quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Hinos de Cidades Brasileiras (Paranavaí/PR)


por Geraldo Marques e Carlos Cagnani

Quando te vemos hoje, assim radiosa,
Teus filhos agitados no labor,
Lembramos da empreitada gloriosa,
Que calejou as mãos do lavrador
E fez romper da terra generosa
Os ricos frutos do progresso e amor!

Estribilho:
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Ó Paranavaí dos cafezais
Simétricos, em flor sobre a paisagem,
De belos e de extensos matagais,
Planícies verdejantes de pastagem...
Da glória tu chegaste até os umbrais!

Estribilho
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Salve teus filhos, que na faina ardente
Sobre teu solo ainda hostil e agreste
Traçaram teu destino florescente!
Salve, ó cidade que te engrandeceste
Ó bela Capital do Noroeste!

Estribilho
Nasceste sob o signo da vitória
Que os filhos teus souberam conquistar
És a um só tempo a evolução e a glória
Cidade que não pode mais parar!

Maya Falks (Espaços Fechados)

Do lado de fora, há uma guerra.

Apesar do silêncio, há uma guerra. Estou trancada em meu quarto tem pelo menos quarenta e cinco dias. Quarenta e cinco amanheceres nesse espaço de poucos metros quadrados, muito maior do que onde Ravena, minha irmã, está nesse momento. Ela ocupa poucos centímetros; seu novo quarto é marrom por fora, tem detalhes em bronze e fica, agora, sobre a mesma estante onde estão nossos retratos da linha do tempo.

À esquerda da urna, há um retrato de nós duas, sem alguns dentes, depois ostentando as mesmas roupas iguais, que foram nossa marca registrada na infância, para ninguém saber quem era quem. À direita, nós duas, quando passamos no vestibular, sujas de farinha e ovo, e depois meu retrato de toga enquanto Ravena fazia só figuração.

Ela era espírito livre, nunca aceitou essa ideia de ficar trancada em casa.

Quando nos disseram que essa guerra invisível começaria, ri dela, imaginando que aprenderia a escalar paredes com a unha para não precisar ficar ali, naquele apartamento pequeno, se remoendo em uma claustrofobia imaginária porque ali não tinha espaço para ela ser o animal selvagem que sempre disse ser.

Eu, ao contrário, nunca tive dificuldade de permanecer em completa inércia. Minha liberdade sempre foi no campo das ideias, e eu nunca precisei mover um único dedo para realizar mil malabarismos e viagens fantásticas.

– Você vai virar gelatina – ela dizia.

– Você vai virar alvo na temporada de caça – rebatia, arrancando aquele riso frouxo de quem se identificava mais como leoa do que como gente. Braba como só ela, garbosa, mandona e livre.

Era inacreditável que dividimos o mesmo útero por quase nove meses. E digo quase porque nem ali Ravena teve paciência de permanecer em um espaço fechado até o fim e me obrigou a sair do conforto do ventre quatro semanas antes do esperado.

Dizem que nascimentos antecipados são comuns entre gêmeos, eu ainda acho que isso aconteceu porque Ravena tinha pressa. Ela sempre tinha pressa. Talvez soubesse que teria uma vida breve ou talvez tenha tido a vida breve por ter pressa demais.

Apesar do silêncio, há uma guerra lá fora. Ela não entendeu porque sempre víamos guerras como coisas extremamente barulhentas. Acho que foi quando chegamos à agitação da emergência que ela entendeu que era uma guerra, mas aí já era tarde demais. Sempre é tarde demais quando temos tanta pressa, era o que vovó dizia a ela quando vomitava depois do almoço porque devorava a comida num só fôlego para ir pra rua brincar mais rápido.

Decretaram a quarentena por aqui em um domingo. Vimos na TV. Ravena saiu da sala aos berros, falando todos os palavrões que poderiam caber no vocabulário de uma menina de 23 anos. E ela era criativa, a danada, saíram até uns palavrões híbridos. Ela se trancou no quarto. Eu achava engraçado quando ela se trancava no quarto porque era um espaço pequeno e ela não aguentava mais de que um ou dois minutos.

– Deixa de drama, Ravena, é só um período, depois passa – falei quando ela passava por mim batendo as tamancas no piso de madeira do corredor.

– Pra você é fácil, né? Basta continuar fazendo nada, como sempre foi.

E seguiu para a cozinha, onde quebrou o terceiro copo da semana. Ela simplesmente não conseguia segurar qualquer objeto quando ficava muito agitada. Mamãe prometeu que a levaria ao médico a vida inteira, nunca cumpriu, até porque era difícil mesmo planejar qualquer coisa envolvendo Ravena; a chance de ela desaparecer pelos matos que circundavam o bairro era imensa.

Na terça-feira, nem dois dias de quarentena decretada, acordei no final da manhã com mamãe e Ravena discutindo. Ravena dizia que tinha um festival na casa de campo de um amigo, que fica a poucos quilômetros daqui e que já estava marcado há mais de um mês. Ela faria a discotecagem e não poderia faltar. Questão de responsabilidade, dizia.

– Ravena, pelo amor de Deus, isso aqui é assunto sério, filha!

– Meu trabalho também é assunto sério, mãe! Eu fui contratada pra colocar música na festa, não vou falhar!

– Mas Ravena, é uma pandemia! Esse festival nem deveria acontecer!

– Não foi cancelado, nem todo mundo embarca na histeria coletiva. Deixa de drama, eu levo o álcool e tá tudo bem.

– Não, no último festival, você voltou quatro dias depois, acha mesmo que pode conviver em segurança com um monte de gente por quatro dias?

– Por favor, mãe, essa ideia de que essas pessoas são sujas vem de gente preconceituosa!

– Não estou falando em limpeza, filha, estou falando do vírus!

– Vocês acreditam fácil demais nessas coisas, credo! A vontade que eu tinha, ouvindo da porta do quarto, era pegar Ravena pelos cabelos para que deixasse de ser cretina. Tinha gente morrendo. A quarentena só foi decretada depois que a pandemia saiu de controle. Não há exagero em medidas de segurança quando o jornal precisa ampliar o espaço do obituário.

– Dona Araci morreu ontem, vieram os moços uniformizados tirar ela de casa. A família não teve nem chance de se despedir, levaram direto pra cremação – falou mamãe tentando segurar o choro.

– Dona Araci já estava fazendo hora extra no mundo.

Eu sou jovem, muito mais saudável que vocês. Sem drama, vou lá, faço meu trabalho e volto.

– Não volta, vai arranjar um canto pra fazer quarentena – falei, invadindo a conversa.

– Olha só, projeto de clone, eu não dou a mínima para suas paranoias, vou lá fazer meu trabalho e volto pra casa, enquanto você fica aí, se ocupando de ser uma matéria estática.

Eu não lembro o dia em que Ravena começou a me odiar, mas lembro que já fazia bastante tempo. Foi quando ela começou a namorar um garoto da escola, tínhamos entre treze e catorze anos, e eu me passei por ela porque nunca tinha beijado e queria saber como era. O garoto caiu no meu truque, mas percebeu que eu não era ela na hora do beijo. Naquela noite, Ravena me bateu, nem mamãe conseguia tirar ela de cima de mim.

Ela foi embora de casa na manhã seguinte pra morar com o garoto na casa da família dele. Ela não falava mais com a gente, mas mamãe conseguia notícias falando diretamente com os pais dele. E foi por terceiros que descobrimos que Ravena estava grávida.

Os pais dele, sempre tão polidos, educados, gente de bem, botaram minha irmã pra correr porque onde já se viu uma mocinha de catorze anos sem nenhuma educação sexual engravidar do namorado com quem divide a cama sob supervisão deles? Não teve conversa, Ravena foi colocada na rua carregando o neto deles, numa madrugada qualquer.

Mas ela não voltou pra casa. Tinha vergonha. Fomos saber dela dias depois, em um hospital, se recuperando de um aborto, causado por uma tentativa de suicídio. Ravena, tão cheia de vida, tentou morrer. Ela então aceitou voltar, mas, apesar do ódio que nutria pelo ex-namorado – de quem nunca mais tivemos notícias –, não me perdoou, ou pelo menos não o bastante para voltarmos a ser amigas.

Eu não me importava, também a odiava da minha maneira. Éramos idênticas, me preocupava o fato de ela ser tão livre ostentando por aí as minhas fuças. Foi aí que comecei a pintar o cabelo, numa tentativa meio boba de me diferenciar da minha irmã doidona.

Ravena não aprendia nem na dor. Todas as vezes que mamãe tentava impedi-la de fazer bobagem, ela tinha que ser resgatada em seguida de algum apuro. Dessa vez, a gente sabia que não seria diferente e sequer seria a primeira das suas enrascadas que poderia ser potencialmente letal.

E foi assim que Ravena voltou pra casa quatro dias depois do começo do tal do festival. Estava destruída. Tentamos não entrar em paranoia, afinal, não sabíamos quanto tempo nesses quatro dias ela tinha efetivamente parado para dormir ou descansar um pouco.

Por uns dias, ficou quieta na cama, tomando o caldo de galinha de mamãe e muita água para se reidratar. Mas não demorou para ela mesma perceber que seu cansaço parecia não ter fim. Também não demorou para os primeiros calafrios e para ela me acordando de madrugada desesperada tentando puxar ar.

Ela não queria sair da cama, dizia que não aguentava dois passos, então mamãe ligou para o pronto-atendimento.

– Que idade tem ela? – perguntou a atendente.

– 23, 23 anos.

– A senhora não se preocupe, não é grupo de risco. Vai ficar tudo bem. Aconselhamos a manter ela em quarentena porque ela dificilmente conseguirá leito no hospital.

Mamãe chorou.

Qual é? A gente conhecia Ravena o bastante pra saber que sua letargia era um sintoma grave. A menina tinha a energia de uma hidrelétrica e agora não conseguia levantar da cama. Dizia ela que a dor no peito causada pela falta de ar parecia um ataque a facas.

E aí soubemos que, de toda a molecada que participou do festival, já havia um rastro de mortes. Dos próprios jovens, já se somavam três, mas o grave mesmo ficou para os bastidores; muitos hegaram infectados nos pequenos apartamentos que dividiam com pais e avós, e aí o índice de mortalidade se multiplicava. A mãe de Samuel, que trabalhou no bar do festival, ligou lá em casa pra contar que o rapaz estava entubado e que a sogra tinha sido cremada no dia anterior.

A pandemia estava de plantão na porta da nossa casa. Ou melhor, na cama ao lado da minha. Me mudei temporariamente para a sala. Deixamos Ravena sozinha no quarto, e mamãe entrava lá para levar comida, analgésicos, medir a febre e improvisar um banho a cada dois dias.

Um dia, em meio aos meus cochilos entediados, acordei com um grito de mamãe. Ravena não se mexia, mas ostentava no rosto a expressão de horror de quem tentou desesperadamente puxar o ar até seu último segundo. Sufocou. Filmes de terror agora me parecem comédia romântica perto da imagem que vi de minha irmã gêmea já restando somente sua carcaça no quarto que dividimos desde a infância. Ou pelo menos nos períodos em que ela morou com a gente.

Mamãe cuidou de tudo, eu fiquei estática no sofá enquanto recolhiam o corpo dela, e mamãe limpava o quarto para que eu pudesse voltar a habitá-lo. Foi ela também quem saiu de casa para buscar as cinzas e escolheu a urna.

Eu só entrei na história quando a coloquei no carro, abatida, e rumei para o hospital de campanha que foi montado pela prefeitura.

Foi aí que entendi que essa guerra só é silenciosa para quem não está na linha de frente. Lá o barulho era intenso. Desde profissionais gritando uns com os outros pela força da urgência, até pacientes sozinhos em suas macas gemendo de dor, tentando puxar o ar, rezando e toda a sorte de sons que somente o caos é capaz de produzir.

Não sei se a imagem da minha irmã já tinha sido o ápice de cenas avassaladoras que poderiam me tocar, mas, apesar de toda a tristeza que me consumia, eu não fiquei impressionada. Mamãe ficou em observação, e eu fui mandada pra casa. Ela era grupo de risco, e tínhamos perdido Ravena, então também não me foi surpresa quando ligaram avisando que ela estava sendo entubada, nem quando confirmaram o teste positivo.

Logo que voltei sozinha pra casa, ia à cozinha de tempos em tempos, mas passava pela estante onde agora Ravena descansa em um pequeno montinho de pó, então desisti do percurso, instalei o telefone no quarto e montei um pequeno estoque de alimentos ali mesmo, saindo para repor com alguma raridade.

Quarenta e cinco dias da internação de mamãe. Observando da minha janela a ausência de movimento, o silêncio, o luto que se abate sobre todos os prédios do quarteirão. Em praticamente todos, já morreu alguém. A gente demorou demais para levar a sério.

Pela redondeza, o barulho dos pássaros só é interrompido por eventuais sirenes ou pelos gritos desesperados de alguém que recebeu uma ligação do hospital. Fico imaginando como será minha reação quando meu telefone tocar. Eu sei que vai tocar e que a ligação me será dolorida. Mamãe está em coma.

Irônico que eu tenha compartilhado do útero dela com outro ser humano, que eu tenha nascido em uma família com pai, mãe e irmã, que nem na minha formação uterina eu tenha estado sozinha, e agora estou aqui, já sem lembrar do rosto de papai, que enfartou jovem, e sem poder esquecer de Ravena, já que a vejo toda vez que me olho no espelho.

Meus remédios para dormir já se aproximam do fim. Mamãe já se aproxima do fim, e a pandemia parece ser a única coisa que pretende permanecer por aqui por mais tempo. Nem os cães vadios mais passam pela nossa rua, que parece tirada de uma distopia qualquer. No começo, nos tempos que Ravena morria aos poucos, alguns vizinhos ainda saíam com uma desculpa qualquer; hoje, a maioria dos que saíram estão presos nessas mesmas urnas em que minha irmã, tão sedenta de liberdade, acabou confinada.

Pensei na ironia da coisa toda, porque não existe espaço mais apertado do que um caixão, e essas pessoas terminaram seus dias em um porque não suportavam a ideia de viverem confinados em suas próprias casas. Não é à toa que o vírus se espalhou tão rápido. Não é à toa que todo mundo por aqui já perdeu alguém ou mais de um alguém.

Eu não tive sintomas, mas o que ninguém fala na TV é que a sensação de sufocamento não é exclusiva dos contaminados. Os que enterram seus mortos também se sufocam. Se sufocam na dor, na perda, no vazio, no choro que seca porque o corpo não produz água o suficiente para chorarmos todos os nossos mortos em tão pouco tempo. Estou sufocada não pelos pulmões ou pelo confinamento, mas pela impotência.

Mamãe tem um tubo enfiado no corpo para que seu pulmão não desista.

Me pergunto se ela ainda luta.

Me pergunto se eu ainda luto. Perdi as contas de quantas vezes acordei sorrindo por achar que me faltava o ar. Mas não era o vírus, era o luto. Me falta o ar porque a traqueia não consegue se dividir entre a respiração e os espasmos causados pelo choro constante.

E então fico apática. Olhando do lado de fora sem acreditar que há uma guerra. Que, em algum ponto daquele hospital de campanha, mamãe está em uma trincheira. Posso imaginá-la em um campo de batalha, mas me recuso a criar dela a imagem de um corpo entubado sobre uma cama, sem perspectiva de voltar a ter vida dentro dele.

Quarenta e cinco dias que voltei sozinha pra casa. Não ligo a TV, não vejo notícias, não sei em que ponto estamos da pandemia, nem quanto tempo falta para a quarentena acabar. Não espero que volte tudo ao normal porque já não existe mais o normal, pelo menos, não para mim, para meus vizinhos, para milhares de pessoas que seguirão em frente pela metade.

Se eu não voltar a dividir quarto com a minha irmã naquela urna que está na sala, não sei se terei coragem de me considerar uma sobrevivente. Para isso é preciso continuar vivendo, não é? Pois não acho que isso seja possível.

Entrei em um universo paralelo onde minha quarentena só terminará quando eu reencontrar mamãe e Ravena. Talvez nesse encontro eu finalmente diga a ela que beijei todos os seus ex-namorados e não apenas o primeiro.

Fonte: Revista Acrobata. 26 agosto 2021.

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Adega de Versos 117: Welton Melo (O que tu és para mim)


 

Mensagem na Garrafa – 64 -

Mario Quintana

(Mário de Miranda Quintana)
Alegrete/RS, 1906 – 1994, Porto Alegre/RS


CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE


Tão bom viver dia a dia...

A vida, assim, jamais cansa...


Viver tão só de momentos

Como essas nuvens no céu...


E só ganhar, toda a vida,

Inexperiência... esperança...


E a rosa louca dos ventos

Presa à copa do chapéu.


Nunca dês um nome a um rio:

Sempre é outro rio a passar.


Nada jamais continua,

Tudo vai recomeçar!


E sem nenhuma lembrança

Das outras vezes perdidas,

Atiro a rosa do sonho

Nas tuas mãos distraídas... 

“O Voo da Gralha Azul” (Um site exclusivamente de trovas)




Um site cujo conteúdo é exclusivamente composto de trovas, em atividade desde 2016. 

São dezenas de milhares de trovas de centenas de trovadores, homenagens, trovas de concursos, dicas, artigos, etc.

Ensinamentos do Professor Renato Alves; 
Trova e Cidadania, por Luís Gonzaga da Silva; 
O bom trovar, por Maria Thereza Cavalheiro; 
Textos de A. A. de Assis;
A trova Humorística, por Luiz Otávio; 
O nome próprio na trova, por Marina Bruna;
Trovas circunstanciais, por Aparício Fernandes;
A classificação das trovas, por Aparício Fernandes;
e mais…

Centenas de trovadores de ontem e de hoje, como por exemplo
Alfredo Valadares, Alonso Rocha, Amilton Maciel Monteiro, Ana Maria Motta, Ary Santos Campos, Brandina Rocha Lima, Carolina Ramos, Cláudio de Cápua, Cláudio Derli, Clenir Neves Ribeiro, Clodoaldo de Abreu Filho, Darly O. Barros, Domitilla Borges Beltrame, Dorothy Jansson Moretti, Dulcídio de Barros Moreira Sobrinho, Elton Carvalho, Fernando Câncio de Araújo, Fernando Vasconcelos, Gislaine Canales, Héron Patrício, Ialmar Pio Schneider, Istela Marina Gotelipe Lima, Izo Goldman, Jessé Nascimento, Luiz Otávio, Maria Thereza Cavalheiro, Olavo Dantas Coelho, Olympio da Cruz Simões Coutinho, P. de Petrus, Paulo Emílio Pinto, Relva do Egypto Rezende Silveira, Roberto Tchepelentyky, Therezinha Dieguez Brisolla, Vasques Filho, Vanda Fagundes Queiroz e muitos mais.

Este é o seu site, Trovador. Participe, envie suas trovas e de trovadores falecidos.


Hinos de Cidades Brasileiras (Almirante Tamandaré/PR)


por Harley Clóvis Stocchero

No teu céu, que é tão belo e azul,
brilha sempre o Cruzeiro do Sul;
quando Deus, ao compor o Universo,
fez aqui o seu mais belo verso;
e ao pintar, também, a natureza,
pôs mais cor no pincel, com certeza...

Nas tuas matas, no morro ou restinga,
nasce, cresce e dá mel bracatinga,
que, aliada à extração mineral
sua lenha vai produzir cal,
desta terra maior produção
que é exportada por toda Nação.

Estribilho
Almirante Tamandaré
o teu povo tem força e tem fé,
conservando, na sua tradição,
Nossa Mãe, Virgem da Conceição.

Da união do minério e o trabalho
por igual produzimos calcário;
tendo aqui sempre boa produção
nosso milho, a batata e o feijão;
também forte é em nossa lavoura
o repolho, o tomate e a cenoura...

O Tingui nos levou o amor
que preserva o riacho e a flor;
Gralha Azul nos plantou o pinheiro,
que cresceu para o céu altaneiro;
e os gorjeios de nosso sabiá
têm beleza que em outros não há!...

Nesta terra abençoada e feliz
vive um povo que ora e prediz
a grandeza de Tamandaré
no valor do trabalho e da fé.

Estribilho
Almirante Tamandaré
o teu povo tem força e tem fé,
conservando, na sua tradição,
Nossa Mãe, Virgem da Conceição.

Almirante Tamandaré
o teu povo tem força e tem fé,
conservando, na sua tradição,
Nossa Mãe, Virgem da Conceição.

Samuel Costa (Toda floresta tem o seu rei)

 Todos os animais sabiam que a princesa Louçã era a rainha da Amazônia, que tinha poderes místicos e era muito forte. Todos gostavam dela por sua bondade e por ela não fazer exceção a nenhum bichinho.

Mas os bichos da floresta amazônica queriam um rei. E foram falar com a princesa sobre isso. Os animais chegaram a uma conclusão: deveriam fazer um concurso para escolher um rei. Todos iriam participar da mesa de júri, dos menores, como a rã, aos maiores, como a onça pintada. Todos iriam participar, mas quem iria dar a decisão final era a princesa Louçã.

E abriram-se as vagas para se candidatar. O primeiro a chegar e se candidatar foi a onça-pintada, como todos esperavam  logo depois chegou o gavião real, depois o jacaré-açu, depois o lobo guará, e logo, para surpresa de todos, um beija-flor chamado Lírio se candidatou. Todos acharam graça do beija-flor: ... “ele é tão pequeno!”  todos acharam que ele iria morrer nas provas, que iriam durar sete dias.

A princesa disse: - Amanhã, assim que amanhecer, quero todos os candidatos aqui. E todos foram embora.   

A onça disse: - Eu só não como esse beija-flor por que ele não dá para nada, aliás, só vai me dar mais forme. 

E o jacaré disse: - Eu também acho... O que um animalzinho desses quer?   Vencer-nos? Ha, ha, ha...   logo nós que estamos no topo da cadeia alimentar da floresta!   

O gavião real disse: - Ele é um louco mesmo.

  No outro dia eles chegaram bem cedo, estavam numa só panelinha, só o beija-flor estava de fora. As provas começaram, era para ver quem tinha mais agilidade  quem venceu foi o gavião e o beija-flor,  quem ficou em último foi o jacaré, porque ele se cansou muito rápido. Depois, foi visto quem caçava mais  quem venceu foi a onça e quem perdeu foi o beija-flor. E assim acabou o primeiro dia de provas.

No segundo dia de provas, elas foram mais leves, os candidatos tinham que falar os nomes das plantas e as fusões de cada animal na cadeia alimentar quem mais se destacou foi o beija-flor de novo, ele mostrou que não tinha força, mas tinha sabedoria. E a onça ficou com muita raiva do beija-flor. O gavião real foi um dos que mais se destacou. E assim acabou o segundo dia de provas.

Os outros pássaros que estavam no júri morriam de inveja: o uirapuru que era o imperador da música da floresta e o seu vice, o sabiá, estavam com raiva do Lírio, e até o imperador da arquitetura amazônica, também ficou surpreso com a coragem do Lírio.            

O terceiro dia de prova foi diferente, os candidatos tinham que falar de seus antepassados, lembrar-se da sua família o máximo que pudessem. E assim terminou o terceiro dia de provas. E o lobo guará e o beija-flor foram os que mais se destacaram.

No quarto dia de provas eles tiveram que escolher um lugar da mata e achar melhor solução para amenizar os caçadores. E assim acabou mais um dia de prova.    

A onça e o jacaré, e o gavião e o lobo, chegaram a uma conclusão: deveriam matar o beija-flor, pois perceberam como ele estava se destacando. Então convidaram o beija-flor para tomar um chá na casa da onça.

Quando a família de Lírio soube que ele foi convidado, eles o aconselharam a não ir, mas Lírio teimou e foi.

Quando ele lá chegou o trataram bem, mas como a onça sabia que ele era muito rápido colocaram pouco açúcar na mesa com a intenção de que este acabasse logo antes que Lírio se servisse. Iriam manda-lo pegar o açúcar dentro do açucareiro e aí, ele seria capturado. E foi o que aconteceu, Lírio foi capturado e a onça o engoliu. Porém, ele era tão pequeno que ela não o mastigou e o engoliu direto.

Foi o quinto dia de provas. Perceberam que o beija-flor não tinha ido participar, mas ninguém desconfiava, eles tinham que ir tratar de negócios na Amazônia Internacional além da fronteira, conversar com os imperadores que cuidavam de cada parte, e foram transportados pela magia da princesa Louçã.

E o sexto dia de provas começou, e a rainha disse:

- Eu já sei quem vai ser o novo rei da floresta, mas vou deixar terminar os dias de provas.

Eles tinham que verificar as nascentes do Rio Amazonas e o nível das chuvas.

E o sétimo dia de prova começava. Era o grande dia, o dia da escolha, e as provas começavam com a palavra da rainha Louçã, que começou dizendo:

- O meu escolhido não está à vista de todos, ele está dentro da barriga da onça pintada, eu o deixei com vida, mas inconsciente. 

No mesmo momento o beija-flor acorda e começa a se mexer dentro da barriga da onça, e de repente o beija-flor sai pela boca da mesma. O beija-flor foi tão aplaudido que de norte a sul, de leste a oeste, escutava-se aclamá-lo como o novo rei da maior floresta do mundo. Então um animalzinho   lhe disse:

- Beija-flor, agora que você é rei, não mate a onça.  

- Sim, não é com violência que vou reinar - retrucou o beija-flor.

A rainha ficou tão admirada com o beija-flor que resolveu lhe dar poderes místicos. E assim a Amazônia foi sendo governada…

Fonte: Sorocult (site desativado). Acesso em 09.01.2016

Professor Garcia (Pantuns) VI

Por definição, o Pantun é um poema de origem Malaia, composto por 4 estrofes de 4 versos cada um, no sistema ABAB. É uma composição poética e musical que faz parte do folclore malaio, no qual o tema mais comum é o amor e surgiu por volta do século XII. Diria que é um tanto quanto desconhecido -e pouco explorado pelos, poetas brasileiros; mas um Pantun bem acabado, torna-se uma composição muito atrativa,

Para se compor um Pantun, escolhe-se, inicialmente, uma boa trova de alguém, podendo ser do próprio autor. A trova escolhida passa a ser a trova tema do Pantun. Dela, surgirão 4 novas estrofes, obedecendo ao sistema ABAB. 

Atenção: tanto da trova tema quanto das novas trovas, o 3° verso é descartado, usando-se apenas o 2o e o 4o versos, e em cada estrofe surgem dois versos novos até o final. Além disso, finaliza-se o 4o verso da última estrofe com o 1o verso da trova tema.

Nem toda trova, por mais bela que seja, pode originar um bom Pantun, é bom ficar atento a esse detalhe. 

PANTUN DO VELHO ABANDONO

Trova tema:
Faminta e desprotegida,
vagando em busca do nada,
ganha o mundo e perde a vida
a criança abandonada.
(Zé Lucas-RN)

Vagando em busca do nada, 
perdida e sem esperança,
a criança abandonada,
mata o sonho de criança!

Perdida e sem esperança,
segue a criança tristonha!...  
Mata o sonho de criança!
Mas é feliz quando sonha!

Segue a criança tristonha,
exposta aos amores vis,
mas é feliz quando sonha,
que um dia será feliz!

Exposta aos amores vis,
mas pela vida iludida,
que um dia será feliz
faminta e desprotegida!
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PANTUN DO AMANHECER

Trova tema:
Da janela, o amanhecer
reluz sopros de esperança...
E a vida, em seu renascer,
lembra um sonho de criança!
(Eva Garcia-RN)

Reluz sopros de esperança
e, o sonho da vida em flor,
lembra um sonho de criança
na primavera do amor.

E, o sonho da vida em flor,
é a força que nos conduz;
na primavera do amor,
é sempre de paz e luz.

É a força que nos conduz,
em busca da eterna paz,
é sempre de paz e luz
e o sonho, ninguém desfaz.

Em busca da eterna paz,
vivo a sonhar e a sofrer;
e o sonho, ninguém desfaz,
da janela, o amanhecer!
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PANTUN DA VOVÓ SERENA

Trova tema:
Curvada ao peso da idade,
a vovó, serena e bela,
distrai o tempo e a saudade
entre o novelo e a novela...
(A. A. de Assis – PR)

A vovó, serena e bela,
é feliz como criança;
entre o novelo e a novela...
Enche a vida de esperança.

E feliz como criança;
hoje, não faz nada à toa,
enche a vida de esperança,
vovó que tudo perdoa.

Hoje, não faz nada à toa,
ante o tempo carrancudo,
vovó que tudo perdoa
faz graça de quase tudo.

Ante o tempo carrancudo,
da infância sente saudade...
faz graça de quase tudo,
curvada ao peso da idade!
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PANTUN DA POBRE MARIA

Trova tema:
Maria é um resto somente
no cais largada ao desdém
quem foi mar de tanta gente
hoje é porto de ninguém!
(Tadeu Hagen – MG)

No cais largada ao desdém
pobre Maria do cais,
hoje é porto de ninguém
na solidão de seus ais.

Pobre Maria do cais,
entre a tristeza e a saudade,
na solidão de seus ais,
distante da flor da idade.

Entre a tristeza e a saudade,
Maria, pobre Maria,
distante da flor da idade,
abraça a vida vazia.

Maria, pobre Maria,
velha, esquecida, indigente,
abraça a vida vazia.
Maria é um resto somente.
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PANTUN DA OGIVA DO AMOR

Trova tema:
Lanço a bomba do meu sonho,
ogiva de paz e amor,
e o cogumelo medonho
ganha formato de flor.
(Cézar Defilippo – MG)

Ogiva de paz e amor
se eu lanço aos céus, todo dia,
ganha formato de flor
entre ogivas de poesia.

Se eu lanço aos céus, todo dia,
conselhos bons aos perversos,
entre ogivas de poesia
eu mostro a paz nos meus versos.

Conselhos bons aos perversos,
não peçam mais, por favor,
eu mostro a paz nos meus versos,
ante os sobejos do amor.

Não peçam mais, por favor,
que eu faça um verso tristonho;
ante os sobejos do amor,
lanço a bomba do meu sonho.

Fonte> Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017. 
Enviado pelo autor.

Contos e Lendas do Mundo (Lenda latino-americana : Maria Pamonha)

Certo dia apareceu na porta da casa grande da fazenda uma menina suja e faminta. Nesse dia, deram-lhe de comer e de beber. E no dia seguinte também. E no outro, e no outro, e assim sucessivamente.

Sem que as pessoas da casa se dessem conta, a menina foi ficando, ficando, sempre calada e de canto em canto.

Uma tarde, os garotos da fazenda perguntaram-lhe como se chamava e ela respondeu com um fiozinho de voz:

- Maria.

E os garotos, às gargalhadas, fecharam-na numa roda e começaram a debochar dela:

- Maria, Maria Pamonha, Maria, Maria Pamonha...

Uma noite de lua cheia, o filho da patroa estava se arrumando para ir a um baile, quando Maria Pamonha apareceu no seu quarto:

- Me leva no baile? - pediu-lhe.

O jovem ficou duro de espanto.

- Quem você pensa que é para ir dançar comigo? – gritou. - Ponha-se no seu lugar! Ou quer levar uma cintada?

Quando o rapaz saiu para o baile, Maria Pamonha foi até o poço que havia no mato, banhou-se e perfumou-se com capim-cheiroso e alfazema. Voltou para casa, pôs um lindo vestido da filha da patroa e prendeu os cabelos.

Quando a jovem apareceu no baile, todos ficaram deslumbrados com a beleza da desconhecida. Os homens brigavam para dançar com ela, e o filho da patroa não tirava os olhos de cima da moça.

- De onde é você? - perguntou-lhe, por fim.

- Ah, eu venho de muito, muito longe. Venho da cidade de cintada - respondeu a garota. 

Mas o rapaz a olhava tão embasbacado que não percebeu nada.

Quando voltou para casa, o jovem não parava de falar para a mãe da beleza daquela garota desconhecida que ele vira no baile. Nos dias que se seguiram, procurou-a por toda a fazenda e pelos povoados vizinhos, mas não conseguiu encontrá-la. E ficou muito triste.

Uma noite sem lua, dez dias depois, o jovem foi convidado para outro baile. Como da primeira vez, Maria Pamonha apareceu no seu quarto e disse-lhe com sua vozinha:

- Me leva no baile?

E o jovem voltou a gritar-lhe:

- Quem você pensa que é, para ir dançar comigo? Ponha-se no seu lugar! Ou quer levar uma espetada?

Logo que o jovem saiu, Maria Pamonha correu para o poço, banhou-se, perfumou-se, pôs outro vestido da filha da patroa e prendeu os cabelos.

De novo, no baile, todos se deslumbraram com a beleza da jovem desconhecida. O filho da patroa aproximou-se dela, suspirando, e perguntou-lhe:

- Diga-me uma coisa, de onde é você?

- Ah, ah, eu venho de muito, muito longe. Venho da cidade de espetada - respondeu a jovem. 
  
Mas ele nem se deu conta do que ela estava querendo lhe dizer, de tão apaixonado que estava.

Ao voltar para casa, não se cansava de elogiar a desconhecida do baile. Nos dias que se seguiram, procurou-a por toda a fazenda e pelos povoados vizinhos, mas não conseguiu encontrá-la. E ficou mais triste ainda.

Uma noite de lua crescente, dez dias depois, o rapaz foi convidado para outro baile. Pela terceira vez, Maria Pamonha apareceu em seu quarto e disse-lhe com aquele fiozinho de voz:

- Me leva no baile?

E pela terceira vez ele gritou:

- Quem você pensa que é para ir dançar comigo? Ponha-se no seu lugar! Ou quer levar uma sapatada?

Outra vez, Maria Pamonha vestiu-se maravilhosamente e apareceu no baile. E outra vez todos ficaram deslumbrados com sua beleza.

O jovem dançou com ela, murmurando-lhe palavras de amor e deu-lhe de presente um anel. Pela terceira vez, ele lhe perguntou:

- Diga-me uma coisa, de onde é você?

- Ah, ah, ah, eu venho de muito, muito longe. Venho da cidade de sapatada.

Mas como o rapaz estava quase louco de paixão, nem se deu conta do que queriam dizer aquelas palavras.

Ao voltar para casa, ele acordou todo mundo para contar como era bela a jovem desconhecida. No dia seguinte, procurou-a por toda a fazenda e pelos povoados vizinhos, sem conseguir encontrá-la.

Tão triste ele ficou, que caiu doente. Não havia remédio que o curasse, nem reza que o fizesse recobrar as forças. Triste, triste, já estava a ponto de morrer.

Então Maria Pamonha pediu à patroa que a deixasse fazer um mingau para o doente. A patroa ficou furiosa.

- Então você acha que meu filho vai querer que você faça o mingau, menina? Ele só gosta do mingau feito por sua mãe.

Mas Maria Pamonha ficou atrás da patroa e tanto insistiu que ela, cansada, acabou deixando.

Maria Pamonha preparou o mingau e, sem que ninguém visse, colocou o anel dentro dele.

Enquanto tomava o mingau, o jovem suspirava:

- Que delícia de mingau, mãe!

De repente, ao encontrar o anel, perguntou surpreso:

- Mãe, quem foi que fez este mingau?

- Foi Maria Pamonha. Mas por que você está me perguntando isso?

E antes mesmo que o jovem pudesse responder, Maria Pamonha apareceu no quarto, com um lindo vestido, limpa, perfumada e com os cabelos presos.

E o rapaz sarou na hora. E casou-se com ela. E foram muito felizes.

Fonte: Ana Rosa Abreu et al. Alfabetização: livro do aluno. Brasília: FUNDESCOLA/SEF-MEC, 2000. Disponível em Domínio Público. 

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

Trova ao Vento – 006

 

Mensagem na Garrafa – 63 -

Cora Coralina
(Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas)
Cidade de Goiás/GO, 1889 – 1985, Goiânia/GO

ASSIM EU VEJO A VIDA

A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.

Milton S. Souza (Datas entrelaçadas)

Depois que começaram a inventar dias disso e dias daquilo (Até a sogra já tem dia!), passaram a faltar datas no calendário para tantas comemorações. E o negócio foi agrupar várias homenagens num mesmo dia para que nada e nem ninguém deixasse de ser lembrado. Isso está acontecendo, principalmente, com os santos, que precisam dividir um só dia entre três ou quatro nomes sagrados. Mas se eles foram considerados santos em vida, agora que já estão no paraíso nem devem se importar muito com esta divisão. Acontece, porém, que algumas datas que se entrelaçam podem causar dúvidas, problemas e sérios constrangimentos.

Vejam vocês, por exemplo, o 31 de outubro. Todo mundo sabe que esta data importada é festejada como o Dia das Bruxas. Mas pouca gente sabe que ela marca, também, o Dia da Dona de Casa. Será que foi proposital esta dupla homenagem? Sei que os machistas de plantão e aqueles que casaram com algum projeto de bruxa responderão afirmativamente. Mas, para não provocar injustiças, vou examinar, com isenção e muito cuidado, as semelhanças entre as duas partes. Nem vou falar da feiúra, porque isso depende dos olhos de quem olha (E o amor provoca cegueira!!!). Mas ninguém vai poder negar que as bruxas e as donas de casa estão sempre lidando com receitas, panelas e vassouras. E que as bruxas voam e fazem os objetos voarem. Algumas donas de casa, principalmente quando estão com raiva dos coitados dos maridos, conseguem fazer os objetos mais estranhos (e pesados) voarem (e o marido sair voando de perto delas, para não apanhar). Sei que poderia encontrar mais algumas semelhanças. Mas estas que examinei já me deram certeza: existem mesmo muitas razões para festejar estas duas datas no mesmo dia...

Outra data que estaremos festejando em 1º de novembro é o Dia Internacional do Homem. Uma homenagem merecida, pois todas as pessoas inteligentes sabem que o mundo só funciona bem por causa dos homens. Seria exigir demais das mulheres, que não sabem nem fazer um carro funcionar quando acontece qualquer pequena pane, que elas fossem responsáveis pelo funcionamento do mundo. E para a homenagem aos homens ficar mais merecida ainda, vejam vocês o que mais se festeja neste primeiro dia de novembro: o Dia de Todos os Santos. Nem dá para discutir: o entrelaçamento destas duas datas é muito oportuno e bem pensado. Quase todos os homens (salvo aquelas raras exceções desencaminhadas pelas mulheres) são santos em potencial. Nada mais justo e certo do que festejar o Dia Internacional dos Homens juntamente com o Dia de Todos os Santos (e nós, homens, apesar da nossa santidade, não vamos aceitar promessas e nem orações como presentes nesta data tão importante)...

Depois de ressaltar estas duas datas entrelaçadas, uma outra data passa a me preocupar bastante: o 2 de novembro, Dia dos Finados. Não, não tem nenhuma data entrelaçada com este dia fúnebre. A minha preocupação é outra: se a minha esposa ou algumas das mulheres minhas amigas lerem esta crônica machista, poderão pensar que tudo o que está escrito nela é a minha verdadeira opinião (e não apenas uma simples brincadeira). Neste caso, provavelmente, estarei festejando, silenciosa e geladamente, o próximo Dia dos Finados…