quinta-feira, 29 de junho de 2023

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) XXVII

A costureira aos farrapos,
velhinha, agulha na mão,
sempre costurava os trapos,
da roupa da solidão!
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Almas gêmeas!... nossas almas,
feitas de luzes pagãs,
despertam batendo palmas
para as luzes das manhãs!
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A paz de mãe, era tanta,
no altar cercada de luz,
que até lembrava uma santa
de joelhos aos pés da Cruz!
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Aquele teu guardanapo,
com marcas de um beijo teu,
que pena que virou trapo,
aos trapos de um beijo meu!
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A tarde com seus dilemas
pendura nos seus varais,
cordéis com lindos poemas
em seus acenos finais!
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Contando as horas antigas,
por que tu me desconfortas?
pondo essas horas amigas
no entulho das horas mortas!
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Desde a passada primeira,
aos passos de um bom velhinho,
ninguém passa a vida inteira
sem pedras no seu caminho!
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Deus te abençoe, disse o cego,
pela esmola recebida!
E aquela bênção, não nego,
encheu de luz minha vida!
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Essas vozes reprimidas
das insones madrugadas,
são plangências das batidas
dos ritos das alvoradas.
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Eu faço o que for preciso,
em tudo que Deus permite,
para fazer teu sorriso
ser feliz sem ter limite!
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Não reclames das pedradas
que te dão pelos caminhos...
Vê, que às vezes, de mãos dadas,
há aqueles que vão sozinhos!
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Naquele rancho de palha,
onde estamos sempre a sós...
O amor chega e se agasalha,
se faz escravo entre nós!
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No morro, de heróis e bravos,
quantos gritos pelos ares,
lembram os gritos escravos
do Quilombo dos Palmares!
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O pai, ao filho abraçado,
passos tropos, voz cansada;
era o outono, lado a lado,
com a primavera na estrada!
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Ouço em silêncio e assustado,
de repente um forte grito;
era o grito do passado
na voz do próprio infinito!
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Penso que tu, não descansas,
nem cochilas, velho mar;
pois sinto em tuas andanças,
que estás sempre a resmungar!
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Por ciúme ou por destemor,
quanto mais linda e mais bela,
a planta protege a flor
pondo espinho ao lado dela!
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Por que tanto dissabor?
crer em mim, tu tens que crer;
se fiz bem, fiz por amor
se fiz mal, foi sem querer!
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Por sermos irmãos em sonhos
e termos almas irmãs,
não há caminhos tristonhos
para os sonhos das manhãs!
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Saudade - doce lembrança
de um velho amor que foi meu;
tão doce, quando criança,
que a vida nunca esqueceu!
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Saudades dos sonhos vãos;
lembranças tortas e tronchas,
das conchas de tuas mãos,
nas minhas, fazendo conchas!
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Senhor, eu te rogo em prece
de joelhos e tão sozinho,
que eu não caia e nem tropece
nas pedras do teu caminho!
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Sentindo da noite os dedos,
nos braços dos sonhos vãos,
eu vou contando os seus medos
nos dedos de minhas mãos!
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Se o destino que me guia,
aceitasse o que eu pedisse,
punha mais luz e alegria
no entardecer da velhice!...
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Sinto na dor desses laços
dessas folhas pelo chão,
a dor de tantos abraços
de outras vidas que se vão!
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Tu me mentiste, é verdade;
se eu te mentir, me perdoas?
Vou sempre sentir saudade
de tuas mentiras boas!
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Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Enviado pelo trovador.

Arthur de Azevedo (A “Dona Branca”)

A Delgado de Carvalho Júnior


No dia 6 de outubro de 1891, quando o senhor Vieira, ás sete horas da manhã, pôs o chapéu para sair, dona Catarina, sua esposa, disse, consertando-lhe o laço da gravata:

- Sabes de uma coisa? Mana Adelaide mandou convidar-me para ir hoje com ela ao Teatro Lírico.

- Que ideia!

- Aí vens tu! Vai-se embora a companhia e eu não assisto a um único espetáculo, podendo ouvir a Dona Branca de graça!

- Mas, filha, não te lembras que dia é hoje?

- É terça-feira.

- E então?

- E então?

- Pois não sabe que às terças-feiras não dispenso o meu voltaretezinho em casa do compadre?

- Quem te diz que não vás ao teu voltaretezinho? Mana Adelaide conhece os teus hábitos e as
tuas impertinências; foi a mim e não a ti que convidou.

- Mas...

- Olha, eu vou jantar com ela nas Laranjeiras e de lá vamos juntas para o teatro; acabado o espetáculo, ela traz-me no seu carro, e deixa-me ficar em casa. Não gastas um vintém, nem te incomodas.

- Bem sei, mas não é bonito uma senhora casada ir ao teatro sem seu marido.

- Mas com sua irmã... e com o marido de sua irmã...

- Bom, bom, vai; não quero que me chamem desmancha-prazeres. Jantarei sozinho.

O senhor Vieira saiu, foi tratar da vida, e quando, às quatro horas, voltou à casa, já dona Catarina tinha essa ter com a irmã.

O pobre homem ficou muito aborrecido naquela solidão. Toda sua família era essa bela senhora com quem se casara em 1885 e contava dez anos menos que ele. Tinha quarenta e quatro invernos o senhor Vieira, e inteligência bastante para perceber que dona Catarina o não amava; entretanto, contentava-se da respeitosa amizade com que ela se impunha serenamente à sua estima, e preferia mesmo esse discreto sentimento ao amor desordenado e doentio, que produz ciúmes e dispepsias, maus humores e lesões cardíacas. Depositava uma confiança cega em sua mulher e estimava-a deveras. Sentia-se feliz.

Mais feliz seria, entretanto, se houvesse uma criança naquela casa. Dona Catarina sofria por vezes longos acessos de melancolia; algumas noites deixava o esposo sozinho na larga cama de casados, e ia revolver-se num sofá, suspirando, irrequieta, nervosa, sem poder dormir. Mas esses fenômenos eram passageiros, e o marido, atribuía-os às ausência da prole.

- Decididamente, falta uma criança nesta casa!

Depois daquele jantar de solteirão, o senhor Vieira dormiu a sesta, e às sete horas foi para casa do compadre, em São Cristóvão. O senhor Vieira morava no Catete.

- Bravos! Cá está o nosso homem! – exclamou o compadre e exclamaram mais dois amigos da vizinhança, que se achavam à espera do parceiro. – Vamos ao vício!

Os quatro companheiros sentaram-se às oito horas e jogaram até perto da meia noite. O senhor Vieira ganhou dezenove mil e quinhentos. Nunca estivera com tanta sorte.

À meia noite, depois do chá com torradas, o nosso homem saiu, e foi esperar a condução na esquina. Passados uns vinte minutos, apareceu um bonde, mas em sentido contrário, e parou para fazer saltar o Lamenha, que era vizinho paredes meias do compadre.

- Olá! A estas horas, seu Lamenha? – perguntou o senhor Vieira.  – Já sei que vem do Lírico; foi ouvir a Dona Branca.

- Ora deixe-me com a Dona Branca! Se soubesse...

- Então a ópera não presta?

- Não sei; o espetáculo não passou do começo!

- Ora essa! Por que?

- No fim do primeiro ato o público das torrinhas chamou à cena o empresário para ferrar-lhe uma pateada, não sei porque motivo. O empresário não quis vir.

O público zangou-se. A polícia interveio, e agora é que são elas! Ah, seu Vieira, que rolo!...

- Deveras? perguntou o outro empalidecendo.

- Os soldados da polícia acutilavam a torto e a direito, os bancos voavam, os globos dos candeeiros partiam-se, as famílias separavam-se numa confusão medonha, as senhoras tinham chiliques e soltavam gritos...

- As senhoras?... Meu Deus!... E a minha?...

- Há muita gente ferida, e não será para admirar que houvesse mortes! Eu escapei por milagre!

- E minha mulher que foi a este espetáculo!...

- Sua senhora? Não a vi. Só vi sua cunhada, a Dona Adelaide, sozinha, correndo e gritando que parecia uma louca!

- Pois estavam juntas!... Felizmente aí vem o bonde... Quem sabe se não vou encontrá-la morta?

Eu bem que queria que não fosse à tal Dona Branca! Ora esta!...

E o senhor Vieira tomou o bonde, sem mesmo se despedir de Lamenha.

Imaginem o desassossego com que o pobre diabo fez a viagem de São Cristóvão ao largo de São Francisco. Aí tomou um tílburi. O cocheiro confirmou a informação do Lamenha, acrescentando que tinham morrido duas senhoras, sendo uma de susto.

Ao passar pela Guarda Velha, o senhor Vieira notou que o Lírico estava imerso nas trevas e no silêncio. Chegou à casa, e expectorou um grande suspiro de alívio ao entrar na alcova: dona Catarina dormia tranquilamente, envolvida no seu lençol. O marido despiu-se em silêncio e deitou-se ao lado da senhora.

Ela despertou:

- Ah! és tu?

Ele, completamente serenado, resolveu gracejar e perguntou-lhe sorrindo:

- Então, minha senhora, que me diz de Dona Branca?

- É uma ópera muito bonita.

- Hein?

- O último ato principalmente, acrescentou dona Catarina com muita convicção.

O senhor Vieira sentiu o sangue lhe subir à cabeça, mas conseguiu dissimular, e perguntou se a ópera tinha sido bem cantada.

- Perfeitamente cantada. - respondeu ela, mentindo como só as mulheres sabem mentir.

- E não houve novidade durante o espetáculo?

- Nenhuma. O Gabrielesco esteve sublime!

- O Gabrielesco? No último ato?

- Em todos os atos. É um tenorão!

- Está bem.

O senhor Vieira apagou a vela e fingiu que se aninhava para dormir.

- Aí está você amuado! Eu por seu gosto não saía de casa, não me divertia, vivia metida entre quatro paredes! Que homem!...

Ele resmungou uns sons inarticulados; não respondeu.

- Será possível que o Lamenha me enganasse? pensava o marido. Não; - e o cocheiro do tílburi?...

O senhor Vieira passou, talvez pela primeira em sua vida, uma noite completamente em claro.

Ergueu-se logo ao amanhecer, saiu, convenceu-se de uma verdade terrível, e nesse mesmo dia separou-se para sempre de dona Catarina.

Na terça feira seguinte, o senhor Vieira não faltou ao voltaretezinho do compadre. Quando este lhe perguntou: - Então?... Que foi isso?... A comadre? - ele respondeu  melancolicamente:

- A comadre ouvia-me dizer que em nossa casa faltava uma criança e quis arranjá-la fora... Deixa lá! - Vamos ao vício!

Nessa noite perdeu quinze mil e oitocentos.

Fonte:
Arthur de Azevedo. Contos fora de moda. Publicado em 1894.
Disponível em Domínio Público

terça-feira, 27 de junho de 2023

Therezinha D. Brisolla (Trov" Humor) 11

 

A. A. de Assis (Viver ou não viver)

Era uma vez uma cegonha que trazia no bico mais um candidato à vida. Seria chamado Chiquinho. A mãe, o pai, os avós, os irmãozinhos, os tios, os primos, os padrinhos, os compadres, a família inteira preparando a festa.

A cegonha voava, revoava, sobrevoava, não aterrissava. Olhava de cima e tremia. De medo.

Até que ponto seria prova de amor entregar uma criança a um mundo assim?

Olhem o que fizeram da natureza: mataram as matas, envenenaram as aves e os peixes, emporcalharam as águas, enfumaçaram o ar. Cadê o verde, meu Deus? Cadê o azul?

Olhem o que fizeram das cidades: um amontoado de cimento e aço, motores roncando, sirenes espalhando pânico, gente correndo, brigando, sofrendo, morrendo.

Olhem o que fizeram dos lugares de morar: cortiços, favelas, janelas com grades, famílias engaioladas em enormes viveiros chamados arranha-céus.

Olhem o que fizeram das praças e dos jardins: onde os namorados? O ladrão espantou. Onde as bandas com as suas alegres retretas? A secura dos corações silenciou. Onde os sabiás e os bem-te-vis? O inseticida exterminou. Onde as flores? A poeira do asfalto sufocou. Onde os garotos que brincavam nas ruas? O trânsito alucinado atropelou.

Olhem o que fizeram do sossego da gente: não há mais sossego. Há medo de tudo: da bactéria, do vírus, do desemprego, da seca, da enchente, da guerra.

A cegonha voava, revoava, sobrevoava, tinha medo de aterrissar. O pai, a mãe, os irmãozinhos, a família inteira, todos felizes, esperando a nova pessoinha.   

Ao mesmo tempo agitados, preocupados. A conta da maternidade, o aluguel, o preço do leite, a mensalidade da escola. Os sustos mais tarde: era um menino, ia querer moto ou carro, ia entrar num mundo louco cheio de perigos e tão competitivo. Os pais pensavam. A cegonha, lá do jeito dela, repensava. O que é melhor: to be or not to be? Viver ou não viver num mundo assim?

Melhor viver. A cegonha sobrevoou, pousou. Chiquinho desembarcou.

Quem sabe será ele o iniciador de um mundo novo?  

Alguém já disse e muita gente já repetiu: “Cada criança que nasce é uma nova prova de que Deus continua apostando na humanidade”.

Deus apostou em Chiquinho. Bem-vindo Chiquinho.

Algum dia, talvez, possamos recitar: Cadê a floresta daqui? Chiquinho replantou. Cadê os rios daqui? Chiquinho recuperou. Cadê os passarinhos daqui? Chiquinho ressuscitou. Cadê as flores? Cadê a paz? Cadê o amor? Cadê a vida? Chiquinho reinaugurou.

Bem-vindo Chiquinho.
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  (Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 30-3-2023)

Daniel Maurício (Alma Lírica)


Amor.
Não precisava de nome
Nem escolhia sobrenome
Apenas pulsava sem procurar sentido
Como o desabrochar de uma flor.
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Depois
de vírgulas
e reticências
Na minha
história
de amor,
Você
Foi o meu
ponto final.
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Desprotegido de ti
"De orelha a orelha"
Meu coração sorri
Sem máscara.
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Do alto
Flores desenham nuvens
Que orvalham
Nos meus olhos.
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Ela despiu-se
De tantas palavras
Que a "verdade nua e crua"
Nem precisou de espelho
Pra se enxergar.
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Ela
Dizia
Que
Não
Tinha
Mais esperança.
Mas todos os dias,
Feito criança,
Demoradamente
Olhava para o céu.
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Ela
Tinha
A alma florida
Mas ele
Não sabia
Ser beija-flor.
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Escrevia
Toda a dor
E a alegria que sentia
Lágrimas desinchando a alma
Gotas que transbordam o rio.
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ÍNDIO

Ao som dos gritos dos guerreiros
A natureza dança de corpo Inteiro.
E nas asas dos pássaros ligeiros
Suas almas cantam livres e sem medos.
Mas nos olhos faiscantes
Escorrem os sonhos dos antepassados.
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Mãos de seda
É esse teu olhar
Que desabotoa as minhas vestes
Fazenda cócegas na minha alma.

Queríamos reter o tempo
Paralisar momentos
E muitos
Até criança
Queriam voltar a ser.
Mas hoje temos pressa
E até em prece
Pedimos que tudo passe
E que o tempo
Volte novamente a correr.
Em silêncio a natureza ouço
Guardando a ansiedade no bolso
Esperando a hora certa
Pra voltar a "brincar".
Tempo...
Leve, lave, livre, passe
E que a paz de novo
Volte a florescer.
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Me fiz de lua
E fui tão tua
Vivendo e revivendo
Todas as fases.
E se hoje,
A ti,
Meu nome
Rima com saudades
Foi porque
Não tivestes capacidade
De guardar
O nosso amor
Que jurastes
Que não teria fim.
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Metamorfose.
Os rios
Da alma
Em mar se
transformam.
Em lágrimas
Nadam
As meninas
Dos
Meus olhos.
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Na escadaria
Do tempo
Me pus em doação.
Lembrei
Do menino
Que eternamente
Esperava
Ser escolhido
Para o time
De futebol.
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Nas ruas
Cerejeiras floridas.
Será que foi minha avó,
Que já anda meio esquecida,
Que espalhou os seus bordados por aí?
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No
Corpo
Da
Índia
Destemida
A natureza sem ser reprimida
Brinca, pintando sonhos...
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No mar de chuvas
As sombrinhas
São botes flutuantes.
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Sinônimo de mãe
É amar
Sem aspas
E sem ponto final.
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Você
Era tão Presente
Na minha saudade
Que o mofo
Não tinha vez.
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Você
Vive de muitos "se"
Enquanto isso
Zombeteira
A vida passa
E você nem vê.

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HOMENAGENS
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A palavra sem ação é morta.
Bradava a voz incessantemente
Reunindo alguns poucos crentes
Na paróquia de Casnigo.
Ah, palavras ditas
Soavam tão benditas
Ricocheteando nas paredes mudas
Em busca de ouvidos atentos
Sequiosos por aliviar seus sofrimentos
Que se abate sobre o mundo.
Mas foi na voz fraca
Entrecortada por longas pausas
Que surge um herói com causa
Que fez o mundo inteiro se comover.
- cedo o equipamento
que permitiria eu viver um resto de vida
Pra alguém que tenha a vida inteira pra viver.

(Homenagem ao padre Giuseppe Berardelli, faleceu aos 72 anos, cedeu um respirador artificial que tinha ganhado para alguém mais jovem)
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Quando tudo se fecha
Se abrem os corações
Dos nossos heróis
Tendo o amor por escudo
Mesmo sabendo
Que a flecha pode sangrar.
Zelam da saúde do mundo
Estando às vezes,
Por trás das máscaras a chorar.
Mas a esperança também é remédio
Fé que cura e com muito carinho
Os dias ruins também irão passar.

(Homenagem aos profissionais da saúde)

Fonte:
Daniel Maurício. Alma Lírica. Curitiba/PR: Ed. do Autor, 2021.
Enviado pelo poeta.

Coelho Neto (O Ribeiro)

No princípio, querendo o Senhor estabelecer a ordem perfeita e firmar a harmonia entre as criaturas para que, a todo o tempo, não lhe chegassem queixas de oprimidos ou de descontentes, descia à terra de vez em quando e, ainda que tudo lhe parecesse bem, dissimulando em humildade a sua onipotência, escondia-se na folha da árvore, na pena do pássaro, na pétala da flor, na gota d'água, na estriga (
filamentos de plantas), no grão de areia, na centelha do lume, no espírito do homem, no coração do animal e escutava, na intimidade, o que pensavam ou diziam e se achava razão na queixa, corrigia; se ouvia louvores, exultava.

O pássaro bendizia-o porque Ele lhe dera a asa e o canto; a flor agradecia-lhe o perfume, a árvore a folhagem, a serra o arvoredo, o rochedo a fonte e o musgo, a caverna a sombra e o silêncio, a mina os filões de ouro, o homem o pensamento, a fera a liberdade e o mar não se cangava (
dominava) de desdobrar os vagalhões admirando-lhes as rendas brancas de espuma que se espalhavam nos areais.

A terra era imensa alegria. Todas as vozes, ainda as mais humildes, como a das formigas que carreavam achegas (
materiais de construção) e a das abelhas que recolhiam o mel, eram de agradecimento a Deus. O próprio cardo hediondo mostrava-se ufano da flor que se abria nos seus galhos aleijados.

E Deus parecia contente com o que fizera e, retomando a forma divina, envolvendo-se na auréola refulgente, já se dispunha a regressar ao céu quando ouviu o murmúrio lamentoso que subia de um ribeiro.

Aproximou-se da margem, toda vestida de verdura florente e, inclinando-se sobre as águas passageiras, reteve-as perguntando-lhes porque se queixavam.

— Senhor, disse o ribeiro, a tudo destes liberdade: os pássaros voam por onde querem — se lhes apraz a montanha, batem asas, lá vão; se está em flor o bosque, ao bosque se dirigem. Passam as águias e as levandiscas (
aves): são livres, têm toda a terra e todo o espaço; o homem erra à vontade por todas as devesas (pastagens), os animais percorrem as florestas, atravessam as campinas e os desertos, elegem a moradia que lhes convém; a estrela brilha no céu e fulge nas águas; a terra levanta-se em poeira e vai criar ilhas nas rochas do largo oceano e as vagas do mar, se desejam o sol, chegam-se às praias tépidas e douradas, quando querem o repouso recolhem-se nos extremos do mundo e dormem congeladas. Eu só não tenho o direito de deixar esta prisão estreita, nem de retroceder, o que fazem os pequeninos peixes que nascem no meu seio, mais livres do que eu porque podem ir e vir, zombando da correnteza. Sou um cativo. Quisera poder insinuar-me nos bosques, repousar um minuto á sombra das arvores, correr as areias claras do deserto, rolar pelas ribanceiras alfombradas (campo de relva), ser livre, enfim.

— É quanto queres?

— É tudo, Senhor.

— Assim seja.

E logo, desfazendo as ribanceiras que continham as águas do ribeiro, deixou-as o Senhor livres. Precipitadas, com murmúrio alegre, correram pelos campos, invadiram a floresta, alastraram o deserto, meteram-se pelas furnas. Mas a floresta reteve as que lhe chegaram e, juntando-as em lago, matou-as formando com as miseras, dantes tão límpidas e vivazes, o tenebroso e taciturno pântano. O deserto, de areias quentes, mal sentiu as águas erradias, logo as devorou, sôfrego. As furnas, cheias de pedras, em declives escabrosos, precipitaram-nas de queda em queda. De todos os lados, então, subiram lamentos doridos: no pântano, as vozes das águas agonizantes que se sentiam abafar pelas folhas mortas, pelos ramos secos, escabujando (
agitando), não sobre o saibro claro em que, dantes, haviam corrido, mas sobre um pútrido lençol de lodo; no deserto, gritos das águas que sucumbiam devoradas pela sede eterna dos areais ressequidos; nas furnas o longo, angustioso gemido das águas arrojadas de pedrouço (montão de pedras) em pedrouço.

Foi, então, que o ribeiro arrependido clamou em desespero :

— Fazei-me, Senhor, voltar ao leito antigo, dai-me a doce prisão das minhas formosas margens. Que fui eu pedir, insensato que sou! Pobres das minhas águas! Dai-me, de novo, o antigo leito com as suas margens orladas de verdura; fazei-me tornar à minha prisão e que as minhas ondas continuem a brincar com as libélulas e com as borboletas. Ó o túmulo negro, o pântano triste...! Como me iludiu a floresta! Ó o deserto pérfido e os antros traidores! Juntai as águas dispersas que sofrem por minha culpa, que elas tornem ao leito enxuto. Fazei-me, de novo, o ribeiro de outrora.

E disse o Senhor :

— Foste o único descontente. Entre tantos rios e ribeiros só tu reclamaste contra a minha ordem pedindo liberdade. Dei-a. Eras límpido, tinhas beleza e tinhas frescura e todas as tuas águas corriam juntas, em alegre bando, por entre as sombras cheirosas. Quiseste entrar na floresta, como o homem — lá estás em pântano; quiseste percorrer o deserto como os leões, as areias devoram-te; quiseste voar como o pássaro, o sol absorve-te; quiseste descer a montanha, os penhascos precipitam-te e, querendo ser tudo nem ribeiro és mais, porque a agua que te resta é uma lágrima escassa que desaparecerá no estio, com o ardor do sol.

E, sem mais dizer, subiu o Senhor ao céu e lá ficou na campina o raso fio de água, resto do ribeiro ambicioso, cujos membros jaziam dispersos: —na floresta rebalsados (
estagnados) em pântano, torvelinhando em cachões (borbotões) nas furnas, no deserto em lençol úmido que mal chegava para a sede voraz das areias adustas.

Desde então nunca mais as coisas se queixaram: serviu a todas de exemplo o caso do ribeiro descontente.

Fonte:
Disponível em domínio público.
Coelho Neto. Fabulário. Porto/Portugal: Livraria Chardron, de Ceio & Irmão, 1924.

segunda-feira, 26 de junho de 2023

Edy Soares (Manuscritos (Di)versos) – 31: Recanto da Saudade

 

João do Rio (Tabuletas)

Foi um poeta que considerou as tabuletas — os brasões da rua. As tabuletas não eram para a sua visão apurada um encanto, uma faceirice, que a necessidade e o reclamo (
propaganda) incrustaram na via pública; eram os escudos de uma complicada heráldica urbana, do armorial da democracia e do agudo arrivismo dos séculos. Desde que um homem realiza a sua obra — a terminação de uma epopeia ou a abertura de uma casa comercial — imediatamente o homem batiza-a. No começo da vida, por instinto, guiado pelos deuses, a sua ideia foi logo a tabuleta. Quem inventou a tabuleta? Ninguém sabe.

É o mesmo que perguntar quem ensinou a criança a gritar quando tem fome. Já no Oriente elas existiam, já em Atenas, já em Roma, simples, modestas, mas sempre reclamistas. Depois, como era de prever, evoluíram: evoluíram de acordo com a evolução do homem, e hoje, que se fazem concursos de tabuletas e há tabuletas compostas por artistas célebres, hoje, na época em que o reclamo domina o asfalto, as tabuletas são como reflexos de almas, são todo um tratado de psicologia urbana. Que desejamos todos nós? Aparecer, vender, ganhar.

A doença tomou proporções tremendas, cresceu, alastrou-se, infeccionou todos os meios, como um poder corrosivo e fatal. Os próprios doentes também a exploram numa fúria convulsiva de contaminação. Reparai nos jornais e nas revistas. Andam repletos de fotogravuras e de nomes — nomes e caras, muitos nomes e muitas caras! A geração faz por conta própria a sua identificação antropométrica para o futuro. Mas o curioso é ver como a publicação desses nomes é pedida, é implorada nas salas das redações. Todos os pretextos são plausíveis, desde a festa a que se não foi até à moléstia inconveniente de que foi operada com feliz êxito a esposa. O interessante é observar como se almeja um retrato nas folhas, desde as escuras alamedas do jardim do crime até às garden-parties de caridade, desde os criminosos às almas angélicas que só pensam no bem. Aparecer! Aparecer!

E na rua, que se vê? O senhor do mundo, o reclamo. Em cada praça onde demoramos os nossos passos, nas janelas do alto dos telhados, em mudos jogos de luz, os cinematógrafos e as lanternas mágicas gritam através do écran de um pano qualquer o reclamo de melhor alfaiate, do melhor livreiro, do melhor revólver. Basta levantar a cabeça. As tabuletas contam a nossa vida. E nessa babel de apelos à atenção, ressaltam, chocam, vivem estranhamente os reclamos, extravagantes, as tabuletas disparatadas. Quantas haverá no Rio? Mil, duas mil, que nos fazem rir. Vai um homem num bonde e vê de repente, encimando duas portas em grossas letras estas palavras: Armazém Teoria.

Teoria de que, senhor Deus? Há um outro tão bizarro quanto este: Casa Tamoio, Grande Armazém de líquidos comestíveis e miudezas. Como saber que líquidos serão esses comestíveis, de que a falta de uma vírgula fez um assombro? Faltou a esse pintor o esmero da padaria do mesmo nome que fez a sua tabuleta em letras de antigo missal para mostrar como se esmera, ou talvez o descaro deste outro: o maduro cura infalivelmente todas as moléstias nervosas...

Mas as tabuletas extravagantes são as do pequeno comércio, sem a influência de Paris, a importação direta e caixeiros elegantes de lenço no punho: as vendas, esta criação nacional, os botequins baratos, os açougues, os bazares, as hospedarias... Na Rua do Catete há uma venda que se intitula O Leão na Gruta. Por quê? Que tem a batata com o leão que nem ao menos é conhecido de Daniel?

Defronte dessa venda há, entretanto, um café que é apenas Café de Ambos Mundos. E se não vos bastar um café tão completo, aí temos um mais modesto, na Rua da Saúde o Café B.T.Q. E sabem que vem a ser o B.T.Q., segundo o proprietário? Botequim pelas iniciais! Essa nevrose das abreviações não atacou felizmente o dono da casa de pasto da Rua de São Cristóvão, que encheu a parede com as seguintes palavras: Restaurant dos Dois Irmãos Unidos Por...

Unidos por... Pelo quê? Pelo amor, pelo ódio, pela vitória? Não! Unidos Portugueses. Apenas faltou a parede e ficou só o por — para atestar que havia boa vontade. A questão, às vezes, é de haver muita coisa na parede. Assim é que uma casa da Rua do Senhor dos Passos tem este anúncio: Depósito de aves de penas. É pouco?

Um outro assegura: Depósito de galinhas, ovos e outras aves de penas — o que é, evidentemente, muito mais. Tal excesso chega a prejudicar, e andasse a higiene a olhar tabuletas, ofício de vadiagem incorrigível, mandaria fechar uma casa de frutas da Rua Sete, que pespegou esta inconveniência: Grande sortimento de frutas verdes e secas.

A origem desses títulos é sempre curiosa. Uma casa chama-se Príncipe da Beira porque o seu proprietário é da Beira, uma venda de Campo Grande tem o título feroz de Grande Cabaceíro porque perto há uma plantação de cabaças; há açougue Aliança e Fidelidade porque é um hábito pôr aliança como título com duas mãos apertadas e fidelidade com um cachorro de língua de fora, bem no meio da parede. Muitos tomam o título de peças de teatro: Colchoaria Rio Nu, Casa Guanabarina, venda Cabana do Pai Tomás. A coisa, porém, toma proporções assombrosas quando o proprietário é pernóstico. Assim, na Rua Visconde do Rio Branco há um armazém Planeta Provisório, e noutra rua Planeta dos Dois Destinos, um título ocultista sibilino; no Catete, um Açougue Celestial. Essa dependência do firmamento na terra produz um péssimo efeito e os anjos têm cada braço de meter medo a uma legião da polícia. Outro, porém, é o Açougue Despique dos Invejosos, e há na Rua da Constituição uma casa de bilhetes intitulada Casa Idealista, naturalmente porque quem compra bilhetes vive no mundo da lua, e há uma casa de coroas, o Lírio Impermeável e uma outra, Ao Vulcão das 49 Flores.

Não é só. Uns madeireiros puseram no seu depósito este letreiro filosófico, que naturalmente incomodará o arcebispado: Madeireiros e Materialistas; e há uma taberna muito ordinária, centro de malandrões, em Sapopemba, que se apossou de um título exclusivamente nefelibata: A Tebaida...

E os afrancesados que denominam as casas de Au Bijou de la Mode; Au Dernier Chic, Queima Chefe, Maison Moderne da Cidade Nova? E os patrióticos que fazem questão da casa de pasto ser 1o de Dezembro, do açougue ser 1o de Janeiro? Do restaurante ser Luís de Camões ou Fagundes Varela? E os engrossadores que intitulam as casas de Afonso Pena durante quatro anos? E os engraçados, os da laracha (
pilhéria) boa, que fazem as tabuletas propositalmente erradas, como um negociante da Rua Chile: Colxoaria de primera Colxães contra purgas e precevejos?

Mas as tabuletas têm uma estranha filosofia; as tabuletas fazem pensar. Há, por exemplo, na Rua Senador Eusébio, perto da ex-ponte dos Marinheiros, uma hospedaria com este título: Hotel Livre Câmbio. Quanta coisa pensa a gente conhecendo o negócio e olhando a tabuleta!

A série é nesse ramo curiosíssima. Há o Locomotora, que é naturalmente rápido; há Os Dois Destinos, há a Lua de Prata, há o irônico Fidelidade, tendo pintado uma senhora a pender dos lábios de um senhor... Quantos!

Na Rua Dr. João Ricardo há um restaurante com este título: Restauração da Vitória.

— Por que “restauração da vitória”? indagamos do proprietário, o Sr. Colaço.

— Eu explico, diz ele. Há cerca de 30 anos, os espanhóis invadiram a ilha Terceira. Como eram poucos os soldados para repelirem o castelhano, os lavradores soltaram todos os touros bravos na praia da Vitória e dessa maneira os espanhóis fugiram. Os paraguaios resistiram também tanto tempo por causa dos touros importados da Argentina.

— Tudo tem uma explicação neste mundo!

— All right!

Alll right, sim! Os títulos das casas, por mais absurdos, como Filhos do Céu, por exemplo, têm uma explicação que convence. Há os nefelibatas, os patrióticos 19 de Janeiro, D. Carlos; o diplomático União Ibérica, os que engrossam uma certa classe, e até um, na Rua Frei Caneca, pertencente ao riquíssimo Pinho, cujo título é uma profunda lição filosófica. O hotel intitula-se Comércio e Arte...

Os pintores desse gênero criaram uma especialidade: são os moralistas da decadência e usam também tabuletas. Um mesmo, talvez por ter sofrido muito de cara alegre, pôs na Rua de São Pedro este anúncio: Fulano de Tal, Pintor de Fingimentos. E realmente eles aturam tanto dos proprietários! Um deles, rapazinho inteligente, era encarregado de fazer a fachada da Casa do Pinto. Fez as letras e pintou um pintainho. O proprietário enfureceu:

— Que tolice é esta?

— Um pinto.

— E que tenho eu com isso?

— O senhor não é Pinto?

— O meu nome é Pinto, mas eu sou galo, muito galo. Pinte-me aí um galo às direitas!

E outro, encarregado de fazer as letras de uma casa de móveis, vendem-se móveis quando o negociante veio a ele:

— Você está maluco ou a mangar comigo!

— Por quê?

— Que plural é esse? Vendem-se, vendem-se... Quem vende sou eu e sem sócios, ouviu? Corte o m, ande!

As letras custam dinheiro, custam aos pobres pintores... O rapaz ficou sem o m que fizera com tanta perícia. Mas também, por que estragar? Em São Cristóvão havia uma Pharmacia São Cristóvão. Desapareceu. Foi a primeira que fez isso na terra, desde que há farmácias. Foram para lá outros negociantes. Como aproveitar algumas letras? Lembraram foco, e, como a Academia não chega os seus cuidados ortográficos às tabuletas, arrumaram Phoco de São Cristóvão. Estava uma tabuleta nova só com três letras novas.

Os pintores de tabuletas resignam-se. Eles, os escritores desse grande livro colorido da cidade, têm a paciência lendária dos iluministas medievos, eles fazem parte da grande massa para que o Reclamo foi criado — são pobres. Talvez por isso, um mais ousado, de acordo com certo açougueiro antigo da Praça da Aclamação, pintando uma vez o letreiro Açougue Pai dos Pobres, pôs bem no meio uma cabeça de boi colossal, arregalando os olhos, que Homero achava belos, como o símbolo de todas as resignações...

E é decerto este o lado mais triste das tabuletas – brasões da democracia, escudos bizarros da cidade.

Fonte:
Disponível em Domínio Público
João do Rio. A Alma Encantadora das Ruas. Publicado originalmente em 1908.

Daniel Maurício (Cacos e Retalhos)

Nota: Semana passada recebi pelos correios, do grande poeta curitibano Daniel Maurício, 12 livros de sua autoria. Postarei periodicamente poemas, que selecionei aleatoriamente de cada um deles.
JFeldman
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CAÇADOR DE ILUSÕES

Quando a paixão me cegou
corri atrás de ilusões
feito criança perseguindo borboletas.
Os cabelos grisalhos
gritam silenciosos no espelho
os segredos do amanhã.
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CICLO

No princípio era o caos
progredimos, progredimos...
agredimos.
No final era o caos
nos encontramos.
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DESENCANTO

A cada não do amor
me sinto oco por dentro
feito casca de barata morta.
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DOR

Dor até que rima com flor
só não tem a sua beleza,
o seu colorido,
o seu perfume.
A dor é seca
feito um estampido de bala
é espinho na carne
é lágrima da alma.
Por isso, não se atraque na bala
distribua chiclete
cultive a paz
distribua sorriso.
Flor rima com amor que
não combina com dor.
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ENTRELINHAS

Não quero dizer nada
quando escrevo.
Quero apenas,
despertar as entrelinhas
adormecidas em cada peito.
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FOLHAS CAÍDAS

Os saltos do sapato
soluçam nas calçadas.
Ah, pedrinhas de paralelepípedos
que não saem da memória!
Pelas avenidas estreitas
saio a procura de mim.
Alvoroço de meninos
nos quintais e nas esquinas.
Hoje, só o vento varre em silêncio
as folhas caídas da minha infância.
Meus sonhos, meus brinquedos,
minhas risadas,
por certo estão trancadas,
empoeiradas, em algum
sótão escuro do passado.
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GOLE D’ ÁGUA

A ira
o fogo
a mágoa.
O melhor a fazer
é tomar um gole
d'água.
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GOMA AMARGA

Senti o barulho da fantasia
a se quebrar dentro de mim.
Não ouvi o sino,
chorei menino
o vazio estava ali
em mim.
Passou o tempo,
chegou a idade
a realidade,
amarga goma de mascar.
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GRANIZO

O branco pipocava nas calçadas.
Em sangue,
o morro escorria
pelos rios e pelas ruas da cidade.
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INFÂNCIA

Infância
sonhos, risos,
lágrimas.
Imagens confusas
no pensamento.
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LARGADO

Joguei meu cansaço
no tapete da sala,
e meus sapatos
num canto qualquer.
Chorei tua ausência,
por mim já sabida,
mas não compreendida,
e dormi criança abandonada
pois me descobri em casa
de volta com a solidão.
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O HOJE

O hoje
é sempre velho demais
para quem tem
saudade do futuro.
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PAPAGAIO

Papagaio
que não papa galho
galho que papou
meu papagaio.
Pobre papagaio
que só tem rabo
e não tem papo.
Por isso não
papa ninguém.
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PARTITURA MUSICAL

Retas linhas
com bolinhas
melodia que soa bem
não seriam
andorinhas,
nos fios, vendo passar
o trem?
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PEDAÇOS DE ESTRELA

Abri o armário da noite
uma tigela branca
copos de cristal
derrubei a prateleira
lua e estrelas em pedaços
na poça de caldo
de pêssego no chão.
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PRIMEIRO DE ANO

Entre risos, vivas e abraços,
explode em cores os fogos pelo céu.
As cascatas de artifícios implodem
o ano velho com seus fantasmas,
deixando livre o espaço
pra esperança florescer.
Além da janela, a felicidade
brinda nos lábios sorridentes.
Dentro de mim,
a mesma lágrima lacrada.
O mesmo fel amargando a alma triste.
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SEDUÇÃO

Uma palavra, à noite, voava
como um pernilongo,
sem me deixar dormir.
Era o começo de um poema,
que não queria sair.

Fonte:
Daniel Maurício. Cacos e retalhos. SP: Scortecci, 2013.
Enviado pelo poeta.

Aparecido Raimundo de Souza (Instante de longos punhais)

NÃO VIA NADA ALÉM DO QUE me deveria ser permitido enxergar. Meus olhos se mostravam cansados, e algo que desconhecia fazia-os piscarem intermitentemente. Afastei num esgar repentino a visão do quadro que espiava. Cocei as pálpebras com os dedos da mão esquerda e fechei os ouvidos às vozes que me chegavam deturpadas. As horas no meu relógio de pulso pareciam sem pressa de seguirem os ponteiros, enquanto o dia se fazia pesado na janela que me descortinava a praça da igreja logo em frente. Nela, crianças das mais diversas idades corriam, gritavam e soltavam pipas enquanto moradores de rua se acotovelavam como urubus nas escadas do coreto.

Era a vida seguindo sua trajetória dentro de um sem-limite que se renovava como água de nascente brotando para alimentar o rio que cortava a cidade, serpenteando seu caminho em direção ao mar. Um bando de pombos deixou a cumeeira do telhado e rasgou o céu num alarido de arrulhos descomedidos. Lembrava um moinho triturando a alma da carne. Do infinito, um sol anêmico descia cansativo sobre tudo, como se temesse ser prisioneiro da noite que se avizinhava. Sua presença, ainda que lenta, se fazia latente como uma bofetada no meio da minha cara. Um safanão como um murro de punho fechado.

Às minhas costas, um espelho enorme dependurado em frente ao hall de acesso ao meu apê refletia meu rosto magro completamente distorcido. Havia uma fenda nele, e por essa razão minha aparência se desvirtuava, dando a impressão de que eu fora cortado ao meio, enquanto Strauss nem imaginava compor “Tu qui regis totum orbem”. Queria sair dali correndo, descer as escadas em desabalada carreira e me envolver nas malhas da jovem que me esperava lá embaixo no térreo, agarrada ao portão. Ingerir, de um só gole, a paixão devassadora que nos queimava sem medo de nos embriagarmos da beberagem de dois corações batendo na mesma reciprocidade.

Esse contragosto que me atacava, todavia, continuava se instalando em meu ser como o trote de um cavalo veloz. O meu eu pedia clemência. Não queria morrer. Pelo menos naquela hora. Pensava em gritar, mas a vontade sucumbia na garganta como um berro lacônico que não saía boca afora. Tudo continuava desigual. Seguia eu, tíbio personagem, atado a cordas invisíveis, bestificado, pegureiro (
pastor) de devaneios apascentando sonhos ônticos (particular ao ser) que não se tornavam realidade. E não só isso. Ao descaso de mim mesmo, me distraía, me corrompia não vendo nada, nada além do que deveria ser descortinado diante da minha obstinação.

Não existia um círculo perfeito girando ali ou acolá. Um, dois, três, quatro… o vento ameno persistia entrando devagar, vadio, retouçando pelas paredes como se tivesse sobressaltado por alguma estupefação fantasmagórica. Passava pelos móveis, ociosamente brejeiro. Escangalhava meus cabelos… cinco, seis, sete, oito… o espelho cúmplice se defluía irritadiço, desfigurado, submerso em mácula. De repente, o que dele restou se partiu e se fragmentou em mil pedaços. Uma quizília (
repulsão) infernal feriu minha alma, estraçalhou meus tímpanos, magoou meu interior e me pôs em frangalhos.

Tudo girou, girou numa velocidade incontrolável, como se o carrossel do parque logo ali adiante proado à cissura (
fissura) da igreja tivesse saído do seu estado normal, e num instante inexplicável se transformasse numa confusão desordenada. O alvoroço e a bagunça, entrelaçados aos gritos e aos rebuliços das crianças, duplicaram aos pedidos de socorro, nove, dez, onze, doze… em paralelo, os infantes correram para um lado e para outro, os pais se desesperaram, as mães se esgoelaram pedindo socorro. Transeuntes alheios se misturaram à fervura e ao descompasso, e igualmente como os sem-teto do coreto, emporcalhavam mais ainda a areia “sujismundada” do parquinho.

Percebi, num minuto voraz, não haver divisão entre pirralhos brincando, cachorros e gatos fazendo suas necessidades fisiológicas sem se importarem com o proibido das placas. E eu ali confinado dentro da sala, estatelado, preso ao chão, não via nada além do que deveria ser permitido desembuçar (
esclarecer). Queria sair porta afora, beber a volúpia que fluía do corpo daquela jovem mulher… alcoolizar a afeição, consternar o amor… sobretudo, perpetuar esse gostar tornando infinita a sua pureza dentro de mim. Entretanto, razões consentâneas (propícias) se conflitaram e se testemunharam numa peleja ímpar e politicamente inadequada. Talvez por isso, ainda agora, acalmada a fuzarca da praça, perdida a moça bonita que me esperava, me flagre como alma penada carregando seu próprio caixão por sobre as sepulturas do meu futuro, com todos os pedaços da minha insensatez, e pior: da atimia (ausência de afeto) que restou espalhada pelos demais cantos do pavimento onde eu me encontrava.

Fonte:
Texto enviado pelo autor

domingo, 25 de junho de 2023

Vanda Fagundes Queiroz (Trovando) “08”

 

Carolina Ramos (Meus Bichos, Bichinhos e… Bichanos)

Certa manhã, ao ler o texto de Vinicius de Morais, sob o título: - Do Amor aos bichos, texto este transcrito no Pavilhão Literário, uma das tantas vitoriosas publicações virtuais de José Feldman, PR, a ideia sorrateira impôs-se: - Por que não escrever, também, algo sobre aqueles animaizinhos tão queridos que, desde a infância, acompanharam meus passos ao longo da vida e dos quais, na última fase dela, ainda sinto falta?

Impulsionada pelo desafio, mergulho nessa viagem, vez ou outra ligeiramente enveredada por trilhas autobiográficas, não pretendidas, embora indispensáveis.

Sendo que a melhor forma de pôr o pé na estrada é abrir uma porta, começo por torcer a maçaneta da casa n° 5, da pequenina Vila dos Andradas, onde nasci e residi, até meus cinco anos de idade.

O espaço daquela Vilazinha - que acarinhei num soneto - é hoje ocupado pela Rodoviária de Santos.

Casa modesta, agradável, cada escaninho ainda presente em minha memória.

Os diminutos quintais, ao longo daquelas pequenas casas sem jardim fronteiro, não ofereciam maiores atrativos além de lesmas, caracóis, formigas, borboletas e besouros a usufruírem de uma nesga de terra, de poucos palmos de largura, estendida de muro a muro.

As borboletas, asas coloridas e sedosas, eram bênçãos atadas surgidas de surpresa a encantar e a arredondar meus olhos infantis. Vez ou outra suplantavam muros e sem encontrar flores, sumiam desapontadas por detrás deles, deixando-me ainda mais frustrada por não poder fazer o mesmo.

Já os besouros cascudos, com suas casacas negras, lustrosas, passeavam a costumeira placidez por aquele espaço restrito e sempre me interessavam. Brinquei bastante com eles, na companhia de minhas bonecas. Muitas vezes, atrelava-os a uma caixinha de fósforos para que carregassem pequenas cargas. Crianças, mesmo que inconscientemente, não raro são anjinhos cruéis!

Quando atingi meus cinco anos, sem possuir ainda um bichinho de estimação, aquela casinha minúscula foi vendida e meus pais adquiriram dois bangalôs, na Rua Alexandre Herculano - o 165 e o 161. Este último, logo alugado. No outro, bem mais amplo, residimos até meus 18 anos.

Era lindo o novo lar! Belo jardim florido, à frente. E amplo quintal, aos fundos, no formato de um grande L invertido - já que o terreno da casa ao lado, cortado ao meio pelo antigo proprietário, fora incorporado à casa 165, onde ele residia, antes de nós.

Não mais existe o 165 - Moderno prédio de apartamentos tomou-lhe o lugar. Mas foi justamente nesse aprazível bangalô, repleto de recordações da infância, que a semente do meu amor por tudo quanto é bicho começou a brotar. A falta de irmãos e a amplitude daquele quintal contribuíram bastante para que isso acontecesse. E quanto era diversificada a nossa fauna!

Começo pelas aves - galinhas, tanto raçudas como caipiras. E ninhadas, de patos e marrecos, agraciados com as indispensáveis "piscinas" e, também, um ou outro peru. Era ampla a família das "penosas" - disposta em três galinheiros bem equipados, onde a orquestra matinal fazia-se ouvir desde cedo, mercê da clarinada dos galos, dos cacarejos festivos das galinhas, dos pios e grasnidos de alguns patos e marrecos, por vezes silenciados pelo glu-glu-glu compulsório dos perus - Foi no intuito de provoca-los que aprendi a assobiar... tão logo depois que a segunda dentição supriu as falhas.

Um desses galinheiros chegou a acolher até mesmo um veadinho, vindo a nós, ainda bem pequenino, por conta de dois tios, irmãos de minha mãe - caçadores por esporte – grrr!!! - (mesmo querendo muito bem a esses tios, não posso evitar o repúdio ao cruel "esporte" que, vez ou outra, praticavam).

E, justamente o nosso pequenino Éden, pomar bastante aprazível, foi o lugar escolhido para aninhar o tal veadinho - pobre órfão, a ser criado com carinhos, mamadeiras e desvelos, por aquela família compulsoriamente adotiva.

Quando adulto, já bastante arisco, o pobre animalzinho, a evitar a aproximação de quem procurasse ajuda-lo, arremetia contra o aramado, chegando até a ferir-se. Em consequência do seu mau comportamento, acabou sendo cedido ao antigo Grande Hotel, frente à praia do José Menino (há muito não existente), onde alguém da sua espécie, também solitária, aguardava por um consorte. Nossa missão, dentro da melhor forma possível, fora cumprida. E nunca mais soubemos algo a respeito dele.

Fonte:
Carolina Ramos. Meus Bichos, Bichinhos e… Bichanos. Santos/SP: Ed. da Autora, 2023.
Enviado pela autora.

Dorothy Jansson Moretti (Trovas ao Entardecer) – 1


Acendo velas ao santo
por velho costume, apenas;
calando o meu desencanto,
eu lhe poupo as cantilenas.
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Acusações e amarguras
selaram as despedidas,
gravando marcas escuras
na esquina de nossas vidas.
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A exemplo dos evangelhos,
fomos "firmes no combate";
e hoje, dois sólidos velhos,
já nada mais nos abate.
= = = = = = = = =

A noite, ansiosa, insegura,
recorre à lua e desata
seus lamentos de amargura
pelas esteiras de prata.
= = = = = = = = =

A quaresmeira cicia,
vencida aos caprichos mil
da brisa que acaricia
as suas flores de Abril.
= = = = = = = = =

A quem foi bom companheiro
num momento de aflição,
se o transe foi passageiro,
sobrevive a gratidão.
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As lembranças do passado,
em cenário transparente,
dançam místico bailado
pela memória da gente.
= = = = = = = = =

"A Terra é azul!!!" Lá da altura
não se percebe a incoerência,
camuflada a cor escura
das guerras, droga e violência.
= = = = = = = = =

Como acontece às cigarras,
os meus sonhos, represados,
soltando-se das amarras,
rebentam-se aos próprios brados.
= = = = = = = = =

Das cinzas de um coração
persiste em triste orfandade,
no rescaldo da ilusão,
a presença da saudade.
= = = = = = = = =

Do mundo aos males gritantes,
extenuada, a anciã
pede a Deus que a leve antes
que recomece o amanhã.
= = = = = = = = =

Entre as mofadas estantes
do museu de nossas vidas,
choram fantasmas errantes,
buscando a ilusão perdida.
= = = = = = = = =

Esse amor que eu, sem cautela,
quis resgatar à lembrança,
deixou-me dupla sequela:
saudade e desesperança.
= = = = = = = = =

Esta minha estranha história
arrasta, em contradição
ao meu nome de... Vitória,
fracasso e desilusão.
= = = = = = = = =

Minha ilusão se rendendo
à rudeza do combate,
mesmo quase fenecendo,
ainda espera um resgate.
= = = = = = = = =

Na inspiração que o norteia
Trovador não se limita;
vai gravar na lua cheia
sua trova mais bonita.
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Não creio vindo de Deus
em nossa vida, um tormento;
d’Ele só vem para os seus
conforto no sofrimento.
= = = = = = = = =

No ângelus voa uma prece
velando o sol a morrer,
e o azul do céu esmaece
no painel do entardecer.
= = = = = = = = =

No Brasil-quinhentos anos,
que Deus, de eterna clemência,
torne os homens mais humanos,
sem fome, droga e violência!
= = = = = = = = =

No velho tronco tombado,
um registro carcomido:
Um coração trespassado
pela flecha de Cupido.
= = = = = = = = =

No verão eu fui cigarra,
desafiava destinos;
hoje esta voz se desgarra
para chorar desatinos.
= = = = = = = = =

Ouvindo o Sermão do Monte,
ao mundo banhado em luz,
abre-se um novo horizonte
nas palavras de Jesus.
= = = = = = = = =

Para compor uma trova,
quadra pequena e exigente,
por certo, ao cumprir a prova,
mão divina... guia a gente..
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Quem admira esse teu talhe
de deusa, ignora a verdade:
Com tão vistoso detalhe,
disfarças tua maldade…
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Resta do antigo delírio
que nos trazia extasiados,
a débil chama de um círio
sobre uma campa, em Finados.
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Tem cautela quando dizes
teus conceitos para alguém!
As palavras têm raízes
que o pensamento não tem.
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Fonte:
Dorothy Jansson Moretti. Painel do entardecer. Cachoeirinha/RS: Texto Certo, 2013.
Enviado pela trovadora.

Contos e Lendas da África (Mkaa’Ah Jeecho’Nee, o pequeno caçador)

(por George W. Bateman)


O sultão Maaj′noon tinha sete filhos e um grande tigre. Amava muito a todos.

Tudo ia bem até que um dia o tigre matou um bezerro. Quando foram avisar o sultão, ele respondeu:

— Ora, o tigre é meu e o bezerro também.

— Como quiser, amo. — E o assunto foi esquecido.

Alguns dias depois o tigre capturou uma cabra. Novamente os súditos foram ao sultão.

— O tigre é meu e a cabra também. — E isso resolveu a questão.

Mais dois dias se passaram e o tigre matou uma vaca. Uma vez mais o sultão deu fim às reclamações.

— Tanto o tigre quanto a vaca são meus.

Dois dias mais e um burro foi morto pelo felino. A resposta foi a mesma. Em seguida um cavalo. A resposta foi a mesma.

A vítima seguinte foi um camelo. Diante das reclamações, o sultão zangou-se.

— O que incomoda vocês? Todos os dias se queixam do meu tigre. Parece que não gostam dele e querem me convencer a matá-lo. Deixem que coma o que quiser.

Pouco tempo depois o felino matou uma criança, depois, um homem adulto. A cada nova denúncia, o sultão reforçava que tanto o tigre quanto as vítimas pertenciam a ele, e assim se encerrava o assunto.

Enquanto isso, a ousadia do grande animal só aumentava. Ele agora rondava uma clareira próxima à cidade, caçando e devorando pessoas que iam buscar água ou animais que pastavam ali perto.

Um pequeno grupo de pessoas tomou coragem e foi reclamar com o sultão.

— Por que permite isso, amo? Como nosso sultão, é sua obrigação... ou deveria ser... nos proteger. Seu tigre faz o que quer! Vive nos arredores da cidade, onde mata qualquer pessoa ou animal que se aproxima. E à noite ele perambula por nossas ruas fazendo o mesmo. O que podemos fazer?

A resposta de Maaj′noon foi breve.

— Vocês mostram que realmente odeiam meu tigre. Imagino que queiram que eu o mate, mas não farei isso. Sou o dono de tudo o que ele come.

Como era de se esperar, os súditos ficaram atônitos com as palavras do sultão. Ninguém se atreveria a matar o tigre, por isso tiveram que se mudar para outro bairro. De nada adiantou, pois quando o felino se viu sem caça, também mudou o local de seus ataques.

As reclamações continuaram a chegar até que o sultão Maaj′noon avisou que não atenderia mais ninguém que viesse fazer acusações contra seu tigre. A situação chegou a tal ponto que as pessoas não saíam mais de casa, tampouco deixavam seus animais ao ar livre. O tigre então começou a se deslocar para o interior do país, matando bois, galinhas e todo tipo de criação que encontrava.

Um dia o sultão disse a seus seis filhos mais velhos:

— Vou para o campo hoje ver como andam as coisas por lá. Venham comigo.

O caçula era jovem demais para sair, por isso ficava sempre em casa com as mulheres. Seus irmãos o chamavam de Mkaa′ah Jeecho′nee, que quer dizer senhor-sentado-na-cozinha.

Os seis filhos seguiram seu pai e logo chegaram a um denso bosque. O tigre saltou de dentro da floresta e matou três dos rapazes que vinham por último. Os criados gritaram e o soldados pediram permissão para procurá-lo e matá-lo. O sultão autorizou-os, dizendo:

— Esse não é um tigre comum, é um noon′dah. Tirou três filhos de mim!

Ninguém nunca havia visto um noon′dah, mas sabiam que era uma fera terrível, capaz de matar qualquer animal. O sultão ainda lamentava a perda de seus filhos quando alguns de seus súditos vieram falar com ele.

— Meu amo, esse noon′dah não faz distinção entre suas presas. Ele não diz “Este é o filho do meu senhor, não farei mal a ele” ou “Aquela é a esposa do meu amo, não a comerei”. Quando avisávamos sobre as mortes causadas por ele, o senhor nos dizia que o tigre era seu e o que ele caçava também. Agora ele matou seus filhos e facilmente mataria o senhor também.

— Infelizmente vocês têm razão. — concordou o sultão.

O tigre matou ainda alguns dos soldados que foram atrás dele. O restante fugiu. O sultão e seus outros filhos levaram os cadáveres para a cidade e os enterraram.

Quando Mkaa′ah Jeecho′nee, o sétimo filho, soube da morte de seus irmãos, declarou à sua mãe:

— Vou atrás desse noon′dah. Se ele não me matar como fez com meus irmãos, eu o matarei.

— Não quero que você vá — respondeu a mulher. — Já perdi três filhos. Se você também morrer, será uma ferida a mais em meu coração.

— Ainda assim, tenho de ir. Por favor, não diga nada ao meu pai.

Sua mãe lhe preparou algumas tortas para a viagem e mandou que alguns criados o acompanhassem. Mkaa′ah armou-se com uma espada e uma grande lança, afiada como uma navalha. Despediu-se e partiu.

Como nunca havia saído de casa, Mkaa′ah não sabia muito bem o que procurar. Mal havia deixado a cidade quando se deparou com um grande cachorro. Concluiu que era sua presa. Matou o animal, amarrou-o e arrastou-o até sua casa, cantando:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

Sua mãe estava na parte alta da casa e a cantoria a atraiu até a janela. Ao ver o animal abatido, disse:

— Meu filho, esse não é noon′dah, o comedor de homens.

Mkaa′ah Jeecho′nee largou a carcaça no chão e entrou em casa.

— Meu querido, o noon′dah é maior que esse animal — explicou sua mãe. — Mas se eu fosse você, desistiria dessa caça e ficaria em casa.

— Não posso! — exclamou ele. — Só volto para casa quando encontrar e matar o noon′dah.

E assim partiu novamente, indo muito mais longe do que no primeiro dia. Logo encontrou uma civeta (quadrupede, conhecido por gato-de-algália) e pensou ser o animal que procurava. Matou-a, amarrou-a e arrastou-a até sua casa, cantando:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

Ao ver a nova presa de seu caçula, a mulher disse:

— Meu filho, esse não é noon′dah, comedor de homens.

E Mkaa′ah livrou-se do animal.

Uma vez mais sua mãe tentou convencê-lo a ficar em casa. Mkaa′ah Jeecho′nee não lhe deu atenção e partiu novamente.

Desta vez chegou até a floresta, onde viu um gato ainda maior do que a civeta. Matou-o, amarrou-o e arrastou-o até sua casa, cantando:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

Mas assim que a mulher viu a caça, repetiu:

— Meu filho, esse não é noon′dah, o comedor de homens.

Mkaa′ah Jeecho′nee sentiu-se bastante frustrado, obviamente. E sua mãe continuou:

— Onde você vai procurar esse noon′dah? Você não sabe onde ele está e nunca o viu. Vai acabar doente, já está até abatido. Deixe disso e fique em casa.

— Há apenas três possibilidades para mim — retrucou o menino. — Encontrarei o noon′dah e o matarei; morrerei tentando; ou voltarei para casa como um fracassado. Seja como for, partirei novamente.

Foi ainda mais longe e encontrou uma zebra. Matou-a, amarrou-a e arrastou-a até sua casa, cantando:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

E claro que, mais uma vez, sua mãe teve que lhe dizer:

— Meu filho, esse não é noon′dah, comedor de homens.

Após uma longa discussão, em que a mulher foi mais uma vez incapaz de convencer o filho a ficar, Mkaa′ah Jeecho′nee partiu novamente. Foi ainda mais longe e capturou uma girafa. Após matá-la, disse:

— Desta vez consegui. Certamente este é noon′dah.

E a arrastou para casa, cantando:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

De novo sua mãe o desiludiu.

— Meu filho, esse não é noon′dah, comedor de homens.

A mulher argumentou ainda que seus irmãos não andavam por aí atrás do comedor de homens. Estavam em casa cuidando de suas próprias vidas. Mkaa′ah apontou que nem todos os irmãos são iguais. Estava determinado a cumprir seu propósito de matar o noon′dah, e uma vez mais saiu em seu encalço, caminhando uma distância ainda maior.

Passava por um campo deserto quando avistou um rinoceronte dormindo debaixo de uma árvore.

— Lá está noon′dah, finalmente! — disse a seus criados.

— Onde, senhor? — perguntaram, ansiosos.

— Ali, debaixo da árvore.

— Ah, sim! E o que devemos fazer?

— Antes de mais nada, vamos comer, depois o atacaremos — respondeu o menino. — Ele está em um lugar desprotegido, mas se nos matar, de nada adiantará.

Então pararam-se para comer as tortas de araruta que haviam trazido. Após a refeição, Mkaa′ah Jeecho′nee deu suas ordens.

— Cada um pegue duas armas. Deixem uma preparada a seu lado e empunhem a outra. Na hora certa, dispararemos todos juntos.

Todos obedeceram. Rastejaram com cuidado por entre os arbustos até chegarem do outro lado da árvore, para surpreender o rinoceronte por trás. Quando chegaram bem perto, todos dispararam ao mesmo tempo. O gigante deu um pulo, correu alguns metros e caiu em seguida. Amarraram o paquiderme e o arrastaram por dois dias até a cidade. Uma vez lá, Mkaa′ah Jeecho′nee entoou mais uma vez a canção:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

No entanto, recebeu a mesma resposta de sua mãe:

— Meu filho, esse não é noon′dah, comedor de homens.

Muitas pessoas vieram olhar o rinoceronte morto e sentiram pena do rapaz. Seus pais imploraram para que desistisse. O sultão chegou a oferecer qualquer coisa que ele quisesse para ficar em casa.

— Nada disso me interessa. Adeus — Mkaa′ah Jeecho′nee disse antes de sair novamente.

Desta vez afastou-se ainda mais de sua aldeia. Chegou a um local onde encontrou um elefante dormindo na floresta durante o dia.

— Agora sim encontramos o noon′dah — disse aos seus criados.

— Onde?

— Ali, naquela sombra. Estão vendo?

— Sim, amo. Vamos atacá-lo?

— Não sabemos para que lado está virado. Se chegarmos pela frente, ele nos ataca e nos mata. O melhor é que um de nós se aproxime e verifique onde está sua cara.

Todos gostaram da ideia e um escravo chamado Keerobo′to rastejou até conseguir ter uma boa visão do animal. Arrastou-se de volta e Mkaa′ah perguntou:

— E então? É o noon′dah?

— Não posso afirmar com certeza. Mas acho que tem grandes chances de ser. É um bicho muito grande, com a cabeça enorme. E pelos deuses, nunca vi orelhas daquele tamanho!

— Muito bem — disse seu amo. — Vamos comer e então o matamos.

Comeram suas tortas de araruta e bolos de melaço. O rapaz então anunciou a seus criados:

— Homens, talvez este seja nosso último dia sobre esta terra. Quem conseguir escapar, bem; quem morrer, paciência. Se eu morrer, digam aos meus pais que não lamentem minha morte.

— Não diga isso, amo! Ninguém vai morrer, se Deus quiser. — disseram os escravos.

Engatinharam para mais perto do elefante.

— Qual é o plano, senhor? — perguntou um deles.

— Não há plano. Vamos atirar todos juntos.

Assim fizeram e, após ser atingido pelos tiros, o elefante levantou-se e correu na direção deles, furioso. Com um grande alvoroço, largaram tudo e correram para as árvores, que escalaram com surpreendente agilidade. O elefante continuou correndo até que caiu a uma curta distância de onde estavam.

Passaram a noite nas árvores, desagasalhados e sem comida. Mkaa′ah Jeecho′nee, sentado em um galho, começou a chorar.

— Não sei bem o que é a morte, mas deve ser bem parecida com isto.

Como não podia ver seus companheiros, não sabia onde estavam. Embora quisesse descer da árvore, pensou: “Talvez o noon′dah esteja no chão aqui embaixo, esperando para me comer”.

Cada um dos escravos estava na mesma situação. Sem conseguir ver os outros e com medo de descer e ser atacado pelo comedor de homens. Keerobo′to havia visto o elefante cair, mas também lhe faltava coragem. “Pode estar caído, mas ainda vivo”, pensava.

No entanto, logo um cachorro se aproximou para cheirar o elefante. Nesse momento, o criado teve certeza de que estava morto. Keerobo′to desceu da árvore o mais rápido que pôde e gritou para avisar aos outros. Alguém o chamou de volta e, sem saber de onde veio a resposta, gritou novamente e aguçou os ouvidos. Desta vez pôde identificar o local e correu para lá. Encontrou dois de seus companheiros em uma das árvores.

— Desçam, o noon′dah está morto! — anunciou.

Reunidos, os três foram procurar seu amo. Com a confirmação, Mkaa′ah Jeecho′nee enfim desceu de sua árvore. Logo o grupo estava completo novamente. Todos recolheram suas armas e suas roupas. No entanto, estavam fracos e famintos, por isso comeram e descansaram antes de irem examinar o animal abatido.

Assim que Mkaa′ah Jeecho′nee o viu, declarou:

— Ah, esse sim é o noon′dah! É ele! É ele!

E todos concordaram.

Arrastaram o elefante por três dias até a cidade e, ao chegarem, o rapaz começou a cantar:

— O que nos comia, mamãe, não terá mais fome. Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

Logicamente Mkaa′ah Jeecho′nee ficou muito chateado quando sua mãe disse:

— Meu filho, esse não é noon′dah, comedor de homens.

E a mulher acrescentou:

— Pobrezinho! Quantas infelicidades já teve! Todos estão admirados que um rapaz tão jovem já conheça tantas coisas.

Seus pais repetiram as súplicas até que Mkaa′ah concordou que seria sua última expedição, independentemente do resultado. O grupo partiu novamente e foram ainda mais longe. Atravessaram a floresta e chegaram ao pé de uma montanha muito alta, onde acamparam durante a noite.

Na manhã seguinte, cozinharam arroz para o desjejum.

— Vamos subir até o topo desta montanha para que tenhamos uma visão de todo o território — propôs o jovem caçador.

Subiram por muito tempo até chegarem ao topo. Uma vez lá, sentaram-se para definir os próximos planos.

Um dos criados, chamado Shindaa′no, andava pela encosta quando avistou um animal no meio da trilha que subia para a montanha. No entanto, a distância e as árvores o impediam de ver nitidamente. Chamou seu amo e lhe apontou a fera. Algo no coração de Mkaa′ah Jeecho′nee confirmava que aquele era enfim o noon′dah. Ainda assim, apanhou sua arma e sua lança e desceu parte da montanha, para ver melhor e se certificar.

— Deve ser mesmo o noon′dah — pensou alto. — Minha mãe disse que tinha orelhas pequenas, e as dele são assim. Disse que o noon′dah é robusto e forte, como aquele animal. Que tem manchas como uma civeta, e lá estão elas. E que sua cauda era grossa como aquela. Deve ser o noon′dah, sem dúvida.

Voltou para onde estavam os criados e mandou fazerem uma refeição reforçada. Ordenou que deixassem qualquer item desnecessário para trás. Se tivessem que fugir correndo, nada os atrapalharia, e se tivessem sucesso na caça poderiam voltar depois.

Após esses preparativos, começaram a descer a montanha. Na metade do caminho, Mkaa′ah percebeu que Keerobo′to e Shindaa′no estavam aterrorizados.

— Continuem, não há razão para se afligirem — exortou. — Todos vivem e morrem, então por que ter medo?

E com esse encorajamento, prosseguiram.

Ao chegarem perto do local onde a fera estava, Mkaa′ah Jeecho′nee ordenou que todos tirassem suas vestes, exceto pela roupa íntima, que deveria estar bem justa ao corpo para que não se prendesse em espinhos ou galhos caso precisassem correr.

Aproximaram-se mais um pouco e viram que o animal dormia.

Concordaram que se tratava do noon′dah.

— O sol já vai se pôr — disse o jovem. — Atiramos agora ou esperamos até amanhã?

Estavam todos muito nervosos para esperar, por isso decidiram atirar imediatamente.

Acercaram-se cautelosamente e, após o comando de Mkaa′ah, todos dispararam ao mesmo tempo. O noon′dah sequer se moveu, a artilharia fora fatal. Os caçadores então retornaram ao acampamento, comeram e descansaram.

Na manhã seguinte, após o café da manhã, encontraram o cadáver no mesmo lugar.

Após se refazerem, tomaram o caminho de volta para casa, arrastando seu prêmio com eles. No quarto dia, o corpo começou a se decompor e os criados quiseram abandoná-lo. Mkaa′ah Jeecho′nee exigiu que continuassem mesmo que restasse apenas um osso.

Ao chegarem nos arredores da cidade, o jovem mais uma vez cantou:

— Estou de volta, mamãe, eis-me aqui. Visitei maus espíritos e os venci. Ouça, mamãe, meu canto de vitória:
Cacei a presa, alcancei a glória.
O que nos comia, mamãe, não terá mais fome.
Eu matei o noon′dah, comedor de homens.

Sua mãe saiu à janela e gritou:

— Meu filho, esse é noon′dah, comedor de homens!

Todos saíram à rua para recebê-lo. O sultão Maaj′noon ficou exultante e o cobriu de honrarias, além de arranjar-lhe casamento com uma bela e rica esposa. Mkaa′ah Jeecho′nee se tornou sultão após a morte de seu pai e, querido por todos, teve uma vida longa e próspera.

Fonte:
Elphinstone Dayrell, George W. Bateman e Robert Hamill Nassau. Contos Folclóricos Africanos vol. 2. (trad. Gabriel Naldi). Edição Bilingue. SESC.
Distribuição gratuita.

Minha Estante de Livros (Tarzan e os Homens-Formigas, de Edgar Rice Burroughs)

 

Romance de autoria do escritor norte-americano Edgar Rice Burroughs. Publicado em 1924, é o décimo de uma série de vinte e quatro livros sobre o personagem Tarzan.

RESUMO

Para seu primeiro voo solo, Tarzan decide sobrevoar a Grande Floresta de Espinhos e conhecer sua terra misteriosa. Contudo, o avião cai e Tarzan, inconsciente, é capturado por uma enorme e primitiva mulher das cavernas, que o leva para ser seu marido.

O homem-macaco consegue se libertar e fica atônito quando descobre uma raça guerreira composta por "homens-formigas", de menos de cinquenta centímetros de altura. Eles cavalgam minúsculos antílopes e moram em colmeias extensas, como formigueiros gigantescos. Tarzan fica amigo da tribo dos Trohanadalmakus, que fazem guerra a seus rivais, os Veltopismakus.

Tarzan acaba prisioneiro dos Veltopismakus, cuja estranha ciência o reduz ao tamanho de um homem formiga. Nessa condição, o senhor da selva é levado para trabalhar numa pedreira, onde encontra alguns companheiros da tribo amiga. O herói precisa cavar sua liberdade antes de voltar ao tamanho normal e morrer soterrado nas catacumbas sob a cidade dos Veltopismakus.

Enquanto isso, Esteban Miranda, o criminoso sósia de Tarzan, é aprisionado pelo canibal Obebe. Ele traz consigo um punhado de diamantes que roubou do homem macaco - e planeja fugir, o que causará novos problemas a Jane e Korak.

HISTÓRIA EDITORIAL

A narrativa foi escrita de 20 de junho a 22 de novembro de 1923. Apareceu inicialmente em sete números da revista pulp Argosy All-Story Weekly, de 22 de fevereiro a 15 de março de 1924. Em 30 de setembro de 1924, saiu a primeira edição em livro pela A.C. McClurg. No Brasil, a obra foi publicada primeiramente pela Companhia Editora Nacional em 1935, dentro da destacada coleção Terramarear, onde recebeu o número 38, com uma tiragem de dezessete mil exemplares. Quatro outras edições se seguiram, entre 1947 e 1958, com tiragens de dez mil unidades, exceto a quarta, que teve cinco mil e foi publicada em dois volumes.

Em 1971, com o título de Tarzan e os Homens-Formiga, foi a vez da Editora Record publicar o romance no Brasil. Ao todo, a editora lançou oito narrativas de Tarzan.

ADAPTAÇÕES

Quadrinhos

A primeira quadrinização foi na forma de tiras diárias, ilustradas por Rex Maxon, publicadas nos periódicos de 25 de janeiro a 18 de junho de 1932, com roteiro de R. W. Palmer.

A primeira adaptação para revistas em quadrinhos, bastante reduzida, foi lançada pela Gold Key Comics (selo da Western Publishing) no início de 1968. As ilustrações são de Russ Manning e o roteiro, de Gaylord Du Bois. Essa versão ilustrada por Russ Manning foi editada no Brasil pela EBAL, ainda no final da década de 1960, e reeditada na revista "Tarzan", em 1986.

Manning estreou nas páginas de domingo dos jornais com outra adaptação do romance, publicada entre 14 de janeiro e 16 de junho de 1968. Tanto as ilustrações quanto o roteiro são de sua autoria.

Projeto Gutenberg


O livro pode ser obtido em http://gutenberg.net.au/ebooks06/0600651h.html, em inglês.

Lucy V. Hay (Como Escrever um Suspense) Parte 3, final: Revisando a história

1. Leia seu esboço

Quando acabar de escrever, é hora de ler o rascunho.

Leia em voz alta, repare se o ritmo do enredo está rápido ou lento, se há furos na história, detecte as partes que podem ser melhoradas e veja se os personagens precisam de aprofundamento.

2. Mostre o rascunho para os outros

Peça a opinião de um professor ou mentor para saber quais pontos poderiam melhorados. Uma boa ideia é se matricular em um curso de produção textual e levar seu esboço para ser trabalhado lá.

Outra opção é mostrar o rascunho para seus amigos e familiares; eles certamente terão um ponto de vista diferente e interessante.

Prepare-se para receber críticas construtivas, já que a ideia é aperfeiçoar o texto.

Releia para verificar se a trama está boa e se há ação e suspense o suficiente.

Depois de receber as respostas das pessoas, releia o texto de olho nesses quesitos.

Quando ler uma cena, pergunte-se se acha que tem suspense o bastante; quando terminar, pense se a história como um todo foi emocionante como deveria e se realmente deixaria os leitores tensos e entretidos.

Referências
1. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-a-thriller.html
2. http://www.writersdigest.com/qp7-migration-conferencesevents/qp7-migrationmaui/10-basic-ingredients-of-a-successful-thriller
3. http://www.writersdigest.com/online-editor/the-5-cs-of-writing-a-great-thriller-novel
4. http://www.npr.org/2011/06/13/128718927/audience-picks-top-100-killer-thrillers
5. http://www.creative-writing-now.com/how-to-write-a-thriller.html
6. http://www.writersdigest.com/qp7-migration-conferencesevents/qp7-migrationmaui/10-basic-ingredients-of-a-successful-thriller
7. http://www.writersdigest.com/online-editor/the-5-cs-of-writing-a-great-thriller-novel
8. http://www.writersdigest.com/online-editor/the-5-cs-of-writing-a-great-thriller-novel
9. http://www.thecreativepenn.com/2010/01/19/writing-thrillers-james-rollins/

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Lucy V. Hay é uma autora, roteirista e blogueira que ajuda outros escritores através de workshops, cursos e de seu blog, Bang2Write. Lucy é produtora de duas séries de suspense britânicas e seu romance de estreia, "The Other Twin', está sendo adaptado pela Free@Last TV, que também produziu a série indicada ao Emmy "Agatha Raisin".
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