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terça-feira, 10 de julho de 2012

Olivaldo Junior (Quando não se tem mais nada a dizer)

Seria tão bom se eu me calasse e nunca mais incomodasse a quem me odeia. No entanto, enquanto o canto rodeia, rompo a cadeia em que me pus, ou me puseram, não sei, há muito tempo na Terra. A terra tem um cheiro tão doce quando a chuva chega e se impõe sobre ela, molhando a dureza, o chão. Faz tempo que eu não molho a dureza do meu sertão. Faltam-me lágrimas, não? Sim, faltam-me gotas de orvalho íntimo, coração.

A beleza, quando não se tem nada a dizer, fala por mim. O difícil mesmo é ser belo, é ser mais que o cerebelo, atingindo, em cheio, o irmão alheio, à mercê do nada. Nada é mais triste do que não se ter nada a dizer. A partir do nada, nenhuma estrada, nenhum tijolo pode ser posto. Vide o desgosto. A carência tem cara de quem não tem nada a ser dito. Quanto vale um coração bonito? Coração não é só feito de sangue e músculo, cadência e força. Coração tem flama na alma de quem o tem. Tenho tanta pena no coração que vou virar um passarinho. Mas não choro, não... Faltam-me as lágrimas.

Quando não se tem mais nada a dizer, fala-se do tempo, de onde, quando, como e por que vai fazer sol, se é que vai fazer. Fazer falta é dizer ao próximo que você vale a pena. Pena que as palavras não dizem tudo. Tudo o que eu tinha a dizer me faz ficar quieto. Cala-te, boca... Boca não serve quando fala demais. Mas é vício de quem pode falar falar pelos cotovelos. Vê-los tão quietos me faz suspirar e pensar no quanto me esquecem. Prece não é só com palavras. Sai de mim a minha essência e percorre o espaço: é você? Se você sabe quem eu sou, por que não me diz nada? Sua ausência é vã.

Vamos andar um pouco, viver um pouco, que a vida é breve, leve como um pássaro no azul. Azul é minha sina, não vivo sem ele. Amigo, quanto azul, no verde dos olhos a quem sobra esperança. Cansa um pouquinho, para um bocado, mas vai. Quando não se tem aonde chegar, chega-se assim mesmo. Queria tanto chorar, quem sabe, passava. Mas passo e lhe peço que se lembre de mim. Enfim, há milágrimas no paraíso.

Moji Guaçu, SP, dez de julho de 2012.

Fonte:
O Autor

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Olivaldo Junior (Último Adeus)


Eu, que não custo a voltar atrás, volto atrás e digo agora meu último adeus. Mas antes, não minto, queria ter seus olhos frente a mim, suas horas ora sim, não adeus. Adeus não combina quando há Deus. Deus, que me pega e me bota no colo quando choro (e faz tempo que não verto nem muitas nem poucas lágrimas por nada). Nem nada que eu lhe digo, nem tudo que lhe conto o fazem vir. Escrevo, e me escavo ao saber.

Saber que me ignora é como ver que não fui visto, não de perto. Perto de mim, longe de mim, não há problema: surge sempre um verso, e nasce mais um tema. A vida é feita de versos, não de universos. Sonho com sua vinda, mas é longe, é tarde, é noite. Entre as músicas, nem sinal de “ocê”, um dia, regressar. Rua acima, rua abaixo, prendo-me a velhos sonhos, sonho alto e me esborracho; esmagando a “flor”, não sinto dor.

Dói-me quando escrevo essas mensagens. Ajo sem saber que me delato. Lato e nunca escuta meu ganido. Outra vez sucumbo à dor. Estrelas dormem. Eu não durmo: apenas sonho. Sonho com sua volta, com sua voz, com seu silêncio. Escreve. Adeus.

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Olivaldo Junior (Adeus)




A um velho amigo 

Palavra que eu não queria mais nunca escrever é a palavra adeus. Muitas vezes, sinto que me dizem essas letras de outra forma, sem que eu sinta que estão sendo ditas. Adeus tem cinco letras, mas saudade tem sete. A saudade sempre ganha do adeus. Pode voar bem longe, posso voar bem mais. Mas saudade sempre ganhará dos adeuses. Nas asas de cinco estrofes, no canto de versos limpos, adeus tem um jeito de passarinho que sabe voltar. Quando quer.

Todo adeus começa assim:
com seu “a” de adoração,
diz ao mundo que o seu fim
não termina em solidão.

Com seu “d”, o adeus delata
que os dizeres da poesia
são promessa ao que nos ata
pelos prós que contraria.

Com seu “e”, que estrago faz!
Entre os erros que espalharam,
murcha um pouco e se desfaz,
dando adeus aos que estacaram.

Um adeus tem sempre um “u”.
Essa letra é quase um lenço,
quase um velho e triste “blue”,
doce azul, que não dispenso.

Sobre o adeus, a letra “s”
tem segredos que não diz:
cada verso é minha prece
contra o tempo mais feliz.

Fonte:
O Autor

terça-feira, 5 de junho de 2012

Olivaldo Junior (Saudades)



Tenho saudade. Saudade das estrelas que eu contava no seu rosto, das estradas que eu contava no seu passo, dos passeios que eu fazia nos meus sonhos. Sonhar é bom até que chegue a solidão, que também se chama amor. Amor é uma bela poesia que não foi escrita. Poema é amor consumido, sumido em si mesmo. O amor que eu tinha me estafa. Um dia o amor me mata e eu viro flor: saudade sua. 

Olivaldo 

Trovas 
Saudade

A saudade é um velho jeito
de entender meu coração:
quando bate em tom perfeito
não tem som: tem solidão.

A saudade é um chinelinho
que se arrasta na memória,
despertando o meu vizinho
para ouvir a minha história.

A saudade é um pé de cravo
num jardim que já morreu:
jardineiro é mesmo escravo
das "roseiras" que perdeu.

Fonte:
O Autor

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Cícero Alvernaz /SP (Noite Pequena)


Esta noite tão pequena
Para mim se fez mui grande:
Fugiu de mim o meu sono,
Fiquei só, no abandono.

Fiquei roendo ideias,
O amor foi remoendo,
Lá fora o galo cantava
E a lua no céu brilhava.

Eu virava para o canto
Tentando assim dormir.
Eu pensava em um verso,
Que fosse lindo, diverso...

Esta noite tão pequena
Para mim se fez mui grande:
Eu não dormi quase nada
Até alta madrugada.

Eu pensei em tanta coisa
Até cantei e dancei.
Me vi sozinho no escuro
Pulando um alto muro...

Quando a noite enfim passou
E o sol no céu despontava,
Fui achado pelo sono
Perdido, triste e sem dono.

Então dormi como um anjo.
Será que os anjos dormem?
Depois, porém, levantei
E estes versos rabisquei.

Fonte:
http://caeseubt.blogspot.com.br/