quinta-feira, 13 de setembro de 2018

5a. Festa Literária Internacional de Maringá - FLIM (21 a 25de novembro)

Local: Estacionamento Estádio Willie Davids

Programação

Com o tema “Resistências”, a 5ª Festa Literária Internacional de Maringá (Flim), que será realizada entre os dias 21 a 25 de novembro, quer dar visibilidade às mulheres, negros, índios, refugiados e aos LGBTs.

Além das datas, fora do período eleitoral e dentro do mês da celebração nacional da Consciência Negra, estão entre as primeiras novidades da festa, novas locações e curadoria.

A FLIM ocupará parte do estacionamento de entrada do Estádio Willie Davids e espetáculos culturais serão realizados na Travessa Jorge Amado ao lado do Mercado Municipal. “

Diferente da edição anterior, onde a Flim teve como curador a Câmara Brasileira do Livro (CBL), o jornalista, escritor e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira, assumirá a curadoria do evento. 

Participantes foram selecionados pelo trabalho conjunto da comissão curadora que reúne representantes de diversos segmentos da sociedade ligados à literatura e da curadoria da Flim, sob responsabilidade do jornalista, escritor e diretor da Biblioteca Pública do Paraná, Rogério Pereira. O curador é criador do Rascunho, um dos mais importantes jornais especializados em literatura do país. 

Evento contará com show do ex-Titãs Arnaldo Antunes e finalistas de edições do Premio Jabuti, considerado o mais tradicional prêmio literário do país.
Arnaldo Antunes - um dos grandes nomes do rock nacional e ex-integrante do grupo Titãs - conquistou o Prêmio Jabuti em 1992 na categoria Poesia. Tendo influências do concretismo, da cultura pop e do próprio rock and roll, publicou em 1983 o “OU E”, seu primeiro livro. 

A Flim contará com o poeta e cronista Fabricio Carpinejar, vencedor na categoria Contos e Crônicas do Prêmio Jabuti com a coletânea de crônicas Canalha!. O escritor ganhou notoriedade com o programa “A máquina” da Rede Gazeta, sendo conhecido popularmente com as participações do programa Encontro da Fátima Bernardes. Destaca-se como uma referência sobre a discussão do imediatismo, o ócio criativo e a vida.

Outro finalista do Prêmio Jabuti que participará da Flim é a escritora Carola Saavedra. Sua obra Flores Azuis de 2008 também foi eleita como o melhor romance pela Associação Paulista dos Críticos de Arte. A escritora ainda esteve na lista dos vinte melhores jovens escritores brasileiros da renomada revista literária Granta.

Confirmado a participação da escritora, poetisa, romancista e ensaísta, Conceição Evaristo. Proveniente do movimento literário pós-modernista, a patrona participará de uma ação que antecipará a nossa Festa, a Pré-FLIM, que acontecerá em outubro. 

Thalita Rebouças é mais uma confirmada para a FLIM 2018. Jornalista e escritora brasileira, Thalita Rebouças publicou mais de 20 livros nos últimos 18 anos. Atuando com temas voltados ao público adolescente, Thalita Rebouças apresentou o The Voice Kids, em 2017, na Rede Globo.

Fonte:

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Canteiro de Trovas do Riso n. 1


Quando o homem casa, se integra
à tal costela cedida.
E a mulher. via de regra,
regra-lhe os dias de vida...
ALARICO CINTRA

Daquele a quem hoje dás
almoço, janta e café,
amanhã receberás
um tremendo pontapé!
ALDA PEREIRA PINTO

Mulher que atinge os quarenta
pode ser bonita e boa.
A mim, porém, já não tenta:
além de cara, é coroa...
ALMEIDA CORRÊA

Era uma vez uma dona
que andava a pé, sem ninguém;
e tanto pediu carona,
que ganhou carro também!.,.
ALOÍSIO ALVES DA COSTA

Noiva, inda em casa do pai,
dizia-lhe em prantos: Vem!
Esposa, é hora do trem,
diz sempre sorrindo: Vai!
ALTINO MORAES

Bom advogado é aquele
de caráter puro e honrado,
que não deixa seu cliente
como um frango depenado...
ANTÔNIO BRAGA

Depois de ter condenado
o bicheiro Zebedeu,
o juiz saiu apressado
para ver que bicho deu...
ANTÔNIO MESSIAS DA ROCHA

Você diz que não é fria
e eu acho graça, porque
até o sol se resfria
quando olha para você...
ANTÔNIO ROBERTO FERNANDES

Político de visão,
agia de forma clara:
ao mudar de opinião,
jamais mudava de cara!
ANTÔNIO TORTATO

Se observo os homens de perto
e analiso os animais,
fico sem saber ao certo
quais são os irracionais...
APARÍCIO FERNANDES

Aqui repousa o Simplício,
coveiro, douto no assunto,
que, coveiro vitalício,
foi promovido a defunto,..
ARISTON TELES

Minha trova hoje se atreve
a dizer a quem quiser:
— Não existe pior greve
que uma greve de mulher!
AUGUSTO CLÁUDIO FERREIRA

Quando a mulher quer, eu acho
que nem Deus a desanima:
— É água de morro abaixo,
ou fogo de morro acima!...
BELMIRO BRAGA

Ela é tão cheia de graça!
Ignora minha existência...
Sabendo por onde passa,
vou criando "coincidência"...
BENNY SILVA

— "Era uma santa!" — falava
o viúvo olhando o caixão.
Mas perto alguém segredava:
— Deixe ao pobre essa ilusão...
BRANCA DO AMARAL MELLO

Sempre tem atualidade
essa velha descoberta:
a mulher de certa idade
nunca diz a idade certa.
BRASIL ALT

O Juca está radiante
porque nasceu-lhe um filhinho.
Mas o caso é que o tratante
tem a cara do vizinho...
CALIXTO DE MAGALHÃES

Nunca receies, Maria,
pelos pecados de amor:
o céu tem mais alegria
quando salva um pecador..
CARLOS GOMES

Esta matrona roliça,
que de vaidade delira,
por fora é toda postiça,
por dentro é toda mentira.
CÁSSIO CHAVES

Esse teu nome é uma troça,
com teu gênio não combina.
— Devias ser Josegrossa,
em lugar de Josefina!
CHICO VEIGA

Pilha a esposa em adultério,
certo marido notável.
Não levou o caso a sério,
pois era inacreditável!
COLBERT RANGEL COELHO

Quantos anos tem Maria?
— Não perguntes, pois é em vão,
Ela só responderia:
— "Que falta de educação!"
COLOMBINA

Dos teus joelhos para cima
conhecer-te não mereço,
mas penso que o mais é a rima
desse menos que conheço.
CRUZ FILHO

Entre uma fruta e a mulher,
o contraste sobressai:
— Aquela só vai madura,
e esta — madura não vai...
DEMÓSTENES CRISTINO

O cura de nossa terra,
cura dos mais refinados,
já me conhece de sobra
através dos teus pecados.
DJALMA ANDRADE

Fala um defunto, ao vizinho,
de uma defunta assanhada:
— Toma cuidado, velhinho,
que essa defunta é casada!
DURVAL MENDONÇA

Lá vem o Zéca da escola,
de cara desconsolada.
Traz redondo, na sacola,
um zero na tabuada.
EDGARD BARCELLOS CERQUEIRA

Estivesses tu ao lado
de Adão, naquela manhã,
e ele teria pecado
sem serpente e sem maçã.
EDIGAR DE ALENCAR

Toda mulher nos ensina
ao menos uma lição:
— fidelidade canina
pede-se apenas ao cão.
EDSON MACEDO

Morreu depois de uma sova;
e, como não tinha campa,
de uma orelha fez a cova
e da outra fez a tampa.
EMÍLIO DE MENEZES

Ao ver a campa enfeitada,
a viúva estremeceu:
— Viu tanta flor dedicada
àquele que fora seu...
EVA REIS

Cachorro em apartamento.
não há no mundo quem goste.
— Além de caro o sustento,
não tem lugar para o poste...
FARIA JÚNIOR

Não penses que me consola
o sorriso que te enfeita;
pobre que vê muita esmola
desconfia e não aceita...
FAUSTO PARANHOS

A justiça é mesmo cega,
de tão rara nos assusta!
Custa, mas um dia chega;
ou melhor: chega mas custa!...
FÉLIX AIRES

Com dois palmos de tecido
fizeste uma saia nova...
Ai, Se eu fora teu marido,
não queiras saber que sova!
FERRER LOPES

É louco quem lança pedras,
diz o ditado, mas mente.
Louco não é quem as lança,
e sim quem fica na frente...
FIDÉLIS PEREIRA DA SILVA

Ó sua descaradona,
tira a roupa da janela!
Vendo a roupa sem a dona,
penso na dona sem ela!...
FOLCLORE PORTUGUÊS

Há certas coisas na vida
que a gente vê mas não quer:
— moça de calça comprida,
— rapaz cheirando a mulher.
FRANCISCO AMORIM

Duvido, sem presunção,
que este meu sonho superes:
de ser o único Adão
num mundo só de mulheres!
FRANCISCO MADUREIRA

Quando me mostras, sentada,
teus joelhos, num sorriso,
vislumbro a curva da estrada
que me leva ao paraíso...
FRANCISCO PIMENTEL

Teu vestido decotado,
não por culpa da modista,
tal qual o arame farpado,
protege... e não tira a vista!...
FRANCISCO ROSETI

Sempre que o raio rebenta,
ela, medrosa, me abraça.
Mas a maldita tormenta,
mal começa, logo passa...
GABRIEL VANDONI DE BARROS

De pensar tanto em Maria,
— oxalá isto endireite —
no restaurante, outro dia,
pedi Maria com leite...
GILVAN CARNEIRO DA SILVA

Sou soldado na tocaia,
não atiro pra falhar:
o nível da tua sala
é mira do meu olhar.
GIOVANI XAVIER

Morre a sogra. Para o inferno
foi-se, deixando-me em paz.
— Que se apiede o Padre Eterno
das mágoas de Satanás!
GUIMARÃES BARRETO

Três amigos, em tom grave,
elogiam Florisbela:
– pois todos três têm a chave
da porta do quarto dela...
GUMERCINDO JAULINO

— Como lhe provar eu posso
minha paixão, meu tormento?
E a moça responde ao moço:
— É fácil: com o casamento...
JOSÉ FERREIRA DA SILVA

Não tenho visto, mas creio
que teu nome ande em jornais...
Muito raramente leio
os casos policiais...
JOSÉ MARIA MACHADO DE ARAÚJO

No flagrante de adultério,
entraram no quarto errado
e pegaram o Eleutério
com a mulher do delegado!
JOSÉ PAULO TAVARES

Seguro morre de velho...
Mas, por avarento e duro.
morreu o velho Botelho:
velho morre de seguro...
LAURO SILVA

Muito esquisitos eu acho
teus vestidos, minha prima:
são altos demais embaixo
e baixos demais em cima… 
NERO DE ALMEIDA SENA

As suas cartas, senhora,
releio-as de quando em vez.
Mas nelas só vejo agora
os erros de português...
PAULO EMÍLIO PINTO

Isabel Furini (O Escritor)


Ernesto mudou-se do centro da cidade para o bairro de Bacacheri, perto do parque. Precisava de silêncio para escrever sua obra fundamental. Renovarei as letras, falava com seus botões. 

Nessa manhã de sábado estava sentado diante do computador. Escrevia o primeiro parágrafo de seu novo romance. Que nome daria à sua personagem? Teria que iniciar com A para demonstrar que o enredo partia de uma ação realizada pela protagonista. Ana seria um bom nome? Não! Curto demais. Anastásia? Não! Poderia ser confundido com a história da nobre russa desaparecida. Anacleta... não... não... Albertina? Isso mesmo! Albertina! Albertina foi o nome escolhido por Proust para sua personagem feminina. Por que não? Ao final, meu livro tem uma marcante influência proustiana, concluiu. 

Uma vez escolhido o nome da protagonista, o escritor inicia o primeiro parágrafo. Tem que ser visceral, pensou. Dilacerante! “No quarto escuro, Albertina apalpa as paredes. Onde estará o espelho de luz? Um reflexo luminoso no chão. A luz entrava por baixo da porta. Do outro lado, vozes e risos. Uma festa? Não lembrava...” Não lembrava... eu escrevi não lembrava mas ficou feio. Tenho que achar outra frase. Vejamos. Uma festa? Albertina estava confusa... Que porcaria... não era isso, não. O que escrever depois da pergunta: uma festa? Imagens rápidas... Não, rápidas não!.. Imagens entrecortadas. Isso ficou bom: imagens entrecortadas acudiam velozes. Que diabos estou escrevendo? Imagens não acodem... imagens... imagens aparecem? Surgem? Nada disso. Ernesto deleta as frases e volta àquela pergunta: Uma festa? 

Ele tentou escrever esse parágrafo durante horas a fio. O sol caía no horizonte quando Ernesto, desesperado, olhou o céu azul profundo com matizes vermelhos. Olhou o monitor. Não havia conseguido terminar o primeiro parágrafo. Nem o retrato de Proust, colocado na estante lhe havia servido de inspiração. - Se não posso ser igual a Proust, para que viver? - perguntou-se. Sempre olhando o céu, encaminhou-se à janela. E trêmulo e corajoso ao mesmo tempo, gritou: 

- Márcia, coloque no meu epitáfio: Foi um bom escritor. 

A esposa correu até o quarto, mas era tarde demais. Chegou no momento em que Ernesto, de olhos fechados, jogava-se pela janela. Machucou o braço e as costas. Tentou sentar-se na grama, enquanto Márcia, colocando a cabeça para fora da janela, gritava: - Ernesto, o que tentou fazer? Você esqueceu que agora moramos no térreo?
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Isabel Florinda Furini, educadora e escritora, de nacionalidade argentina, radicada em Curitiba/PR. escreve poemas desde criança, já foi premiada em alguns concursos. Publicou 15 livros, entre eles a Coleção "A Corujinha e os Filósofos" da Editora Bolsa Nacional do Livro, em 2006.  Em 2007 redigiu a obra SENAC PARANÁ, 60 ANOS e publicou "O Livro do Escritor", da editora Instituto Memória, Curitiba, 2009. Ministra palestras e oficinas direcionadas a novos escritores.
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Fonte:

Leandro Bertoldo Silva (Projeto Literário em Escola no Vale do Jequitinhonha)


Tudo começou com uma pergunta: como fazer os jovens se interessarem mais pela leitura? E a resposta apareceu muito clara e direta: colocá-los do outro lado da história, ou seja, do lado de quem escreve.

Pimba!

A partir daí, o escritor e professor Leandro Bertoldo Silva procurou a escola Orlando Tavares, a qual já havia lecionado há 5 anos, e fez a proposta à diretora Jussara Pinheiro Paiva que, prontamente, acatou a ideia abrindo as portas da escola para que o projeto acontecesse. Tal aprovação é externada em sua fala:

Jussara Pinheiro Paiva. Diretora da Escola Orlando Tavares:

“É de uma imensa alegria compartilhar desse projeto com os alunos, professores e demais profissionais da escola. Foi desenvolvido pelo escritor, professor e amigo Leandro Bertoldo Silva atividades em sala de aula que acabaram aguçando a imaginação dos nossos discentes, nos mostrando como são habilidosos.

Acredito que a escola seja um lugar para construir prazerosamente o conhecimento integrado com afeto, valorizando a leitura e a escrita. Este livro proporcionou exatamente isso: possibilitou aos nossos alunos a elaboração de textos partindo de uma história de cada família. Durante esse trabalho fica claro que o entendimento literário pode ser prazeroso quando se trata do que se vive e é nessa pequena/grande diferença que mora o segredo para (des)costurar pensamentos com a ajuda da entrelinha.

Quero parabenizar a iniciativa do escritor e professor Leandro e a cada aluno que aceitou esse desafio. Que seja o primeiro de muitos livros publicados pelos alunos da EOT”.

Para isso, Leandro assumiu as aulas de redação da escola, levando aos alunos todo o conhecimento adquirido em seu curso Vivenciando a Linguagem, Leitura e Escrita na cidade de Padre Paraíso e região, oferecendo aos alunos uma forma pragmática de estudo.

O projeto foi dividido em 4 etapas – uma para cada bimestre – onde, em cada um deles, os alunos do ensino fundamental 2 (6º ao 9º anos) foram sendo orientados a partir de dinâmicas de escrita criativa e conhecimentos técnicos da escrita narrativa a entrarem em contato com o texto literário.

A proposta foi a escrita de um livro em conjunto – uma coletânea de mini contos – na qual cada aluno escreveria uma história partindo da concepção da escrita concisa, bem aos moldes do livro Entrelinhas Contos mínimos, escrito pelo próprio professor e escritor Leandro, e que todos tiveram acesso de forma online, juntamente com outro livro do autor (esse físico) – Janelas da Alma: uma tempestade íntima, um conflito, um retorno – como forma de mostrar na prática o processo de escrita e publicação de uma obra.

Faltava o fio condutor do livro, e este ficou por conta das memórias de família, que acabou sendo a temática do trabalho como mais uma estratégia de envolver as famílias dos alunos aproximando-as ainda mais do projeto, da escola e deles mesmos, pois, segundo o escritor Bartolomeu Campos Queirós em uma das unidades de um dos livros didáticos dos próprios alunos, “o que não foi esquecido merece ser repensado”.

Como mostra do envolvimento dos alunos, leia a seguir alguns depoimentos bem emocionantes!

Ana Esther Alvim de Godoy – Aluna do 6º ano.
“Essa aventura começou quando tivemos que levar um objeto antigo de família para a escola. Na hora fiquei um pouco preocupada, pois pensei que em casa não teria nada para levar. Fiquei a aula toda pensando sobre aquilo. Chegando em casa comentei com minha mãe e meu pai. Ao entardecer, meu pai chegou em casa falando que tinha pensado em uma coisa com bastante história, e eu fiquei muito empolgada. Era um rádio bem velho, mas em bom estado. Achei muito interessante, pois vinha do passado, o que seria bom, pois estávamos falando de lembranças, não é mesmo?”

Igor Gomes da Silva – aluno do 7º ano.
“Antes de relatar minha experiência com esse projeto, gostaria de parabenizar o meu professor Leandro pela iniciativa, pois estar à frente da construção de um livro requer muita coragem, esforço, dedicação e amor. Quanto a experiência, o tempo que passei com a minha mãe e irmão em busca do material foi muito importante, pois juntos percebemos que naquelas fotografias estavam registrados momentos que eu não teria como me recordar porque era muito pequeno. A fotografia escolhida retratava uma viagem que fiz com toda minha família para um hotel fazenda próximo de Governador Valadares, um lugar lindo, com tirolesa, piscina, sinuca, animais como cavalos e aves”.

Renato Santos Silva – aluno do 8º ano.
“Minha busca pelo objeto foi muito interessante, pois fui à casa da minha bisavó procurar algumas lembranças significativas na minha família para levar à escola. Chegando lá, minha bisavó começou a contar histórias da sua infância e de toda sua vida através dos objetos que tive curiosidade de conhecer. Dentre tantos, optei por dois, sendo eles o cassetete de quando o meu bisavô era soldado, da Polícia Militar de Minas Gerais, o qual minha bisavó sempre guardou com muito carinho para lembrar dele, que infelizmente faleceu. O outro foi o telefone que a esposa do Dr. Domingos Savio, grande médico que teve em Padre Paraíso, havia dado para ela. Minha bisavó gostava muito dele e ele a admirava muito. Sempre que podia, o médico a visitava, e ela, esperta como sempre, aproveitava para fazer uma consulta. Prova disso é que ela tem várias receitas guardadas até hoje”.

Vitória Amaral Neves – aluna do 9º ano.
“Desde que nos foi feita a proposta, questionei-me inúmeras vezes de como a mesma seria realizada, pois cada aluno teria que escrever uma história a curto prazo direcionadas para um livro. Confesso que passou em minha cabeça a possibilidade de que o projeto não seria concluído, mas agora vejo que nada está sendo em vão. Com a procura dos objetos e fotos foi possível que um vínculo fosse criado em nossa família. Relembrar as histórias fez com que criássemos um momento particular entre nós, além do que pudemos nos aproximar de outros alunos e contar o trajeto das fotos e dos objetos levados por nós. Vejo que com o andamento das histórias irá ser um trabalho de incrível repercussão, podendo servir de inspiração para outras escolas, assim ampliando e fortalecendo ainda mais a literatura brasileira”.

Fabiene Ramalho Lopes Dutra, mãe da aluna Hanna Ramalho Dutra, do 6º ano.
“Penso que a leitura tem que fazer parte da educação da criança, e sempre incentivei Hanna a ler, mostrando a ela o quanto podemos aprender com um bom livro. Quando fiquei sabendo do projeto de escrever um livro, achei muito interessante. Uma forma de incentivar os alunos, a desenvolver a leitura e a escrita. O processo de pesquisa e a busca por informações envolveu a família e amigos. Recordamos momentos alegres e tristes, mas que faz parte da nossa história”.

A publicação do livro ficou por conta da Árvore das Letras, através do selo Alforria Literária, também desenvolvido pelo escritor e professor, no qual a publicação obedece a um conceito de sustentabilidade, onde os livros são publicados sob demanda produzidos com capa de papel ecológico inteiramente personalizado com fibras de material orgânico e tinta natural, numa verdadeira artesania literária, sendo o miolo do livro de papel reciclado, demonstrando um valor importante na preservação do meio ambiente, através do uso de recursos renováveis. (Clique AQUI para conhecer os livros e saber mais sobre a Alforria Literária).

A culminância do projeto, como não poderia deixar de ser, será uma noite de lançamento, com data já marcada para o mês de novembro, onde os alunos/escritores irão receber seus convidados e autografar os seus livros, fazendo desse momento mais uma realidade literária de nossas letras, valorizando o que de melhor existe em Padre Paraíso e no Vale do Jequitinhonha: sua própria gente e suas próprias histórias.

Para mim há uma grande diferença entre estudo vivo e estudo morto. Estudo vivo é aquele que pauta sua existência na produção de ideias e não apenas na repetição do que já existe, ainda mais o disfarçando sob o viés do conhecimento. Estudo vivo privilegia o compartilhamento, mesmo que o mundo muitas vezes nos leva a acreditar no contrário e nos faz criar escolas que são regimentos de competições, mas, pelo estudo vivo, aprendemos que há lugar para todos, pois ele cria e vive nas asas das possibilidades. Estudo vivo respira e se pergunta sempre “por que não?”, ao invés de conservar-se no abafamento das respostas prontas que nos faz ter vidas prontas, permanecidas em si mesmas, cinzas, sem perfume e cor. Sempre duvidei das escolas cinzas… Não, não pintem suas salas de aula de cinza. Se for para tê-las, tenha-as coloridas.

Acho que sempre fui indisciplinado, uma espécie de inconformado social, a ponto de não aceitar verdades verdadeiras; elas podem ser falsas e perigosamente destruidoras de sonhos. Também sempre acreditei que uma escola não pode motivar os seus alunos utilizando apenas o velho recurso de provas e notas. Uma escola assim tem algo de muito, muito errado, e alguma coisa precisa ser feita. Este livro é a tentativa dessa coisa, como é a tentativa de tudo o que eu faço, pois livros mudam vidas.

Quando fiz aos alunos a proposta de escreverem um livro, li em seus rostos uma certa descrença. Mas já esperava por isso. Minha tarefa não era apenas concretizar o que eu sabia que eles poderiam, mas tocar-lhes o coração. E isso foi acontecendo gradativamente, até que todos perceberam que sim, era verdade, escreveríamos um livro e que eu não iria desistir.

Uau!! É mesmo verdade! Vamos escrever um livro! Sobre o quê? Aqui entra uma outra coisa que acredito: a família. Sem ela não existimos. É ela que nos nutre, que nos faz acontecer. Precisava envolver não apenas os alunos, mas as suas famílias nas páginas do que seria escrito, confiando que desse encontro surgiriam lembranças, memórias, aproximações e curas, sim, curas, pois a busca de memórias escondidas pode sarar muitas distâncias…

E como diz Bartolomeu Campos Queirós, um escritor que soube muito bem entender como as lembranças moram em nós e delas surgem histórias, “a memória é um espaço interno onde a fantasia conversa com a realidade”, ou seja, “o que não foi esquecido merece ser relembrado”.

Pronto. Estava tudo exposto. Agora era trabalhar, fornecer aos alunos o que precisavam para escrever. Algumas técnicas, umas dinâmicas, um pouco de experiência, um tantinho de informação e muita, muita leitura e uma dose imensa de vontade. O resultado? Bem, está aqui em suas mãos ao alcance de seus olhos. É só virar as páginas e permitir-se ir nessa viagem, que não há feio nem errado; há histórias lindas, reais e imaginadas, também há as misturadas saídas de cada um a sua maneira e que, por isso, já bastam.

Quanto a mim, sigo o meu caminho com um profundo sentimento de gratidão. Obrigado aos alunos, à escola e às famílias por acreditarem que sonhos foram feitos para serem sonhados e muito mais para serem realizados.

Fonte:

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Filemon F. Martins (Quem é Vanda Fagundes Queiroz?)

Escritora, poetisa, cronista, trovadora, declamadora, memorialista, contista, professora, mãe, e hoje também avó, casada com o Dr. Geraldo Queiroz (Cirurgião-Dentista) e mãe de Jone, Eliana, Gude e William. Nasceu em 20 de novembro de 1938, na vila de Santo Antonio da Boa Vista, município de São João da Ponte, norte de Minas Gerais. Viveu parte de sua infância na Fazenda Tipis, segundo ela, “um paraíso, o melhor lugar do mundo”. Filha de Aristides Fagundes de Souza (falecido em 1945) e Maria de Deus Ferreira (falecida em 1999).

Eu a conheci como exímia trovadora quando na década de 80 frequentava as reuniões da União Brasileira de Trovadores – Seção de São Paulo, então sob a presidência do magnífico Izo Goldman. Naquela época faziam parte da UBT-SP, grandes trovadores, como Orestes Turano, Adélia V. Ferreira, Alice Bueno de Oliveira, Clóvis Maia, Lauro de Almeida, Cipriano Ferreira Gomes, Geraldo Pimenta de Moraes, Sara Kanter, Marilita Pozzoli e outros cujos nomes não me recordo, no momento.

Vanda, conforme narra em seu livro “UMA LUZ NO CAMINHO”, com sete anos de idade iniciou o curso primário na cidade de Ibiracatu, naquela época uma pequena vila. Logo de inicio, aflorou a tendência para a arte de ler e escrever, e a menina estudiosa e declamadora tornou-se poetisa, ainda adolescente. Sua vida de infância, até a conclusão do curso primário, foi retratada com emoção no seu livro “UMA CANDEIA NA JANELA”, narração romanceada de seu contexto familiar, baseada em lembranças da infância, mas que indiretamente se faz registro de uma cultura regional, com seu linguajar próprio, culinária, costumes, tipos humanos, traços vivos de um determinado tempo e um determinado espaço restritos a uma rústica região do sertão mineiro.

Continuou os estudos no Colégio Imaculada Conceição, em Montes Claros, progressista cidade do norte de Minas Gerais, e ali fez o curso ginasial e depois se formou normalista (Curso Normal de Formação de Professores Primários). Casou-se em 1958 e foi residir em Curitiba, Paraná. Por concurso público, ingressou no então DCT (Departamento de Correios e Telégrafos), hoje ECT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Ainda em Curitiba, fez o curso de Letras (Português e Francês) na Universidade Católica do Paraná (PUC), enquanto escrevia crônicas, poemas, trovas e sonetos.

Depois de 16 anos de trabalhos e estudos em Curitiba, em razão da transferência de seu esposo para a Base Aérea de São Paulo, Cumbica – Guarulhos, a família mudou-se para Guarulhos, onde Vanda continuou trabalhando nos Correios, escrevendo e participando de concursos de Trovas e Poesia em todo o país. Licenciada em Letras, tornou-se professora da rede escolar paulista, lecionando, inclusive Francês. Pouco depois, concursada, deixou a ECT e efetivou-se como professora na Escola Estadual de Primeiro e Segundo Graus “Professor Fábio Fanucchi”, em Guarulhos-SP. Em 1984 recebeu medalha de “Professor do Ano”, uma promoção da Prefeitura Municipal. Foi a primeira mulher a ingressar na Academia Guarulhense de Letras (AGL). Ainda em Guarulhos, fez o Curso de Pedagogia Plena, nas Faculdades Farias Brito.

Contando com trabalhos ainda inéditos, publicou até agora cinco títulos: “TRAJETÓRIA” (Poesia), Editora do Escritor, São Paulo, 1981; “DESCORTINANDO” (Poesia), J. Scortecci Editora, São Paulo, 1990; “CONVERSA CALADA” (Sonetos), Editora Lítero-Técnica, Curitiba, PR, 1990; “UMA CANDEIA NA JANELA” (Prosa), Torre de Papel Editora Gráfica, Curitiba, PR, 1997 e “UMA LUZ NO CAMINHO” (Autobiografia), Editora Torre de Papel, Curitiba, PR, 2004.

Premiadíssima nos concursos de poesias e trovas por todo o Brasil e às vezes em Portugal, a poesia versátil de Vanda é repleta de ternura, sensibilidade, profundidade de sentimento, com domínio perfeito da língua portuguesa, mas sem rebuscamento. Emociona quem lê, porque escreve com o coração. No livro CONVERSA CALADA, são sessenta (60) sonetos (incluindo uma versão para o Francês), versando sobre desencontro, esperança, tristeza, alegria, família, criança, flor, fantasia, filosofia, amor, saudade, vida, etc.

Assim, em seus versos encontramos a jovem apaixonada: 

“Quando eu te conheci,
plasmou-se a infinitude
das coisas eternas.

Algum liame perene
para além firmou-se,
muito além das coisas menores.

Estrelas trocaram sorrisos,
anjos tocaram guizos.

Nasceu o inexplicável,
o essencial,
o verdadeiro”. 

A mulher casada e mãe, embevecida com suas crianças, como escreveu no soneto A Meu Filho: 

“Vejo a criança de ontem em você,
que embalei nos meus braços ternamente.
Sinto inundar-me de emoção porque
eu vi botão a flor hoje imponente”. 

Ou ainda, a avó saudando o primeiro neto: 

“A notícia é como afago,
traz-me ternura e carinho:
Que bênção! Chegou Tiago,
o meu primeiro netinho”.

Lendo a poesia espontânea, vibrante e suave de Vanda Queiroz é impossível não nos lembrarmos da grande poetisa de Goiás, Cora Coralina, com suas “Estórias da Casa Velha da Ponte”.

Retornando a família em 1985 para Curitiba, Vanda aposentou-se do magistério e passou a ocupar-se com trabalhos de revisão de texto, além de desempenhar serviço voluntário na igreja. Ocupa, hoje, a cadeira nº 12 da Academia Paranaense de Poesia. Pela sua obra literária, foi agraciada em 2008 com a Medalha de Mérito “Fernando Amaro”, promoção da Prefeitura Municipal de Curitiba. Só no âmbito da trova, conta com mais de trezentas premiações. Eis uma pequena amostra: Em Niterói, RJ: 

“Sombra e luz fazem nuança
no largo painel da vida.
Luz é o raio de esperança,
e sombra, a ilusão perdida”. 

Pouso Alegre, MG: 

“Olhando o velho retrato
da praça, eu ouço à distância
acordes que são, de fato,
cirandas da minha infância”. 

Bandeirantes, PR: 

“A mais sublime lição
de grandeza, amor e fé,
foi ver um homem sem mão
pintando flores com o pé”. 

Campinas, SP: 

“Por mais que o progresso iluda,
deturpe e inverta valor,
o que Deus fez ninguém muda:
o amor será sempre amor!”

Sua preocupação social é patente no poema “Menino da feira”, 1º lugar no Concurso Rosacruz, em Guarulhos, SP: 

“Menino da feira,
esperto e magrinho,
tão cedo na vida
perdeu seu lazer.

Carreto, moça?
Baratinho, dona!
Posso cuidar do carro, tia?

Menino insistente
pedindo com os olhos
que guardam no fundo
segredos do lar…

(Talvez o pai fugiu…
A mãe leva para fora…
Oito irmãozinhos com fome...)

Menino
sem direitos…
só deveres.

Seus pais, onde estarão?
Talvez você seja filho…
da minha própria omissão.”

Segundo Adélia Victória Ferreira, “Vanda não precisa de apresentações ou apologistas. Sua arte fala por si. Basta conhecê-la para se constatar que ali se desvenda uma das maiores poetisas brasileiras da atualidade”. Bem definiu a professora Elisa Campos de Quadros, Mestre em Letras e Professora Adjunta de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Paraná, quando disse: “A alma doce e introvertida da autora demonstra, nesse impulso para o retraimento, que a poesia coabita mais com a solidão do que com o barulho, viceja mais no silêncio do que no burburinho”. E acrescenta que: “Conversa Calada é uma obra que traz canto, encanto e encantamento”.

Está presente no “Anuário de Poetas do Brasil – 1980 – 3º volume, organizado pelo saudoso poeta Aparício Fernandes, Rio de Janeiro, RJ, páginas 447/452 com dez sonetos primorosos. Figura também no “Anuário – Coletânea de Trovas Brasileiras (página 10) e em ESCRÍNIO, Seleção Anual de Trovas (página 14) ambos de 1981, organizados pelo saudoso trovador Fernandes Vianna, Recife – Pernambuco.

Assim, a mineira de nascimento e paranaense de coração, ou por adoção, vai construindo sua obra literária sem alarde, mas forte, vigorosa e contínua, sem abdicar, contudo, da ternura e da simplicidade, garantindo um lugar de destaque no Panorama da Literatura Brasileira.

BIBLIOGRAFIA:
Anuário de Poetas do Brasil – 1980 – 3º volume, Aparício Fernandes, Folha Carioca Editora Ltda, Rio de Janeiro, RJ;
Anuário – Coletânea de Trovas Brasileiras – 1981, Fernandes Vianna, FIDA Editorial, Recife, PE;
Escrínio – Seleção Anual de Trovas – 1981, Fernandes Vianna, FIDA Editorial, Recife, PE;
Conversa Calada – Vanda Fagundes Queiroz, Editora Lítero-Técnica, 1990, Curitiba, PR;
Uma Luz no Caminho – Vanda Fagundes Queiroz, Editora Torre de Papel, 2004, Curitiba, PR.

Fonte:

Emílio de Meneses (Poemas ao Anoitecer)II


A CHEGADA

Noite de chuva tétrica e pressaga.
Da natureza ao íntimo recesso
Gritos de augúrio vão, praga por praga,
Cortando a treva e o matagal espesso.

Montes e vales, que a torrente alaga,
Venço e à alimáría o incerto passo apresso.
Da última estrela à réstia ínfima e vaga
Ínvios caminhos, trêmulo, atravesso.

Tudo me envolve em tenebroso cerco
D'alma a vida me foge, sonho a sonho,
E a esperança de vê-la quase perco.

Mas uma volta, súbito, da estrada
Surge, em auréola. o seu perfil risonho,
Ao clarão da varanda iluminada!

SEM TÍTULO

Amo, e por este amor verto o meu próprio sangue;
E sei que deste amor o que de bom me resta,
É que por to provar eu te irrite, eu te zangue
Pois entraste da intriga a embrenhada floresta.

Mas que importa que o luar importune a avantesma
E que a suspeita gire em torno de uma estima,
Quando essa estima tem a mesma força e a mesma
Vida eterna de um sol que outros astros encima?

Gravitem em redor satélites mesquinhos
Os bastardos da luz, os espúrios da glória.
Que importa! Se este amor por tortuosos caminhos
Beijo a beijo nos leva à suprema vitória?

Os espinhos cruéis se transformam em louros
E a mulher que os teceu vai à imortalidade;
Tira ao Dante Beatriz os egrégios tesouros,
Ou com ele deslumbra ainda hoje a humanidade?

Porventura a nobreza e os brasões de Eleonora
Tinham vida e grandeza iguais ao tempo e o espaço?
Não, que o esquecimento a asa desoladora
Sobre ela vinha abrir – não fora o amor de Tasso!

Que o ódio impotente e vil se definhe e se exaura
No seu esforço vão, - babugento heresiarca –
Que seria de ti, ora aureolada Laura
Se te não perpetuasse o plectro de Petrarca?

Se esses amores, tu, velho gênio da intriga,
Não chegaste a queimar na pira do teu culto
Quando eles tinham só por companheira e amiga
A musa do poeta a perpetuar-lhe o vulto,

Quanto mais destruir este em que duas almas,
Filhas da mesma luz, filhas do mesmo gênio,
Se unem para a conquista ideal das mesmas palmas,
À luz do mesmo teatro e do mesmo proscênio?

Vem! que clamam por ti as vozes do meu verso,
Náufragos a pedir socorro entre os escolhos
Para que em mim concentre e resuma o universo
Basta a constelação que vive nos teus olhos!

DA MINHA JANELA
(Soulary)

Desta janela aberta aos eflúvios de Abril,
Vendo os que vão e vêm, a alma sonha e medita:
- "Pela vida- a lutar nesta faina febril,
Este e aquele, onde vão? de onde vêm nesta grita?”

O que se ama ou se odeia ou se busca ou se evita,
Tudo se cruza aqui numa trama sutil.
- Quantos a morte leva ou seja nobre ou vil,
Enquanto em pleno sol o vivente se agita? -

E penso então que desde o tempo mais distante
A rua vê correr a humana vaga, e nela,
Nada mudar da vida o drama palpitante.

E que outras ondas sempre aqui virão rolar...
Sempre as mesmas! porém, desta minha janela,
Outros - não eu! - virão vê-las ir e voltar...

FLAVA DEA

Da discreta persiana pelas fendas
Cuidadosos passai, raios brilhantes
Do sol! segui-os meu olhar! Instantes
Raros vos mostram as mais raras prendas.

Como das ondas das pagas legendas
Súbito surgem deusas triunfantes.
Saltam-lhe as formas níveas, palpitantes
Da branca espuma das nevadas rendas.

Agora uma; agora esta outra poma;
O ventre agora, agora... - que ansiedade! -
Curva por curva, o corpo todo assoma!

Sol! meu olhar! mais ávidos! pois há de
Ao desprender-se farta a loura coma,
Velar da Deusa a nua majestade.

Fonte:
Emílio de Meneses. Obra Reunida. 
Rio de Janeiro: Livraria José Olympio, 1980.