domingo, 25 de outubro de 2009

Primeira Edição do Prêmio Talentos de Poesia (Resultado Final)

A primeira edição do Prêmio TALENTOS de Poesia foi realizada entre o final de abril e o início de agosto de 2009. Reuniu 664 poetas de todo o País, que postaram 1.252 poesias ao longo de todo o período.

Uma coincidência entre os três vencedores: nenhum deles havia participado de um concurso de poesias antes.

TALENTOS contabilizou grandes números ao longo da disputa. O site chegou a manter média superior a 50 mil acessos únicos por mês e teve picos de quase 70 mil acessos em 30 dias corridos. A média de páginas visitadas a cada acesso (13,48) e o tempo médio dedicado por cada visitante no site (6,41 minutos), ficaram muito acima das médias registradas na internet. Ao longo dos quatro meses de concurso, o site recebeu visitantes de 74 países e a inscrição de brasileiros que moram em Portugal e na Suíça. A interatividade proporcionada pela introdução do Júri Popular e dos comentários nas poesias garantiu a alta freqüência. Durante o período de realização, foram postados, nas poesias publicadas, exatos 9.051 comentários.

OS VENCEDORES
------------------
1.
As Últimas Horas do Galo José, primeira colocada em TALENTOS, é obra de um jovem sul-mato-grossense de 22 anos: Ivan Marinho de Souza, que usou o nickname Eriol. Escritor, redator e roteirista profissional, Ivan escreveu sua primeira poesia aos dez anos, por uma causa nobre: queria dar um presente aos pais e, como não tinha dinheiro, sentou e escreveu seus primeiros versos. Ivan se inspirou num fato do seu cotidiano para compor As Últimas Horas do Galo José. “Minha vizinha tinha um galo que costumava cantar sempre à 1 hora da madrugada, um horário meio incomum”, contou ele, em entrevista por e-mail para TALENTOS. “Certo dia, ele não cantou mais, e então resolvi eternizá-lo em uma poesia que mostra que devemos valorizar cada hora da nossa vida como se fosse a última”. Ivan mora em Campo Grande e, se fosse um dos jurados, escolheria como vencedora Ipê Verde, de autoria de Estrela, codinome da jornalista Albina Morais Cordella, de Santos (SP).

As Últimas Horas do Galo José

Às cinco horas da matina
O Galo José afinou o gogó
Para entoar um sol sustenido

Às onze horas do almoço
Alongou as afiadas esporas
Para disputar a pipoca de cada dia

Às quatro horas da tarde
Desfilou pelo terreno da Carijó
Para mostrar quem era o "bom de bico"

Às sete horas do jantar
Tomou um rápido banho de lua
Para ir ciscar nos braços de Morfeu

À meia-noite dos lobisomens
Buscou um galho mais seguro
Para não virar despacho de encruzilhada

Às cinco horas da matina
O Galo José não afinou o gogó
Mas as últimas horas valeram à pena

2.
Remorsos, segunda colocada em TALENTOS, foi escrita por Odir Milanez da Cunha (foto), um paraibano de 53 anos que participou pela primeira vez de um concurso de poesias usando o nickname de OKLIMA. Auditor fiscal aposentado, Odir descobriu-se um poeta tardiamente, aos 36 anos, quando compôs Minha Rua, inspirada por uma bela mulher que morava nas vizinhanças. Remorsos foi escrita, segundo contou Odir em entrevista por e-mail a TALENTOS, “em um instante de reflexão sobre o que fiz da minha vida até agora, o que eu sonhava ser quando criança e os meus sonhos atuais sobre o que poderia ter sido e não fui”. Neste sentido, Remorsos, está inserida dentro da própria definição que ele dá a poesia: “É um sussurro da alma que a mente fértil do poeta percebe, congrega letras, concebe palavras e as transmuda em sentimentos por ele inspirados”. Odir mora em João Pessoa, e foi lá que articulou a edição de seu primeiro livro, lançado em julho de 2009, A Odisséia de Xexéu, Xana e Xibina – Uma Saga do Cotidiano, em parceria com o sul-matogrossense Rubenio Macedo e com o paraibano Fernando Cunha Lima. Ele aponta um de seus concorrentes no turno final, DVILLON – codinome do redator publicitário Daniel Retamoso Palma, de Santa Maria (RS) – como o autor da poesia que mais lhe agradou no concurso: Colheita no Silêncio.

REMORSOS

Que fiz da vida que nasceu comigo?
Por que o remorso pesa em meu passado?
Por que não me arrisquei ante o perigo,
para criar o que não foi criado?

Poderia ter sido mais amigo,
amar demais e ser bem mais amado,
poderia ter dito o que não digo
ou, em vez de dizer, ficar calado...

Dos dias me esqueci do entardecer.
Agora só me resta conhecer
que o futuro presente me reclui.

Se nas horas dos dias de crescer
eu sonhava com o que queria ser,
hoje sonho em ter sido o que não fui.

3.
Vampiro, terceira colocada em TALENTOS, é de autoria do psicanalista paulista Paschoal Di Ciero Filho (foto), de 66 anos, que assinou com o pseudônimo SATURNO. Nascido em Itu, no interior de São Paulo, Ciero mora na Capital desde os 18 anos. Em São Paulo escreveu, aos 20 anos, sua primeira poesia. “Foi no dia do meu aniversário. Pela primeira vez eu estava sozinho para comemorar a data, o que me deixou muito triste”, contou ele em entrevista por e -mail para TALENTOS. Segundo ele, “a poesia foi o modo que encontrei para expressar essa tristeza, mesmo sabendo que corria o risco de não ter um leitor”. Em 2003, Ciero, publicou o livro Primavera Fenecida. Vampiro, a poesia que deu a ele a terceira colocação do concurso, foi inspirada pela ideia de “descontruir um fato, uma coisa e reconstruir à sua maneira pessoal”. Ciero, que também escreve contos, teve uma de suas obras agraciadas com menção honrosa em concurso literário da Academia Brasileira de Letras do Rio de Janeiro.

VAMPIRO

Escuras ondas
Labaredas.

Serpentes silvam,
Silenciosas.

Lascas, estacas,
Exangues faces.

Bater de asas
Que se afastam.
===========================
Outras poesias do Concurso mencionadas acima

Albina Moraes Cordella
IPÊ VERDE

Ipê amarelo, roxo, rosa, branco!
Esse era um especial Ipê.
Cobria-se de flores verdes,
onde já se viu???
Na porta da minha casa!

Um dia...
O vento, naqueles dias de mau humor,
num sopro zangado, derrubou a arvorezinha.
E ela ficou deitada, ali na calçada, quietinha!
Esperando, com olhinhos de anjinho de igreja,
que alguém fizesse alguma coisa.

As raízes expostas sangraram todo o verde
usado para tingir as flores.

Veio a chuva, veio o Sol, veio a noite.
Vieram os pássaros, aflitos.
Vieram os insetos, velozes.
Vieram as crianças, ingênuas, curiosas.
E os homens não vieram, insanos, cruéis.

Esperou por dias a fio. Agonizante...
Em vão!

Sua alma verde foi para o céu.
Enfeitar a entrada do paraíso.

Aqui jaz o Ipê Verde.
Ainda tinha muito o que fazer na Terra.

Aqui jaz o Ipê Verde.
Ainda tinha muito o que fazer pela Terra.
==============================

Daniel Retamoso Palma
COLHEITA NO SILÊNCIO

colher
verbenas dos campos
do silêncio
colher
verbenas dos campos
minados pelo silêncio
ofertar seu pólen
aos fantasmas do vento
que erguem poemas
do que não tem verbo
colher
verbenas dos campos
de concentração do silêncio
e ofertá-las ao tempo
que cala no verbo
a flor do poema
colher
verbenas
dos campos de batalha
entre flores de silêncio
e sangue
e aos desertores do ab-surdo
ofertá-las
em vez das medalhas
colher
verbenas
dos campos-santos
consagrados ao silêncio
exumar a voz dos corpos
que é nosso também o grito
estrangulado em nossos mortos
colher
verbenas
dos campos de fantasmas
exilados no silêncio
e ofertá-las ao balé
do vento sem pátria
colher
verbenas
dos campos do silêncio
e ofertá-las, sem esperança
ofertá-las, apenas

Fontes:
Colaboração de Douglas Lara.
http://www.talentos.wiki.br/PremioTalentos/

Nenhum comentário: