quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Caldeirão Poético LXXXI


Aurora Motta
Cruzeiro/SP, 1931 – 2021

LENITIVO

Ouvir-te a voz! Saber-te ainda vivo,
eis a maior de todas as benesses!
Abate-me o pesar rude, aflitivo;
e vibra-me a alma debulhada em preces.

Ouvir-te a voz! Supremo lenitivo
que de amara distância me ofereces!
Pulsa-me forte o coração cativo,
onde senhor e uno permaneces.

Do meu insano amor a chama pura
desejara calar — quanta ventura!
a tua voz num beijo prolongado.

... E transformar o fone indiferente
em braços que me abracem ternamente
e nunca mais se afastem do meu lado!
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Cruz Filho
Canindé/CE, 1884 – 1974, Fortaleza/CE

A ÁRVORE DO SÂNDALO

Em vão estendo para os céus os braços,
sem que possa atingir essas alturas
em que julgo entrever-te os leves traços,
deusa tão pura quanto as deusas puras!

Busco-te em vão! Há entre nós espaços,
abismos negros e amplidões escuras:
detém-me o teu orgulho os tíbios passos,
sempre que ao meu olhar te transfiguras.

Com as tuas mãos sacrílegas de vândalo
ceifas-me as ilusões, uma por uma;
mesmo assim, de perdões minha alma é cheia!

Este amor é como a árvore do sândalo,
que, ferida de morte, inda perfuma
o gume do machado que a golpeia...
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David de Araújo
Santos/SP, 1933

SOL DAS ALVORADAS

Partiste. E o teu adeus foi um aceno leve...
Mas diz-me o coração, em sonhos adivinho,
que estás, como eu, saudosa, e que a saudade deve
trazer de volta o amor que havia em nosso ninho.

Teimo em pensar que a tua ausência vai ser breve,
que vais voltar, quem sabe, um dia, de mansinho,
trazendo em tuas mãos mais puras do que a neve
as estrelas do céu e as flores do caminho.

Nesse dia feliz, seguindo de mãos dadas,
havemos de chegar, tranquilos e risonhos,
aos bosques onde habita o espírito das fadas...

Com nossos corações abertos para os sonhos,
saudaremos, de lá, o sol das alvoradas,
deixando para trás crepúsculos tristonhos...
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Enrique de Rezende
Cataguazes/MG, 1899 – 1973

ÚLTIMA CARTA

Envelheci... Na minha ingenuidade,
sem que eu jamais o percebesse um dia,
surpreenderam-me os anos... Em verdade,
não sou quem fui, não valho o que valia.

Sempre afeito, porém, à fantasia,
pois quem vive a sonhar não tem idade,
povoam-me a cabeça, na invernia,
os mesmos sonhos meus da mocidade.

Fluiu-me a vida, descuidosa e mansa,
por entre sonhos de ilusões refertos,
por entre poemas que, a sonhar, componho.

Vida de poeta — um sonho de criança.
— Mas se em vida sonhei, de olhos abertos,
é que eras tu a vida do meu sonho...
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Franklin Magalhães
São João Del Rey/MG, 1879 – 1938, Rio de Janeiro/RJ

AVES GORJEIAM NO VERGEL...

Aves gorjeiam no vergel... Murmura,
perto, um rumor de fonte cristalina...
O sol espreita do alto da colina,
e beija ao lago azul a face pura.

Que harmonia inefável desce a altura!
Cantam os anjos... Que manhã divina!
Por que sorri, tão cândida, a bonina?
Por que tão claro o sol no céu fulgura?

Por que cantam, com tanto amor, as aves?
Por que exalam perfumes tão suaves
as flores, hoje, desde o abrir da aurora?

Por que é que as borboletas giram tanto?
É que passeais, a rir, cheia de encanto,
cheia de graça, pelo campo afora...
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Gothardo Neto
Natal/RN, 1881 – 1911

MINHA CAMPA

Quero-a entre moitas de rosais. Ao fundo,
triste cruzeiro humilde e suplicante,
onde venha pousar o mocho errante
cantando, à noite, a dor do moribundo.

E ao pé da lousa, como um ai profundo,
à luz crepuscular do céu, distante,
deixem cair o orvalho fecundante
dos olhos virgens que adorei no mundo.

Seja um soturno e calmo isolamento
onde, por noites longas de amargura,
soluce a treva ao palpitar do vento...

Junto — o cipreste um funeral cantando;
na lousa — o nome da saudade escura;
e um serafim de mármore chorando.

Fonte: Vasco de Castro Lima. O mundo maravilhoso do soneto. 1987.

Mitos Indígenas (O menino e a onça - como os Caiapós conquistaram o fogo)

Há muito tempo atrás os índios não conheciam o fogo, alimentando-se de polpa de madeira, frutos silvestres e carne, que preparavam sobre pedras aquecidas pelo Sol. 

Certo dia, dois meninos Caiapós caminhavam pela floresta, quando um deles percebeu sobre um rochedo um ninho de araras vermelhas. Pediu ajuda ao companheiro para encostar um tronco na rocha, conseguindo assim alcançar o ninho. Mas, ao subir, esbarrou numa pedra que caiu e feriu o amigo. 

Com raiva o menino atingido tirou dali o tronco, deixando o outro sem meios para descer. 

Após algumas horas, apareceu no local uma onça-macho que, ao ver a sombra do menino, pode localizá-lo sobre o rochedo, ao lado do ninho das araras vermelhas, pássaros que sabiam carregar o fogo. 

Em troca de ajuda, a onça pediu que este lhe jogasse os filhotes. Concordando com a proposta, o índio pode finalmente descer. 

Por haver permanecido muito tempo exposto ao calor, o menino ficou muito corado, fazendo a onça crer que tratava-se do filho do Sol. 

Convidou-o para conhecer sua toca, onde a onça fêmea passava o dia assando carne ao fogo e fiando algodão. Apresentou-o a ela, pedindo que o tratasse muito bem, e saiu em seguida para caçar. 

A fêmea, entretanto, pôs-se a ameaçá-lo, rugindo e lhe mostrando os dentes. 

Ao saber do que ocorrera, a onça-macho resolveu ensinar o menino a usar o arco e a flecha para que pudesse se proteger. 

No dia seguinte, assim que o macho saiu, a fêmea tentou atacar o índio, que com muita habilidade, matou a inimiga à primeira flechada. 

Ao voltar, a onça-macho soube o que ocorrera, aprovando e elogiando o menino, que facilmente tudo havia aprendido. 

Pediu-lhe que voltasse à sua aldeia, levando o fuso e uma tocha, cuidando para que esta não se apagasse. 

Regressando aos seus, o indiozinho os ensinou a usar o fogo e depois a fiar o algodão. Em comemoração fizeram uma grande festa, na qual o bijú, a mandioca, a carne e o peixe foram preparados ao fogo, que mantiveram aceso por muito tempo, alimentando-o com lenha seca. 

Certo dia, porém, a chuva apagou a chama, deixando a todos muito tristes. Então, Begorotire, o homem chuva, desceu do céu para ensinar-lhes a produzir fogo com dois pedaços de madeira: uma, segura com o pé, onde deveria haver um orifício; a outra, encaixada na primeira, giraria entre as mãos, até o fogo surgir. 

Neste dia voltou a alegria entre os índios Caiapós.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Dicas de Escrita (Como Escrever Histórias Engraçadas) – 2

(por Christopher Taylor, PhD)
ESCREVENDO A HISTÓRIA

1 – Escreva um primeiro parágrafo interessante. 

É no fim do primeiro parágrafo que muitos leitores decidem se vão ou não continuar lendo a história. Por isso, você tem que começar a explorar o enredo logo nas frases iniciais do texto.

O primeiro parágrafo tem que chamar a atenção e prender o interesse do leitor.

Não se preocupe em deixar o primeiro parágrafo engraçado. Você pode deixar para inserir o humor durante a revisão. Por enquanto, tente começar a explorar a situação em que os personagens se encontram.

Incorpore elementos incomuns e inesperados no primeiro parágrafo, como um conflito interessante. Isso gera tensão e a sensação de urgência e prende a atenção do leitor.

2 – Desenvolva os personagens. 

Toda história, ficcional ou não, precisa de personagens tridimensionais e desenvolvidos. 

Não escreva sobre pessoas sem graça e que todo mundo já viu antes. Dê personalidade às suas criações e, se for falar de alguém que existe de verdade, descreva a aparência, os maneirismos e outras idiossincrasias.

O certo é que você conheça o personagem muito além do que escreve sobre ele. 

Pense bem em quem ele é antes de começar o texto para que a narrativa fique mais real.

Reflita sobre o que torna esse personagem único: pense na aparência, nos hobbies, no temperamento, nas fobias, nos defeitos, nas qualidades, nos segredos, nas lembranças mais importantes etc.

Explore pelo menos quatro características principais dos personagens: a aparência, as ações, a forma de se expressar e os pensamentos. 

Você pode explorar mais características que deixem a narrativa ainda melhor, mas esses são os quatro detalhes básicos.

3 – Escreva anedotas engraçadas. 

Antes de escrever textos longos, você pode começar com anedotas (pequenos contos) breves sobre algo engraçado ou importante, como uma experiência pessoal que dê para contar aos seus amigos durante um almoço.

Muitas pessoas acham essas anedotas mais engraçadas do que as piadas tradicionais. As piadas até arrancam risadas, mas são menos memoráveis do que histórias reais de situações constrangedoras.

Não escreva apenas anedotas ficcionais. Pense nas conversas que você já teve com os amigos, os parentes e os colegas e tente incorporar as partes engraçadas delas nas suas histórias.

Você também pode usar esses contos para falar da natureza humana e de outras experiências. Se necessário, leia obras de outros autores que também tenham essa característica.

4 – Não fique só nas descrições. 

Todo autor experiente sabe que dar uma "ideia viva" de uma história aos leitores é muito mais interessante do que descrevê-la de cabo a rabo. 

Por exemplo: em vez de usar "Em uma noite fria e tempestuosa..." para dizer que estava chovendo, você pode descrever o som da chuva no telhado, o barulho dos limpadores de para-brisa do carro, a luz dos relâmpagos no horizonte e assim por diante.

Use detalhes específicos para ilustrar a mensagem que você quer passar. 

Por exemplo: em vez de dizer que um personagem está triste, mostre-o chorando e se isolando no quarto.

Deixe o leitor juntar as peças do quebra-cabeça por conta própria para ter reações mais genuínas à história.

Seja específico e faça descrições concretas. Não diga nada muito abstrato ou intangível, e sim coisas que o leitor consiga ver, ouvir, tocar e sentir.

Fonte> https://pt.wikihow.com/Escrever-Histórias-Engraçadas

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

A. A. de Assis (Jardim de Trovas) 41

 

Antonio Brás Constante (Comprador com ênfase na dor)

Ninguém está livre de embaraços, justamente porque os embaraços ocorrem em momentos inesperados e nos pegam desprevenidos, deixando qualquer um com as calças na mão, mesmo que esteja de bermuda, saia ou pelado. Aconteceu algo assim comigo há algum tempo atrás (anos, meses ou dias, o que importa?), quando meu filho me perguntou se a palavra “comprador” era oxítona, paroxítona ou proparoxítona, ou seja, nada muito grave, a não ser pelo fato de que mesmo tentando acordar os neurônios que ainda achava que tinha mantido da época deste tipo de aprendizagem, não encontrei nenhum.

Forcei o cérebro tentando buscar algum tipo de lembrança daquele período, mas tudo que me vinha na cabeça eram os horários dos intervalos na cantina da escola e as festas nos finais de semana. Comecei a ficar preocupado, martelando de forma pausada a palavra em minha mente: “com-pra-dor”, “COM-PRA-DOR”.

Lembrei de algo sobre uma tal de sílaba tônica, que era forte o suficiente para comandar o resto da tropa textual das palavras, e que provavelmente tinha uma certa responsabilidade no hora de definir quem é quem entre aquele trio de irmãs “xitonas”.

No caso da palavra comprador, em um primeiro momento a dor parecia ser a silaba mais forte, algo totalmente plausível, já que a dor é realmente algo forte e capaz de subjugar qualquer um, seja ele um ser vivo ou sílaba.

A dor prevalecendo sobre a compra, a dor de comprar, ou melhor, a dor do comprador em se tornar vítima atroz de seu objeto de desejo. Veio a minha mente a frase: “cuidado com o que desejas”, por que juntar o ato de comprar com o sufixo de dor? (e neste caso a dor seria realmente um sufixo?). Por que somos seres tão frágeis ao ponto de sofrermos com nossos próprios desejos? E o que é pior, por que a malditas regras de português pareciam ter me abandonando?

Senti-me vencido, tanto pelo sentimento de ignorância de alguém que perdeu algo que sofreu para aprender e que possivelmente não aprendeu, quanto pelo fato de não ter a capacidade de manter em minha memória o fruto daquele aprendizado. Toda esta reflexão (a própria palavra “reflexão” já formava dúvidas em minha cabeça sobre sua formação ortográfica) acabou me deixando ainda mais confuso, confessei ao meu filho que não sabia a resposta correta para aquela pergunta, mas que iria procurar sobre o assunto, e procurei.

 Recorri ao meu professor virtual “Google”, de onde fiquei sabendo o que já suspeitava, comprador é uma oxítona, pois neste caso a vogal tônica está realmente na “dor”. Dúvida respondida, mas a insegurança permanece, até quando será possível guardar esta descoberta em minha mente? Por garantia anotei tudo em uma folha de papel e transformei neste texto, bem mais difícil de perder do que minhas recordações.

Acho que logo estas regras voltarão a se apagar de minha memória, dando lugar aos escândalos políticos do momento, aos novos hits musicais das rádios, as novas vitórias e derrotas da vida, e a novas perguntas sobre temas diversos, cujas respostas por algum motivo teimam em não querer ficar alojadas em minhas lembranças.

Célia Evaristo (Poemas Avulsos) - 1


A LAGARTA MARIA MARTA APRENDE A DANÇAR

A lagarta Maria Marta
gosta muito de dançar.
Mas é muito desajeitada,
passa o tempo a tropeçar.

Com tantas patas é difícil
o passo coordenar.
A lagartinha já pensa
este hábito alterar.

Coitadinha, até já chora,
nem consegue dormir.
Ter tantas patas é uma tormenta,
não se consegue divertir.

Maria Marta vai a uma aula
de danças de salão.
Mal começou a dançar:
que grande trambolhão!

Mas a Maria Marta não desiste,
é muito persistente.
Tem de haver uma solução
para dançar feliz e contente.

Devagar, devagarinho
lá se começa a ajeitar!
Muito cuidado com cada passinho
e já começa a dançar.

Cem aulas depois, que surpresa!
A Maria Marta já sabe dançar.
Já não chora, já não cai,
até já sabe rodopiar.

É importante não desistir
e nunca deixar de sonhar.
Assim fez a Maria Marta
que já aprendeu a dançar!
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FALA-ME…

Fala-me ao nascer do dia,
no primeiro raio de Sol.
Fala-me com o perfume das flores
e eu pintarei o arco-íris com outras cores.

Fala-me ao entardecer,
quando o céu encontra o mar.
Fala-me com o voar das andorinhas
e eu mandar-te-ei lembranças minhas.

Fala-me no silêncio da noite,
na tranquilidade da cidade.
Fala-me com um simples olhar
e eu deixar-me-ei por lá ficar.

Porque entre nós as palavras são escassas,
são os nossos gestos que falam por si.
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FALTA DE MIM

Não me sinto há muito,
desapareci,
voei.

Levei de bagagem de mão
o meu coração
e não prometi regressar.

Chorei,
gritei
e até à dor me dei,
sem me conseguir resignar.
O que sinto só eu sei,
não me quero enganar.

Por isso fui
e não voltei…
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MAIS

O teu coração nunca me amou,
o teu olhar nunca me encontrou.
E as vezes em que a tua pele a minha tocou,
foram vezes vazias, 
de ti nada ficou…

E eu queria receber mais, 
apenas uma réstia
do que sempre te dei.

As horas, os minutos e os segundos,
o tempo que te dediquei,
deitaste fora sem pensar
que me poderias magoar.

Dei-te o que nunca tive em troca,
porque quem ama
também espera ser amado.
Mas em vez de amor
recebi a dor 
de um ser abandonado.

E eu queria receber mais, 
apenas uma réstia
do que sempre te dei.

Os passos lentos que davas
quando eu corria
e caía nos teus braços.
Sorria-te,
ignoravas-me.

Pedia-te tempo,
dizias ter pressa.
E a cada momento
uma promessa.

E eu queria receber mais, 
apenas uma réstia
do que sempre te dei.

Nunca soubeste o que era o amor.
A vida, para ti, sempre foi fugaz,
intensa de coisas banais.
Nunca perdeste o teu tempo
para ser mais.
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NO SILÊNCIO DE UM OLHAR

É na distância de um primeiro olhar
que se dá o primeiro beijo,
tímido, 
desajeitado,
por vezes estranho
e outras delicado,
deixando um arrepio na pele,
sem que os lábios 
se tenham verdadeiramente tocado.

Palavras ditas no silêncio,
gestos sentidos sem tocar,
um misto de sentimentos
sentidos num simples olhar. 

Sem fronteiras,
outras barreiras,
sem obstáculos a transpor.
Apenas um coração aberto,
tão cheio de amor.

Por mais breve que seja um olhar
poderá prender, 
cativar,
poderá ser, 
estar,
querer,
sonhar.

Olha-me com atenção
e, no pleno silêncio das nossas vozes,
ouve o meu coração.
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O GATO BERNARDO

O gato Bernardo
mia, mia sem parar.
Quer apanhar uma estrela,
mas não sabe como a ela chegar.

Faz contas e mais contas,
calcula distâncias em vão.
Não sabe como chegar ao céu:
se a pé ou de avião.

Recomendei-lhe um foguetão
ou uma nave espacial.
O gato Bernardo está confuso
pois escolher não sabe qual!

A força da gravidade
está a deixá-lo preocupado.
Diz que já não tem idade
para andar pendurado.

Talvez peça a uma empresa
para lhe trazer o seu desejo.
Vai deixá-la no seu quarto
e com ela será um festejo.

A estrelinha vai-lhe contar
histórias para adormecer.
Serão os melhores amigos
até o Sol nascer!
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VOA COMIGO

Sou ave,
voo sem condição.
Sou leve como uma pena,
levo o mundo na minha mão.

Tenho asas para voar,
não aceitarei ficar presa
e que escape sempre ilesa
a um qualquer predador.

Vem, 
voa comigo, 
meu amor.

Mitos Indígenas (Coacyaba - o primeiro beija-flor)

Criação com IA Microsoft Bing
Os índios do Amazonas acreditam que as almas dos mortos transformam-se em borboletas. Por este motivo, elas voam de flor em flor, alimentando-se e fortalecendo-se com o mais puro néctar, para suportarem a longa viagem até o céu. 

Coacyaba, uma bondosa índia, ficara viúva muito cedo, passando a viver exclusivamente para fazer sua filhinha Guanamby feliz, todos os dias passeava com a menina pelas campinas de flores, entre pássaros e borboletas. Desta forma pretendia minimizar a falta que o esposo lhe fazia. Mesmo assim, angustiada, acabou por falecer, Guanamby ficou só e seu único consolo era visitar o túmulo da mãe, implorando que esta também a levasse para o céu. 

De tanta tristeza e solidão, a criança foi enfraquecendo cada vez mais e também morreu. Entretanto, sua alma não se tornou borboleta, ficando aprisionada dentro de uma flor próxima à sepultura da mãe, para com isto permanecer a seu lado. 

Enquanto isso, Coacyaba, em forma de borboleta, voava entre as flores, colhendo seu néctar. Ao aproximar-se da flor onde estava Guanamby, ouviu um choro triste, que logo reconheceu. Mas como frágil borboleta, não teria forças para libertar a filhinha. Pediu então ao Deus Tupã que fizesse dela um pássaro veloz e ágil, que pudesse levar a filha para o céu. 

Tupã atendeu ao seu pedido, transformando-a num beija-flor, podendo assim realizar o seu desejo. 

Desde então, quando morre uma criança índia órfão de mãe, sua alma permanece aguardada dentro de uma flor, esperando que a mãe, em forma de beija-flor, venha buscá-la, para juntas voarem ao céu, onde estarão eternamente.

Fonte> Adaptação do Texto de Jayhr Gael in O Caminho de Wicca - http://www.caminhodewicca.com.br (desativado). acesso em 13/10/2023.

Dicas de Escrita (Como Escrever Histórias Engraçadas) – 1

(por Christopher Taylor, PhD)

O humor é parte essencial do dia a dia, já que ajuda a aliviar situações tensas, diminuir o estresse e a tristeza e criar laços afetivos entre as pessoas. Se você é bem humorado e gosta de escrever, pode combinar esses dois talentos em um só. Escrever histórias engraçadas não é tão difícil; por isso, coloque a mão na massa e dê vida à sua criatividade com as dicas deste artigo.

PLANEJANDO A HISTÓRIA

1 – Identifique o seu estilo de humor. 

Antes de começar a contar a história, determine qual é o seu estilo pessoal de humor. Se você tentar escrever um estilo diferente do seu, o enredo já vai começar fraco. Veja uma lista de alguns estilos diferentes:

humor observacional: trata de situações engraçadas do dia a dia, além de tirar sarro das pessoas para arrancar risadas.

humor de anedota: conta histórias pessoais engraçadas, que podem ser um pouco exageradas para provocar o riso.

burlesco: envolve a produção de caricaturas e imitação, muitas vezes com características exageradas.

humor negro: usa a morte e outros tipos de eventos traumáticos de um ponto de vista pessimista (mas cômico).

deadpan (ou humor seco): usa a falta de emoção ou expressão para gerar um efeito cômico.

farsa: usa esquetes ou sátiras com circunstâncias bastante improváveis, com reações exageradas ou movimentos frenéticos.

comédia pura: envolve assuntos ou temas inteligentes e intelectuais.

humor hiperbólico: usa o excesso e o exagero das situações para gerar o efeito cômico.

 – humor irônico: desvia da realidade ou trata de situações em que o público sabe mais do que os personagens sobre o que está acontecendo.

sátira: explora os pontos fracos e defeitos de uma pessoa ou da sociedade com efeito cômico.

humor autodepreciativo: traz personagens (ou até autores) que tiram sarro de si mesmos.

comédia de situação: traz elementos da farsa, do slapstick e afins para tirar sarro das situações do cotidiano.

slapstick: envolve o chamado "humor físico", no qual os personagens são vítimas de violência (acidental) do mundo à sua volta.

2 – Decida do que a história vai tratar. 

Antes de escrever uma história engraçada, você tem que ter uma ideia do enredo que ela vai trazer. Não basta pensar em piadas ou situações cômicas; a história em si tem que ter uma boa estrutura básica para dar base aos elementos de humor.

Faça um brainstorming de ideias. Se você ficar com algum bloqueio criativo, veja filmes de comédia ou leia histórias engraçadas para se inspirar.

Escreva sobre situações estranhas ou engraçadas que você já viveu, sem se preocupar em deixá-las cômicas por enquanto. Basta descrever as suas lembranças dessas experiências e por que as achou engraçadas.

Ambiente a história em um cenário vívido e que o público consiga imaginar. As pessoas vão entender melhor o seu tipo de humor se conseguirem visualizar onde o enredo acontece. O lugar em si não tem que ser engraçado (embora possa ser), mas pelo menos precisa fazer sentido para os personagens e a narrativa.

Pense na mensagem que você quer passar com a história. Qual vai ser o principal ponto do enredo? Os personagens têm que superar alguma adversidade? É um comentário crítico sobre a sociedade moderna?

3 – Crie um conflito ou motivo de tensão. 

O ideal é que esse conflito e a sua resolução ilustrem algum aspecto da natureza humana. Depois de criar o problema central, explique aos leitores o que está em jogo e o que vai acontecer se os personagens não resolverem a situação. 

O público vai se interessar mais pelos eventos da história se houver algum elemento do tipo. 

O conflito da história tem que criar tensão. Como ela é engraçada, a tensão em si já pode ser cômica, assim como as circunstâncias que a cercam (como essa tensão surge, como aumenta e como chega ao fim). Ademais, pense em uma maneira cômica de resolver a situação final.

Toda boa história precisa de conflitos e consequências reais para os personagens, sejam eles engraçados ou trágicos (mas ainda realistas). 

Pense na ação em ascensão, no clímax e na ação em queda. O clímax é o ponto máximo da tensão, enquanto as ações de ascensão e queda criam e resolvem a tensão, respectivamente.

Por exemplo: no filme Minha Mãe é uma Peça, o conflito acontece quando a dona Hermínia, interpretada por Paulo Gustavo, "foge" dos filhos para ensinar a eles uma lição. A tensão surge a partir dessa situação, mas se resolve no fim das contas.

4 – Escolha um ponto de vista. 

Para escolher o ponto de vista, você tem que decidir quem é o melhor personagem para contar a história e como ela vai ser contada. As principais opções são a primeira, a segunda e a terceira pessoas. Não existe uma "escolha certa", já que tudo depende do que o autor acha que mais dá certo para o enredo.

– Primeira pessoa: quando um personagem de dentro da história a conta pela sua perspectiva própria. É uma forma subjetiva de encarar o enredo, já que o narrador costuma ser o protagonista ou um personagem secundário.

– Segunda pessoa: quando a história é contada diretamente ao leitor, pelo pronome "você", sem interferência em primeira pessoa. O leitor se imagina como parte do enredo. Veja: "Você o segue pela casa e fica surpreso com o que vê".

– Terceira pessoa onisciente: quando um narrador onisciente (que vê e sabe de tudo) conta a história, sem usar pronomes como "eu" ou se referir ao leitor como "você". Nesse caso, o leitor entende os eventos, os pensamentos e as motivações de cada personagem.

– Terceira pessoa limitada: o narrador tem o mesmo estilo do onisciente, mas parte de uma perspectiva limitada dos eventos da história. A narrativa acompanha o protagonista e mostra o mundo da forma como ele o vê.

5 – Crie situações engraçadas. 

Pense em um incidente inicial engraçado e, depois, crie o resto do enredo a partir dessa ideia. As situações mais incomuns e curiosas costumam gerar ótimas histórias de humor. Se preferir, você pode recorrer a alguma situação mais clássica do gênero, como o personagem estar no lugar errado na hora errada, ser confundido com outra pessoa etc.

Digamos que a sua história fala de um homem que é convidado para almoçar e aparece no restaurante de camiseta regata, bermuda e chinelo. Contudo, o restaurante é elegante demais e tem um código de vestimenta mais restrito para os clientes. Por mais que a situação em si não pareça engraçada, pode gerar boas ideias de humor porque mexe com as expectativas do leitor. Nesse caso, ao contrastar o restaurante chique com a roupa simples do homem, você pode criar cenas em que o público tenha empatia pelo personagem.

6 – Crie personagens engraçados. 

Toda história, incluindo as engraçadas, precisa de bons personagens. Embora seja difícil, não é impossível criar pessoas interessantes e cômicas. Dê traços únicos a cada uma, seja por causa da aparência, do comportamento ou das situações em que ela se encontra.

Existem vários traços de personalidade que geram humor. Os personagens podem ser sarcásticos, bobos, observadores etc.

Os Trapalhões traz um ótimo exemplo de personagens engraçados. Apesar de muitas piadas serem datadas e ofensivas hoje em dia, eles usavam bastante o slapstick — aquele tipo de humor baseado em elementos físicos, nas personalidades, nas reações das pessoas às situações etc.

Crie o humor de cada personagem de acordo com as personalidades e seja consistente.

Você não precisa pensar em toda a história do personagem por enquanto. Deixe para fazer isso na hora de escrever o enredo em si e, de início, concentre-se em formar uma imagem clara de como cada personagem age e qual é a sua aparência.

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Arthur Thomaz (Devaneios) – 3 -


 

Geraldo Pereira (A Agonia de um Recanto)

 
Aqui, nestas distâncias praieiras, recanto dos meus devaneios e canto dos meus encantos, onde tenho podido partilhar muito dos meus amores e dividir o pouco das minhas dores, tudo está diferente. Quase não posso mais ensaiar as fantasias paridas de meu imaginário, farto e forte, confesso, desde a mais tenra das minhas idades ou quase não posso mais entoar o cântico dos meus ardores, sinfonia d’alma ou melodia dos espíritos saciados com a beleza da vida, plenos com a existência terrena.

Tiraram a paz do lugar e mexeram com o bucólico dos ares, promoveram assim a metamorfose desadorada do simplesmente urbano, trazendo a civilização para este misto de mar e campo. Os coqueiros de Pau Amarelo agora sucumbem à força do fogo que devasta e deixaram de dar adeus com as palhas balouçando ao vento às ondas do mar, curvam-se, na verdade, em estalidos mais do que sonoros, despedindo-se do oceano enorme. E até as areias cálidas, tão livres antes, permissivas até com os amantes em flor, atores importantes dos espetáculos dos inícios, encheram-se de gente, daqui e dalhures, tomando jeito de praia grande e buliçosa.

As entradas de estrada batida, dos lados contrários ao do mar, que levavam às matas de cajus, cruzadas tantas vezes pelos pequeninos cursos d’água, verdadeiros maceiós, abriram-se e desfolharam-se. Há dezenas de novos conjuntos habitacionais para o atendimento da classe média, uns em ofertas e outros não, mas sedutores todos e a população flutuante de veranistas forasteiros há aumentar, certamente. Desapareceram, todavia, tangidos pela febre da civilização, os saguis das frondosas árvores e com eles o bailado vespertino do enlevo da natureza, de galho em galho saltitantes. Que pena! E aquele galo-de-campina, o último daquelas paragens mistas – mar e campo –, mas místicas e míticas também. Para onde foi? Antes tivesse se achegado à minha janela, onde cantava, mesmo que à distância, as loas do alvorecer e pedido para abrir a porta do alçapão dos meus desejos! Pior o timbu – um gambá macho, imagino, habituado a me fitar à noite, acomodado num arbusto de casa, tão fixamente que dava medo encarar! Sumiu simplesmente, foi buscar guarida noutras bandas!

Nem o calango, verde quando convinha, invasor da sala e terror das meninas, filhas minhas, sem os hábitos dessas interveniências silvestres, apareceu mais! Restam por lá umas rãs, em tudo muito espantadas, nada mais! Proliferaram, entretanto, os pernilongos, cantores macabros de todas as árias da funesta ópera!

Hoje, o movimento dos carros na pista principal lembra aquele das metrópoles e das megalópoles. Anda-se voando quase, sem o respeito necessário aos transeuntes, nativos do lugar muitos, os quais, de quando em vez, sucumbem atropelados. Não entendem bem porque morrem assim, num lugar agitado, dantes tão pacato, tão calmo! Mas morrem! Passear de automóvel, como antigamente, em marcha vagarosa, admirando o coqueiral e vendo os animais pastando, no pachorrento jeito dos cavalos e dos bois, fiando conversa com a patroa, reavendo afetos e afagos, nunca mais! Os outros ficam buzinando às costas, têm pressa parece, sempre! É correr também feito um desadorado da vida, descortinando visões dantescas, como a de um avião que fizeram aterrissar por lá, virado em bar, no momento! Ninguém sabe as razões dessa empreitada, de um velho DC3, merecedor de um lugar condigno no museu dos ares, exposto dessa forma às inclemências do tempo. Ninguém sabe, sequer, como chegou por lá, se puxado a cavalo ou voando nas asas do passado! Em Maria Farinha, fim de linha dos meus passeios, ambiência de carícias postergadas durante o ano, é impossível ver o rio. Um muro enorme num aterro grande, às margens do Timbó, cobriu, com os tijolos do nada, o tudo das águas, doces e tranquilas.

Havia uma marina no Timbó, há duas marinas agora e por certo outras marinas virão! Só não se pode ver uma Marina qualquer se banhando na largueza das águas e trazendo a magia que encantou o poeta no rio das capivaras, num alumbramento em tarde morna, na Várzea do Capibaribe.

Fonte> Geraldo Pereira. Fragmentos do meu tempo. Recife/PE. Disponível no Portal de Domínio Público