sábado, 31 de outubro de 2009

Gruta da Poesia (Parte I)



Donzília Martins
PELA METADE

Por detrás do tempo
Em vidraças partidas
Olham vazias o entardecer
E pela metade deixam a vida por cumprir.

Olhares apagados
Silhuetas de sombras
Em línguas de fogo afiadas
Perscrutam madrugadas no poente.

Desfeitas pelo pó dos caminhos
Roseiras sem rosas, com espinhos,
Esvaídas no pólen inflorido
Olham o vazio deitado na alma.

Tiveram alma? Ventre? Terão tido vida?
No vácuo do caminho andado
Sentem-se nada de nada, de ninguém.

Nem o ventre lhes pariu
Nem o seu jardim floriu!
São pétalas secas, mirradas,
Vagueando nos silêncios do desdém.

Hoje choram a flor cardida que fechou
O leito frio que ninguém ocupou
A ternura que não deram
Aos braços dos meninos de sua mãe.
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Maria Nascimento Santos Carvalho
CHUVA MIÚDA


A chuva fina molhou o meu mundo ...
O mundo que eu ergo, orgulhosamente,
embora deformado agora pelos excessos.

A chuva molhou meus pés;
pés antigamente delicados,
de solas aveludadas.

A chuva molhou minhas pernas
que foram torneadas
e hoje estão visivelmente volumosas,
meio disformes
e marcadas pela vaidade das depilações.

A chuva molhou meu tronco,
que, com o passar do tempo se alargou,
se desenvolveu em todas as dimensões,
sofrendo não ainda a deterioração do tempo,
mas obedecendo as inflações da idade;
tomou o porte das prestações a longo prazo:
expandiu-se, degenerou-se,
multiplicando as carnes, antes em desfalque.

A chuva molhou a minha cabeça,
que, feita para pensar,
pensa que não sabe o que pensar,
o que deseja pensar do mundo,
das coisas, das pessoas,
da vida ...

A chuva continuou pingando ...
Pingando ... pingando ... pingando ...
R e s p i n g a n d o...
e inocentemente molhando o meu mundo,
o meu eu ...
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Vânia Maria de Souza Ennes
ALGUMAS TROVAS

Eu não mudo de país,
nem de cidade ou estado,
porque aqui sou bem feliz...
exatamente... ao seu lado!!!

Romântico e apaixonado,
meu pensamento flutua,
vai ao céu... volta zoado:
Vive no mundo da lua!

Acalmar gesto impulsivo
num conflito sem razão:
Medicinal... curativo...
é a humildade e o perdão!

Reconheço que a razão
me exerce extremo fascínio,
mas, se acerta o coração...
perco o rumo e o raciocínio!

Mãos que orientam crianças,
seja na escrita ou leitura,
mostram sinais de alianças
de nobreza e de ventura!

Educação e cultura,
seriedade e competência
é alvo certo de ventura
que aguardamos com urgência!

Quero um planeta perfeito,
sem guerra, sem corrupção.
Povo justo e satisfeito,
respeitando seu irmão!
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Gonçalves Viana
PAPELÃO

Eu cato ilusão
Daquelas perdidas
Que ninguém quer mais não,
Projetos de vidas, abortados ou não;
Pedaços de corações, frustradas orações,
Que anjo algum ouve não.

Eu cato ilusão
Sou um marginal à margem da vida
Sempre na contramão.
Cansado da lida, que nunca dá pé,
Remando contra a maré
Na mais completa solidão.

Eu cato ilusão
Notícias de amores
Que outros viveram... mas eu não!
Fantasias... que penso em vão,
Sonhos... que se ouso tê-los
Tornam-se pesadelos.

Eu cato ilusão
Neste velho carrinho
Que, trôpego arrasto pelo chão;
Cheio de quinquilharias,
Lixo, sucata, velharias...
Pranto, fome, cansaço, decepção,

Eu cato ilusão
Amargura, desengano,
Entra ano, sai ano,
E eu não percebo não
Que tudo isso, apenas são
Cacos do meu próprio coração.
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Edson Carlos Contar
PRESENÇA

O mistério de te saber tão longe,
Tão distante... E eu amar-te tão perto,
Induz-me a crer que a felicidade
Vem cá de dentro, de um cantinho certo
Inda que longe, é amor presente,
E tua imagem está aqui, decerto!

E onde estejas, eu sou só saudade
Do teu sorrir, do teu beijar, enfim...
Sonho apertar-te e, no sonho, me abraço
O teu calor eu sinto e me desfaço,
No abrir o peito e te encontrar em mim!
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Eron Vidal Freitas
TALVEZ

Talvez eu não seja o alvo, a meta pretendida,
como sua mente desenhou pra ter um grande amor...
Mas, se não sou pleno, que seja a fração que em sua vida
em algum momento a aqueceu com seu calor!

Talvez... é palavra que não tem força de "sim", de "não",
tem uma porta estreita chamada "Porta da Esperança",
diante da qual deposito toda a minha confiança
de ser agraciado com um "sim" meu pobre coração !

O dito popular me diz que "quem espera alcança",
por isso me planto diante da "Porta da Esperança",
desafiando no combate as armas dos cansaços!

Aguardo... que chegue a hora deste acontecimento,
Para que ponha fim à espera do feliz momento,
em que possa tê-la finalmente nos meus braços...
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Heralda Víctor
DEVANEIOS

Se eu fosse medir em versos
Meus sonhos e fantasias
Daria uma longa distância,
Uma estrada imensa.
Seriam dias...

Pedaços de momentos que vivi
Juras de amor que recebi
Carícias, beijos que dei
Em pensamentos,
Tantos que nem sei...

Ah, Como eu queria
Flertar com teu destino
Agarrar esta alegria
Oferecer meus doces sentimentos
Realizar teus desejos de menino
Aconchegar-me vagarosamente
Descobrir e mostrar tudo...
Silenciosamente.

Na verdade adoraria tão-somente
Acreditar que temos esperança
Para correr, pular, brincar feito criança
Sair livre, sem rumo estrada afora,
Crescer junto contigo sem demora
Viver amando sendo amada

Simplesmente...
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José Luiz Grando
MOMENTO

Em um momento... só para si
A mente descansa na lembrança
mais viva de toda cultura de gueto.
Em cada verso de rebeldia
Em cada movimento...
...de resposta a todo preconceito.
A frente de seus olhos,
Um eclipse entre a fé !
E um rompante de violência...
Em um momento só para si...
...medita em torno de sua vida.
O homem precisa ser realista.
Falar sobre tudo que discorda...
...contra tudo o que o e massacra.
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Ermindo Gomes Rocio
NÓS E A NOSTALGIA

De tua boca eu guardo o sabor,
de teu riso guardo só a alegria,
de teus lábios eu guardo a cor,
de nosso amor tenho nostalgia.

Do sabor uma doce lembrança,
da alegria daquela juventude,
na cor do poente só confiança,
que nostalgia era uma ilicitude.

Tempos de tempestade enfim,
nuvens negras povoando o céu,
vi mares empolados e ao alfim,
palavras toscas jogadas ao léu.

Hoje, amor tatuado pela nostalgia,
como um vergão que não se apaga,
de nosso amor acabou aquela magia,
no peito trago cravado tua adaga.
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Luciana Tannus
QUE SE ABRAM AS CORTINAS SOFIA!

Botão de rosa
Criança onírica
Menina mulher

Provida de anseios
Desponta para a vida
Repleta de dúvidas e devaneios

Canta, sorri, chora, disfarça...

A natureza indicia
A mudança é iminente
Não cabe recurso

Está virando mulher

O conflito é eterno
A inocência insiste
A biologia impõe

Limiar de um novo caminho, pleno
De descobertas
Curvas
Apelos e
Desejos
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Milton Roza Junior
VIVA!!!

Viver é a primeira maravilha do mundo,
pois tudo advém deste mandado divino
podemos ver o mar em cima de nossas cabeças
e flutuarmos para mergulhar, nossa sina
Quando há Primavera
vejo mais a face de Vera
algo se altera na matéria
sua palavra parece ser mais sincera
Ouvir os seus passos à uma distância anos-luz
não é mais utopia para mim
é apenas mais uma forma de ouvir "I am the walrus"
Beatles e suas músicas enfim
O que mais posso implorar a Deus
talvez as palavras não estejam concatenadas
talvez erradas
ou enfim, caladas.
Sorria!!!
não mutila
não definha
não expira
só enaltece
o que apetece
meu realce
nosso enlace.
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Fonte:
Gruta da Poesia. Ano V. Outubro de 2009
in
Portal CEN. http://www.iaramelo.com

Sônia Cano (O pôr do sol)



Faz mais ou menos dois anos que estou morando num apartamento. A vida nos obriga a tantas reviravoltas, que acabamos nos acostumando a tudo.

A princípio, pensei que não me acostumaria fechada em quatro paredes, 'engaiolada', como disse um dia meu marido. Mas, aqui estamos e, para bem da verdade, acabei adorando nosso pequeno cantinho.

Já escrevi sobre minha casa. Grande, corredor largo, sala enorme, quartos imensos... Pra quê?
Só para juntar velharias, acumular 'coisas' sem nenhuma importância, talvez para ocupar espaços que estão sobrando.

Quando vejo os cristais, ainda intactos, perfeitos, e que foram presentes de casamento de meus avós, (ainda os conservo com carinho), penso que, na realidade, não deveriam importar para mim. Afinal, meus avós é que importavam. Sua presença amiga, seus conselhos, que na ocasião, via com desdém, seu sorriso, sua sabedoria, seu amor imenso e profundo como o mar. Os cristais, ora os cristais! Na sua fragilidade, permaneceram. As pessoas, não. Que ironia! Foram-se, como nuvens que passam. Deixaram, no entanto, uma mensagem forte, que não se diluiu com a ausência, nem se perdeu com o passar dos anos. E uma doce, suave e enorme saudade.
Mas... voltando ao apartamento, outro dia, descobri uma coisa maravilhosa. Estava eu preocupada com uma reunião importante que aconteceria naquele dia quando, ao olhar pela janela da cozinha (eram umas seis horas da manhã), vi o espetáculo maravilhoso do amanhecer.

Momento inesquecível!

O sol, ainda menino, deixava-se descobrir no horizonte, tímido, róseo, para alguns minutos, após, aparecer redondo, belo, imponente e dourado como um rei, anunciando que o dia chegava, claro e belo, tal qual a esperança e a certeza de que tudo estaria bem e que Deus, em seu imenso AMOR, me respondia a questões e esclarecia as dúvidas.

Lembrei-me, então, que todas as tardes; quando o céu está limpo, se quiser sentar-me em minha cadeira de balanço diante da janela da sala, tenho o espetáculo maravilhoso do entardecer ao meu dispor.

O sol se põe para mim, extasiando-me com a beleza desses momentos que são quase eternos. Saint Éxupery, através de seu Pequeno Príncipe, nos diz: 'Assim eu comecei a compreender, pouco a pouco, meu pequeno principezinho, a tua vidinha melancólica. Muito tempo não tivesse outra distração que a doçura do pôr-do-sol. Aprendi esse novo detalhe quando me disseste, na manhã do quarto dia:

- Gosto muito de pôr-do-sol. Vamos ver um...
- Mas é preciso esperar...
- Esperar o quê?
- Esperar que o sol se ponha.

Tu fizeste um ar de surpresa e, logo depois, riste de ti mesmo. Disseste-me:

- Eu imagino sempre estar em casa!
... no teu pequeno planeta, bastava apenas recuar um pouco a cadeira. E contemplavas o crepúsculo todas as vezes que desejavas...
- Um dia, eu vi o sol se pôr quarenta e três vezes!

E um pouco mais tarde acrescentasse:

- Quando a gente está triste demais, gosta do pôr de sol...
- Estavas tão triste assim no dia dos quarenta e três?'

Pois é. De repente, descubro que posso assistir num mesmo dia à alvorada e ao pôr de sol. Descobri, também, que o apartamento, se eu quiser, pode se transformar em meu pequeno mundo, como o planeta do Pequeno Príncipe.

Afinal, considero-me privilegiada. Deus não me deixa nunca sem respostas. Está sempre a me tratar com carinho de Pai. E suas respostas estão aqui. Ao meu lado para que O sinta bem pertinho de mim.

Mesmo nesta época de tantas controvérsias, de tão avançada tecnologia e tanto progresso, em que a humanidade se vê esmagada por incompreensões, lutas de classes, violências desnecessárias, seqüestros, ganâncias desmedidas, apego ao dinheiro e ao poder, sufocada por suspeitas e ameaças de 'vazamentos de substâncias químicas', ainda não se pode parar para assistir a um espetáculo grandioso e gratuito como a aurora e o crepúsculo

Fontes:
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece
Imagem = http://www.melhorpapeldeparede.com

Vânia Moreira Diniz (Cristais Poéticos)



A NOITE

A noite se me afigura uma fada,
De mistério fascinante tecida,
E encontro nela comprovada,
Uma das grandes delícias da vida.

Na noite me refaço e transformo,
Encontro motivo de deleite,
Até com a tristeza me conformo
E não existe embate que a rejeite.

Quando a noite chega me encanto,
Sua escuridão enigmática atrai,
E a fascinação logo em mim recai.

É essa escuridão como um manto,
Que me envolve em deslumbramento
E traz ao prazer seu complemento.
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O SOL

Quando o sol desponta eu me levanto,
Sem entender a tristeza do meu coração,
Ouvindo aquele brado, longe, inconstante
Nas minhas ternas lembranças que se vão.

Quando o sol brilha, ofuscante, tão luminoso,
E nele encontro a fonte de minha energia,
Sonho em delírio com aquele vulto garboso
Que todo o dia fascinante me aparecia.

O sol me liberta e eu encontro fortaleza,
Seus raios me ofuscam naquele doce calor,
Que liderou meus dias recentes de amor.

Quando o sol desponta sinto sua beleza,
Absorvo em cada instante o movimento
Das verdes folhas no balanço do vento.
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TEU OLHAR

Vejo em teu olhar aquela luz,
Sinto em teu olhar a ternura,
Que espalhas e que reluz,
Transbordante de ventura.

Contemplo teu olhar profundo,
Com negro brilho de esperança,
Como a espalhar pelo mundo,
a generosidade que de ti se alcança.

Admiro teu olhar e me transporto,
Na beleza que inspira com suavidade,
O sentimento expresso em liberdade.

Aprecio teu olhar e curiosa me volto,
Sempre a aprender esplêndida lição,
E a ela me integro com paixão.
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SONETO DE NATAL

A doçura do amor simboliza natal,
Criança e salvação prestes a nascerem,
Vida se equilibrando sem o mal,
Bondade e discernimento a crescerem.

Beleza e olhar profundo era Jesus,
A esperança da humanidade com amor,
Nem a descrença por um minuto reduz
O brilhante filósofo também salvador.

No lugar escolhido imperava pobreza,
Maria ali estava encarnando a bondade,
E o filho aguardava com serenidade.

Jesus ao nascer não conheceu a riqueza,
Na simplicidade repousava na manjedoura
E a fé dos que cercavam era acolhedora.
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MOMENTO FELIZ

Esse é meu momento de felicidade,
Em que entrevejo o mundo com amor,
Transbordante de imensa ternura e amizade,
Que meus olhos se umedecem no ardor.

Diviso o sol, a lua, as estrelas em seu fulgor,
E me extasio no reflexo dessa potente beleza,
Sinto então que meu coração vibra de calor,
E concluo que é o meu momento, com certeza.

Nesse momento quero sentir essa sensação,
Poderosa, verdadeira, leal e fascinante,
Que toma conta de mim sorrindo atraente.

Quero entoar com carinho a linda canção
Que me embalou nas legítimas alegrias
E já retorna com a recordação desses dias.
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Daniela Jacinto (Lançamento do Livro História da Educação de Votorantim - Do Apito da Fábrica à Sineta da Escola)



“História da Educação de Votorantim - Do Apito da Fábrica à Sineta da Escola” é o título do livro que a professora e mestre em Educação pela Uniso, Isabel Cristina Caetano Dessotti, lançou ontem, às 19h30, na Livraria Espaço Alexandria. Na obra, que aborda a educação operária em Votorantim, a autora analisa como as relações de dominação, no âmbito das fábricas, se reproduzem no campo da educação operária, por meio das escolas mantidas pelos patrões, no período de 1890 a 1925, em Votorantim.

Conforme Isabel, professora do curso de Pedagogia da Unip e supervisora de ensino da rede estadual, o livro é resultado da dissertação de mestrado em Educação defendida em 2007, sob orientação do professor José Luís Sanfelice. “Percebi que não tinha como trabalhar a história da educação sem contar sobre a fábrica de tecidos, que foi onde tudo começou. A fábrica exercia uma dominação ora declarada e ora velada sobre as pessoas. Ela dominava os operários porque oferecia casa, emprego para a família inteira, mas pagava muito pouco. Para se ter uma ideia, a empresa influenciava até mesmo a vida pessoal, não permitindo que as pessoas morassem junto sem casar. Como a região teve um movimento operário bastante forte, com greves, coloco tudo isso em paralelo com a vida escolar”, esclarece a autora.

Nascida em Votorantim, Isabel conta que por ser filha de operário conviveu com muitas histórias. Por isso seu interesse em estudar o assunto. O período que abrange sua pesquisa, de 1890 a 1925, compreende desde a instalação da fábrica até o grupo escolar.

De acordo com ela, tudo dependia da fábrica, inclusive o sistema de ensino. “Algumas escolas eram mantidas pela fábrica. Tinham crianças de 7 a 9 anos de idade que estudavam à noite para poderem trabalhar durante o dia. Percebi, durante meus estudos, que a fábrica passou a premiar os melhores alunos, mas os contemplados eram sempre os filhos dos encarregados, ou seja, aqueles que não trabalhavam. Os que eram operários não tinham muito tempo para se dedicar aos estudos”, afirma.

Com relação ao sistema de ensino, a base era a memorização. “Havia exames e as crianças tinham de responder às perguntas diante de uma banca. Também existiam na época castigos como puxar orelha, dar tapas nas costas...”, relata Isabel.

A professora ainda acrescentou em seu trabalho as primeiras leis que tentavam regulamentar o ensino, que não era obrigatório. Entre as leis, Isabel cita a Sampaio Dória, de 1920, que reduziu o ensino de quatro anos para dois anos. “Então só poderia estudar quem tivesse entre 9 e 10 anos de idade. Isso só mudou bem depois, em 1930, com Getúlio Vargas. Na verdade a educação está atrasada até hoje”, lamenta.

Apesar de se tratar de um trabalho acadêmico, voltado a educadores, o livro é também de interesse dos votorantinenses porque conta sobre a história da cidade. “No livro eu coloco os nomes de todas as crianças que prestaram exames desde 1898 até 1925, quando foi criado o grupo escolar. Acredito que muitas famílias tenham interesse em pesquisar quem morava por aqui na época. Aliás, Votorantim ainda não tinha se emancipado, então é assunto também de interesse dos sorocabanos”.

Isabel ainda aborda em seu livro as condições de trabalho das mulheres, que levavam uma vida muito difícil. “Falo ainda da pobreza, mas o foco é o ensino. Entendo que Votorantim seguiu a mesma linha de outras cidades em relação à educação, que sempre ficou em segundo plano. O Brasil tem uma dívida social muito grande com seu povo nesse sentido, da geração de mais idade, muita gente ficou sem estudar.”

“História da Educação de Votorantim - Do Apito da Fábrica à Sineta da Escola” foi editado pela Crearte.

SERVIÇO:
A Livraria Espaço Alexandria fica na av. Barão de Tatuí, 1.377. Informações: (15) 3342-0583, 3233-4550 ou pelo site www.espacoalexandria.com.br .

Fonte:
Notícia publicada na edição de 30/10/2009 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 4 do caderno B.
Douglas Lara. http://www.sorocaba.com.br/acontece

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Luiz Poeta (O Roceiro)



O caminhão-basculante veio arrastando o mato, a poeira embaçando a grama, o barulho potente do motor importado assustando os camaleões e lagartos, espantando os tizius, coleiras, sabiás e sanhaços.

De repente, o baque!

Dois bezerros foram colhidos em cheio; outros saltaram a cerca de arame farpado, ferindo-se atabalhoadamente

A caminhonete vermelha foi parar no barranco.

O vaqueiro chicoteou a égua baia, chegou perto, gritou para o motorista:

- Eh, cumpadre, ocê matou dois bezerro !
- Matei !? – respondeu o outro perguntando.
- Matou !
- Pois aqui não é lugar de bezerro pastar !
- É, mas ocê podia pelo menos diminuir a marcha, não carecia de correr tanto...
- Meta-se com a sua vida, seu... Eu corro onde quiser !
- Correr ocê inté pode, só num pode é matar os bicho...
- Se matei, tá matado, que se dane !
- Que se dane não, moço... Ocê tem que pagar os bicho morto, no preço justo !
- Pagar uma ova ! Quero ver quem é o macho que vai me cobrar – ameaçou.
- Pois daqui o senhor não sai. Bezerro custa caro.
- Não saio ? Vamos ver se não saio !

O homem foi atrás do banco do carro, pegou uma barra de ferro e desceu disposto a tudo, avançando ameaçadoramente para o outro.

O vaqueiro não se intimidou. Meteu a mão numa garrucha e disparou.

Os dois únicos tiros que a arma suportava, pegaram numa das pernas do motorista.

Cambaleante, ele arrastou-se até o carro, ligou o motor estabanadamente, manobrou o carro e arremessou-o contra o vaqueiro - que se desviou com precisão - e saiu como um relâmpago.

O roceiro apeou, caminhou até os dois animais ensanguentados. Uma difícil lágrima rolava-lhe discreta na face cabocla...

- Desgraçado ! - Choramingou.

Um dos bezerros estertorava, o outro nem se movia.

- Malvado ! Nem pra andar devagar... Por que correr daquele jeito ?
De repente, as sirenes. A viatura policial deslizava ao longe, levantando a poeira amarela da estradinha que circundava o pasto.

O triste homem levantou-se, afagou os animais mortos, montou na égua e sumiu no meio do capinzal.

Véi Mundim consertava a cerca que circundava a casa de madeira. Um prego na boca, outro entre os dedos, o martelo na mão.

De repente, o rumor de cascos no barro,

A sirene acordando o pasto, os tiros pipocando no silêncio vivo do capinzal.
O vaqueiro vinha feito uma bala riscando o tempo, arriado sobre a cela, a égua avançando ligeira.

Quando divisou a porteira, o animal entrou apertado no pequeno vão. O carro da polícia passou direto, estilhaçando a madeira.

O velho estava boquiaberto; o prego semi-enterrado na primeira martelada...
Do que jeito que vinha, o boiadeiro desmontou num salto, a bota afundou no charco, a égua foi parar logo adiante.

- Que foi, homem ? – indagou o velho.

- Depois eu conto, agora é fincar pé no mato!

E sumiu no meio do capim-navalha.

A viatura deu marcha a ré e dela saltaram um tenente, dois soldados e o motorista do caminhão-basculante, capengando.

Os homens foram entrando cocheira-adentro, o pé do oficial arrebentou a taramela.

Véi Mundim olhava-os de soslaio, por trás de uma das lentes dos óculos rachados, o cigarro de palha torto num dos cantos da boca. O martelo firme numa das mãos.

- Onde está o bandido ? – perguntou o tenente.

O velho bateu o segundo prego, sem responder; as pupilas azuis como um céu aberto sobre o vale.

O tenente aborreceu-se.

- Como é que é, meu senhor? Onde está o marginal ?

O velho nada respondia. O soldado tentou segurá-lo. O martelo tornou-se um machado.

- Se chegar mais perto, eu abro sua cabeça, sordado !

E abria mesmo, não fosse a intervenção do tenente.

- Calma, rapaz, deixe o moço. – chegou-se para o velho demonstrando atitude pacífica.
- Amigo... aquele homem que entrou aqui correndo, baleou este moço aqui – apontou para o irritado motorista que massageava a perna atingida.
- Agora já se pode começar uma conversa... – disse o velho. De primeiro, ocê preguntô por um bandido... Que se saiba, aquele moço num é nenhum bandido...
- Bem, meu senhor...ele baleou um motorista....
- Adispois, - continuou o velho – vosmicê quis sabê de um marginá... se se refere àquele moço que sumiu no mato, também num se trata dele...
- Meu senhor, ele fez uma vítima...

O velho não se abalou:

- Adispois ainda, o sordado raso aí tentou botar a mão ni mim... Como é que ocê ainda tem o descaramento de fazer pregunta a uma pessoa que nunca viu mais gorda ? Seja mais educado, homem ! Cadê os estudo ? Cumpra o seu dever, mas num martrata as pessoa di bem.

O tenente coçava a cabeça, os soldados franziam a testa, o baleado enrijecia os músculos faciais e não se conteve:

- Aquele safado me deu dois tiros !
- Eu conheço ocê de algum lugar ? – indagou o velho sem se abalar...
Além do mais, se levou dois tiro, à toa é que num foi... nessas banda, ninguém leva tiro a troco de nada...
- Ora, seu... – o motorista avançou para o velho, que muniu-se de um pedaço de madeira da cerca.
- Eu acho que ocê num tá satisfeito com os dois tiro. Se me provocar, vai ter dois buraco na perna e um taio na cabeça. Vem procê vê !
- Calma, gente, vamos conversar – interrompeu o tenente.
- O que nós queremos é saber onde foi aquele moço que estava montado nesta égua aqui, o senhor poderia nos ajudar ?
- Que eu visse, se embrenhou no mato.
- Onde ?
- Ué ! É só oiá pro mato e procurá.
- Bem, o senhor vai nos mostrar onde ele está!
- Quando ele chegou aqui, eu tava pregando as tábua da minha cerquinha. Tava ainda no primeiro prego, quando ouvi toda a barulheira que ocês fizeru.
- Tudo bem, tudo bem, gritou um dos soldados! E pra onde ele foi? O senhor já está deixando a gente nervoso!
- Vem cá, me diz uma coisa... Quem é o comandante desse pelotâo? É ocê? É aquele cidadão capenga ou é o outro sordado?
- Soldado, cale-se !
- Mas eu...
- Cale-se ! Eu faço as perguntas! O tenente estava irritado.
– Meu senhor, aquele homem é um criminoso e nós vamos pegá-lo!
- Que nós ? Eu e ocês ? Eu num güento nem carregar um molho de agrião, quanto mais correr atrás de alguém. Ocês é que se vire!
- Mas nós temos que alcançá-lo !
- Ué, e por que não arcançaru ainda? Ocês num tão de carro? Ele tá a pé. Qual o pobrema?
- O problema é que... Ora, meu senhor...

De repente, um grito no capinzal:

- Eu tô aqui, seus trouxa ! Pára de conversa-fiada e vem me buscar !

Estupefatos, todos saíram voando na direção do grito. O tenente, os soldados e o capenga.

O velho balançava a cabeça reprovando:

- São uns bando de maluco...

As botas pisavam fundo as barrentas poças de lama amassando capinzal; concomitantemente, frangos-d’água, galinhas-d’angola e gaviões acordaram o vale num estrondoso farfalhar de asas, pios, chiados e gritos...

- Vêm me pegá, seus bunda-suja ! – gargalhava o peão dentro da capoeira – Cês num intendi de genti, vai intendê di mato ?

Dois filas, um doberman, um rotweiller e um pitbull que guardavam a casa grande despertaram do seu sono rural e, curiosos, empinaram ouvidos e narinas na direção do vento que trazia rumores e cheiros urbanos e partiram para cima dos barulhentos forasteiros.

Paralelamente a esse fatídico acontecimento inesperado, as entonações já não mostravam tanta gana em pegar o fugitivo. Os sons eram outros:

- Um cobra ! – berrou um dos soldados, a jararacuçu grudada na sua bota.

O velho continuava a martelar sua cerca, um riso capenga atravessando o vazio entre os dois caninos cariados, enquanto completava: - São uns bunda-suja mermo.

- Socorro ! – era outro gritando, agora o que levara o tiro. No seu encalço, um touro preto enorme – um pedaço de cueca vermelha num dos chifres do boi babão.

Bruscamente, o desfecho da perseguição:

- Cuidado ! Areia movediça !!!!

E todos estavam chafurdados naquele monte de lama misturado com gravetos, animais mortos, frutas podres e folhas secas...

À margem da capoeira, o touro bufando, os cães rosnando e o fugitivo mordendo um galhinho de murubu.

- Ocês sabia que aí tem jacaré do papo amarelo daqueles grandão ?
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Fontes:
Portal CEN.
Imagem = http://temdetudo.spaceblog.com.br

Luiz Poeta (Biografia)



Luiz Gilberto de Barros, registrado na Sociedade Brasileira de autores, compositores e escritores de música - SBACEM - como Luiz Poeta, é Professor de Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Produção de Textos, lecionando atualmente no Município do Rio de Janeiro.

Paralelamente às atividades profissionais, destaca-se também no meio artístico como produtor fonográfico, violonista, guitarrista, compositor, poeta e artista plástico.

Membro atuante do Portal CEN, Acadêmico da AVLBL e um dos mais novos filiados da União Brasileira de Trovadores , mantendo contatos ou estando vinculado a diversos sites importantes (Melzinhas, Locura Poética, Escritores e Poetas, Alma de Poeta, Sala de Poetas, Távola Literária, Cirandas e Cirandeiros, Lunas & Amigos, PortikoLiterário, Fórum dos Mestres Aprendizes, Clube de Letras, Festa Baile, Por Siempre Românticos, Jardim Esperanza, Pluma y Palabra, Paralelo 30, Gr_NG, Flori Jane,Textos e Pretextos, Skorpiona, Ecos da Poesia, escola Tropo, Drica del Nero, SONZ etc.).

Luiz Poeta é também Cônsul dos Poetas del Mundo, Delegado do Portal CEN ( ponte lusófona entre Brasil e Portugal ), Diretor Musical da União Brasileira de Trovadores, Diretor Cultural da Associação Cultural Encontros Musicais e Acadêmico do Inbrasci ( Instituto Brasileiro de Culturas Internacionais e da Academia Pan Americana de Letras e Artes, fazendo parte de diversos grupos literários.

Luiz Poeta costuma usar a expressão " irmão " no lugar da palavra amigo. Para ele todos nós somos uma família que, como tal, não pode permitir que uma amizade termine por um e-mail não enviado (ou não recebido) ou por uma eventual ausência de contato visual, digital ou telefônico...

Segundo Luiz Poeta, a internet possibilitou-lhe um dos tempos mais felizes da sua vida, onde pode conviver livremente com as pessoas que fazem do ato de compor, a maneira mais sublime de celebrar a vida.
No fundo, Luiz Poeta gostaria que todos fossem verdadeiramente uma só família e que cada gesto, por mais simples, significasse o quanto todos nós precisamos de compreensão, amor, admiração, respeito, reciprocidade.

O cd musical Bossa Light, de Luiz Poeta, possui uma trova de sua autoria que diz assim:

Quem quiser cantar meu canto,
Vai chegando de mansinho,
Tenho voz de acalanto
E canto de passarinho.


Fontes:
Portal CEN
http://images.marcobastos.multiply.multiplycontent.com/

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Anjo da Guarda)



Guarda-me anjo da guarda
como sempre me guardou...
guardando aquela lembrança
dos meus tempos de criança
que já se foi... mas ficou.

Guarda todos os sentimentos,
a candura de menino;
guarda todo o meu destino,
minha fé, ternura e paz,
guarda também a saudade
que por pirraça ou maldade
não vai me deixar jamais.

Guarda meus sonhos perdidos
que nunca foram alcançados;
guarda aqueles meus pecados
tão ingênuos de menino,
pecados tão pequeninos
por certo já perdoados.

Guarda, afinal, a certeza
de ter trilhado o caminho
do bem, razão e pureza;
guarda também a riqueza
do meu pobre coração,
guarda, meu Anjo da Guarda,
minha vida em tuas mãos.
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Fonte:
Colaboração do autor.

Alba Pires Ferreira e Ilda Maria Costa Brasil (Metáforas)

Imagem por Douglas Dickel
Nossa história começa em São José dos Ausentes, RS, na trilha que leva ao Cânion do Pico do Monte Negro (o ponto mais alto do estado – 1403 metros), onde seguiam duas mulheres, aparentando entre setenta a oitenta anos. Uma loira, outra morena; cor distinta na pele, uma vez que, a prata dos cabelos, era igual.

– Querida amiga, sabe que não existe nada mais agradável neste mundo, do que, açoitada pelo vento, subir ao Pico do Monte, em nublada tarde de agosto, curtindo o ar campestre, fatores climáticos que levam qualquer ser humano a um universo poético, arrastando isto aqui – falou a morena apontando para algo que trazia preso às costas. A velhinha loura sorriu e replicou:

– E você percebe que esse prazer aumenta quando, mesmo na falta de Maria Madalena para nos limpar o suor do rosto, encaramos a caminhada, numa boa, em “Papo Família”?

– Qual é, Bárbara, nesta altura do campeonato, família se reduz a filhos, ironizou a morena acrescentando – “Filhos, melhor não tê-los...”

– Mas, “se não tê-los como sabê-los?” perguntou a velhinha marfim, lembrando um número quatro perdido no tempo. Curvando-se um pouco mais, ao peso do fardo que trazia às costas, tropeçou, numa pedra, engoliu um grito de dor, e “fazendo uma careta, cantou:
– “No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho”.

E olhando de soslaio para a companheira:

– Canta comigo Jandira, assim a viagem fica mais alegre.

Morena Jandira, apertando os olhos, face à dor causada pela coroa de espinhos rodeando a cabeça: – prefiro declamar minha alegria gritando ao vento:
– “Poeta é um fingidor.
Finge tão perfeitamente...
Finge até a dor que deveras sente.”

E falando com seus botões, lembrou dia e hora de cada espinho... Viagens, suas roupas jogadas ao léu, as noites passadas em claro, inúteis discussões, que não levavam a nada, seu PC ...um safanão bastou para destruí-lo. Quanto dinheiro gasto, para arrumá-lo.

Diferente de pessoas, máquinas a gente sempre arruma, deixa novinha em folha. Entusiasmada , ergueu a cabeça e repetiu:

– “Finge até a dor que deveras sente...”

A custo, aproximando-se de Bárbara:

– Como vai se portando tua coroa?

Arquejante, a velhinha movendo a cabeça com dificuldade, forçou um sorriso, respondeu:

– Muito bem obrigada, cada espinho no seu devido lugar.

E como não havia de ser ...espinho desilusão, espinho solidão, espinho abandono, espinho sonho destruído. Bem feito. Afinal, velha metida, se fazendo, querendo sonhar... Tentou sacudir a cabeça. Impossível, curvou um pouco o pescoço, na face esboçou um esgar na máscara.

Trocar de casa, uma novinha, ensolarada, piso novo, móveis novos. Logo ela, uma velha, pra que isso? Gastar dinheiro em bobagem? Já não tinha a espera, outra no João XXIII? Cupins? Aprender a conviver com eles, ora bolas. O melhor, amorcegar àquela casa e fim de papo. Soltando uma sonora gargalhada:

– “Quanta gente que ri talvez existe
cuja única ventura consiste
em parecer aos outros venturosa” .

E assim, perdidas em seus pensamentos, ambas continuaram a subida íngreme, em direção ao topo. Caíram algumas vezes, ergueram-se, em determinado momento; uma troca de olhares marota selou algum acordo, pois, apoiando-se mutuamente, cantaram:

Mal Secreto
“Se a cólera que espuma, a dor que mora
N'alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!”


E assim, alcançaram o topo do Monte Negro, e assim, para sua surpresa, foram recepcionadas por Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Raimundo Correa. Depressa, jogaram ao chão, a cruz e a coroa de espinhos, que nossas heroínas portavam.

Comovidos e felizes, comentavam que, durante a árdua jornada, Bárbara e Jandira aludiram a seus poemas, o tempo todo. O mais entusiasta, dando um passo à frente, falou:

– Oh, sinto-me envaidecido, pois da tríade parnasiana – Alberto de Oliveira, Olavo Bilac e eu, Raimundo Correia, foi um poema meu o escolhido para fechar este trabalho.

Caros leitores, curtam a sonoridade de minhas palavras e de meus versos. Seria decepcionante, para o meu ego, se o poema aqui transcrito, integralmente, fosse "Os Sapos", de Manuel Bandeira.

As duas velhinhas, uma loura outra morena, de São José dos Ausentes? Frio... Vento... muito vento, brincando com as cabeleiras cinza azuladas, subindo, subindo, jogando-as de um lado para o outro entre brancas nuvens cercadas da tão almejada Paz, finalmente alcançada.

Fontes:
Portal CEN
Imagem = http://douglasdickel.blogspot.com

Alba Pires Ferreira (1933)



Alba Pires Ferreira nasceu em Porto Alegre/RS, em 15 de novembro de 1933.

Graduada em História, Organização Social e Política do Brasil, pela Faculdade Porto-Alegrense de Educação, Ciências e Letras, de Porto Alegre/RS.

Atuou no Magistério Público Estadual, por muitos anos, na sala de aula.

Em 1968, participou do Curso de Orçamento Programa – Para Chefias da Educação e Cultura e, em 1974, do Curso da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra - ADESG.

De l973 a 1982, presidiu o Centro Cívico “Presidente Kennedy” em Cachoeirinha/RS.

De 1982 a l985, exerceu a função de Delegada Adjunta da 28ª Delegacia de Educação e Cultura.

De 1985 a 1987, foi Oficial de Gabinete da Secretaria da Educação e Cultura.

De 1986 a l996, atuou como Coordenadora da Biblioteca, da Secretaria e da Merenda Escolar da Escola Estadual Odila Gay da Fonseca.

– É escritora e poetisa;
– Presidente da Academia de Artes, Ciências e Letras Castro Alves - AACELCA, de Porto Alegre/RS, ocupando a Cadeira 05, de Roque Callage;
– Academia Literária Gaúcha - ALGA, de Porto Alegre/RS, Membro Correspondente da Academia de Letras Rio - Cidade Maravilhosa, do Rio de Janeiro/RJ;
– Sócia Fundadora e Vice-Presidente da Associação Artística e Literária A Palavra do Século XXI - ALPAS XXI, de Cruz Alta/RS;
– Integrante do Conselho Fiscal da Casa do Poeta Latino Americano – CAPOLAT e da Sociedade Partenon Literário, de Porto Alegre/RS.

Há muitos anos coordena a Equipe de Jurados da ALPAS XXI e foi Jurada dos Açorianos de Literatura, assim como de inúmeros Concursos literários promovidos pela CAPORI.

Participa de várias Antologias e Coletâneas Literárias Nacionais e Internacionais.

Em 1997, participou do livro “Contos Primeiros”, fruto da Oficina Literária de Criação, promovida pelo Centro de Letras da PUC/RS e ministrada pelo Professor e Escritor Dr. Luiz Antonio de Assis Brasil.

Em 2000, lançou o seu primeiro livro de poesia “Sonata”, pela Editora Alcance, de Porto Alegre/RS e,

Em 2002, “Alba Pires Ferreira e Amigos”, pela Editora Borck, de São Luiz de Gonzaga/RS (Primeira Edição Esgotada). Neste ano, foi a Escritora Homenageada, pela ALPAS XXI, na Coletânea Entrelinhas.

Alba, ao longo de sua trajetória literária, conquistou inúmeros prêmios e participou de mais de cinqüenta Antologias e Coletâneas Nacionais e Internacionais. Dentre eles,
– Medalha “STELLA BRASILIENSE”, pelos relevantes serviços prestados à Cultura do País, outorgada pela revista Brasília, do Rio de Janeiro/RJ;
– Troféu “Quarto Prêmio Missões Nacional”, com a Poesia Visual “ANOTA AS NOTAS”, em 1999, Roque Gonzales/RS.

Também se destacou como ativista cultural singular. Nas suas produções, usa palavras que possuem grande poder de sugestão, incitando o seu leitor a buscar, nas entrelinhas, a sua mensagem, tornando seus poemas, emocionais e ardentes, como se o próprio coração fosse diluído em seus versos; dando ênfase à valorização das sensações, das imagens, do indefinível e à evocação de sentimentos e emoções.

Já na prosa, às vezes, expressa uma atitude reflexiva e melancólica sobre temas de caráter social, revalorizando o dia-a-dia e o mundo interior do ser humano. Alba é a expressão da subjetividade, da harmonia e do amor universal. Tanto na prosa quanto na poesia demonstra interesse pelas coisas simples da vida e revela alteridade, amizade e solidariedade. Engajamento social, mistura de tendências estéticas e experimentalismo formal são alguns dos traços que marcam a sua produção.

Rozelia Scheifler Rasia, no prefácio da Coletânea “Entrelinhas” diz: “- Alba conhece o mundo e o mundo a conhece, pois abre-se para o novo, sem esquecer os valores já consagrados. Suas palavras refletem uma personalidade que ignora a neutralidade e assume a postura de quem defende as concepções em que acredita, de quem defende amigos, mesmo contra tudo e contra todos.”

Fonte:
http://www.artistasgauchos.com.br/

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Entrega do Rodamundinho 2009 aos Autores na Expo-Literária de Sorocaba

No dia 24 de outubro de 2009, durante as comemorações da Expo-Literária, foram entregues exemplares da Coletânea Infanto-Juvenil 'Rodamundinho' para 34 dos 39 participantes. Os inscritos da cidade de Serafina Correa do Rio Grande do Sul receberão seus exemplares pelo Correio. O Rodamundinho é uma coletânea que reúne contos, crônicas e poesias feitas por crianças e adolescentes de até 15 anos de idade.

O sábado estava ensolarado, a alegria era contagiante e era notória a inquietante curiosidade de todos os participantes para ver o livro.

O coordenador do projeto, Matheus Dantas, abriu o evento, descrevendo com propriedade a importância do momento para os presentes, já que Matheus, em 2008, participou com seus textos da coletânea, e este ano, continua atuante, mas como importante auxiliar dos idealizadores do Rodamundinho.

Um a um dos participantes foram chamados ao palco para receber o seu exemplar da coletânea.

Um momento muito feliz foi a execução da música 'Aquarela', de Toquinho, por Matheus e Maria Rita (no violão Felipe Pantano) contagiando a platéia.

Mais uma vez devemos ressaltar a grande importância da Expo-Literária e do Jornal Cruzeiro do Sul para essa criançada. Nos rostinhos dos mesmos podiamos notar o orgulho, a felicidade e a glória daquele momento

Sem dúvida alguma foi um momento feliz para todos, crianças, pais, avós; proporcionados pelos idealizadores Alexandre Latuf e Douglas Lara, com a colaboração da Prefeitura Municipal de Sorocaba.
––––––––––––––-

Livro escrito por 39 jovens de até 15 anos, 96 páginas de prosa e verso para leitores de todas as idades.

Este ano os participantes do Rodamundinho são: Amanda Kalil Soares Leite, Ana Paula Rodrigues, Anna Laura Rodrigues Alba, Carla Marli Comin, Carolina Arakaki de Camargo, Elaine de Quadro, Ellen Cristina Garcia de Andrade, Evelyn Dias Jorge, Evelyn Jessica Marques Campanholi, Fabiana do Nascimento Gonçalves Trindade, Felipe Calegare Carranza, Fernanda Freire Reche, Gabriela Olsen Federige, Gabrieli Cristina Conceição Camargo, Gulherme Brancalhome de Andrade, José Estevão Pinto de Oliveira, Júlia Bonventi Nunes, Júlia Cepellos Moreno Romeiro, Júlia de Oliveira Marchetti, Julia Mira dos Santos, Larissa da Silva Vendrami, Larissa Miranda de Oliveira, Laura de Oliveira Marchetti, Maria Eduarda de Moura Paschoal, Maria Giulia Jacção Alves, Maria Luisa Alexandrino Dias, Maria Luiza Levy Lemes, Marília Birochi Saragoça, Matheus Balbino Ghiraldi, Natã Vicente da Silva, Paulo Cesar dos Santos Silva, Pedro de Almeida Pecora, Raul Cabral, Rejane Maieri Pedroso, Stefanie Gomes Gonçalves, Talhia Portella Maia , Vitória Amorim, Yasmin Ampese Maté, Whintina Talita dos Santos Almeida Rocha.

Fonte:
Douglas Lara
.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 10 (Boto)

Trova sobre imagem de http://medievallegends.blogspot.com/

Igarapé e Cunhã

Dia no Igarapé, pintura de Jeriel
Igarapé (igara, que significa embarcação escavada no tronco de uma só árvore, e pé, que significa caminho), em termos científicos significa cursos de água amazônicos de primeira ou segunda ordem, braços estreitos de rios ou canais existentes em grande número na bacia amazônica, caracterizados por pouca profundidade, e por correrem quase no interior da mata.

A palavra no Brasil foi adotada do nheengatu, língua originária do tupi-guarani. A maioria dos igarapés tem águas escuras semelhantes às do rio Negro, um dos principais afluentes do rio Amazonas, transportando poucos sedimentos.

São navegáveis por pequenas embarcações e canoas, e desempenham um importante papel como vias de transporte e comunicação.

Cunhã é sinônimo de índia, e é uma palavra tupi que significa literalmente “mulher”.

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Sobre o Boto
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-brasileiro-o-boto.html
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/folclore-em-trovas-7-boto.html
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2009/10/guerreiros-mura-seducao-do-boto-cor-de.html
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Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://profpedromello.spaces.live.com/blog/
Pintura = http://www.famap.edu.br

Nei Duclós (Poesias Avulsas)


EVOCAÇÃO DO CANTO

Descerra essa violação, afasta essa solidão
Venha me encontrar na última carruagem
Pegue o trem, pilote o avião, pouse em Marte
Retorne com as palavras perdidas no porão
Venha, rouxinol, cante que é tarde

VOLTA, RIO

Na origem, o Rio é uma paisagem-monumento
na essência, um urbanismo clássico
na História, uma soma nacional
na música, uma tarde de sol.

REVANCHE

Sou avô, mas jamais fui neto
Por destino desenhei uma linhagem
Da nação sem lei sou a estiagem
E reponho a bandeira no meu teto

FICO

Nenhuma palavra brota do silêncio
Voltado para o canto escuto o vento

Nenhuma conversa opera no silêncio
Dobrado no quarto enxergo o tempo

FLAGRANTE

Não peço desculpas pelo atraso
Nem pelo caldo, folia de Reis
na serra do Espinhaço, turismo
de sal na areia depois das seis

TRAPÉZIO

Tempo não ocupa espaço
Desanda quando acontece

Rastro de sombra, penhasco
Com os minutos em queda

PÁSSARO

É breve o pássaro
que ofusca a treva

Obscura flor
da ante-manhã

AVESSO

Agora que a face do sol sem
brilho acorda a face oculta
de deus virado pelo avesso

TRÉGUA

Quem fala em amor numa noite dessas
quando o tempo morre no horizonte

Quem fala em amor que te apedreje
porque a pedra afagou antes da mágoa

MARTE

Levantou
porque não havia mais espaço
Suspirou
porque a manhã não abre

VERANICO

maio se despede com o tempo em brasa
último aceno do verão, tardia praia

prenúncio do frio temido pela alma
(exílio juvenil de sombrias memórias)

É TEMPO DE PERDÃO

É tempo de perdão pelo tempo perdido

É a perda de tempo que nos mantém cativos

Não o tempo sem valor ou a chance fria

Mas o tempo do coração em queda livre
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Mais poesias do autor, cronicas, contos, artigos, resenha de seus livros, etc. Podem ser encontrados no site do autor, abaixo

Fonte:
http://consciencia.org/neiduclos

Nei Duclós (Comboio de Livros)


Livro tem pai e avô, como todo mundo. Nenhum autor importante, desses que deixam marca, escreve a partir do nada. Ninguém que vá morrer consegue inventar, sem base, algo que preste. O truque dos gênios é participar de uma linhagem, sem precisar dar sempre o crédito (isso fica a cargo dos estudiosos, os apaixonados dispersos no tempo). Artistas africanos anônimos e ancestrais foram apropriados por Pablo Picasso. MacBeth e Hamlet já tinham sido escritos, mas Shakespeare fez muito melhor. Os Irmãos Grimm, todos sabem: colheram as histórias do povo e colocaram em papel impresso. Cervantes usou os romances da cavalaria para talhar seu antídoto.

Picasso falava em roubar, mas era seu jeito debochado de abordar coisas sérias. Não acredito nessa definição. Existe o plágio, o clone, mas isso é outra coisa. Está cheio de ladrão por aí, mas os mestres são de outra estirpe. Trabalhar uma história e elaborá-la de tal forma que cruze os séculos é entender que literatura, como toda arte, é matriz, tem antepassados e gera seres vivos. Chamam de livros, mas podem ser páginas virtuais em telas luminosas, espalhadas em inúmeras fontes. Por um tempo foram manuscritos perdidos, obra de copistas, papiros, tábuas, argila. Não importa a forma, mas a elaboração que identifique a obra.

O papel impresso, por existir há muito tempo, parece ter se transformado na natureza do livro, mas esse é um erro de percepção. É imbatível como objeto a ser levado para a varanda, o quarto, o banco da praça, do ônibus. Mas acredito que hoje existe um exagero de livros não reconhecidos como tal espalhados pela rede, assim como temos livros perdidos, mofados, jamais reeditados e que fazem parte de um acervo de maravilhas ocultas, como os tesouros das lendas, essas que eram transmitidas pela voz por gerações e só depois pousaram, modificadas, em volumes que ocuparam estantes.

A essência do livro, da literatura, é habitar o espírito. Vejam bem que não usei missão, função, “papel” no sentido de incorporar um personagem. Porque é dentro de nós que uma história, uma teoria, uma lenda, uma parábola, um texto, um poema, uma obra habita. Não vamos procurar lá na sala encerada, na biblioteca opressiva, nas prateleiras convulsas, nos armários fechados a glória de existir da literatura. Também não vamos procurar apenas nas conversas eruditas, embora estas possam nos levar pela mão até onde nem imaginávamos com nossa precária leitura. Não se trata de fazer pouco do acúmulo ou das análises, pois tudo tem lugar nos livros.

O fato é que os antigos tinham mais sabedoria, pois não era preciso o livro para que a literatura habitasse as gentes. Bastava um narrador em praça pública, um poeta popular, um arauto, um aventureiro e suas memórias ditas em cima de um caixote, uma gávea. Não havia intermediários, a não ser o autor da saga, que assim se transmitia diretamente para o coração do povo. O livro no fim aprisionou o talento a sete chaves e ficou cada vez mais custoso abri-lo para ler, à medida que as atrações da vida se multiplicaram e se tornaram mais acessíveis.

Quantos livros deixei pela metade? Quantos dormiram na minha estante, às vezes por vinte anos, para enfim eu poder ser capturado por eles? Ler tudo é impossível, devemos ler só o necessário e cada um sabe sua cota. Ao mesmo tempo me pergunto: e se eu não os tivesse à mão, o que seria de mim? Brutalizado pelo exílio, eu amargaria a pena de viver tentando imaginar o impossível. Seria uma bruma de possibilidades e talvez eu quisesse, a certa altura, escrever algo para poder ter o que ler. Esse é o segredo dos diários: todos os dias colocamos a vida nele para um dia podermos ler o que passou por nós como um comboio. É nossa obra favorita.

Chegará esse tempo em que verei a paisagem do que escrevi. Mas isso vai se desenrolar lá fora do trem. Dentro, sobre uma poltrona amigável, eu continuarei a abrir os grandes autores, os que jamais devem se distanciar de nós. Porque se algo fica na terra, é a literatura, semente de obras ao infinito.

Fonte:
http://consciencia.org/neiduclos/
Fotomontagem = José Feldman

Nei Duclós (1948)



Nei Carvalho Duclós (Uruguaiana, 29 de outubro de 1948) é jornalista, poeta e escritor brasileiro.
Aos 17 anos se mudou para Porto Alegre e se matriculou no curso de engenharia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, o qual abandonaria logo depois em favor da faculdade de Jornalismo. Envolveu-se no movimento estudantil brasileiro após o golpe militar de 1964. Trabalhou no jornal gaúcho Folha da Manhã e publicou seu primeiro livro, Outubro, em 1975.

Mudou-se para São Paulo, onde desenvolveu longa carreira como jornalista, tendo trabalhado no jornal Folha de S. Paulo, revistas Brasil 21, Senhor, e IstoÉ. Publicou textos também em O Estado de S. Paulo, Veja e Jornal do Brasil.

Publicou Outubro e No Meio da Rua, ambos pela editora LP&M, em 1980, e No Mar, Veremos, pela editora Globo, em 2001, todos de poesia. Em 2004 publicou seu primeiro romance, Universo Baldio, pela W11 Editores.

É bacharel em História pela Universidade de São Paulo

Atualmente reside em Florianópolis, no estado de Santa Catarina, onde trabalha na revista Empreendedor e publica coluna no Diário Catarinense.

Fontes:
http://pt.wikipedia.org
http://consciencia.org/neiduclos/

Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores (A Natureza em Versos)


Clique sobre a figura para acessar o índice dos sonetos sobre a natureza, da Academia Virtual Sala dos Poetas e Escritores (AVSPE).
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A poesia é a esperança que arquivamos em nós, para poder recuperar no Homem, o que de mais verdadeiro ele possui: os sentimentos.Mesmo diante deste mundo moderno, em meio a tanta impaciência, que por vezes se apossa de todos, este Evento 1000 Sonetos, surge para mostrar que o ser humano consegue ainda deter-se e refletir, dando sentido ao significado da vida dentro da poesia.

Este poder de transformação, inerente ao dom de criar, conscientiza o Poeta de sua arte maior. Não nego que foram 45 dias de muito trabalho, pois nossa AVSPE é um Site feito artesanalmente, página por página, usando métodos ainda antigos, requerendo muito esforço e concentração. Quem conhece, sabe bem o que estou tentando explicar.

Contudo, reconhecendo a força da palavra poética, coloca-se acima de qualquer valor menor, porque mais que do que ninguém, sente-se a grandiosidade e a importância. A emoção, de poder estar aqui com todos vocês, é o traço essencial e inegável destes Eventos editados, conduzindo o Poeta à percepção do mundo que o cerca.

Um mundo que nada mais é senão a exterioridade, mas que, mesmo à distancia tenta interagir com o seu Eu Poético!Minha gratidão para com todos que de uma forma e outra colaboraram para o sucesso pois unidos somos um exercito!

Minha gratidão a todos pela participação nestes eventos de nossa Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores

Efigênia Coutinho
Presidente Funddora
www.avspe.eti.br/

Academia Sorocabana de Letras (Convocação para Reunião de Outubro)

Nossa reunião de outubro será realizada neste sábado, dia 31, às 10 horas, na Praça Carlos Drummond de Andrade, coincidindo com a solenidade em que a Prefeitura de Sorocaba ali inaugura o marco que assim a denomina.

A presença da Academia traduz o agradecimento da entidade à iniciativa de nosso Sócio Honorário, Vereador Paulo Francisco Mendes que, por solicitação desta entidade, apresentou à Câmara o Projeto de Lei 195/2009, e ao Prefeito Vitor Lippi promulgou a Lei nº 8.808, de 13 de julho do corrente ano, dando àquele logradouro o nome de um dos maiores poetas da Língua Portuguesa.

Será uma honra contar com sua presença e, com antecipados agradecimentos, valho-me do ensejo para apresentar-lhe cordiais

Saudações Acadêmicas!

LEI Nº 8.808, DE 13 DE JULHO DE 2009.

Dispõe sobre denominação de “CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE“ a uma praça pública de nossa cidade e dá outras providências.

Projeto de Lei nº 195/2009 – autoria do Vereador PAULO FRANCISCO MENDES.

A Câmara Municipal de Sorocaba decreta e eu promulgo a seguinte Lei:

Art. 1º Fica denominada “Carlos Drummond de Andrade“ a praça localizada na rotatória existente na Avenida São Paulo, na altura do cruzamento dessa via pública com o córrego do Jardim Piratininga, nesta cidade.

Art. 2º A placa indicativa conterá, além do nome, a expressão: “Emérito Poeta Brasileiro 1902-1987“.

Art. 3º As despesas com a execução da presente Lei correrão por conta das verbas próprias consignadas no orçamento.

Art. 4º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Palácio dos Tropeiros, em 13 de julho de 2009, 354º da Fundação de Sorocaba.

VITOR LIPPI
Prefeito Municipal

LAURO CESAR DE MADUREIRA MESTRE
Secretário de Negócios Jurídicos

MAURÍCIO BIAZOTTO CORTE
Secretário do Governo e Planejamento

RICARDO BARBARÁ DA COSTA LIMA
Secretário da Habitação e Urbanismo

Publicada na Divisão de Controle de Documentos e Atos Oficiais, na data supra.

SOLANGE APARECIDA GEREVINI LLAMAS
Chefe da Divisão de Controle de Documentos e Atos Oficiais
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Fonte:
Colaboração de Douglas Lara

domingo, 25 de outubro de 2009

Folclore em Trovas 9 (Mula sem-cabeça)

Folclore Brasileiro (Mula-sem-cabeça)



A Mula-sem-cabeça é uma antiga lenda dos povos da Península Ibérica, que foi trazida para a América pelos espanhóis e portugueses. Esta história também faz parte do folclore mexicano (conhecida como "Malora") e argentino (com o nome de Mula Anima). Pressupõem-se que este mito tenha nascido no século doze, época em que as mulas serviam de transporte para os padres.

No Brasil, a lenda disseminou-se por toda a região canavieira do Nordeste e em todo o interior do Sudeste. A Mula-sem-cabeça, representa uma espécie de lobisomem feminino, que assombra povoados onde existam casas rodeando uma igreja.

Segundo esta lenda, toda a mulher que mantivesse estreitas ligações amorosas com um padre, em castigo ao seu pecado (aos costumes e princípios da Igreja Católica), tornar-se-ia uma Mula-sem-cabeça. Esta história tem cunho moral religioso, ou seja, é uma repreensão sutil ao envolvimento amoroso com sacerdotes e também com compadres. Os compadres, eram tidos como pessoas da família, e qualquer tipo de relação mantida entre eles, era considerada incestuosa.

A metamorfose ocorreria na noite de quinta para sexta-feira, quando a mulher, em corpo de mula-sem-cabeça, corre veloz e desenfreadamente até o terceiro cantar do galo, quando, encontrando-se exaurida e, algumas vezes ferida, retorna a sua normalidade. Homens ou animais que ficarem em seu trajeto seriam despedaçados pelas violentas patas. Ao visualizar a Mula-sem-cabeça, deve-se deitar de bruços no chão e esconde-se "unhas e dentes" para não ser atacado.

Uma versão é que, se um padre engravidasse uma mulher e a criança fosse do sexo feminino viraria mula-sem cabeça e se fosse menino seria um lobisomem.

Para que ela não se manifeste, o padre deve amaldiçoá-la antes de celebrar cada missa. Segundo Pereira da Costa, isso deve ser feito antes de tocar a hóstia, no momento da consagração. Em alguns lugares, basta causar-lhe um ferimento, tirando-lhe sangue. Ao encontrar uma mula, é preciso esconder as unhas a fim de não atrair a sua ira.

A Mula-sem-cabeça sai pelos campos soltando fogo pelas ventas e relinchando, apesar de não ter cabeça. Ela é descrita como um animal negro, com pelos brancos na cabeça, olhos cor de fogo, pata na forma de lâminas afiadas, com um relincho apavorante (Que seria um misto de relincho com gemido humano) e solta fogo pelas ventas. Seu encanto, segundo a lenda, somente será quebrado se alguém conseguir tirar o freio de ferro que carrega. Em seu lugar, aparecerá uma mulher arrependida.

Diz a lenda que, se escutares na madrugada o cavalgar da mula-sem-cabeça, confirmado pelo som aterrorizante emitido por ela, jamais deve olha-la, nem ao menos espia-la, pois, aquele que a espiar, será surpreendido com a mesma vindo em sua direção.

Também há uma versão mais antiga ainda, que conta que em um certo reino, a rainha tinha a mania de ir certas noites ao cemitério, sem permitir que ninguém a acompanhasse. O rei, então, decidiu seguir sua mulher, secretamente, durante uma dessas saídas, e encontrou-a debruçada sobre uma cova, que abrira com as próprias mãos cheias de anéis, devorando o cadáver de uma criança, enterrada na véspera. O rei, então, soltou um berro horrível, e quando sua mulher viu que fora pega em flagrante, soltou um berro mais terrível ainda, se transformando assim na Mula-Sem-Cabeça.

Dizem também, que se alguém passar correndo diante de uma cruz à meia-noite, ela aparece.

A mula-sem-cabeça também é conhecida como a burrinha-do-padre, ou simplesmente burrinha.

A Mula-sem-cabeça, possuiria as seguintes características:

1. Apresenta a cor marrom ou preta.
2. Desprovida de cabeça e em seu lugar apenas fogo.
3. Seus cascos ou ferraduras podem ser de aço ou prata.
4. Seu relincho é muito alto que pode ser ouvido por muitos metros, e é comum a ouvir soluçar como um ser humano.
5. Ela costuma aparecer na madrugada de quinta/sexta, principalmente se for noite de Lua Cheia.
6. Segundo relatos, felizmente existem maneiras de acabar com o encantamento que fez a mulher virar Mula-Sem-Cabeça, uma delas consiste em uma pessoa arrancar o cabresto que ela possui, outra forma é furá-la, com algum objeto pontiagudo tirando sangue (como um alfinete virgem). Outra maneira de evitar o encantamento é de que o amante (padre) a amaldiçoe sete vezes antes de celebrar a missa.

Para se descobrir se a mulher é amante do padre, lança-se ao fogo um ovo enrolado em linha com o nome dela e reza-se por três vezes a seguinte oração:

"A mulher do padre
Não ouve missa
Nem atrás dela.
Há quem fique ...
Como isso é verdade,
assa o ovo
e a linha fica..."

SIMBOLISMO

A Mula-sem-cabeça é oriunda do lado sombrio do inconsciente coletivo, seria talvez, o próprio arquetípico das criaturas que povoam as florestas, representando as camadas profundas do inconsciente e do instinto. Assim como o lobo, a mula-sem-cabeça aqui, nos induz ao desencadeamento dos instintos selvagens. Sob a influência do moralismo judaico-cristão, esta tendência se ampliou e levou ao horror da caça às bruxas e da Inquisição. Os relatórios dos "processos" de feitiçaria contêm obras-primas de animalidade mais crassa.

O animal representado nesta lenda, nos faz alusão então, uma valorização negativa, o conjunto de forças profundas que animam o ser humano e, em primeiro lugar, o libido (tomado em sua significação sexual), que desde a Idade Média se identifica principalmente com o cavalo, ou em nosso caso, com a mula.

O animal já aparece não portando a cabeça, tal fenômeno, pode ser entendido em sentido metafórico como ausência de razão e da própria consciência, predomínio, portanto, das paixões, dos impulsos sexuais de imediato atendidos, do domínio do inconsciente pessoal e coletivo.

A Mula-sem-cabeça é uma mulher amaldiçoada, pecaminosa, que teve o atrevimento de desejar o santo padre, representante de Deus e Cristo na terra. Este relato nos faz repensar no quanto os homens da Igreja, daquela época (Idade Média) tinham medo do poder feminino de sedução. Tais medos, os levaram a atitudes de desespero, que os fizeram a abster-se de qualquer contato com o sexo oposto, além de fantasiarem e criarem assombrações para incutir maior receio.

O que fica de lição desta lenda é que todos nós devemos nos integrar com nossos instintos. "O animal, que no homem é sua psique instintual, pode tornar-se perigoso quando não é conhecido e integrado à vida do indivíduo. A aceitação da alma animal é a condição para a unificação do indivíduo e para a plenitude de seu desabrochar."

Cada animal, simbolicamente faz eco à natureza profunda do ser humano.

Fontes:
http://www.rosanevolpatto.trd.br/
http://pt.wikipedia.org/

Clério José Borges (A Trova Folclórica Capixaba)



Um dos mais importantes pesquisadores do Folclore do Estado do Espírito Santo foi o Professor Guilherme Santos Neves. Nascido a 14 de Setembro de 1906 e já falecido, o Professor Guilherme nasceu no Espírito Santo e foi membro da Academia Espirito-Santense de Letras. Publicou os livros “Cantigas de Roda”, em 1948 e “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares”, em 1949, entre outros livros.

GUILHERME SANTOS NEVES nasceu no dia 14 de setembro de 1906, na cidade de Baixo Guandu, ES. Bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, exerceu as funções de Juiz do Trabalho e Professor da Universidade Federal do Espírito Santo. Dedicou-se, de corpo e alma, ao estudo do Folclore, havendo publicado mais de cem livros e folhetos, entre os quais Cancioneiro capixaba de trovas populares (1949), Alto está e alto mora (1954), História popular do convento da Penha (1958), Folclore brasileiro: Espírito Santo (1959), Romanceiro capixaba (1980), Cantigas de Roda I e II (s/d), além de artigos e ensaios publicados em jornais e revistas especializadas. Foi membro do Conselho Nacional de Folclore. Faleceu em Vitória, ES, no dia 21 de novembro de 1989.

Antes de falecer, já bastante idoso, o professor Guilherme Santos Neves, no período de 1980 a 1989, participou de algumas promoções do Clube dos Trovadores Capixabas, CTC, chegando a prefaciar o livro “O Trovismo Capixaba”, de Clério José Borges, publicado em 1990.

Na Revista “Folclore”, órgão da Comissão Espirito-Santense de Folclore, número 92, publicada em agosto de 1979, o Professor Guilherme conta a história de Dalmácia Ferreira Nunes, uma mulher nascida em Caçaroca, pequena vila do interior de Cariacica, Espírito Santo que fôra trabalhar como empregada doméstica em sua casa.

Conta ele que Dalmacinha ou Macinha foi trabalhar em sua casa em março de 1946, ou seja três anos antes do professor Guilherme publicar o seu livro “Cancioneiro Capixaba de Trovas Populares.”

Dalmácia Ferreira Nunes era dotada de excelente memória. Humilde e de pouca instrução, tinha o privilégio, isto é, a qualidade de gravar com facilidade as cantigas e os versos que ouvia. Ouvira as cantigas e as Trovas de sua mãe e de suas tias, quando de noite se reuniam para conversar. Como naquele tempo as pessoas do interior não possuíam rádio e a televisão ainda não existia, pois só chegou no Brasil em 1950, o maior divertimento eram as reuniões que se faziam com as famílias durante a noite, no quintal das casas do interior do Brasil.

Assim as histórias, as cantigas e as Trovas eram contadas e cantadas pelos mais velhos e Dalmacinha, em Caçaroca, ainda criança, ia gravando-as na memória.

Literatura Oral era a forma praticada pelos antigos que contavam histórias e recitavam Trovas para os mais novos, numa época em que os livros eram raros, ou seja, quase não existiam. Assim Dalmacinha e muitas outras mulheres idosas e os conhecidos “pretos velhos” deste país, portadores de excelente memória, são os que dão excepcional contribuição para os pesquisadores, formando a Literatura Oral Brasileira.

Dalmácia faleceu a 13 de Agosto de 1968, sendo enterrada, junto aos seus parentes, no cemitério de Barra do Jucu, então um povoado, hoje bairro importante e turístico de Vila Velha, Município da Grande Vitória.

Na Revista já citada “Folclore”, de 1979, o artigo do professor Guilherme Santos Neves ocupa oito páginas. Ali estão 76 Trovas. Três estórias. Vinte e nove superstições e crendices, onde constam mais três Trovas e cinco Advinhas. O título é “Folclore de Caçaroca” e traz uma foto de uma senhora com um lenço na cabeça e a legenda: “Informante Dalmácia Ferreira Nunes.”

A primeira Trova refere-se ao fato de que, segundo o Professor Guilherme, Dalmácia: “Para comentar um fato, registrar um instante, para fixar um sentimento, dizia sempre uma Trova. Alguém falava em viajar, e logo, lá vinha a Trova adequada:

Adeus, minha sempre-viva,
até quando nos veremos.
As pedras do mar se encontram,
assim nós também seremos...”

Eis algumas Trovas Populares, resgatada do passado graças a oportuna pesquisa do Professor Guilherme Santos Neves e a memória de Dalmacinha e que constam do artigo publicado na Revista “Folclore”:

De correr venho cansada,
de cansada me assentei,
achei o que procurava,
agora descansarei...

Abacate é fruta boa
enquanto não apodrece.
O amor é muito bom
enquanto não aborrece...

Atirei um limão doce
na menina da janela.
Ela me chamou de doido,
doidinho estava eu por ela.

Eu não quero Santo alheio
dentro do meu oratório.
Eu só quero meu santinho
prá fazer meu peditório...

Eu perguntei à Fortuna
de que é que eu viveria.
Ela foi me respondeu
que o tempo me ensinaria.

Eu plantei um pé de cravo
na janela do meu bem.
Todo mundo passa e cheira,
eu não sei que cheiro tem...

Menino se tu soubesses
o bem com que eu te adoro,
fazia dos braços remo,
remavas prá onde eu moro...

Já fui amada e querida
até das flores do campo.
Hoje me vejo desprezada
de quem eu queria tanto.

Quando eu entrei nesta casa,
logo vi cheia de rosa,
meu coração logo disse
que aqui tem moça formosa...

Uma velha muito velha,
de tão velha se curvou.
Ouviu falar em casamento
a velha se endireitou...

Tanto verso que eu sabia,
veio o vento, carregou.
Só ficou-me na memória
o que meu bem me ensinou...

Vamos dar a despedida
como deu cachorro magro,
que encheu sua barriga
e foi sacudindo o rabo.

Fontes:
– Clério José Borges. Origem Capixaba da Trova. Serra, ES: 2007.
http://www.clerioborges.com.br/

Pedro Du Bois (Nada)


Nada somos
sem as tragédias
diárias: ínfimas
apequenadas
quase nada diante do despropósito.

Diariamente nos destruímos
em sobrevivências
e afagamos animais
estimados. Choramos
nossas crianças. Cultivamos
crenças destinadas
ao ocaso.
--------
Fontes:
Colaboração do autor.
Imagem - http://semprenalua.blogspot.com

Primeira Edição do Prêmio Talentos de Poesia (Resultado Final)

A primeira edição do Prêmio TALENTOS de Poesia foi realizada entre o final de abril e o início de agosto de 2009. Reuniu 664 poetas de todo o País, que postaram 1.252 poesias ao longo de todo o período.

Uma coincidência entre os três vencedores: nenhum deles havia participado de um concurso de poesias antes.

TALENTOS contabilizou grandes números ao longo da disputa. O site chegou a manter média superior a 50 mil acessos únicos por mês e teve picos de quase 70 mil acessos em 30 dias corridos. A média de páginas visitadas a cada acesso (13,48) e o tempo médio dedicado por cada visitante no site (6,41 minutos), ficaram muito acima das médias registradas na internet. Ao longo dos quatro meses de concurso, o site recebeu visitantes de 74 países e a inscrição de brasileiros que moram em Portugal e na Suíça. A interatividade proporcionada pela introdução do Júri Popular e dos comentários nas poesias garantiu a alta freqüência. Durante o período de realização, foram postados, nas poesias publicadas, exatos 9.051 comentários.

OS VENCEDORES
------------------
1.
As Últimas Horas do Galo José, primeira colocada em TALENTOS, é obra de um jovem sul-mato-grossense de 22 anos: Ivan Marinho de Souza, que usou o nickname Eriol. Escritor, redator e roteirista profissional, Ivan escreveu sua primeira poesia aos dez anos, por uma causa nobre: queria dar um presente aos pais e, como não tinha dinheiro, sentou e escreveu seus primeiros versos. Ivan se inspirou num fato do seu cotidiano para compor As Últimas Horas do Galo José. “Minha vizinha tinha um galo que costumava cantar sempre à 1 hora da madrugada, um horário meio incomum”, contou ele, em entrevista por e-mail para TALENTOS. “Certo dia, ele não cantou mais, e então resolvi eternizá-lo em uma poesia que mostra que devemos valorizar cada hora da nossa vida como se fosse a última”. Ivan mora em Campo Grande e, se fosse um dos jurados, escolheria como vencedora Ipê Verde, de autoria de Estrela, codinome da jornalista Albina Morais Cordella, de Santos (SP).

As Últimas Horas do Galo José

Às cinco horas da matina
O Galo José afinou o gogó
Para entoar um sol sustenido

Às onze horas do almoço
Alongou as afiadas esporas
Para disputar a pipoca de cada dia

Às quatro horas da tarde
Desfilou pelo terreno da Carijó
Para mostrar quem era o "bom de bico"

Às sete horas do jantar
Tomou um rápido banho de lua
Para ir ciscar nos braços de Morfeu

À meia-noite dos lobisomens
Buscou um galho mais seguro
Para não virar despacho de encruzilhada

Às cinco horas da matina
O Galo José não afinou o gogó
Mas as últimas horas valeram à pena

2.
Remorsos, segunda colocada em TALENTOS, foi escrita por Odir Milanez da Cunha (foto), um paraibano de 53 anos que participou pela primeira vez de um concurso de poesias usando o nickname de OKLIMA. Auditor fiscal aposentado, Odir descobriu-se um poeta tardiamente, aos 36 anos, quando compôs Minha Rua, inspirada por uma bela mulher que morava nas vizinhanças. Remorsos foi escrita, segundo contou Odir em entrevista por e-mail a TALENTOS, “em um instante de reflexão sobre o que fiz da minha vida até agora, o que eu sonhava ser quando criança e os meus sonhos atuais sobre o que poderia ter sido e não fui”. Neste sentido, Remorsos, está inserida dentro da própria definição que ele dá a poesia: “É um sussurro da alma que a mente fértil do poeta percebe, congrega letras, concebe palavras e as transmuda em sentimentos por ele inspirados”. Odir mora em João Pessoa, e foi lá que articulou a edição de seu primeiro livro, lançado em julho de 2009, A Odisséia de Xexéu, Xana e Xibina – Uma Saga do Cotidiano, em parceria com o sul-matogrossense Rubenio Macedo e com o paraibano Fernando Cunha Lima. Ele aponta um de seus concorrentes no turno final, DVILLON – codinome do redator publicitário Daniel Retamoso Palma, de Santa Maria (RS) – como o autor da poesia que mais lhe agradou no concurso: Colheita no Silêncio.

REMORSOS

Que fiz da vida que nasceu comigo?
Por que o remorso pesa em meu passado?
Por que não me arrisquei ante o perigo,
para criar o que não foi criado?

Poderia ter sido mais amigo,
amar demais e ser bem mais amado,
poderia ter dito o que não digo
ou, em vez de dizer, ficar calado...

Dos dias me esqueci do entardecer.
Agora só me resta conhecer
que o futuro presente me reclui.

Se nas horas dos dias de crescer
eu sonhava com o que queria ser,
hoje sonho em ter sido o que não fui.

3.
Vampiro, terceira colocada em TALENTOS, é de autoria do psicanalista paulista Paschoal Di Ciero Filho (foto), de 66 anos, que assinou com o pseudônimo SATURNO. Nascido em Itu, no interior de São Paulo, Ciero mora na Capital desde os 18 anos. Em São Paulo escreveu, aos 20 anos, sua primeira poesia. “Foi no dia do meu aniversário. Pela primeira vez eu estava sozinho para comemorar a data, o que me deixou muito triste”, contou ele em entrevista por e -mail para TALENTOS. Segundo ele, “a poesia foi o modo que encontrei para expressar essa tristeza, mesmo sabendo que corria o risco de não ter um leitor”. Em 2003, Ciero, publicou o livro Primavera Fenecida. Vampiro, a poesia que deu a ele a terceira colocação do concurso, foi inspirada pela ideia de “descontruir um fato, uma coisa e reconstruir à sua maneira pessoal”. Ciero, que também escreve contos, teve uma de suas obras agraciadas com menção honrosa em concurso literário da Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro.

VAMPIRO

Escuras ondas
Labaredas.

Serpentes silvam,
Silenciosas.

Lascas, estacas,
Exangues faces.

Bater de asas
Que se afastam.
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Outras poesias do Concurso mencionadas acima

Albina Moraes Cordella
IPÊ VERDE

Ipê amarelo, roxo, rosa, branco!
Esse era um especial Ipê.
Cobria-se de flores verdes,
onde já se viu???
Na porta da minha casa!

Um dia...
O vento, naqueles dias de mau humor,
num sopro zangado, derrubou a arvorezinha.
E ela ficou deitada, ali na calçada, quietinha!
Esperando, com olhinhos de anjinho de igreja,
que alguém fizesse alguma coisa.

As raízes expostas sangraram todo o verde
usado para tingir as flores.

Veio a chuva, veio o Sol, veio a noite.
Vieram os pássaros, aflitos.
Vieram os insetos, velozes.
Vieram as crianças, ingênuas, curiosas.
E os homens não vieram, insanos, cruéis.

Esperou por dias a fio. Agonizante...
Em vão!

Sua alma verde foi para o céu.
Enfeitar a entrada do paraíso.

Aqui jaz o Ipê Verde.
Ainda tinha muito o que fazer na Terra.

Aqui jaz o Ipê Verde.
Ainda tinha muito o que fazer pela Terra.
==============================

Daniel Retamoso Palma
COLHEITA NO SILÊNCIO

colher
verbenas dos campos
do silêncio
colher
verbenas dos campos
minados pelo silêncio
ofertar seu pólen
aos fantasmas do vento
que erguem poemas
do que não tem verbo
colher
verbenas dos campos
de concentração do silêncio
e ofertá-las ao tempo
que cala no verbo
a flor do poema
colher
verbenas
dos campos de batalha
entre flores de silêncio
e sangue
e aos desertores do ab-surdo
ofertá-las
em vez das medalhas
colher
verbenas
dos campos-santos
consagrados ao silêncio
exumar a voz dos corpos
que é nosso também o grito
estrangulado em nossos mortos
colher
verbenas
dos campos de fantasmas
exilados no silêncio
e ofertá-las ao balé
do vento sem pátria
colher
verbenas
dos campos do silêncio
e ofertá-las, sem esperança
ofertá-las, apenas

Fontes:
Colaboração de Douglas Lara.
http://www.talentos.wiki.br/PremioTalentos/