domingo, 23 de abril de 2023

Dorothy Jansson Moretti (Álbum de Trovas) 23

 

Ilda Maria Costa Brasil (Reencontro)

Ao acordar, olhos e corpos nostálgicos. Juliette pensa em sair, visitar antigos colegas, no entanto, nestes quinze anos que esteve fora, não mantivera contato com nenhum deles.

Se princípios políticos, morais e sociais modificaram-se, com certeza, mudaram-se de bairro ou, até mesmo, de cidade. Ciente de que sua jornada será tal qual “procurar uma agulha num palheiro”, ainda que tanto desanimada e triste, levantou-se e, após fazer um lanche, partiu em busca de seu passado.

A caminhada faz sua saudade aflorar. Por várias vezes, para e olha à sua volta a procura de mundo em que inteligência e razão eram pré-requisitos amizade, esperança e futuro promissor, elementos que, não só embalaram sonhos, mas valorizaram vínculos afetivos.

Ao tocar na primeira campainha, decepção. Há cinco anos, a moradora comprara o imóvel.   

Em seu rosto, a certeza de que encontraria alguém e, que esse ou essa, dar-lhe-ia notícias dos demais.

Em inúmeras portas, bateu. Nada. Via, em épocas passadas, momentos de felicidade e companheirismo; não podia desistir. Isso não seria o  fim de seu  caminho,  mas o início. No grupo, harmonia e respeito.

Distraída, ao descer a rua, tropeçou numa laje e caiu. Fratura exposta. O taxista que a socorreu, levou-a a emergência do São Lucas. Durante o percurso, avisou a mãe do ocorrido e disse que estava indo a um hospital. Mais tarde, ligaria. 

Juliette, inicialmente, foi atendida por um clínico, que a submeteu a vários exames. Após, encaminhou-a a um cirurgião traumato. Qual surpresa! O médico era um dos ex-colegas que procurava.

– Bruno, não vais acreditar, caí enquanto peregrinava atrás de vocês. Que notícias tens da turma?

– A Juliana está na Austrália; a Berenice, na Nova Zelândia; o César, na Irlanda; a Melissa, em Fortaleza; o Felipe, no Rio de Janeiro; a Bruna, em São Paulo; a Gabriela, no Paraná; o Henrique, em Santa Catarina; a Carol, a Helena e eu, em Porto Alegre, não abandonamos a terrinha.

– Conta-me mais. Como vocês mantiveram o contato?

– Isso fica para amanhã. Temos muito trabalho pela frente. 

No dia seguinte, Juliette, ansiosa,  aguardou  a visita do amigo, o Dr. Bruno.  Esse veio acompanhado das meninas que continuavam morando na cidade. Ela se emocionou ao vê-los.

Carol contou-lhe que Bruno sentiu-se abandonado quando ela fora para a França, ele tinha uma quedinha por ela. Por longo tempo, vivenciou a sensação de abandono e perda. A vida, às vezes, parecia-lhe não ter sentido, aprisiona os bons momentos que, provavelmente, traz registrados em suas lembranças.

A turma tudo fez para animá-lo e, aos poucos, sua insegurança afetiva e social foi superada. O importante foi que ele voltou a viver; resgatou a beleza da vida; deixou de ser a imagem de um passado e traçou um caminho responsável e fantástico, um mundo de amor, ética e profissionalismo. Bruno teve duas ou três namoradas, entretanto, os relacionamentos não eram duradouros. 

Juliette, ao receber alta, passou aos amigos o endereço dos pais e pediu-lhes que mantivessem o contato. Nas suas presenças, sentia-se segura e protegida.

Certo dia, ao oferecer um jantar, em agradecimento, pelos cuidados e carinho recebidos, disse-lhes que o trio tinha lhe ensinado a ver a vida com otimismo e esperança. De repente: 

– Gente, um minuto de atenção. Bruno, queres namorar comigo? O amor que trazemos em nossos corações é que faz de nós, pessoas especiais.

Fonte:

Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves (em versos)


Augusto Barbosa Coura Neto 
(Acadêmico Correspondente)
Florianópolis/SC

LEMBRANÇAS

Quando relembro minha adolescência,
Ao sabor da aventura... da ambição...
Meus olhos marejam com insistência,
Lágrimas tristes da recordação.

Dentre as saudades no meu coração,
Lembro o meu pai com sua benevolência,
E minha mãe, anjo de paciência,
Forjando em nosso lar a gratidão.

Os meus pais... juventude... nunca mais.
Tudo se desfez... até os ideais,
Afastaram-se de mim as emoções.

Hoje só e tristonho não reclamo,
Sou como o arbusto que perdeu seu ramo,
Deixando de florir as ilusões.
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José Moreira da Silva
Porto Alegre/RS

BREVIÁRIO DA FLOR

​Enquanto a bela flor enfeita o campo,
um pirilampo emite luz incerta 
noutras paragens. E nasce o canto 
em metáforas: o poema desperta

a beleza da flor, as penas brancas
do pássaro a voar no imaginário.
No desenho do corpo da potranca
o garanhão legou seu breviário.

E aquele olhar profundo penetrou, 
foi além da vil carne, em busca d’alma, 
onde o marco poético cravou

moirão de cerne da melhor estirpe. 
Palavras de beleza tal são palmas, 
enfeitam tudo o que na mente existe.
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Ilda Maria Costa Brasil
Porto Alegre/RS

DANÇANDO NO CÉU

Alguns vagalumes dançam no céu
cheios de encantos e muita sedução.
As crianças agiram pela emoção;
fascinados, fizeram o escarcéu. 

 Ao longe, vejo um pé da Flor-do-céu,
arbusto usado para ilustração; 
flor, perfeita, própria à ornamentação,
por ser linda como a Rosa-do-céu, 
 
A brisa noturna e o aroma floral 
despertaram-me agradáveis lembranças 
de férias passadas no litoral.

Num dia, fui flagrada por temporal. 
Com amigos, treinei passos de danças 
por ímpar movimento corporal.
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Maria da Glória Jesus de Oliveira
Porto Alegre/RS

ELES
 
Na bela manhã, pássaros, em revoada,
Pousam no chafariz, esvoaçando penas.
Asas, num bater de alegria atordoada,
Dão mostra dum festival de cores em cenas.

Risonhos jovens, que trilhavam seus caminhos,
Estacaram ao ver o fato hilariante
Dos tão animados e festivos bichinhos
O que justificou a tal surpresa do instante

Sob um ipê-rosa o policial observava
O alarido inusitado e as tantas risadas
O que o levou a reciclar seu sofrido dia

Reunindo na mente as histórias que amava
O tropeço com o oficial das armadas
E que, ao ver jovens e aves, o mal desfazia.
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Maria Efigênia Coutinho
(Acadêmica Correspondente)
Balneário Camboriú/SC

SONHOS

Quando tiver um sonho, construa um altar:
um espetacular altar de rua
que lhe couber em sorte no ato de amar
ainda que imperfeito à luz da Lua!

Quando você sonhar, construa um caminho
de saibro ou granito, pouco importa!
onde a Lua possível seja o linho
dum telhado com janelas e uma porta!

Não há sonho que dure eternamente,
perdemos um a um, sem grande esforço,
sorrimos à deriva pela mente
que nos atrai o pólo ou o seu dorso.

Somos fiéis ao amor pra nosso mérito
porque nele encontramos o que é feérico...
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Sonia Eichenberg Campello
Porto Alegre/RS

O SOL E A ROSA 

Era de manhã e uma rosa que se abria 
Ao sol dourado e cálido, entre março e agosto. 
Ambos vencendo a bruma e a madrugada fria. 
A rosa orvalhada mostrava o alvo rosto. 
  
E tão branca era, ó meu Deus, pura como a santa 
a cujos pés, no altar, estava destinada! 
E o sol, admirado, brilhava para ela. 
A rosa se aquecia aos raios, deliciada. 
  
Caminhos paralelos = vidas separadas. 
aqui na terra o sol não pode descer, não! 
Se as nuvens o encobrem o seu calor é nada. 
  
E a flor, do solo, nunca o próprio talo arranca. 
Será, pra sempre, uma rosa em um botão, 
e permanecerá eternamente branca.

Fonte:

Jaqueline Machado (Aruanda entre nós) Maria Molambo


Maria Molambo ou (Mulambo) nasceu em berço de ouro, cercada de luxos. Seus pais não eram reis, mas faziam parte da Corte de um pequeno reinado. Cresceu bela e delicada. Aos quinze anos foi pedida em casamento pelo rei, para casar com seu filho de quarenta anos. Não foi um casamento por amor, e sim de interesses entre as famílias. Os anos passavam e Maria não engravidava, fato que perturbava o príncipe, já que ele estava envelhecendo e precisava de um sucessor para ocupar o trono.  

Ela era chamada de árvore que não dava frutos. E, em sua época, toda mulher que não tinha filhos era tida como amaldiçoada. Além do sofrimento por causa da união sem amor, não conseguia ter filhos. Ela era uma mulher bondosa que buscava ajudar os mais necessitados. Nas suas andanças, conheceu um jovem viúvo, apenas dois anos mais velho do que ela. O rapaz tinha dois filhos, dos quais cuidava com muito apreço. Eles apaixonaram-se à primeira vista. 

– Vosmice é tudo o que sonhei para a minha vida. – disse o viúvo certa vez. 

Mas não tinham coragem de assumir o amor que sentiam um pelo outro. 

O rei morreu, o príncipe foi coroado. Ela virou a rainha daquele país. O povo a adorava, mas alguns morriam de inveja de sua beleza e posição. E a criticaram pelo fato de ser uma mulher estéril. No dia da coroação, os pobres súditos não tinham o que oferecer a sua rainha que era tão bondosa com eles, então fizeram um tapete de flores para ela andar.

- Em coro, o povo bradava: salve a rainha!

 O rei, tomado de ciúmes, se enfureceu: trancou Maria no quarto e a agrediu. 

- Não me agrida, meu senhor! – suplicava ela.

Mas suas súplicas foram em vão. As agressões passaram a ser uma constante na sua vida, então, ela fugiu do castelo. Não era mais rainha, vestia roupas simples, surradas (daí o apelido Molambo). Sentava nas calçadas à beira de lixos com um gato de rua, não se sabe bem em quais circunstâncias, a história tem seus buracos, ela engravidou. A notícia chegou aos ouvidos do rei. 

- Ela tem que morrer! – sussurrou o rei num ranger de dentes. 

Ordenou aos guardas que amarrassem duas pedras nos pés de Maria e que a jogassem na parte mais funda do rio. Sete dias depois do crime, às margens desse rio, local onde foi morta, começaram a nascer flores que ali nunca haviam nascido. Seus súditos só pescavam naquele lugar onde havia fartura de peixes.

Seu amado, inconformado, mergulhou no rio procurando pelo corpo de sua amada, e o encontrou. O corpo da moça estava intacto, e parecia que ia voltar à vida. Velaram-na. E fizeram uma cerimônia digna de uma rainha. Seu corpo foi cremado. O rei enlouqueceu. E seu amado nunca mais se casou, cultuando-a por toda a vida.

Quando morreu e reencontrou Maria, o céu se fez mais azul e teve início a primavera.

No mundo espiritual, dona Maria Molambo tornou-se uma entidade da linha de esquerda muito cultuada nos dias de hoje nas rodas de Candomblé e nas giras de Umbanda.

É conhecida como Bruxa das Almas. E no mundo espiritual, tem sua legião feminina. Alguns nomes da sua legião: Maria Molambo da Estrada, Maria Molambo dos Véus, Maria Molambo das Rosas, Maria Farrapo, Maria Molambo das Almas, Maria Molambo dos Sete Portais e muitas outras.

Seu campo de atuação de cura se encontra nos abismos internos do ser humano, nas sombras onde residem os demônios que induzem às más práticas e os pensamentos negativos. Energias que viram lixos tóxicos nas entranhas do corpo e da alma, que por ela são removidos com sua vassoura mágica.

Cântico à Maria Molambo

Ó Maria Molambo!
Ó poderosa mulher!
Ó linda rainha,
vem me dar o seu axé.
 
Sei que cuidas de mim,
e me livra de falsos amores ,
sua vassoura varre meu caminho
no meu chão faz nascer flores..
 
Em honra a sua história,
lhe ofereço oferendas,
sendo que dentre delas
estão os meus poemas.

Ó querida bruxa,
com meu nome no caldeirão,
mexe a mistura,
limpando meu coração.

Fonte:
Texto enviado pela autora.

sábado, 22 de abril de 2023

Vanice Zimmerman (Tela de Versos) 15

 

Lima Barreto (Eficiência militar)

(Historieta chinesa)

LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial, nem tampouco, nas últimas manobras, tinha demonstrado grandes aptidões guerreiras.

Como toda a gente sabe, o vice-rei da província de Cantão, na China, tem atribuições quase soberanas. Ele governa a província como reino seu que houvesse herdado de seus pais, tendo unicamente por lei a sua vontade.

Convém não esquecer que isto se passou, durante o antigo regime chinês, na vigência do qual, esse vice-rei tinha todos os poderes de monarca absoluto, obrigando-se unicamente a contribuir com um avultado tributo anual, para o Erário do Filho do Céu, que vivia refestelado em Pequim, na misteriosa cidade imperial, invisível para o grosso do seu povo e cercado por dezenas de mulheres e centenas de concubinas. Bem.

Verificado esse estado miserável do seu exército, o vice-rei Li-Huang-Pô começou a meditar nos remédios que devia aplicar para levantar-lhe o moral e tirar de sua força armada maior rendimento militar. Mandou dobrar a ração de arroz e carne de cachorro, que os soldados venciam. Isto, entretanto, aumentou em muito a despesa feita com a força militar do vice-reinado; e, no intuito de fazer face a esse aumento, ele se lembrou, ou alguém lhe lembrou, o simples alvitre de duplicar os impostos que pagavam os pescadores, os fabricantes de porcelana e os carregadores de adubo humano - tipo dos mais característicos daquela babilônica cidade de Cantão.

Ao fim de alguns meses, ele tratou de verificar os resultados do remédio que havia aplicado nos seus fiéis soldados, a fim de dar-lhes garbo, entusiasmo e vigor marcial.

Determinou que se realizassem manobras gerais, na próxima primavera, por ocasião de florirem as cerejeiras, e elas tivessem lugar na planície de Chu-Wei-Hu - o que quer dizer na nossa língua: "planície dos dias felizes". As suas ordens foram obedecidas e cerca de cinquenta mil chineses, soldados das três armas, acamparam em Chu-Wei-Hu, debaixo de barracas de seda. Na China, seda é como metin aqui.

Comandava em chefe esse portentoso exército, o general Fu-Shi-Tô que tinha começado a sua carreira militar como puxador de tilburi em Hong-Kong. Fizera-se tão destro nesse mister que o governador inglês o tomara para o seu serviço exclusivo.

Este fato deu-lhe um excepcional prestígio entre os seus patrícios porque, embora os chineses detestem os estrangeiros, em geral, sobretudo os ingleses, não deixam, entretanto, de ter um respeito temeroso por eles, de sentir o prestígio sobre-humano dos "diabos vermelhos", como os chinas chamam os europeus e os de raça europeia.

Deixando a famulagem do governador britânico de Hong-Kong, Fu-Shi-Tô não podia ter outro cargo, na sua própria pátria, senão o de general no exército do vice-rei de Cantão. E assim foi ele feito, mostrando-se desde logo um inovador, introduzindo melhoramentos na tropa e no material bélico, merecendo por isso ser condecorado com o dragão imperial de ouro maciço. Foi ele quem substituiu, na força armada cantonesa, os canhões de papelão, pelos do Krupp; e, com isto, ganhou de comissão alguns bilhões de taels (moeda chinesa), que repartiu com o vice-rei. Os franceses do Canet queriam lhe dar um pouco menos, por isso ele julgou mais perfeitos os canhões do Krupp, em comparação com os do Canet. Entendia, a fundo, de artilharia, o ex-fâmulo do governador de Hong-Kong.

O exército de Li-Huang-Pô estava acampado havia um mês nas "planícies dos dias felizes", quando ele se resolveu ir assistir-lhe as manobras, antes de passar-lhe a revista final.

O vice-rei, acompanhado do seu séquito, do qual fazia parte o seu exímio cabeleireiro Pi-Nu, lá foi para a linda planície, esperando assistir manobras de um verdadeiro exército germânico. Antegozava isso como uma vítima sua e, também, como constituindo o penhor de sua eternidade no lugar rendoso de quase rei da rica província de Cantão. Com um forte exército à mão, ninguém se atreveria a demiti-lo dele. Foi.

Assistiu as evoluções com curiosidade e atenção. A seu lado, Fu-Shi-Pô explicava os temas e os detalhes do respectivo desenvolvimento, com a abundância e o saber de quem havia estudado Arte da Guerra entre os varais de um cabriolé.

O vice-rei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan (brio) na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirá-lo do cômodo e rendoso lugar de vice-rei de Cantão. Comunicou isto ao general que lhe respondeu:

— É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar.

— Como? – perguntou o vice-rei.

— É simples. O uniforme atual muito se parece com o alemão: mudemo-lo para uma imitação do francês e tudo estará sanado.

Li-Huang-Pô pôs-se a pensar, recordando a sua estadia em Berlim, as festas que os grandes dignatários da corte de Potsdam lhe fizeram, o acolhimento do Kaiser e, sobretudo, os taels que recebeu de sociedade com o seu general Fu-Shi-Pô... Seria uma ingratidão; mas... Pensou ainda um pouco e, por fim, num repente, disse peremptoriamente:

— Mudemos o uniforme, e já!

(Careta, Rio, 9-9-1922)

Fonte:
Disponível em Domínio Público.
Lima Barreto. O homem que sabia javanês. Publicado originalmente em 1911.

Lélia Miguel Moreira de Lima (Buquê de Trovas)


Admirar tanta beleza,
na densa e bela floresta,
não só pela realeza
e nem do que dela resta.
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A prece muito me acalma,
faz dormir a incerteza.
A prece refaz minha alma,
com fé e muita pureza.
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Aquela folha que vaga,
naquela mata, sou eu!
Aquele vento que afaga,
lembra quando eras meu.
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Assim diz velho ditado;
"O respeito é bom e eu gosto!"
Mesmo sendo criticado,
nisto tudo sempre aposto.
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Cada vez que me refaço,
logo fico mais conciso,
e o orgulho ganha espaço,
é tudo que mais preciso.
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Calmamente aparecendo,
se vê a chuva caindo,
mansamente vem chegando,
para o verde ficar lindo,
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Colorida é nossa vida,
cheia de muita esperança,
história muito vivida,
plena de amor e lembrança.
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Ele está sempre a sonhar
que já é um milionário,
não crê que está a pensar
que também é visionário.
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Em berço de ouro nasceu,
em boa hora chegou,
a sorte lhe apareceu
e bons caminhos trilhou.
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E sempre em plena bonança,
brincar na lama gostava,
nos bons tempos de criança,
em casa, a vara cantava.
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Eu quero chorar seu choro,
quero sorrir seu sorriso.
Eu venho implorar em coro,
pois nada foi de improviso.
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Eu quisera nesta vida,
ver amor nos corações,
também andar na avenida,
dos anjos ouvir canções.
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Eu vivo nesta esperança
de jamais ter desencanto.
Bons momentos na lembrança,
é a vida um belo encanto.
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Feliz é estar a seu lado,
seu olhar aquece o inverno,
Sem você tudo é findado,
para mim, será eterno.
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Feliz quem tem esperança,
jamais chega a esmorecer.
A vida, sempre em bonança,
nunca se deixa abater.
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Fuga, refúgio incerto,
se não podemos estar,
é o caminho correto
para o problema enfrentar.
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Impressionante conduta,
sempre com muita coerência.
Sabendo usar a batuta,
incomparável cadência.
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Ipês cobrem a selva,
de mil cores iluminam
e na linda e humilde relva
muitas flores o sublimam.
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Lindos lugares eu vi,
não há como contestar:
Ceará nunca esqueci,
quero o mais breve voltar.
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Ninguém espera uma crise,
precisamos preparar.
Se pressenti-la me avise,
não podemos assustar.
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Nós mudamos de morada,
muitas coisas descartamos.
Basta esperar a alvorada
que sempre nos contentamos.
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Qual centelha faiscante,
sua amizade, para mim,
mesmo estando tão distante,
encanta como jasmim.
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Quando menos esperamos,
deparamos com mudança,
nossos gostos contrapomos,
partimos para bonança.
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Saudade palavra doce,
anima nosso viver,
bom seria se assim fosse,
bons momentos reviver.
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Sem batom não temos cor,
e sem sol não temos vida,
sem luar nos falta amor
sem saúde falta lida.
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Ter humildade na vida,
sempre com muita esperança.
História tão bem vivida,
cheia de amor e bonança.
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Uma amizade sincera
é difícil encontrar.
Na verdade, eu pensara:
– Mais fácil, um cão adestrar.
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Fonte:
Autores diversos da UBT-Angra dos Reis. Sementes poéticas. SP: Daya Ed., 2021.
Enviado por Jessé Nascimento.

Aparecido Raimundo de Souza (Palavras à juventude)

OS GRITOS DE REBELDIA e de clamores em uníssonos que frequentemente lançam aos quatro cantos do mundo os nossos jovens, obviamente necessitam de respostas rápidas, claras e imediatas. Aliás, exigem palavras de força e poder, energia e vigor, palavras de ordem, como as de um mantra, que os coloquem nos caminhos da realidade e lhes mostrem com toda clareza possível, que não podem haver soluções para as questões individuais e sociais, enquanto os homens não começarem por conhecerem melhor as prerrogativas que lhes deparam as ativações conscientes de seus mecanismos psico-espirituais. 

Todos, indistintamente, se rebelam, se indisciplinam, se amotinam e se tumultuam frente a sistemas pedagógicos ensaiados e sem êxito. Em outras palavras: capengas e obsoletos, reclamam, e com razão, uma preparação integral para a vida e sabemos, têm direitos a ela. Os vazios e superficiais, ainda que as lacunas frívolas das inexperiências, imprescindivelmente carecem ser supridas e adjudicadas, fornidas e abastecidas com o conhecimento de fatores básicos que desenvolvam um critério lógico e próprio e, que ao mesmo tempo, lhes permitam resolver humana e condignamente os entraves diários, e ainda, lhes facultem formar, com o mínimo de lucidez e acerto, um destino verdadeiramente promissor e venturoso. Tipo um porvir sem falhas ou meios termos.

Essas gerações que aí estão, e a cada dia vemos sair à luta por seus ideais, esperam encontrar no amanhã a base sólida para suas reivindicações mais prementes. Prescindem de um esteio, de uma mão firme que as guiem pelas vias da superação individual. Isso as impulsionarão a olharem, via do sucesso pleno, para o futuro, eis que levam no sangue o mandado da constante renovação, incumbência que não só atingirá o progresso material, como também o espiritual, baluartes dignos dos fortes que, insatisfeitos por viverem em um mundo convulsionado por interesses mesquinhos e subalternos, pelejam por uma vida melhor e menos degradante. 

Os nossos jovens carecem, portanto, de estímulos nobres e raciocínios fecundos a respeito de suas condutas e perspectivas pósteras. Urge, sem mais delongas, se instruírem a respeito do conteúdo informativo das perícias e práticas da vida cotidiana, base fundamental do comportamento humano e social. Não será evidentemente pelo trilhar do descontrole e dos desacertos, das desarmonias e heterodoxias que acharão as soluções das questões intrínsecas que os oprimem e perturbam. Necessitamos, pois, encarregarmos as gerações de hoje e as vindouras, no tocante a avançarem até as altas regiões dos entendimentos, ou até a explicação do mais escondido dos mistérios para a realização plena de seus espíritos. 

Quando todas as coisas trazidas acima forem inquestionáveis, certamente diminuirão as distâncias para alcançarem o equilíbrio pleno entre os grandes avanços científicos e técnicos e os que concernem à natural essência do ser pensante. Sendo assim, legar aos moços uma capacitação integral é assegurar-lhes uma existência digna e nobre, correta e honrosa, vitoriosa e benemérita. Com esses e outros privilégios poderão se considerar donos e senhores dos seus reinados. Ninguém ousará violar ou macular a felicidade conquistada. E ao chegarem à idade madura, suas integridades serão invioláveis e invulneráveis. 

Esta é a mensagem que dirijo a todos os jovens desse Brasil grandioso e sem fronteira, a se unirem no propósito único da reconstrução que nos alimenta. Estamos ainda, a bem da verdade, no tempo de dar o grandioso exemplo. Por fim, anunciarmos entre brados e vivas aos quatro cantos do mundo que nas entranhas do nosso coração, da nossa alma, do nosso ser, a América está gestando o futuro promissor da humanidade. 

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

Stephanie Wong Ken (Dicas de Escrita) Formas de Criar um Vilão Verossímil em Ficção, parte 2, final

MÉTODO 2: DANDO UM PASSADO AO VILÃO

1) Dê um nome diferente ao vilão 

O nome do personagem deve se destacar do resto e ter uma energia sinistra. Pode ser um apelido que ele recebeu no passado, ter a ver com algo que a pessoa viveu ou estar relacionado à aparência física dela.

Por exemplo: o vilão "Voldemort", de Harry Potter, tem um nome ameaçador e sinistro, enquanto "Sr. Tom Ripley", de O Talentoso Ripley, traz um ar de frieza.

2) Dê destaque ao passado sombrio do vilão 

Pense na história do vilão, incluindo uma infância ou adolescência difícil, para gerar empatia dos leitores. Em vez de ele nascer mau, mostre como ele se tornou mau. Explore o que aconteceu para ele passar para o lado errado.

Por exemplo: você pode dar ao vilão uma infância violenta, na qual ele sofria bullying de outras crianças ou era negligenciado pelos pais, ou até pensar em um personagem que foi vítima de algum abuso e acabou mudando de lado.

Você também pode criar um vilão que não se sente amado pelos parentes ou amigos e, assim, é levado a se tornar vingativo e irado.

3) Identifique quando o vilão se tornou mau

Determine o principal momento ou experiência em que o vilão passou do lado bom ao mau. Inclua esse momento como uma cena na obra para mostrar a transformação aos leitores. Ele pode ter acontecido na infância, quando o personagem foi negligenciado pela família, ou até na idade adulta, depois de viver algo traumático.

Por exemplo: o seu personagem pode ter ficado mau depois de ser humilhado pelos colegas de escola na frente da pessoa de quem ele gostava ou após ver a sua família ser assassinada.

4) Determine quais são os valores morais e as crenças do vilão

Até os vilões seguem sistemas de honra e códigos morais. Pense no que o seu personagem acredita — mesmo que seja algo distorcido e fora da realidade — para deixar isso claro e torná-lo mais verossímil para os leitores.

Por exemplo: o seu vilão pode acreditar que todos devem seguir as leis, sem quaisquer exceções. Isso vai tornar o personagem ainda mais vilanesco, já que ele tem uma visão "preto no branco" do mundo à sua volta e é indiscriminado na hora de punir os infratores.

MÉTODO 3: TORNANDO O VILÃO COMPLEXO E VEROSSÍMIL

1) Dê alguns traços positivos ao vilão

Não dê somente características perversas ao personagem, ou ele vai ficar unidimensional e nada interessante. Pense também em traços positivos e complexos, capazes de mostrar que ele tem um lado humano.

Por exemplo: o seu vilão pode ser dedicado à família e fazer de tudo para protegê-la; ou pode ser implacável em defesa dos animais e da natureza.

Pense em um objetivo ou desejo que oriente toda a jornada do vilão. Esse objetivo ou desejo pode ser errado ou mal-intencionado, mas o vilão ainda precisa de uma motivação. Mostre aos leitores o que ele quer na história para deixar claro que é um personagem vivo e pensante. Esse objetivo deve manter o enredo mais chamativo e cheio de reviravoltas.

Por exemplo: o vilão pode querer se vingar do assassino da família ou apenas criar laços afetivos e de amizade com alguém.

2) Descreva o vilão em detalhes vívidos

Seja específico em relação à forma de o vilão andar, falar e se mexer na história. Dê traços que sejam distintos, como uma cicatriz no roto ou algo do tipo, além de hábitos e tiques nervosos.

Por exemplo: J. K. Rowling descreve Voldemort como alguém pálido, com fendas no lugar do nariz, de olhos vermelhos e com uma voz sibilante, parecida à de uma serpente.

A autora deixa clara a semelhança do vilão com os répteis, que são traiçoeiros, sorrateiros e perigosos.

3) Dê ao vilão uma forma distinta de falar

Torne o diálogo particular ao personagem. Pense em como o vilão fala em cada cena e encha-o de personalidade (assim como o protagonista).

Por exemplo: o vilão pode falar de maneira formal, mesmo quando está insultando os seus oponentes, ou ser calado ou monossilábico, até quando está prestes a ferir alguém.

Inspire-se em frases clássicas de vilões, como "Diga adeus aos seus sonhos" ou "Você achou mesmo que podia me derrotar?".

4) Torne o vilão tão esperto e capaz quanto o protagonista

O vilão tem que estar no mesmo nível físico e mental que o personagem principal para que o enredo da obra progrida normalmente. Dessa forma, ele vai ser mais interessante para os leitores do que se fosse bobo e truculento.

Por exemplo: o vilão Professor Moriarty, de Sherlock Holmes, é tão inteligente e astuto quanto o próprio detetive. Ele dificulta a vida de Holmes mais e sempre deixa tudo mais arriscado.

5) Faça o protagonista e o vilão entrarem em conflito

Os dois personagens sempre têm que estar no caminho um do outro. O vilão deve ser um obstáculo para o herói, o que vai gerar a tensão no enredo da obra.

Por exemplo: o vilão pode tentar fazer mal a todas as pessoas que são importantes para o herói, enquanto o protagonista tenta salvar a vida delas. Talvez os dois entrem em conflito para conseguir exatamente a mesma coisa.

Referências
1. https://www.writingforward.com/storytelling/create-a-villain
2. https://www.theparisreview.org/interviews/5653/stephen-king-the-art-of-fiction-no-
189-stephen-king
3. https://www.jerryjenkins.com/makes-great-villain-checklist-writing-good-bad-guy/
4. http://www.writersdigest.com/online-editor/6-ways-to-write-better-bad-guys
5. https://infinite-pathways.org/2017/06/07/how-to-create-credible-female-villains/
6. http://www.revistaestante.fnac.pt/10-grandes-viloes-da-literatura/
7. http://www.telegraph.co.uk/books/what-to-read/greatest-villains-literature/gil-martin/
8. http://www.scriptmag.com/features/ask-the-expert-how-to-create-a-great-villain
9. https://www.writingforward.com/storytelling/create-a-villain
10. http://www.writersdigest.com/online-editor/6-ways-to-write-better-bad-guys
11. https://infinite-pathways.org/2017/06/07/how-to-create-credible-female-villains/
12. https://www.nownovel.com/blog/how-to-create-a-great-villain/
13. http://www.writersdigest.com/online-editor/6-ways-to-write-better-bad-guys
14.http://inkandquills.com/2015/12/24/writing-101-creating-a-successful-hero-andvillain/
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Stephanie Wong Ken é uma escritora que mora no Canada. Seus textos já foram publicados por Joyland, Catapult, Pithead Chapel, Cosmonaut's Avenue e outras. Possui Mestrado em Ficção e Escrita Criativa, pela Portland State University.

Fonte:

sexta-feira, 21 de abril de 2023

José Fabiano (Muros de Trovas) 08

 

A. A. de Assis (A poeta ou a poetisa?)

Se alguém me perguntar se acho melhor ser chamado de idoso ou de velho, responderei que de velho. Melhor ainda: velhinho. Simples questão de preferência. Da mesma forma, e por igual razão, pode a autora de poemas denominar-se “a poeta” ou “a poetisa”. 

Fiz há algum tempo, via internet, em pesquisa informal cobrindo seis estados, a seguinte pergunta a 30 amigas que escrevem belos versos: – Você prefere ser tratada como “a poetisa” ou “a poeta”? –  14 disseram preferir “a poeta”, 9 “a poetisa”, 4 não responderam, e 3 se disseram indiferentes.

Na verdade, tal problema vem-se arrastando desde o início do século 19, quando surgiram em jornais e livros os primeiros poemas em língua portuguesa assinados por mulheres. Que nome dar a elas?

Poderiam os gramáticos e dicionaristas, já naquela época,  ter acomodado o substantivo “poeta” no grupo dos chamados “comuns de dois gêneros”, em meio a tantos outros terminados em “a”: o acrobata – a acrobata, o diplomata – a diplomata, o artista – a artista, o pianista – a pianista, o atleta – a atleta, o carioca – a carioca, o colega – a colega.    

Optaram eles, no entanto, pela formação do feminino mediante o acréscimo do sufixo “isa”, seguindo a linha dos nomes de cunho mitológico-religioso: diaconisa, pitonisa, profetisa, sacerdotisa. Assim entrou em circulação a forma “poetisa”, que até hoje perdura como feminino “oficial” de “poeta”. O Dicionário etimológico Nova Fronteira da língua portuguesa (1992), de Antônio Geraldo da Cunha, dá a palavra “poetisa” como “nascida” em 1813.

A partir, porém, da segunda metade do século 20, a forma “oficiosa” “a poeta” assumiu, como diriam os economistas, “viés de alta”. E em alta permanece, embora enfrentando ainda certa resistência, até de alguns gramáticos e dicionaristas, os quais, por prudência, costumam dar longo tempo ao tempo antes de assimilar novas tendências.

As duas formas – a poeta e a poetisa – têm seus defensores. A língua, entretanto, evolui naturalmente, e o que tem que acontecer acaba acontecendo. O “viés de alta” a favor de “a poeta” parece ser mais um desses fenômenos que ninguém consegue evitar. Fatores diversos concorrem nesse sentido, entre os quais os seguintes:        

1. há mais de meio século o feminino “a poetisa” vem sofrendo um processo de depreciação semântica;

2. a lei do menor esforço incentiva a opção pela palavra mais curta;

3. a mídia, que influi fortemente nos hábitos linguísticos do povo, tem demonstrado nítida preferência por “a poeta”.

Resta esperar para conferir. A língua, ao longo do tempo, já resolveu problemas bem mais complicados, e esse aí não ficará sem solução. Hão de um dia chegarem todos a um consenso quanto à maneira de nos referirmos às autoras de poemas. Até lá, o que de fato importa é que escrevam bons versos. E isso elas sabem fazer muitíssimo bem.

Fonte:
Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá, 23-3-2023. Obtida no Facebook do autor em 20.04.2023.

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XX

 A DESCONHECIDA

Ela chegou, sorriu. Não disse nada
e foi entrando sem pedir licença.
Depois, falou em tom de uma sentença;
"Eu vou fazer daqui minha morada."

Que conversa maluca e atrapalhada,
não vou brigar nem quero desavença
e mostrando tristeza e indiferença,
eu saí pela porta escancarada.

Depois, voltei e vi por uma fresta,
o clima que reinava era de festa,
muita música e alegria de verdade.

Um dia, ela partiu sentenciando:
contigo estive e andavas poetando,
— não soubeste que sou tua metade.
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AMOR E PAZ

Hoje, pensei na paz do teu amor
que a minha vida triste, ganharia
e lembrando que fui um sofredor,
não sinto mais o fel dessa agonia.

Não desejei ser grande nem senhor,
que o teu amor a mim já bastaria,
hoje sou mais feliz, sou servidor
e cultuo o teu ser, estrela guia.

O amor que nos uniu na caminhada
trouxe-nos paz, ventura à nossa estrada
e a água que faltava em meu deserto.

E ao recordar vitórias alcançadas,
meu desejo é sonhar nas madrugadas
sabendo que estarás aqui bem perto!
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DESPEDIDA

É tempo de partir... Quanta amizade
a gente vai deixando para trás.
Meu coração recorda com saudade
os tempos idos que a memória traz.

Vão-se os amores, sonhos e a vaidade,
tudo passou tão rápido e fugaz…
são lembranças da própria mocidade,
são saudades dos tempos de rapaz.

A Esperança que outrora me seguia
transformou-se em desgosto e nostalgia
ao recordar a mágoa que me oprime.

Chegando ao fim deste roteiro santo,
que eu possa ser a Luz que brilha tanto
que no meu verso a Inspiração sublime.
= = = = = = = = = 

LEMBRANDO O LAVRADOR

Eu me levanto cedo e abro a janela
para ver o romper da madrugada,
a Natureza em festa se revela
numa canção de amor bem orquestrada.

O Universo, de luz, parece tela
por um pintor supremo, executada,
tornando-se elegante passarela
onde faz coro a alegre passarada.

O sol desponta, quero uma caneta,
mas a enxada é que vem para a retreta
e quer dançar comigo no roçado...

A enxada tine e estronda pelo eito,
vou capinar a terra do meu jeito
só amanhã, que agora estou cansado!
= = = = = = = = = = = = = = = = = =

MEUS PESARES

Faz tanto tempo, eu me recordo agora
do amor sonhado quando jovem era,
mas que partiu levando a luz da aurora
deixando sem amor minha tapera.

Chorei e muito quando foste embora
ao constatar que a vida não espera,
e tive medo, um medo que apavora
quando se perde o amor na primavera.

Quanto tempo passou. Hoje cansado,
a lembrança avivou o meu passado,
já não procuro mais outra ilusão...

Restou somente esta saudade louca
dos beijos que deixei em tua boca,
e esta mágoa de amor no coração!

Fonte:
Enviado pelo autor.
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.