terça-feira, 22 de dezembro de 2009

I Encontro Nacional de Poesias de São Fidélis (Poesias Vencedoras)



1º LUGAR

Luiz Poeta - Luiz Gilberto de Barros (Rio de Janeiro)
AO MAIS ANTIGO CIDADÃO DE SÃO FIDÉLIS

Sem que o relevo desta terra te proíba,
Com sedutora imponência…e mansidão…
Tu atravessas nossa história, Paraíba,
Abençoando muito mais que um coração.

Tua corrente é poesia em movimento
E por cruzares nossa Cidade Poema,
Quem te navega com o olhar, vê num momento,
Que és o verso…São Fidélis é o tema.

Numa das ruas que te abraçam, da matriz
Duzentos anos te miram…o campanário
Geme estridências solidárias e te diz
Que o teu matiz é sempre um novo itinerário.

Se retornasses há alguns tempos passados,
As tuas margens…de tão líricos caminhos,
Enlaçariam teus Puris e Coroados
E reveriam teus sublimes capuchinhos.

Quando anoitece, a cidade se emoldura…
E na ternura dos olhares solidários,
A luz da Lua se mistura…com brandura,
À escultura dos seus prédios centenários.

Das luminárias do presente fidelense…
Às lamparinas dos casebres ribeirinhos,
A poesia se dilui…sublimemente
Na agitação dos teus eternos torvelinhos.

E quando o sol, pela manhã, te ilumina,
Cada retina comovida que te chora
Reflete em tua solidão mais…mais cristalina…
A repentina emoção de quem te adora.

Os flamboiants fazem a corte quando passas,
Porque eles sabem que sempre reverencias
Cada poeta que passeia pelas praças
De São Fidélis, respirando fantasia.

Na solidão das tuas águas mais douradas,
Quando teu ímpeto…perene…nos completa,
Teu coração, em pulsações cadenciadas
Fala de amor com a ternura de um poeta.

Nós te louvamos, porque és o nosso irmão,
E quem visita nossa lírica cidade,
Sempre te vê, atravessando um coração
E desaguando em nossa sensibilidade.

2º LUGAR

José Antonio Jacob (Muriaé/MG)
POEMA DE SÃO FIDÉLIS "CIDADE POEMA”

Oração Inicial

São Fidélis de Sigmaringa…

Rogai por nós fidelenses,
pelos índios brasilienses,
Coroados e Puris…
Dai-nos Paz e Liberdade
para o bem desta cidade
protegei nossa Matriz!

O desbravamento

Rumo ao sítio da Gamboa,
há de ser em terra boa!
Quis o destino feliz
que dois frades capuchinhos,
encontrando bons caminhos
fundassem nobre Matriz.

Trabalho ao sabor do vento,
sem vestígio de cimento,
só pedra, tijolo e areia,
tudo em oleo de baleia
e outros meios de improviso:
-sangue, suor e sorriso…

A proteção da Cruz

Ainda estudando um modelo
os frades tiveram zelo
e devoção a Jesus,
e aos "Anjos do Artesanato"
deram à Igreja o formato
de uma esperançosa cruz.

Nosso enredo diz assim:
-A mata virou jardim
e o jardim floriu cidade,
porque onde há paz e harmonia
também tem felicidade
e junto delas poesia!

Nas margens do Paraíba
a História subiu em riba
e desfraldou nosso emblema:

-Somos um povo feliz,
temos a "Cidade Poema",
A praça verde e a Matriz!

3º LUGAR

Benedito José Almeida Falcão (Baurú/SP)
SÃO FIDÉLIS (…o Tempo e o Vento…)

No princípio destas terras,
bem antes do povoado,
viviam Puris, Coroados
entre seus rios e serras.

…e entre eles, o tempo...

...e vêm pelas águas os freis,
O Imperador, pelas serras,
nas bagagens, fé e leis,
vem progresso, em via férrea…

Vem, da Matriz, som de sino;
dos poetas, vêm os versos,
na toada dos destinos,
nossos sonhos mais dispersos…

…e entre o tempo, o vento…

Ah, história de nossa gente,
unidas pelas estruturas
das pontes e das culturas
que unem passado e presente.

…e entre eles, o tempo…
...e entre o tempo, o vento…

No recriar desta cena,
hoje, São Fidélis é
uma Cidade Poema
de esperança, força e fé…

…aldeia, povoado, vila…
…e entre tudo o tempo…
…e entre o tempo, o vento…
… entre eles, nossas vidas…

MENÇÃO HONROSA

Ronaldo de Souza Barcelos (São Fidélis/RJ)
HISTÓRIA DO MEU LUGAR

No princípio era o rio.
Manso, denso, caudaloso, deslizando cuidadoso
entre as serras, para o mar.
Molhando o chão de mansinho
Era mesmo a natureza contemplando a própria beleza
que em versos não sei contar.

Rio acima de canoa
num lugar chamado Gamboa
aportaram-se os capuchinhos
que sem medo do perigo
dos índios tornaram-se amigos.

Em capela de pau e palha rezaram a primeira missa
Igreja de pedra e cal
para formar a Aldeia.

Os índios já estavam aqui, coroados e puris
os negros vieram depois
juntando-se aos freis pioneiros
puseram-se a construir
Um templo tão majestoso que encantou o Imperador.

Pedaço de chão singular
Foi Curato, Freguesia, Foi desenho de Debret.
E de tanta poesia em Vila se transformou.

Ganhou Câmara e Barão
Imprensa, bandeira e brasão.
Ganhou ponte e solar.
Ruas de traços perfeitos
Cidade Poema é um feito do poeta em devaneio,
São Fidélis - também santo da Ordem dos Franciscanos
que está a rogar por nós
há mais de 200 anos.

Hoje o rio, a ponte, a Matriz,
traduzem um lugar feliz
Cidade de São Fidélis
minha terra natal
bom lugar para viver
Cidade dos meus amores
Assim como seus fundadores
Hei de amar-te até morrer.

Antonio Augusto de Assis (Maringá/PR)
ERA UMA VEZ...

Era uma vez um lugar
que se chamava Gamboa.
Tinha um rio que passava
juntando as águas da serra para levá-las ao mar.
E os índios - os coroados, os garulhos e puris.

Um dia a canoa trouxe, trazendo as bênçãos de Deus,
dois fradinhos de capucho, um Ângelo, outro Victório,
e a cruz ali se fincou.

Fez-se a capela primeira, de pau-a-pique e sapé.
Depois, belíssima, a igreja
dedicada a São Fidélis, o mártir de Sigmaringa,
padroeiro e protetor.

Em volta se fez a aldeia, da aldeia se fez a vila,
e a vila se fez cidade, que de tão florida e bela
de Poema se chamou.

São Fidélis, Cidade Poema
Do morro do Sapateiro,
das lendas e das laranjas que vêm da Bela Joana,
do leite vindo da Ipuca, de Colônia e Cambiasca,
da cachacinha gostosa moída no Grumarim,
do açúcar branquinho da Usina Pureza,
das barraquinhas na praça em volta da maxambombas.

São Fidélis do Bar América e do Bar Orion,
e do Jaime Coelho na porta do Cine Império.
Do banacaxi, do requeijão, do pão tatu
e das rosquinhas amanteigadas.
São Fidélis das serestas e dos grandes bailes,
dos banhos de rio e da bola de meia.
E das festas da lagosta do Aloísio Abreu.

São Fidélis das bandas tocando dobrado
que hoje escuto redobrados na retreta da saudade.

Diamantino Ferreira (Campos dos Goytacazes)
MINHA TERRA, MINHA SÃO FIDÉLIS

São tantas as coisas belas
desta Cidade Natal!
Uma pena - tantas delas
vivi tão pouco...afinal!

As imagens, de passagem,
rolavam - mas nunca as via!
Eram parte da paisagem
Num mundo que prosseguia!

Tantos anos, e eu daqui
cuidei da vida lá fora;
fiquei moço, envelheci...
Mas estou voltando agora!

Que minha terra me aceite,
pois nunca a deixei de amar!
Fidelense, como azeite...
estive sempre a boiar!

Se voltei, velho e alquebrado,
pela família lutando,
-de volta ao rincão amado,
minha terra! Estou voltando!!!

Por tanto amigo perdido
de que até perdi a conta!
E por tantos esquecido...
Haja bem...que sem afronta!

Aqui, "Cidade Poema",
"São Fidélis" - aportei;
vi meu filme num cinema
que jamais esquecerei.

Havia só uma ponte!
-Ao chegar, já vejo duas!
Que o progresso mais desponte...
Saudades de minhas ruas!

Edmar Japiassú Maia (Rio de Janeiro)
MURAL DIVINO

Recanto de imponentes casarios
que dão requinte à sua nobre história,
São Fidélis enfrenta os desafios
de incólume manter sua memória...

Na austeridade que se faz presente
num presente que é espelho do passado,
Cidade Poema, orgulhas tanta gente
a quem acolhe, sempre, de bom grado...

Para cantar-se não se impõe prefácio,
porque, no rol de tuas tradições,
irmanas a soberba de um palácio
e o amor de fidelenses corações...

Imponentes palmeiras...hamamélis...
assemelham-se a austeras sentinelas,
que emprestam ao perfil de São Fidélis
a paisagem mais bela, entre as mais belas.

As bicicletas trafegam ao largo,
o culto de poesias e amizades,
tornam suave o dia-a-dia amargo,
na doçura das tuas "brevidades"...

Em claras noites o estrelado manto
vem enfeitar o luar que te ilumina...
Por isso, São Fidélis, tens o encanto
de um divino mural...que Deus assina!

Sebastião José Moreira de Queiroz (Vitória/ES)
PRENDA DE SÃO FIDÉLIS

Quando ao longe um assovio
Faz no corpo um arrepio
Eu me lembro das histórias
Que contava meu avô...

...E lá ia o trem de ferro
Saindo da estação.
E na sua janela um branco terno
Balançando uma das mãos

Sua alma ia serena
Lá pro interior do Rio
Lá pra "Cidade Poema"
Conquistar o seu quinhão.

Passava cana, passava boi, cabana.
Passava milho, arroz e banana.
Passava melro, goiaba, tomate algodão.

Só não lhe passava o desejo
Que lhe pedia o coração
Em fervente oração.

"São Fidélis me atenda
Ouça a minha petição
Quero para mim uma prenda
Na festa de São João"

Ir à Matriz, rodar a praça
Passear de mão-na-mão
Namorando a minha moça
No ardor de uma paixão.

E da janela a vida lhe acontecia
Do trem de ferro que o conduzia
E o coração que lhe sentia
Reluzir tal qual rojão.

Passava canavial, passava boiada, casebre
Passava milharal, pasto e herdade.
Céu de antenas coroado, cidade

E lá se foi o trem de ferro...
...E da "Cidade Poema"
Ele roubou a sua prenda
Que São Fidélis lhe defenda
Para nunca mais ele andar só.
E assim a prenda fez-se minha avó.

Rosana Dalle Leme Celidônio (Pindamonhangaba/SP)
JARDIM DE DEUS

Todos me chama de Deus,
O céu é minha morada,
Mas na Terra houve quem quis copiar.
Pois conheço uma cidade que não deixa a desejar...

Se há paraíso terreno, deve ter Nome de Santo.
E lá por aquelas bandas, também bandas deve haver,
Pois sem música não tem graça
E na Praça do Poeta... tem quem queira festejar.

Com cheiro de poesia passeando pelo ar,
Todas as noites adormecem,
Os filhos de "São Fidélis";
Ninados por ricos versos se fazendo rimar.

Berço de grandes nome, merecedores de aplauso,
Fazem jus! Filhos de terra sagrada;
Onde os anjos - Se eu deixasse!
Faria dali sua morada.

Paraíso que se preze tem rio que corta a paisagem,
Desfilando Bela Joana...E o desfiladeiro ao seu redor,
Tal qual Peito de Moça com Pai bravo a lhe guardar.
Tem o Parque do Desengano,
Mas também os Franciscanos (esses não por engano)
Instalaram-se por lá.

E as pessoas de passagem não podem passar sem olhar
O orgulho do seu povo:
- Eis a "Cidade Poema",
Que abriga gente feliz!
Eu falo de "São Fidélis",
Nascida aos pés da Matriz, já bicentenária agora,
Um sinal da cruz eu fiz...

Se sou Eu o Criador,
Deve ser minha culpa,
Por hoje estar com inveja, dos moradores dali,
Só Eu posso fazer isso: Aponto o lugar e digo:
-Faço deste o meu jardim!

"Cidade Poema" é seu tema:
Intelectualidade o seu lema.
Orgulho de seu estado;
Recanto desse país,
Estando em "São Fidélis"
Graças a Deus sou feliz!
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Vanessa Campos Rocha (Catarata de Poesias)


PRESENTE

Em cima da mesa
de forma oval
suspira cansado
sem tempo para nada
transparente
O depósito de cinzas
de horas passadas
recém desconhecido
presente de gratidão
O cinzeiro
de vidro (bonito)
que meu amigo
me deu.

EU DUVIDO DE TUDO:

ponta da mesa
alça da bolsa
papel de chiclete
meia sem elástico
rua sem saída
avesso da roupa
trilha sonora
noite sem lua
molho de chaves
dois pontos

Eu duvido da escuridão
E também
do
não

“TAROT”

O tempo estreito
cabe no bolso direito
da calça xadrez
No outro bolso:
O louco
uma pequena página
arrancada
e que não era do fim
“A vida”


a manhã já tarde, entrou pelas beiradas do quarto
e foi se encostando nas pontas dos pés de Ana,
para que ela se lembrasse que estava viva.
ou então assim:
(o sol na ponta do dedo de ana
a ana na ponta dos pés da vida)
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Jean-Pierre Bayard (História das Lendas) Parte XXIV


III. — A Bela Adormecida no bosque

1. — Tradição mitológica

Depois de Hyacinthe Husson que assimila a heroína à luz celeste invadida pela noite ou pelo inverno — sendo a noite, neste caso, representada pela floresta — Charles Ploix (Le surnaturel dans les contes) (O sobrenatural nos contos) nele descobre o despertar matinal. Mas, a primavera livre das correntes do inverno tem numerosos adeptos: Husson (La châine traditionelle) (A cadela tradicional), Max Muller (Essais de mythologie comparde) (Ensaios de mitologia comparada), Bachelin (Sept contes roumains) (Sete contos Rumenos). A versão siciliana (Suli, Perna et Anna, G. Pitre, 1875), ou a versão hindu compilada por Frère no Deccan Days, 1868 (La laitiére et la griff e du Rakshasa (A leiteira e a garra do Rakshasa) se aparentam a essa origem primaveril que reencontramos em Pentamérone (V, 5) ou ao conto alemão Rosa de espinho.

Para Gédéon Huet (Les contes populaires) é o sono mágico, de aspecto extático que reencontramos no Sept Dormants.
2. — A presença da fada má

As Parcas, perto dos berços, prediziam o futuro das crianças. André Lefevre compara a fada má à “Fatumantique” enquanto que Sébillot, Husson e Dillaye pensam numa bruxa (Légendes locales de la Haute-Bretagne, t. II) (Lendas locais da Alta Bretanha). A lenda egípcia apresenta no nascimento de Montemonia em Louqsor, de Ahmasi em Deir e de Cleópatra em Erment, sete fadas madrinhas. Isto faz lembrar os sete Lipikis hindus que anotavam durante a vida dos homens seus procedimentos nos sete planos de suas consciências (sensação, emotividade, inteligência, intuição, espiritualidade, vontade e presciência do divino). Desta forma era determinado o destino do indivíduo na ocasião de sua reencarnação. Suas boas ações anteriores tornavam-se dons inatos. As fadas que assistiram ao nascimento de Ogier, o Dinamarquês, são apresentadas nas Croniques du Roy. Perceforest (século XIII), por ocasião do parto da rainha Zelandina ou na Heurcuse peine (Mme. Murat, 1698). No La biche au bois (A corça do bosque) e Le serpentin vert (A serpentina verde) encontramos duas fadas que foram esquecidas. As vezes, as fadas, ao invés de adormecer, petrificam-se (La reine des abeilles (A rainha das abelhas) de Grimm, (L’arbe qui chante) (A árvore cantante), L’oiseau qui dort, (O pássaro que dorme), Le fidèle Jean (O fiel João) de Carnoy. Em A bela e a Fera as duas más irmãs tornam-se estátuas.

3. — Simbolismo do fuso

Na maioria desses contos, a virgem adormece depois de uma picada, quase sempre, de um fuso. Loeffler-Delachaux, notando que nas tribos primitivas e atualmente na África equatorial, a educação das crianças é confiada a pessoas idosas, geralmente estranhas à família acha que a fiandeira inicia a adolescente perturbada com a sua metamorfose. A teoria freudiana interpreta o fuso como um emblema fálico.

Loeffler-Delachaux (Symbolisme des contes de fées, 1949), observa as prostitutas sagradas doa templos de Afrodite que se apresentavam com a cabeça cingida por um fio; esse penteado foi adotado por Ariadne cujo nome significaria fuso, e depois baseando-se na palavra fenícia Khr, demonstra que a palavra cruz (de onde provém cruzamento) relaciona-se à atividade sexual; e em inglês arcaico Rod significa ao mesmo tempo, cruz ou pênis. Depois de sua curiosa demonstração, o autor conclui que o fio representa a perpetuação da espécie.

É exato que em L’adroite princesse (A hábil princesa), as rocas de fiar das duas princesas Nonchalante e Babillarde se quebraram quando elas foram seduzidas e que o rei soube que só “a roca de Finette permanecera intacta”. Laideronnette, instruída pela sua boa fada, acalma sua repugnância pelo Serpentin vert. Brynbild mergulha num sono letárgico com a picada de um , espinho. (Beauvois, Histoire légendaire des francs, V) (História lendária dos francos).

Loeffler-Delachaux dá também uma significação cósmica ao fuso que simbolizaria “o começo do dia ou a origem de um mundo no momento em que os átomos que o constituem são polarizados pelo magnetismo cósmico”.

4. — As interdições

Para Saintyves essas interdições eram no princípio do ano, pois fiar é ligar e o bobinamento podia frear o movimento do renovamento. É um ritual mágico que muito se aproxima da superstição.

5. — As Belas adormecidas

Além da Valkyrie Brynhild adormecida por Odin, lembramos também o sono de Adônis e Osiris, a inatividade da virgem Perséfone.

O conto dinamarquês da compilação de Svend-Grundvjg (H. Husson) menciona o sono de uma jovem mulher que durou sete anos; Loys Brueyre (Contes populaires de la Grande-Bretagne), cita La princesse grecque et le jeune jardinier (A princesa grega e o jovem jardineiro); Vieillesse d’Oisin (Velhice de Orsin); L’Enchantement du comte Gérald (O encantamento do conde Geraldo), Musique du ciel (Música do céu); Les escaliers du géant Mac Mahon (As escadas do gigante Mac Mahon). Uma jovem camponesa adormece assim na floresta e desposa o terceiro cavaleiro (Bujeaud, Chanson populaire de l’Ouest, 1866). 0 filho do pescador desperta a princesa Tournesol (Luzel, quinto relatório dos Arquivos das missões científicas). A história de Suria Bai (Frère, Old Beccan Days) é mais completa. Filha de uma leiteira, raptada pelas águias, é arranhada pelo filho de uma bruxa e adormece. O rajá desperta-a e a esposa; a primeira esposa do rajá afoga-a e Sourya se transforma então em várias plantas para enfim encontrar sua mãe e o amor do rajá.

Branca de Neve (Grimm) assemelha-se com Suria Bai; as águias são substituídas pelos sete anões, a unha venenosa por um pente venenoso. Branca de Neve não se transforma em flores mas deitada no seu esquife de vidro recebe os lamentos dos animais. Bidasari, poema malaio (Backer, Plon, 1875), retoma esse tema. Grimm com Rosa dos bosques se aproxima de Perrault, bem como o conto siciliano Bull, Perna et Anna Pitré, 1875.

Le coffret volant (O cofrinho voador) de Andersen é de influência asiática.

No Roman de Perceforest, Zelandina acordada, se desespera por ser mãe; ela se casará finalmente com Troylus seu amante, mas à brutalidade desse conto segue-se a suavidade do jovem que se ajoelha diante da princesa ou dá-lhe um casto beijo.

Com o Pentameron (o sol, a lua, e Tália), o príncipe é casado; a jovem que se torna mãe sofre a cólera da esposa que quer mandar matar os filhos de sua rival. No conto francês tudo se ameniza e idealiza. O sono letárgico aparece no Tapete mágico, Le bonnet invisible (O barrete invisível) (Glinski, Hachette, 1864), no qual um país inteiro é adormecido por castigo celeste como em Mil e uma noites (História do cavalo encantado).

João, o Urso, liberta Pomme d’Or (Conto de Provença) e o cavalo encantado nos Contes français de Carnoy, 1885).

O poeta cretense Epiméride, menciona, seiscentos anos antes de Jesus Cristo, o sono de um jovem que penetrou numa caverna, onde dorme durante cinqüenta e sete anos.

A caverna dos sete adormecidos é célebre no Oriente; murada por ordem do imperador Décio em 251, os irmãos mártires lá dormiram cento e cinqüenta e sete anos. Finalmente o imperador Frederico Barba-Roxa dorme ainda debaixo da montanha de Kyffhoeuser na região de Turíngia.

As princesas dormem “como as lembranças no fundo de nosso inconsciente” e o príncipe encantado que as desperta é “nosso consciente chamando as imagens ancestrais necessárias à sua ação“ (Loeffler-Delachaux). Algumas dessas princesas são apenas encerradas numa torre, um poço “postas à margem da ação”. É o caso do conto tártaro Ac-Beiaz, filha de Abdala Yusuf (edição Lehoucq, 1783).

Esses fatos sugerem as cerimônias iniciáticas — sala de reflexos, esquife — onde o neófito se recolhe fora de todo o contacto humano. Essa forma de lenda se assemelha talvez aos misteriosos poços das igrejas onde os penitentes deviam ser mergulhados antes da absolvição (Gosselin); diz-se ainda “a Verdade vem do poço”. Este gesto é tão simbólico quanto a água, é purificadora.

Quanto aos despertares, corresponderiam à lei cíclica de periodicidade.

6. — A floresta

Nos hinos védicos o oficiante deve ser isolado e garantido. As portas desse local, rodeadas por uma paliçada, só se abrem nas horas de festividade (Abri-vos, portas eternas, cantava o ritual). A proteção e o isolamento do taumaturgo são feitos ainda por um traçado intransponível para os poderes ocultos nocivos. Nesse caso a floresta forma esse isolamento ritual. Sigurd substitui essa floresta por um círculo de chamas. Saintyves nela descobre a árvore de Suria Bai, a árvore sagrada aos pés da qual Buda foi iniciado. Realmente é na Índia que se encontra esse símbolo de uma vegetação que é preciso afastar a fim de poder penetrar a nova civilização. Loeffler-Delachaux observa (Symbolisme des Contes de fées) que o sono coletivo da corte marcaria o tempo de repouso entre duas encarnações e que essa inextricável vegetação substitui o gigante enterrado, no corpo do qual é preciso se introduzir para penetrar no segredo (lenda finense, o-Kalevala). Mas encontramos mais certamente nessa narrativa um aspecto do quarto interdito. Para esse autor, a penetração no corpo da pessoa adormecida representa, num sentido profano, a cópula, num sentido sagrado, a imagem da invasão do consciente no inconsciente, num sentido iniciático, a descoberta de arcanos de uma civilização desaparecida.
-------------
continua...
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Fonte: BAYARD, Jean-Pierre. História das Lendas. (Tradução: Jeanne Marillier). Ed. Ridendo Castigat Mores

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Trova XCI - Élton Carvalho (Rio de Janeiro)

Trova sobre "Barbicha", criação de Rico. site http://www.ricostudio.com.br/

Élton Carvalho (O Lenço)


Quando os que amam, soluçam de ansiedade
no instante da fatal separação,
o lenço é uma bandeira de saudade,
que traduz o amargor do coração.

Quando a sombra da noite a Terra invade,
cumpre o lenço, também, doce missão :
enxuga o suor daquele que, em verdade,
faz do trabalho a própria devoção.

Quando a Mãe de Jesus chorava tanto,
sem ter com que secar o triste pranto,
Deus, percebendo o seu valor imenso,

para enxugar a lágrima que corre
dos olhos dos que choram por quem morre,
deu luz a um poeta, e o poeta fez o lenço !
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Élton Carvalho (1916 – 1994)



Élton Carvalho nasceu em Vila Isabel, no Rio de Janeiro, no dia 29 de agosto de 1916 e faleceu na mesma Cidade, no dia 03 de março de 1994. É um nome nacionalmente conhecido, admirado e respeitado, seja como o Poeta que compunha poemas, sonetos, trovas etc., seja como Professor Militar (General do Exército Brasileiro), Conferencista, seja como chefe de família, amigo etc. em síntese, um grande brasileiro que nasceu para brilhar no campo das Armas, na Poesia, no Magistério , no seio da família.

Élton Carvalho, que fazia Trovas de todos os gêneros, apesar de produzir muitas trovas humorísticas brincando com as sogras, as coroas, era um grande admirador das mulheres e um genro excepcional, que demonstrava em cada palavra, em cada gesto, o carinho e o respeito que devotava à sua sogra, à sogra de seus amigos, às pessoas idosas, aos humildes.

Élton publicou vários livros: “Instantâneos”, 1973 (200 Trovas líricas e filosóficas); “Sogra, Coroa, Bebida e Outras Bombas”, 1974 (200 trovas humorísticas); “Ciranda de Sonhos”, 1979, (200 trovas líricas e filosóficas); “Aquarelas”, 1981 (500 trovas líricas e filosóficas);

“Rosas na Pedra” 1984 , (com 40 poemas e 25 sonetos) e “Sogra... & Outras Piadas” 1993, ( com 250 trovas humorísticas).

Foi o único autor a produzir dois livros exclusivamente com trovas humorísticas.

Deixou inéditos os livros : Oásis; Ferro Velho; Rosas na Pedra; A Vida em Quatro Versos; Feira de Humor; Piadas sem Sal; Sucata; (todos de trovas) A História do mau Sapateiro; (contos) Miragens; (sonetos) etc.

Fonte:
http://recantodasletras.uol.com.br/autor.php?id=33191

Mauro José de Morais (Album de Poesias Poetas del Mundo)


CÁ DENTRO DE MIM

Cá dentro de mim
Existe uma música bonita
Uma paisagem colorida
Um riacho límpido
A sombra de uma árvore
Inúmeros verdes
e um sol brilhante.

Cá dentro de mim
Existe uma noite estrelada
Muitos livros de poesia
Um mar de alegria
Um brilho na alma
E uma canção de ninar!

Cá dentro de mim
Existe um amor bonito pelas artes
Por muitos seres humanos
Uma paixão pela vida
E muito respeito
Por tudo que Deus criou.

Cá dentro de mim
Existe uma esperança viva
Uma busca de felicidade
Cujo colorido
É você!

CARÍCIAS

Vejo a aurora
Na menina dos seus olhos
Tomo o orvalho da manhã
Num copo de cristal
Aqueço suas mãos
Em painas de capim.

Enxugo seu corpo
Em uma toalha de cetim
Beijo seus lábios
E oferto-lhe o meu amor
Percebo que seus olhos
São como vales
Que me deixam
Sereno.

Sinto
Que a beleza da vida
está no ar...

Nos nossos olhos
E no nosso jeito
Lindo de amar.

ENCANTAMENTO

O ipê amarelo encantou-me
Naquela tarde azul
Percebendo-o
Presenciei toda sua beleza
Que me refez
Do cansaço da vida.

O amarelo contagiou-me
O belo penetrou em minhas entranhas
Minha mente multiplicou-se em cores
De uma tonalidade de amor.

No esplendor do encanto
A natureza sorriu
E ofertou-me
A essência da razão de ser
Na magistral primavera que veio
Embelezar a minha vida.

E o poeta encantado amou
Os raios de sol
As flores do ipê
Que entraram em minha memória
E em meu substancial coração.

Ipê amarelo
Razão de se compreender
Que um dos segredos da vida
Seja a singeleza
A beleza
E todo este encantamento.

–––––––––––––––––––

Sobre o Escritor

Mauro José de Morais
Filho de Dona Márcia e Antenor. Professor de Português, Bacharel em Turismo, Poeta, contista, trovador.
– Presidente da Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes - ANELCA desde 1.999, cadeira n.1, em Ribeirão das Neves (MG).
– membro da IWA (International Writer's Association),
– Sócio Honorário do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa,
– Membro da organização Poetas del Mundo,
– Autor de seis obras literárias, tendo lançado em 2.008 os livros: O Colecionador de Lápis e Alma Nevense. Mineiro, nascido em Ilicínea[MG].

Possui cerca de 1650 Poemas, 80 Crônicas, e outros cem Contos, setenta Trovas.

Fontes:
http://recantodasletras.uol.com.br/acrosticos/75036
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=6117

Academia Nevense de Letras, Ciências e Artes



Inspirada em sentimentos humanistas de homens abnegados, devotados ao escrever uma nova literatura, produzida na cidade que viveram e muito respeitaram, nasceu uma associação cultural, voltada para a literatura, as ciências e as artes.

A ANELCA nasceu como ANEL - Academia Nevense de Letras, fundada em 02 de outubro de 1999, pelos escritores Mauro José de Morais, professor e poeta e Maurílio Laureano da Silva, advogado, na cidade de Ribeirão das Neves - MG. O Prof. Mauro identificou na cidade muitos moradores que exerciam o escrever com gosto e esmero, onde os convidaram para a fundação de uma Academia de Letras.

Tempo memorável! Danilo Horta! Adão Ventura! Aquiles Marciano! Tantos escritores simples e bons, que efetivaram a fundação da Academia Nevense de Letras – ANEL.

Muitos fatos relevantes marcaram a evolução desta entidade. Visitas de outros homens que também amam a literatura, Murilo Badaró, Presidente da Academia Mineira de Letras, Teresinka Pereira, Presidenta da International Writers and Artists Association – IWA, Silvia Araújo Motta, Presidenta do Clube Brasileiro da Língua Portuguesa, dentre tantos outros.

Em 2005 foi necessário abrir as portas e janelas para os cientistas e artistas da cidade, assim de quarenta cadeiras passaram a cem, modificaram para ANELCA.

A ANELCA, hoje, pode se gabar de dizer que já revelou grandes talentos humanos. A Academia possui 100 cadeiras nos seus diversos segmentos, sendo que as do número 1 ao número 40 pertencem à área de literatura; as do 41 ao 70, a acadêmicos do segmento científico; e as do 71 ao 100, ao segmento artístico.

Vale destacar ainda que, no tocante às artes, a ANELCA conta hoje com representantes da capoeira, da música, atores, atrizes, artistas e cineastas.

Dentre os projetos desenvolvidos, o Centro Cultural da ANELCA Professor Adauto Junqueira Rebouças, com uma valiosa biblioteca, composta por mais de 20 mil volumes à disposição da comunidade nevense. A Escola de Novos Escritores da ANELCA, coordenada pelo Acadêmico Carlos Martins, que desponta como oportunidade ímpar para aqueles que se dedicam à arte da escrita.

Destaque para o trabalho da ilustre Patrona Oficial da ANELCA, a Sra. Ilka Maria Munhoz Gurgel, eterna educadora, que deixou uma rica contribuição social, educacional e cultural.

Acadêmicos
Cadeiras - Membros
01 Mauro José de Morais
02 Maurílio Laureano da Silva
03 Carlos Martins dos Santos Jr.
04 Eunice Ferreira Guimãres de Byrne
05 Maria do Carmo Coelho
06 Marisa de Fátima Santos Nascimento
07 Rosana Maria Cerqueira
08 Márcia de Jesus Souza
09 Silvania Bento
10 Leônidas Rodrigues Santos
11 João Batista de Paula
12 Antonio Domingos
13 Lourdes Garcia Brandão
14 Delba Avelar Menezes
15 José Marcos Rocha Morais
16 Rogério Munhoz Costa
17 Aparecida Luzia Teixeira Carneiro
18 Fernanda Pereira Gonçalves
19 Isabel Passos Eller
20 Ricardo Ramos Cruz
21 Jean Santos Otoni
22 João Alvânio Costa
23 Éder Fernandes Costa Lima
24 Graziella Aparecida Pousa
25 Wanderley Márcio Teixeira
26 Oswaldo Rodrigues França
27 Pedro Artur Alves da Silva
28 Cleusa Lúcia Oliveira Abrão
29 José de Ribamar Lima
30 Nair Albertini
31 Cláudio de Souza
32 Emídio Antônio de Souza
33 Rita de Cássia Silva Oliveira
34 André Luiz de Almeida
35 Rita de Cássia Pereira Souza
36 Jonas Vital da Silva
37 Sirlene Trindade Nogueira
38 Hermínio Neves de Jesus
39 Ednalva Amélia de Jesus
40 Andréia Patrícia de Souza

Fontes:
http://ribeiraodasneves.net/blogs/detalhe.php?id=184
http://site.anelca.com.br/
http://www.animeneves.com.br/anelca.htm

Ribeirão Preto – Capital Brasileira da Cultura 2010


Anualmente uma cidade brasileira é contemplada com o título de Capital Brasileira da Cultura. Até agora já receberam o título de Capital Brasileira da Cultura as cidades : Olinda (PE) 2006, São João Del Rei (MG) 2007, Caxias do Sul (RS) 2008, São Luís (MA) 2009 e Ribeirão Preto (SP) que será a CBC 2010.

Este projeto é promovido pela ONG CBC de São Paulo em parceria com o Ministério da Cultura, Ministério do Turismo, SESC TV, Discovery Channel e a Quixote Art & Eventos de Curitiba, empresa que presta consultoria na execução e formatação dos projetos e ações associadas a este evento.

Concorreram ao título de Capital Brasileira da Cultura 2010 as cidades de Parati/RJ, Ribeirão Preto/SP, Bento Gonçalves/RS, Gramado/RS, Prado/MG, Itabira/MG, Senador Pompeu/CE e as paranaenses Campo Mourão, Lapa e Paranaguá. Joinville/SC, Petropolis/RJ e Rio Branco/AC.

Para merecer esta honraria, os jurados levarão em consideração a programação cultural do município, a infra-estrutura e os equipamentos culturais da cidade (museus, teatros, cinemas, etc) e a integração entre as ações do poder público e da comunidade, observando a existência de Conselhos Municipais de Cultura e outros mecanismos exigidos pelo Sistema Nacional de Cultura.

Além do apoio para o desenvolvimento de sua programação regular, a Capital Brasileira da Cultura receberá algumas atividades para auxiliar a qualificar e capacitar artistas e técnicos que atuem na produção cultural, bem como, a cidade vencedora contará com uma divulgação extra na mídia nacional e internacional: O canal Discovery Channel por exemplo, veiculará durante diariamente durante todo o ano de 2010, cinco inserções de 30 segundos de uma mensagem institucional sobre a Capital Brasileira da Cultura 2010, além de programas produzidos pela SESC TV de São Paulo, entre outras formas de ações promocionais.

Este ano, graças a parceria existente deste projeto com o Bureau Internacional de Capitais Culturais, a cidade de São Luís do Maranhão ganhou um espaço em Atenas/Grécia para divulgar os seus atrativos turísticos e culturais.

A Capital Brasileira da Cultura foi apresentada para 48 universidades da Europa

O Presidente do Bureau Internacional de Capitais Culturais (www.ibocc.org), Xavier Tudela, apresentou o projeto Capital Brasileira da Cultura na Conferencia Anual da Rede de Universidades das Capitais Européias da Cultura (University Network of the European Capitals of Culture – UNeECC). Essa organização agrupa 48 universidades que estão sediadas em cidades que já foram ou serão nomeadas capitais européias da cultura. Este ano a Conferencia realizou-se em Vilna (Lituânia), cidade que juntamente com Linz (Áustria) é a Capital Européia da Cultura 2009.

Além da Capital Brasileira da Cultura, Xavier Tudela apresentou também as outras iniciativas que estão sendo implementadas pelo Bureau desde o ano 1998, em diversas partes do mundo: Capital Americana da Cultura, Capital da Cultura Catalã, Capital da Cultura Espanhola , US Capital of Culture e outros projetos em andamento.

A Capital Brasileira da Cultura (www.capitalbrasileiradacultura.org), criada em 2003, tem como objetivo principal valorizar e promover a diversidade e o patrimônio cultural do Brasil, fomentando a utilização da cultura como ferramenta de desenvolvimento social e econômico. A Organização Capital Brasileira da Cultura que implementa o projeto no Brasil, faz parte do Bureau Internacional de Capitais Culturais, entidade com sede em Barcelona, que promove internacionalmente as cidades capitais culturais, estabelecendo novas pontes de cooperação com a Europa, continente que tem estabelecido as capitais culturais desde o ano 1985.

O projeto CBC conta com o apoio do Ministério da Cultura, Ministério do Turismo, SESC SP e Discovery Networks Latin América / US Hispanic.

Fontes:
– Guata – Cultura em movimento.
http://www.guata.com.br/
http://www.capitalbrasileiradacultura.org/

Carlos Drummond de Andrade (Margarida)


A garota em êxtase brandiu o postal que recebera do namorado em excursão na Grécia :

- Coisa mais linda! Olha só o que ele escreveu: "Eu queria desfolhar teu coração como se ele fosse a mais margarida de todas as margaridas. "Marquinhos é genial, o senhor não acha?

- Pode ser que seja, não conheço Marquinhos. Se bem que antes da era Pierre Cardin, genial era Dante, Da Vinci, Einstein, outros assim. Mas essa frase não é de Marquinhos.

- Não é de Marquinhos?! Tá com a letra dele, assinada por ele.

- Estou vendo que assinou, mas é de Darío.

- Quem? O Darío, do Atlético Mineiro? Sem essa.

- Não minha florzinha, Darío, Rubén Darío, o poeta da Nicarágua.

- Não conheço. Então Rubén Darío falou para Marquinhos e Marquinhos

- Achou bacana e pediu emprestado a ele?

- Tenho a impressão que o Marquinhos não pediu nada emprestado a Rubén Darío. Tomou sem consultar.

- Como é que o senhor sabe?

- É muito difícil consultar o Darío.

- Por quê? Ele não dá bola para gente? Não gosta da mocidade? É careta?

- Não é nada disso. O Darío não é encontrado em parte alguma.

- Ah, ele gosta de bancar o invisível, né?

- Não creio que goste, mas é exatamente o caso dele: invisível.

- Não dá para entender.

- Vai entender logo. Ele morreu em 1916.

- Ah! E como é que o Marquinhos descobriu essa margarida, me conte!

- Simples. Leu num livro de poemas de Rubén Darío.

- Marquinhos não é ligado a leitura. Duvido.

- Se não leu no livro, leu em alguma revista, em alguma parte.

- Hã...

Ficou tão triste- os olhos, a boca, a testa franzida- que achei de meu dever confortá-la:

- Que importância tem isso? A frase é de Darío, é de Marquinhos, é de toda pessoa sensível, capaz de assimilar o coração à margarida... Desculpe: à margarida.

Muxoxo:

- Se é de todos, não é de ninguém, não vale nada.

- Pelo contrário. Fica valendo mais, torna-se sentimento universal.

- Ah, o senhor está por fora. Eu queria a margarida só para mim. Copiada não tem graça. A graça era imaginar Marquinhos, muito sério, desfolhando meu coração transformado em margarida, para saber se eu gosto dele, um pouquinho, bastante, muito loucamente, nada. E a margarida sempre com uma pétala escondida por baixo da outra, entende? Para ele não ter certeza, porque essa certeza eu não dava... Era gozado.

- Continue imaginando.

- Agora não dá pé. Marquinhos roubou a margarida, quis dar uma de poeta. Não colou.

- Espere um pouco. Eu disse que a margarida era de Rubén Darío? Esta cabeça! Esquece, minha filha. Agora me lembro que Rubén Darío nem podia ouvir falar em margarita, começava a espirrar, a tossir, ficava sufocado, uma coisa horrível. Alergia- que no tempo dele ainda não estava batizada. Pois é. Garanto a você, posso jurar que a margarida não é de Darío.

- De quem é então?

- De Marquinhos, ué.

- Tem certeza que nunca ninguém antes de Marquinhos escreveu ä mais margarida de todas as margaridas"? o senhor lê milhões, pode me responder. Tem certeza?

- Absoluta. Marquinhos é genial, reconheço. Mas, por via das dúvidas, continue escondendo uma pétala de reserva, sim?

- Pode deixar por minha conta. Puxa, quase que eu parava de transar com o Marquinhos por causa do senhor. Agora tá legal, tchau, vovô!

Vovô: foi assim que ela me agradeceu a mentira generosa, a bandida.

Fonte:
Imagem =
http://imotion.com.br

Epidemia de Poesia! Em Foz de Iguaçu


Uma poesia vai te pegar!

Uma epidemia está ganhando as ruas de Foz do Iguaçu. Lentamente, ela vai tomando conta do espírito e do imaginário das pessoas, fazendo brotar a sensibilidade e o sentimento de liberdade que a linguagem poética carrega. Trata-se da “Epidemia de Poesia”, iniciativa da Associação Guatá para disseminar a poesia em espaços e lugares jamais imaginados.

E quando se fala em fazer brotar poesia, não se recorre a nenhum trocadilho ou figura de linguagem. A intenção é que a poesia germine, cresça e floresça. Isso mesmo! É que a associação iguaçuense está distribuindo poemas impressos em papel semente. Depois de lido e apreciado, o material deve ser cultivado, com todo o cuidado que uma planta exige, para que o poema se transforme em uma flor ou arbusto, dependendo da sorte do leitor. A impressão é feita com tinta biodegradável, conforme recomendam as boas dicas de sustentabilidade socioambiental. Através da “Epidemia de Poesia”, a Guatá também está comercializando camisetas promocionais, com estampas poéticas, além de disseminar adesivos com poemas em vários locais de circulação pública de pessoas.

A intenção é colocar a poesia em movimento, fazê-la circular, surpreendendo as pessoas, que normalmente não esperam deparar-se com literatura em lugares inusitados. Todo o esforço é para popularizar a leitura do poema, demonstrando que tudo pode virar poesia. Além disso, também se abre a possibilidade para que os chamados “poetas de gavetas” - que escrevem, mas não mostram o material a ninguém - possam compartilhar as suas obras com outros leitores e escritores da cidade.

Para adquirir algum dos materiais que integram a “Epidemia de Poesia”, basta entrar em contato com a Guatá, através do e-mail guata@guata.com.br e pedir seu kit completo. Clique em http://www.guata.com.br/contatos/index.htm

Fonte:
http://www.guata.com.br

Jerônimo Mendes (História da Poesia Universal – Breve Relato ) Parte IV


3. A HISTÓRIA ATRAVÉS DA POESIA

A poesia sempre foi companheira da história da humanidade, pelo menos é o que pude perceber estudando os mais diferentes autores, antigos e atuais. Todos os feitos históricos, narrados em epopéias, sátiras, fábulas, epigramas, odes ou elegias, eram frutos de algum acontecimento associado ao cotidiano das pessoas ou à saga de um povo e seus governantes. A história também pode ser considerada o registro e interpretação de eventos do passado. Começou com a recontagem de lendas transmitidas pela tradição oral: as narrativas épicas de Homero foram as expressões poéticas da história oral, enquanto no período clássico da Grécia Antiga, Heródoto, Tucídides, Sófocles e Ésquilo entre outros escreveram narrativas da história de seu tempo.

Em capítulo anterior, quando descrevi algumas informações sobre os primeiros poetas, notei que os poemas, a exemplo da Ilíada de Homero, independente do lirismo e da extensão do texto, e na qualidade de mais antigos registros literários remanescentes, relatam detalhes de todos os acontecimentos possíveis da época ajudando a reconstruir a antiga história da Grécia fornecendo muitas evidências incidentais.

Emerson, em Ensaios (1994 : 15), associa história à poesia em cada parágrafo, frase ou capítulo, fazendo menções aos acontecimentos e referindo-se ao fato da poesia estar sempre presente nos principais acontecimentos dos povos e ao longo dos tempos:

O Jardim do Éden, o sol imóvel sobre Gibeão são poesia, desde então, para todas as Nações . A história universal, os poetas, os romancistas, mesmo em seus quadros mais faustosos - nos palácios sacerdotais e imperiais, nos triunfos da vontade ou do gênio - em nenhum lugar deixam de ter ressonância em nosso ouvido, em nenhum lugar nos fazem sentir que somos intrusos, que aquilo é para homens melhores; pelo contrário, é verdade que em suas pinceladas mais grandiosas sentimo-nos o mais à vontade possível. Tudo o que Shakespeare diz do rei, aquele garoto magricela que lê em um canto sente ser verdadeiro em relação a si mesmo. Nos compartilhamos dos sentimentos que despertam os grandes momentos da história, as grandes descobertas, as grandes resistências, as grandes prosperidades dos homens - pois ali a lei foi promulgada, o mar foi esquadrinhado, a terra foi descoberta ou rajada de vento soprou a nosso favor, do mesmo como, naquele lugar, teríamos feito ou aplaudido, e nada escapou à poesia, tudo se registrou através dela ” .

Através de poemas, muitos fatos chegaram ao nosso conhecimento. Ilíada e Odisséia, poemas épicos de Homero, conforme citado anteriormente, relatam muito bem todos os costumes e preocupações dos governantes da Grécia antiga com uma riqueza de detalhes jamais conseguida pelos registros oficiais da história.

Além de Homero e outros importantes poetas da antigüidade, muitos outros foram surgindo ao longo da história e cada um foi incorporando à sua maneira a verdade dos fatos em forma de poesia. A literatura latina teve início tardio, no final do século III a.C., com as peças de Plauto e, pouco depois, de Terêncio, ambos seguidores do modelo tradicional e comédia dos gregos.

Na época do nascimento do imperador Augusto, porém, os poetas romanos já haviam adquirido impulso próprio. Costumavam utilizar pessoas reais como personagens de suas obras. Por exemplo, Lésbia, a quem Catulo (Considerado o maior lírico da poesia latina ) se dirigia em seus elegantes poemas de amor e desilusão era, na verdade, uma dama chamada Clódia, ao que consta, casada com um cônsul.

E não havia dúvidas de que Júlio César e seu Chefe do Estado-Maior eram o alvo das farpas de Catulo: “ ambos adúlteros, igualmente ávidos, parceiros na competição pelas mocinhas da cidade ” . César tinha espírito esportivo : depois de exigir e receber desculpas, convidou o poeta para jantar.

Mas foi Augusto quem ofereceu patrimônio oficial inestimável aos escritores do seu tempo. Para assessorá-lo, recorria ao rico Caio Mecenas, um de seus amigos mais velhos e íntimos, que exercia o papel de caçador de talentos. Mecenas trouxe para o círculo imperial homens brilhantes de vários níveis da sociedade romana. Os poetas Ovídio (Mestre da poesia erótica, um dos primeiros poetas latinos) e Propércio (Poeta latino, amigo de Ovídio e admirador de Catulo, famoso por suas elegias) eram cavalheiros, o historiador Tito Lívio (Orador, estadista e historiador romano no início do Seculo I a.C.) vinha de uma família da Gália Cisalpina, o grande poeta Virgílio era filho de um pequeno agricultor e Horácio (Poeta latino da mesma época de Virgílio e Catulo) nascera numa família de libertos. E juntos descrevam minuciosamente os grandes acontecimentos do império.

Os primeiros poemas líricos de Horácio, Epodos, seguem a tradição de Arquíloco. Os quatro volumes de Odes são ainda mais notáveis - escritas em versos que mostram da melhor maneira a concisão latina, abrangem grande variedade de assuntos, com predomínio do amor, da política, da filosofia, da poesia e da amizade na época.

Segundo a Bíblia, o povo de Israel superou na lírica todos os outros povos. Cantou desde Moisés até Cristo. Os Salmos, por exemplo, são hinos sagrados por meio dos quais o povo de Deus costumava louvar o Altíssimo, implorar a sua misericórdia, agradar os benefícios recebidos e recordar os prodígios de sua paternal providência em torno de Israel. Foram compostos por vários escritores sagrados, sendo Davi (Segundo Rei de Israel, governante da tribo de Judá, famoso por derrotar o gigante Golias) o autor de sua maior parte.

Eram denominados Salmos por serem cantados ao som de um instrumento que os gregos denominavam Saltério. Dividiam-se em cinco livros e atualmente acham-se reunidos num único livro.

A coleção dos Salmos (Conjunto de hinos sagrados do Antigo Testamento Bíblico) não têm uma ordem especial; todas as cinco divisões foram indiscriminadamente organizadas por cada colecionador com os salmos que lhe vinham às mãos. Pertencem esses hinos a todos os gêneros da lírica hebraica : são hinos, ações de graças, orações, pias meditações, poemas históricos, didáticos, penitenciais. Tornaram-se célebres os salmos messiânicos, isto é, aqueles que tratam da vinda do Messias, Cristo; realmente, são considerados como grandes profecias.

Segundo os historiadores, tudo leva a crer que os Salmos tenham sido escritos em forma de versos e graças à doxologia, ciência que estuda o culto à glória e aos deuses, conseguimos entender a sua disposição e perfeita combinação das palavras para facilitar o acompanhamento de instrumento e música.

Outro poeta de grande importância para a história da humanidade foi Camões. Sua Ode XI, publicada na edição dos “ Colóquios dos Símplices e Drogas da Índia ”, relata sua viagem de regresso à pátria e suas andanças pela Índia e pela China, a qual, inclusive, foi financiada pelos amigos. Praticamente tudo que existe hoje sobre a vida de Camões é resultado das analogias feitas por especialistas na obra do poeta, pois a precariedade dos registros históricos não nos permite conhecê-lo de outra forma senão interpretando seus poemas.

Em 1571, um ano depois que Camões desembarcou em solo português, após 17 anos de exílio na Índia por ter agredido o rei de Portugal, de vida penosa, agitada e dificílima nas terras do Oriente, o poeta obtém, através de amigos influentes, a permissão e o alvará régio para a publicação de Os Lusíadas.

De Camões, em verdade, pouco sabemos. Nasceu pobre, viveu, morreu mais pobre ainda. Em sua poesia, e sobretudo nas poucas cartas que indubitavelmente são dele, pode-se ler que, como português, incorporou na alma toda a nossa condição : pobreza, vagabundagem, cadeia, sofrimento, paixão, insatisfação com os governantes de sua época.

Erros, má fortuna e amor ardente se conjugaram para fazer daquele alto espírito do maneirismo europeu uma das figuras mais desgraçadas da viasacra nacional. Quando foi preso em Goa, ilha sob domínio português, a nau 1 em que viajava naufragou e ele teve de nadar até as margens do Rio Mekong para salvar os manuscritos de Os Lusíadas, obra então quase finalizada. O importante da obra de Camões é ressaltar que o poeta foi capaz de enaltecer a história e, apesar de ter morrido na miséria, confunde-se com a própria história através dos tempos.

Não há estudioso capaz de falar em poesia ou literatura portuguesa sem lembrar de Os Lusíadas, clássico da poesia que já nem pertence mais ao poeta e sim à humanidade, digno de respeito, consideração e estudo. Camões viu a história, narrou-a e tornou-se história, inegavelmente, através de sua obra e de todo o sofrimento que acumulou em vida, como poeta, náufrago e exilado. Um pouco do pensamento do poeta pode ser analisado no poema abaixo:

A DITOSA PÁTRIA

Eis aqui, quase cume da cabeça
De Europa toda, o Reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa
E onde Febo repousa no Oceano.
Este quis o Céu justo que floresça
Nas armas contra o torpo mauritano,
Deitando-o de si fora; e lá na ardente
África estar quieto o não consente.
Esta é a ditosa pátria minha amada,
À qual se o Céu me dá que eu sem perigo
Torne, com esta empresa já acabada,
Acabe-se essa luz ali comigo.

José de Anchieta, nosso primeiro poeta nacionalista veio para o Brasil em 1553, com a Companhia de Jesus, na comitiva de Duarte da Costa. Durante o período de colonização, sua missão principal foi a de catequizar os índios e ser professor nos primeiros colégios destinados aos filhos de portugueses que aqui chegaram, fidalgos, em primeira instância. Estudiosos e pesquisadores o definem como iniciador da nossa poesia, independente de ter vindo de Portugal e de ter nascido na Espanha, pois aqui viveu na época de transição histórica, a chamada fase lingüista do português.

Alguns estudos críticos de Anchieta, a participação na formação histórica do país foi de tal maneira intensa e fecunda que seus historiadores ou mesmo seus biógrafos quase sempre se esquecem que ao lado do homem de ação lúcida, de colonizador obstinado, coexistia um escritor sensível. Toda a obra literária de Anchieta está ligada à realidade brasileira da época do descobrimento. Escreveu dois grandes poemas, um dedicado à Virgem Maria e outro aos feitos de Mém de Sá, em 4 línguas : o próprio latim, o espanhol, o português e a chamada língua geral baseada no dialeto dos Tupinambás 3, ou língua mais falada na costa do Brasil, ao seu tempo.

Seus escritos foram classificados em cartas, fragmentos históricos, sermões, poesia lírica e autos de catequese, os últimos colhidos nos próprios costumes ou cerimônias indígenas. Os originais do chamado caderno Anchieta, com 208 folhas, encontram-se nos arquivos da Companhia de Jesus, em Roma. Ao que tudo indica, essas páginas escritas por Anchieta o acompanharam ao longo de sua vida no Brasil até os últimos momentos e estão recheadas de acontecimentos históricos do período em que os primeiros habitantes do Brasil tiveram o imenso gosto de companhia e puderam testemunhar a coragem do evangelizador e poeta em solo brasileiro.

No período Romântico brasileiro, encontramos um número sem fim de poemas e poetas a descreverem todo tipo de ação feito do seu respectivo tempo. Gonçalves de Magalhães narra Napoleão em Waterloo de maneira brilhante, algo escrito com riqueza de detalhes ou mesmo de imaginação digna de quem devorou por inteiro e absorveu todo conhecimento histórico daquela fatídica batalha em que grande imperador francês foi derrotado.

Alguns poemas monumentais não devem ser esquecidos jamais pela humanidade e, principalmente, pelos brasileiros. São poemas que relatam uma época sem precedentes, de transformação e muitas injustiças, onde os poetas escancaram toda verdade não adquirida pela simples leitura de livros escolares. I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias; Os Jesuítas e Navio Negreiro, de Castro Alves; Pedro Ivo, de Álvares de Azevedo; Morte e Vida Severina e o Auto do Frade, de João Cabral de Melo Neto; Natureza Intima e Lamento da Coisas, de Augusto dos Anjos e os Estatutos do Homem, de Thiago de Mello.

Há nos poemas todo um mistério irrefutável e intimamente ligado à história, não somente pela verdade poética do seu conteúdo, mas também pelo fato de não distorcerem os acontecimentos e ampliarem o nível de conhecimento tão limitado pelo registro histórico e pelo conhecimento do homem.

Wystan Hugh Auden, poeta inglês nascido no início do século, era o nome de um santo do século IX por quem o pai do poeta tinha particular afeição. Médico, Dr. George Auden dedicava-se também aos estudos arqueológicos, históricos e clássicos, tendo passado um pouco desses gostos ao filho caçula. Segundo José Paulo Paes (1986:7), em sua introdução quase didática sobre a Vida e Poética de W.H.Auden, enquanto poeta, ele é uma das mais convincentes ilustrações daquilo que os críticos costumar chamar de falácia biográfica , ou seja, o equívoco de querer explicar as particularidades da obra de um escritor pelos acontecimentos de sua vida civil. Na sua poesia, o pendor para a generalização leva de vencida a preocupação com o particular, o crítico obnubila o sentimental, e os poemas, em vez de estarem voltados para o registro de incidentes da vida do poeta ou de traços de sua personalidade, interessam-se antes pelo sucesso e pelas idéias mais candentes que foi dado a ele viver.

Em Valência, onde chegou em janeiro de 1937, não foi ser soldado nem motorista de ambulância como pretendia; puseram-no na propaganda pelo rádio. De volta à Inglaterra, escreveu um poema sobre a Guerra Civil Espanhola denominado Espanha, no qual oferece à história um série de acontecimentos da época e, mais tarde, numa declaração pública contentou-se em dizer, laconicamente, que apoiara o governo republicano espanhol “ porque a sua derrota pelas forças do fascismo internacional seria um grande desastre para a Europa”.

Em janeiro de 1938, viajou ao Oriente onde ele e outro colega foram fazer a cobertura da guerra sino-japonesa para um livro encomendado pela editora americana Randon House. Passaram três meses na China e alguns dias no Japão. Essa excursão inspirou Auden, em cuja obra há vários poemas sobre lugares, “ Uma Viagem “, em que, além da peça de abertura, em versos livres, acerca do seu desencanto com a utopia do bom lugar, inclui sonetos ferinos sobre o Egito, Hong-Kong e Macau.

A desilusão política de Auden é retratada em diversos poemas seus e quase todos o poeta faz um balanço de influências intelectuais, religiosas e políticas que sofreu :

Mas de súbito e sem aviso,
despencou toda a Economia:
para instruir-me havia Bretch.
Por fim, coisas pavorosas,
que Hitler e Stalin faziam
trouxeram-me Deus à mente.
Como estava certo do erro ?
Por Kierkegaard, Wiliam e Lewis
fui à fé reconduzido.

Ao citar Auden tentamos traçar um paralelo entre a vocação do poeta e a importância histórica do seu trabalho transformado em poesia onde, claramente constatado em seus escritos, há dados inequívocos da sua excepcional facilidade em avaliar os acontecimentos e registrá-los com riqueza de detalhes.

Poetas como Auden, Milton, Valery, Apollinaire e Heine são a própria história da humanidade. Através deles os estudiosos contemplam as verdades e mentiras de seu tempo e dificilmente podemos encarar qualquer poema ou mesmo texto em prosa que não haja um mínimo de verdade absoluta. A história está para a poesia e a poesia está para a história, são inseparáveis e nada pode desfazer esta junção. Seja por Homero, Horácio, Sófocles ou mesmo por Shakespeare, a história sempre chegou com detalhes embora as dúvidas sejam muitas pela fragmentação da obra de muitos poetas.

Fonte:
Monografia feita pelo autor em Curitiba / PR , março de 2001

domingo, 20 de dezembro de 2009

Trova XC - Maria Nascimento (Rio de Janeiro/RJ)

Montagem da trova sobre imagem obtida na internet em http://sergeicartoons.blogs.sapo.pt

Exercicio Poético (Viagem)


Se tola eu fosse como o viajante
que permanece em casa, asas cortadas,
não saberia aproveitar o instante
das emoções sem par dessas estradas...

Não fico, pois, parada por mais tempo
porque prefiro acompanhar o vento
que me transporta para outras jornadas.
(Llisieux - BH)

Sou viajante pela vida,
essa vida. às vezes agradável,
às vezes inexorável.
Essa viagem sempre nos prega peças
para testar nossa resistência...
Quando nos golpeia,
como custa levantar...
(Marla Otto)

Viajante no mundo do sonho
minha timidez eu transponho
revelando o meu sentimento
entrego-me a ti... sem pudor
amando-te com tanto ardor
é o meu sonho do momento.
(Sueli do Espírito Santo)

Sou viajante do infinito
Das noites longas e da lua
Em altas ondas eu transito
Rastreio o mar que me cultua.
Sou viajante das estrelas
Ainda que não possa vê-las
A sua marca em mim tatua!
(Milla Pereira)

Como viajante solitário vivo esta vida a caminhar
Em tropeços e passos errantes procurando sempre acertar
Mudando alguns caminhos por onde devo passar
Tortuosos todos são pra onde irão me levar
Troncos no meio da estrada me fazem as vezes parar
Nada me impede no entanto por sobre eles pular
Viajante sua estrada é longa não convém descansar
(Maria Lopes)

Londres, Paris, Madrí
São velhas recordações
Destas que muito vi
Sentindo diferentes emoções
Até ver as obras de Gaudi
Mas eis que não deu outra
Na verdade só procuro ver a ti Sabe lá...esqueci
(Lea Peres Day)

Viajo em trilhas
Percorro milhas
Caminho aos prantos
Suando tanto
Sempre me perco
Sempre me espanto
Por não chegar
(Cícero Christófaro)

uma longa estrada
tantas, tantas voltas
que as ondas não contornam
a poesia distante aporta
fica ancora
e a nave
não mais retorna.
(Maria Thereza Neves)

De corpo e alma viajante,
Um e outra, o de antes,
Buscado, encontrado, perdido...
Volta em outro modelo agora
Sem material comprovante.
Débitos, créditos, vestigios antigos,
Na vida, uma luz itinerante.
(Lourdinha Biagioni)

Viajante aquele que em meu corpo viaja,
Procurando portos para ancorar seu carinho,
Que me encontra cansada de viagens frustradas,
Viajante aquele que em meu corpo descansa,
Das muitas viagens que alguma vez fez seu carinho,
Que me descobre qual terra inexplorada,
E de tanto me buscar, me torna amada...
(Patricia Andrea)

Percorrendo estradas, muito vi!
Riachos límpidos... já secaram...
Canaviais verdes... já queimaram...
Ribação não voa... calou o bem-te-vi!

Pombo-correio não mais é viajante...
Sangra de dor, passarinho cantador.
E a poesia, cantata... explode, arfante!!!
(Luciene Passos Pires)

Sou um eterno viajante
A vagar de modo errante
Por um transplante

Não para meu semblante
mas um coração galopante
renascendo de forma saltitante
esquecendo seu amor distante
(Carlos Senna)

Corajoso, aventureiro, curioso, proseador...
Tem facilidade de fazer amigos
E é sempre recebido com bom humor nas suas andanças...
Aprende com a vivência
O muito de solidariedade:
Costumes, problemas econômicos e sociais
Das regiões por ele visitadas!
(Luiza Benício)

Desejado e esperado por todas as pequenas cidades.
Se domingo, até a missa terminava muito antes de acabar.
Todos corriam a ter seu lugar primeiro
Junto àquele que trazia tantos sonhos e fantasias.
Tecidos e perfumes, chapéus e charutos, carrinhos e bonecas.
Valores em réis, negócios da China, olhares e desejos.
Assim percorria por entre amores e estradas, o caixeiro viajante.
(Jaak Bosmans)

Hoje eu não saí de casa; passei o dia viajando.
Peguei carona na Terra, viajante em torno do Sol.
Logo ele, canalha que de dia me rouba as estrelas!
Tudo bem, à noite elas virão. E trarão a Lua, de brinde.
O vento passou por mim, trazendo cheiros.
MIl gentes passaram também, sem tempo de curtir a viagem.
Li um livro. Fiz um poema. Viajei também em mim.
(Alberto Saraiva)

Da vida, sou viajante
e vou percorrendo caminhos,
alguns são bem verdejantes
e outros, cobertos de espinhos.
Mas, como sou mensageiro
da paz, da verdade e do amor,
vou transformando os espinhos em flor!
Socorrinha Castro ( Florzinha )

O viajante
eterno andante
sincero amante...

Longa caminhada
chega a alvorada
diante de sua amada...

Esta é a magia que pulsa constantemente no universo!...
(Vera Hellena)

Sigo o caminho da estrela brilhante,
Só ela me levará a Jesus.
Num mundo de sonhos sou viajante.
Meu coração, tocado pela luz,
Deixa o tempo maléfico para trás,
Entre cantos de glória se refaz
E abre-se para uma vida de paz.
(Mardilê Friedrich Fabre)

Olha do tempo o sarcasmo
a esculpir as partidas
de crianças mal-chegadas
velhos de mansas idas.
O vento queda-se pasmo
não sobra sequer história
um rastro esgarçado , memória.
(Elane Tomich)

chegar de viagem
entrar sem vacilo pela porta da frente
deitar a bagagem na sala
percorrer a casa cômodo por cômodo
de canto a canto e concluir
aqui é o paraíso
(Líria Porto)

O vento soprou viajante e nele peguei carona...
A viagem custa algumas saudades mas compensa...
Visitei lembranças passadas por ele arrastada...
Vi aquela menina travessa e muito feliz....
Voltei viajada, menos apressada...
Mas o malvado sofreu uma calmaria...
Quando voltar para me pegar, estarei crescida?
(Marília Bechara)

Sai de casa rumo à esperança
Desejando encontrar a felicidade
Assim, mundo afora sigo em frente.
Não sei o que encontrarei... não sei!
Em meus olhos existe vida e meu pensamento
tem fome do novo. Por isso a viagem... a mudança.
Não percebi, mas o que deixei me chama de volta.
(Meg Klopper)

Viajante. Viaj(o) ante(s)
Por ar, por terra e por mar.
Sonho, poesia, pensamento
“Pré visão”. Revisão. Previsão.
Memorizo paraíso
Intuição. Em ti ação.
Impreciso o viajar.
(Marinez Stringheta / Mara poeta)

Sou viajante na vida
entre as matas vagando
pelos mistérios escondidos...
Alma, mundo desconhecido
descubro e vou aprendendo
minh'alma alma desbravando ...
Vida, uma eterna viagem...
(Itana Goulart)

Viajo através de meus sonhos.
A dádiva de viver me encanta.
Disfarço sempre meu olhar tristonho,
para dar lugar à alegria que se agiganta...

Às vezes, porém, ando errante,
procurando minha essência de forma constante...
Sinto-me, nesta vida, uma eterna viajante...
(Neusa Maria Travi Madsen)

Sou aquele viajante solitário
que um dia na tua Pousada chegou
comida recebeu, pediu onde dormir,
e aos poucos perdidamente de Ti se enamorou...
Coisas do destino: só ele amou!
(Sicouza)

Ando pelo mundo a fora
Na esperança de encontrar
O sonho que se perdeu
E o desejo de voltar
Mas pra que eu voltaria?
Se não tenho mais ninguém
Só o mundo e a poesia
(Jane Rossi)

e lá vai o viajante bem distante estrada afora
vendendo quinquilharias, para longe indo embora
alardeando alegria, paz e amor a toda hora
vendendo esperança no ontem, no amanhã e no agora
e lá vai o viajante bem distante estrada afora
sorriso belo, aprumo no vestir, as mãos de fora
só descansará ao vender tudo... até o romper de nova aurora
(Wilson de Jesus Costa)

Havia uma estrela a me guiar
Viajando por este mundo afora
Queria mudar o planeta terra
Senti que só Deus tinha este poder
O viajante e eu a seguir a estrela
Terras e terras nenhuma igual a Salvador-Bahia
Daqui mando meu abraço para o povo do Brasil.
(Varenka de Fátima)

Viajante soberano
No dia e noite
Cansaço vespertino
Uma causa, um meio de vida
Cada hora, cada passo
Ultrapassando época
Chegando onde quer chegar.
(J.Hilton)

Nesta estrada de caminhos intrincados
Procuro seguir rompendo barreiras,
Mas sem atropelar ninguém.
É por ela que temos que andar
Escolher bem, não se arepender!
Espaço e Tempo profundamente a se mesclar,
Ser mais um Viajante que vai-e-vem ...
(Nídia Vargas Potsch)

Fonte:
Varal 1 – edição 417 – ano 9 – viajante. Enviado por email

Antonio Brás Constante (Humor, Terror e Salvação em um Conto de Natal)


A cena continha vários detalhes que lembravam o Natal, ainda que não houvesse renas por ali. Havia um pinheiro enorme, pisca-piscas, quase todos os tipos de bebidas, um cheiro diferente no ar... (que não era causado pelas renas, pois elas realmente não existiam por ali)

O que mudava o contexto natalino era que o pinheiro serviu para parar o carro que tinha vindo desgovernado e em alta velocidade na sua direção. Os pisca-piscas, não passavam de sinalizações indicando que aquela estrada estava em obras. As várias bebidas estavam todas armazenadas no corpo do sujeito desmaiado e ensangüentado que jazia abraçado ao volante e, por fim, o cheiro no ar era de gasolina (eu falei que não eram as renas), que saia do tanque perfurado do veículo. O liquido inflamável escorria e deslizava pela terra, chegando cada vez mais perto de um principio de incêndio, localizado na dianteira do automóvel, iniciado devido ao impacto.

Mas havia algo mais. Algo que estava ocorrendo na mente do motorista embriagado. Era ali que estava para ocorrer à verdadeira história de Natal. Quem olhasse de longe para as ferragens retorcidas, não poderia imaginar que naquele momento, um homem estivesse encontrando seu destino de forma tão surreal.

Kaio das Pontes era seu nome, um nome que passou bem perto de ser gravado em uma lápide fria, visto que ele poderia ter morrido em decorrência da brutal batida na qual foi algoz e vítima. Se bem que sua situação ainda era delicada, pois tinha quebrado vários ossos, e perdido muito sangue. Mas, o pior é que seu carro poderia explodir a qualquer momento.

O lugar estava deserto e desolado, nenhum sinal de vida, nem sequer uma placa indicando algum Fast-food de beira de estrada. Em meio ao quase silêncio (ouvia-se apenas alguns ruídos típicos de florestas) uma luz começou a brilhar, próxima ao pára-brisa quebrado (deixando a cena do acidente mais iluminada, porém, ainda silenciosa).

A partir do aparecimento da estranha luz, tudo que estava em volta do veículo congelou. As folhas pararam de se mover, o vento parou de soprar e mesmo os ruídos florestais ao seu redor cessaram. A luminosidade tomou forma, e tal qual o conto de Natal: "Os fantasmas de Scrooge", Kaio também passou a receber a visita de três espíritos (anjos ou demônios, dependendo da crença de cada um). Um para mostrar-lhe o passado, outro o presente e um último apresentando seu futuro.

O primeiro fantasma apareceu na figura de um cachorro vestido de garçom, e que urinou no rosto do moribundo para acordá-lo. Ao perceber o que aquela criatura peluda tinha feito, Kaio começou a praguejar, mas parou ao levar uma mordida na perna. O cão falava, não com palavras, mas com pensamentos, e fedia, como fedia, exalando um odor insuportável de cachorro molhado.

Kaio já não estava mais em seu carro, mas de volta ao seu próprio passado. Ele passou a relembrar de todas as situações que o levaram a beber, as festas, as alegrias e tristezas sempre comemoradas ou esquecidas com álcool.

Ao ver a si próprio naquele passado, começou a perceber o quanto se tornara dependente daquele vício maldito. Mas era tão bom o torpor que a bebida lhe trazia. Era como um elixir que lhe curava todos os seus males. Algo que lhe dava coragem e afugentava a dor e as lembranças amargas de sua vida.

O cão percorreu com ele a trilha tortuosa dos primeiros passos do alcoólatra, e do grande problema nesta unificação entre Homem e bebida, em que nós seres humanos somos péssimos vasilhames, e onde até mesmo os uísques importados viram urina quando estocados em nosso organismo. Pois na grande maioria das vezes que o ser humano resolve bancar o porta-álcool, acaba estragando seu convívio social e até mesmo a sua própria vida, já que de gole em gole tornamos a vida um porre.

O cachorro também lhe mostrou, enquanto abanava a cauda, que mesmo sendo um viciado nos prazeres e desprazeres da bebida, Kaio ainda havia conseguido um emprego razoável e uma família com esposa e filhos. Por fim o cão trouxe-lhe de volta ao seu carro acidentado.

O homem baixou a cabeça, mas antes que pudesse se recobrar de seu estado deprimente apareceu o segundo fantasma. Ele veio na forma de uma gigantesca lagosta com roupas de bailarina (o balé era o sonho de carreira que sua esposa largou para se dedicar ao marido e aos filhos). Lembrando da mordida do primeiro anjo, Kaio (que adorava lagostas) achou melhor não esboçar qualquer reação diante daquela figura estranha que lhe puxou para fora do carro com um beliscão no braço, levando-o diretamente aos acontecimentos que causaram seu acidente.

Ele viu seu dia recomeçar, sempre no bar. Seu corpo mole do trago chegando novamente atrasado ao serviço e desta vez sendo demitido. Ao voltar para casa, reviveu a briga com sua mulher, mais uma entre várias que já se passaram, com um agravante, desta vez houve agressão física com troca de tapas e socos. Ele ouviu novamente o choro de seus pequenos filhos, que por estarem chorando também apanharam. Tudo tão real, tão vergonhoso. Por fim acompanhou sua esposa saindo de casa, levando algumas malas e seus dois filhos, um no colo e outro pela mão.

Kaio poderia ter ido atrás dela, ter lhe pedido desculpas pelas besteiras que fez, implorando que ficasse. Ele poderia ter dito que a amava e que amava seus filhos. Mas preferiu encontrar o conforto de uma garrafa. Bebeu toda que encontrou, até ser expulso do bar. Saiu de lá cambaleando e pegou seu carro.

Veio pela estrada quase em coma alcoólico até perder a direção e bater contra aquele velho pinheiro. Agora estava ali, relembrando todos os seus erros. Estava novamente estropiado e ensangüentado dentro do carro. Seus olhos mareados de lágrimas. A dor do corpo tornara-se menor que a sofrida por sua alma destruída pela bebida e estraçalhada pelas lembranças. O que viria a seguir? Uma rena vestida de Papai Noel?

Então chegou o terceiro fantasma. Uma pomba, nua como qualquer pomba que possa existir, mesmo sendo uma pomba fantasma. Ela mostrou a ele que sua morte traria tristeza para a família, mas também traria alívio. O rosto de sua esposa já não era cheio de medo dos ataques de fúria do marido. Seus filhinhos passaram a dormir melhor, sem acordarem chorando no meio da noite, apavorados com aquele monstro cheirando a cachaça, que gritava enquanto ia quebrando tudo que encontrava pela casa.

A pomba também mostrou o que aconteceria se Kaio sobrevivesse. Ela Mostrou-lhe vários futuros, em alguns deles ele voltava para a bebida, porém, em outros conseguia superar o vício. A escolha devia ser feita. Viver ou morrer. Lutar ou se deixar vencer.

O homem estava totalmente transtornado, seu rosto molhado de lágrimas e sujo de sangue, fedendo a urina de cachorro. A vontade de viver parecia ter se apagado junto com as últimas imagens. Kaio largou o peso do corpo sobre banco e se entregou ao destino. Era tão fácil desistir, abraçar a morte, não ter que enfrentar a vergonha, ou mesmo lutar para mudar a própria vida.

Finalmente o fogo alcançou a gasolina. Naquele fatídico momento, o clamor de seu coração por uma nova chance falou mais alto. Apesar de tudo queria viver. Não podia terminar assim, não como um churrasquinho humano, não agora que tinha visto sua vida sobre uma nova ótica, e que poderia mudá-la, por mais difícil que fosse. No entanto, suas preces não pareciam ter surtido qualquer efeito, pois o mundo a sua volta explodiu. A última coisa que viu foi à imagem da pomba voando...

Tudo estava escuro e sereno. Após uma verdadeira eternidade de trevas, seus olhos emergiram para uma luz, cegante e intensa. Aos poucos começou a ouvir murmúrios e sons irreconhecíveis. A consciência foi voltando ao corpo. Estava em um hospital. Milagrosamente sobreviveu. A explosão o havia lançado para longe do carro e atraído uma viatura da polícia. Estava consciente de que recebera o melhor presente de todos: A vida, juntamente com uma nova chance de ser feliz. A partir dali só dependeria dele. PRELÚDIO: ao olhar pela janela Kaio pode perceber, ao longe, uma rena vestida de Papai Noel...

Fontes:
– Colaboração do autor.
– Imagem = http://animatoons.com.br

Delasnieve Daspet (Album de Poesias Poetas del Mundo)


MELANCOLIA...

Sentada à janela,
Livro nas mãos,
Folha a folha virava.
Em voz alta, lia.

Páginas e páginas à minha frente,
Sem prestar qualquer atenção,
As palavras surgiam como sombras!
Não entendia nada...

Buscava nem ouvir o som,
Perdendo-me na saudade...
A lembrança embarga minha voz,

Lágrimas amargas de fel
Acentuam a melancolia
De mais um dia.
=================

BONECOS DE PANO

Eis-me, de novo, matutando sobre a vida...
Vejo tanta banalidade:
Se desdobram para ver qual o pior,
O governo, políticos, povo, sociedade.

De repente é como se nada valesse a pena.
Questiono se a própria vida
Vale algo?
São tantos os desmandos que
Acho que nada vale absolutamente nada!

O homem estendido no chão, ensangüentado,
a árvore cortada pela raiz,
dobrados em si,
como bonecos de pano,
me dá a exata noção da nossa precariedade!

Uma bala perdida;
Um carro desgovernado;
Adolescentes bêbados;
Governo sem rota, sem prumo;
Ladrões saindo pela ladrão...
Corram.... a policia vem chegando!

Fatos assim
Nos mostram no dia a dia
A nossa não serventia.

E como bonecos de pano,
somos jogados, ceifados,
quando alguém supõe que já não servimos.

A nossa revelia nascemos.
Não temos escolha.
Num momento supremos somos gerados,
crescemos e morremos como árvores
que tombam cortadas, jogadas, queimadas.

Eis-nos no limbo, ao léu.
No céu aberto em exíguo espaço
Reclamando nossos momentos tão curtos,
Que acabam em espasmos,
No surdo barulho da morte...

Descartados sem o menor cuidado,
Sem piedade,
Sem ninguém,
Amassado, amorfo...
Morto - já não vota nem escolhe,
Pobre humano!
================================

PARA UM VIOLÃO

Jaz na parede, encostado,
aquele que foi testemunha
Dos meus loucos amores juvenis,
dos meus dissabores, de minhas desilusões,
dos meus sonhos mortos,
do nó na garganta que sufoca,
do cotovelo que se transforma
em dor no peito e mata.


Jaz, abandonado,
seis cordas que dedilhei,
no abraço colado ao corpo,
de manhã, a tarde,a noite,
nas madrugadas solitas,
da vida que escolhi,
quantas lágrimas soluçamos
em tuas notas.


Jaz, meu companheiro,
solitário e acabrunhado,
num canto jogado,
meus dedos já não tão ágeis,
já não te fazem vibrar como antes.

Fizemos tantas serestas,
polcas, guaranás, chamamés, fados,
em tuas cordas pungentes
todos os sonhos que perdi.

Meu violão,
meu amante,
companheiro,
vamos voltar à boêmia
com novas melodias,
cruzar com a lua altaneira,
versejando c'as estrelas,
beber do orvalho da madrugada
na perfumada brisa das campinas,
novos sonhos, novas saudades,
agora que o tempo já vai ficando
tão longo.... e tão tarde...

E eu, - me findo em canção
sem melodia, nas enluaradas
noites deste sertão.
============================

DIVAGANDO À BEIRA MAR...

Quero falar de uma exceção variável.
Exceção que agrega infinitos valores
esquecidos ao longo da vida...

Corremos atrás de uma aclamada felicidade
traçada por padrões estabelecidos
quase sempre sem sucesso pois
criamos um ideal fechado por modelo.

Antes de mais nada é preciso separar
a essência e a aparência das coisas da
sensação localizada no observar.

Afinal - o que é a vida a não ser
um suceder constante do tempo
que nos contempla com o
refugio da eternidade?

Já nascemos com prazo certo,
só a morte pára o tempo,
que parece imponderável no azul
do céu e do mar.

Tenho caminhado célere ao
encontro do meu infinito.
A cada dia chego mais perto.
A modernidade se encarrega
de fazer o nosso encontro mais cedo!
=======================

ONDAS NO TEMPO

Como uma pedra
Que se joga no rio
Venho formando ondas no tempo.

Nada importa.
Onde eu vá
Sempre estarei sozinha.

Já não pertenço a lugar algum.
Tudo que me resta são sonhos.
Agora é tarde para mudar,
- Está tudo feito! -
A chuva continua caindo.

Chuva fina e constante.
Olho a chuva,
Não suporto mais vê-la cair...

Findou o inverno
E a primavera com seus brotos e flores
Já surge nas árvores,
Na curva dos dias de sol.

Repouso minha poesia e meu canto
Numa quimera!
Caminho ao teu encontro,
Beijarei tua boca cheia de palavras,
E a saudade líquida fluirá rolando face afora.

Fontes:
– Colaboração da poetisa
– http://www.delasnievedaspet.com.br/
- Fotomontagem = José Feldman

Delasnieve Daspet (1950)


Delasnieve Miranda Daspet de Souza (Porto Murtinho, 12 de setembro de 1950) é advogada, poetisa brasileira. É ativista das causas da Paz, sociais, humanas, ambientais e culturais

Casada e mãe de dois filhos, Delasnieve Daspet, é poeta, Ativista da Biopoesia, cronista, ensaísta, palestrante, professora, educadora, atuante em várias lutas sociais, principalmente nos trabalhos que desenvolve com menores carentes.

Premiadíssima, Daspet também é representante atuante de várias associações e academias literárias e culturais, nos ambitos nacionais e internacionais, tais como:

– Peace Ambassador in Universal Ambassador Peace Circle - Genebra – Suíça;
– Sub-Secretária Geral para as Américas e Embaixadora para o Brasil de Poetas del Mundo, Santiago – Chile;
– Ambassador for Peace – Universal Peace Federation on the International Federation for Word Peace – 2007;
– World Poets Society (W.P.S.);
– Comissão de Direitos Humanos da OAB/MS (presidente)
- Conselheira Estadual de Cultura/MS
- Conselheira Municipal de Cultura Campo Grande/MS

Premios:
– Unesco Prizes World Poetry;
– Médaille D'Argent 2008 - Arts, Sciences, Lettres - pela Société Académique d´Éducation et d´Encouragement, como Poeta e Escritora, Paris-França;
- Premio da Business Professional Women International BPW – Campo Grande - MS: Troféu BPW Mulher-2007;
– Super Cap de Ouro - 2008;

Já publicou e participou de 41 ( quarenta e um ) livros e coletâneas, nacionais e internacionais.

Mantém há oito anos, um grupo de Poetas e Poesias com 180 (cento e oitenta) associados (poetas/escritores de todo o Brasil), e, em outros países da América do Sul e da Europa, tendo como final objetivo, procurar, estimular, estudar e desenvolver as várias vertentes da Poesia.

Idealizadora do tão conhecido e prestigiado festival de poesias "Tertúlia Poética Luna& Amigos", que realiza todos os anos.

Frequentemente requisitada, desenvolve palestras pelo Brasil e assiduamente no Mato Grosso do Sul, onde aborda temas referentes a Cultura da Paz, dos Direitos Humanos e Poesia - Biopoesia – e a integração pela Palavra.

No teatro, Delasnieve Daspet, teve poesias suas adaptadas para as peças teatrais "Romeu e Julieta" e "Sonho de uma noite de verão" (ambas de Shakespeare) em Cabo Verde - África, pela Cena Aberta Companhia de Teatro

Na BIOPOESIA – Poesia da Vida, emprega a poesia nas importantes questões que põem em perigo a vida de cada ser vivo, como o aquecimento global da Terra, as guerras expansionistas, a poluição ambiental.

Conceituada pela expressão peculiar, tornou-se renomada internacionalmente, oportunidade em destacarmos seu extenso prestígio, onde já fora traduzida para o ingles, alemão, espanhol e frances.

Como ativista da Paz, celebra com a união de todas as raças, credos, gênero, a proposta da criação de uma Escola de Paz – onde se ensinem aos homens que o desenvolvimento não se realiza nem no vazio nem no abstrato. Inscreve-se num determinado contexto social e responde a condições sociais especificas.

Publicações

Solo

* Por um minuto ou para sempre;
* Em Preto e Branco;
* Pazeando.

Livros que organizou

* Tertúlia na primavera;
* Tertúlia na Era de Aquário;
* Poetas del Mundo Volume I;
* Poetas del Mundo Volume II.

Coletâneas

* Poesia só poesia;
* Tempo de poesia;
* Seleção de poetas notívagos 2001;
* Nas Asas da Paz;
* Poesias do Brasil;
* Paternon Século XXI;
* Casa do Poeta Brasileiro em Salvador;
* Gigantes;
* Bento;
* Poesia em América;
* Poetas na Bienal do RJ;
* Primavera dos Ipès;
* 10 Rostos da Poesia Lusófona na Bienal do RJ;
* 10 Rostos da Poesia Lusófona na Bienal de SP;
* O Poeta Fala - 2;
* Casa do Poeta Rio-Grandense;
* REVIJUR;
* Conceição do Almeida.

E-Books

* Luna&Amigos - Volume I; Volume II; Volume III; Volume IV; Voilume V, Volume VI.
* Coletâneas de Poesias de Natal
* Delasnieve Daspet - Poesias
* In Limine
* Um Novo Amanhecer
* Buque de Poesias
* Estão Voltando as Flores
* Antologia Arquitetura Literária
* Participação Especial na Antologia Natal 2008 dos Poetas em Foco e Poetas Del Mundo, editada pela EUNANET

Fontes:
Revista Zap, de Elizabeth Misciaci. http://www.eunanet.net/beth/delasnieve_daspet_2.php
http://pt.wikipedia.org/wiki/Delasnieve_Daspet
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo.asp?ID=600