sábado, 13 de junho de 2009

Jogos Florais Estudantis de Ribeirão Preto 2009 (Classificação Final)



Estudantil para alunos de 5ª a 8ª e ensino médio de todas as redes de ensino


LÁPIS – (Lírico ou filosófico)
BORRACHA (Humorístico)

VENCEDORES: (troféu)
LÁPIS – (Lírico ou filosófico)

1º lugar
O lápis trabalha o tema
que escrevo com alegria
o lápis cria o poema
amigo no dia-a-dia!
Christian G. Serafim 8ª B
Escola: Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

2º lugar
Com o lápis registrei
o seu nome, com amor,
só que nunca imaginei
que me desse tanta dor!
Maria Fabiana G. da Silva 6ªA
Escola: Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

3ª lugar
O lápis e o pensamento
escreveram bem assim:
com meu puro sentimento
eu te juro amor sem fim!
Raquel P. da Silveira 8ª A
Escola: Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

4º lugar
No papel tento expressar
Os gestos que não consigo
Só o lápis pode mostrar
Os dons que trago comigo.
Maria Rúbia S. Machado-nº26-7ª
EMEF “Professor Anísio Teixeira”

5º lugar
O lápis tem cores lindas
Arco-íris que vem do além
Como saudades infindas
Que nos fazem muito bem.
Guilherme de Almeida Camargo -7ª A
EMEF “Professor Anísio Teixeira”

MENÇÕES HONROSAS:
(medalha de prata)

1º lugar
No papel branco desenho
com o lápis, uma flor;
assim algo terno tenho
pra mandar ao meu amor!
Larissa G da Silva-6ª C
Escola: Cemei Dr. João Gilberto Sampai

2º lugar
O lápis é meu amigo
Com ele vou escrevendo
Ele sempre está comigo
A lição vou aprendendo.
Vania Carla Correa-6ª série
EMEF do CAIC Antonio Palocci

3º lugar
Com o lápis vou escrever
a paixão que tens por mim
com os teus olhos vou ver
um sentimento sem fim.
Gabriella Lucindo Reyde-7ª A
Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Elisa Duboc Garcia

4º lugar
Com o lápis vou escrevendo
um mundo sem crueldade
e assim nós vamos vivendo
com um pouco de igualdade.
Karina Aparecida Barreto Quirino -7ª A
Escola Municipal de Ensino Fundamental Profª Elisa Duboc Garcia

5º lugar
“Com um pequenino toque
De um só lápis encantado
Eu modifico meu rock
Num clássico inesperado”.
Mariana Cardoso Amaral Gonçalves-8ª A
EMEF “Professor Anísio Teixeira”

-


MENÇÕES ESPECIAIS
(medalha de bronze)

1º lugar
O meu lápis registrou
dias de felicidade,
mas a dor logo lembrou:
não passava de saudade!
Jaqueline A. de Oliveira-8ª A
Escola: Cemei Dr. João Gilberto Sampaio


2º lugar
Dia da prova chegou
todos com lápis na mão
a professora falou:
- agora, muita atenção!
Matheus H. Zanin-7ª A
EMEF do CAIC Antonio Palocci

3º lugar
Eu não posso te dizer
Também não posso explicar
Com o lápis posso escrever
O que sofro por amar.
Natália de Carvalho Vieira-7ª série D
CAIC Antonio Palocci

4º lugar
Lápis não anda sozinho
Precisa de uma mãozinha
Para escrever um versinho
Para brilhar na escolinha.
Adolfo Ribeiro Pina-7ª C
EMEF do CAIC Antonio Palocci

5º lugar
O lápis é como a vida:
um dia vai se acabar.
Só que a vida bem vivida
mais feliz vai terminar.
Thaís Marilaine T. Rodrigues da Silva-8ª A
CEMEI” Virgílio Salata”
===================
BORRACHA (Humorístico)
VENCEDORES:
(troféu)

1º lugar
A borracha eu usei
pra apagar minha lição
e com ela apaguei
nota baixa no provão.
João Vitor A Rosato-5ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

2º lugar
O churrasco do meu pai
é borracha...de terceira:
a cada mordida, um ai
e dois dentes pra lixeira!
Matheus Mattos -8ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio


3º lugar
Em minha rósea borracha
desenhei um coração
mas meu amor, que se “acha”,
jogou a pobre no chão!
Maria Victória -5ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

4º lugar
A borracha foi queixar
Perto daquela morena
Eu fui correndo buscar
Caí e saí de cena!
Marcos Aparecido Mendes Sobrinho-6ª C
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

5º lugar
A borracha do chiclete
Eu mastigo sem parar
e sem dó eu pinto o sete
o meu dente a estragar!
Artur Henrique Costa de Souza-5ª B
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

MENÇÕES HONROSAS
(medalha de prata)

1º lugar
A danada da borracha
sem querer caiu no chão,
dureza, ninguém a acha,
e me custou um dinheirão!
Izadora P. Moreira -8ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio


2º lugar
A borracha do estilingue
pra matar um passarinho,
se rasgou e, puxa, zingue!
foi na casa do vizinho!
Peterson José de Melo de Campos-5ª B
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

3º lugar
A borracha da mangueira
estourou na minha mão
puxa, me molhei inteira,
parecia um sopão!
Larissa G. da Silva-6ª C
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

4º lugar
Quis pedir uma borracha,
mas a língua é grudada...
falei mesmo foi “bolacha”
ganhei uma bofetada!
Paulo Henrique Mendonça Junior-7ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

5º lugar
Este cara do meu lado
Gastou da minha borracha
Mandou eu ficar calado
E comeu minha bolacha.
Vinicius Cipriano Andrade-6ª série
EMEF do CAIC Antonio Palocci

MENÇÕES ESPECIAIS
(medalha de bronze)

1º lugar
Com a borracha apaguei
lembranças de um mau passado
a cabeça eu arejei
- era um namoro arretado!
Júlia Maria Araújo -7ª B
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

2º lugar
A borracha eu cortei
fiz com ela uma mistura
num menino atirei
pois era uma belezura!
Mayara Ruiz Bonassa-5ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio


3º lugar
Emprestei uma borracha
mas ninguém me devolveu
eu comprei uma bolacha
só que o meu bem comeu!
Steffani Soares N. Amado-7ª A
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

4º lugar
A borracha apagou
o erro no meu escrito;
foi o lápis que errou
no fim, eu tomei um pito?
Reginaldo Ignácio Ferreira-7ª B
Cemei Dr. João Gilberto Sampaio

5º lugar
A borracha era infiel
Então o lápis se vingou
Desenhou-a no papel
ela mesma se apagou.
Bruna Giovana Malta Victal Teodoro -1º B-Ensino Médio
Emefem Dom Luis do Amaral Mousinho
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O resultado do XXII Jogos Florais de Ribeirão Preto Nacional e Internacional se encontra em http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/05/xxii-jogos-florais-de-ribeirao-preto_31.html
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Fonte:
UBT/SP– Seção de Ribeirão Preto

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Trova XX

Guilherme IX de Aquitânia (Poemas)


(as notas que estão entre chaves, estão ao final de cada poema)

Poema I

I.
Companheiro, farei um verso conveniente
que terá mais loucura, não sensatez,
e será todo mesclado de amor, de gozo [2] e de juventude.

II.
Tenhais por vilão quem não o entender, [3]
quem em seu coração com vontade não o aprender,
pois grave é partir aquele que encontra no amor prazer.

III.
Dois cavalos há para selar, e isso está bem.
São bons, corajosos em armas e valentes,
mas não posso tê-los juntos, pois um não suporta o outro.

IV.
Se eu pudesse domesticá-los do meu jeito,
não desejaria ter outros em minha guarnição,
pois, enquanto vivesse, estaria melhor cavalgado que qualquer homem. [4]

V.
Um deles foi o mais rápido dentre os cavalos montanheses,
mas há tanto tempo que está selvagemente fugitivo,
E é tão selvagem e feroz que se defende do comando.

VI.
O outro foi educado lá abaixo, próximo de Confolens. [5]
Nunca houve mais belo, em minha opinião;
este eu não trocaria nem por ouro, nem por prata.

VII.
Quando foi dado a seu senhor, era um potrinho que pastava,
mas eu o retive tão convenientemente,
que, se o tivesse por um ano, tê-lo-ai mais de cem.

VIII.
Cavaleiro, dai-me conselho de um pensamento,
nunca fui tão indeciso em uma escolha,
não sei qual ter, se Dona Agnes ou Dona Arsênia. [6]

IX.
Em Gimel eu tenho o castelo e o domínio,
e por Nieul tenho orgulho diante de todas as gentes,
pois ambos me são jurados e prometidos em sangue. [7]

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Notas

[1] Tradução feita a partir da edição Guillermo IX. Duque de Aquitania y Jaufré Rudel. Canciones completas (edicion bilingue preparada por Luis Alberto de Cuenca y Miguel Angel Elvira). Madrid: Editora Nacional, 1978, p. 26-29.

[2] Joy – Palavra que significa o êxtase do amor, alegria suprema, estado de espírito que elevava o trovador acima de si mesmo, resultado do amor sensual, sentimento novo desconhecido dos antigos e da Cristandade da Idade Média até então.

[3] Na poesia cavaleiresca, toda alusão ao camponês é sempre injuriosa. Aqui, a passagem sugere que todo camponês é ignorante e, pior, grosseiro, pois não é capaz de perceber as sutilezas dos versos de amor.

[4] “...estaria melhor cavalgado que qualquer homem”, expressão que representa o domínio da mulher (domina) sobre o homem. Posteriormente, o ato de ser cavalgado seria maravilhosamente narrado na lenda de Aristóteles e Phillys (Lai de Aristóteles, c. 1223, poema composto pelo clérigo e trovador normando Henri de Andeli [c. 1220-1240]). Ver COUTINHO, Priscilla Lauret e COSTA, Ricardo da. “Entre a Pintura e a Poesia: o nascimento do Amor e a elevação da Condição Feminina na Idade Média”. In: GUGLIELMI, Nilda (dir.). Apuntes sobre familia, matrimonio y sexualidad en la Edad Media. Colección Fuentes y Estudios Medievales 12. Mar del Plata: GIEM (Grupo de Investigaciones y Estudios Medievales), Universidad Nacional de Mar del Plata (UNMdP), diciembre de 2003, p. 4-28 (ISBN 987-544-029-9).

[5] Confolens – Cidade francesa localizada na região de Poitou-Charentes.

[6] Nesse momento, o poeta revela seu segredo - e a tensão do poema finda: os cavalos são duas damas, e ele só pode ficar com uma delas, pois ambas se odeiam!

[7] Após a revelação, o poema termina com um auto-elogio: apesar de sua indecisão no amor, Guilherme não quer deixar uma má impressão: embora hesitante, ele é poderoso, pois é estimado por todos, já que possui castelos e domínios.
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Poema IV

I.
Farei um verso do nada,
não será de mim, nem de outra gente,
não será do amor, nem da juventude,
nem de nada.
A trova foi feita dormindo
sobre um cavalo.

II.
Não sei em qual hora nasci,
não estou alegre, nem irado,
não sou rude, nem amigável,
nem tenho culpa,
pois assim fui de noite fadado,
em um monte elevado.

III.
Não sei quando durmo
nem quando velo, se alguém não me diz.
Por pouco não me parte o coração
uma dor lancinante,
mas não me troco por uma formiga,
por São Marcial! [2]

IV.
Doente estou e creio morrer,
e nada sei além do que ouço dizer.
Um médico buscarei por minha vontade,
mas não conheço tal.
Bom médico será se me puder curar,
mas não, se piorar!

V.
Amiga tenho, mas não sei quem é,
pois nunca a vi, se me tens fé,
nada fez que me agrade ou me pese,
e não me importo,
pois nunca houve normando ou francês
dentro de minha casa.

VI.
Nunca a vi e fortemente a amo,
nunca me fez favor ou desfavor,
quando não a vejo, não me divirto,
mas não me troco por um galo, [3]
que seja mais gentil e formosa,
e que valha mais.

VII.
Não sei o lugar onde está,
se é no monte ou no plano,
não me atrevo a dizer a injustiça que me faz,
antes me calo,
ou me pesa muito quando fica aqui,
portanto vou.

VIII.
Feito está o verso, não sei do que,
e envio-o àquele
que o envie através de outro
a Poitou,
e que de seu estojo me traga
a aduela. [4]
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Notas

[1] Tradução feita a partir da edição Guillermo IX. Duque de Aquitania y Jaufré Rudel. Canciones completas (edicion bilingue preparada por Luis Alberto de Cuenca y Miguel Angel Elvira). Madrid: Editora Nacional, 1978, p. 70-73.

[2] Um dos sete filhos de uma nobre romana chamada Felicidade. Todos foram martirizados no tempo do imperador Antonino (86-161). Na passagem, o poeta, mesmo sofrendo muito de amor, afirma que não trocaria de lugar com ninguém, nem mesmo com uma formiga.

[3] Uma vez mais o poeta sofre, mas não troca seu lugar por nada, nem por ninguém. Essa segunda alusão ao bestiário é muito interessante.

[4] "...me traga a aduela", isto é, o conhecimento do lugar onde entrar para se encontrar com a dama.

Fonte:
Trad. e notas: Prof. Dr. Ricardo da Costa (Ufes)

Guilherme IX, Duque da Aquitânia (1071 – 1126)


Guilherme IX da Aquitânia, o Trovador (22 de Outubro 1071 – 10 de Fevereiro 1126) foi Duque da Aquitânia e da Gasconha e Conde de Poitiers entre 1086 e 1126. Foi também um dos líderes da Primeira Cruzada e um dos primeiros trovadores e poetas vernaculares.

Guilherme era filho do duque Guilherme VIII e de Hildegarda da Borgonha (? - 1050), filha de Roberto I, Duque da Borgonha "O velho", duque da Borgonha e de Ermengarda Branca de Anjou.

Foi casado por cinco vezes, a primeira esposa foi Ermengarda de Anjou, antes de a repudiar para casar em 1094 com Filipa de Toulouse foi mais tarde também repudiada devido à paixão de Guilherme por uma mulher casada, conhecida por Dangereuse nos seus poemas de nome Maubergeonne de L'Isle-Bouchard. O quarto casamento foi com Berta e a história não regista o nome da quinta esposa.

Guilherme juntou-se à Cruzada liderada por Godofredo de Bulhão apenas depois da conquista de Jerusalém em 1099. O registo militar do contingente da Aquitânia não foi notável, em parte devido às fracas capacidades de liderança militar de Guilherme: falharam a participação em batalhas importantes e foram frequentemente derrotados em escaramuças menores. Anos depois, Guilherme prestou auxílio aos esforços da rainha Urraca de Castela em conquistar Córdova aos mouros, e ao rei Filipe I de França na sua guerra contra Guilherme o Conquistador.

O maior legado histórico de Guilherme foi no campo das artes. Foi um dos primeiros poetas líricos da Europa e um dos primeiros trovadores. As suas cantigas caracterizavam-se pelo uso de forte linguagem vernacular e cantavam temas diversos, apesar de a maioria ser sobre sexo, amor e mulheres. Esta escolha de tema na Idade Média (quando a música era quase exclusivamente composta de cânticos religiosos) provocou admiração e ao mesmo tempo escândalo e choque. Guilherme era um homem que gostava de chocar e não reformou a sua conduta apesar de ter sido ameaçado de excomunhão várias vezes. Chegou mesmo a planear a construção de um convento onde as freiras seriam escolhidas entre as raparigas mais bonitas da região. O projecto acabou abandonado e para o fim da vida Guilherme doou somas importantes à Igreja, talvez para se redimir da má impressão causada.

Do casamento com Ermengarda de Anjou (1068 + Jerusalém 1 de Junho de 1146) filha de Fulco IV, conde de Anjou Conde de Anjou e de Hildegarda de Beaugency, não teve filhos.

Do casamento com Maubergeonne de L'Isle-Bouchard (1075 - 1153) filha de Barthélémy de L'Isle-Bouchard e de Gerberga, também não teve filhos.

Do casamento com Berta teve:
Guilherme de Valentinois, Conde de Valentinois (? - 1187) casou com de Valentinois.

De um casamento com um senhora cujo nome a história não regista, teve:
Raimundo de Poitiers (cerca 1099 - 27 de Junho de 1149), líder do principado de Antioquia, casado com Constança de Antioquia

Fonte:
Wikipedia

Academia Campinense de Letras



No ano de 1956, por iniciativa do então secretário municipal de educação e cultura, professor Francisco Ribeiro Sampaio, também titular da cadeira de filologia portuguesa na Pontifícia Universidade Católica de Campinas, reuniram-se no dia 17 de maio, nas dependências do Teatro Municipal os mais destacados nomes da intelectualidade campinense para decidir sobre a fundação do sodalício, que ficou consagrada , referencialmente, na predita data. A sessão de posse e instalação ocorreu a 22 de novembro do mesmo ano, tendo sido eleito como primeiro presidente o próprio prof. Sampaio.

Criada nos moldes da Academia Brasileira de Letras , a ACL é composta de quarenta cadeiras de provimento vitalício.

O primeiro corpo de acadêmicos fundadores foi constituído pelos intelectuais: prof. Francisco Ribeiro Sampaio, Dr. Paulo Mangabeira Albernaz, Dr. Theodoro de Souza Campos Júnior, prof. Armando dos Santos, Sr. Heládio Brito, Dr. Herculano Gouvêa Neto, prof. Stênio Pupo Nogueira, Dr. Carlos Francisco de Paula, prof. Mário Gianini, Dr. Valdemar César da Silveira, jornalista Luso Ventura, prof. Benedito Sampaio, monsenhor Emílio José Salim, Dr. Carlos Foot Guimarães, Dr. Antônio Leite Carvalhaes, prof. José Roberto do Amaral Lapa. A esses nomes posteriormente se acrescentaram, por eleição , mais os seguintes: Dr. Francisco José Monteiro Sales, Dr. Edmundo Barreto, Dr. José Emanuel Teixeira de Camargo, Dr. Plínio do Amaral, Sr. José de Castro Mendes, Dr. Paulo de Castro Pupo Nogueira, Dr. Mílton Duarte Segurado, prof. Francisco Galvão de Castro, tenente-coronel Waldomiro de Vasconcelos Ferreira, e Sr. Celso Maria de Melo Pupo, Dr. Lycurgo de Castro Santos Filho, o Sr. Rafael de Andrade Duarte , Dr. Camilo Geraldo de Souza Coelho, Sr. Sebastião Alvarenga, Dr. Francisco de Assis Iglesias, Dr. Nélson Noronha Gustavo Filho, Dr. Paulo da Silva Pinheiro, prof. Adalberto Prado e Silva, prof. Norberto de Sousa Pinto, Dr. Mário Erbolato, e prof. Guilherme Leanza e , por último, o deputado Ruy de Almeida Barbosa, em substituição ao dr. Antônio da Costa Neves Júnior, que declinou da indicação. Posteriormente , declinaram também, os jornalistas Luso Ventura e Mário Erbolato.

O prof. Francisco Ribeiro Sampaio foi então confirmado presidente para um mandato de dois anos.

Atual Presidente Presidente – Agostinho Toffoli Tavolaro

OBJETIVO

Concebida nos moldes consagrados de suas congêneres, congrega intelectuais e literatos da terra campinense com o fito primordial de promover as letras, incrementar a cultura e cultuar a historia da cidade de Campinas.

No encalço destes objetivos, disponibiliza sua sede ao publico em geral e aos intelectuais em particular congregando diversas entidades culturais que dela se servem para seus encontros e eventos, como a Academia Campinense Maçônica de Letras, o Centro de Poesia e Artes de Campinas ( CEPAC), Casa do Poeta, alem, evidentemente do vasto programa da própria agremiação diversificado em palestras mensais proferidas por acadêmicos ou convidados, regularmente complementadas por apresentações musicais, premiações de artistas destacados, o mais das vezes, expositores da galeria de artes Lelio Coluccini, a qual permanentemente abre-se à comunidade de artes plásticas campinense para suas mostras e ventos.

O poder público ali encontra, analogamente, ambiente favorável e instalações adequadas para congressos, palestras e treinamento de pessoal docente, ligados à Secretaria Municipal de Educação, disponibilidade da qual não se exclui a rede particular de ensino do município.

Possuidora de vasto acervo bibliotecário, o disponibiliza ao publico campinense através de convênio com o Centro de Ciências Letras E Artes de Campinas, que o mantêm , em separado, junto à sua própria biblioteca, ate que possa a academia abrigá-lo nas suas próprias instalações.

SEDE

Por outorga da Prefeitura Municipal de Campinas, possui a Academia Campinense de Letras sede própria, projetada e construída exclusivamente para seu funcionamento sobre o terreno situado à Rua Marechal Deodoro ,n.525, Centro, Campinas , SP, com CEP 13010-300 e telefone 0XX19-32312854.

A concepção arquitetônica obedeceu os mais rígidos princípios da ordem dórica que vigorava no século VI a. C., caracterizada por colunas grossas no primeiro terço, adelgando nos dois terços seguintes, sendo , de alto a baixo, sulcadas de caneluras ou estrias em meia cana, encimadas por capitéis que suportam o entablamento. Lintéis, ligando os capitéis, formam a arquitrave para apoio das vigas do teto.

De maneira geral, a construção segue as normas arquitetônicas dos templos gregos.
Imortais (em negrito, os patronos das cadeiras)

01 Leopoldo Amaral
1-Francisco Ribeiro Sampaio
2-Maria Lúcia de Souza Rangel Ricci

02 Dom João Nery
1-Monsenhor Emílio José Salim
2-Dante Alighieri Vita
3-Francelino de Souza Araújo Piauí
4-Rogério César Cerqueira Leite.
5-Côn.José Antônio Moraes Busch

03 Carlos de Laet
1-Benedito Sampaio
2-Maurício de Moraes
3-Carlos Aquino Pereira

04 Afrânio Peixoto
1-Valdemar César da Silveira
2-Penido Burnier
3-Wilson Brandão Toffano
4-João Ribeiro Júnior

05 João Lourenço Rodrigues
1-Carlos Francisco de Paula
2-André Leme Sampaio
3-Odilon Nogueira de Matos

06 César Bierrenbach
1-Herculano Gouvêa Neto
2-Rosalvo Madeira Cardoso

07 Euclides da Cunha
1-Armando dos Santos
2-Benedito José Barreto Fonseca

08 Hildebrando Siqueira
1-Francisco Isolino Siqueira

09 Monteiro Lobato
1-Antônio Leite Carvalhaes

10 Pe. Leonel França
1-Mário Giannini
2-Isolde Helena Brans

11 Júlio de Mesquita
1-Carlos Foot Guimarães
2-Messias Gonçalves Teixeira
3-Jorge Antônio José
4-Luno Volpato

12 Francisco de Moraes Júnior
1-Stênio Pupo Nogueira
2-Marina Becker

13 Castro Alves
1-Heládio José de Ávila Brito

14 Bernardo de Souza Campos
1-Theodoro de Souza Campos
2-Pedro João Bondaczuck

15 Ruy Barbosa
1-Paulo Mangabeira Albernaz
2-Rubem Alves

16 Tomaz Alves
1-Monteiro Sales
2-Nair de Santana Moscoso
3-Dr. Hélcio Maciel França Madeira

17 Afonso de Taunay
1-Hilton Federici
2-Maria Dezonne Pacheco Fernandes
3-Rubem Costa

18 Arnaldo Vieira de Carvalho
1-José Emanuel Teixira de Camargo
2-Arita Damasceno Pettená

19 Amadeu Amaral
1-Plínio do Amaral
2-Renê Pena Chaves
3-João Francisco Régis de Moraes

20 Rodrigues de Abreu
1-Alechandre Chiarini
2-Maria Celestina Teixeira Mendes Torres

21 Artur Segurado
1-Milton Duarte Segurado

22 Oliveira Viana
1-Francisco Galvão de Castro
2-Uassyr Martinelli

23 Alberto de Oliveira
1-Waldomiro de Vasconcelos Ferreira
2-José Aristodemo Pinotti

24 Benedito Otávio
1-José Roberto do Amaral Lapa
2-Luiz Carlos Ribeiro Borges

25 João Batista Pupo de Moraes
1-Paulo de castro Pupo Nogueira
2-Luís Felipe da Silva Wiedemann
3-Duílio Battistoni Filho

26 Ricardo Gumbleton Daunt
1-Lycurgo de Castro Santos Filho
2- Sérgio Galvão Caponi

27 Custódio Manuel Alves
1-Rafael de Andrade Duarte
2-Mauro Sampaio
3-Luiz Antônio Alves Torrano

28 Pelágio Álvares Lobo
1-Camilo Geraldo de Souza Coelho

29 Paulo Álvares Lobo
1-Celso Maria de Mello Pupo
2-Dr. João Plutarco Rodrigues Lima

30 Humberto de Campos Veras
1-Sebastião Alvarenga
2-Maria Conceição de Arruda Toledo

31 Plínio Barreto
1-David Antunes
2-Mário Pires
3-Alcy Gigliotti

32 Vital Brasil
1-Francisco de Assis Iglesias
2-Luís Gonzaga Horta Lisboa
3-Célia Siqueira Farjallat

33 Sud Menucci
1-Norberto de Souza Pinto
2-Maria José Morais Pupo Nogueira

34 José de Sá Nunes
1-Adalberto Prado e Silva
2-Régis Torres de Castro
3-Nathanael de Almeida Leitão

35 D. Francisco de Aquino Correia
1-Nelson Norronha Gustavo Filho
2-Lauro Péricles Gonçalves

36 Carlos Willian Stevenson
1-Paulo da Silva Pinheiro
2-Julio Mariano Júnior

37 Francisco Quirino dos Santos
1-Marino Emílio Falcão Lopes

38 Manuel Ferraz de Campos Sales
1-Ruy de Almeida Barbosa
2-Ana Suzuki

39 José de Anchieta
1-Mons. Luiz Fernandes de Abreu
2-Cônego João Corrêa Machado
3-José Alexandre dos Santos Ribeiro

40 Antônio Álvares Lobo
1-Carlos Penteado Stevenson
2-Ver. Júlio Andrade Ferreira
3-Agostinho Toffoli Tavolaro

Fonte:
Academia Campinense de Letras

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Trova XIX

Melhorando seu Vocabulário (1)


Quantas vezes não nos deparamos com textos, em que algumas palavras em seu contexto desconhecemos, e ao tentarmos procurar nos arquivos mortos de nossa memória, terminamos por perder o fio da meada do texto que estavamos lendo ? Eu, outro dia estava lendo A Ilha dos Pinguins, de Anatole France, e realmente fiquei consternado ao perceber que apesar de todo o conhecimento que possuo do nosso vocabulário, existiam muitas palavras que eu não sabia o significado, nem utilizando dos subterfúgios de procurar desmembra-las em busca de um significado do latim ou do grego.

Por isso, para facilitar o entendimento delas, estou criando esta seção “Melhorando o seu vocabulário”, com textos escolhidos de obras literárias, onde o internauta poderá testar seus conhecimentos do idioma. As palavras destacadas estão negritadas. Tente entender o significado antes de obter as respostas, clicando aqui.
(José Feldman)
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Estudaremos a poesia Monólogo de uma Sombra, de Augusto dos Anjos, em seu livro Eu e Outras Poesias:
MONÓLOGO DE UMA SOMBRA

"Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!

A simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A sáude das forças subterrâneas
E a morbidez dos seres ilusórios!

Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papirus
E a miséria anatômica da ruga!

Na existência social, possuo uma arma
- O metafisicismo de Abidarma -
E trago, sem bramânicas tesouras,
Como um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva
De todas as espécies sofredoras.

Como um pouco de saliva quotidiana
Mostro meu nojo á Natureza Humana.
A podridão me serve de Evangelho...
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques
E com certeza meu irmão mais velho!

Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha,
À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça
Como urna vocação para a Desgraça
E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
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O estudo da poesia continua …
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quarta-feira, 10 de junho de 2009

Raul de Leoni (Poesias)


A HORA CINZENTA

Desce um longo poente de elegia
Sobre as mansas paisagens resignadas;
Uma humaníssima melancolia
Embalsama as distancias desoladas...

Longe, num sino antigo, a Ave-Maria
Abençoa a alma ingênua das estradas;
Andam surdinas de anjos e de fadas,
Na penumbra nostálgica, macia...

Espiritualidades comoventes
Sobem da terra triste, em reticência
Pela tarde sonâmbula, imprecisa...

Os sentidos se esfumam, a alma é essência
E entre fugas de sombras transcendentes,
O pensamento se volatiliza...

ARGILA

Nascemos um para o outro, dessa argila
De que são feitas as criaturas raras;
Tens legendas pagãs na carnes claras
E eu tenho a alma dos faunos na pupila...

Às belezas heróicas te comparas
E em mim a luz olímpica cintila,
Gritam em nós todas as nobres taras
Daquela Grécia esplêndida e tranqüila...

É tanta a glória que nos encaminha
Em nosso amor de seleção, profundo,
Que (ouço de longe o oráculo de Elêusis),

Se um dia eu fosse teu e fosses minha,
O nosso amor conceberia um mundo,
E do teu ventre nasceriam deuses...

DECADÊNCIA

Afinal, é o costume de viver
Que nos faz ir vivendo para a frente.
Nenhuma outra intenção, mas, simplesmente
O hábito melancólico de ser...

Vai-se vivendo... é o vício de viver...
E se esse vício dá qualquer prazer à gente.
Como todo prazer vicioso é triste e doente,
Porque o Vício é a doença do Prazer...

Vai-se vivendo... vive-se demais,
E um dia chega em que tudo que somos
É apenas a saudade do que fomos...

Vai-se vivendo... e muitas vezes nem sentimos
Que somos sombras, que já não somos mais nada
Do que os sobrevivente de nós mesmos!...

TRANSUBSTANCIAÇÃO

Esta chance em que existo há de tornar-se um dia,
Em húmus germinal, em seiva fecundante,
Decompondo-se em Pó, há de ser a energia
De vidas que sobre ela hão de viver adiante...

Será fonte, Princípio, a tábida apatia
De um movimento novo intérmino e constante,
Sua ruína será a feraz embriogenia
De outros tipos de Vida, instante para instante.

Há de um horto florir por sobre o seu passado.
Borboletas iriais e anêmonas olentes,
Vidas da minha Morte, eu mesmo transformado...

E, assim, irei buscando a Perfeição perdida,
Vivendo na Emoção de seres diferentes
Que a Morte é a transição da Vida para a Vida...

DESCONFIANDO

Tu pensas como eu penso, vês se eu vejo,
Atento tu me escutas quando falo;
Bem antes que te exponha o meu desejo
Já pronto estás correndo a executá-lo.

Achas em tudo um venturoso ensejo
De servir-me a verdade num gracejo.
Serias, se eu quisesse, o meu cavalo...

Mas não penses que estólido eu te creia
Como um Patroclo abnegado, não
De todos os excessos de receia...

O certo é que, em rancor, por dentro estalas;
Odeias-me quem eu sei, mas, histrião,
Beijas-me as mãos por não poder cortá-las…

“ ALMAS DESOLADORAMENTE FRIAS...”

Almas desoladoramente frias
De uma aridez tristíssima de areia,
Nelas não vingam essas suaves poesias
Que a alma das cousas, ao passar, semeia...

Desesperadamente estéreis e sombras
Onde passas (triste aura que as rodeia!)
Deixam uma atmosfera amarga, cheia
De desencantos e melancolias...

Nessa árida rudeza de rochedo,
Mesmo fazendo o bem, sua mão é pesada,
Sua própria virtude mete medo...

Como são tristes essas vidas sem amor,
Essas sombras que nunca amaram nada,
Essas almas que nunca deram flor…

CREPUSCULAR

Poente no meu jardim... O olhar profundo
Alongo sobre as árvores vazias,
Essas em cujo espírito infecundo
Soluçam silenciosas agonias.

Assim estéreis, mansas e sombrias,
Sugerem à emoção em que as circundo
Todas as dolorosas utopias
De todos os filósofos do mundo.

Sugerem... Seus destinos são vizinhos:
Ambas, não dando frutos, abrem ninhos
Ao viandante exânime que as olhe.

Ninhos, onde vencida de fadiga,
A alma ingênua dos pássaros se abriga
E a tristeza dos homens se recolhe...

UNIDADE


Deitando os olhos sobre a perspectiva
Das cousas, surpreendo em cada qual
Uma simples imagem fugitiva
Da infinita harmonia universal.

Uma revelação vaga e parcial
De tudo existe em cada cousa viva:
Na corrente do Bem ou na do Mal
Tudo tem uma vida evocativa.

Nada é inútil; dos homens aos insetos
Vão-se estendendo todos os aspectos
Que a idéia da existência pode ter;

E o que deslumbra o olhar é perceber
Em todos esses seres incompletos
A completa noção de um mesmo ser...

PUDOR

Quando fores sentindo que o fulgor
Do teu Ser se corrompe e a adolescência
Do teu gênio desmaia e perde a cor,
Entre penumbras em delinquescência,

Faze a tua sagrada penintência,
Fecha-te num silêncio superior,
Mas não mostres a tua decadência
Ao mundo que assistiu teu esplendor!

Foge de tudo para o teu nadir!
Poupa ao prazer dos homens o teu drama!
Que é mesmo triste para os olhos ver

E assistir, sobre o mesmo panorama,
A alegoria matinal subir
E a ronda dos crepúsculos descer...

PRUDÊNCIA

Não aprofundes nunca, nem pesquises
O segredo das almas que procuras:
Elas guardam surpresas infelizes
A quem lhes desce às convulsões obscuras.

Contenta-te com amá-las, se as bendizes,
Se te parecem límpidas e puras,
Pois se, às vezes, nos frutos há doçuras,
Há sempre um gosto amargo nas raízes...

Trata-se assim, como se fossem rosas,
Mas não despertes o sabor selvagem
Que lhes dorme nas pétalas tranquilas,

Lembra-te dessas flores venenosas!
As abelhas cortejam de passagem,
Mas não ousam prová-las nem feri-las..

AOS QUE SONHAM

Não se pode sonhar impunemente
Um grande sonho pelo mundo afora,
Porque o veneno humano não demora
Em corrompê-lo na íntima semente...

Olhando no alto a árvore excelente,
Que os frutos de ouro esplêndidos enflora,
O Sonhador não vê, e até ignora
A cilada rasteira da Serpente.

Queres sonhar? Defende-te em segredo.
E lembra, a cada instante e a cada dia,
O que sempre acontece e aconteceu:

Prometeu e o abutre no rochedo,
O calvário do filho de Maria
E a cicuta que Sócrates bebeu!
---------------------

Raul de Leoni (1895 – 1926)


Raul de Leoni (Petrópolis, 30 de outubro de 1895 — Itaipava, 21 de novembro de 1926)

30 de outubro de 1895, nasce em Petrópolis, Estado do Rio, Raul de Leoni Ramos, terceiro filho do magistrado Carolino de Leoni Ramos e de D. Augusta Villaboim Ramos.

Em 1903, cursa o primário e, a seguir, o secundário, no Colégio Abílio, em Niterói.

Em 11 de setembro de 191o, faz a Primeira Comunhão aos quinze anos, na Capela do Colégio São Vicente, dos padres Premonstratenses, em Petrópolis, onde se encontra internado.

Em 1912, matricula-se da Faculdade Livre de Direito do Distrito Federal, colando grau de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, quatro anos mais tarde.

Parte para a Europa em 9 de abril de 1913, indo visitar a Inglaterra, França, Itália, Espanha e Portugal. Impressiona-se com Florença, única cidade nominalmente decantada em seu livro.

De volta ao Rio de Janeiro, em 1914, inicia colaboração literária nas revistas Fon-Fon e Para-Todos, colaborando mais tarde em O Jornal (1919), no Jornal do Comércio e no Jornal do Brasil.


Em 13 de março de 1918 é nomeado, por Nilo Peçanha, Ministro das Relações Exteriores no governo Wenceslau Brás, para o cargo de Secretário da Legação do Brasil em Cuba, não chegando a assumir, regressando da Bahia.

No ano de 1919, após declinar da sua nomeação para cargo idêntico, em nova Legação junto ao Vaticano, aceita ir para Montevidéu, onde permanece por três meses, para logo definitivamente abrir mão da Diplomacia. É eleito Deputado à Assembléia Fluminense. Publica seu primeiro livro de poemas: Ode a um poeta morto, dedicado à memória de Olavo Bilac.

Em 8 de setembro de 1920 contrai casamento com Ruth Soares de Gouvêa.

Em 6 de abril de 1921 casa-se com Ruth Soares de Gouvêa.

No ano de 1922 publica Luz mediterrânea, e começa a colaborar no jornal O Dia.

Em 1923, vitimado pela tuberculose, abandona o convívio de parentes e amigos, indo para Corrêas, e a seguir, Itaipava, licenciando-se do cargo de inspetor na companhia de seguros em que trabalhava.

Falece em 21 de novembro de 1926, na Vila Serena, em Itaipava, Petrópolis, hoje condomínio Alexandre Mayworm. Após a sua morte em Itaipava seu corpo foi conduzido para Petrópolis, que lhe prestou suas últimas homenagens, sepultando-o à sombra do Cruzeiro das Almas, erigindo-lhe um mausoléu e dando o seu nome a um trecho da Rua Sete de Setembro.

Sinopse crítica da obra do autor

A obra de Raul de Leoni obteve estudos críticos de de Agrippino Grieco, Rodrigo Melo Franco de Andrade, Medeiros de Albuquerque, Alceu Amoroso Lima, Ronald de Carvalho, Manuel Bandeira, Afonso Arinos de Melo Franco, Tasso da Silveira e Sergio Milliet. Foi o poeta de maior realce na última fase do simbolismo, e justamente considerado como uma das figuras mais notáveis do soneto brasileiro de todos os tempos.

Parnasianos, simbolistas e até modernistas o têm em alta conta, apreciando-o sem reservas. Cada um de seus versos tem sonoridade e ritmo primorosos, especialmente os dos sonetos, em decassílabos, mesclados de simbolismo e de modernismo, com tessitura clássica e técnica parnasiana. São versos considerados dos mais perfeitos: em idéia, filosofia, e essência das temáticas. Porém, a mesma unanimidade não tem a crítica ao situar o poeta, em diferentes julgamentos, onde foi colocado nas escolas e posições poéticas as mais diferentes e contraditórias. Enquanto alguns dos seus críticos o consideram um genuíno parnasiano, outros enxergam nele o simbolista autêntico, terceiros acreditam ter sido um neo-parnasiano e outros o situam num grupo completamente independente das regras poéticas e influências de escolas e movimentos literários.

Análise literária

O seu ritmo peculiar e admirável de versificação, o conjunto de idéias sublimes de suas palavras, são os aspectos mais fortes que envolvem a magnífica harmonia da unidade de pensamento que existe em toda sua obra. Raul de Leoni é poeta de grandeza solitária, unindo a uma filosofia panteística um espírito helênico de poesia ligada ao canto e a música. Apesar de apontarem em seus versos Pascal e Platão, sua poesia nada tem de filosófica. É espontânea, colorida, sensual. Sua estética à maneira platônica leva-o a uma vizinhança extraordinária com o Simbolismo, sendo, tanto quanto Guimarães Passos um grande poeta de transição.

Todavia a crítica literária brasileira é unânime em assinalar a alta linhagem clássica da poesia de Raul de Leôni, fundada na homogeneidade da sua primazia gramatical, temática e métrica, e consolidada no seu bom gosto literário, reconhecidos como impecáveis, desde a sua época até os dias atuais.

A sua poesia embora contenha formas antigas e clássicas, é caracterizada por um imperecível espírito de modernidade, o que lhe assegura compreensão ilimitada e aperiódica, e o introduz na seleta plêiade dos poetas imortais.

Principais poemas

De todos os poetas brasileiros, de qualquer escola onde existissem regras poéticas, incluindo os independentes, o único que não sofreu sequer um sopro de menosprezo do assíduo fôlego da "corrente modernista brasileira" foi Raul de Leôni.

Seus sonetos, de métricas perfeitas, repletos de metáforas e de concepções filosóficas extraordinárias, corriam nos cadernos de poesia dos moços e moças da época, que compreendiam aqueles versos de palavras doces, que continham, ao mesmo tempo, tanta simplicidade e tanto esclarecimento.

A 1ª edição do "Luz Mediterrânea", de 1922, editada em vida pelo autor, começa com o poema "Pórtico" (onde ele se desvencilha, quase por completo, dos laços da influência do Parnaso brasileiro) e termina com o "Diálogo Final", tendo sido os "Poemas Inacabados" (que o poeta, ao pressentir a morte prematura, pediu para sua mulher queimar, e ela não compreendeu o seu pedido) que fazem parte da 2ª edição, e das edições seguintes, foram anexados ao "Luz Mediterrânea" pelos outros editores das mesmas.

Se Ode a um Poeta Morto é realmente parnasiano, não o são muitos dos poemas de Luz Mediterrânea, entre eles História de uma alma, E o poeta falou, Imaginação, Supertição?, etc., sem omitir o soneto Argila, um dos melhores da lingua e do qual disse Agripino Grieco, que "todo brasileiro deveria saber de cor".

Fontes:
- Academia Brasileira de Poesia da Casa de Raul de Leoni
- Wikipedia

Convite Oficial do 8º Circuito Literatura do CLESI - Ipatinga


Vencedores dos prêmios do 8º Circuito de Literatura do Clesi

6º Prêmio Nacional de Poesia – Cidade Ipatinga

1º lugar –
Do tempo enfeitado de azul, de Marcelo Rocha, de Governador Valadares-MG

2º lugar –
Quando o outono vier, de Augusto Sérgio Bastos, do Rio de Janeiro-RJ

3º lugar –
Ofício de Angústias, de Santos Peres, de Avaré-SP

Menção Honrosa

Era rima a tua carne, de Frederico Spada, de Juiz de Fora-MG

O Quintal, de Fabrício Pires Fortes, de Santa Maria-RS

A face do beijo, de Alzira Maria Umbelino, de Belo Horizonte-MG

Quaresmeiras e outras paixões que não roxeam, de Éder Rodrigues, de Belo Horizonte-MG.
===================

23º Festival Estadual de Poesia

1º Lugar –
Diários de Entomofagia, de Simone Eberle, de Ipatinga - MG

2º Lugar –
Mulheres Sacrossantas, de Luiz Dias Vasconcelos, de Sete Lagoas - MG

3º Lugar –
Jejum, de Éder Rodrigues, de Belo Horizonte - MG

4º Lugar –
Dias Áridos, de Adriano Alcântara, de Passos - MG

5º Lugar –
Sexo Verbal, de Jhonatan de Souza Oliveira, de Coronel Fabriciano - MG
==============

7º FESP Destaque Infanto-Juvenil

Categoria de 08 a 11 anos

1º Lugar –
Ser Criança é..., Kiara Lacerda de Lacerda, de Belo Oriente – MG
Colégio São Francisco Xavier

2º Lugar –
Recado Urgente, Quéren Hapuque Viega Pereira, de Governador Valadares – MG
E. E. Pedro Ribeiro Cavalcante Filho

3º Lugar –
O Artista Deus, de Samantha Oliveira Brum, de Ipatinga – MG
Colégio São Francisco Xavier

Categoria de 12 a 15 anos

1º Lugar –
O Farol, de Fernanda Aguiar Tavares, de Belo Horizonte – MG
E. M Salgado Filho

2º Lugar
Juventude, de Liridiow Ferreira Costa, de Governador Valadares – MG
E. E.Pedro Ribeiro Cavalcante Filho

3º Lugar
Para ela eu disse adeus, de Nélio Carvalho Soares, de Governador Valadares – MG
E. E.Pedro Ribeiro Cavalcante Filho
=========================

8º Concurso Estadual de Contos

1º lugar
Cataclisma, de Ligia Pôrto, de Belo Horizonte-MG

2º lugar
Diário de Um Real Imaginário, de Andreia Donadon Leal, de Mariana-MG

3º lugar
Mimo, de Alzira Maria Umbelino, de Belo Horizonte-MG

Clube dos Escritores de Ipatinga
Tel.: 31-3822.3876 / 8673.2532
http://www.clesi.com.br/

Fonte:
Academia Brasileira de Poesia da Casa Raul de Leoni

Humberto de Campos (A Rosa Azul)



O comendador Luiz de Faria acabava de fechar os olhos à velha marquesa de São Justino, adoçando-lhe o momento da morte com a noticia alvissareira e mentirosa da completa regeneração do seu neto, o estudante Guilherme de Araújo, quando o encontrei à porta da casa funerária, à espera do seu automóvel. Abalado, ainda, pela emoção daquele instante, em que tivera de lançar mão de uma falsidade para perfumar o último sopro de uma vida de virtudes e sofrimentos, o antigo par do reino português aceitou um lugar no meu "taxi", e confessou-me, em viagem:

- A mentira, meu amigo, é, às vezes, uma necessidade. Aquela de que me socorri há meia hora, para suavizar a morte de uma santa, de uma senhora cuja maior esperança consistia no futuro de um neto que se desgarrara do lar, era tão necessária como a do prior da Cartuxa para alegrar a agonia daquele célebre monge do Bussaco.

Eu olhei, interrogativamente, o meu companheiro de viagem, e ele, percebendo a ignorância, indagou, com admiração:

- Não conhece, então, a lenda da rosa azul?

À minha afirmativa, que lhe pareceu estranha, o comendador apoiou as mãos robustas no castão de ouro da bengala, e contou:

- No Mosteiro da Cartuxa, no Bussaco, em Portugal, vivia, em séculos que já se foram, um piedoso e santo monge, cuja vida se consumia, inteira, entre a oração e as rosas. Jardineiro da alma e das flores, passava ele as manhãs de joelhos, no silencio da nave, aos pés de um Cristo crucificado, e as tardes, no pequeno jardim da ordem, curvado diante das roseiras, que ele próprio plantava e regava.

O comendador interrompeu um momento a narrativa, recostou-se na almofada, e continuou:

A sua paciência de jardineiro era absorvida, entretanto, por uma idéia, que era um sonho: encontrar a rosa azul das legendas do Oriente, de que tivera noticia, uma noite, ao ler os poemas latinos dos velhos monges medievais. Para isso, casava ele as sementes, os brotos, fundia os enxertos, combinando as terras, com que as cobria, e as águas, com que as regava, esperando, ansioso, o aparecimento, no topo da haste, do sonhado botão azul! Ao fim de setenta anos de experiências e sonhos, em que se lhe misturavam na imaginação as chagas vermelhas de Cristo e as manchas celestes da sua rosa encantada, surgiu, afinal, no coroamento de um galho de roseira, um botão azul, como o céu. Centenário e curvado, o velhinho não resistiu à emoção; adoeceu, e, conduzido à cela, ajoelhou-se diante do Crucificado, pedindo-lhe, entre soluços pungentes, que, como prêmio à santidade da sua vida, não lhe cerrasse os olhos sem que eles vissem, contentes, o desabrochar da sua rosa azul.

Uma nova pausa, e o meu companheiro tornou:

- Em volta do santo velhinho, no catre do mosteiro, todos choravam, compungidos. E foi, então, que, divulgada de boca em boca, foi a noticia ter a um convento das proximidades, onde jazia, orando e sonhando, uma linda infanta de Portugal. Moça e formosa, e, além de formosa e moça, - fidalga e portuguesa, compreendeu a pequenina freira, no jardim do seu sonho, o valor daquela ilusão, e correu à sua cela, consumindo toda uma noite a fazer, com os seus dedos de neve, uma viçosa flor de seda azul, que perfumou, ela própria, com essência de gerânio. E no dia seguinte, pela manhã, morria no seu catre, sorrindo entre lágrimas de alegria, por ter nas mãos tremulas, por um milagre do céu, a sua rosa azul!

O "taxi" parava no meio-fio da calçada, o comendador acrescentou, estendendo-me a mão agradecida:

- Feliz, meu amigo, aquele que morre, como esse monge e a marquesa, apertando nas mãos a rosa, mesmo mentirosa, de uma roseira de que cuidou toda a vida.

Fonte:
Domínio Público

domingo, 7 de junho de 2009

Trova XVIII

Nilton Manoel (Constelação de Trovas)



1
Quem tem vida vive atento
pêlos caminhos que enfrenta;
brinda as farpas do momento
com chocolate e pimenta.

2
O chifre em terra rachada
em bucolismo infernal,
é o adorno que traça a estrada
da carência de água e sal.

3
Florestas? - Quero espigões!
e a fauna toda enjaulada!
... e a moda de altos portões,
esconde a noite estrelada.

4
Depois dos cinqüenta, creio,
tudo é lucro e coerência;
homem que não faz rodeio,
sabe o que vale a existência.

5
Homem é o que sabe ser
companheiro, amigo e irmão;
Quem preza o Bem, sabe ter
da vida toda a emoção.

6
Meu pai, exemplo perfeito
de luta e vitalidade;
ao partir, por ser direito,
deixou sincera saudade.

7
Quando o homem é Homem não chora,
enfrenta as farpas da vida,
vence a fauna hostil com a flora
tornando a estrada florida.

8
O amante da Filomena,
se encontra o ex-marido dela,
treme tanto de dar pena...
e geme sem dor com ela!

9
Solteiro? - Querida! Ó vida
de prazeres... sonhos tantos!
Casados? ? Os nós da lida,
cegam os reais encantos!?

10
No lirismo de meu povo
sonho e tenho sempre fé
que num dia de sol novo
será plena a paz.. de pé!

11
Enfim dono dos saberes
da vida, em música e dança,
concluo que, o fim dos seres
é o limite da esperança.

12
Corre-se tanto, mas tanto,
pelo pódio e sua glória
que, o enfim é o fúnebre pranto,
de um troféu ao fim da história!

13
Quando há morte programada
pelos quadrantes da terra,
homens que não valem nada
sentem paz plantando guerra.

14
Cavalgando sem rodeios
por galáxias estreladas,
o poeta, em seus anseios
tece trovas requintadas.
======

Artur de Azevedo (A Ama-Seca)



O Romualdo, marido de D. Eufêmia, era um rapaz sério, lá isso era, e tão incapaz de cometer a mais leve infidelidade conjugal como de roubar o sino de São Francisco de Paula; mas - vejam como o diabo as arma! Um dia D. Eufêmia foi chamada, a toda a pressa, a Juiz de Fora, para ver o pai que estava gravemente enfermo, e como o Romualdo não podia naquela ocasião deixar a casa comercial de que era guarda-livros (estavam a dar balanço), resignou-se a ver partir a senhora acompanhada pelos três meninos, o Zeca, o Cazuza, o Bibi, e a ama-seca deste último, que era ainda de colo.

Foi a primeira vez que o Romualdo se separou da família. Custou-lhe muito, coitado, e mais lhe custou quando, ao cabo de uma semana, D. Eufêmia lhe escreveu, dizendo que o velho estava livre de perigo, mas a convalescença seria longa, e o seu dever de filha era ficar junto dele um mês pelo menos.

O Romualdo resignou-se. Que remédio!...

Durante os primeiros tempos saía do escritório e metia-se em casa, mas no fim de alguns dias entendeu que devia dar alguns passeios pelos arrabaldes, hoje este, amanhã aquele. Era um meio, como outro qualquer, de iludir a saudade.

Uma noite coube a vez ao Andaraí Grande. O Romualdo tomou o bonde do Leopoldo, e teve a fortuna ou a desgraça de se sentar ao lado da mulatinha mais dengosa e bonita que ainda tentou um marido, cuja mulher estivesse em Juiz de Fora.

Nessa noite fatal a virtude do Romualdo deu em pantanas: tencionando ele ir até o fim da linha, como fazia todas as noites, apeou-se na Rua Mariz e Barros, ali pelas alturas da Travessa de São Salvador. A mulata havia se apeado algumas braças antes.

E ele viu, à luz de um lampião, o vulto dela saltitante e esquivo, e apressou o passo para apanhá-la, o que conseguiu facilmente, porque, pelos modos, ela já contava com isso.

- Boa noite!

- Boa noite.

- Como se chama?

- Antonieta.

- Pode dar-me uma palavra?

- Por que não falou no bonde?

- Era impossível... estava tanta gente... e estes elétricos são tão iluminados.

- Mas o sinhô bolinou que não foi graça! vamos, diga: que deseja?

- Desejo saber onde mora.

- Não tenho casa minha; tou empregada numa famia ali mais adiente, por siná que não stou satisfeita, e ando procurando outra arrumação.

- Onde poderemos falar em particular?

- Não sei.

- Você sai amanhã à noite?

- Amanhã não, porque saí hoje, e não quero abusá.

- Então, depois de amanhã?

- Pois sim.

- Onde a espero?

- Onde o sinhô quisé.

- Na Praça Tiradentes, no ponto dos bondes. As oito horas.

- Na porta do armazém do Derby?

- Isso!

- Tá dito! Inté depois d'amanhã às oito hora.

- Não falte!

- Não farto não!

No dia seguinte, o Romualdo contou a sua aventura a um companheiro de escritório que era useiro e vezeiro nessas cavalarias... baixas, e o camarada levou a condescendência ao ponto de confiar-lhe a chave de um ninho que tinha preparado adrede para os contrabandos do amor.

Antonieta foi pontual; à hora marcada lá estava à porta do Derby, com ares de quem esperava o bonde.

O Romualdo aproximou-se, fez um sinal, afastou-se e ela seguiu-o...

Dez dias depois, estava ele arrependidíssimo da sua conquista fácil, e com remorsos de haver enganado D. Eufêmia, aquela santa! Procurava agora meios e modos de se ver livre da mulata, cuja prosódia era capaz de lançar água na fervura da mais violenta paixão.

Vendo que não podia evitá-la, tomou o Romualdo a deliberação de fugir-lhe, e uma noite deixou-a à porta do ninho, esperando debalde por ele. Lembrou-se, mas era tarde, que havia prometido dar-lhe uni anel, justamente nessa noite.

- Diabo! pensou ele, Antonieta vai supor que lhe fugi por causa do anel!

Voltou, afinal, D. Eufêmia de Juiz de Fora. Veio no trem da manhã, inesperadamente, e já não encontrou o marido em casa.

Estava furiosa, porque a ama-seca de Bibi deixara-se ficar na estação da Barra. Podia ser que não fosse de propósito. O mais certo, porém, era o ter sido desencaminhada por um sujeito que vinha no trem a namorá-la desde Paraíbuna.

Quando D. Eufêmia contou isso ao marido, acrescentou indignada:

- Que homens sem-vergonha!... Não podem ver uma mulata!...

O Romualdo perturbou-se, mas disfarçou, perguntando:

- E agora? E preciso anunciar! Não podemos ficar sem ama-seca!

- Já mandei o Zeca pôr um anúncio no Jornal do Brasil.

No dia seguinte, o Romualdo saiu muito cedo; ao voltar para casa, a primeira coisa que perguntou à senhora foi:

- Então? Já temos ama-seca?. .

- Já; é uma mulatinha bem jeitosa, mas tem cara de sapeca. Chama-se Antonieta.

- Hem? Antonieta?

- Que tens, homem?

- Nada; não tenho nada... E jeitosa?... Tem cara de sapeca?... Manda-a embora! Não serve! Nem quero vê-la!...

- Ora essa! Por quê? Olha, ela aí vem.

Antonieta chegou, efetivamente, com o Bibi ao colo; mas o Romualdo tinha fechado os olhos, dizendo consigo:

- Que escândalo!... rebenta a bomba!... este diabo vai reclamar o anel!.

Mas como nada ouvisse, o mísero abriu os olhos e - oh! milagre! - era outra Antonieta!.

Ele pensou, os leitores também pensaram que fosse a mesma; não era.

Decididamente, há um Deus para os maridos que enganam as suas mulheres.

Fontes:
Domínio Público
Imagem = Fundação Casa de Rui Barbosa

Projeto de Trovas Para Uma Vida Melhor (Resultados da 2a. Etapa)



Grupo 1 Nacional
Tema: Paciência
---
VENCEDORES
---
1º Lugar
Ante as agruras da vida,
que nos chegam com freqüência,
a conduta mais contida
é seguir com paciência.
Hélio Pedro Souza
Natal/RN


2º LUGAR
A Paciência é uma virtude
que, junto à perseverança,
de nós, afasta a inquietude,
e traz de volta a esperança!
Delcy Rodrigues Canalles
Porto Alegre/ RS

3º LUGAR
Só com paciência se alcança
o que se espera da vida.
Siga com mais esperança
a cada meta vencida!
Leonilda Yvonneti Spina
Londrina/PR
---
MENÇÃO HONROSA
---
1.
Dá-me, Deus, com certa urgência,
a graça que aqui rabisco:
dez por cento da paciência
que puseste em São Francisco!
Humberto Rodrigues Neto
Pirituba/SP

2.
Motorista, paciência...
Calma lá, meu companheiro!
Não se esqueça: competência
nem sempre é chegar primeiro!
Antonio Augusto de Assis
Maringá/PR

3.
Não há nada que se negue
ao homem manso e cortês:
a paciência consegue
muito mais do que a altivez!
Renata Paccola Frischkorn
São Paulo/SP


4.
É na sua deficiência,
que o cego, na escuridão,
acende a luz da paciência
no altar do seu coração...
Ercy Maria Marques de Faria
Bauru/SP

5.
"Quando a dor chega a seu lar
paciência é uma virtude
que se deve cultivar
com amor em plenitude!"
Sônia Ditzel Martelo
Ponta Grossa/PR
---
MENÇÃO ESPECIAL
---
1.
Quem pratica a paciência,
como virtude na vida
supera toda ciência
vence a mais perversa lida.
Wilton Di Cali
Guarulhos/SP

2.
Paciência tem limite,
eu sempre pensei assim;
embora não acredite,
nosso amor chegou ao fim.
Neiva Fernandes
Campos dos Goytacazes/RJ

3.
A virtude da paciência
nos traz equilíbrio e paz
ao evitar a imprudência
de uma atitude fugaz.
Alfredo Barbieri
Taubaté/SP

4.
Um desafio na vida
é vencer tribulações
e a paciência nos convida
a refrear emoções.
Marina Gomes de Souza Valente
Bragança Paulista/SP

5.
Quando a dor desta existência
torna-se um fardo pesado,
a Deus peço a Paciência
e na fé sigo amparado!
Maria Emília Leitão Medeiros Redi
Piracicaba/SP
---------------
GRUPO 2 NACIONAL
Tema: Paciência
--
VENCEDORES
---
1º Lugar
Contra a grande violência
e a total insegurança,
é melhor ter paciência
e uma dose de esperança,
Ilze Soares
São Paulo/SP


2º Lugar
Paciência teve Jó
que tantas dores sofreu,
perdeu tudo, ficou só
mas, sua fé não morreu.
Mifori
Mogi das Cruzes/SP

3º Lugar
Tenha a calma de um regato,
da criança a inocência;
você verá que, de fato,
a tudo vence a paciência.
Adamo Pasquarelli
São José dos Campos/SP
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MENÇÃO HONROSA
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1.
Neste mundo em que vivemos,
de tanta pressa e aflição
que paciência nós temos
para ajudar um irmão?!
Diamantino Ferreira
Campos dos Goytacazes/RJ

2.
Loja de conveniência,
farmácia e lanchonete
ofereçam “Paciência”
em comprimido ou tablete.
Gisleno Feitosa
Teresina/PI

3.
Todas as dores do mundo,
tem uma causa, uma essência.
Mas, com fé e amor profundo,
Deus nos provê Paciência!
Dilma Ribeiro Suero
Estácio/RJ

4.
Paciência é um preceito
de quem tem fé, confiança,
e acredita no conceito:
"Quem espera sempre alcança"
Decio Rodrigues Lopes
Mogi das Cruzes/SP

5.
Tenha paciência, senhora,
na vida tem recomeço;
quando um amor vai embora,
outro amor manda endereço.
Clênio Borges
Porto Alegre/RS
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MENÇÃO ESPECIAL
---
1.
Diante de tanta violência,
serena, medita e ora;
espera com paciência
e vive no aqui e agora.
Elisa Santos
Ponta Grossa/PR

2.
Se teu viver é exemplar,
com paciência e união,
tua vida há de brilhar,
como uma bela lição!
Arlene Lima
Maringá/PR

3.
A paciência na dor
é virtude de alma forte.
Vislumbra tão grande Amor,
vai vencer até a morte.
Elisa Alderani
Ribeirão Preto/SP

4.
Paciência!... Paciência!...
Oh meu Deus, me dá um pouco...
Pois se dela, há carência,
fico agindo como um louco.
Raquel Delvaje
Piracicaba/SP

5.
Houve pedras no caminho...
Em que eu tanto tropecei,
com paciência e carinho,
na esperança confiei!
Célia Apparecida Silli Barbosa
Ribeirão Preto/SP
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GRUPO INTERNACIONAL
Tema: Paciência
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VENCEDORES
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1º Lugar
Paciência é uma virtude
que se tem, mas que se gasta
quando se toma a atitude
de, para alguém, dizer: - Basta!
António José Barradas Barroso
Portugal

2º Lugar
Tanta era a sua pobreza
com humildade e decência,
que, faltando o pão na mesa,
lhe sobrava a paciência.
Olívia Alvarez Miguez Barroso
Portugal

3º Lugar
Que Deus me dê paciência
para sofrer esta dor
de ver que a inconsciência
mata e diz que é por amor!
Gisela Alves Sinfrónio
Olhão/Portugal
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MENÇÃO HONROSA
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1.
Em teus braços meu amor
me sinto plena e feliz,
tua paciência é calor,
dá a minha vida matiz.
Nora Lanzieri
Buenos Aires/Argentina

2.
Os avanços da ciência,
por vezes vão devagar,
preciso ter paciência
para uma cura aguardar...
Aciolinda Spranger
Lagos/Portugal

3.
Se diz não ter paciência
pra ler, da Bíblia, conselhos;
use da sua valência:
Fale com Deus, de joelhos...
Maria da Conceiçãoo Custódio Sanches
Gois/Portugal

4.
Com positiva paciência
obra boa descortina,
te diz a minha consciência
que sempre Deus ilumina.
Jamil William Piscoya Ayala
Ferreñafe/Peru

5.
Para todo o sofrimento
É preciso Paciência
Um olhar com sentimento
A quem vive na indigência.
Maria José Fraqueza
Fuzeta/Olhão/Portugal
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MENÇÃO ESPECIAL
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1.
Se a paciência faltar
nas penas, que hão-de ser luz...
Lembra Deus a carregar
por nós, o peso da Cruz!
Clarisse Barata Sanches
Góis/Portugal


2.
Se na dor, por excelência,
O amor é primordial...
Há o sofrer, com paciência,
De quem sofre d'algum mal!
Fernando Reis Costa
Coimbra/Portugal

3.
Um homem sem paciência,
nem na dor tira vantagem;
e vê na sua existência
uma vida sem coragem!
Jorge A. G. Vicente
Suiça

4.
No sofrimento e na dor
rogo a Deus Sua clemência,
resarei com mais fervor,
para me dar paciência...
António Boavida Pinheiro
Lisboa/Portugal

5.
Paciência é virtude
que no mundo pouco abunda;
hoje em qualquer latitude
está quase moribunda.
Euclides Cavaco
Canadá
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Colaboração
Antonio Augusto de Assis, por e-mail.

sábado, 6 de junho de 2009

Trova XVII

Benjamin Sanches (Solidão)



O pássaro de barro da saudade
Revoando no aro dos meus olhos
Repousou nos meus dedos de silêncio
Partindo para as terras ignotas.

Divaguei nos roteiros do amanhã
(Quilhas cortando o ventre do espaço
Rasparam os recifes das quimeras
Encalhando nas rochas das lembranças).

E aquela argila diluída em sombras
Incensando o meu templo de memórias
Nas alvoradas dos meus sofrimentos.

Na grande solidão do inatingível
Ancorei o coração num mar de lágrimas
E adormeci num inferno entre dois céus.
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Benjamin Sanches (o tartaruga)


É de se registrar que, nessa obra, o autor escreveu exclusivamente com minúsculas (inclusive o título) e alinhou os parágrafos pela direita.

depois de entregar-se por muito tempo à água, voltou a terra onde com a matemática dos olhos procurava descobrir os lugares onde os tracajás haviam enterrado os seus ovos e, isto, os homens da ciência sabiam menos que ele. a prática fizera-o mestre no buscar os ninhos camuflados no igual do branco da areia.

a praia, descendo da densa mata devoluta, serpenteava no rumo do rio onde um enorme jacaré, num peso de montanha, dilatou o vazio para dar duas rabanadas, e, em vôo submerso atingiu o mo-lhado da margem e ficou olhando-o com um olhar famélico. era um inimigo que não ficara de vir, embora ter, ele, admitido, sempre, a possibilidade daquela indesejável presença. via o espírito da fome rondando as suas carnes. sentiu-se quase prisioneiro. na posição em que ficara, a fera, dominava, realmente, a única saída. o seu casco, que havia deixado na beira, estava a dois passos do anfíbio, cujas patas velozes arranhavam o chão num chi-chi manhoso, preparando-se para a furiosa investida.

as suas pernas que nunca dançaram de alegria, bailavam, agora, dentro da calça no assombro de ser estraçalhado pelo chocalhar daquelas mandíbulas maiores que o seu corpo descascado pelo quente da tarde. ele já havia vivido toda a idade do crescimento e não conseguira ir além dos cinco palmos. parecia que os ventos sopraram, sempre, a sua vida de cima para baixo. tinha isto, como uma pobreza envergonhada, da sua condição de homem. a natureza
havia-o prejudicado na distribuição dos tamanhos.

quando conseguiu sair daquelas circunvoluções do susto e voltar ao estado de medo consciente, não quis dar tudo como perdido, embora tivesse que passar por um fininho tubo da vida. segurou-se a ele como quem agarrasse um objeto que ia perder para sempre, e, no esforço de renascer daquela quase morte intempestiva, enfiou a cabeça em desabalada carreira, internando-se no grosso da mata. uma chuva, cujo turbilhão de água mais parecia ser de cimento e ferro, desabava retorcida com a noite, tornando-a intensamente escura. os filtros da sua carne começaram, lentamente, a dar passagem ao frio a caminho dos seus ossos. numa noite clara, poderia varar o longe e alcançar a vila em três horas de regular caminhada, mas, o escuro tomara altura e não deixava à amostra, nem um astro que o orientasse. para caminhar seria imprescindível algum rastro de luz
desembocando das trevas.

astro
rastro
vasto

o pio dos pássaros e o barulhar da chuva fundiam-se com os esturros das feras e num só grito, cortava o vasto verde, que não
se apagava da sua memória.

verde vasto verde
dia verde
noite verde
grito verde
pio verde
verdeverdeverde

sentiu necessidade de resguardar-se e tateando com os pés na terra encharcada caminhou alguns passos entre a tiririca que lhe cortava a pele, até conseguir abraçar-se à perna de uma árvore e subiu até a primeira forquilha. ali, poderia passar a noite, incomodamente, é verdade, mas suspenso do perigo que rastejava no escuro. as suas carnes mergulhadas no grosso da chuva viviam minutos de horror, em meio àquela combinação de sons perversos e imprevistos, que iam despojando-o, aos poucos, de sua coragem. de quando em quando abandonava a cabeça num cochilo e acordava descendo no espanto. precavendo-se de uma queda desastrada, desafivelou o cinturão e com ele, procurou envolver barriga e forquilha. não conseguiu
nesta, subiu para outra mais fina e amarrou-se.

aforquilhado dentro do molhado da noite, ouvindo, medrosamente, os berros dos afiados dentes e o cochichar das raízes, não obstante, acontecia de longe em longe, lembrar-se do seu casco, na preocupação que a água da chuva empurrasse praia afora, levando a farinha e a rapadura que na manhã próxima, roeriam a fome
que já roía o seu estômago.

o tempo espichando-se demorava a soltar a sua condição de noite e, ele, esperando resignadamente que a manhã viesse libertá-lo, rosnou um sono de chumbo e sonhou que passeava elegantemente pela praça da igreja, onde aos domingos à tarde, as mocinhas mais gostosas da vila desfilavam exibindo apuro e beleza. embalando-se na miragem, via que todas o olhavam com olhos gulosos, e uma delas, não suportando refrear a gulodice, aproximou-se e beija-lhe os lábios com seriedade e paixão. ele não sabia o porquê e preferiu não fazer perguntas. era um novo amanhecer no seu mundo. a sua alegria refletia-se nas paredes e até no chão enxuto. de mãos dadas, saíram caminhando sob as vistas de centenas de pupilas espantadas. espantadas porque todos sabiam que jurara nunca amar, quando na seresta para a primeira conquista,
deram-lhe um banho de bacio.

agora, estava suadinho de fé, e procurava com os dedos arrumar os cabelos, quando de súbito, num estrondo metálico que varreu o ar, o apelido, impiedosamente abalroou o seu ouvido: – tartarUUUUga! – todo o ódio do mundo apareceu na sua cara. naquele momento odiou até as rosas. sentiu vontade de fazer mil coisas de uma vez. queria morder. queria rasgar. queria matar. sim. sentiu desejo quase irresistível de matar. a sua alma ficou, por muito tempo, galopando na mais brutal raiva do mundo. pensou que seria melhor desmanchar com a vida, o único meio para se livrar daquela alcunha. não mais poderia engolir aquele epíteto humorístico que o havia enchido até por fora da roupa. todos, desapiedadamente, o chamavam de tartaruga. nunca presumira que o seu nome de cartório desaparecesse tão completamente. nunca mais ouvira pronunciá-lo. todos o chamavam de tartaruga.
diziam-lhe até com os olhos: tartaruga, somente tartaruga.

era o ridículo do apelido, que o obrigava a embarcar naquele pequeno casco de itaúba preta e isolar-se o dia todo, depois de remar para as praias distantes e desertas, cuja beleza mansa e
perigosa ainda não aprendera a dominar.

agora, mais enfurecido que nunca, tomou posição para desaparecer de uma vez por todas, quando sentiu o braço da moça doce e gentil cingir-lhe a barriga, não o deixando se afastar e sussurrando o seu nome, com os lábios quentes roçando a sua orelha – jorgitinho. foi assim que a ouviu chamar, amorosamente, o diminutivo do seu nome. estremeceu dentro da cadeia do abraço e tudo se fez claro quando acordou preso à forquilha. mas, mesmo assim, sentiu-se feliz por se encontrar entre feras e bem longe dos
humanos. humanos? não! jorgito nunca os considerou como tais.
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Sobre o autor
Nasceu em Manaus, no dia 21 de abril de 1915, o poeta e contista Benjamin Sanches de Oliveira. Faleceu na mesma cidade no ano de 1978. Obra de ficção: o outro e outros contos, 1963.
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Fonte:
SANCHES, Benjamin. O outro e outros contos. Manaus: Ed. S. Cardoso, 1963.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Trova XVI

Montagem sobre Tela de René Magritte

Adalcinda Camarão (Caldeirão Literário do Pará)


BOM DIA, BELÉM

Há muito que aqui no meu peito
Murmuram saudades azuis do teu céu
Respingos de ausência me acordam
Luando telhados que a chuva cantou
O que é que tens feito
Que estás tão faceira
Mais jovem que os jovens irmãos que deixei
Mais sábia que toda a ciência da terra
Mais terra, mais dona do amor que te dei

Onde anda meu povo, meu rio, meu peixe
Meu sol, minha rêde, meu tamba-tajá
A sesta o sossego da tarde descalça
O sono suado do amor que se dá
E o orvalho invisível na flôr se embrulhando
Com medo das asas do galo cantando
Um novo dia vai anunciando
Cantando e varando silêncios de lar

Me abraça apertado, que eu venho chegando
Sem sol e sem lua, sem rima e sem mar
Coberta de neve, lavada no pranto
Dos ventos que engolem cidades no ar
Procuro o meu barco de vela azulada
Que foi de panada sumindo sem dó
Procuro a lembrança da infância na grama
Dos campos tranquilos do meu Marajó

Belém minha terra, minha casa, meu chão
Meu sol de janeiro a janeiro a suar
Me beija, me abraça que quero matar
A doída saudade que quer me acabar
Sem círio da virgem, sem cheiro cheiroso
Sem a "chuva das duas " que não pode faltar
Cochilo saudades na noite abanando
Teu leque de estrelas, Belém do Pará!
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ESPAÇO-TEMPO

Quero-te mesmo, amor, na ausência ou na presença,
com rumores de sombra, alarde ou desafios.
―Dormir num chão de luar à sombra de roseiras
ou sob os pirisais na baixada dos rios...

Assim te amo e te sei amando dia-a-dia,
acordada ou dormindo o germinal segredo.
E te abraço sem ter teu corpo ao meu, beijando
a saudade sem ser de quem se tem sem medo.

Amo-te mesmo, amor, no madrigal do tempo,
derrubando androceus e gineceus se amando
nas pálpebras do estio que o sono não acorda.

No teu dorso eu descanso a caminhada enorme
que fiz pra te encontrar ― lábios ardendo em busca
da tua noite azul onde minh'alma dorme.

Amo-te mesmo, amor. Se me vens ou te vais.
Sinto-te à flor da pele e à superfície da água
que dessedenta o bem que nos lava o mal.

Amo-te e não sei quem és ― teu nome nem origem.
Só sei que és homem são e me sabes mulher.
Que beleza este amor sem pranto nem vertigem,
sem princípio nem fim, nem dimensão sequer!
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Adalcinda Camarão (1914 - 2005)

Adalcinda Magno Camarão Luxardo (Muaná, Ilha de Marajó, 18 de julho de 1914 – Belém, Pará, 17 de janeiro de 2005) foi uma poetisa e compositora paraense.

Estudou em Belém no colégio D. Pedro II e no Instituto de Educação e nessa cidade desenvolveu todo o seu trabalho cultural. É autora de vários livros de versos como: “Baladas de Monte Alegre”, “Entre Espelho e Estrelas”, “Folhas”, “Vidências”, escreveu para rádio, teatro e jornais e revistas da Amazônia desde os dez anos de idade.

No ano de 1938, Cléo Bernardo e um grupo de colegas de faculdade de Direito, fundaram Terra Imatura, revista mensal de estudantes, cujo título foram buscar em um romance regionalista de Alfredo Ladislau. Terra Imatura ganhou importância nas letras paraenses, onde despontavam Adalcinda e sua irmã Celeste Camarão, Dulcinéia Paraense, Mirian Morais, Paulo Plínio Abreu, Ruy Barata e outros mais, na poesia, alguns formando a redação da revista.

Em 1956, Adalcinda viajou para os EUA, com Bolsa de Estudo oferecida pelo Departamento de Estado, com o Departamento de Educação e recomendada pela Embaixada Americana no Brasil. Fez mestrado em Educação e lingüística (American Univerity e Catholic University, EUA, de 1956 a 1959).

Recebida como membro efetiva e perpétua da Academia Paraense de Letras em janeiro de 1959, ocupou a cadeira nº 17 e teve como patrono Felipe Patroni. Casou-se com o cineasta Líbero Luxardo, também da Academia Paraense de Letras, com quem teve um filho. Fixou residência nos Estados Unidos, em Washington, sem esquecer a sua academia, mandando de quando em vez, seus belos poemas para a revista.
A poetisa dos Anos Trinta, aquela que escrevia em Terra Imatura, muito jovem ainda, continuou florescendo e encantando a todos. Na Terra Imatura, número de março de 1939, encontramos o Poema “Bujarronas do Guamá”.

Adalcinda, muito embora ausente, nunca pensou em abandonar ou deixar a sua Academia. Seus versos mais recentes, cada vez mais untados de amor, são mandados para divulgação. Na revista, volumes xxviii, de 1987, podem encontrar “três poemas”, um dedicado ao filho: “Trinta de Abril”.

Voltando à Terra Imatura do saudoso Cléo Bernardo, lê-se muitas outras produções de Adalcinda, produzidas nos anos trinta, quando já era selecionada entre “os poetas modernos da Amazônia”, ao lado de Bruno, do Dalcídio, do Nunes Pereira, do Ruy Barata, todos pondo o maior vigor e vida à corrente modernista da poesia, desencadeada em 1922, em São Paulo e que alcançava as margens do Rio-Mar. No número 13, referente a dezembro de 1940, a revista agrupou vários poetas, transcrevendo, de cada um, magníficos versos da escola moderna. Adalcinda lá está. Aparece com “Explicação Inútil”.

A revista Terra Imatura, naqueles anos distantes, teve grande papel no aprimoramento cultural dos jovens, ela e outras mais, como o Pará Ilustrado, de Edgar Proença, A Semana, do Ernestino Sousa Filho, Brasileis, de Silvio Meira, com a característica de serem mensais, a A Semana a única semanal. Hermógenes Barra, na Revista da Veterinária, também prestou relevante serviço as letras do Pará, não somente através da revista, como principalmente, pela tipografia que possuía e que acolhia a todos.

Publicou, durante muitos anos, todas as teses de concurso de cátedra ou docência, livros de Antônio Tavernard, Augusto Meira, Bruno de Menezes e tantos outros.

Adalcinda Camarão, ou simplesmente Adalcinda, é desse tempo, uma das grandes animadoras da PRC-5, a rádio de Edgar Proença, Lorival Penálber e Eriberto Pio. “A voz que fala e canta para a planície”.

Adalcinda sintetiza uma época, merecendo ser lembrada, ou relembrada, distante que está na terra de Tio Sam. Mas, Adalcinda não parou, sua pena e sua lira continuaram a emitir belos sons em terra distante, não esquecendo jamais o torrão natal, de que são prova os belos versos, mandados de Washington, D.C.,Divulgados pela A Província de 7 de março de 1989, extraído do livro Folhas: “Voz”. De 1956 a 58, trabalhou em conferência e entrevistas para a Voice of América, em Washington, D.C., onde permaneceu radicada.

De 1957 a 60, ensinou Português para estrangeiros, na La Case Academy of Languages e Sanz School. Em 1960, abriu o Departamento de Português da Georgetown University (Institute of Languages and Linguístics), onde também ensinou Literatura do Brasil e de Portugal, de 1960 a 1965.

Lecionou Português na American University em 1974 e 1975; na Graduate School of the Agriculture Department, de 1966 a 1977; na Casa Branca, para assistentes dos presidentes Nixon e Ford, em 1974 e 1975; na Arlington Adult Education, 1986, 1987 e 1988. Trabalhou na Embaixada do Brasil, em Washington, D.C., de 1961 a 1988.

Em 2000, retornou para Belém, depois de 44 anos morando nos Estados Unidos e no dia 17 de janeiro de 2005, às 17h, morre por complicações em decorrência pela idade avançada. Aos 91 anos, Adalcinda faleceu em casa.

É detentora de inúmeras medalhas condecorativas e diplomas. Dos EUA, colaborou com os jornais paraenses. A Província do Pará, O Estado do Pará e O Liberal.

Obra
Livros:
Despetalei a Rosa. Poesia, 1941;
Vidência. Poesia, 1943;
Baladas de Monte Alegre. Poesia, 1949;
Entre Espelhos e Estrelas. Poesia, 1953 (Premiado como o melhor livro do ano pelo Governo do Estado);
Caminho do Vento. Poesia, 1968;
Folhas. Poesia, 1979;
A Sombra das Cerejeiras. Poesia, 1989; e
Antologia Poética. Poesia, Belém, CEJUP, 1995.

Teatro
Um Reflexo de Aço, 1955; e
O Mar e a Praia, 1956)

Folclore
Lendas da Terra Verde, 1956

Educação
Brasil Fala Português. Livro Escolar, 1964 e
Comentários no Espaço e no Ar (At the Red Lights, em inglês, 1977).

Fonte:
Wikipedia