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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Ademar Macedo (Trovas do Ademar)


É uma sensação esquisita entrar na internet, e não ver mais as mensagens poéticas que o Ademar enviava todas as manhãs. Parece que há uma lacuna muito grande, um abismo mesmo. Então aqui segue mais algumas trovas dele, para mantermos a sua memória viva sempre.
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Eu aprendi a perder
mesmo sem haver perdido,
também aprendi vencer
“sem humilhar o vencido!” 

Eu, que nunca pude tê-las… 
Que é um sonho do menestrel; 
sonhei enchendo de estrelas, 
meu barquinho de papel! 

Eu sinto a brisa do vento 
como se fosse magia, 
soprando em meu pensamento 
os versos que Deus me envia…

É terapeuta da mente,
mestre maior do saber…
O Livro é o melhor presente
que alguém pode receber. 

Eu, num desejo medonho, 
quis tê-la, mas nunca pude… 
Transformar desejo em sonho, 
foi minha grande virtude! 

Fiz a “pergunta ao espelho” 
que para não me ofender : 
disfarçou, ficou vermelho 
e não quis me responder! 

Fui reviver meu passado 
na casa que pai morou… 
Um velho espelho quebrado, 
foi tudo o que me restou! 

Hoje na terceira idade, 
eu, de amores já vazio, 
voltei ao mar da saudade 
para ancorar meu navio. 

Igualmente aos nossos pais, 
nos cabelos brancos temos 
as impressões digitais 
dos anos que já vivemos. 

Já quase louco de amor, 
envolto num triste enlevo 
ponho toda a minha dor 
no papel…quando eu escrevo! 

Mesmo que a paixão desabe
disto eu não sentirei medo,
o mundo inteiro já sabe
que eu sempre amei em segredo! 

Mesmo sentindo os rancores,
de um mar de dor que me escolta,
eu, afogando essas dores,
nada impede a minha volta! 

Meu momento mais doído
foi perder quem tanto adoro,
por isso eu choro escondido
para ninguém ver que eu choro! 

Minha mente é qual jazida 
onde o verso prolifera.. 
De poesia eu pinto a vida 
com cores da primavera! 

Na construção do desgosto 
de um casamento desfeito, 
criei rugas no meu rosto 
e pus mágoas no teu peito… 

Na “derradeira viagem” 
que nós faremos decerto, 
busco, com fé, a passagem 
para ver Jesus de perto!

Na floresta, a “derrubada” 
deixa em minha alma sequela, 
pois a dor da machadada 
dói mais em mim do que nela. 

Não acredito em trapaça, 
o livre arbítrio eu imponho; 
não há destino que faça 
eu desistir do meu sonho.

Na vida o que me conforta, 
está nesta frase bela: 
“Deus jamais fecha uma porta, 
sem que abra uma janela”!

Ninguém calcula essa dor 
no coração dos mortais… 
Quando a saudade é de amor, 
a dor é cem vezes mais ! 

Ninguém disfarça o carisma…
Quem o tem, sempre o conduz,
sem saber que tem um prisma
refletindo a sua luz. 

No instante da despedida, 
arquivei no pensamento 
a tristeza da partida 
e a dor do meu sofrimento.

No momento em que eu nascia 
Deus colocou no meu ser, 
um mundo de fantasia, 
de poesia e de prazer…

Nos poemas que componho, 
de beleza quase extrema, 
eu ponho em verdade um sonho 
dentro de cada poema!

Num desespero medonho, 
acordei quase enfartando, 
pois vi no melhor do sonho 
que a sogra estava voltando! 

Num triste e cruel enredo 
escrito por poderosos, 
a Terra treme com medo 
das mãos dos gananciosos… 

O grande desmatamento,
por ganância ou esperteza,
põe rugas de sofrimento
no rosto da natureza! 

Oh, Mulher! Quando partiste, 
só você não percebeu; 
seu coração ficou triste… 
Muito mais triste que o meu! 

O papel que eu desempenho
na poesia, não tem preço;
pelos amigos que eu tenho…
Ganho mais do que mereço! 

O tempo austero e sisudo
põe na memória da gente
o alzheimer que apaga tudo
do vídeo tape da mente! 

O tempo, já quase em fuga, 
para aumentar meu desgosto, 
fez nascer mais uma ruga 
entre as rugas do meu rosto!

O tempo, qual sanguessuga, 
para aumentar meu desgosto, 
fez nascer mais uma ruga 
entre as rugas do meu rosto! 

O vento da minha Fé, 
de maneira enternecida, 
sopra, mas deixa de pé 
as dunas da minha vida!

O vício sempre nos joga 
numa dor que nos revolta: 
– ver um filho usando droga, 
numa viagem sem volta!

Para alcançar o perdão,
não há fronteira ou entrave:
a porta do coração
não tem ferrolho nem chave.

Para contar sua história, 
a pobre cigana cria 
uma verdade ilusória 
que ela mesma fantasia! 

Para os sem fé, os tristonhos, 
a vida deles termina 
sem sequer colher os sonhos 
que a própria fé nos ensina…

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Ademar Macedo (Trovas Eternas)


A distância nos redime
se a saudade nos escolta;
ir pra longe é tão sublime
como sublime é a volta!

Adotei o isolamento,
feito um ermitão qualquer.
Pra fugir do casamento
e das manhas de mulher!...

A justiça incompetente,
por um deslize qualquer,
toma o dinheiro da gente
e dá todo pra mulher!…

Almoço e janto poesia.
E neste meu universo,
mastigo um pão todo dia
amanteigado de verso.

A lua, de vez em quando
fica um pouco sem brilhar,
para ficar “espiando”
dois pombinhos namorar!

A lua, sem empecilho,
desfilando, linda e nua,
deixa também o seu brilho
“nas poças d’água da rua”!

A Lua, que a noite ronda
com o seu lindo clarão,
é a lamparina redonda
que ilumina o meu sertão!

A mais triste solidão
que os seres humanos têm
é abrir o seu coração…
Olhar…e não ver ninguém!

Amar… verbo transitivo
que em qualquer conjugação
traz um novo lenitivo
para o nosso coração!

Amigos que valem ouro,
nós deveremos mantê-los
guardados qual um tesouro
para nunca mais perdê-los!

A minha Paz desejada
tá nos versos que componho;
no cantar da passarada
e na beleza de um sonho!…

A minha sogra, assanhada,
no barracão da mangueira,
foi muito mais apalpada
do que laranja na feira!...
Amores na mocidade
sempre deixam cicatrizes,
marcas de dor e saudade
no peito dos infelizes…

A minha sogra, assanhada,
no barracão da mangueira,
foi muito mais apalpada
do que laranja na feira!…

À noite, as brisas divinas
dão som aos seus movimentos;
e, "na Lua," as bailarinas
dançam a valsa dos ventos...

Ao criar os Trovadores
onde o verso prolifera;
para adorná-lo com flores,
Deus criou a primavera!

A pergunta é meio louca,
mas, conhecendo o roteiro;
quero é dar beijo na boca…
“Vida boa é de solteiro”!

Após causar desencantos
e nos fazer peregrinos,
a seca fez chover prantos
nos olhos dos nordestinos!

Aquela mão estendida
é Nau que ainda trafega
no mar revolto da vida
que a própria vida renega...

A “solidão” me parece,
ser um conforto sem fim…
quando um grande amor me esquece;
“Ela” se lembra de mim.

As rosas tem seus floridos
que a “natura” se apodera,
dando beijos coloridos
no rosto da primavera!

Assim que começa o dia,
envolto em profundo enlevo,
sinto o cheiro da poesia
em cada verso que escrevo.

A vida escreve-me enredos
com finais que eu abomino.
Meus sonhos viram brinquedos
nas mãos cruéis do destino…

Cada verso que componho,
nele, eu conto um sonho meu;
todos nós temos um sonho…
E cada um que conte o seu!

Caiu meu muro de arrimo;
sinto fraqueza… E, aos oitenta,
nem com Viagra eu me animo,
só se der cobra em noventa!

Causa-me espanto o coqueiro;
algo de bom ele tem…
Mas, sendo torto ou linheiro,
nunca deu sombra a ninguém!

Chega a causar agonia,
uma visita sacana,
que vem pra passar um dia,
passa mais de uma semana!

Coloquei a foto errada.
Viram logo os menestréis…
Como eu vou subir escada
Se me falta um dos meus pés?

Com certa preponderância
eu impus esta verdade:
Quem inventou a distância
não conhecia a saudade!...

Com minha alma amargurada,
envolto em meu sofrimento,
passo inteira a madrugada
jogando versos ao vento…

Com minha alma enternecida,
confesso com todo ardor;
Deus me deu dois dons na vida:
ser “Pai” e ser “Trovador”!…

Com o dom que Deus lhe envia,
no riso o palhaço aflora
um semblante de alegria…
Que ele só sente por fora!
Como quem faz sua escolha,
disfarçando o desatino,
alterei folha por folha
do livro do meu destino!

Com os temas mais dispersos,
eu mesmo me fiz enchente
numa enxurrada de versos
jorrando da minha mente…

Com sua língua de trapo
disse, ao ser mandado embora:
– É moleza engolir sapo,
o duro é botar pra fora!

Construí dentro de mim,
com minh’alma enternecida,
um teatro onde, por fim,
pude encenar minha vida!…

Da Bebida fiquei farto,
bebendo, perdi quem amo;
hoje bebo no meu quarto
as lágrimas que eu derramo.

Da fonte que jorra o amor,
Deus, na sua imensidão,
faz jorrar com todo ardor
as carícias do perdão.

Da ingratidão praticada
eu tirei uma lição:
Perdoar, não pesa nada,
pesado…É pedir perdão!

Das colheitas dadivosas
que Deus deixa nos caminhos,
uns curvam-se e colhem rosas,
outros, só colhem espinhos…

Debruçado sobre a mata,
o luar, tal qual pintor,
pinta as folhas cor de prata
e pinta o chão de outra cor.

De maneira indefinida,
por amar e querer bem;
vou dividir minha vida
com a vida de outro alguém!

De nada eu sinto ciúme,
nem mesmo da mocidade;
pois hoje eu sinto o perfume
da flor da terceira idade!…

Depois do beijo, um aceno,
e, sofrendo em demasia,
bebo doses de um veneno
que a sua ausência me envia.

Depois que chove na mata,
a lua, de luz acesa;
pinta as folhas cor de prata
com tintas da Natureza.

Descobri no envelhecer,
em meus momentos tristonhos,
que eu não tive, em meu viver,
nada mais além de sonhos!…

Descobri no envelhecer
que a musa que me enaltece
não deixa o verso morrer,
pois musa nunca envelhece!

Desde o tempo de menino
vi o quanto eu sou machão;
pois meu lado feminino
é um tremendo sapatão!

De sonhar eu não me oponho
nem sequer me desiludo.
Quem faz de “Paz” o seu sonho,
já fez metade de tudo!…

De um olhar triste, alquebrado,
desse meu filho que é “mudo”…
eu vejo, mesmo calado,
seus olhos dizerem tudo!

Deus, demonstrando poder,
quando a mulher engravida,
transforma a dor em prazer
na celebração da vida!

Deus vendo que não tem fim
essa fé que me conduz,
deixou cair sobre mim
uma cascata de luz!

Do fogo no matagal,
na fumaça que irradia,
vejo um câncer terminal
no pulmão da ecologia!...

Do meu jeito apaixonado,
envolvente, terno, mudo…
Faço um apelo calado,
onde os olhos dizem tudo!

Em busca de ser feliz,
e em prol do amor de nós dois,
quantos atalhos que eu fiz…
Mas só chegava depois!

Em humor não me destaco,
mas, por pura peraltice;
mesmo não sendo macaco,
vou fazendo macaquice.

Em inspirações, imerso,
fiz do sol o próprio guia
para conduzir meu verso
nos caminhos da poesia!

Entre os atos de bonança
e meus pecados mortais,
quando eu botar na balança,
Deus sabe quais pesam mais!…

Envolto numa utopia,
num devaneio sem fim,
vivo hoje uma fantasia
que eu mesmo inventei pra mim.

Essas gotas maculadas,
itinerantes no rosto,
são as lágrimas magoadas
que dão vida ao meu desgosto.

Esses meus versos doridos
que estão bem perto do fim,
são retratos coloridos
que eu mesmo tirei de mim…

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Mara Mellini (Palavra por Palavra)


Gosto de me revelar pelas palavras... de depositar nelas os meus pensamentos mais profundos, mais humanos. Sou tudo o que está contido no que escrevo, ao meu modo, meu estilo. E aqui, no meu espaço, reino soberana... Tenho liberdade para dizer o que penso, sem amarras, sem algemas. Porque não há nada pior, para um escritor, do que viver sob a sombra da censura... Especialmente, quando se usa da palavra para atingir bons fins. Para tocar alguém, resgatar o bem.
     
    A minha palavra não visa outra coisa, senão unir, somar, dedilhar sonhos, semear esperança. Nas minhas reticências, procuro lançar ao vento novos pensamentos, ideais, buscando sopros de valores e de conforto para quem lê ou escuta. Assim, sou inteira. Sou verdadeira. Não preciso de disfarces, minha palavra tem a força da coragem e a leveza da serenidade. Não preciso fazer mea-culpa pelo que digo, tampouco temer o fato de que não fui compreendida... É que eu não procuro intervir, procuro somar. Positivamente. Quem me conhece, sabe.

     Então chega de emprestar minhas palavras a quem faz delas um meio de contramão; a quem malfere uma boa intenção, subvertendo as minhas vírgulas e pontos finais, buscando neles o que não foi dito. A palavra, sim, tem poder. Mas o que tenho em mira é somente o que eu disse no início e o que se apresenta em todo o meu universo real e virtual: o BEM. O que faço com tanto gosto é inspirado em um mundo mais humano. E, permitam-se dizer, mais justo. Longe de ser perfeita, pelo contrário... tendo consciência das minhas ações.

     Minha palavra não mora em gaiola, nem sobrevive de favores. Tem existência própria, respira ar puro. Voa... Às vezes, chora... é melancolia. Em outras, ri... e se mostra larga. Chega em versos, sai em prosa. Mas o mais importante de tudo isso: Procura apaziguar, não desunir; é livre e me pertence. E tenho dito.

Fonte:

sábado, 8 de setembro de 2012

Manoel Cavalcante / RN (Quem sou Eu)

Nasci. Entre os gladiadores da ignorância, tive uma infância conturbada. Vi minha avó num caixão sem saber porque todos choravam, aprendi a andar de bicicleta e quando soltei as mãos do guidom pela primeira vez, talvez conheci minha primeira lição de liberdade. Conheci a bola, a única coisa que me fazia ter vontade de fugir de casa embora que eu tivesse outros motivos. Aos 6 anos, conheci o Futsal, e este, foi um mestre que me ensinou a perder, a ganhar, a me superar, a lidar com o desânimo e o excesso de confiança, enfim, mostrou-me as primeiras metáforas da vida. Fui crescendo, rabiscava versos por ouvir tantos nas noites enluaradas em que me aventurei com meus pais. Crescia precisando ser mais adulto do que os que me cercavam, vi guerra, vi estupidez, mas via meu pai, um Dalai Lama sem fama, um monge que sempre me ensinou tudo sem precisar dizer nada. Conheci os fluidos da adolescência, os impulsos puberais, conheci o amor, o amor que tanto me deu asas, que tanto me impulsionou, o amor que me fez sonhar. Aos 18 anos, tive que sair de casa com o sonho no bolso, mas não o meu, aquele que foi preciso sonhar, conheci o mundo, a humanidade desumana, a mudança de personalidade, mas aos 19, eu conheci a trova, a forma poética que me fez crescer e que me fez entender melhor a vida, talvez por ser uma síntese, um sumo, uma seiva. Hoje, aos 22, eu acumulo decepções e glórias, mas vejo tudo com se fosse tivesse os dedos de um cego nas retinas, sinto tudo como se eu tivesse sido traído, talvez pela vida, porém eu tenho um Deus interno, eu me chamo: Fé. Eu me chamo palhaço: o que mais tem motivos para chorar, mas o que mais ri.

Fonte:
Texto do autor obtido no Facebook

José Lucas de Barros (Vaqueiro)

Há registros em prosa e poesia,
Aqui pelo Nordeste brasileiro,
Mas ninguém descreveu, como devia,
A grandeza da saga do vaqueiro.

Quando um touro se torna barbatão,
Escondido na mata de espinheiro,
Não há nada que o enfrente no sertão,
A não ser a coragem do vaqueiro.

Cavaleiro de tanta valentia,
Esquecido por esses pés de serra,
Nosso herói nordestino merecia
Uma estátua de bronze em sua terra!

Fonte:
O Autor   

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Prof. Garcia e Zé Lucas (Peleja em Martelo Agalopado) Parte 1

Pela Internet, entre os Poetas e Trovadores Francisco Garcia de Araújo (Prof. Garcia) e José Lucas de Barros.

Início em 22.07.2012 – Término em 29/7/2012.

01 - Prof. Garcia
Já falei do sertão, falei do mar,
da floresta e do espaço eu já falei,
as montanhas e os morros já cantei
nem sei mais o que agora eu vou cantar.
Mas o poeta começa a imaginar
e descobre que a fonte da poesia
jorra tudo que a mente humana cria
sem jamais lhe faltar inspiração...
É o milagre do amor e da razão
que me faz ser poeta todo dia!

02 - Zé Lucas
Pra o poeta encontrar a poesia,
basta o canto febril de um rouxinol,
ou os raios de ouro do arrebol,
registrando o nascer de um novo dia;
um olhar nas belezas que Deus cria
também deixa um poeta motivado;
uma grata lembrança do passado
tanto acorda a saudade como inspira;
mais o som peregrino de uma lira,
e está pronto o martelo agalopado!

3 - Prof. Garcia
Quando eu vejo um sapinho acocorado
na lagoa bem cedo inflando o papo,
é porque da garganta desse sapo
vai sair um martelo agalopado.
Eu me ponho a pensar quase assustado,
como um sapo também tem voz tão boa,
pois percebo no canto que ele entoa
que há um feitiço que encanta a saparia,
cada verso que faz tem mais poesia
do que a voz do restante da lagoa!

4 - Zé Lucas
No remanso tranquilo da gamboa,
cai no rio e se anima o pescador,
na esperança de um peixe lutador
que, na linha do anzol, puxe a canoa;
remo solto, segura-se na proa,
porque sabe os segredos de seu rio
e não foge jamais ao desafio,
visto que água no chão é mão na luva...
Essas cenas ocorrem quando a chuva
cai na terra do sol e espanta o estio.

05 - Prof. Garcia
O carão canta triste em desvario
quando a chuva se ausenta e vai embora,
é a tristeza do canto de quem chora
no murmúrio de um grande desafio.
Sertanejo, sem chuva, é por um fio,
que ele escapa o rebanho da vivenda,
tudo quanto produz é uma oferenda
contra a fome feroz que se aproxima,
o campônio jamais se desanima
e é feliz no terreiro da fazenda!

06 - Zé Lucas
Vi a cana espremida na moenda,
vi os bois sonolentos na almanjarra,
na qual já trabalhavam quando a barra
da manhã lourejava na fazenda;
e o engenho, que há muito virou lenda,
tinha cheiro de mel e rapadura,
mas o tempo mudou... Já não se apura
uma simples batida, ou alfenim.
No sertão, isso tudo levou fim,
mas a dor da saudade ninguém cura!

07 - Prof. Garcia
Nem o canto feliz da saracura
que cantava em lagoa e pantanais,
eu escuto nos velhos mofumbais
que abrigavam tão bela criatura.
Se o destino ou a própria desventura
prescreveram tristonha profecia,
meu sertão chora a dor de cada dia
lamentando o passado que se foi,
e a toada do meu carro de boi
era a orquestra mais linda que se ouvia!

08 - Zé Lucas
Não me esqueço do som da cantoria
nos alpendres de antigos casarões,
com sextilhas, martelos e mourões
recheados de nítida magia;
era um mundo encantado de poesia
que abracei desde minha tenra idade,
tradição nordestina de verdade
que não pode morrer nem fraquejar
porque é muito querida e popular,
mas mudou-se do campo pra cidade!

09 - Prof. Garcia
Nos sortudos perfis da mocidade
no terreiro da antiga fazendola,
escutei cantadores de viola
repentistas com muita habilidade.
mas o tempo com vã fugacidade
desfez logo o meu velho apostolado,
me deixou na fazenda abandonado
como quem diz adeus e vai embora,
e até hoje a fazenda ainda chora
relembrando a viola do passado!

10 - Zé Lucas
Neste nosso martelo agalopado,
imitamos os mestres da viola,
muito embora sejamos de outra escola
que não lida com o verso improvisado,
mas respeita o formato desenhado
pelos grandes artistas do repente.
Nós também nos servimos da vertente
dessa viva poesia nordestina,
que não tem pretensões, porém domina
a cultura mais bela do presente!

11 - Prof. Garcia
Nosso velho rojão é tão dolente
que as estrelas marejam no infinito,
chora a imagem pintada no granito
nos instantes finais do sol morrente;
as estrelas fulguram no nascente
e a montanha se cobre de beleza,
para ouvir a canção da singeleza
que o poeta verseja e não vacila,
cada verso é uma estrela que cintila
no universo da santa natureza!

12 - Zé Lucas
O improviso, que é sempre uma surpresa,
é o momento supremo da emoção
de quem logra ter grande inspiração
para encher a poesia de beleza;
uma estrela distante, com certeza,
manda um sonho de ouro pra o poeta,
que se sente tocado de uma seta
no recinto da lógica e da mente;
brilha logo a faísca do repente
e um poema, em segundos, se completa.

13 - Prof. Garcia
No repente, ninguém traça uma meta,
mas é bom que um roteiro a gente trace,
pois do nada, um improviso sempre nasce
e a beleza da vida se completa.
Não precisa que seja em linha reta,
pode ser por caminho tortuoso,
pois o verso sofrendo é mais famoso
aos primeiros suspiros da manhã,
quando o sol salpicando o morro e a chã
torna o verso mais belo e mais formoso!

14 - Zé Lucas
Quem trabalha precisa de repouso
pra suprir os efeitos do cansaço,
pois o esforço medido a cada passo
nunca pode tornar-se tão penoso;
nosso tempo é tesouro precioso,
como o próprio bom senso nos revela...
Desperdício das horas, sem cautela,
leva a perdas e danos sem medida
e ao desgaste das dádivas da vida,
desta vida que é curta, mas é bela.

15 - Prof. Garcia
Quando escuto o bramido da procela
e os gemidos do mar, quando se alteia,
eu respeito o furor da maré cheia
e a bravura do mar que se encapela.
Fica mais perigoso o barco à vela
do que a nossa chalana pantaneira,
que é mais leve, mais dócil, mais faceira,
onde as ondas são todas pequeninas,
me lembrando as canoas nordestinas
sossegadas na paz da ribanceira!

16 - Zé Lucas
No sertão, uma linda fiandeira
foi Maria Isabel, minha vovó,
que viveu no calor do Seridó
comandando uma roca de madeira;
punha os pés pequeninos numa esteira
fabricada com arte e paciência;
sempre estava na pobre residência
dando a bênção a adultos e guris...
Viveu quase cem anos, tão feliz,
com o novelo dos fios da existência!

17 - Prof. Garcia
Minha avó também teve competência,
com seu fuso na mão, foi de primeira,
também tinha uma roca de madeira
que lhe deu o sustento, e deu vivência.
Enedina, um sinal de resistência,
não sentia o torpor da nostalgia,
na pobreza do campo onde vivia
resistiu aos insultos da escassez,
mas viveu com ternura e sensatez
encantada com tudo que fazia!

18 - Zé Lucas
Desde a infância alguns versos eu já lia:
comecei pelas glosas de Nicandro,
mergulhei nos romances de Leandro,
que fazia cordel com poesia;
lendo Chagas Batista, eu descobria
o cangaço do solo nordestino,
com as grandes façanhas de Silvino,
que era o "Rifle de Ouro" respeitado...
Dos delitos, enfim foi indultado
por Getúlio, abrandando o seu destino.

19 - Prof. Garcia
Eu não posso esquecer de Jesuíno,
homem forte, disposto e valentão,
que lutou nas caatingas do sertão
contra a própria injustiça do destino.
Vingativo, mas nunca foi cretino,
foi mais um respeitado cangaceiro...
Todos dizem que foi mais justiceiro,
do que injusto, naquilo que fazia.
Jesuíno Brilhante procedia
ao contrário do injusto trapaceiro.

20 - Zé Lucas
No Nordeste, o mais duro cangaceiro,
Virgulino Ferreira, o Lampião,
assombrou todo o povo do sertão
com seu rifle temível e certeiro;
tinha fama de bravo bandoleiro,
pois, de fato, era intrépido e valente,
açoitava e matava cruelmente,
mas entrou pelo cano em Mossoró:
correu tanto, que as pernas davam nó;
mesmo assim, é um herói pra muita gente!
Fonte:
Zé Lucas

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Ademar Macedo (O Vírus da Poesia)

Poesia é a minha paz,
meu mundo, meu universo;
um mar de sabedoria
onde eu vivo submerso;
é minha alimentação,
é meu sustento, é meu pão
feito de rima e de verso...

A partir da madrugada
é esse o meu dia a dia:
já de caneta na mão
recebo uma epifania,
cuja manifestação
é trazer-me inspiração
pra eu fazer minha poesia...

A poesia é minha luz,
é meu santo e meu altar,
feijão puro com farinha
que eu tenho para almoçar;
ela é minha própria vida
é meu lar, minha guarida
meu sol, meu céu e meu mar!

Ao ver poesias aos montes
nascendo em minha vertente,
tive um “derrame” de rimas
nas veias da minha mente
e um maravilhoso “infarto”
eu tive ao fazer o parto
do derradeiro repente!...

Quero então no meu jazigo,
feito em letras garrafais,
aquela minha poesia
que me deu nome e cartaz;
e escrito, seja onde for:
- eis aqui um trovador
que morreu feliz demais!

Quem carrega, como nós,
o vírus da poesia,
tem no sangue uma plaqueta
que se altera todo dia,
aumentando a quantidade
e pondo mais qualidade
nos versos que a gente cria.

Fonte:
http://www.recantodasletras.com.br/cordel/2102054

domingo, 15 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 5, final

121 - Zé Lucas
Entre as coisas que a vida me propôs,
desde o tempo feliz da tenra idade,
e eu procuro seguir com todo o empenho,
vêm, na linha de frente, a honestidade
e os princípios do amor e da harmonia,
porque Deus vai querer que eu prove, um dia,
o que fiz pra ganhar a eternidade.

122 – Ademar
Eu não sei se eu irei pra eternidade
quando Deus resolver me resgatar,
já andei por caminhos tortuosos
pelos quais não pretendo mais andar;
pelas coisas da vida que eu renego,
pelo fardo pesado que eu carrego,
tenho fé que Deus vai me perdoar.

123 - Prof. Garcia
Não se vive no mundo sem lutar,
pois o próprio Jesus, exemplo deu,
fez de tudo este pobre peregrino
pela terra sofrida onde nasceu;
perdoou todo o povo e pediu paz,
mas o vil pecador, quis Barrabás
no lugar deste Santo que morreu!

124 - Zé Lucas
Quem matou o Divino Galileu
deu um passo infeliz e negativo,
fez o mundo cobrir-se de amargura
por um crime covarde e sem motivo,
e jamais esperou que, após três dias,
Deus mostrasse a grandeza do Messias,
levantando-o da cova redivivo!

125 – Ademar
Quando eu for para o céu ver o Deus vivo,
além da grande fé que me conduz
levarei a muleta e meu boné
adereços da minha própria cruz;
aos meus fãs deixo aqui os versos meus,
e os poemas que eu fiz falando em Deus
levarei de presente pra Jesus.

126 - Prof. Garcia
Quando eu curvo o joelho aos pés da cruz,
vejo o quanto Jesus Cristo sofreu,
eu pergunto a mim mesmo, por que foi,
que este filho inocente, assim morreu?
Peço a Deus, rogo a Deus, vertendo pranto,
que não deixe eu na vida sofrer tanto,
sendo um bom pecador como sou eu.

127 - Zé Lucas
Judas, sendo discípulo, vendeu
o seu Mestre, por preço de cocada,
pra ser morto na cruz, entre ladrões,
vendo o pranto da mãe, amargurada
com a pena que a história mal descreve.
Se é difícil pagar quando se deve,
duro mesmo é pagar sem dever nada!

128 – Ademar
Minha cruz eu já sei que é bem pesada,
pelo peso do fardo que carrego,
mas não sinto cansaço nem fadiga,
os pecados são meus, eu não renego;
mas seguindo a Deus Pai, o verdadeiro,
vejo e sinto o meu fardo mais maneiro
pelas coisas de Deus que hoje eu prego!

129 - Prof. Garcia
Tudo quanto eu consigo, a Deus entrego,
porque sinto que um fogo, em mim reluz,
cada passo que dou em minha vida,
sinto a força de alguém que me conduz;
e esta chama queimando no meu peito,
é a fogueira da prece do meu leito
que me aquece nos braços de Jesus!

130 -Zé Lucas
Quando, há muitos janeiros, vim à luz,
foi chorando nos braços da parteira;
minha mãe, entre lágrimas e risos,
me beijava na face a vez primeira...
Dessa forma nasceu um trovador,
desprovido de bens, mas com amor
pra doar, neste mundo, a vida inteira.

131 – Ademar
Eu nasci pelas mãos de uma parteira
num sertão pobre, seco e abrasador,
nunca usei uma fralda descartável,
a chupeta era o dedo indicador;
e apesar de ter tantos empecilhos,
mesmo tendo já feito vinte filhos
o meu pai inda fez um Trovador.

132 - Prof. Garcia
No sertão, cada filho é uma flor,
que perfuma e inebria um lar feliz,
quanto mais nasce gente em cada casa,
mais o dono da casa pede bis;
mamãe tinha um menino todo ano,
papai pobre não quis mudar de plano
criou onze do jeito que Deus quis.

133 - Zé Lucas
Deus me deu cinco filhos e, feliz,
eu cumpri para os céus essa missão;
sinto neles a minha própria vida
como os dedos que toco, em cada mão,
quando rezo por todos, de hora em hora...
São pedaços de mim que vejo fora
porém nunca tirei do coração.

134 – Ademar
Deus me deu uma linda geração.
Todos eles são servos do Senhor;
duas filhas, dois genros, nora e neto
e meu filho, estudando pra pastor,
me ensinou que somente Deus nos salva
e eu pretendo, com minha ESTRELA Dalva,
ter as bênçãos de Deus, o Criador!

135 - Prof. Garcia
Tudo quanto se faz com muito amor,
Deus concede o perdão do que se faz,
somos todos eternos viajantes,
peregrinos na vida e nada mais;
quem quiser ser feliz por um segundo,
tenha fé no perdão, perdoe o mundo
plante o amor, colha o amor pedindo paz!

136 - Zé Lucas
Dessas coisas que a vida leva e traz,
lembro um fato do meu interior:
o rapaz era louco pela moça
que a má sorte feriu com grande dor
e levou-a pra longe, sem alarde.
Quando trouxe de volta foi tão tarde,
que não houve mais chances para o amor!

137 – Ademar
Uma seta atirada pelo amor
deixou marcas profundas no meu peito,
mesmo eu sendo ainda muito jovem
esta seta causou-me grande efeito;
até hoje no peito ela corrói,
quanto mais eu relembro mais me dói
já tentei esquecer... Não tem mais jeito!

138 - Prof. Garcia
Todo o amor que foi santo, tem defeito,
porque somos um filho do pecado,
quando Deus fez Adão, depois fez Eva,
quis o fruto do amor santificado;
mas Evinha, danada como era,
usou todas as garras da pantera
destruindo esse amor que foi sagrado!

139 - Zé Lucas
Guardo ternas lembranças do passado,
com o encanto de tudo que era meu:
a menina singela e tão bonita,
sem adornos de loja ou camafeu.
Nos seus lábios, a vida me sorria;
nos seus olhos românticos, eu lia
um poema que nunca ninguém leu.

140 – Ademar
Uma história de amor que não morreu,
retorná-la a viver, hoje eu queria.
Descobri que eu amava, um pouco tarde
e esse amor era tudo o que eu queria;
mas só vim descobrir tempos depois...
Nos momentos vividos por nós dois,
eu fui muito feliz e nem sabia!

141 - Prof. Garcia
Sou feliz, fui feliz e mais seria,
se eu voltasse aos jardins da mocidade,
inda visse a primeira namorada
e abraçasse os meus pais na flor da idade;
mas o tempo me deu folha corrida,
e abraçar os fantasmas desta vida
é o que faço, morrendo de saudade!

142 -Zé Lucas
A mudança do campo pra cidade
me deixou um sabor de despedida:
aqui tenho encontrado mais conforto;
de lá vêm as lembranças da guarida,
onde eu tinha um irmão em cada canto.
Finalmente, esta praia é meu encanto,
mas o velho sertão é minha vida!

143 – Ademar
Deus me deu este dom pra toda vida:
fazer versos, trovar, viver feliz.
Me tornei um poeta popular
e entre todos eu sou um aprendiz,
mas confesso com a mente envaidecida
que a poesia marcante em minha vida,
tenho toda certeza que não fiz!

144 - Prof. Garcia
Eu também vou na mesma diretriz,
repintando os meus sonhos de poeta,
cada lindo arrebol de um novo dia,
traz a luz da esperança para o esteta;
aos gemidos da musa benfazeja,
a poesia me abraça e me bafeja
e é assim, que meu sonho se completa.

145 - Zé Lucas
Quando jovem saudável, minha meta
era a grande aventura das jornadas,
enfrentando descidas e ladeiras,
sem temer o perigo das estradas
nem o peso das duras circunstâncias,
e hoje as pernas, cansadas de distâncias,
só aceitam pequenas caminhadas.

146 – Ademar
Tiro as pedras do meio das estradas,
corto as pontas que tem em cada espinho,
ponho o riso no rosto da criança;
e uma dose de amor e de carinho
eu coloco no olhar de cada velho,
pois seguindo o que diz nosso evangelho,
serei bem mais feliz no meu caminho.

147 - Prof. Garcia
Eu protejo as essências do meu ninho,
semeando a ternura como prova,
planto um galho de amor em cada canto,
brota um pé de carinho em cada cova;
toda noite eu replanto a minha roça,
e o orvalho que pinga na palhoça
beija os lábios da paz, que se renova!

148 - Zé Lucas
Neste nosso debate se comprova
a leveza de um longo versejar.
Estivemos juntinhos caminhando,
sem ninguém se mexer do seu lugar,
mas, agora, ao final deste rojão,
me despeço com aquela sensação
de quem sai com vontade de ficar.

149 – Ademar
Fabricante do verso popular,
sou fiel seguidor do meu destino,
mergulhado num mar de inspiração,
um momento, pra mim, quase divino;
misturando o real com a fantasia
eu mostrei a beleza da poesia
e a grandeza do vate nordestino.

150 - Prof. Garcia
Três poetas fiéis, e um só destino,
num debate em setilha agalopada,
versejando com tanta inspiração
sem ninguém se perder na caminhada;
cada qual debatendo do seu jeito,
mas deixando a saudade em cada peito
lamentando o final desta jornada!

sábado, 14 de julho de 2012

Zé Lucas, Ademar Macedo e Prof. Garcia (Um Debate em Setilha Agalopada) Parte 4

91 - Zé Lucas
Nesta praia, que é sonho e que é prazer,
sinto o cheiro do mar em minha rua,
ouço o choque das ondas que se quebram
e o cantar da sereia seminua
que seduz o inocente pescador,
prometendo um castelo encantador,
e ele afunda no mar, olhando a Lua.

92 – Ademar
Pra enfeitar o céu Deus fez a Lua,
Ele fez o mar para os pescadores,
criou pássaros pra brincar na relva,
pra fazer trovas fez os trovadores;
trouxe fé e esperança aos mais tristonhos
fez a virgem que é pra viver de sonhos
e o poeta que é pra morrer de amores.

93 - Prof. Garcia
Deus querendo mostrar seus esplendores,
fez a bela plumagem do pavão,
o negrume das penas do urubu
mãe-da-lua, viver na solidão;
o tetéu dormir pouco e cantar bem,
a beleza do canto do vem-vem
e a corneta do canto do carão.

94 - Zé Lucas
Sertanejo sem terra, meu irmão,
cedo, acorda pra ver o sol raiar,
toma um simples café com tapioca,
beija alegre a rainha do seu lar,
que na cama singela tem um trono,
e pergunta: - quando é que vou ser dono
de um pedaço de chão para plantar?

95 – Ademar
Para mim Deus do Céu irá mandar
as sementes divinas da poesia,
e um roçado de verso agalopado
pra o terreno da mente Ele me envia;
e um inverno de rimas faz chover,
pra que eu possa plantar, depois colher
nesse chão, o meu pão de cada dia.

96 - Prof. Garcia
Assim que me levanto, todo dia,
logo aperto o rosário em minha mão,
ergo os olhos aos céus, faço uma prece,
peço a Deus a divina proteção;
bebo um bom copo d'água, e mato a sede,
beijo o rosto de Cristo na parede,
na moldura de um velho coração!

97 - Zé Lucas
Se chover poesia no sertão,
vou fazer meu chapéu de uma peneira,
pois não quero perder um pingo só
da fartura que desce na biqueira
e, pra o grande calor de minha febre,
eu arranco o telheiro do casebre;
quero é banho de verso a noite inteira!

98 – Ademar
Quero apenas, pra mim, uma goteira,
não precisa ser chuva intermitente;
alguns pingos trazendo inspiração
já gotejam em mim constantemente,
e uma chuva de verso a noite inteira,
me transforma no próprio Zé limeira
que foi grande poeta no repente.

99 - Prof. Garcia
Se chover poesia em minha mente,
minha roça do verso se renova:
vou plantar novidade em todo canto
e um poema na forma de uma trova;
pois, se não faltar chuva, nenhum dia,
nascerá no roçado da poesia
um repente bonito em cada cova.

100 - Zé Lucas
Uma roça bonita, grande e nova,
lá no alto sertão eu inda planto;
cavo a terra com a enxada da fartura,
ponho fé na semente, rezo ao santo
para que chova muito em meu roçado,
haja vagens de amor por todo lado
e haja espigas de paz em todo canto.

101 – Ademar
Nascem versos em mim por todo canto.
Eu já disse num mote improvisado
que os cabelos que nascem no meu corpo
têm nas pontas um verso pendurado;
e por eu ser um poeta do sertão,
nem preciso fazer adubação
pra nascer verso bom no meu roçado.

102 - Prof. Garcia
Com um poeta tão bom de cada lado,
meu repente não fica tão distante,
sou mais um menestrel buscando a rota
deste nosso momento itinerante;
percorrendo as veredas desta luta,
corro atrás da mais rara pedra bruta
e de um verso bem feito a todo instante.

103 - Zé Lucas
Se eu pudesse, da estrela mais distante,
ver de perto metade do infinito,
não seria somente um trovador,
mas o vulto fantástico de um mito
e, por certo, cantando nessa altura,
comporia, em meu sonho, a partitura
do poema que nunca foi escrito.

104 – Ademar
Dos poemas que eu fiz, o mais bonito,
onde o dom da poesia se revela,
foi num mote que deste para mim
inspirado no amor de uma donzela,
onde eu disse com voz quase divina:
“Se tiver que chorar, feche a cortina,
quando for pra sorri, abra a janela”.

105 - Prof. Garcia
Este mote, é a mais linda passarela,
onde a musa desfila todo dia,
é uma foto de triste despedida
e o retrato fiel de uma alegria;
tem a cara feliz de dois amantes,
traz o choro tristonho dos distantes
e a ternura do encanto da poesia.

106 - Zé Lucas
Outro mote que fiz, não lembro o dia,
talvez possa, também, merecer bis,
porque mostra que a vida tem primores,
mas tem coisas que deixam cicatriz,
e entre a dor que machuca e o amor que é lindo,
"se eu disser que não sofro estou mentindo,
mas não posso negar que sou feliz".

107 – Ademar
Outra estrofe bonita que eu já fiz,
a mais bela, talvez, da minha vida,
foi num mote criado por você
que escrevi com minh’alma enternecida,
e este mote dizia algo medonho:
“Quer matar um poeta, mate o sonho,
que o poeta sem sonho se liquida.”

108 - Prof. Garcia
Quando a voz de um poeta, se liquida,
fica a musa sofrendo na orfandade,
a tristeza batendo em cada porta
pranteando na dor da soledade;
e o poeta sem voz, desconsolado,
vê o sonho da vida sepultado
num jazigo de dor e de saudade!

109 - Zé Lucas
Vai ficando distante a mocidade
e eu não posso evitar, por mais que tente;
o passado se alonga a todo instante
e o futuro reduz-se de repente.
Já não sei se dirão que fiquei louco,
mas cem anos de vida é muito pouco
para os sonhos que tenho pela frente.

110 – Ademar
Ninguém sonha no mundo como a gente;
o poeta tanto sonha como faz.
Você sonha fazendo a trova linda,
lindos sonhos Garcia sempre traz;
e eu que sou um soldado fuzileiro,
sonho vendo no nosso mundo inteiro
todo mundo “lutando” pela paz!

111 - Prof. Garcia
Quem no mundo, faz tudo pela paz,
já é mais que herói, que vencedor,
vive um sonho, que pouca gente vive,
e alivia do peito tanta dor;
porque neste universo tão mesquinho,
quem plantar um espinho, colhe espinho,
mas quem planta uma flor, colhe uma flor!

112 - Zé Lucas
Neste mundo de Deus, por onde eu for,
buscarei praticar a lealdade;
viverei do suor de minha face,
pra fugir dos engodos da maldade,
pois meu pai me ensinou esta lição:
- a riqueza maldita do ladrão
dá prazeres, mas não felicidade!

113 – Ademar
Não conheço ninguém nesta cidade
mesmo tendo uma vida de apogeu,
carro novo, mansão, muito dinheiro
e outros bens que a vida já lhe deu,
que consiga viver no dia a dia
simplesmente fazendo poesia
e que seja feliz mais do que Eu.

114 - Prof. Garcia
Tudo quanto Jesus me concedeu,
sei que foi muito mais do que mereço,
se hoje a vida não anda cem por cento,
mesmo assim a Jesus eu agradeço;
porque tendo a riqueza que Deus quis,
sou amante de um mundo mais feliz
onde a vida é um eterno recomeço!

115 - Zé Lucas
Sou tratado por todos com apreço,
muito embora me julgue pequenino;
as grandezas terrenas não me iludem;
para o lado do orgulho não me inclino,
pois não quero ser vítima do estresse
de quem tem muito mais do que merece,
mas reclama de Deus e do destino.

116 – Ademar
Eu não vou reclamar do meu destino,
sou alegre demais e não padeço
apesar de ser hoje um mutilado
vivo muito feliz e reconheço,
não almejo mais nada conseguir,
o que Deus nos permite possuir,
eu já tenho até mais do que mereço.

117 - Prof. Garcia
Nas veredas do mundo, eu subo e desço,
mas às vezes, perdido, eu fico à-toa,
paro e penso nas garras do destino,
e na sorte, que tem cada pessoa;
porque sigo correndo em disparada,
levantando a poeira pela estrada,
na certeza que a vida também voa!

118 - Zé Lucas
Fico muito contente quando soa
o baião da viola nordestina
num alpendre singelo e acolhedor,
quando a noite inspirada descortina
sobre o cume das serras do sertão,
e era mais carregado de emoção
na brandura da luz da lamparina.

119 – Ademar
O bailado que faz a concertina
musicando um forró de Gonzagão,
ta guardado no vídeo da memória
que eu revejo repleto de emoção;
pois relembro demais dos tempos “ido”,
dos forrós que dancei no chão batido
das latadas, e alpendres do sertão.

120 - Prof. Garcia
Inda guardo as batidas do pilão,
com mamãe, de manhã, pilando arroz,
eu mais novo, mais forte e mais disposto,
no rojão, eu na frente, ela depois;
nunca vou me esquecer desta contenda,
o pilão do passado virou lenda,
mas não sai da memória de nós dois!