG

Anunciou a partida,
dizendo: – “É melhor assim”!
E saiu da minha vida,
levando o melhor de mim...
Darly O. Barros – SP
 

A mensagem foi pequena:
– Não me esperes, por favor!
Não chorei. Não vale a pena
chorar por um falso amor!
Delcy Canalles – RS

Tantos anos, e eu daqui,
cuidei da vida lá fora;
fiquei moço, envelheci...
– Mas estou voltando agora!
Diamantino Ferreira – RJ

Com as “notas” da alegria,
ou “dissonância” sofrida,
Deus compõe a melodia
da partitura da vida.
Domitilla B. Beltrame – SP

Velho tronco, na queimada,
em dolorosa utopia,
sonha ouvir a passarada
que em vida abrigou... um dia.
Dorothy Jansson Moretti – SP

Bendito seja o sujeito
que, traído pelo irmão,
tira do fundo do peito
a fortuna do perdão!
Eduardo A. O. Toledo – MG

Às suas falas dispense
o respeito mais profundo,
que o silêncio nos pertence
mas a palavra é do mundo.
Élbea Priscila – SP

Voa, passarinho, voa,
que gaiola é só maldade.
Livre, lá nos céus entoa
o cantar da liberdade.
Eliana Jimenez – SC

Eu não me prendo à verdade
e à razão sempre me imponho,
porque toda a realidade
antes de tudo foi sonho!
Elisabeth Souza Cruz – RJ

Para amainar meus cansaços,
num fim de tarde que tranço,
busco a rede dos teus braços
meigos laços... meu descanso!
Flávio Stefani – RS

Porteira velha, o gemido
dessa dor que te corrói...
é o teu passado esquecido
que em teu presente inda dói!
Francisco Garcia – RN

Velho – carrego esperanças,
adubando a vida em flor:
quem não cultiva as lembranças
mata as raízes do Amor.
Gabriel Bicalho – MG

Dei-lhe asas de querubim
e as penas do meu penar!...
– Meu coração mesmo assim,
não aprendeu a voar!...
Gisela Sinfrónio – Portugal

Não lembro de ti, passado,
pois consegui te esquecer;
agora só tenho ao lado
os sonhos que vou viver!
Gislaine Canales – SC

Não haverá sociedade
que possa ser construída
sem a fé na humanidade
e o respeito pela vida.
J. B. Xavier – SP

Meu otimismo teimoso
faz-me ver em cada irmão
o seu lado esplendoroso,
em permanente ascensão.
Jeanette De Cnop – PR

No meu sonho mais profundo,
em pensamentos imerso,
eu fui além do meu mundo,
viajei pelo universo.
Jessé Nascimento – RJ

O saber é consagrado,
tem mais valor do que o ter;
o ter pode ser roubado,
mas nunca roubam saber.
João Medeiros – RN

Tanto mal nós infligimos
a um alguém que bem nos queira,
que o perdão que lhe pedimos
é uma nuvem passageira.
José Feldman – PR
 

Sei que deste mundo lindo
vou sair, só não sei quando,
mas quero morrer dormindo
para entrar no céu sonhando.
José Lucas de Barros – RN

Em rondas, meu coração,
tropeçando, aqui e ali,
bate em busca da ilusão
que nem sei onde perdi !
José Messias Braz – MG

Quando se tem por escopo
o trabalho e a persistência,
marcar presença no topo
deixa de ser coincidência!
José Ouverney – SP

Sendo a vida a maior graça
que do bom Deus recebemos,
ergamos a nossa taça
enquanto vida nós temos.
José Reinaldo – AL

Se a roseira tem espinho,
para que se aborrecer?
Nada resiste ao carinho,
mesmo podendo sofrer...
José Roberto P. de Souza – SP

Todo homem tem na mulher
um mistério a desvendar:
– sempre ela sabe o que quer,
mas nem sempre quer falar!...
Lucília Decarli – PR
 

Na tessitura do sonho,
vou cortar, sem mais tardança,
esse nó górdio que imponho
a um amor sem esperança.
Luiz Carlos Abritta – MG

Pode ir embora, querida...
Que eu guardo a dor compulsória
de ter que arrancar da vida
quem tatuei na memória.
Manoel Cavalcante – RN

Tem seu momento assinado,
desde o ventre, o filho arteiro:
um gol à vida marcado,
naquele chute primeiro!
Mª da Conceição Fagundes – PR

Ao clamor da liberdade,
tremem os reis e as nações,
porque a força da verdade
tem mais força que os canhões!
Mª Lúcia Daloce – PR

Na travessia das águas
ronda a grande solidão...
Não há sorrisos nem mágoas,
o que me ronda é a paixão.
Mª Luíza Walendowsky – SC

Pela ambição desmedida,
fiz da vida uma procela,
até descobrir que a vida,
quanto mais simples, mais bela.
Mª Madalena Ferreira – RJ

Quando você me critica
e aos amigos faz venenos,
o seu próprio gesto indica
qual de nós dois vale menos.
Maria Nascimento – RJ

Se de novo o amor palpita,
o velho se faz criança...
E como a vida é bonita
no retorno da esperança!
Mª Thereza Cavalheiro – SP
 

Sobre as vagas do oceano,
voando num céu de anil,
sinto alegria e me ufano
de estar voltando ao Brasil!
Marina Valente – SP

Já chorei demais por ela
sem que tenha merecido...
Hoje as lágrimas são dela
por eu já tê-la esquecido.
Maurício Cavalheiro – SP

Beijando, a brisa, meu rosto,
meiga, me faz relembrar,
com saudade e muito gosto,
o amor que pude lhe dar.
Maurício Friedrich – PR

Viajei pelo mundo inteiro
e nunca mais pude achar
o que no instante primeiro
encontrei no seu olhar.
Olga Agulhon – PR

Tua imagem refletida
no espelho de nosso quarto
mostra a saudade sentida,
que só contigo eu reparto...
Olga Ferreira – RS

Se todos fossem iguais,
o que seria da gente?
– Eu posso ser um a mais,
mas você é diferente
Raymundo Salles Brasil – BA

Sob a chuva ou sol, que abrasa,
como nos tempos antigos,
o portão da minha casa
não se fecha aos meus amigos!
Renato Alves – RJ

Um coração congelado
pega fogo, de repente,
quando o amor – fósforo alado,
risca faíscas na gente!....
Roza de Oliveira – PR

De manhã sou funcionária,
à tarde mãe e chofer,
cozinheira, secretária...
À noite, enfim, sou mulher!
Selma Patti Spinelli – SP

Do sonho compartilhado,
agora, somente resta
um convite, amarelado,
marcando o dia da festa...
Sérgio Ferreira da Silva – SP

Não me culpe se a partilha
da sorte lhe foi mesquinha.
Se a sua estrela não brilha,
não tente apagar a minha.
Thalma Tavares – SP

Este amor que, em vão, mascaro,
pois o estampo em rosto mudo,
em silêncio eu te declaro...
Sem palavras, digo tudo!
Thereza Costa Val – MG

A travessia é mais triste
se, no meio do caminho,
nossa esperança desiste
e a gente segue sozinho.
Therezinha Brisolla – SP

Causador da minha insônia,
motivo do meu sorriso,
sem nenhuma cerimônia
me transporta ao paraíso!
Vânia Ennes – PR

O homem vai, sem detença;
rompe os ares, vence espaços!...
A esperança é que ele vença
o desamor em seus passos.
Wagner Marques Lopes – MG

O tempo passou... e agora
já é mais que entardecer,
mas tua presença é aurora
na noite do meu viver.
Zeni de Barros Lana – MG

domingo, 19 de maio de 2013

XXVI Jogos Florais de Ribeirão Preto (Nacional - Resultado Final)

TEMA NACIONAL: MURALHA

CATEGORIA: VENCEDOR
(Troféu)


1º LUGAR

O meu bom senso não cede
a um desejo extravasado...
É a muralha que me impede
seguir um caminho errado!
MARILÚCIA REZENDE
São Paulo/SP

2º LUGAR

Ante os revezes da estrada,
eu só permaneço em pé,
por ter a vida cercada
pela muralha da fé.
MAURICIO CAVALHEIRO
Pindamonhangaba/ SP

3º LUGAR

É muito triste esta vida
de quem implora por pão
e enfrenta a muralha erguida
por quem não tem coração...
IZO GOLDMAN
São Paulo/ SP

4º LUGAR

Para acabar com a guerra,
que traz luto aos corações,
basta que caía por terra
a muralha entre as nações.
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo Horizonte/ MG

5º LUGAR

Devemos manter vigília
contra o mal aliciador
blindando nossa família
com a muralha do amor.
MAURICIO CAVALHEIRO
Pindamonhangaba/ SP

CATEGORIA: MENÇÃO HONROSA
(Medalha Dourada)

1º LUGAR

Para vencer a batalha,
por um viver mais profundo,
se há de transpor a muralha,
dos desenganos do mundo...
FABIANO DE CRISTO MAGALHÃES WANDERLEY
Natal/ RN

2º LUGAR

Esta muralha que ergueste,
depois de acabado o amor,
sem querer me ofereceste
um mundo cheio de cor!...
MARICLAIRE REZENDE MITNE
Londrina/ PR

3º LUGAR

Ante a muralha não paro
e com fé transponho o muro;
na vida só chega ao claro
quem não tem medo do escuro.
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo Horizonte/ MG

4º LUGAR

A “muralha” mais temida
é o desprezo que se tem
desgastando a nossa vida
pelos caprichos de alguém.
RUTH FARAH NACIF LUTTERBACK
Cantagalo/ RJ

5º LUGAR

Seja alegre ou seja triste,
a saudade, simplesmente,
quebra a muralha que existe
entre o passado e o presente!
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

CATEGORIA: MENÇÃO ESPECIAL
(Medalha Prateada)


1º LUGAR

Eu não temo o que amealha
as pedras do ódio e rancor,
por crer que qualquer muralha
cede... ante a força do amor!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

2º LUGAR

Enfim eu pude transpor,
até com certa altivez,
essa muralha no amor
que se chama timidez.
ANTONIO CARLOS RODRIGUES
Rio de Janeiro/RJ

3º LUGAR

Teu abraço me agasalha
com carinho tão profundo...
sinto em volta uma muralha,
separando-nos do mundo!...
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/SP

4º LUGAR

Vence sempre quem labuta.
um mais tarde, outro mais cedo,
e este é o que, antes de ir à luta,
vence a muralha do medo.
JAIME PINA DA SILVEIRA
São Paulo/SP

5º LUGAR

Há, na vida, uma batalha
- parece-me sem igual –
É verdadeira muralha:
a “batalha conjugal”.
DJALDA WINTER SANTOS
Rio de Janeiro/RJ

TROVAS HUMORÍSTICAS

TEMA: CERCA

VENCEDORES (troféu)


1. lugar 

Na cerca ficou provado,
o adultério de Rosinha,
ficou no arame farpado
um pedaço da calcinha.
LUIZ HENRIQUE DOS SANTOS
Pindamonhangaba/SP.

2. lugar

Pular cerca é mau caminho
mas é coisa prazerosa,
pois a fruta do vizinho
sempre é muito mais gostosa.
OLYMPIO DA CRUZ SIMÕES COUTINHO
Belo Horizonte/MG.

3. lugar

A cerca sempre pulando
e a esposa nada falava,
acabou desconfiando...
viu que ela também pulava.
FLAVIO FERREIRA DA SILVA
Nova Friburgo/RJ

4. lugar

Ao dar tudo o que ela quer,
a evitar que o amor se perca,
o corno cerca a mulher
mas a mulher pula a cerca.
DULCÍDIO DE BARROS MOREIRA SOBRINHO
Juiz de Fora/ MG

5. lugar

Sem que nada mais se perca,
nosso amor não tem futuro:
Ela vai pulando a cerca
e eu venho pulando o muro...
SÉRGIO FONSECA
Mesquita/ RJ.

MENÇÕES HONROSAS

1. lugar

Manter a mulher fechada
para que ela não se perca,
não vai adiantar de nada,
pois pode pular a cerca!
JOSÉ MARQUES
Bauru/ SP

2. lugar
“Pular cerca? Isso eu não faço!”
e a vizinha, em ato esperto,
aumenta seu embraço,
deixando o portão... aberto!
JOSÉ OUVERNEY
Pindamonhangaba/ SP

3. lugar

Vendo a vizinha chegar,
ouvindo a porta bater,
Meu amigo, sem pensar,
pulou a cerca e foi ver...
DARI PEREIRA
Maringá/ PR

4. lugar

Ao ver, na cerca, a viuvinha
usando roupa sumária,
diz o esposo da vizinha:
-Que mulher extra...ordinária!!!
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/ SP

5. lugar

Desde jovem, muito afoita,
com um, não se contentava;
Já casada, mas na moita,
Sempre ela a cerca pulava.
JESSÉ NASCIMENTO
Angra dos Reis/ RJ

MENÇÕES ESPECIAIS

Pra que a filha não se “perca”,
meu vizinho fica alerta...
De que vale “fazer cerca”
pra quem tem porteira aberta?!
ROBERTO TCHEPELENTYKY
São Paulo/ SP

Em lugar de dar vexame
sobre a cerca do rival,
melhor reforçar o arame
da cerca do teu quintal...
ANTÔNIO AUGUSTO DE ASSIS
Maringá/ PR

No carnaval, animada,
pulou a cerca e assumiu,
deu uma sorte danada,
“Tava” escuro... ninguém viu.
DENISE CATALDI
Condominio Maravista/ RJ

Pulou a cerca a Maria,
mas foi um caso bem sério
Porque ela não sabia
Que ia dar no cemitério
MARINA DE OLIVEIRA DIAS
São Gonçalo/ RJ

Fonte:
Nilton Manoel

sábado, 18 de maio de 2013

Amadeu Amaral (Memorial de Um Passageiro de Bonde) Reticências


Encontrei-me hoje no bonde, depois do almoço, com o Nicolau Coelho. Como eu lhe dissesse, um dia, que lera com prazer a sua crônica sobre finados, desse dia em diante se aproximou de mim, e não me vê sem que me venha apertar a mão. Ainda hoje pagou a minha passagem. 

Conheço Nicolau desde menino, fui amigo de seu pai, professor gratuito de um dos seus irmãos, e nunca se julgara obrigado a usar de cortesias comigo. Passei a ser alguém para ele no dia em que lhe elogiei uma crônica, a ele que tantas e tão aplaudidas tem escrito, a ele carregado de glórias. 

Nicolau, vendo-me no último banco, ergueu-se do seu e desfechou-se de lá. Sacou de cinco tiras de papel e disse, com modéstia: 

-"Isto é curtinho... Gostaria que lesse, preciso da sua opinião." 

Fixei os meus olhos nos seus. 

-"Precisa da minha opinião?" 

-"Sim pois..." 

-"Mas isso é grave, meu amigo. Então a minha opinião vale?" 

-"Muito." 

-"Nesse caso, eu necessitaria ler com vagar, com toda a atenção." 

-"Mas, eu tenho de levar o original à folha. É curtinho. Lerá num momento." 

Li. Li e não achei mal. Ao contrário. Certa harmonia agradável e constante, harmonia de forma, harmonia de fundo, feitas de pequenas audácias de pensamento e de expressão, difíceis de orquestrar. Notei apenas um exagero de sinais sintáticos, travessões, virgulas, pontos-e vírgulas, pontos finais, e sobretudo, reticências. 

O abuso das reticências me é particularmente enervante (a não ser quando entram, num sistema personalíssimo de notações, compreensível em certos indivíduos muito irregularmente "individuais".) Ponham quantas forem necessárias para indicar suspensão ou transição inesperada. Mas este costume de derramar ao pé de cada período uma série de pontinhos, para denotar que a frase é aguda, que ali há coisa, que a passagem envolve malícia ou profundidade 

-não, não. 


O leitor (sempre inteligente) irrita-se por não se lhe deixar o gosto de descobrir por si mesmo as sutilezas, as intenções, os valores velados. E depois o autor acaba por botar reticências em tudo, porque é difícil que um autor não veja coisas a realçar em cada um dos seus períodos. Afinal, a função dos pontinhos desaparece, e onde eles não estão é que a gente vai ver se desentoca o melhor. 

A mania das reticências não tarda em semeá-las no próprio pensamento. Recolhem, como as bexigas. E lá se vai o amor da claridade e da justeza, lá vem o prazer vicioso do equívoco, do ambíguo, do flutuante. 

Os antigos não usavam reticências. Faltou-lhes pois uma boa forma de notação, hoje indispensável. Mas o fato é que a estreiteza do sistema de suplementares da palavra tinha as suas vantagens. Forçava-os a tudo exprimir e sugerir com os recursos únicos da frase nua e dos seus ritmos naturais. Em vez de pôr um sinal de ironia tinham de açacalar a ironia através da rede dos períodos. Em vez de indicar com que óculos cinzentos ou vermelhos se havia de ler o capítulo ou a página, davam à página ou ao capitulo a tonalidade sentimental ou mental conveniente. Era o processo direto, que penetrava até às carnes e aos nervos do estilo. 

Podiam falecer-lhe a este as flexibilidades e esfumaturas da sensibilidade moderna, mas ainda isso era uma vantagem, porque era uma disciplina. O escritor havia de se resignar, por muito indeciso e ondulante que tivesse o espírito, ao freio de um métier e havia de viver perpetuamente em busca do límpido, do incisivo, do luminoso. Nunca se entregava senão a construções de pensamento com uma classificação e um fim. Toda a sua aspiração era fabricar obras acabadas, portáteis, que representavam aquisições (como diz Emerson a propósito já não lembra de que autor) coisas que se poderiam sopesar, palpar, pôr no bolso e levar para casa como um utensílio, como uma jóia, como uma fruta. 

Representei tudo isto por outras e mais breves palavras, a Nicolau, cujo valor não deixei de tomar para estribilho. Guardou os originais, acendeu um cigarro e perguntou, com um sorriso reticente: 

-"Então, só um excesso de... pontinhos?" 

"Só, Nicolau, só. Mas isso mesmo, ó Artista, ó Imaginífico, ó Mistagogo! é talvez mania ou sutileza do meu bestunto emperrado. Quando vejo um desses escritos retalhados em pequenos parágrafos cada parágrafo seguido de uma secreção de pontinhos, tenho logo a idéia de uma desfilada de cabritos. 

"Mas, pensando bem, penso que um escritor moço precisa de ter certa porção de cacoetes e singularidades, até de erros, dentro de certo limite porque tudo isto serve exatamente de lhe dar um ar de viçoso verdor e de divinatória inexperiência, a graça do gênio ainda ignorante de si próprio, todo em flor e esperança. 

"As pequenas carepas envolvem uma promessa festiva de aperfeiçoamento ao passo que a lixa insistente e minuciosa, tirando todas as titicas e asperidades da superfície, deixa ver melhor as imperfeições essenciais da matéria e da construção. 

"Esses cacoetes, essas singularidades, esses descuidos constituem uma garantia para o escritor. Ninguém suspeita nele um gramático, um espírito peco e miúdo, preocupado com a língua e outras superfluídades peróbicas. Perdoam-lhe por simpatia, numa absolvição geral, as faltas cometidas, e ainda as que venha a perpetrar. Ao passo que os escritores corretos dão ganas a todo o mundo de lhes descobrir trincas e manchas. 

E isto sempre se consegue: a correção é uma zona ideal de equilíbrio instável..." 

Ia eu assim dissertando, alheio ao bonde e ao tempo, quando uma brecada instantânea fez estralejar todo o arcabouço do carro. Gritos, borborinho. O bonde havia pegado uma carroça pela rabeira e arremessado esse veículo, com os seus dois animais, a três metros de distância. 

A carroça adernara, com uma das rodas meio fora do eixo, e os burros, presos ao correame e aos varais abatidos, resfolegavam largamente, com estremeções espaçados de toda a courama. 

O pior é que o próprio carroceiro, cuspido para o chão, raspara a poeira e se estatelara ao lado, a verter sangue da cabeça, as mãos meio enclavinhadas, o peito a arquejar sob a camisa aberta. 

Magotes de curiosos iam e vinham enquanto dois homens de maior iniciativa tratavam de recolher a vítima a uma casa próxima e de levantar os animais. 

Válidos, prestantes bons homens! Surgiram de repente da massa amorfa, como os que sabemquerer e mandar. E eu era da massa amorfa, imprestável distraída, hesitante. Ó céu, cada dia me reservas uma humilhação! 

Depois, que, vinda a polícia e o carro da assistência, o bonde pôde continuar a viagem, os passageiros consternados ainda pormenorizavam o ocorrido, explicavam o desastre, discutiam as culpas. Quanto a mim, conservava-me quieto, com a visão pasmada daquele homem caído no chão, a derramar sangue na poeira, e do triste do motorista que parecia fulminado de estupor, na balorda prostração do animal tocado de raio. 

Nicolau catucou-me de repente no braço. Voltei-me para ele como quem despertava. 

-"Mas!... quer que lhe diga?" (recomeçou) "não estou de acordo com o senhor." 

E tinha um arzinho entre provocador e mofento. 

-"Comigo?! Em que?!..." 

- "Nesse negócio de reticências. A mim me parecem indispensáveis. A questão está naquilo que se pretende dizer ou sugerir." 

E por aí foi, a traçar com o indicador o desenho dos argumentos. Dei-lhe sempre razão até o termo do discurso e da linha. "Sim. Claro. Sim! Pois não. Sim, sim!" 

Afinal, disse um adeus veloz a esse espírito gentil e corri a um café, onde fui tomar a minha xícara em silêncio e em penitência, e reatar os fios inacabáveis do meu perene diálogo comigo mesmo -com o único indivíduo que não se aborrece quando o contrario, com o único indivíduo que me aborrece quando o não quero contrariar. 

Alcântara Machado (Carmela)


Dezoito horas e meia. Nem mais um minuto porque a madama respeita as horas de trabalho. Carmela sai da oficina. Bianca vem ao seu lado.

 A Rua Barão de Itapetininga é um depósito sarapintado de automóveis gritadores. As casas de modas (AO CHIC PARISIENSE, SÃO PAULO-PARIS, PARIS ELEGANTE) despejam nas calçadas as costureirinhas que riem, falam alto, balançam os quadris como gangorras.

 - Espia se ele está na esquina.

 - Não está.

 - Então está na Praça da República. Aqui tem muita gente mesmo.

 - Que fiteiro!

 O vestido de Carmela coladinho no corpo é de organdi verde. Braços nus, colo nu, joelhos de fora. Sapatinhos verdes. Bago de uva Marengo maduro para os lábios dos amadores.

 - Ai que rico corpinho!

 - Não se enxerga, seu cafajeste? Português sem educação!

 Abre a bolsa e espreita o espelhinho quebrado, que reflete a boca reluzente de carmim primeiro, depois o nariz chumbeva, depois os fiapos de sobrancelha, por último as bolas de metal branco na ponta das orelhas descobertas.

 Bianca por ser estrábica e feia é a sentinela da companheira. 

 - Olha o automóvel do outro dia.

 - O caixa-d'óculos?

 - Com uma bruta luva vermelha.

 O caixa-d'óculos pára o Buick de propósito na esquina da praça.

 - Pode passar.

 - Muito obrigada.

 Passa na pontinha dos pés. Cabeça baixa. Toda nervosa.

 - Não vira para trás, Bianca. Escandalosa!

 Diante de Álvares de Azevedo (ou Fagundes Varela) o Ângelo Cuoco de sapatos vermelhos de ponta afilada, meias brancas, gravatinha deste tamanhinho, chapéu à Rodolfo Valentino, paletó de um botão só, espera há muito com os olhos escangalhados de inspecionar a Rua Barão de Itapetininga.

 - O Ângelo!

 - Dê o fora.

 Bianca retarda o passo.

 Carmela continua no mesmo. Como se não houvesse nada. E o Ângelo junta-se a ela. Também como se não houvesse nada. Só que sorri.

 - Já acabou o romance?

 - A madama não deixa a gente ler na oficina.

 - É? Sei. Amanhã tem baile na Sociedade.

 - Que bruta novidade, Ângelo! Tem todo domingo. Não segura no braço!

 - Enjoada!

 Na Rua do Arouche o Buick de novo. Passa. Repassa. Torna a passar.

 - Quem é aquele cara?

 - Como é que eu hei de saber?

 - Você dá confiança para qualquer um. Nunca vi, puxa! Não olha pra ele que eu armo já uma encrenca!

 Bianca rói as unhas. Vinte metros atrás. Os freios do Buick guincham nas rodas e os pneumáticos deslizam rente à calçada. E estacam.

 - Boa tarde, belezinha...

 - Quem? Eu?

 - Por que não? Você mesma...

 Bianca rói as unhas com apetite.

 - Diga uma cousa. Onde mora a sua companheira?

 - Ao lado de minha casa.

 - Onde é sua casa?

 - Não é de sua conta.

 O caixa-d'óculos não se zanga. Nem se atrapalha. É um traquejado.

 - Responda direitinho. Não faça assim. Diga onde mora.

 - Na Rua Lopes de Oliveira. Numa vila. Vila Margarida n.0 4. Carmela mora com a família dela no 5.

 - Ah! Chama-se Carmela... Lindo nome. Você é capaz de lhe dar um recado?

 Bianca rói as unhas.

 - Diga a ela que eu a espero amanhã de noite, às oito horas, na rua... na.... atrás da Igreja de Santa Cecília. Mas que ela vá sozinha, hein? Sem você. O barbeirinho também pode ficar em casa.

 - Barbeirinho nada! Entregador da Casa Clark!

 - É a mesma cousa. Não se esqueça do recado. Amanhã, as oito horas, atrás da igreja.

 - Vá saindo que pode vir gente conhecida.

 Também o grilo já havia apitado.

 - Ele falou com você. Pensa que eu não vi?

 O Ângelo também viu. Ficou danado.

 - Que me importa? O caixa-d'óculos disse que espera você amanhã de noite, às oito horas, no Largo Santa Cecília. Atrás da igreja.

 - Que é que ele pensa? Eu não sou dessas. Eu não!

 - Que fita, Nossa Senhora! Ele gosta de você, sua boba.

 - Ele disse?

 - Gosta pra burro.

 - Não vou na onda.

 - Que fingida que você é!

 - Ciao.

 - Ciao.

 Antes de se estender ao lado da irmãzinha na cama de ferro Carmela abre o romance à luz da lâmpada de 16 velas: Joana a Desgraçada ou A Odisséia de uma Virgem, fascículo 2.0

 Percorre logo as gravuras. Umas tetéias. A da capa então é linda mesmo. No fundo o imponente castelo. No primeiro plano a íngreme ladeira que conduz ao castelo. Descendo a ladeira numa disparada louca o fogoso ginete. Montado no ginete o apaixonado caçula do castelão inimigo de capacete prateado com plumas brancas. E atravessada no cachaço do ginete a formosa donzela desmaiada entregando ao vento os cabelos cor de carambola.

 Quando Carmela reparando bem começa a verificar que o castelo não é mais um castelo mas uma igreja o tripeiro Giuseppe Santini berra no corredor:

 - Spegni la luce! Subito! Mi vuole proprio rovinare questa principessa!

 E - raatá! - uma cusparada daquelas.

 - Eu só vou até a esquina da Alameda Glette. Já vou avisando.

 - Trouxa. Que tem?

 No Largo Santa Cecília atrás da igreja o caixa-d'óculos sem tirar as mãos do volante insiste pela segunda vez:

 - Uma voltinha de cinco minutos só... Ninguém nos verá. Você verá. Não seja má. Suba aqui.

 Carmela olha primeiro a ponta do sapato esquerdo, depois a do direito, depois a do esquerdo de novo, depois a do direito outra vez, levantando e descendo a cinta. Bianca rói as unhas.

 - Só com a Bianca...

 - Não. Para quê? Venha você sozinha.

 - Sem a Bianca não vou.

 - Está bem. Não vale a pena brigar por isso.

 - Você vem aqui na frente comigo. A Bianca senta atrás.

 - Mas cinco minutos só. O senhor falou...

 - Não precisa me chamar de senhor. Entrem depressa.

 Depressa o Buick sobe a Rua Viridiana.

 Só pára no Jardim América.

 Bianca no domingo seguinte encontra Carmela raspando a penugenzinha que lhe une as sobrancelhas com a navalha denticulada do tripeiro Giuseppe Santini.

 - Xi, quanta cousa pra ficar bonita!

 - Ah! Bianca, eu quero dizer uma cousa pra você.

 - Que é?

 - Você hoje não vai com a gente no automóvel. Foi ele que disse.

 - Pirata!

 - Pirata por quê? Você está ficando boba, Bianca.

 - É. Eu sei porquê. Piratão. E você, Carmela, sim senhora! Por isso é que o Ângelo me disse que você está ficando mesmo uma vaca.

 - Ele disse assim? Eu quebro a cara dele, hein? Não me conhece.

 - Pode ser, não é? Mas namorado de máquina não dá certo mesmo.

 Saem à rua suja de negras e cascas de amendoim. No degrau de cimento ao lado da mulher Giuseppe Santini torcendo a belezinha do queixo cospe e cachimba, cachimba e cospe.

 - Vamos dar uma volta até a Rua das Palmeiras, Bianca?

 - Andiamo.

 Depois que os seus olhos cheios de estrabismo e despeito vêem a lanterninha traseira do Buick desaparecer, Bianca resolve dar um giro pelo bairro. Imaginando cousas. Roendo as unhas. Nervosissima.

 Logo encontra a Ernestina. Conta tudo ã Ernestina.

 - E o Ângelo, Bianca?

 - O Ângelo? O Ângelo é outra cousa. E pra casar.

 - Há!…

Fonte:
Alcântara Machado. Brás, Bexiga e Barra Funda.