quinta-feira, 31 de julho de 2008

Guimarães Rosa (A Terceira Margem do Rio)

Nosso pai era homem cumpridor, ordeiro, positivo; e sido assim desde mocinho e menino, pelo que testemunharam as diversas sensatas pessoas, quando indaguei a informação. Do que eu mesmo me alembro, ele não figurava mais estúrdio nem mais triste do que os outros, conhecidos nossos. Só quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ralhava no diário com a gente — minha irmã, meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, nosso pai mandou fazer para si uma canoa.

Era a sério. Encomendou a canoa especial, de pau de vinhático, pequena, mal com a tabuinha da popa, como para caber justo o remador. Mas teve de ser toda fabricada, escolhida forte e arqueada em rijo, própria para dever durar na água por uns vinte ou trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra a idéia. Seria que, ele, que nessas artes não vadiava, se ia propor agora para pescarias e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa casa, no tempo, ainda era mais próxima do rio, obra de nem quarto de légua: o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira. E esquecer não posso, do dia em que a canoa ficou pronta.

Sem alegria nem cuidado, nosso pai encalcou o chapéu e decidiu um adeus para a gente. Nem falou outras palavras, não pegou matula e trouxa, não fez a alguma recomendação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia esbravejar, mas persistiu somente alva de pálida, mascou o beiço e bramou: — "Cê vai, ocê fique, você nunca volte!" Nosso pai suspendeu a resposta. Espiou manso para mim, me acenando de vir também, por uns passos. Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de vez de jeito. O rumo daquilo me animava, chega que um propósito perguntei: — "Pai, o senhor me leva junto, nessa sua canoa?" Ele só retornou o olhar em mim, e me botou a bênção, com gesto me mandando para trás. Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se indo — a sombra dela por igual, feito um jacaré, comprida longa.

Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, de meio a meio, sempre dentro da canoa, para dela não saltar, nunca mais. A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecia. Os parentes, vizinhos e conhecidos nossos, se reuniram, tomaram juntamente conselho.

Nossa mãe, vergonhosa, se portou com muita cordura; por isso, todos pensaram de nosso pai a razão em que não queriam falar: doideira. Só uns achavam o entanto de poder também ser pagamento de promessa; ou que, nosso pai, quem sabe, por escrúpulo de estar com alguma feia doença, que seja a lepra, se desertava para outra sina de existir, perto e longe de sua família dele. As vozes das notícias se dando pelas certas pessoas — passadores, moradores das beiras, até do afastado da outra banda — descrevendo que nosso pai nunca se surgia a tomar terra, em ponto nem canto, de dia nem de noite, da forma como cursava no rio, solto solitariamente. Então, pois, nossa mãe e os aparentados nossos, assentaram: que o mantimento que tivesse ocultado na canoa, se gastava; e, ele, ou desembarcava e viajava s'embora, para jamais, o que ao menos se condizia mais correto, ou se arrependia, por uma vez, para casa.

No que num engano. Eu mesmo cumpria de trazer para ele, cada dia, um tanto de comida furtada: a idéia que senti, logo na primeira noite, quando o pessoal nosso experimentou de acender fogueiras em beirada do rio, enquanto que, no alumiado delas, se rezava e se chamava. Depois, no seguinte, apareci, com rapadura, broa de pão, cacho de bananas. Enxerguei nosso pai, no enfim de uma hora, tão custosa para sobrevir: só assim, ele no ao-longe, sentado no fundo da canoa, suspendida no liso do rio. Me viu, não remou para cá, não fez sinal. Mostrei o de comer, depositei num oco de pedra do barranco, a salvo de bicho mexer e a seco de chuva e orvalho. Isso, que fiz, e refiz, sempre, tempos a fora. Surpresa que mais tarde tive: que nossa mãe sabia desse meu encargo, só se encobrindo de não saber; ela mesma deixava, facilitado, sobra de coisas, para o meu conseguir. Nossa mãe muito não se demonstrava.

Mandou vir o tio nosso, irmão dela, para auxiliar na fazenda e nos negócios. Mandou vir o mestre, para nós, os meninos. Incumbiu ao padre que um dia se revestisse, em praia de margem, para esconjurar e clamar a nosso pai o 'dever de desistir da tristonha teima. De outra, por arranjo dela, para medo, vieram os dois soldados. Tudo o que não valeu de nada. Nosso pai passava ao largo, avistado ou diluso, cruzando na canoa, sem deixar ninguém se chegar à pega ou à fala. Mesmo quando foi, não faz muito, dos homens do jornal, que trouxeram a lancha e tencionavam tirar retrato dele, não venceram: nosso pai se desaparecia para a outra banda, aproava a canoa no brejão, de léguas, que há, por entre juncos e mato, e só ele conhecesse, a palmos, a escuridão, daquele.

A gente teve de se acostumar com aquilo. Às penas, que, com aquilo, a gente mesmo nunca se acostumou, em si, na verdade. Tiro por mim, que, no que queria, e no que não queria, só com nosso pai me achava: assunto que jogava para trás meus pensamentos. O severo que era, de não se entender, de maneira nenhuma, como ele agüentava. De dia e de noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis de meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por todas as semanas, e meses, e os anos — sem fazer conta do se-ir do viver. Não pojava em nenhuma das duas beiras, nem nas ilhas e croas do rio, não pisou mais em chão nem capim. Por certo, ao menos, que, para dormir seu tanto, ele fizesse amarração da canoa, em alguma ponta-de-ilha, no esconso. Mas não armava um foguinho em praia, nem dispunha de sua luz feita, nunca mais riscou um fósforo. O que consumia de comer, era só um quase; mesmo do que a gente depositava, no entre as raízes da gameleira, ou na lapinha de pedra do barranco, ele recolhia pouco, nem o bastável. Não adoecia? E a constante força dos braços, para ter tento na canoa, resistido, mesmo na demasia das enchentes, no subimento, aí quando no lanço da correnteza enorme do rio tudo rola o perigoso, aqueles corpos de bichos mortos e paus-de-árvore descendo — de espanto de esbarro. E nunca falou mais palavra, com pessoa alguma. Nós, também, não falávamos mais nele. Só se pensava. Não, de nosso pai não se podia ter esquecimento; e, se, por um pouco, a gente fazia que esquecia, era só para se despertar de novo, de repente, com a memória, no passo de outros sobressaltos.

Minha irmã se casou; nossa mãe não quis festa. A gente imaginava nele, quando se comia uma comida mais gostosa; assim como, no gasalhado da noite, no desamparo dessas noites de muita chuva, fria, forte, nosso pai só com a mão e uma cabaça para ir esvaziando a canoa da água do temporal. Às vezes, algum conhecido nosso achava que eu ia ficando mais parecido com nosso pai. Mas eu sabia que ele agora virara cabeludo, barbudo, de unhas grandes, mal e magro, ficado preto de sol e dos pêlos, com o aspecto de bicho, conforme quase nu, mesmo dispondo das peças de roupas que a gente de tempos em tempos fornecia.

Nem queria saber de nós; não tinha afeto? Mas, por afeto mesmo, de respeito, sempre que às vezes me louvavam, por causa de algum meu bom procedimento, eu falava: — "Foi pai que um dia me ensinou a fazer assim..."; o que não era o certo, exato; mas, que era mentira por verdade. Sendo que, se ele não se lembrava mais, nem queria saber da gente, por que, então, não subia ou descia o rio, para outras paragens, longe, no não-encontrável? Só ele soubesse. Mas minha irmã teve menino, ela mesma entestou que queria mostrar para ele o neto. Viemos, todos, no barranco, foi num dia bonito, minha irmã de vestido branco, que tinha sido o do casamento, ela erguia nos braços a criancinha, o marido dela segurou, para defender os dois, o guarda-sol. A gente chamou, esperou. Nosso pai não apareceu. Minha irmã chorou, nós todos aí choramos, abraçados.

Minha irmã se mudou, com o marido, para longe daqui. Meu irmão resolveu e se foi, para uma cidade. Os tempos mudavam, no devagar depressa dos tempos. Nossa mãe terminou indo também, de uma vez, residir com minha irmã, ela estava envelhecida. Eu fiquei aqui, de resto. Eu nunca podia querer me casar. Eu permaneci, com as bagagens da vida. Nosso pai carecia de mim, eu sei — na vagação, no rio no ermo — sem dar razão de seu feito. Seja que, quando eu quis mesmo saber, e firme indaguei, me diz-que-disseram: que constava que nosso pai, alguma vez, tivesse revelado a explicação, ao homem que para ele aprontara a canoa. Mas, agora, esse homem já tinha morrido, ninguém soubesse, fizesse recordação, de nada mais. Só as falsas conversas, sem senso, como por ocasião, no começo, na vinda das primeiras cheias do rio, com chuvas que não estiavam, todos temeram o fim-do-mundo, diziam: que nosso pai fosse o avisado que nem Noé, que, por tanto, a canoa ele tinha antecipado; pois agora me entrelembro. Meu pai, eu não podia malsinar. E apontavam já em mim uns primeiros cabelos brancos.

Sou homem de tristes palavras. De que era que eu tinha tanta, tanta culpa? Se o meu pai, sempre fazendo ausência: e o rio-rio-rio, o rio — pondo perpétuo. Eu sofria já o começo de velhice — esta vida era só o demoramento. Eu mesmo tinha achaques, ânsias, cá de baixo, cansaços, perrenguice de reumatismo. E ele? Por quê? Devia de padecer demais. De tão idoso, não ia, mais dia menos dia, fraquejar do vigor, deixar que a canoa emborcasse, ou que bubuiasse sem pulso, na levada do rio, para se despenhar horas abaixo, em tororoma e no tombo da cachoeira, brava, com o fervimento e morte. Apertava o coração. Ele estava lá, sem a minha tranqüilidade. Sou o culpado do que nem sei, de dor em aberto, no meu foro. Soubesse — se as coisas fossem outras. E fui tomando idéia.

Sem fazer véspera. Sou doido? Não. Na nossa casa, a palavra doido não se falava, nunca mais se falou, os anos todos, não se condenava ninguém de doido. Ninguém é doido. Ou, então, todos. Só fiz, que fui lá. Com um lenço, para o aceno ser mais. Eu estava muito no meu sentido. Esperei. Ao por fim, ele apareceu, aí e lá, o vulto. Estava ali, sentado à popa. Estava ali, de grito. Chamei, umas quantas vezes. E falei, o que me urgia, jurado e declarado, tive que reforçar a voz: — "Pai, o senhor está velho, já fez o seu tanto... Agora, o senhor vem, não carece mais... O senhor vem, e eu, agora mesmo, quando que seja, a ambas vontades, eu tomo o seu lugar, do senhor, na canoa!..." E, assim dizendo, meu coração bateu no compasso do mais certo.

Ele me escutou. Ficou em pé. Manejou remo n'água, proava para cá, concordado. E eu tremi, profundo, de repente: porque, antes, ele tinha levantado o braço e feito um saudar de gesto — o primeiro, depois de tamanhos anos decorridos! E eu não podia... Por pavor, arrepiados os cabelos, corri, fugi, me tirei de lá, num procedimento desatinado. Porquanto que ele me pareceu vir: da parte de além. E estou pedindo, pedindo, pedindo um perdão.

Sofri o grave frio dos medos, adoeci. Sei que ninguém soube mais dele. Sou homem, depois desse falimento? Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo. Mas, então, ao menos, que, no artigo da morte, peguem em mim, e me depositem também numa canoinha de nada, nessa água que não pára, de longas beiras: e, eu, rio abaixo, rio a fora, rio a dentro — o rio.

Fonte:
ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1988.
Fotomontagem: José Feldman

Guimarães Rosa (O Cavalo que Bebia Cerveja)

Essa chácara do homem ficava meio ocultada, escurecida pelas árvores, que nunca se viu plantar tantas em roda de uma casa. Era homem estrangeiro. De minha mãe ouvi como, no ano da espanhola, ele chegou acautelado e espantado, para adquirir aquele lugar de todo defendimento; e a morada, donde de qualquer janela alcançasse de vigiar a distância, mãos na espingarda; nesse tempo, não sendo ainda tão gordo, de fazer nojo. Falavam que comia a quanta imundície: caramujo, até rã, com as braçadas de alfaces, embebidas num balde de água. Ver, que almoçava e jantava, da parte de fora, sentado na soleira da porta, o balde entre suas grossas pernas, no chão, mais as alfaces; tirante que, a carne, essa, legítima de vaca, cozinhada. Demais gastasse era com cerveja, que não bebia à vista da gente. Eu passava por lá, ele me pedia: — "Irivalíni, bisonha outra garrafa, é para o cavalo..." Não gosto de perguntar, não achava graça. Às vezes eu não trazia, às vezes trazia, e ele me indenizava o dinheiro, me gratificando. Tudo nele me dava raiva. Não aprendia a referir meu nome direito. Desfeita ou ofensa, não sou de perdoar — a nenhum de nenhuma.

Minha mãe e eu sendo das poucas pessoas que atravessávamos por diante da porteira, para pegar a pinguela do riacho. — "Dei'stá, coitado, penou na guerra..." — minha mãe explicando. Ele se rodeava de diversos cachorros, graúdos, para vigiarem a chácara. De um, mesmo não gostasse, a gente via, o bicho em sustos, antipático — o menos bem tratado; e que fazia, ainda assim, por não se arredar de ao pé dele, estava, a toda a hora, de desprezo, chamando o endiabrado do cão: por nome "Mussulino". Eu remoia o rancor: de que, um homem desses, cogotudo, panturro, rouco de catarros, estrangeiro às náuseas — se era justo que possuísse o dinheiro e estado, vindo comprar terra cristã, sem honrar a pobreza dos outros, e encomendando dúzias de cerveja, para pronunciar a feia fala. Cerveja? Pelo fato, tivesse seus cavalos, os quatro ou três, sempre descansados, neles não amontava, nem agüentasse montar. Nem caminhar, quase, não conseguia. Cabrão! Parava pitando, uns charutos pequenos, catinguentos, muito mascados e babados. Merecia um bom corrigimento. Sujeito sistemático, com sua casa fechada, pensasse que todo o mundo era ladrão.

Isto é, minha mãe ele estimava, tratava com as benevolências. Comigo, não adiantava — não dispunha de minha ira. Nem quando minha mãe grave adoeceu, e ele ofertou dinheiro, para os remédios. Aceitei; quem é que vive de não? Mas não agradeci. Decerto ele tinha remorso, de ser estrangeiro e rico. E, mesmo, não adiantou, a santa de minha mãe se foi para as escuridões, o danado do homem se dando de pagar o enterro. Depois, indagou se eu queria vir trabalhar para ele. Sofismei, o quê. Sabia que sou sem temor, em meus altos, e que enfrento uns e outros, no lugar a gente pouco me encarava. Só se fosse para ter a minha proteção, dia e noite, contra os issos e vindiços. Tanto, que não me deu nem meio serviço por cumprir, senão que eu era para burliquear por lá, contanto que com as armas. Mas, as compras para ele, eu fazia. — "Cerveja, Irivalíni. É para o cavalo..." — o que dizia, a sério, naquela língua de bater ovos. Tomara ele me xingasse! Aquele homem ainda havia de me ver.

Do que mais estranhei, foram esses encobrimentos. Na casa, grande, antiga, trancada de noite e de dia, não se entrava; nem para comer, nem para cozinhar. Tudo se passava da banda de cá das portas. Ele mesmo, figura que raras vezes por lá se introduzia, a não ser para dormir, ou para guardar a cerveja — ah, ah, ah — a que era para o cavalo. E eu, comigo: — "Tu espera, porco, para se, mais dia menos dia, eu não estou bem aí, no haja o que há!" Seja que, por essa altura, eu devia ter procurado as corretas pessoas, narrar os absurdos, pedindo providências, soprar minhas dúvidas. O que fácil não fiz. Sou de nem palavras. Mas, por aí, também, apareceram aqueles — os de fora.

Sonsos os dois homens, vindos da capital. Quem para eles me chamou, foi o seo Priscílio, subdelegado. Me disse: — "Reivalino Belarmino, estes aqui são de autoridade, por ponto de confiança." E os de fora, me pegando à parte, puxaram por mim, às muitas perguntas. Tudo para tirar tradição do homem, queriam saber em pautas ninharias. Tolerei que sim; mas nada não fornecendo. Quem sou eu, quati, para cachorro me latir? Só cismei escrúpulos, pelas más caras desses, sujeitos embuçados, salafrados também. Mas, me pagaram, o bom quanto. O principal deles dois, o de mão no queixo, me encarregou: que, meu patrão, sendo homem muito perigoso, se ele vivia mesmo sozinho? E que eu reparasse, na primeira ocasião, se ele não tinha numa perna, embaixo, sinal velho de coleira, argolão de ferro, de criminoso fugido de prisão. Pois sim, piei prometi.

Perigoso, para mim? — ah, ah. Pelo que, vá, em sua mocidade, podendo ter sido homem. Mas, agora, em pança, regalão, remanchão, somente quisesse a cerveja — para o cavalo. Desgraçado, dele. Não que eu me queixasse, por mim, que nunca apreciei cerveja; gostasse, comprava, bebia, ou pedia, ele mesmo me dava. Ele falava que também não gostava, não. De verdade. Consumia só a quantidade de alfaces, com carne, boquicheio, enjooso, mediante muito azeite, lambia que espumava. Por derradeiro, estava meio estramontado, soubesse da vinda dos de fora? Marca de escravo em perna dele, não observei, nem fiz por isso. Sou lá serviçal de meirinho-mor, desses, excogitados, de tantos visares? Mas eu queria jeito de entender, nem que por uma fresta, aquela casa, debaixo de chaves, espreitada. Os cachorros já estando mansos amigáveis. Mas, parece que seo Giovânio desconfiou. Pois, por minha hora de surpresa, me chamou, abriu a porta. Lá dentro, até fedia a coisa sempre em tampa, não dava bom ar. A sala, grande, vazia de qualquer amobiliado, só para espaços. Ele, nem que de propósito, me deixou olhar à minha conta, andou comigo, por diversos cômodos, me satisfiz. Ah, mas, depois, cá comigo, ganhei conselho, ao fim da idéia: e os quartos? Havia muitos desses, eu não tinha entrado em todos, resguardados. Por detrás de alguma daquelas portas, pressenti bafo de presença — só mais tarde? Ah, o carcamano queria se birbar de esperto; e eu não era mais?

Demais que uns dias depois se soube de ouvidos, tarde da noite, diferentes vezes, galopes no ermo da várzea, de cavaleiro saído da porteira da chácara. Pudesse ser? Então, o homem tanto me enganava, de formar uma fantasmagoria, de lobisomem. Só aquela divagação, que eu não acabava de entender, para dar razão de alguma coisa: se ele tivesse, mesmo, um estranho cavalo, sempre escondido ali dentro, no escuro da casa?

Seo Priscílio me chamou, justo, outra vez, naquela semana. Os de fora estavam lá, de colondria, só entrei a meio na conversa; um deles dois, escutei que trabalhava para o "Consulado". Mas contei tudo, ou tanto, por vingança, com muito caso. Os de fora, então, instaram com seo Priscílio. Eles queriam permanecer no oculto, seo Priscílio devia de ir sozinho. Mais me pagaram.

Eu estava por ali, fingindo não ser nem saber, de mão-posta. Seo Priscílio apareceu, falou com seo Giovânio: se que estórias seriam aquelas, de um cavalo beber cerveja? Apurava com ele, apertava. Seo Giovânio permanecia muito cansado, sacudia devagar a cabeça, fungando o escorrido do nariz, até o toco do charuto; mas não fez mau rosto ao outro. Passou muito a mão na testa: — "Lei, guer ver?" Saiu, para surgir com um cesto com as garrafas cheias, e uma gamela, nela despejou tudo, às espumas. Me mandou buscar o cavalo: o alazão canela-clara, bela-face. O qual — era de se dar a fé? — já avançou, avispado, de atreitas orelhas, arredondando as ventas, se lambendo: e grosso bebeu o rumor daquilo, gostado, até o fundo; a gente vendo que ele já era manhudo, cevado naquilo! Quando era que tinha sido ensinado, possível? Pois, o cavalo ainda queria mais e mais cerveja. Seo Priscílio se vexava, no que agradeceu e se foi. Meu patrão assoviou de esguicho, olhou para mim: "Irivalíni, que estes tempos vão cambiando mal. Não laxa as armas!" Aprovei. Sorri de que ele tivesse as todas manhas e patranhas. Mesmo assim, meio me desgostava.

Sobre o tanto, quando os de fora tornaram a vir, eu falei, o que eu especulava: que alguma outra razão devia de haver, nos quartos da casa. Seo Priscílio, dessa vez, veio com um soldado. Só pronunciou: que queria revistar os cômodos, pela justiça! Seo Giovânio, em pé de paz, acendeu outro charuto, ele estava sempre cordo. Abriu a casa, para seo Priscílio entrar, o soldado; eu, também. Os quartos? Foi direto a um, que estava duro de trancado. O do pasmoso: que, ali dentro, enorme, só tinha o singular — isto é, a coisa a não existir! — um cavalão branco, empalhado. Tão perfeito, a cara quadrada, que nem um de brinquedo, de menino; reclaro, branquinho, limpo, crinado e ancudo, alto feito um de igreja — cavalo de São Jorge. Como podiam ter trazido aquilo, ou mandado vir, e entrado ali acondicionado? Seo Priscílio se desenxaviu, sobre toda a admiração. Apalpou ainda o cavalo, muito, não achando nele oco nem contento. Seo Giovânio, no que ficou sozinho comigo, mascou o charuto: — "Irivalíni, pecado que nós dois não gostemos de cerveja, hem?" Eu aprovei. Tive a vontade de contar a ele o que por detrás estava se passando.

Seo Priscílio, e os de fora, estivessem agora purgados de curiosidades. Mas eu não tirava o sentido disto: e os outros quartos, da casa, o atrás de portas? Deviam ter dado a busca por inteiro, nela, de uma vez. Seja que eu não ia lembrar esse rumo a eles, não sou mestre de quinaus. Seo Giovânio conversava mais comigo, banzativo: — "Irivalíni, eco, a vida é bruta, os homens são cativos..." Eu não queria perguntar a respeito do cavalo branco, frioleiras, devia de ter sido o dele, na guerra, de suma estimação. — "Mas, Irivalíni, nós gostamos demais da vida..." Queria que eu comesse com ele, mas o nariz dele pingava, o ranho daquele monco, fungando, em mal assôo, e ele fedia a charuto, por todo lado. Coisa terrível, assistir aquele homem, no não dizer suas lástimas. Saí, então, fui no seo Priscílio, falei: que eu não queria saber de nada, daqueles, os de fora, de coscuvilho, nem jogar com o pau de dois bicos! Se tornassem a vir, eu corria com eles, despauterava, escaramuçava — alto aí! — isto aqui é Brasil, eles também eram estrangeiros. Sou para sacar faca e arma. Seo Priscílio sabia. Só não soubesse das surpresas.

Sendo que foi de repente. Seo Giovânio abriu de em par a casa. Me chamou: na sala, no meio do chão, jazia um corpo de homem, debaixo de lençol. — "Josepe, meu irmão"... - ele me disse, embargado. Quis o padre, quis o sino da igreja para badalar as vezes dos três dobres, para o tristemente. Ninguém tinha sabido nunca o qual irmão, o que se fechava escondido, em fuga da comunicação das pessoas. Aquele enterro foi muito conceituado. Seo Giovânio pudesse se gabar, ante todos. Só que, antes, seo Priscílio chegou, figuro que os de fora a ele tinham prometido dinheiro; exigiu que se levantasse o lençol, para examinar. Mas, aí, se viu só o horror, de nós todos, com caridade de olhos: o morto não tinha cara, a bem dizer — só um buracão, enorme, cicatrizado antigo, medonho, sem nariz, sem faces — a gente devassava alvos ossos, o começo da goela, gargomilhos, golas. — "Que esta é a guerra..." — seu Giovânio explicou — boca de bobo, que se esqueceu de fechar, toda doçuras.

Agora, eu queria tomar rumo, ir puxando, ali não me servia mais, na chácara estúrdia e desditosa, com o escuro das árvores, tão em volta. Seo Giovânio estava da banda de fora, conforme seu costume de tantos anos. Mais achacoso, envelhecido, subitamente, no trespassamento da manifesta dor. Mas comia, sua carne, as cabeças de alfaces, no balde, fungava. — "Irivalíni... que esta vida... bisonha. Caspité?" — perguntava, em todo tom de canto. Ele avermelhadamente me olhava. — "Cá eu pisco..." — respondi. Não por nojo, não dei um abraço nele, por vergonha, para não ter também as vistas lagrimadas. E, então, ele fez a mais extravagada coisa: abriu cerveja, a que quanta se espumejasse. — "Andamos, Irivalíni, contadino, bambino?" — propôs. Eu quis. Aos copos, aos vintes e trintas, eu ia por aquela cerveja, toda. Sereno, ele me pediu para levar comigo, no ir-m'embora, o cavalo — alazão bebedor — e aquele tristoso cachorro magro, Mussulino.

Não avistei mais o meu Patrão. Soube que ele morreu, quando em testamento deixou a chácara para mim. Mandei erguer sepulturas, dizer as missas, por ele, pelo irmão, por minha mãe. Mandei vender o lugar, mas, primeiro, cortarem abaixo as árvores, e enterrar no campo o trem, que se achava, naquele referido quarto. Lá nunca voltei. Não, que não me esqueço daquele dado dia — o que foi uma compaixão. Nós dois, e as muitas, muitas garrafas, na hora cismei que um outro ainda vinha sobrevir, por detrás da gente, também, por sua parte: o alazão façalvo; ou o branco enorme, de São Jorge; ou o irmão, infeliz medonhamente. Ilusão, que foi, nenhum ali não estava. Eu, Reivalino Belarmino, capisquei. Vim bebendo as garrafas todas, que restavam, faço que fui eu que tomei consumida a cerveja toda daquela casa, para fecho de engano.

Fonte:
ROSA, João Guimarães. Primeiras Estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1988.

Charles Baudelaire (O Mau Vidraceiro)

Existem naturezas puramente contemplativas e totalmente impróprias para a ação que, no entanto, sob uma impulsão misteriosa e desconhecida, agem às vezes com uma rapidez de que elas próprias se julgariam incapazes.

Como aquele que, temendo encontrar com o zelador uma notícia aflitiva, ronda covardemente durante uma hora frente à porta da casa sem ousar entrar, como aquele que guarda durante quinze dias uma carta sem abri-la, ou só ao fim de seis meses se conforma em efetuar um empreendimento necessário desde um ano, elas se sentem às vezes bruscamente precipitadas para a ação por uma força irresistível, como a flecha de um arco. O moralista e o médico, que afirmam saber de tudo, não podem explicar de onde vem tão de súbito uma louca energia nessas almas preguiçosas e voluptuosas, e como é que elas, incapazes de cumprir as coisas mais simples e mais necessárias, encontram em dado momento uma coragem de luxo para executar os atos mais absurdos e até, muitas vezes, os mais perigosos.

Um dos meus amigos, o mais inofensivo sonhador que já existiu, ateou fogo uma vez a uma floresta, para ver, dizia, se o fogo pegava com tal facilidade como se afirma comumente. Dez vezes consecutivas a experiência falhou; mas, na décima primeira, foi por demais bem sucedida.

Outro irá acender um charuto ao lado de um barril de pólvora, para ver, para saber, para tentar o destino, para se forçar a si mesmo a dar provas de energia, para se fazer de jogador, para conhecer os prazeres da ansiedade, por nada, por capricho, por desocupação.

É uma espécie de energia que jorra do tédio e do devaneio; e aqueles nos quais ela se manifesta tão inopinadamente são, geralmente, como eu disse, os mais indolentes e sonhadores dos seres.

Outro, tímido a ponto de abaixar os olhos mesmo diante dos olhares dos homens, a ponto de ser-lhe preciso ajuntar toda a sua pobre vontade para entrar num bar ou passar diante de uma bilheteria de teatro, onde os fiscais lhe parecem investidos da majestade de Minos, Éaco e Radamanto, se jogará bruscamente nos braços de um ancião que estiver passando ao seu lado, e o beijará com entusiasmo diante da multidão espantada.

Por quê? Porque... porque essa fisionomia lhe era irresistivelmente simpática? Talvez; mais é mais legítimo supor que ele próprio não saiba por quê.

Fui vítima, mais uma vez, dessas crises e desses impulsos, que nos autorizam a crer que Demônios maliciosos se insinuam dentro de nós e nos fazem cumprir, à revelia, suas mais absurdas vontades.

Certa manhã, eu me levantara aborrecido, triste, cansado de ociosidade e levado, me parecia, a fazer algo, grande, uma ação de brilho; e abri a janela, infelizmente!

(Queiram observar, por favor, que o espírito de mistificação, que em certas pessoas não é resultado de um trabalho ou de uma combinação, mas de uma inspiração fortuita, tem parte, muito, mesmo que apenas ardor do desejo, neste humor, histérico segundo os médicos, satânico segundo aqueles que pensam um pouco melhor do que os médicos, que nos empurra sem resistência para uma série de ações perigosas ou inconvenientes.)

A primeira pessoa que avistei na rua foi um vidraceiro cujo grito penetrante, dissonante, me veio através da pesada e suja atmosfera parisiense.

Me seria, aliás, impossível dizer por que fui tomado, em relação a esse pobre homem, de um ódio tão repentino quanto despótico.

"Ei, ei" e eu lhe gritei que subisse.

Entretanto eu refletia, não sem certa alegria, que o quarto encontrando-se no sexto andar e sendo a escada bastante estreita, o homem deveria estar experimentando certa dificuldade em efetuar sua ascensão, e esbarrando em diversos lugares os ângulos de sua frágil mercadoria.

Ele enfim apareceu: examinei com curiosidade todas as suas vidraças, e lhe disse: "Mas como? Você não tem vidros coloridos? Vidros cor-de-rosa, vermelhos, azuis, vidros mágicos, vidros de paraíso? Que atrevido é você! Ousa passear pelos bairros pobres e nem mesmo possui vidros que tornem a vida bela de ser ver!"

E o empurrei com vivacidade para a escada na qual tropeçou resmungando. Aproximei-me da sacada e agarrei um vasinho de flores e, quando o homem reapareceu no vão da porta, deixei cair perpendicularmente meu engenho de guerra na borda traseira de suas forquilhas; e derrubado pelo choque, ele acabou de destroçar sob suas costas toda a sua pobre fortuna inconstante, que produziu o ruído estrondoso de um palácio de cristal atingido por um raio.

E, embriagado por minha loucura, gritei-lhe furiosamente:

"A vida bela de se ver! A vida bela de se ver!"

Essas brincadeiras nervosas não são isentas de perigo, e pode-se às vezes pagar caro por elas. Mas o que importa a eternidade da danação a quem encontrou num segundo o infinito da fruição?

Fontes:
http://www.gargantadaserpente.com
Boletim Cultural Singrando Horizontes n.12 – março 2008

Artur da Távola (Conversa de Avô)

Sempre que um avô (ou avó) despede-se de um neto alguma coisa boa fica a doer por dentro. Essa cosquinha interior de sabor divino fica a misturar-se com a saudade antecipada do neto e também da vida. Quem saberá definir esse sentimento de deliciosa dorzinha cosquinhenta, a de contemplar a infância encantada dos netos a misturar-se com nosso episódio pessoal em tempos de gradual despedida da vida?

O neto é um filho com quem se relaciona sem ansiedade. É suave, é bom, é benfazejo esse amar solto e compreensivo, sem a aflição e as dúvidas de quem educa diretamente. Tudo isso em um tempo no qual já se está a compreender muito melhor a vida, a alma infantil, tendo aprendido a “ler” sutilezas de caráter e comportamento que os pais nem sempre sabem ver. Ver e orientar sem que o neto perceba. E sem especiais compromissos com “ter que acertar”. Ah a maravilha de compreender a aflição de uma criança e saber aplacá-la com calma e doçura! E no entanto, toda essa sabedoria, superioridade e segurança avoengas, dissipa-se no instante em que o neto ou neta fazem alguma manifestação de amor ou gratidão. Vira-se sorvete num sol de 40 graus

Os netos nos tornam filosóficos. Diante deles, suas brincadeiras e as marcas de semelhanças esparsas conosco ou outros ancestrais, que aos poucos vão ficando claras, medita-se sobre si mesmo, somos ainda mais gratos a nossos pais e avós, melhor compreendemos nosso papel nesta vida. Cessam paixões e opiniões que ás vezes nos levam a discussões ou a defesas acentuadas de pontos de vista, tudo cessa diante do mistério da procriação ali patente, diante de nós e se infiltra na alma a suave sensação de missão biológica cumprida.

O grande segredo da vida é a compreensão. Compreender é muito difícil. Em geral, interpomos as nossas crenças e opiniões entre nós e os outros, fechando-nos para esse novo que é receber o que nos chegue da vida sem classificar, com a alma aberta. A idade traz compreensão à custa de experiências vividas e sofridas. A inteligência e a sensibilidade ajudam. A empatia também. O mundo de quem compreende é menos agressivo e bem melhor. “Tudo compreender é tudo perdoar”, dizem os castelhanos com razão. Os netos nos ensinam a compreender muito do que, com os filhos, fomos incapazes, e, assim, fazem-nos seres melhores e mais felizes.

Difícil, com os netos é a dor que se mistura ao sabor da convivência, quando se vão para casa. A gente vê um bichinho daqueles amarrado na cadeira que fica no banco de trás do carro do filho. E o carro parte para um desconhecido onde existe uma cidade agressiva, um mundo de guerra e intolerância. E enquanto perdura o perfume de alma que os netos ou netas nos deixam, paradoxalmente a gente se sente muito mais só do que o habitual. Pululam pensamentos dolorosos – quê fazer?- sobre se teremos ainda muitos anos com eles, podendo vê-los crescer, ou se alguma trama do destino nos espreita (ou a eles) para levar da vida antes da hora.

Ah os netos! Quantas lições.

Fonte:
http://www.arturdatavola.com/Cronicas_2.html#Avo

quarta-feira, 30 de julho de 2008

9º Concurso de Literatura - Poesia, Crônica, Conto - de Canoas (RS)


Prazo: 31 de julho de 2008

A FUNDAÇÃO CULTURAL DE CANOAS promove o 9° Concurso de Literatura - Poesia, Crônica, Conto, com a finalidade de incentivar, promover e premiar o talento dos autores de Canoas, assim como de outras cidades do Rio Grande do Sul, do Brasil e de outros países.

A abertura do Concurso no Brasil e exterior para a entrega dos trabalhos (exceto Canoas/RS) será no dia 8 de maio de 2008. A abertura oficial do Concurso no município de Canoas será em junho, durante a Feira Municipal do Livro. O escritor Cícero Galeno Lopes será o homenageado do Concurso.

1. Regulamento:

1.1 Poderão inscrever-se autores do Brasil e de qualquer nacionalidade, desde que enviem o texto em português (Brasil) nos gêneros conto, crônica e poesia.
1.2 A Fundação Cultural de Canoas receberá inscrições ao Concurso até o dia 31 (trinta e um) de julho de 2008, em sua sede, localizada na Av. Victor Barreto, 2301, Canoas/RS, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, ou através de correio postal.
1.3 Cada candidato poderá concorrer com até 2 (dois) trabalhos de cada gênero, não sendo permitidos trabalhos já publicados (inclusive na internet) ou premiados, nem serão aceitos plágios de outros trabalhos. O responsável por plágio será desclassificado e, se premiado, obrigado a devolver o prêmio que tiver recebido.
1.4 Os trabalhos, em três vias, papel formato A4 (297 x 210) com título, páginas numeradas, rubricadas e sob pseudônimo, em fonte Times New Romam, corpo 12, espaço interlinear 1,5. Os trabalhos deverão ser enviados em envelope fechado.
1.5 Um CD com os respectivos arquivos gravados em formato .doc (Word) deve acompanhar os trabalhos. (Todos no mesmo CD).
1.6 Um envelope anexo, opaco e rigorosamente fechado, conterá externamente, o pseudônimo do concorrente e o título do trabalho; internamente, a ficha de inscrição com o nome completo e verdadeiro, o número da Carteira de Identidade, CPF, endereço, email, local e data de nascimento do autor, juntamente com um breve currículo. Na ficha de inscrição deverá constar a assinatura do concorrente autorizando a Fundação Cultural de Canoas a publicar coletânea com o(s) trabalho(s) do autor, caso seja premiado.
1.7 Para os trabalhos enviados pelo correio considerar-se-á, para efeito de atendimento ao prazo de encerramento das inscrições, a data da postagem. A Fundação não se responsabilizará por extravio ou danos por acondicionamento inadequado ou incorreto de qualquer original.
1.8 Os originais não serão devolvidos.
1.9 No caso de usar o correio postal, enderece para Fundação Cultural de Canoas, Av. Víctor Barreto, n° 2301 , CEP 92010-000, Canoas, RS, Brasil.

2. Seleção e Premiação

2.1 Os trabalhos serão avaliados até 2 (dois) de setembro de 2008, por uma comissão formada por 3 (três) escritores ou estudiosos de cada um dos gêneros literários, indicados pela Fundação Cultural de Canoas.
2.2 A comissão terá liberdade de julgamento, sob os aspectos técnicos e estéticos dos trabalhos, sendo-lhe facultado negar a concessão de prêmios, desde que não encontre, nos trabalhos inscritos, méritos suficientes para a premiação.
2.3 A premiação consistirá no seguinte: O primeiro colocado de cada gênero receberá 100 (cem) exemplares da coletânea que será editada com os trabalhos premiados; o segundo, 50 (cinqüenta); o terceiro 30 (trinta) e as três menções honrosas de cada categoria, 5 (cinco) exemplares. Todos os participantes receberão certificado de participação.
2.4 Independente da premiação geral do Concurso, serão concedidos mais três prêmios:10 (dez) exemplares da coletânea para cada autor canoense que apresentar o melhor trabalho em conto, crônica e poesia.
2.5 O resultado geral será divulgado pela imprensa, pelo sítio da Fundação na internet: www.fundacan.com.br. Os premiados serão cientificados através de correspondência, e os prêmios serão entregues até janeiro de 2009.
2.6 Não poderão concorrer pessoas que exerçam cargos ou funções na Fundação Cultural de Canoas.
2.7 A entrega dos originais ou sua remessa juntamente com a ficha de inscrição, implicará na aceitação, por parte do concorrente, de todas as normas do presente Regulamento.Os casos omissos serão resolvidos pela Comissão Organizadora.

Mais informações: Fundação Cultural de Canoas , http://www.fundacan.com.br/literatura/conclit.html
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Fontes:
http://www.concursosliterarios.com.br/lermais_materias.php?cd_materias=230

7º Concurso de Contos


Desde 2002, o Instituto Popular de Arte e Educação e Biblioteca Leverdógil de Freitas vêm realizando concursos de contos com o objetivo de formação e divulgação de trabalhos que estão sendo produzidos.

Através da narração de um conto, o escritor pode mostrar seu mundo, interior ou exterior. Esse fato permite ao leitor, por outro lado, ver a si mesmo ou alguém de suas relações na história narrada.

Esse processo de identificação é alcançado por meio da sensibilidade despertada pelo texto naquele que lê, que, ao entrar em contato com a narrativa, desperta seu imaginário, desprendendo-se do real e entrando no mundo fictício criado pelo autor.

Por essa razão, Mempo Giardianelli diz: “Todo bom conto deve tocar alguma fileira íntima do leitor. Necessariamente”.

As características primordiais do conto devem confluir para causar impacto no leitor. Assim, um conto deve juntar imaginação e sentimento, através de uma estrutura de sustentação da narrativa que abrigue poucas personagens, apenas aquelas imprescindíveis ao entendimento do conflito, deve apresentar unidade de tempo, de espaço e de tom.

A extensão reduzida dessa modalidade literária permite a impressão de efeito único, de concentração, de intensidade ou tensão, fatores que levam o leitor a gostar do que lê.
Juçara Benvenutti

Inscrições: 4 de agosto a 31 de outubro de 2008
Premiação: 20 de dezembro de 2008

Mais informações acesse o site: http://www.ipdae.org/index.php

REGULAMENTO

I – Da inscrição:

1- As inscrições serão realizadas no período de 04 de agosto a 31 de outubro de 2008.
2- O concurso abrange o público juvenil, de 13 a 17 anos, e o público adulto, de 18 em diante.
3- O tema do concurso é livre e cada participante poderá enviar até 03 (três) contos.
4- Serão considerados válidos para o concurso somente contos originais e inéditos.
5- As inscrições são inteiramente gratuitas.

II – Sobre o envio:

1- Cada conto não pode ultrapassar de 3 (três) laudas A4, espaço simples, usando formato de letra Arial ou Times New Roman, fonte 12.

2- O(s) conto(s) deverá(ão) ser entregue(s) em 5 (cinco) vias, digitados ou datilografados. Não serão aceitas cópias manuscritas.

3- Em cada cópia do(s) conto(s) deverá constar apenas o título do trabalho e o pseudônimo do autor.

4- O participante deverá enviar, em anexo, uma folha contendo os seguintes dados:
a) Nome Completo;
b) Endereço completo, incluindo CEP;
c) Telefone para contato e e-mail, se houver;
d) Profissão;
e) Data de nascimento e idade;
f) Título(s) do(s) conto(s);
g) Pseudônimo do participante.

5- O material deverá ser entregue na sede da Biblioteca Leverdógil de Freitas, Av. João de Oliveira Remião, 7.193, Parada 18, Lomba do Pinheiro, Porto Alegre- RS, CEP 91560-000, ou remetidos via correio, postados até o último dia do período de inscrições.

6- Os trabalhos que não contiverem necessariamente as informações estabelecidas no regulamento serão automaticamente desclassificados.

7- O material enviado não será devolvido.

III – Da seleção:

1- As obras inscritas serão analisadas por uma comissão formada por professores, escritores, jornalistas e críticos literários, nomeados pelo IPDAE.

2- A seleção dos contos será feita no período de 10 a 28 de novembro de 2008.

3- Serão selecionados 10 (dez) contos de cada público (Juvenil e Adulto).

4- Os contos selecionados serão publicados em uma coletânea.
5- Uma vez selecionados, os participantes estarão fazendo a cessão de diretos de publicação.

IV – Do resultado:

1- O resultado do 7º Concurso de Contos estará disponível a partir do dia 1ª de dezembro de 2008 na Biblioteca Leverdógil de Freitas e no nosso site (www.ipdae.org).

V – Da premiação:

1- A premiação consistirá na entrega de certificados a ser realizado no 20 de dezembro, sábado, às 16h, na sede na Biblioteca Leverdógil de Freitas, e na publicação dos trabalhos.

Comissão de organização do 7º Concurso de Contos
Cláudia Feijó, Ediane Gheno, Fátima Flores, Luiz Conte, Luiz Miguel Lisboa, Kamila Ail da Costa, Maria Hedy, L. Pandolfi, Rafael Mendes Dias e Vera Adalgiza Alves.

Fontes:
http://www.concursosliterarios.com.br/
http://www.ipdae.org/

Luis da Câmara Cascudo (1898 - 1986)

Luís da Câmara Cascudo (Natal, 30 de dezembro de 1898 — Natal, 30 de julho de 1986) foi um historiador, folclorista, antropólogo, advogado e jornalista brasileiro.

Foi Profº. de Direito Internacional Público, História da Música e Etnologia Geral na Universidade do Rio Grande do Norte e, o primeiro director do Instituto de Antropologia da mesma universidade. É autor de muitos e valiosos trabalhos indispensáveis aos estudos nos domínios da história, da etnografia e do folclore brasileiro.

Escritor e folclorista potiguar. É um dos mais importantes pesquisadores das raízes étnicas do Brasil e autor do Dicionário do Folclore Brasileiro (1954), a primeira reunião sistemática e crítica do acervo folclórico brasileiro. Começa a trabalhar no jornal do pai, A Imprensa, em Natal. Entra para a faculdade de medicina na Bahia, mas é obrigado a abandonar a escola por falta de dinheiro. Em 1928 forma-se pela Faculdade de Direito do Recife e, no mesmo ano, conclui o curso de etnografia na Faculdade de Filosofia do Rio Grande do Norte. Dedica-se a escrever a história da cidade de Natal e a estudos nas áreas de folclore, etnografia, crítica literária e história. Cruza o folclore com a literatura pesquisando a influência de Dante Alighieri, de Don Quixote, de Miguel de Cervantes, e da literatura oral francesa na tradição popular do Brasil.

Durante a década de 1930, em combate e contraponto à influência marxista que viria a desaguar na Intentona Comunista de 1935, quando Natal foi palco e sede do primeiro governo marxista da América Latina, Cascudo aderiu ao integralismo brasileiro e foi membro destacado e Chefe Regional da Ação Integralista Brasileira - AIB, o movimento cívico-político nacionalista de cunho fascista, exercendo enorme influência com a sua doutrina na elite intelectual potiguar. Fiel ao seu pensamento antimarxista, apoiou o Golpe Militar de 31 de Março de 1964. Foi monarquista durante toda a sua vida.

Produz, em 1951, um importante trabalho sobre a ocupação holandesa no Rio Grande do Norte. Em sua vasta obra destacam-se Antologia do Folclore Brasileiro (1944), Superstições e Costumes (1958) e Coisas Que o Povo Diz

Sua paixão pelo folclore nasceu quando ainda era menino, ouvindo "causos" aqui e ali de vaqueiros e cantadores dos sertões (Rio Grande do Norte e Paraíba) e histórias do pai, da mãe, de pescadores, de rendeiras e de vizinhos. Era o seu maior interesse intelectual e acabou norteando sua vida. Fazia pesquisas de campo sobre as tradições, hábitos, crendices, superstições nas áreas rurais e urbanas. Não poupava esforços: frequentava terreiros de macumba, deslocava-se até as praias e portos de jangadeiros e viajava sertão adentro. Seus inúmeros livros nasceram desse trabalho de campo e da pesquisa intensa sobre os mais diversos temas.

Uma história curiosa: quando Câmara Cascudo era professor do Colégio Ateneu, em Natal, um colega chegou a pedir sua demissão ao governador Juvenal Lamartine. Afinal, não era admissível que o professor de uma instituição de ensino tão respeitada se dedicasse a estudar lobisomens e outras esquisitices, como coisas feitas ligadas à bruxaria. Ele permaneceu no cargo

Suas principais obras:
Alma Patrícia (1921)
O Homem Americano e seus Temas (1933)
Uma Interpretação da Couvade (1936)
Peixes no Idioma Tupi (1938)
Seis Mitos Gaúchos (1942)
Lendas Brasileiras (1945)
Simultaneidade de Ciclos Temáticos Afro-Brasileiros (1948)
Geografia dos Mitos Brasileiros (1947)
Literatura Oral (1952)
Dicionário do Folclore Brasileiro (1954)
Superstições e Costumes (1958)
História da Alimentação no Brasil (1967-68)
Prelúdio da Cachaça (1968)
Civilização e Cultura (1973)

Lendas e mitos, hábitos alimentares, folguedos, modos de falar e vestir-se, jogos infantis, práticas funerárias, superstições e costumes, tudo que constitui e enriquece a cultura popular brasileira foi alvo das pacientes pesquisas de Luís da Câmara Cascudo, cujos mais de 100 livros publicados conferiram-lhe a reputação de maior folclorista do país. Colectados os dados, ora em campo, ora em arquivos, punha-se o autor a relacioná-los aos índios, à África, a Portugal e à Idade Média europeia, ou até mesmo a tradições asiáticas, para mostrar como as raízes do quotidiano do povo vêm com frequência projectadas desde estratos remotos. Sua obra etnográfica e antropológica, estando sempre em sintonia com os avanços teóricos, foi, porém, toda realizada em linguagem criativa e saborosa, o que a põe ao alcance do leitor comum, sem prejuízo de manter-se como fonte obrigatória de consulta.
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Fontes:
http://www.caestamosnos.org/Pesquisas_Carlos_Leite_Ribeiro/Luis_Camara_Cascudo.htm
http://pt.wikipedia.org

Luís da Câmara Cascudo (Um provinciano incurável)

Nasci na Rua das Virgens e o Padre João Maria batizou-me no Bom Jesus das Dôres, Campina da Ribeira, capela sem tôrre mas o sino tocava as Trindades ao anoitecer. Criei-me olhando o Potengi, o Monte, os mangues da Aldeia Velha onde vivera, menino como eu, Felipe Camarão. Havia corujas de papel no céu da tarde e passarinhos nas árvores adultas, plantadas por Herculano Ramos. Natal de noventa e seis lampiões de querosene. Santos Reis da Limpa em janeiro. Santa Cruz da Bica em maio. Senhora d'Apresentação em novembro. Farinha de castanhas e carrossel. Xarias e Canguleiros. Natal que se apavorou com o holofote, enchendo as igrejas de bramidos e arrependimentos. Auta de Souza embalou-me o sono. Pedro Velho pôs-me na perna. Vi Segundo Wanderley declamar. Ferreira Itajubá cantando. Alberto Maranhão passeando a cavalo, manhã do domingo. Tinha treze anos quando veio a luz elétrica. Festas no Tirol. Violão de Heronides França. Livros. Cursos. Viagens. Sertão de pedra e Europa.

Nunca pensei em deixar minha terra.

Queria saber a história de todas as cousas do campo e da cidade. Convivências dos humildes, sábios, analfabetos , sabedores dos segredos do Mar das Estrelas, dos morros silenciosos. Assombrações. Mistérios. Jamais abandonei o caminho que leva ao encantamento do passado. Pesquisas. Indagações. Confidências que hoje não têm preço. Percepção medular da contemporaneidade. Nossa casa no Tirol hospedou a Família Imperial e Fabião das Queimadas, cantador que fora escravo. Intimidade com a velha Silvana, Cebola quente, alforriada na Abolição. Filho único de chefe político, ninguém acreditava no meu desinteresse eleitoral. Impossível para mim dividir conterrâneos em cores, gestos de dedos, quando a terra é uma unidade com sua gente. Foram os motivos de minha vida expostos em todos os livros. Em outubro de 1968 terei meio século nessa obstinação sentimental. Devoção aos mesmos santos tradicionais.

Meu povo tem a mesma idade para o interesse e a valorização afetuosa.

Dois homens quiseram fixar-me fora de Natal:- Getúlio Vargas no Rio de Janeiro e Agamenon Magalhães no Recife. Jamais os esquecerei, porque nada pedira. Alguém deveria ficar estudando o material economicamente inútil. Poder informar dos fatos distantes na hora sugestiva da necessidade.

Fiquei com essa missão. Andei e li o possível no espaço e no tempo. Lembro conversas com os velhos que sabiam iluminar a saudade. Não há um recanto sem evocar-me um episódio, um acontecimento, o perfume duma velhice. Tudo tem uma história digna de ressurreição e de simpatia. Velhas árvores e velhos nomes, imortais na memória.

Em 1946 fiz parte de uma comissão enviada pelo Ministério das Relações Exteriores ao Uruguai. Éramos três: Aloísio de Castro, Angione Costa e eu, único sobrevivente.

Voltando, contou-me Aloísio de Castro que Afrânio Peixoto, sabendo da expedição cultural, dissera num leve riso - “E ele deixou o Rio Grande do Norte? Câmara Cascudo é um provinciano incurável!”

Encontrara meu título justo, real, legítimo.
PROVINCIANO INCURÁVEL !

Nada mais.

(Este texto, escrito pelo próprio Cascudo, foi publicado pela primeira vez no livro Província, editado pela Fundação José Augusto, em 1969. Desde então, tem sido presença obrigatória em qualquer obra sobre Cascudo).

Fonte:
http://memoriaviva.digi.com.br/cascudo/vida5.html

Luís da Câmara Cascudo (A poesia é a quinta dimensão do mundo)



Três são as medidas do mundo.
Quatro, ensina Einstein. Inclua o tempo.
Cinco! Conte com a poesia...

Santa Tereza de Jesus escreveu: CREO QUE EN CADA COSITA QUE DIOS CRIO HAY MÁS DE LO QUE SE ENTIENDE!

Só podemos entender pelos sentidos e estes nas três medidas clássicas dimensionais. O problema de permanência da Cultura reside essencialmente em sua percepção. De como a recebemos e a tornamos indispensável. E porque esta indispensabilidade independe da escala de valores úteis.

A vitalidade da Arte é a sua libertação do plano econômico, funcional, imediatista para o homem. No esquema dos rendimentos é um assombro perguntar para que serve um poema, uma paisagem, uma escultura fora da significação encomiástica homenageativa da vaidade terrestre.

ALI ART IS QUITE USELESS, escreveu Oscar Wilde. Perfeitamente inútil mas intrinsecamente inseparável da dignidade humana. Durante um momento da história a Arte fixou animais para simbolicamente atraí-los para a regularidade da alimentação pré-histórica.

Depois para compreendermos o abstrato, foi preciso materializá-lo em volume, cor e forma. Quando o canto nasceu, ritmo para oração, a força mágica de sua atração irresistível não estava na voz mas nas fórmulas poderosas na sedução do auxílio divino. Ficou-nos o Poeta ouvindo e vendo o que realmente escapa ao primarismo da audição, visão e tato. É um sentido infra e ultra sonoro e uma visualidade bem distante do poder do nervo ótico, da vibração da retina e da contratibilidade da pupila.

O poeta em todas as cousas sente MÁS DE LO QUE SE ENTIENDE pelas dimensões normais. Nunca se conseguiu uma tradução desta acuidade miraculosa que não é erudição nem dedução. Bergson defendeu a Intuição como elemento aquisitivo da Inteligência. A Intuição, forma maravilhosa do conhecimento sem verificação, não pode ser indicado nos seus caminhos de penetração.

Nem um órgão fisiológico pode orgulhar-se de sua recepção. Ao lado do universo sensitivo e experimental o poeta vê, ouve e sente valores acima e abaixo de todas os diagramas do percurso cerebral. A Inspiração, a vocação irresistível de criar a Poesia é tão misteriosa, enigmática e maravilhosa como a criação da vida organizada.

Porque o Poeta pode "recriar" a natureza e fixar a emoção num poema, ninguém, em época alguma da história do mundo, explicou e compreendeu. Toda cultura tem sua origem e nós podemos pesquisar na pré-história os tímidos bruxuleios da madrugada intelectual. As técnicas, as indústrias, as representações, os gestos, a voz, a sociedade, a chefia, a religião como fenômeno orgânico, as alianças, Estado, o aparelhamento para a conquista comercial e guerreira, a vela para o barco, a roda para o carro, o cavalo para o homem. A Poesia, não. Minerva nasce, armada e completa, da cabeça de Júpiter.

O poema é tão inexplicável como a essência da vida. O primeiro Poeta é tão distante, impenetrável e milenar como a primeira célula viva.

Toda a civilização do Mundo está contida nas três dimensões. A Poesia exige outros horizontes indefiníveis, negaceantes e realmente sensíveis, definidos, poderosos. A poesia é uma Quinta dimensão.


Fonte
http://espacoculturalcamaracascudo.blogspot.com/

Luís da Câmara Cascudo (Que quer dizer "anauê"?)

Várias vezes por dia o Integralista ouve e diz essa palavra bárbara e prestigiosa "anauê"!. De onde nos veio? O Chefe Nacional indica as vozes fortes dos amerabas e entre eles o Tupi. Que quer dizer "anauê"? É uma saudação? Um excitamento? Nós empregamos como uma saudação equivalente ao "hurrah" britânico. O "hurrah" é um resíduo guerreiro. É o que resta de um grito de ataque dos germanos. Seu radical, hurr, é guerra.

O nosso "anauê" é mais sereno e melódico. Sente-se que é vocábulo indígena. Um milhão de brasileiros usa essa palavra misteriosa e unificadora.

Mas nós ignoramos seu significado. De minha parte, tenho feito indagações e buscas. Na literatura integralista, só Gustavo Barroso tentou a explicação. Em "O que o Integralista deve saber" (p. 149), o grande erudito brasileiro examinou inteligentemente o vocábulo. Suas fontes de consulta não foram propícias. Couto de Magalhães e Teodoro Sampaio, o mestre do nhengatú, falharam. O dois tupilólogos não escreveram tudo quanto devemos ler para adiantar passo na "bela língua". Teodoro Sampaio estudou mais a toponímia e Couto foi, com os rudimentos de gramática inferiores ao velho padre Anchieta, um magnífico divulgador de lendas e tradições das selvas brasileiras. Gustavo Barroso, habituado a vencer, confessou a simplicidade dos seus orientadores. Nem achou a tradução de yauê, que é apenas o mesmo.

As saudações tupis correspondentes aos nossos bom dia, boa tarde e boa noite, são iané coéma, iané ara, iané carúca e iané pitúna.

Iané é pronome "nós", "nosso". Iané coéma, nossa manhã, é o "bom dia". Diz-se até o meio-dia, quando a saudação muda para iané ara, nosso dia. Tardinha até o crepúsculo, saúda-se iané carúca, e, sol posto, especialmente nas despedidas, iané pitúna, nosso escuro, nossa treva, nossa noite.

São estas as saudações tupis.

O saudado deve necessariamente responder. Dirá apenas indauê. Indauê é uma contração de indé, tu, e iauê, mesmo. Traduz-se, literalmente, por "o-mesmo-tu", o mesmo desejo para ti. Iané ara! Indauê!

Aí estão as cortesias dos guerreiros tupis, quando se encontram.

Indauê dará anauê?

Em 20 de dezembro de 1934, consultei uma autoridade com quem privo e me dá a honra da correspondência. É o padre dr. Constantino Tastevin, professor no Instituto Católico de Paris e professor de Etnografia. O padre Tastevin esteve vinte anos nos rios amazônicos e sua bibliografia é rica e maravilhosa de cor e de espírito. Tastevin respondeu-me a 26 do mesmo mês e ano. Vantagens do avião que levou de Natal a Paris seis dias ou menos, porque Tastevin respondeu seis dias depois de minha carta.

Ensina Tastevin:
o vocábulo "anauê" não pode ser outro, caso seja emprestado do tupy, senão a resposta vulgar a toda a saudação da língua geral: - Ndawé!
Eu acreditei um tempo que essa palavra devia analisar-se nde yawé, tu também. Mas agora duvido dessa análise.
De fato, a saudação é conforme a hora do dia:
Yáne koéma: amanhecemos.
Yáne potúna: anoitecemos.
Yáne kurúka: estamos na tarde.

Não há portanto razão para responder: Tu também. A única resposta razoável seria a expressão tão célebre, vulgar e comum no Amazonas: "É verdade!" "É isso mesmo!" Assim o compreende a população atual.
Portanto Ndawé! = Yawé-te!

O a acrescido não tem razão de ser. Certas pessoas pronunciam endawé, com um e mudo, dente a dente = a mudo português. Mas em realidade a tal letra não existe na boca dos peritos.
Por outro, este é o único caso onde se emprega a palavra ndawé!

Como foi que se passou de y para nd é que não posso explicar... Mas no decurso dos tempos dão-se tantas alterações ainda mais esquisitas!

A passagem nd para n é comum: nawé por ndawé; a de ña para ya também. Fica para explicar a de na para ya ou nã. Há outros exemplos: a citar, yandu por nandu.

Aqui finda o douto Tastevin. Sua explicação está perfeitamente de acordo com as minhas deduções. Tastevin emprega o w pelo u. Para ele, o anauê é uma corrução do ndawé, indauê nhengatú.

Será mesmo?

Com essa tradução, o nosso grito de aclamação é inexpressivo. Pelo menos, pouco expressivo. Fazendo a versão gramatical do tupi, três anauês pelo Chefe Nacional!...

É Verdade! É Verdade! É Verdade!

Ou então: - É isso mesmo!...

Pode ser que seja. Aí fica uma segunda tentativa de explicação.

"Anauê" pode ser palavra do tupi não usada pelos indígenas, mas construída, gramaticalmente certa, pelos eruditos. Pode ser um vocábulo artificial e legítimo. Um neologismo da língua geral. A catequese criou centenas. Itauê é mesmo e também igual. Quando um índio quer dizer "meu igual", diz ce amu iauê. Ce, meu; amu, outro; iauê, mesmo ou igual (meu-outro-mesmo ou igual). Anauê pode ser um vocábulo "construído" dessa forma: - a-nâ-iauê, ou (a) nâ (fundido, junto, unido) iauê (mesmo ou igual): - anaiauê-anauê, com a queda do i vocálico e a fusão das vogais a-a. Teríamos anaiauê, forma inicial do contrato anauê, eu-junto-com-os-iguais; eu-reunido-aos-outros-iguais. É logicamente um grito de unificação, de solidariedade, de reunião.

Anauê, para todos os modos, é voz de apelo, de agrupamento, toque-de-reunir. O emprego como aclamação seria uma aclimatação de voz militar nas cerimônias civis.

Como "hurrah" chegou a constituir o mais pacato dos berros entusiastas, anauê pode se haver transformado também.

Não posso provar, mas sonho que, inicialmente, anauê seja um grito, um sinal, uma ordem de reunião, de coesão, de agrupamento. De Integralismo, evidentemente. Mas, que quer dizer "anauê"? A viagem pelo tupi não aclarou a significação negaceante. Nem podia aclarar.

Anauê não é vocábulo do idioma tupi como julguei sempre.
É uma palavra, cujo sentido ignoro, da língua dos Pareci, índios Nuaruacos da província do Mato Grosso. Roquette Pinto recolheu ("Rondonia", fonogramas 14.594 e 14.595) uma cantiga Pareci, onde deparamos o famoso "anauê".
ah ah ah ah ah ah
Noai anauê noi anauê
Noai anauê noi anauê
ah ah ah ah ah ah
etc...

Fonte
http://espacoculturalcamaracascudo.blogspot.com/

terça-feira, 29 de julho de 2008

Thiago de Mello (1926)

Thiago de Mello é o nome literário de Amadeu Thiago de Mello, nascido a 30 de março de 1926, na pequenina cidade de Barreirinha, fincada à margem direita do Paraná do Ramos, braço mais comprido do Rio Amazonas, no meio do pedaço mais verde do planeta: a Amazônia.

O poeta, ainda criança, mudou-se para capital, Manaus, onde iniciou seus primeiros estudos no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o segundo grau no então Gyminásio Pedro II.

Concluído os estudos preliminares mudou-se para o Rio de Janeiro, onde ingressou na Faculdade Nacional de Medicina. Por lídima vocação, ou por tara compulsiva, como ele prefere, abraçou o ofício de poeta abandonando o curso de medicina para se entregar, por inteiro, ao difícil e duvidoso (em termos profissionais) caminho da arte poética.

Vivia-se o glamour dos anos 50, num Rio de Janeiro capital do país, ditando para todo Brasil não só as questões de cunho político, mas sobretudo, os eventos artísticos e acontecimentos da produção literária. Hegemonia mantida até hoje mas compartilhada com a cidade de São Paulo e seu efervescente ambiente cultural.


Em 1951, com o livro Silêncio e Palavra, irrompe vigorosamente no cenário cultural brasileiro e de pronto recebe a melhor acolhida da crítica.

Álvaro Lins, Tristão de Ataíde, Manuel Bandeira, Sérgio Milliet e José Lins do Rego, para citar alguns nomes ilustres, viram nele e em sua obra poética duas presenças que, substanciosas e duradouras, enriqueceram a literatura nacional.

"... Thiago de Mello é um poeta de verdade e, coisa rara no momento, tem o que dizer", escreveu Sérgio Milliet.

O correr dos anos só fez confirmar suas qualidades e justificar os elogios com que fora recebido pela intelligentsia brasileira. O amadurecimento permitiu ao poeta mergulhar profundamente as raízes da sensibilidade e da consciência crítica na rica seiva humana de um povo ao mesmo tempo tão explorado, tão sofrido e tão generoso como o nosso, e sua poesia, sem perder o sóbrio lirismo que a inflamava, ganhou densidade e concentração, pondo-se por inteiro a serviço de relevantes causas sociais.

Faz Escuro, mas eu Canto; A Canção do Amor Armado; Horóscopo para os que estão vivos, Poesia Comprometida com a minha e a tua Vida; Mormaço na Floresta; Num Campo de Margaridas realizam, por isso, a bela síntese do poeta e do homem que jamais se deixou ficar indeciso em cima do muro de confortável neutralidade. O poeta e o partisan eram uma só pessoa, dedicada sem medir esforços ou riscos à luta pela emancipação do homem, tanto dos grilhões que injustas estruturas do poder econômico-político lhe impõem quanto das limitações com que individualismo, ignorância ou timidez lhe tolhem os passos.

A biografia de um poeta assim concebido e a tanto cometido não poderia jamais desenvolver-se num plano de tranqüila rotina. A de Thiago de Mello teve, por isso mesmo, suas fases sombrias e borrascosas, realçada por arbitrária prisão e longo e doloroso exílio da pátria a que tanto ama e serve.

Essas provações, que enfrentou com a serena firmeza de quem as sabe inevitáveis e delas não foge, enriqueceram-no ainda mais como poeta e ser humano. Alargando sua weltanschauung, permitiram-lhe comprovar o acerto de sua intuição de que o geral passa pelo particular e de que, como dizia seu grande colega Fernando Pessoa, tudo vale a pena/ se a alma não é pequena.

No livro mais recentemente publicado, De Uma Vez Por Todas, todas as linhas marcantes de sua poesia, o lirismo, a sensibilidade humana, a alegria de viver, a luta contra a opressão, o amor constante à Amazônia natal se reúnem harmonicamente, num tecido de rara força e beleza. O poeta não escreve seus poemas apenas em busca de elegância formal: neles se joga por inteiro, coração, cabeça e sentimento, e isso lhes dá autenticidade e força interior.

Bibliografia

Livros de Poemas de Thiago de Melo:
- Silêncio e Palavra, Edições Hipocampo, Rio de Janeiro, 1951.
- Narciso Cego, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1952.
- A Lenda da Rosa, Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1956.
- Vento Geral(reunião dos livros anteriores e mais dois inéditos: Tenebrosa Acqua e Ponderações que faz o defunto aos que lhe fazem o velório), Editora José Olympio, Rio de Janeiro, 1960.
- Faz Escuro mas eu Canto, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1965. 14a edição, 1993.
- A Canção do Amor Armado, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1966. 7a edição, 1993.
- Poesia Comprometida com a Minha e a Tua Vida, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1975. 7a edição, 1991.
- Os Estatutos do Homem(com desenhos de Aldemir Martins), Editora Martins Fontes, São Paulo, 1977. 6a edição, 1991.
- Horóscopo para os que estão Vivos, Edição de luxo, ilustrada e editada por Ciro Fernandes, Rio de Janeiro, 1982.
- Mormaço na Floresta, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1984. 3a edição, 1993.
- Vento Geral, Poesia 1951-1981, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro 1981. 3a edição, 1990.
- Num Campo de Margaridas, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1986.
- De uma vez por todas, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1996.

Prosa:
- Notícia da Visitação que fiz no Verão de 1953 ao Rio Amazonas e seus barrancos,
- Ministério da Educação, 1957. 2a edição, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1989.
- A Estrela da Manhã, Estudo de um poema de Manuel Bandeira, Ministério da Educação, Rio de Janeiro, 1968.
- Arte e Ciência de Empinar Papagaio, BEA, Manaus, 1984, edição de luxo. 2a edição, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1985.
- Manaus, Amor e Memória, Suframa, Manaus, 1984, edição de luxo. 2a edição,
- Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 4a edição, 1989.
- Amazonas, Pátria das Águas, Edição de luxo, bilingue (português e inglês), com fotografias de Luiz Cláudio Marigo. Sverner-Bocatto, São Paulo, 1991.
- Amazônia, a Menina dos Olhos do Mundo, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1992.
- O Povo Sabe o Que Diz, Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 2a edição, 1993.
- Borges na Luz de Borges, Pontes Editores, São Paulo, 1993.

Discos:
- Poesias de Thiago de Mello, Discos Festa, Rio de Janeiro, 1963.
- Die Statuten des Menschhen, Cantata para orquestra e coro, música de Peters Jansen, RFA, 1976.
- Thiago de Mello, Palabra de esta América, Casa de las Américas, La Habana, 1985.
- Mormaço na Floresta, locução do autor, Som Livre, Rio de Janeiro, 1986.
- Os Estatutos do Homem e Poemas Inéditos, Edições Paulinas, Rio de Janeiro, 1992.

Fonte:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/tmello.html#bio

Thiago de Mello (Filho da floresta, água e madeira - Poema perto do fim - Sugestão - Canto do meu Canto)

Filho da floresta, água e madeira

Filho da floresta,
água e madeira
vão na luz dos meus olhos,
e explicam este jeito meu de amar as estrelas
e de carregar nos ombros a esperança.

Um lanho injusto, lama na madeira,
a água forte de infância chega e lava.

Me fiz gente no meio de madeira,
as achas encharcadas, lenha verde,
minha mãe reclamava da fumaça.

Na verdade abri os olhos vendo madeira,
o belo madeirame de itaúba
da casa do meu avô no Bom Socorro,
onde meu pai nasceu
e onde eu também nasci.

Fui o último a ver a casa erguida ainda,
íntegros os esteios se inclinavam,
morada de morcegos e cupins.

Até que desabada pelas águas de muitas cheias,
a casa se afogou
num silêncio de limo, folhas, telhas.

Mas a casa só morreu definitivamente
quando ruíram os esteios da memória
de meu pai,
neste verão dos seus noventa anos.

Durante mais de meio século,
sem voltar ao lugar onde nasceu,
a casa permaneceu erguida em sua lembrança,
as janelas abertas para as manhãs
do Paraná do Ramos,
a escada de pau-d’arco
que ele continuava a descer
para pisar o capim orvalhado
e caminhar correndo
pelo campo geral coberto de mungubeiras
até a beira florida do Lago Grande
onde as mãos adolescentes aprendiam
os segredos dos úberes das vacas.

Para onde ia, meu pai levava a casa
e levava a rede armada entre acariquaras,
onde, embalados pela surdina dos carapanãs,
ele e minha mãe se abraçavam,
cobertos por um céu insuportavelmente
estrelado.

Uma noite, nós dois sozinhos,
num silêncio hoje quase impossível
nos modernos frangalhos de Manaus,
meu pai me perguntou se eu me lembrava
de um barulho no mato que ele ouviu
de manhãzinha clara ele chegando
no Bom Socorro aceso na memória,
depois de muito remo e tantas águas.

Nada lhe respondi. Fiquei ouvindo
meu pai avançar entre as mangueiras
na direção daquele baque, aquele
baque seco de ferro, aquele canto
de ferro na madeira — era a tua mãe,
os cabelos no sol, era a Maria,
o machado brandindo e abrindo em achas
um pau mulato azul, duro de bronze,
batida pelo vento, ela sozinha
no meio da floresta.

Todas essas coisas ressurgiam
e de repente lhe sumiam na memória,
enquanto a casa ruína se fazia
no abandono voraz, capim-agulha,
e o antigo cacaual desenganado
dava seu fruto ao grito dos macacos
e aos papagaios pândegas de sol.

Enquanto minha avó Safira, solitária,
última habitante real da casa,
acordava de madrugada para esperar
uma canoa que não chegaria nunca mais.

Safira pedra das águas,
que me dava a bênção como
quem joga o anzol pra puxar
um jaraqui na poronga,
sempre vestida de escuro
a voz rouca disfarçando
uma ternura de estrelas
no amanhecer do Andirá.

Filho da floresta, água e madeira,
voltei para ajudar na construção
do morada futura. Raça de âmagos,
um dia chegarão as proas claras
para os verdes livrar da servidão.

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Poema perto do fim

A morte é indolor.
O que dói nela é o nada
que a vida faz do amor.
Sopro a flauta encantada
e não dá nenhum som.
Levo uma pena leve
de não ter sido bom.
E no coração, neve.

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Sugestão


Antes que venham ventos e te levem
do peito o amor — este tão belo amor,
que deu grandeza e graça à tua vida —,
faze dele, agora, enquanto é tempo,
uma cidade eterna — e nela habita.

Uma cidade, sim. Edificada
nas nuvens, não — no chão por onde vais,
e alicerçada, fundo, nos teus dias,
de jeito assim que dentro dela caiba
o mundo inteiro: as árvores, as crianças,
o mar e o sol, a noite e os passarinhos,
e sobretudo caibas tu, inteiro:
o que te suja, o que te transfigura,
teus pecados mortais, tuas bravuras,
tudo afinal o que te faz viver
e mais o tudo que, vivendo, fazes.

Ventos do mundo sopram; quando sopram,
ai, vão varrendo, vão, vão carregando
e desfazendo tudo o que de humano
existe erguido e porventura grande,
mas frágil, mas finito como as dores,
porque ainda não ficando — qual bandeira
feita de sangue, sonho, barro e cântico —
no próprio coração da eternidade.
Pois de cântico e barro, sonho e sangue,
faze de teu amor uma cidade,
agora, enquanto é tempo.

Uma cidade
onde possas cantar quando o teu peito
parecer, a ti mesmo, ermo de cânticos;
onde posssas brincar sempre que as praças
que percorrias, dono de inocências,
já se mostrarem murchas, de gangorras
recobertas de musgo, ou quando as relvas
da vida, outrora suaves a teus pés,
brandas e verdes já não se vergarem
à brisa das manhãs.

Uma cidade
onde possas achar, rútila e doce,
a aurora que na treva dissipaste;
onde possas andar como uma criança
indiferente a rumos: os caminhos,
gêmeos todos ali, te levarão
a uma aventura só — macia, mansa —
e hás de ser sempre um homem caminhando
ao encontro da amada, a já bem-vinda
mas, porque amada, segue a cada instante
chegando — como noiva para as bodas.

Dono do amor, és servo. Pois é dele
que o teu destino flui, doce de mando:
A menos que este amor, conquanto grande,
seja incompleto. Falte-lhe talvez
um espaço, em teu chão, para cravar
os fundos alicerces da cidade.

Ai de um amor assim, vergado ao vínculo
de tão amargo fado: o de albatroz
nascido para inaugurar caminhos
no campo azul do céu e que, entretanto,
no momento de alçar-se para a viagem,
descobre, com terror, que não tem asas.

Ai de um pássaro assim, tão malfadado
a dissipar no campo exíguo e escuro
onde residem répteis: o que trouxe
no bico e na alma — para dar ao céu.

É tempo. Faze
tua cidade eterna, e nela habita:
antes que venham ventos, e te levem
do peito o amor — este tão belo amor
que dá grandeza e graça à tua vida.
=======================
Canto do meu canto

Escrevi no chão do outrora
e agora me reconheço:
pelas minhas cercanias
passeio, mal me freqüento.
Mas pelo pouco que sei
de mim, de tudo que fiz,
posso me ter por contente,
cheguei a servir à vida,
me valendo das palavras.
Mas dito seja, de uma vez por todas,
que nada faço por literatura,
que nada tenho a ver com a história,
mesmo concisa, das letras brasileiras.
Meu compromisso é com a vida do homem,
a quem trato de servir
com a arte do poema. Sei que a poesia
é um dom, nasceu comigo.
Assim trabalho o meu verso,
com buril, plaina, sintaxe.
Não basta ser bom de ofício.
Sem amor não se faz arte.

Trabalho que nem um mouro,
estou sempre começando.
Tudo dou, de ombros e braços,
e muito de coração,
na sombra da antemanhã,
empurrando o batelão
para o destino das águas.
(O barco vai no banzeiro,
meu destino no porão.)

Nada criei de novo.
Nada acrescentei às forma
tradicionais do verso.
Quem sou eu para criar coisas novas,
pôr no meu verso, Deus me livre, uma
invenção.

Pedro Kilkerry (1885-1917)

Sendo o mais jovem desta grandiosa geração de poetas, nasceu Pedro Kilkerry em Salvador (BA), no distrito da Penha a 10 de março de 1885, batizado em 5 de janeiro do ano seguinte, tendo como madrinha D. Maria Inês Teixeira, era descendente de inglês da parte do pai, o engenheiro John Kilkerry, superintendente da Bahia Gás Company Limited e da mestiça alforriada baiana, Salustiana do Sacramento Lima, com quem teve três filhos: João, o mais velho, Pedro, o poeta e Maria da Purificação. Em Salvador, mora com a mãe, avó e irmã na Rua do Cabeça nº 13, onde vivem, por muitos anos, num pequeno quarto, entregue às leituras de Homero, Dante, Shakespeare, Poe, Verlaine, Baudelaire, Rimbaud e outros.

Matriculado no Colégio Sete de Setembro, passou pelo Ginásio da Bahia para estudos preparatórios, época em que trava os primeiros contatos com o grupo da Nova Cruzada, onde estréia em 1906 e colabora por muito tempo. Sobre o poeta, diz Jackson de Figueiredo: “Alto. Magro, feio, feíssimo mesmo, mas de uma feiúra distinta, singular, quase bonita, às vezes, em que como que se distinguia uma luta entre o tipo norte europeu, de que descendia, e o mestiço brasileiro, que ele era”. Já Carlos Chiacchio, ao se referir sobre o homem, o vê como: “Cabeça enorme. Cabelos ruivaços. Implantados em represálias do penteado acima. Branco na pele. Mestiço no pelo. Testa larga, ampla, em arremesos de chapa batida em riste para trás. Orelhas, que se humilham, pequenas e ávidas, como conchas marinhas. Olhos minúsculos, inquietos, rolando entre pálpebras, levemente empapuçadas. Nariz à feitura de seta invertida, direito, firme, descendo a pique, num conflito de raças, entre o aquilino anglo-celta da Irlanda e o emplastrado índio-luso-negróide da áfrica. Boca escancarada de demônio faunesco, rindo um riso largo de marfim sinistro, com serrilha roaz, entre os agudos recuos fortes das comissuras satânicas. Pescoço longo, num deglutido de contínuo engasgo do pômulo de Adão, ainda refeito da última dentada paradisíaca do Éden”.

Tendo ingressado na Faculdade de Direito da Bahia em 1909, recebeu ele o grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais em 9 de dezembro de 1913. O convívio de novas amizades o leva à boêmia e em suas andanças pela província destacava-se pelo seu improviso, pela textura de declamar seus próprios versos. Conforme depoimentos da época, Kilkerry passava noites em claro lendo e escrevendo, possuía uma capacidade inigualável e um interesse diversificado pelos assuntos e uma ânsia de saber cada vez mais, incontrolável. Traduzia do grego, latim, inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e começava a aprender o árabe.
.
Após a formatura, Kilkerry vai advogar na cidade de Santo Antonio de Jesus, localizada no Recôncavo baiano, onde mora por algum tempo e divide escritório de advocacia com seu irmão mais velho, João Francisco Kilkerry. Lá, o poeta passa a colaborar em jornais locais.

A presença de Kilkerry no quadro histórico-cultural brasileiro é nítida, e nenhum crítico literário poderá omitir esta sensualidade íntima, não encontrada em nenhum outro poeta desta fase, algo inteiramente novo. Este jovem poeta baiano é o mais simples do grupo, mas excede as previsões, é a criação mais lúcida, a mais celebrada ressonância da época, porque seus contemporâneos estavam imersos em seu clima estético e moral.

O poeta foi o único capaz de abandonar a constelação terrestre, no sombrio elenco poético da época, para viajar e elevar seus movimentos à celebração. Sua lírica é essencialmente metafísica e hermeticamente contundente, representada pela hipérbole do cogito, em busca das ilusões perdidas, seguridade na perfeição e na forma, nascida sob o signo da desconfiança própria, devido aos grandes modelos da literatura francesa vigente. Pedro Kilkerry é um poeta moderno, atual e atuante na nova concepção da poesia, possui uma poética brilhante, rica de inovações e ritmos, estranhamente musical, tão sóbria na sua própria opulência vocabular, onde o poeta é seu próprio limite.

Seus significados se fazem múltiplos, ambicioso na máxima claridade dos novos horizontes, numa espécie de jogo transcendental, vividos dentro de um universo fantasmagórico, transmitindo algo de mistério e de magia verbal. Mas sua ascensão era vista por muitos como horror: boêmio, irresponsável, degenerado, louco,vicioso e decadente; era uma literatura excitadamente enfebrecida, um divórcio entre a arte e o restrito público.

Portador de tuberculose pulmonar, fora o poeta internado no Hospital Santa Isabel, onde se submeteu a uma cirurgia de traqueotomia, realizada pelo cirurgião Heraclio Menezes, acompanhado pelo interno doutorando Francisco Prata, não resistindo, veio a falecer em 25 de março de 1917, às 12 h 30 min, em decorrência de asfixia pulmonar. Seu enterro foi feito por Gustavo Ramos de Cerqueira Lima, amigo da família, saindo o féretro às 10 horas do dia seguinte de sua residência à Rua do Sodré, nº 21 –(2 de Julho), para o cemitério do Campo Santo, tendo seu corpo descansado na carneira nº1020, quadra nº09.

O Hospital Santa Isabel, pertencente à Santa Casa de Misericórdia vivia de doações, estava destinado a atender à população de renda mais baixa e seus funcionários, era de “indigência”. Este quadro mostra-nos em que situação financeira se encontrava o poeta, apesar de trabalhar como 1º escriturário no Tribunal de Contas do estado e possuir escritório de advocacia. O poeta Pedro Kilkerry, morreu aos 32 anos de idade, solteiro, solitário e esquecido.

Há poetas que concitam em vida admiração e os fervores do público, outros, porém, só depois de mortos atraem a atenção para a sua obra. E a este grupo pertence Pedro Kilkerry, que não deixou nenhuma obra editada, mas publicou poemas, prosas, traduções e artigos em jornais (Jornal da Manhã, Jornal de Notícias, A Tarde, Gazeta do Povo, Diário da Manhã (SE) e Jornal Moderno), onde publicou a maior parte de sua prosa, além das revistas da época editadas em Salvador, órgãos simbolistas da segunda fase do movimento existentes na Bahia: (A Voz do Povo, Nova Cruzada – 1901/1911 e Os Annaes – 1911/1914, tendo como precursor o poeta Pethion de Villar (1870-1924), seguidos de Durval de Morais (1882-1948), Francisco Mangabeira (1879-1904), Antonio Viana (1884-1952), Artur de Salles (1879-1952), Pereira Caldas (1884-1922), José Leoni (1882-1959) e Carlos Chiacchio (1884-1947), os quais mais se destacaram nas letras e nas artes da Bahia.

O pouco que se conhece sobre a obra e o poeta “maldito”, já algum tempo revelado, foi escrito pelos dois primeiros biógrafos do poeta. Jackson de Figueiredo, amigo e colega de faculdade, que publicou Humilhados e Luminosos, e Carlos Chiacchio, crítico e poeta modernista que viveu na Bahia, e publicou, primeiramente na seção Homens e Obras do jornal A Tarde, quatro artigos intitulados Pedro Kilkerry, em 1931 e na Revista da Academia de Letras da Bahia nºs 2/3 (1931), 4/5 (1932) e 6/7 (1933). Tais trabalhos ficariam na obscuridade se não fosse a descoberta do crítico Andrade Muricy, que publicou parte dos textos e poemas de Kilkerry in Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro em 1952. E mais tarde (1970), sua redescoberta pela vanguarda concretista na pessoa de um dos seus melhores críticos, pelo espantoso levantamento crítico feito por Augusto de Campos, in ReVisão de Kilkerry.

Ao que se sabe, Pedro Kilkerry deixou pouco mais de trinta poesias e pouco mais de vinte textos em prosa, não muito extensos. Nenhum livro. Foram necessários 100 anos para que o poeta Pedro Kilkerry merecesse o reconhecimento de sua importância literária e tivesse sua obra finalmente resgatada do esquecimento em que se encontrava.

Fonte:
http://www.se.senac.br/ECAFE/materias/fev05/pedrokilkerry.htm

Pedro Kilkerry (O Verme e a Estrela - Ad Veneris Lacrimas - Noturnos - Cetáceo)

O Verme e a Estrela

Agora sabes que sou verme.
Agora, sei da tua luz,
Se não notei minha epiderme...
É, nunca estrela eu te supus
Mas, se cantar pudesse um verme,
Eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste
Um raio, brando, ao teu viver?
Não te lembrava. Azul-celeste
O céu, talvez, não pôde ser...
Mas, ora! Enfim, por que não deste
Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme,
Olho e não vejo a tua luz!
Vamos que sou, talvez, um verme...
Estrela nunca eu te supus!
Olho, examino-me a epiderme...
Ceguei! Ceguei da tua luz?
*********************
Ad Veneris Lacrimas

Em meus nervos, a arder, a alma é volúpia... Sinto
Que Amor embriaga a Íon e a pele de ouro. Estua,
Deita-se Íon: enrodilha a cauda o meu Instinto
Aos seus rosados pés... Nyx se arrasta, na rua...

Canta a alâmpada brônzea? O ouvido aos sons extinto
Acorda e ouço a voz ou da alâmpada ou sua.
O silêncio anda à escuta. Abre um luar de Corinto
Aqui dentro a lamber Hélada nua, nua.

Ìon treme, estremece. Adora o ritmo louro
Da áurea chama, a estorcer os gestos com que crava
Finas frechas de luz na cúpula aquecida...

Querem cantar de Íon os dois seios, em coro...
Mas sua alma – por Zeus! – na água azul doutra Vida
Lava os meus sonhos, treme em seus olhos, escrava.
*******************
Noturnos

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa
Olha-me a estante em cada livro que olha.
E a luz nalgum volume sobre a mesa...
Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha
A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.
Penso um presente, num passado. E enfolha
A natureza tua natureza.
Mas é um bulir das cousas... Comovido
Pego da pena, iludo-me que traço
A ilusão de um sentido e outro sentido.
Tão longe vai!
Tão longe se aveluda esse teu passo,
Asa que o ouvido anima...
E a câmara muda. E a sala muda, muda...
Afonamente rufa. A asa da rima
Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda
Novo, um fantasma ao som que se aproxima.
Cresce-me a estante como quem sacuda
Um pesadelo de papéis acima...

........................................................
E abro a janela. Ainda a lua esfia
Últimas notas trêmulas... O dia
Tarde florescerá pela montanha.

E oh! Minha amada, o sentimento é cego...
Vês? Colaboram na saudade a aranha,
Patas de um gato e as asas de um morcego.

*******
Cetáceo

Fuma. E cobre o zênite. E, chagosos do flanco,
Fuga e pó, são corcéis de anca na atropelada.
E tesos no horizonte, a muda cavalgada.
Coalha bebendo o azul um largo vôo branco.

Quando e quando esbagoa ao longe uma enfiada
De barcos em betume indo as proas de arranco.
Perto uma janga embala um marujo no banco
Brunindo ao sol brunida a pele atijolada.

Tine em cobre o zênite e o vento arqueja e o oceano
Longo enforca-se a vez e vez e arrufa,
Como se a asa que o roce ao côncavo de um pano.

E na verde ironia ondulosa de espelho
Úmida raiva iriando a pedraria. Bufa
O cetáceo a escorrer d’água ou do sol vermelho.

domingo, 27 de julho de 2008

I Congresso de Escritores e Poetas do Ceará


O Grupo Chocalho promoveu a partir de 25 de julho, Dia do Escritor, às 19 horas, na Academia Ceará de Letras, o I Congresso de Escritores e Poetas do Ceará

Auriberto Vidal: "Com a cooperativa, o novo processo de produção vai baratear o preço do livro"

Durante o evento - que encerra hoje, domingo - foram debatidos os vários aspectos da literatura cearense. Dois temas mobilizarão o Congresso: a questão do momento literário no Ceará e aspectos da Literatura Feminina no Estado. Os painéis passarão ainda por questões envolvendo a participação do escritor cearense na próxima do Bienal do Livro de Fortaleza e discussões sobre as Leis de Incentivo à Cultura. O Grupo Chocalho lança também a pedra fundamental da futura cooperativa dos escritores do Ceará.

A Comenda Mérito Chocalheiro entregue a vários escritores, poetas e jornalistas. Além disso, o grupo homenageia o jornal Correio da Semana, de Sobral, um dos mais antigos periódicos do Ceará. Na ocasião anunciados, ainda, os vencedores do prêmio Jáder de Carvalho, patrocinado pelo poeta Ary Albuquerque e a IBAP (Empresa Brasileira de Artefatos de Plásticos).

O Grupo Chocalho foi criado em agosto, de 1984 com o objetivo de defender a literatura cearense. No momento de sua criação, os membros do grupo já eram veteranos. Vinham de muitas lutas. Não só literárias, mas também políticas, como a consolidação da Democracia no Brasil. No entanto, o foco maior dos membros da agremiação foi a literatura cearense e seus problemas. Seu estatuto prega, principalmente, a luta contra o colonialismo cultural e a divulgação de uma literatura regional. O Chocalho defende também a democratização do acesso às políticas públicas culturais e luta sempre para o incentivo da leitura e a escrita no nosso Estado.

O coordenador geral do Chocalho, Auriberto Vidal Cavalcante, assinala que o Congresso reunirá vários grupos, entidades e academias dentro de um objetivo único: promover a cultura cearense através da fundação de uma cooperativa de distribuição da rica produção literária cearense. "Temos livrarias - diz - que cobram até 40 porcento sobre a venda de nossos livros". "Com a cooperativa, o novo processo de produção, segundo ele, vai baratear o preço do livro, melhorar a circulação, aumentar a publicação de novos escritores, o que contribuirá, no final, para o aumento de leitores".

Auriberto assinala que atualmente o que existe ainda é muito precário. "Temos os editais, cuja burocracia torna o processo muito difícil para os escritores. E, quando o projeto é selecionado, o escritor ainda tem que buscar, de pires na mão, patrocínio para a publicação do seu livro. São poucos empresário que são sensíveis a questão cultural no Ceará", afirma o coordenador.

O Chocalho é formado atualmente por 22 membros. Além de Auriberto, o grupo tem vários coordenadores em áreas específicas: Alaécio Flor (secretário geral); Carlos Alberto Cavalcante (coordenador de fotografia); Stênio Freitas (coordenador literário) e Lyma Netto (coordenador financeiro. Em São Paulo, o grupo conta ainda com o apoio do poeta Costa Senna e Capristano Cabral. Ambos são membros fundadores do chocalho.


25 de julho, Sexta Feira

Abertura, às 19 horas, Entrega de prêmios aos vencedores do Concurso Jáder de Carvalho. Entrega de Comenda Mérito Chocalheiro.

26 de julho, Sábado

8h30 - A realidade da literatura cearense. Professor Batista de Lima, da Academia Cearense de Letras
10h30 - Aspectos da Literatura Feminina. Beatriz Alcântara, da Academia Cearense de Letras
14h - Frente Parlamentar em Defesa da Cultura no Ceará. Deputado estadual Adial Barreto
15h30 - A Política dos Editais. Membros da Secult.
16h - Edição, Publicação e Distribuição da Literatura Cearense. Auriberto Cavalcante, coordenador do Grupo Chocalho

27 de julho, Domingo

8h30 - Internet e Produção Literária. Membros do Grupo Chocalho
9h45 - Debate sobre os temas apresentados. Elaboração do documento ´Carta de Fortaleza´

Mais informações:

I Congresso de Escritores e Poetas do Ceará. Palácio da Luz (Rua do Rosário, 1, Centro). De hoje a domingo. Entrada franca.

Fonte:
Colaboração da Biblioteca Comunitária Prof. Waldir de Souza Lima