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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Orlando Woczikosky (Outros Versos)


ALEGRIA BRASILEIRA
Mulata, linda mulata,
Você é um raro tesouro:
- Se outras têm brilho de prata,
Você brilha mais do que ouro.
.
Mulata, mulata linda,
Você é flor maravilhosa:
- Você é mil vezes, ainda,
Mais linda que a própria rosa.
.
Eu gosto da cor mulata
Da mulata brasileira,
Da mistura de ouro e prata
Dessa mulata faceira.
.
Quando vejo no terreiro
A mulata requebrando,
Meu coração brasileiro
Por ela bate sambando.
.
Nossa mulata querida
No samba não tem rival:
- Se há mulata na Avenida,
Tem mais vida o carnaval.
.
Salve, salve essa mulata,
Essa mulata matreira,
Que em seus requebros retrata
A alegria brasileira.
.
VÍCIO
.
O vício é mais uma das desgraças que se somam ao infortúnio dos miseráveis.
.
CIGARRO II
.
Fumar, pra fazer fumaça,
quem o faz é quase louco:
– Quem assim a vida passa,
gasta muito e vive pouco.
.
Cigarro é um troço gozado,
gozado pra mais da conta,
por ter fogo numa ponta
e um imbecil do outro lado.
.
Quem tem seu cigarro fuma,
quem não tem cheira fumaça
e eu não vi pessoa alguma
ser feliz com essa desgraça.
.
Disse o cigarro ao fumante:
– Eu sei que você me adora,
que me acende a todo instante,
mas o apago a qualquer hora.
.
Eu não sou contra quem fuma,
nem dou conselho de graça,
porque não há lei nenhuma
que proíba quem o faça.
.
Quem diz que fumar distrai,
vive apenas de ilusão:
– quem assim vivendo vai,
contrai câncer de pulmão.
.
MAL MENOR
.
Fiz tudo para ela, antigamente,
Fiz tudo pra lhe dar felicidade,
Mas ela, por repúdio, por maldade,
Fazia-me sofrer, amargamente.
.
E agora que por ela, simplesmente,
não sinto nem a falta de amizade,
Ela diz de mim sente saudade,
Pedindo-me que volte, novamente.
.
Não fui e não serei, também, ingrato,
Não volto, simplesmente, pelo fato
De ter medo querê-la mais que a quis,
.
Quando a doença não nos rouba a vida,
O melhor é evitar-se a recaída,
Cortando, assim, o mal pela raiz.

Orlando Woczikosky



Entrevista realizada pela Revista “Falando de Trovas e de Trovadores” , do Portal CEN,  pelo trovador delegado de Pinhalão/PR,  Lairton Trovão de Andrade.

 O grande poeta e trovador Orlando Woczikosky, Príncipe dos Trovadores do Paraná, o único remanescente vivo dos fundadores da UBT-Paraná (União Brasileira de Trovadores do Paraná), e por sua vasta obra trovadoresca, faz-lhe homenagem com o título singular de “O Mais Ilustre Membro da UBT-Paraná da Atualidade”.

Lairton: Qual o seu nome completo? Onde e quando nasceu? Reside em que cidade?

Orlando: Meu nome completo é Orlando Woczikosky. Nasci no bairro Xaxim, em Curitiba, a 08 de maio de 1927, onde resido.

Lairton: Voltando aos tempos da adolescência, como era a sua cidade natal?

Orlando: Curitiba era pequena, com 110 mil habitantes.

 Lairton: Qual a sua formação profissional?

Orlando: Ginásio Industrial e Técnico Industrial, pela Escola Técnica de Curitiba; Faculdade de Educação da Universidade Federal do Paraná; C.P.O.R. de Curitiba; etc..

Lairton: O Senhor foi, com certeza, um professor bem sucedido, hoje merecidamente aposentado. Em que estabelecimentos de ensino lecionou e que boas lembranças tem das suas atividades docentes?

Orlando: Minha principal atividade foi lecionar Desenho no Senai de Curitiba, por mais de 30 anos. Na Escola Técnica de Comércio de Plácido e Silva, lecionei Desenho e Caligrafia. No Colégio Parthenon, lecionei Desenho e Educação Artística. No Ministério do trabalho, lecionei Leitura e Interpretação de Desenho no Curso de Segurança do Trabalho.

Lairton: Sabemos que é poeta e trovador de méritos inquestionáveis. Como foi seu início na arte de fazer trovas?

Orlando: Minha mãe ao se casar ficou morando com meus avós maternos, onde nasci. Minha avó, Carolina Krumann, gostava muito de quadras populares, declamando-as e me ensinando a declamá-las, nos meus primeiros anos, antes de nos mudar da casa dela.

Quando tive os primeiros contactos com a poesia, principalmente as de versos setissilábicos, notei a grande facilidade em compor meus primeiros versos, mesmo desconhecendo as regras da metrificação.

Em 06 de junho de 1948, escalando o Pico do Marumbi, na Serra do Mar, diante de tal beleza, escrevi a minha primeira poesia de algum valor: Marumbi. Dias depois, mostrando essa poesia ao meu professor de Português, Rosário Farani Mansur Guérios, quando ele me perguntou se eu havia estudado metrificação, respondi-lhe que nunca ouvi falar em metrificação. Ele, veementemente, me disse: “Ou você é mentiroso, ou nasceu Poeta!” Mandou-me procurar o livro Tratado de Versificação, de Olavo Bilac e Guimarães Passos, por meio do qual aprendi outros metros da poesia acadêmica.

Diante do que me disse o saudoso Professor Mansur Guérios, eu deduzi que não era mentiroso nem nasci poeta, escrevi pela cadência dos versos que aprendi com as quadrinhas ensinadas pela minha avó e que ficaram no meu subconsciente.

Após me casar, deixei de escrever por catorze anos.

Numa festa de fim de ano, meu colega de escola e de caçadas na Serra do Mar, o Professor Oswaldo Ormianin, a quem eu havia declamado muitas das minhas poesias do passado, solicitado a falar, declinou do convite, indicando-me para, em vez de discurso, declamar o “Marumbi”.

Para não decepcioná-lo, o fiz, para espanto de todos que não me sabiam poeta. O Diretor Regional do Senai do Paraná, Dr. Antonio Theolindo Trevizan, incumbiu o Professor Aluízio Plombon, Diretor da Escola de Curitiba, a me solicitar todas as minhas poesias para publicar um livro pelo Senai.

Como eu não escrevia há muito tempo, mas sabia muitas, ainda de cor, fui obrigado a escrever novas poesias, que foram enfeixadas no meu primeiro livro, “Crepúsculo da Minha Aurora”.

Nessa época, apresentado ao Escritor Vasco José Taborda Ribas, pelo seu primo, Dr. Apollo Taborda França, que fora meu colega na Escola Técnica e no C.P.O.R. de Curitiba, o Vasco me convidou para sócio do Grêmio Brasileiro de Trovadores, quando tive os primeiros contactos com a arte de trovar.

Lairton: Suas inspirações poéticas o levaram a escrever mais poesias ou trovas?

Orlando: No ínicio, escrevia só poesias, atualmente, com os movimentos trovadorescos surgidos no Brasil, tenho me dedicado mais às trovas.

Lairton: Muitos trovadores têm preferência sobre determinados temas. Alguns falam mais do amor; outros, do sofrimento; outros preferem motivos religiosos... E o Senhor? Qual foi o tema que mais o levou a trovar?

Orlando: Eu sempre fui saudosista, mas aconteceu um fato curioso na minha vida: Minha filha, com nove anos, na época, ouviu na Rádio Clube Paranaense, a instituição de um concurso de trovas de saudade e me pediu que participasse. Escrevi e enviei algumas trovas, despretensiosamente. Minha filha ouviu, no programa seguinte, que eu havia sido contemplado com vários gêneros alimentícios, oferecidos pelo patrocinador do programa. Quis recusar em receber tais prêmios, mas minha filha argumentou que seria indelicado não recebê-los, então eu fui. Ao receber os prêmios, o Dr. Ubiratã Lustosa, apresentador do programa de saudade e Diretor Superintendente da PRB2, Rádio Clube Paranaense, perguntou-me o nome do livro que eu havia copiado tais trovas, dizendo que conhecia a maior parte das melhores trovas de saudade do Brasil e de Portugal e nunca teria ouvido nenhuma das enviadas por mim. Ao lhe afirmar que eu mesmo as escrevi, ele me pediu que continuasse a colaborar, enviando trovas de saudade, ao que concordei em enviá-las, com a condição de não mais como concorrente, mas como mero colaborador. Tempo depois, o Dr. Ubiratã me chamou, perguntando-me quantas trovas eu já havia enviado ao seu programa. Disse-lhe que mais de duzentas. Sugeriu-me que as publicasse em livros de 100 (cem) trovas, como estavam fazendo no Rio de Janeiro, por muitos trovadores. Então, publiquei uma série de livros de trovas alternando-os em saudade e não saudade. Eis aí o porquê de escrever tantas trovas de saudade e continuar a escrevê-las ainda, embora há vinte e cinco anos não tenha mais publicado livros. O Dr. Ubiratã Lustosa, já aposentado, continua, ainda, apresentando o programa “Revivendo”, na Rádio Educativa AM 630, todos os domingos, das sete às oito horas da manhã, quando declama três trovas minhas, de saudade.

Lairton: Pelo visto, o gosto pela trova é universal. Em sua opinião, o que faz com que a trova seja tão fascinante?

Orlando: Na minha opinião, o que faz com que a trova seja tão fascinante é a sua versatilidade. A trova, pelo seu poder de sintetizar, presta-se, como nenhuma outra forma poética, para exaltar qualquer acontecimento, tais como aniversário, nascimento, formatura, pessoas, falecimento etc.. Um dos melhores exemplos do que afirmo é a “Missa em Trovas”, do grande trovador Antonio Augusto de Assis, nascido em São Fidélis, no Estado do Rio de Janeiro, residente na cidade de Maringá, no Estado do Paraná, onde, com sua brilhante inteligência, enaltece aquela cidade.

Lairton: A UBT - Paraná foi fundada numa época de grande efervescência trovadoresca, e o Senhor é um dos seus fundadores. Cite-nos os outros trovadores que participaram da fundação da UBT- Paraná.

Orlando: A União Brasileira de Trovadores, no Estado do Paraná, foi fundada a 10 de setembro de 1966, com a presença da Embaixatriz da Trova, Magdalena Léia, do Rio de Janeiro. Fomos seus fundadores: Vasco José Taborda Ribas, Vera Vargas, Orlando Woczikosky, Ermírio Barreto Coutinho da Silveira, José Augusto Gumy e Oswaldo Portugal Lobato, dos quais, somente eu ainda vivo.

Lairton: O grande valor de uma instituição encontra-se nas suas finalidades. Quando da sua fundação, quais os objetivos da UBT – Paraná?

Orlando: Um dos principais objetivos da fundação da nossa UBT é cultuar e divulgar a trova, bem como promover e formar novos trovadores, o que se comprova pelo grande número de novos trovadores nas escolas e nas cidades do Paraná.

Lairton: Pelos memoráveis anos de duração da UBT- Paraná, sem dúvida, a Entidade obteve sucessos. Que sucessos foram esses?

Orlando: Um dos maiores sucessos, como disse na resposta anterior, foi o grande número de novos trovadores, de novas seções e novas delegacias. Outros grandes sucessos foram os vários concursos, os jogos florais, em várias cidades, como por exemplo, os Jogos Florais de Curitiba, que neste ano realizou a XIV festa dos seus Jogos Florais.

Lairton: O seu primeiro livro editado de poesia tem o título de “Crepúsculo da Minha Aurora”. Onde encontrou inspiração para este título de excelente sugestão poética?

Orlando: Foi numa tarde, quando vi um maravilhoso pôr-do-sol, aliei esse quadro ao alvorecer e formei essa antítese para nominar o meu primeiro livro.

Lairton: O seu repertório trovadoresco é extenso e consistente. Quantos livros de trovas editou? Pretende editar outros?

Orlando: Dez livros de trovas somente minhas e duas Antologias de Trovadores do Paraná. Uma com 10 trovadores e 100 (cem) trovas e outra, com 25 trovadores com 250 (duzentas e cinqüenta) trovas, ambas em colaboração com o meu grande amigo, o Professor Vasco José Taborda. Todos os meus livros foram editados nas oficinas de Artes Gráficas do Senai, quando eu só pagava as custas do material. Publicar novos livros, já não tenho o mesmo entusiasmo nem condições financeiras para novas publicações.

Lairton: Como se pode concluir, brilhante foi sua participação no mundo da Literatura. Seus poemas e trovas foram lidos por centenas e centenas de pessoas. Fazendo uma retrospectiva, valeu a pena ter sido poeta e, principalmente, trovador?

Orlando: Valeu plenamente, porque ser poeta e trovador, principalmente no fim da vida, é muito mais
gratificantes do que possuir qualquer outro título.

Lairton: Fale-nos a respeito da sua grande descoberta sobre “quem nasceu primeiro: O ovo ou a galinha”?

Orlando: O Vasco Taborda me fez aquela pergunta clássica: “Quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha?” Respondi-lhe de imediato: “Nenhum dos dois! Foi o galo!”

Eu deduzi que não descende o maior do menor e, como analogia, se Deus fez por primeiro o homem, certamente, fez por primeiro o galo.

Alguns dias depois, entreguei ao Vasco minha PROVA CONVINCENTE.

Gente sábia ou adivinha,
me responda bem ligeiro:
Quem foi que nasceu primeiro,
foi o ovo ou foi a galinha?

- Deixa comigo que eu falo:
Pela experiência minha,
não foi ovo nem galinha,
Deus fez por primeiro o galo.

Ao ver o galo sem tanga
botando no mundo a goela,
tirou dele uma costela
fazendo dela uma franga.

Depois de uma conversinha
e de uma boa “cantada”
que o galo deu na coitada,
a franga virou galinha.

Assim o casal distinto
caiu na boca do povo:
nascendo o primeiro ovo
e, do ovo, o primeiro pinto.

Esclareci num repente,
essa polêmica antiga.
Quem não gostou que me diga
se há prova mais convincente!

Lairton: Para finalizar, agradecemos ao Prof. Orlando a honra que nos proporcionou. Esta entrevista será divulgada, através do Portal CEN (Cá Estamos nós), para mais de 23.000 endereços eletrônicos de países do mundo que falam a Língua Portuguesa. O Portal CEN, cujo presidente é o grande escritor português Carlos Leite Ribeiro, representa eficiente ponte literária e cultural entre o Brasil e Portugal, prestando indescritível benefício à nossa Literatura. Diante disso, poderia dizer algumas palavras de apreço ao nosso querido PORTAL CEN?

Orlando:

Não tenho computador,
mas pelo valor que tem,
minha nota ao Portal CEN
é nota cem: Com louvor!

 

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A. A. de Assis (Poeminhas à moda de haicais) Parte 2, final

51.
Tão miudinha a avenca.
Ao lado um coqueiro enorme
súbito despenca.

52.
Fácil se define:
lá distante uma araponga
tine... tine... tine...

53.
Petit à petit,
pombinhos tecem seus ninhos.
Em Paris e aqui.

54.
Vós que, sobrevivos,
a mais que os demais amais,
uni-vos, uni-vos.

55.
Repicam os sinos.
Os mesmos de nós meninos,
na velha matriz.

56.
Colibri esvoaça.
Tem rosa nova, solteira,
no jardim da praça.

57.
Voa, voa, voa,
faz a cera, faz o mel,
abelhinha boa.

58.
Um cisco no chão.
Ah, não era cisco não.
Era uma esperança.

59.
Menino de rua.
Protege-o, Dindinha Lua,
dá-lhe colo, dá!

60.
Pião da saudade.
De uma era em que era franca
a felicidade.

61.
Um vaso de avenca.
Minimíssima floresta.
Mas é verde, é festa.

62
Chocados os ovos,
há o choque dos seres novos.
E a vida prossegue.

63.
Levantar cedinho.
Mens sana in corpore sano.
Ouvir passarinho.

64.
Curvam-se as roseiras.
Jogam as rosas, felizes,
beijos às raízes.

65.
Rola a Lua, rola.
Os mísseis zumbindo ao lado
e ela nem dá bola.

66.
De amor são seus uis.
As lágrimas que ela chora
devem ser azuis.

67.
Lua na montanha.
Me faz um favor, me faz:
sobe lá e apanha.

68.
Crianças na praça
cantando canções de roda.
Volta a paz à moda.

69.
Leio no jardim.
Idéias há e azaléias
em redor de mim.

70.
É um impasse e tanto:
trabalho, o canto atrapalho.
Nesse caso, canto.

71.
Olá, senhor Sol.
Bem-vindo ao nosso domingo.
Praia e futebol.

72.
Ah, havia o espaço.
Ave havia e havia ação.
Ave... avi...ão.

73.
Contam casos... súbito,
Negrinho do Pastoreio
passa bem no meio.

74.
Onda e sol... Floripa.
Tem lugar para mais a um.
Pega a prancha e... tchum!

75.
Trenzinho da serra...
Pa... Pa-ra-ná... Pa-ra-ná...
pra Paranaguá.

76.
De perder a voz.
Água, água, água, água.
Cataratas – Foz.

77.
Presépio do Sul.
Curitiba dos pinheiros
e da gralha azul.

78.
É chegar e amar.
Ri o Rio o ano inteiro.
Samba, sol e mar.

79.
Dim-dim-dão... dim-dão...
Os sinos de San-del-Rey
sempre em oração.

80
Bahia das festas.
De todos os sábios – tantos.
De todos os santos.

81
Aguinha de coco.
Areia, arara, caju.
Ah... é Aracaju.

82
Jangada ao luar.
Lagosta ao vinho depois.
Fortaleza a dois.

83.
Blem... Belém... blem-blem...
No Círio de Nazaré,
os sinos da fé.

84.
O tempo e a distância.
A festa de São Fidélis.
Transfusão de infância.

85
Armas e barões
muito além da Taprobana
ecoam Camões.

86.
Tela brasileira.
Um sabiá na palmeira
de Gonçalves Dias.

87.
Rosa, Rosa, Rosa,
ó Rosa das rosas ledas!
Dos sertões: veredas.

88.
Releio Pessoa.
Finjo tão completamente,
que a tristeza voa.

89.
Leoni, o poeta
da Petrópolis azul.
Alma azul. Raul.

90.
Luar no sertão.
Ah que falta faz Catulo
com seu violão!

91.
Bem-te-vi, Cecília,
nos ramos da madrugada.
Cantando, encantada.

92.
Mais do que Bandeira,
sobretudo Manuel.
Ou mais: man well.

93.
To you, tuiuiú.
Parabéns para você.
Happy bird are you.

94.
New York, New York,
make love, not work.
Ah, I love you!

95.
Passa a teoria
por debaixo do arco-íris.
Vira poesia.

96.
Pilhas de currículos.
Vencedor: o sabiá.
Sabia cantar.

97.
O sorriso é um dom.
Sorrindo você faz lindo
o seu lado bom.

98.
Aplainai as trilhas,
forrai-as de relva e flor.
Vai chegar o Amor.

99.
Brinquemos, irmãos.
Vamos dar as nossas mãos.
Brinquemos de paz.

100.
De braços abertos,
sobe o pinheiro. Subindo,
deixa o céu
m
a
i
s
l
i
n
d
o

Fonte:
A. A. de Assis. Poeminhas (à moda de haicais). Marinha Grande/Portugal: Biblioteca Virtual "Cá Estamos Nós". Outubro de 2004

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A. A. de Assis (Poeminhas à moda de haicais) Parte 1


01.
O haicai o que é?
Três passinhos de balé.
Leve, leve, leve.

02.
Repousa a lagoa.
Atira-lhe um beijo a Lua.
O poeta voa.

03.
Já não posso vê-la.
Some a gaivota no céu.
Foi virar estrela.

04.
Aguinha da bica.
Pousa o melro, beberica.
Louva a vida – canta.

05.
Florzinha caipira.
Até o girassol, tão nobre,
ao vê-la suspira.

06.
Pombinha no fio.
Horas e horas, de graça,
vigiando a praça.

07.
Lançada a semente,
tem sequência a permanente
criação do mundo.

08.
Se tivesse apoio,
quem sabe algum dia o joio
fosse pão também.

09.
A pombinha desce
numa imagem de Jesus.
Pousa a paz na luz.

10.
Mão de jardineiro.
Num leve toque de amor,
faz do esterco a flor.

11.
Beija o beija-flor.
Beija inteirinho o jardim.
Por ele e por mim.

12.
Tão miudinha a fonte.
E desce, e quanto mais desce,
mais serve e mais cresce.

13.
Velhinhos na grama
jogando conversa fora.
Também jogam dama.

14.
A pomba e a rolinha.
Uma é grande, outra é pequena.
Mas de paz é a cena.

15.
Cheirosa manhã.
Já de longe se adivinha.
Safra da maçã.

16.
Palmeiras solenes.
Guardais nas velhas cidades
saudades perenes.

17.
Ilhazinha branca.
A paineira na floresta
em traje de festa.

18.
Me desperta a neta:
– Olha, vô... é a do poeta.
Borboleta azul.

19.
Toda prosa e airosa,
brinca de vitória-régia
numa poça a rosa.

20.
Um ato de fé.
Lavrador, olhando o céu,
abana o café.

21.
No meu sonho vives.
Na pracinha um cavaquinho
trina o Autumn leaves.

22.
Um pingo... dois pingos...
não parou mais de pingar.
E se fez o mar.

23.
Acorda a esperança.
Nos quintais da vizinhança
dá a notícia o galo.

24.
Pari passu venho.
Paro. Com ternura abraço
o meu par e passo.

25.
Sujaram meu rio.
Ele, que lavava as gentes,
não lavou as mentes.

26.
Um pulo, medalha.
Milhões de cabeças boas
tão longe das loas.

27.
Livros à mão-cheia.
Saúde, alegria e pão.
Que revolução!

28.
Apress
a-se o mar.
No capricho, porque a noite
será de luar.

29.
Gostosa estação.
Teu beijo, fondue de queijo,
pipoca, pinhão.

30.
Cerração na serra.
Súbito some no espaço
o planeta Terra.

31.
La nieve en la noche.
Vino tinto, un viejo tango.
Sueño em Bariloche.

32.
O orvalho, na relva,
Nem nota que o rio enorme
vai rasgando a selva.

33.
A roda-gigante
roda, roda, roda, roda.
Me refaz infante.

34.
A Lua passeia
boêmia no cio e cheia.
Namorando o mar.

35.
Sempre assim supus.
Pirilampo ou vaga-lume,
tanto faz: é luz.

36.
Relampeja e... trooom!,
ronca forte a trovoada.
Estoura a boiada.

37.
A sibipiruna
seus fartos cachos derrama.
Deixa o asfalto em chama.

38.
Um pingo de chuva
brincando em cima da uva.
Rola e rega o chão.

39.
O tempo se foi.
Distante passa cantante
um carro de boi.

40.
Vento sobre o trigo.
Louro oceano ondulando.
O pão madurando.

41.
Levanta o avestruz
o pescoço. Periscópio
procurando luz.

42.
A semente grá-
vida leva a vida impá-
vida para a frente.

43.
Delicadas, belas,
rosas brancas, amarelas...
Que poeta é Deus!

44.
Cai, haicai, balão.
Traz o céu, o azul, a luz:
põe na minha mão.

45.
Desce o rio a serra.
Leva as lágrimas da terra
pra fazer o mar.

46.
Chocadeira elétrica.
Fornadas de pintainhos
sem colo, tadinhos.

47.
Quero-quero-quero.
A bem-querida aparece.
O amor acontece.

48.
Lua nova e meia.
Tão crescente, logo casa,
vira lua cheia.

49.
O boi e o arado.
Joga veneno o avião
por sobre o passado.

50.
Rude perobeira.
Dá-lhe a orquídea um leve toque
de namoradeira.

Fonte:
A. A. de Assis. Poeminhas (à moda de haicais). Marinha Grande/Portugal: Biblioteca Virtual "Cá Estamos Nós". Outubro de 2004

sábado, 13 de abril de 2013

Orlando Woczikosky (Livro de Trovas)

A cantar, a minha vida,
eu canto em qualquer cidade,
mas minha terra querida,
eu não canto sem saudade!

Agora sou nau sem rumo,
Que zarpou da mocidade,
Para encalhar, eu presumo,
No banco duma saudade.

A mãe da gente é uma luz
que brilha, brilha e rebrilha:
dá-nos vida e nos conduz
pela mais sagrada trilha.

Amor que não tem saudade,
é planta que não dá flora;
amor que é amor de verdade,
na saudade é mais amor.

A mulher é diferente
no terreno da emoção:
- O homem diz sim e consente,
ela consente e diz não!

A nossa UBT querida
é meu verdadeiro amor,
faz parte da minha vida
como a um jardim, uma flor.

Às vezes, na multidão,
estou só sem ver ninguém,
porque a maior solidão
é estar longe do meu bem.

A vagar pela cidade
Hoje, bem longe de ti,
Vejo, através da saudade,
O tesouro que perdi.

Beba água mineral
e viva despeocupado,
porque água só faz mal
para quem morre afogado.

Cônscio de que nada valho,
quando te beijo, formosa,
eu sou uma gota de orvalho
que tremeluz numa rosa.

Convidei a minha sogra
pra passear no Butantã:
a velha mordeu a cobra,
e a cobra ficou tantã!

Curitiba, paraíso
Que mil encantos encerra,
Linda Cidade-Sorriso:
– Sorriso da minha terra!

Dezoito anos de idade
Completei no fim da guerra,
No fim da calamidade
Que tingiu de sangue a terra.

Dentro de certas pessoas
há duas forças latentes:
uma que as trona tão boas,
outra que as vira serpentes.

Desde que cedo me acordo,
Até que à noite me deito,
Com saudade te recordo,
Meu único amor perfeito!

Em noites de lua cheia,
no tênue alvor que se espraia,
minha alma foge e vagueia,
perambulando na praia.
 

É nobre quem não exalta
vitória já conquistada,
pois a nobreza mais alta
é vencer sem dizer nada.

É nos olhos que a pimenta
quando toca nos magoa:
quem tem sogra não a aguenta,
quem não tem diz que ela é boa.

Esta saudade é uma luz,
Na noite da minha vida,
O guia que me conduz
À tua imagem, querida.

Eu fui a tua metade
E foste a minha, porque,
Agora, só na saudade
Inteiro a gente se vê!

Eu não gosto de sorteio
Porque a sorte é contra mim:
Talvez porque eu seja feio,
De uma feiura sem fim.

Eu não troco uma jazida
De ouro puro e refinado,
Por uma hora vivida
Na saudade do passado.

Eu nasci pobre na vida,
no entanto sei quanto valho,
pois conheço a dor sentida
dos que tombam no trabalho.

Felicidade é a esperança
que está sempre em nós presente,
mas a gente não a alcança
e ela não alcança a gente!

Flavo sol que as flores pintas
com doce tonalidade,
empresta-me as tuas tintas,
quero pintar a saudade.

Minha avó, que já está morta,
queria tudo perfeito:
até fazendo uma torta,
fazia torta direito.

Não fosse a necessidade
De tanto, tanto te amar,
Sufocaria a saudade
Nas profundezas do mar.

Não me comove a riqueza,
E nem lhe adoro a conquista,
Pois, em saudade e pobreza
Também sou capitalista.

Não te incomodes, querida
Se o meu peito a dor invade,
Pois, são temperos da vida
A dor, o amor e a saudade.

Não vim para te dar um beijo,
vim pra te dar muito mais,
vim dizer que te desejo
O melhor dos teus Natais!

Natal é uma festa linda,
festa de luz e esplendor,
que nos rememora a vinda
De Jesus, Nosso Senhor.
 

Nesta vida de percalços
todo mundo tem defeitos,
mas entre honestos e falsos
todos se julgam perfeitos.

Neste ano, peça a Deus,
que a todos, como a você,
os mesmos tesouros seus,
aos seus semelhantes dê.

Ninguém proíbe que morras
nas tuas loucuras andanças,
mas dirigindo não corras
para não matar as crianças.

No dia dos namorados
fico triste, simplesmente,
por ver que há muitos coitados
sem ter a quem dar presente.

O amor é a coisa mais bela
deste mundo encantador!
E é você quem me revela
toda a beleza do amor!

O amor é igual à comida:
demais, não se dá valor;
quando falta em nossa vida,
dá-se a vida pelo amor!

Oh! doce mundo da infância,
todo em saudade tecido,
a recordar-te a distância,
eu choro por ter crescido.

Para trovar, certamente,
não bastam apenas rimas;
trovador inteligente
faz das trovas obras-primas.

Pela guerra não há glória:
- Perder, vencer, tanto faz!
- A verdadeira vitória,
só se alcança pela paz!

Por mais que hoje louve a vida
dos que fazem bem por lei,
trago n'alma a dor sentida,
dos males que pratiquei.

Pra me esquecer de você,
Tenho rezado à vontade!
Mas não te esqueço, porque
A minha reza é saudade.

Quando a trova justifica
sobejamente a valia,
- Rima pobre ou rima rica -
sempre é grande poesia.

Quando em meus braços te aperto,
todo o infinito sorri,
porque a vida é um céu aberto
quando estou perto de ti.

Quando tu fores velhinha
E eu também, da mesma idade,
Sentirás saudade minha,
Sentirei de ti saudade.

Quem diz que não tem saudade
e se é verdade o que diz,
não teve a felicidade
de já ter sido feliz.

Quem pratica a Medicina
espelhando-se em Jesus,
por certo Deus ilumina
com sua divina Luz.

Quem se afunda na bebida,
para afogar sua mágoa,
descobre, no fim da vida,
que a melhor bebida é água.

Que não valha a minha trova
por nada do que ela exiba,
senão por tudo o que prova
do valor de Curitiba.

Revivendo, na saudade,
a minha casa paterna,
Choro! Mas tenho vontade
que a saudade seja eterna.

Saudade é a lembrança viva
Daquilo que já morreu;
É fogo que inda se ativa
Das cinzas do escombro seu.

Saudade é coisa que nasce
À tona do pensamento,
E, por mais que o tempo passe,
Paramos nesse momento.

Saudade é lua que vaga
Nas sombras do sol do amor;
Quanto mais o sol se apaga,
Mais a lua traz langor.

Saudade é luz matutina
no crepúsculo da gente.
Sol que o passado ilumina
quando escurece o presente.

Se, à noite, chega o negror
E todo o meu ser invade,
Clareia-se o meu amor,
Dentro da luz da saudade.

Se eu de você fico ausente
e alguém os meus olhos vê,
lendo os meus olhos pressente,
no fundo deles, você!

Se partes, fica o desgosto
da minha alma sem a tua,
e eu pareço um rei deposto
perambulando, na rua.

Ser Presidente de Honra
da UBT, é, para mim,
mais do que uma simples honra,
é uma lisonja sem fim.

Sou feliz por te dizer,
em palavra comovida,
que minha vida é um prazer
se há prazer na tua vida.

Trocando sempre teus ares,
foges de mim com prazer;
mas apesar dos pesares
eu não te posso esquecer.

Tudo que é bom, nesta vida,
foge-nos celeremente,
somente a dor mais sentida
fica na vida da gente.

Vermelho igual ao tomate,
meu coração é um bife:
quanto mais alguém lhe bate,
mais amolece o patife.

Fonte:
José Feldman (org, sel, ed.). Trova Brasil numero 10 - abril de 2013

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Olga Agulhon (Gente de Minha Terra)



CONHECIMENTO

Estamos todos enganados!
Pensamos que podemos enxergar...
Mas pela ilusão fomos picados.
Vivemos no escuro!
Sabemos pouco do passado,
só pensamos no futuro
e não vivemos nada do presente.

QUASE REBELDIA

Chega de versos melosos, caudalosos,
que acompanham os momentos
de desatino.

Rompi com o destino!

Mesmo os momentos amorosos
serão mais curtos e secos.
Navegarei mares incertos,
não terei medo de becos escuros,
de passar por grandes apuros
ou atravessar longos desertos.

Chega de versos saudosos, lamentosos,
que acompanham os momentos
de solidão.

Rompi com a emoção!

Os punhais serão mais racionais
e os romances serão mais mortais.
Enquanto viverem, os amores serão rasos
como raízes em vasos;
suas marcas serão superficiais
e jamais exalarão perfumes florais.
Os versos serão brancos e secos
como os vinhos e a noite fria,
que é estéril e nada cria.

Mas a criação, criatura ingrata
na folha esculpida,
desata a forma da vida
e revolta-se contra o criador,
chorando pelas entrelinhas
sob o ritmo romântico 
das marchinhas.
Os versos saem cheios de amor provinciano
e abdicam da oportunidade
de tornarem-se poesia.
Para o criador,
nada de fotografia!
Talvez num outro dia
dê resultado a euforia
de sua quase rebeldia.

UM HOMEM POETA

Mergulhado em tristeza e solidão,
um homem escreve.
Versos ritmados? Não!
Escreve sobre seus dias,
contando horas vazias.
Escreve, com movimentos lentos,
palavras que tentam definir sentimentos.

É um poeta!
não porque escreve,
querendo escolher a palavra e a alegoria,
mas porque sonha,
perdido em  ilusões e melancolia.

Um homem chora.
Chora por sua vida dura,
querendo esquecer uma amargura.
Chora como todo amante,
que já sofreu o bastante.

É um poeta!
Não porque escreve,
querendo escolher a palavra e os pontos,
mas porque ama,
perdido em solidão e desencontros.
Por isso escreve,
com o coração pequenininho,
querendo seu ninho.
Escreve porque está sozinho
e só o papel lhe dá carinho.

A PALAVRA É A SEMENTE

A palavra é a semente.
Cata grão, cata grão, cata não.
O sábio escolhe
e protege o grão
antes de levá-lo ao chão
e só planta com o coração.
Da semente impura, não
germinará o trigo-pão; 
e depois de lançada,
ela não torna à mão.

A palavra é a semente.
Junta grão, junta grão, junta não.
O sábio separa o joio do trigo bom
e não semeia na escuridão;
o faz no branco do papel cartão,
retirando uma a uma
as ervas daninhas, que estragam a plantação.

AMOR PERDIDO

O coração fica magoado
quando relembra o passado.

Folha negra, virada;
fica o avesso.

Folha seca, levada;
fica o movimento,
o barulho do vento.

ESTRAGOS DE UMA TEMPESTADE DE AMOR

Uma enxurrada
de lágrimas
arrasou as margens
do meu coração.
Suas águas vermelhas
extravasaram
e inundaram –
como violenta tempestade – 
todo o meu ser,
que não resistiu.
Corpo e alma sucumbiram
diante dos estragos.
Toda a estrutura desabou.
O que restou?
Não sei.
As perdas foram grandes,
irreparáveis.
Reconstruir?
Não sei se vale a pena.
Talvez demore
uma vida inteira.

RIDÍCULA
a Fernando Pessoa

Quando deixar de escrever cartas de amor,
deixarei de ser ridícula,
serei amarga.

Quando deixar de chorar por amor,
deixarei de ser ridícula, 
serei seca.

Quando deixar de pedir seu amor,
deixarei de ser ridícula,
serei outra.

Quando aprender a fazer versos,
deixarei de ser ridícula,
serei Pessoa.

UM HOMEM SEM UM SONHO

Um homem que não sonha!
É como aquela velha cegonha,
que, embora livre,
voa pelo mundo
sem fugir do inverno,
sem chegar ao alto,
sem conquistar os céus.
Sem saber para onde ir,
sem saber o que buscar,
vai para onde é enviada,
com um destino já traçado
e uma carga predeterminada.
Sem tecer sua própria teia,
cansa de voar a vida alheia
e espera a tempestade trazer os ventos
que apagam os rabiscos de lamentos
que sempre carrega consigo
e, não tendo feito um grande amigo,
só ousa revelar às areias incertas
de praias tão desertas
como a vida,
que não tenta viver.

Fonte:
Olga Agulhon. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.

domingo, 15 de julho de 2012

Olga Agulhon (O Dito e o Não Dito)

As palavras são cruéis e desobedientes;
não são humildes servas.
Fazem-nos cócegas
e depois que saem da boca
não tornam a ela,
por mais que imploremos:
mas também não vão embora;
ficam ressoando no ar
e nos perseguem para sempre.
Por isso, busco o silêncio;
só ele nos deixa em paz.
As palavras...
prefiro prendê-las no papel.
Se viro a página
ou fecho o livro,
as silencio.
Vingo-me.
Torno-me rei.
-
Fonte:
AGULHON, Olga. O Tempo. Maringá: Midiograf, 2003.

sábado, 30 de junho de 2012

Carlos Zemek (No Mundo dos Sonhos)



Pintura de Carlos Zemek 
(Inspirado em um sonho)
Eu flutuo pelo espaço ... posso ver estrelas por todos os lados, quando percebo que estou próximo a uma nebulosa cor violeta .... Vejo a Terra de fora ... Mas ela é apenas uma rocha ... Onde um homem de capa de chuva e chapéu metálicos grita lá de baixo na superfície do planeta em meio a uma tempestade de chuva ácida ... 

- Desce aqui meu amigo emplumado ... por que voas por aqui??? 

Sem entender por que ele me chamara de amigo emplumado eu resolvi descer voando e na descida eu noto que meu corpo é recoberto de penas azuis brilhantes ... eu sou apenas um pequeno pássaro azul ... 

Pouso a seu lado em uma rocha e a tempestade se transforma em fina garoa, ele abre um guarda-chuva e o prende na rocha pra me proteger das gotas ácidas que já incomodavam minhas penas ... 

É uma sensação estranha ser um pássaro disse eu ! 

- Você sabe muito bem, podemos ser tudo que imaginamos.. 

- Eu não me imaginei um pássaro!

- Mas voava pelo infinito como um !!! 

- Eu estou sonhando não estou ?? 

- Sim

- Quem é você ? 

- Sou parte do Todo como você... 

- Por que chove ??? Se isto é um sonho não podia parar ??? 

- É assim que está sua mente no momento ... (Uma risada sinistra que me dá arrepios) 

- Você é um elemental, espírito ou algo parecido??? 

- Nomes simplórios para definir meu estágio temporário de vida ... 

Mas comparando poderia dizer que sou algo assim. 

- Me sinto inquieto, posso voar um pouco ?? 

- Claro, o que você procura está do outro lado deste planeta ... 

- Ok... (Me perguntei se ele sabia o que eu queria pois eu não sabia.) 

Voar é uma sensação maravilhosa ... saio da atmosfera do planeta e já vejo uma espécie de lua cor violeta .. cheia de plantas e árvores ... enquanto me aproximo uma voz dentro de minha cabeça diz: 

- Alto quem vem lá ???(Percebo que é a lua violeta quem fala comigo) 

- Estou apenas de passagem... (Digo em voz alta)

- Pode vir!! (Diz a Lua) 

Quando me aproximo bastante, posso ver que é um planeta muito parecido a Terra ... com árvores e plantas, mas tudo é púrpura, violeta, azul, roxo e lilás.

Pouso em uma pedra e observo um belo lago com três árvores que parecem emitir luz própria.

Quando olho para o lado lá está novamente o homem de capa de chuva metálica.

- Onde estou? (Pergunto maravilhado com a visão da paisagem)

- Está no lugar tranquilo de sua mente, dentro do mundo dos sonhos.

Fico ali alguns minutos observando a maravilhosa paisagem enquanto uma sensação de paz e tranquilidade invadem minha mente.

Após algum tempo uma grande espiral se abre no espaço e me suga rapidamente para dentro ... nesse instante acordo... mas com a imagem da linda Lua violeta e o lago com as três árvores impressa em minha mente.

Fonte:

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Mário Zamataro (A Mania das Palavras)


Ilustração por Carlos Araújo 
(veja nota abaixo)
As palavras têm a mania de querer ultrapassar os dicionários. Não se trata de mania de grandeza, mas, sim, de sentido. Mania de não aceitar uma definição qualquer que as prenda a determinado sentido. O que é natural.

 Cada ser vivo experimenta sensações próprias em suas experiências vividas. Alguns vão além, inventam sensações e imaginam experiências. E dão a este tipo de combinação um poder ainda maior para a significação dos eventos da vida. As significações se encadeiam e se transferem de um ser vivo a outro, o que forma um conjunto infinito...

 As palavras nascem assim, das sensações experimentadas e inventadas. E vão se juntar a outras, interminavelmente, neste mesmo conjunto infinito da vida.

 No subconjunto da poesia, as significações são potencializadas. Ou seja, as palavras ganham potência. Talvez seja este o melhor contexto para a demonstração e compreensão desta mania “incurável” que as palavras têm. É onde a combinação de palavras e significações forma uma trama inesgotável de sensações e de possibilidades de sensações; sugere a invenção de experiências; engendra imagens de matizes antes impossíveis; amplia as dimensões do mundo!

 Viva a mania das palavras!
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Nota:
Essa ilustração - ouvindo e procurando palavras num dicionário - foi criada para um livro didático (Língua Espanhola) da Editora Ática. Até o cachorro participa...

Fontes:

domingo, 20 de maio de 2012

Luiz Carlos Leme Franco (O Ponto)


O ponto, bolinha no fim da linha, dia destes rebelou-se por não ter com quem conversar á sua direita. Resolveu pular, sacolejar, procurar outra posição. Tanto fez que caiu linhas abaixo entre dois As e foi enxotado, pressionado a sair dali, porque deixaria os dois As sem função e ninguém conseguia lê-los.

O ponto triste com tal recepção, mas não querendo de novo se mover por sentir-se bem entre duas letras rechonchudinhas, agradáveis de se falar, bateu o pé para ficar aí. Foi agredido, espremido e esticado, de cada lado, por um dos As, até que virou travessão. Pior p’ra ele que ficou maior e mais difícil de se mexer e para as letrinhas mais longe uma da outra.

O ponto, agora retinha, levantou-se assustado por ver suas ex- vizinhas tão longe, que caiu e quebrou o pé ficando com um dedinho pendurado: virou um ponto de exclamação, esquisito entre as duas vogais - A!A - situação que não agradou nem este ponto rebelde e nem as letras, que começaram puxando-o de um lado, empurrando de outro até que esta reta com um ponto em baixo envergou-se e originou um ? , ponto de interrogação, propiciando já uma leitura rudimentar, ao se ler cada A de uma vez .

-A? se pergunta.

-A.

- A o quê?

-A oras.

– Mas o que é A?

– A de Agora, Amora, Afora, Alguém, Amor,

– Ah, é Amor. Então deixa. E ficou o ex ponto assim até que lhe entortaram mais e jogaram seu pontinho de baixo fora.

Agora um S entre As lhe proporcionou a ser ASA e voou para longe, até ser estilingado no lugarejo de nome CASAco quando perdeu um A de sua ASA e não mais ficou livre como sempre esteve. Virou cASco.

Fonte:
Texto enviado pelo autor