domingo, 8 de abril de 2012

Henrique Bonamigo (A Melodia da Felicidade)


O autor é de Três de Maio / RS

Ao passar pela varanda da velha casa de madeira senti uma daquelas emoções que causam a um só tempo surpresa e enternecimento. Uma jovem rodopiava e cantarolava em volta de uma mesa onde um toca-discos rodava uma música que havia sido para mim sinônimo de alegria e encanto. A garota girava com tanta graça e simpatia que me fez lembrar a protagonista do filme “A noviça rebelde” nos Alpes austríacos, cenas semelhantes, estórias diferentes mas em ambas a música estava presente como coadjuvante ou como protagonista na composição do enredo.

Parei ao lado da área e senti o coração acelerar quando a voz doce e maviosa da cantora Giane entoava o inesquecível estribilho:

"Dominique, nique, nique
Sempre alegre esperando alguém que possa amar...
O seu príncipe encantado seu eterno namorado
Que não cansa de esperar."

- Desculpe-me não pude resistir, está música encantou a minha vida num passado distante...

A jovem baixou o volume e aproximou-se do lugar onde eu me encontrava.

- Outras pessoas ao passarem por aqui já me disseram coisas semelhantes, o fato é que parece que Dominique cativou muita gente no passado.

- Minha mãe cantarolava está música enquanto trabalhava e a noite utilizava a melodia como sonífero para seus pequenos...

- É verdade?!

- É uma emoção muito forte, vejo-me naqueles lugares onde vivi a alegria e a felicidade dos dias da minha infância, impressiona-me a magia que há nesta música capaz de evocar vivências e trazê-las ao presente de forma tão real... É bom demais!

- A estória da melodia tem algumas notas de tristeza...

- É verdade, a criadora da melodia que ficou conhecida como “Irmã sorriso”, parece que não teve muita sorte em sua trajetória...

- De qualquer maneira Dominique é uma música que fascina... creio que por passar uma gostosa sensação de simplicidade e pureza.

- Simplicidade e pureza... parecem qualidades banais, fáceis de serem encontradas, mas é engano, basta escutar os “sons” de hoje para perceber isto.

Enquanto nos apresentáva-mos um ao outro, os acordes de Dominique inebriavam o meu coração com generosas porções de pura felicidade, de sensações que só havia sentido naquele tempo em que passávamos os dias embalando sonhos infantis e adolescentes sob o ritmo da música que hoje vou chamar de “A melodia da felicidade” pelo que ela representou em minha vida.

Despedi-me de Sanda com a certeza de que havia feito uma bela amizade. “Leve Dominique com você” disse-me ela antes do “tchau”. Depois de alguns passos, virei-me para acenar para ela e ouvir um pouco mais de Dominique...

Uma lágrima caída a rolar dos olhos seus...

Duas lágrimas caídas a rolar dos olhos meus levaram-me até os lábios o sabor amargo e doce de uma emoção impossível de ser descrita.

Fonte:
Câmara Brasileira de Jovens Escritores. "Contos Fantásticos" - Edição Especial 2012 - Fevereiro de 2012

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