terça-feira, 2 de março de 2010

Adelmar Tavares (100 Trovas)


1
Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo ...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo.
2
Pouco me dá que se diga
meu verso fora da moda,
meu verso é apenas cantiga
de cirandas, e de roda ...
3
A saudade é uma andorinha,
que ao morrer do sol a chama,
as asas tristes aninha
no coração de quem ama ...
4
Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe... no fim do dia...
5
Que tens tu, que és tão sombrio,
e hoje a rir, alegre, assim? ...
- Mal sabem que só me rio,
porque riste para mim .
6
Quem dera que minhas trovas
andassem pelos caminhos,
consolando os desgraçados,
dando pão para os ceguinhos ...
7
Ora a Vida! ... Deixa-a andar,
não queiras da vida ter
o que ela não possa dar,
nem tu possas merecer...
8
Eu vi o rio chorando,
quando te foste banhar,
por não poder, te banhando,
dar-te um abraço, e parar. . .
9
Ninguém se queixe da Sorte,
que Deus de ninguém se esquece.
Cristo nasceu para todos,
cada qual, como o merece...
10
Coração, fonte da Vida,
da vida a própria razão.
- E tanta gente eu conheço,
vivendo sem coração...
11
Trovas, trovas da minha alma!
Da vida quando eu me for,
sede o humilde travesseiro,
do sono de um sonhador.
12
Quando eu morrer, levo à cova
dentro do meu coração,
o suspiro de uma trova,
e o gemer de um violão.
13
Meu coração, pobre tonto,
que eu não entendo sequer,
fazes morrer quem te adora,
morres por quem não te quer!
14
Se eu pintasse minha infância,
pintava: num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio.
15
Os búzios guardam das águas
do mar, os fundos gemidos.
- Assim fossem minhas mágoas,
guardadas nos teus ouvidos...
16
Por que, pela humanidade,
só o eu, soa e ressoa? ...
- É que há um sapo agachado,
dentro de cada pessoa.
17
Não quero na minha morte,
nem pompa, nem mausoléu.
Quero uma covinha rasa,
que abra os braços para o céu. . .
18
Na janela do teu quarto,
a luz da manhã transborda.
Bem-te-vis estão gritando:
Preguiçosa, acorda, acorda!
19
A inveja tem seu castigo,
Deus mesmo é quem retribui;
enquanto o invejado cresce,
o invejoso diminui…
20
A luz desse olhar tristonho
dos olhos teus, faz lembrar
essa luz feita de sonho
que a lua deita no mar.
21
A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes, mais calmas;
quanto mais calmas, mais fundas.
22
Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
- Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver.
23
Um cego me disse um dia,
que Poesia, inspiração,
era uma lua nascendo,
de dentro do coração.
24
Sou nesta tarde da vida,
cheio de saudades minhas,
como um telhado de igreja,
todo cheio de andorinhas.
25
É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz.
Quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais
26
Não quero ouvir o teu nome,
nunca mais te quero ver!
- E passo a vida pensando,
a forma de te esquecer.
27
Quando vejo teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira.
28
Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também.
29
O laço de fita preta
dos teus cabelos, faceira,
parece uma borboleta
pousada numa roseira...
30
Só peço o dia em que eu morra,
faça uma noite de lua,
todo troveiro descante,
todo violão saia à rua!
31
Dizer adeus nada custa,
alguém me mandou dizer.
Mas quem diz que nada custa,
queira bem e vá dizer.
32
Tu vais passando, orgulhosa!...
Nunca vi soberba assim.
- Ai de ti, por tanto orgulho.
Por tanto amar-te, ai de mim! ...
33
Não se dá regras à trova,
que a trova regras não tem.
A trova é simplicidade,
ela vai, como nos vem...
34
Quem ri do poeta, não sabe,
o consolo que ele tem.
E o dia em que fosse triste,
faria versos também.
35
A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar vivendo,
depois que os sonhos se vão.
36
As penas em que hoje estou,
disse-as ao Sol, - fez-se triste.
Disse-as à noite - chorou.
Disse-as a ti, e sorriste...
37
Mãe, que meus versos incensam,
quando eu vim do mundo à luz
foi na cruz de tua bênção,
que eu vi a vida uma Cruz.
38
Saudade - doce transporte
da alma adejante e ferida...
- É viver dentro da morte!
- É morrer dentro da vida!
39
Para esquecer-te, outras amo,
mas vejo, por meu castigo,
que qualquer outra que eu ame,
parece sempre contigo.
40
Para definir o Poeta,
só mesmo em verso defino.
- É um homem que fica velho
com o coração de menino
41
Ó meu amor! Ó saudade!
- E eu não sabia que amor
era uma felicidade
disfarçada numa dor.
42
Quanto amor me prometeste!
- Nas tuas cartas, que ardor!
Depois ... tudo isto esqueceste,
- Coisas de cartas de amor...
43
Encerram certos sorrisos
tristeza tão singular,
que, em se vendo tais sorrisos,
dá vontade de chorar...
44
Eu falei da "flor morena"
e entrou a rir quem me ouviu.
- Quem nunca viu flor morena,
foi porque nunca te viu...
45
Quem tiver amor, esconda
faça por muito esconder,
que as coisas da alma da gente,
ninguém carece saber...
46
Todo rio na corrente,
busca um lago, um rio, um mar...
Mas o destino da gente,
quem sabe onde vai parar?
47
Do mundo quando te fores,
mais que outra glória qualquer,
deixa a sombra de tua alma,
num coração de mulher.
48
O perfume do teu lenço
trago comigo na mão.
Mas o cheiro da tua alma,
dentro do meu coração.
49
Grande dia, este meu dia,
dado por Nosso Senhor.
- De manhã, escrevi versos
De noite, vi meu amor.
50
Alguém já disse, e é verdade,
que o sentimento do amor,
ou se faz eternidade,
ou então, não é amor...
51
Proclamas teu amor-próprio,
se alguém te diz minha dor.
- Essa questão de amor-próprio,
é muito imprópria no amor...
52
Amar com ciúme... Quem ama?!...
Quem ama assim, desconfia...
- Mas quem tais coisas proclama,
se amasse, não nas diria.
53
Ó Mundo! Ó Mundo! Ó meu Mestre!
Muito me ensinas viver,
e quanto mais tu me ensinas,
mais eu vejo que aprender!...
54
Tu censuras de minha alma,
este alvoroço, este ardor...
Quem tem amor e tem calma,
tem calma... não tem amor...
55
Onde anda o corpo, é verdade,
vai a sombra pelo chão...
É assim também a saudade,
a sombra do coração.
56
Aos que me foram ingratos,
eu grato lhes hei de ser,
pelo bem que me fizeram
no bem que eu pude fazer.
57
Quando a trova nos transmite
seu feitiço singular,
a gente lê, e repete,
e depois, fica a pensar. .
58
Vou vivendo a minha vida,
como Deus quer e consente.
- Sou como a folha caída
levada pela corrente...
59
Trovas, - cantigas do povo,
alma ingênua dos caminhos
de lavradores. . . cigarras ...
mulheres... e passarinhos ...
60
De amor... Amor é infinito!
Do encanto do seu poder,
tanta coisa se tem dito!...
- E há tanta coisa a dizer...
61
Uma vez que a gente cante
dizendo o que o povo diz,
a trova fica contente,
a trova fica feliz. . .
62
Vi hoje uma árvore velha,
toda coberta de flor...
- E me lembrei de minh'alma,
cheia de sonhos de amor.
63
Que contraste tem a Sorte!
No mundo, que ingrata lida!
- A Vida chorando a Morte
E a Morte rindo da Vida...
64
Não lamento a minha lida,
nem, pobre, choro os meus ais;
- Quem tem um amor na vida,
tem tudo! Para quê mais?
65
Sempre que a felicidade
passa no meu coração,
é como sobre um presídio,
a sombra de um avião.
66
Ardemos na mesma flama,
sofrendo da mesma Dor!...
- E é isso que a gente chama
felicidade de amor...
67
Já lá vai morrendo o dia,
e hoje ainda não te vi.
- O dia em que não te vejo,
é dia que não vivi...
68
Tua mãozinha morena,
se a tomo, tenho a impressão,
de uma rolinha cabocla
dormindo na minha mão
69
Trova que vens novamente
encher o meu coração,
- Sé bendita, luz divina,
amor de consolação.
70
Nem sempre com quatro versos
setissílabos, a gente
consegue fazer a trova;
faz quatro versos somente.
71
Tristeza! Minha tristeza!
Doce amiga dos meus ais.
Só de ti tenho a certeza
que não me abandonarás...
72
A dor que em prantos rebente,
dói, mas pode consolar...
- Mas a dor que a gente sente
de olhos secos, sem chorar?!
73
Minha camisa velhinha,
lavada à flor de melão,
tira-me o peso da vida,
faz-me leve o coração.
74
Há nos teus olhos escuros,
o escuro da Ave-Maria.
Desconfio que teus olhos,
são os de Santa Luzia...
75
Seria a glória das glórias,
se um dia alguém me dissesse,
ter chorado neste mundo,
lendo um verso que eu fizesse.
76
Nunca vi dizer ser pobre
quem come em paz o seu pão,
quem toca sua viola
sem peso no coração
77
Dos meus avós portugueses,
de certo ninguém duvida,
trouxe este amor pela trova,
que hei de trazer toda a vida.
78
O sol é que faz o trigo;
e o trigo, que faz o pão.
Mas se o trigo se faz hóstia,
faz-se sol no coração ...
79
A Ventura que hei buscado
pela Vida, sempre em vão,
que vezes não tem passado
à altura de minha mão! ...
80
Duvido que alguém se deite,
no embalo que a rede tem,
e pegue logo no sono,
sem pensar em quem quer bem...
81
Sou jardineiro imperfeito,
pois no jardim da amizade,
quando planto um amor-perfeito,
nasce sempre uma saudade. . .
82
Depois que, Mãe, te partiste,
como uma Santa em seu véu,
o céu que eu via tão longe,
ficou mais perto, e mais céu...
83
Minha viola, meu cavalo,
a lavoura dando flor,
Maria, dentro de casa ...
- Louvado seja o Senhor!
84
Dos desertos deste mundo,
sei do mais desolador
- Uma alma sem esperança?
- Um coração sem amor...
85
Dizem que há mundos lá fora,
que eu nem sonho... Nunca vi...
- Mas que importa todo o mundo,
se o meu mundo é todo aqui?!
86
Teu cego de caridade,
chora não te conhecer,
e a minha infelicidade
foi ter olhos e te ver...
87
Alguém pede que lhe ensine,
a fazer versos também,
viva e sofra, ame e padeça,
e espere que o verso vem...
88
Mesmo nos jardins da vida,
desde a minha meninice,
nunca alcancei uma rosa,
que o espinho não me ferisse.
89
Essa tua boniteza,
não tem, no mundo, rival.
- Pastora da minha Festa,
- Meu presépio de Natal!
90
Depois de mandar-te embora,
foi que - cego! - percebi,
que eras a felicidade,
que eu tinha em mão, e perdi.
91
Lindo luar no céu flutua...
Ao violão, canto os meus fados,
que Deus fez noites de lua
para os que são namorados.
92
Não sei por que, quando canto
por mais alegre a canção,
tem uma gota de pranto,
que vem do meu coração.
93
Ó lindos olhos magoados,
de tanta melancolia.
- Da tristeza desses olhos,
é que vem minha alegria.
94
Sei que amor é sofrimento,
custa a vida querer bem,
mas custa o dobro da vida,
na vida não ter ninguém.
95
Se Cristo nasceu pra todos,
sua luz a todos vem.
Vive o rico na riqueza,
mas vive o pobre também...
96
Não há riqueza que valha
um coração de mulher...
Que eu por um, vivo os meus dias,
e todos que Deus me der.
97
Ó quaresmeira viuvinha,
toda coberta de flor!
Quando a viuvinha se enfeita
é que pressente outro amor.
98
Sempre que alguém abre os braços
para amparar uma dor,
luz nesses braços abertos
a cruz de Nosso Senhor.
99
Os "anjos da guarda" gostam
da rede dos pobrezinhos,
que dormem a sono solto,
ao Deus dará, nos caminhos
100
Ó linda trova perfeita,
que nos dá tanto prazer,
tão fácil, - depois de feita
tão difícil de fazer.

__________________________
Fonte:
JORGE, J. G. de Araujo e OTAVIO, Luiz. 100 trovas de Adelmar Tavares. vol. 5.

Anísio Lana (O Poeta e a Cotovia)


Poeta, por que tua arma não possui balas? Nem sei se arma tens. Por que então falas? Às vezes suave, outras rude desse tal de amor. Que abastece os humanos como os jardins de flor.

Ora cotovia, minha arma é o amor. Com ela posso provocar dor. Fazer aquele lago, seco, se encher. Basta o coração de uma donzela amar. Que logo o lago se enche. Das lágrimas que lá vão repousar. Poderosa essa tua arma, poeta. Pois nem mata, nem machuca, mas faz amar. Poderias a tudo dominar. Largar essa vida de mendigo. Deixando de repartir meus frutos comigo. Podendo ter um palácio, onde todo verão, iria, eu, fazer meu ninho.

Mas o que adiantaria ter um palácio, cotovia, e tu o teu ninho? Se eu faria do amor um escravo. Ordenando para habitar naquele peito. Enquanto o outro que meus olhos ambiciosos não enxergarão ficará chorando. Culpando a lua e as estrelas. Para que ser rei e possuir trono, prata, ouro? Prefiro deitar-me a está árvore e adormecer. Acordar com seu lindo canto. Sabendo que o amor irá viver.

Falas tanto em amor, poeta. Mas toda manhã quando acordo para contemplar a vida, vejo-te ainda dormindo. A teu lado, tua sombra. Estás sempre sozinho. E toda noite quando volto a repousar em meu confortável ninho, penso em ti, meu amigo. Não pela chuva que te molha. Nem pelo vento que te seca. Mas porque estás sozinho. E quem te ajudará a sair da poça, quando teu corpo nela cair? Quem arrumará teus cabelos, aliás feios, quando o vento passar? Um dia ficarás velho, amigo. Quem irá te ajudar?

Enquanto tu adormece, linda cotovia, a noite me banha com suas alegrias. Claro que não nego que posso cair na poça. Afinal, o vinho depois de uma e outra, me leva ao chão. Mas, mesmo caindo, terei forças de levantar-me, como fiz ontem. Para aqui chegar, quando tu acordar. Por estar sozinho, às vezes sinto um vazio. Até invejo o coelho que na toca tem a coelha. O leão que tem a leoa. A formiga que tem todo um formigueiro. Porém, penso na liberdade que possuo. Se eu tivesse minha toca, não teria conhecido minha vida. Nem a ti, cotovia.

A cada dia, deixa-me mais confuso, poeta. Conheço por minhas viagens ao redor do mundo, dos ninhos que outrora faço no sul, outrora no norte, pessoas que possuem tudo: casa, família, dinheiro. Que parecem ter nada.
Outras que dormem em suas luxuosas camas, mas somente sonham com o palácio que poderias tu ter, mas renegas. Todos vivem reclamando daquilo que possuem, pois querem mais. Quanto a ti, vejo te contentares com a noite que é deles também. E com o vinho que eles bebem quando querem desabafar. Talvez tu sejas um anjo perdido que de tanto incomodar a Deus, com tuas conversas e Teus poemas compridos, foi jogado, aqui debaixo de minha árvore, para contar-me tuas aventuras que nunca possuem um fim. Queria entender-te, poeta. Mas tu és um segredo. Para outros, um simples bêbado. Para mim, um segredo

Talvez eu seja um anjo, cotovia. Mas para que um anjo beberia? Também conheço essa gente metida que por possuir tudo, quer o que outro possui. E nunca em suas vidas encontram a felicidade. Que se esconde embaixo do nariz, como a verdade eles escondem embaixo dos tapetes. Enquanto estou aqui, posso ser feliz. Lá estaria preso, como numa gaiola sem chave. Aqui posso correr, pular, assustar as crianças com minhas roupas velhas, fingindo ser o bicho-papão. Ou, apenas sentar na calçada e escutar os velhos que ninguém mais escuta. E o mar, não vou lá somente para atirar-me em suas ondas. Para isso existem os peixes, corais, tubarões. Vou lá para sentar-me na areia, deslumbrando os segundos que faltam para o nascer do sol. Assim reparto com o mar, a vida. Tirando lá do fundo minha alegria, que aqueles que ali se banham afogam, com suas tristezas, desarmonias.

Hoje irei dormir tranqüilo, poeta. Serei uma cotovia sonhando até o outro dia. E quando acordar, aos meus pés tu estarás, para dar-me lições que fazem-me ser sábio, mesmo na ignorância. Esta noite não irei mais preocupar-me contigo. Pois sei que alguém que enxerga a beleza onde os outros só buscam o prazer, deve ter a proteção de todos os santos, orixás, anjos. Até mesmo de Deus. Serei sempre teu amigo. Eu aqui em cima. Tu ali embaixo. Não é poeta? Por que não respondes, já que falas pelos cotovelos? Sei que só bebes quando o sol se deita. Ainda é cedo para adormecer. Acorda, poeta! Acorda! Quero te ouvir. Mas onde estão teus roncos, onde está tua respiração? Por que não bate teu coração? Usa tua arma poderosa e acorda! Por que teus olhos fecharam rápido, apagando o brilho que neles havia? Deixando aqui solitária essa pobre cotovia. Que de tão triste por tua partida, jamais a ninguém irá falar. Somente cantará um canto. Mais triste no mundo não haverá. Serei tua voz, poeta. Para os velhinhos abandonados, amargurados. Para as crianças serei mais um pássaro. Agora conheço a força de tua arma. É ela que me faz cantar, quando na verdade quero apenas chorar. E para sempre ser: A cotovia sem o poeta. O poeta sem a cotovia.

Fonte:
http://www.overmundo.com.br/banco/o-poeta-e-a-cotovia

Anisio Lana (Caderno de Poesias)



PÁSSARO NEGRO

É estátua, é areia, é vento, é pó
A vida é um pássaro que ao sentir a imensidão
Do infinito nunca volta há pousar na terra
Vive na distancia
Lá saudade/solidão
No coração.

Há se o poeta tivesse respostas
Não ficaria sofrendo em vão
Ele prenderia esse pássaro com o laço do amor
Impedindo sempre que a lágrima primeira que chegue
Fosse a de dor.

Porem nem o amor impede que outro se vá
Que feche os tão belos olhos
Cele os tão gélidos lábios
Retirando bruscamente do mundo
A passagem negra de sua poesia
Não há toque, não há sorriso
Não há nada nesse corpo
Imagem triste do silencio que lembra
O pássaro que foge de mim.

Quais pássaros vão embora hoje!
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O TEMPO DEPOIS DE TI

Não posso entender o passar do tempo ainda
Pois o meu não passou
Mais olhando tuas rugas em tua face já murcha
Sei que outrora elas serão minhas.

Serão minhas tuas historias
E no doce balançar do vento
Toda tua existência
Tuas lágrimas, teu toque, seu cheiro
Adormeceram em mim
Serei o tempo que não se apaga, o tempo depois de ti.

Perante os caminhos da vida talvez esqueça tuas marcas
Perca os seus pedaços em mais alguém que depositei
Carinho, amor
Na defesa que o coração inventa para não chorar
Deixando tudo lá quieto nas suspensas lembranças
Para brotarem no vazio do mundo
Como saudades.

Das tuas rugas ao envelhecer dos dias
Que lembram em cada célula que morre no esvair da vida
Que viver é preciso.

Mesmo sentindo, perdendo a todo instante
Morrendo...
Somente assim nasce o tempo que serei e não se apaga,
O tempo depois de ti...
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UM DIA
-
Acordamos um dia e percebemos quanto à vida é preciosa
Podem ser segundos há passar no relógio do tempo
Contemplarmos nas avenidas, nos começos e fins o viver.

Dormimos um dia, chegamos ao limite
Olhos são cascatas profundas da alma
Nos despedimos da felicidade com sorrisos
E da tristeza com lágrimas.

Alguém pode abrir a porta e tirar de dentro do peito essa dor?

Quebrem se for preciso, mas afastem a dor
Usem as mãos, toquem
Usem as palavras, falem

A composição da vida termina
Dessa sinfonia a orquestra não conhece o tom
Na platéia ninguém repete
Mas sabem que um dia farão parte dela
E assim se repetirão novas orquestras, platéias e canção.
_________________

Anisio Lana (1981)



Anísio Lana, pseudônimo de Elias Anísio Lana, nasceu em 26 de julho de 1981 na cidade de Blumenau, Santa Catarina, reside na cidade de Gaspar/SC, é poeta e membro da Frente em Defesa da Cultura Catarinense e membro fundador da SEG – Sociedade Escritores de Gaspar. Atua e apoia entidades e é articulista cidadão. O autor também luta contra a Toxoplasmose, que atingiu sua visão do olho esquerdo, restando apenas 28%. Sendo já cego da visão direita e tendo plena consciência dos riscos de ficar cego da noite para o dia.

Freqüentador assíduo da seção "Espaço do Leitor" dos dois jornais de Gaspar, Elias Anísio Lana carrega na veia a tendência à denúncia, à crítica e à polêmica. Quem lê suas cartas imagina estar diante de uma pessoa de meia-idade e pai de família. Nada disso. Anísio é um jovem solteiro de 26 anos, tímido e discreto, escritor e poeta, que faz das palavras uma verdadeira "metralhadora" na denúncia dos desmandos e injustiças sociais. Ele se diz preocupado com o futuro do seu bairro e de Gaspar. "Muita gente, quando me conhece, fica surpreso com a minha idade", conta Anísio que que nasceu e vive no Bateias.

O hábito de escrever cartas sobre fatos do cotidiano começou aos 11 anos de idade. Em 2001, Anísio passou a enviar essas cartas para os jornais reclamando, denunciando ou questionando a atuação do poder público de Gaspar. Com opiniões firmes e textos bem-estruturados, ele caiu nas graças dos editores dos jornais e do povo do Bateias e redondezas. Algumas de suas cartas motivaram acaloradas discussões na comunidade, outras inspiraram pautas para os jornais e rádios locais.

No início, algumas pessoas ligadas ao poder público chegaram a questionar a existência de Anísio Lana. Diziam tratar-se de uma pessoa filiada a um partido político de oposição à administração municipal que assinava utilizando-se de um pseudônimo. Nem uma coisa nem outra. Ele explica que é apenas um cidadão que gosta de bater de frente com as questões sociais. "Não consigo me calar frente às injustiças que observo", admite. Anísio jamais se candidatou a cargo político. Hoje, ele é membro da diretoria da Associação de Associação de Moradores do do Residencial Vila Isabel, um pequeno loteamento no Barracão.

Em defesa da cultura

Anísio também batalha pela preservação da cultura. Ele integra a Frente em Defesa da Cultura Cata-rinense, e é co-fundador da CEG - Companhia de Escritores de Gaspar. Em casa, vive rodeado de livros e documentos históricos. "Faltam registros e gente disposta a resgatar a nossa bela história cultural", lamenta.

Anísio não tem formação acadêmica na área literária. A técnica para escrever bem, explica ele, "é colocar os sentimentos verdadeiros no papel". Ele escreve porque gosta, sem pensar em lucro. "Para mim, escrever é uma terapia".

Os textos de Anísio também têm uma boa dose de sentimentalismo. Durante muito tempo, ele guardou seus versos na gaveta. Nos últimos tempos decidiu revelá-los aos gasparenses e ao mundo. O escritor publica poemas e crônicas em sites na internet e em seu blog, www.profissaocidadao.wordpress.com. A iniciativa lhe rendeu reconhecimento nacional. Alguns de seus versos foram parar nas antologias "Vozes escritas", "9° Prêmio Missões", "A ponte" e "Filhos da Luz". Este ano, planeja escrever um livro. O hábito de escrever cartas aos jornais continuará, garante Anísio, afinal, o jovem e sonhador morador do Bateias acredita que suas palavras podem, um dia, sensibilizar as autoridades públicas.

Antologias:

2009
Participa da Antologia As Cartas Que Nunca Mandei, com a crônica Bandeira Verde Amarela, do projeto 48 horas elaborado pelo jornalista e escritor Marcelo Puglia

2008
Participa da Coletânea Palavras de Abril com a crônica Bandeira Verde-Amarela, da Associação Artistíca e Literária ALPASXX ” A Palavra do Século XX”, de Cruz Alta-RS – Terra de Eríco Veríssimo.

2007
Participa da Antologia Filhos da Luz, com a poesia Um Único País Chamado Brasil – Obras selecionadas na V Seletiva de Poesias, Contos e Crônicas de Barra Bonita – São Paulo.

2006
Segunda Antologia realizada em 2006, com autores selecionados na III Olímpiada Cultural 500 anos da Língua Portuguesa no Brasil. O título a Ponte é baseada em quadro de título homônio de Décio Mallmith, de Porto Alegre – RG. Participou com o poesia Dois Poetas.

2005
Antologia realizada com autores selecionados na II Olímpíada Cultural 500 Anos da Língua Portuguesa no Brasil. O título, “Vozes escritas” é sugestão de Miriam Panighel Carvalho, de São Paulo-SP e a capa, de Simon Cho Baeo, de Serra-ES. O autor participou com o poema O Poeta e a Cotovia.
Em 2005 - participou da 9° Concurso Prêmio Missões – promovido pelo jornal Igaçaba de Roque Gonzales - RG, com a poesia destaque a nível ancional – Quando Uma Mulher Se Despe.

Fontes:
http://www.jornalmetas.com.br/
http://anisiopoeta.wordpress.com/

Jayme Caetano Braun (Caldeirão Poético)


Amargo

Velha infusão gauchesca
De topete levantado
O porongo requeimado
Que te serve de vazilha
Tem o feitio da coxilha
Por onde o guasca domina,
E esse gosto de resina
Que não é amargo nem doce
É o beijo que desgarrou-se
Dos lábios de alguma china!

A velha bomba prateada
Que atrás do cerro desponta
Como uma lança de ponta
Encravada no repecho
Assim jogada ao desleixo
Até parece que espera
O retorno de algum cuera
Esparramado do bando
Que decerto anda peleando
Nalgum rincão de tapera!

Velho mate-chimarrão
As vezes quando te chupo
Eu sinto que me engarupo
Bem sobre a anca da história,
E repassando a memória
Vejo tropilhas de um pêlo
Selvagens em atropelo
Entreverados na orgia
Dos passes de bruxaria
Quando o feiticeiro inculto
Rezava o primeiro culto
Da pampeana liturgia!

Nessa lagoa parada
Cheia de paus e de espuma
Vão cruzando uma, por uma,
Antepassadas visões
Fandangos e marcações
Entreveros e bochinchos
Clarinadas e relinchos
Por descampados e grotas,
E quando tu te alvorotas
No teu ronco anunciador
Escuto ao longe o rumor
De uma cordeona floreando
E o vento norte assobiando
Nos flecos do tirador!

Sangue verde do meu pago
Quando o teu gosto me invade
Eu sinto necessidade
De ver céu e campo aberto
É algum mistério por certo
Que arrebentando maneias
Te faz corcovear nas veias
Como se o sangue encarnado
Verde tivesse voltado
Do curador das peleias!

Gaudéria essência charrua
Do Rio Grande primitivo
Chupo mais um, pra o estrivo
E campo a fora me largo,
Levando o teu gosto amargo
Gravado em todo o meu ser,
E um dia quando morrer,
Deus me conceda esta graça
De expirar entre a fumaça
Do meu chimarrão querido
Porque então irei ungido
Com água benta da raça!!!

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Chimarrão E Poesia

O payador missioneiro
Sente o calor do braseiro
Batendo forte no rosto
E vai mastigando o gosto
Da velha infusão amarga,
Sentindo o peso da carga
Que algum ancestral comanda
Enquanto o mundo se agranda
E o coração se me alarga

Sempre a mesma liturgia
Do chimarrão do meu povo,
Há sempre um algo de novo
No clarear de um outro dia,
Parece que a geografia
Se transforma - de hora em hora
E o payador se apavora
Diante um mundo convulso
Sentindo o bárbaro impulso
De se mandar campo fora!

Muito antes da caverna
Eu penso - enquanto improviso,
Nos campos do paraíso
O patrão que nos governa,
Na sua sapiência eterna
E eterna sabedoria,
Deu o canto e a melodia
Para os pássaros e os ventos
Pra que fossem complementos
Do que chamamos poesia!

Por conseguinte - o Adão,
Já nasceu poeta inspirado,
Mesmo um tanto abarbarado
Por falta de erudição
E compôs um poema pagão
À sua rude maneira,
Para a sua companheira,
A mulher - poema beleza,
Inspirado - com certeza
Numa folha de parreira!

Os Menestréis - os Aedos,
Os Bardos - Os Rapsodos,
Poetas grandes - eles todos,
Manejando a voz e os dedos
Vão desvendando os segredos
Nas suas rudes andanças,
As violas em vez de lanças,
Harpas - flautas - bandolins,
Semeando pelos confins
As décimas e as romanzas!

Tanto os poetas orientais
Como os poetas do ocidente,
Cada qual uma vertente,
Todos eles mananciais,
Nos quatro pontos cardeais
Esparramando canções
E - no rastro das legiões
Do lusitano prefácio,
A última flor do lácio
Nos deu Luiz Vaz de Camões!

No Brasil continental
Chegaram as caravelas
E vieram junto com elas
As poesias - com Cabral,
Para um marco imemorial
Nestas florestas bravias
Perpetuando melodias
De imorredouro destaque:
Castro Alves e Bilac
E Antônio Gonçalves Dias!

Neste garrão de hemisfério
Quando a pátria amanhecia
Surgiu também a poesia
No costado do gaudério
Na pia do batistério
Das restingas e das flores
E a horda dos campeadores
Bárbara e analfabeta
Pariu o primeiro poeta
No canto dos payadores!

E foi ele - esse vaqueano
Do cenário primitivo,
Autor do poema nativo
Misto de pêlo e tutano,
De pampeiro - de minuano,
Repontando sonhos grandes;

Hidalgo - Ramiro - Hernández
El Viejo Pancho - Ascassubi
Mamando no mesmo ubre
Desde o Guaíba aos Andes!

Há uma grande variedade
De poetas no meu país,
Do mais variado matiz
Cheios de brasilidade,
De um Carlos Drummond de Andrade
Ao mais culto e ao mais fino,
Mas eu prefiro o Balbino,
Juca Ruivo e Aureliano,
Trançando de mano a mano
Com lonca de boi brasino

João Vargas - e o Vargas Neto
E o Amaro Juvenal,
Cada qual um manancial
Que ilustram qualquer dialeto,
Manuseando o alfabeto
No seu feitio mais austero,
Os discípulos de Homero
De alma grande e verso leve,
Desde sempre usando um "breve"
De ferrão de quero-quero!

Imagino enquanto escuto
Esse bárbaro lamento
Que a poesia é o som do vento
Que nunca pára um minuto,
Picumã vestiu de luto
A quincha do Santafé,
Mas nós sabemos porque é
Que o vento xucro não pára:
São suspiros da Jussara
Chamando o índio Sepé!
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Negrinho Do Pastoreio

Quando de noite transito
No meu gauderiar andejo,
Me paleteia o desejo
De encontrar-te, duende amigo,
Pois sei que trazes contigo,
Negrinho esmirrado e feio,
O Rio Grande em pastoreio
No sinuelo do passado,
E que ali, no descampado
Que a luz da vela clareia,
O teu vulto esguio, bombeia,
Como Deus de rito estranho,
A gauchada de antanho
Que se perdeu na peleia!

Juntos iremos lembrar
Aquele maula estancieiro,
Que ao botar num formigueiro
O teu corpo de criança,
Cravou bem fundo uma lança
No próprio ser do rincão;
Trazer a recordação,
Aquela velha tropilha,
Que do topo da coxilha
Esparramou-se a lo léu,
Para juntar-se no céu
Contigo e Nossa Senhora,
E hoje cruza, noite a fora,
No meio dum fogaréu!

Hás de contar-me o que viste
Na tua ronda infinita,
Desde a povoação jesuíta
Ao reduto Guaiacurú,
Quando Sepé Tiaraju
Morrendo de lança em punho,
Dava um guasca testemunho
Da fibra continentina,
E quando, nesta campina,
O velho pendão farrapo
Cruzava altaneiro e guapo
Como uma benção divina!

Dizem que trazes por diante
Dos fletes que pastorejas,
Assombrações malfazejas
Das campanhas do JARAU,
Repontas o fogo mau,
Do andarengo BOITATÁ,
E vagando, ao Deus dará,
Nessa ronda de amargura,
Vives na eterna procura,
Pelas canchas e rodeios,
De prendas, trastes e arreios
Extraviados na planura!

Tu conheces os segredos
De ranchos e cemitérios
Onde paisanos gaudérios
Assinalaram passagem,
Revives cada paragem
Numa evocação singela,
Por entre tocos de vela
De humildes promessas pagas
Onde o S das adagas
Fazia o papel de cruz, -
E onde num raio de luz,
Brilhava sempre a velinha,
Invocando tu'a madrinha
A Santa Mãe de Jesus!

Presenciaste o velho drama
Do gaúcho em formação,
Quando este imenso rincão
Era um selvagem deserto,
Tudo céu e campo aberto
E onde Deus Nosso Senhor
Pós o guasca peleador,
De lança e de boleadeira
E mandou fazer fronteira
Onde quisesse, a lo largo,
Dando o pingo, o mate-amargo
E a china pra companheira!

Por tudo isso é que sofro
Quando altas horas despontas
Entre os fletes que repontas
Num barbaresco tropel,
Lembrando o dono cruel
Que num gesto asselvajado
Te fez cumprir este fado
De andar penando no ermo,
Esperando sempre o termo,
Que tarda tanto em chegar,
E onde haveremos de estar,
Enquadrilhados a grito
Diante do Deus infinito
Que vai por fim nos julgar!

E assim como tu, Negrinho,
Que um dia foste espancado
E por fim martirizado
Num formigueiro do pago,
O meu peito de índio vago
Também sofreu igual sorte,
E hoje vagueia, sem norte,
Sem fugir, por mais que ande,
Deste formigueiro grande
Onde costumes malditos
Tentam matar aos pouquitos
As tradições do RIO GRANDE!
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Paisagens Perdidas

A tarde recolhe o manto,
carqueja e caraguatá;
na corticeira um sabiá
floreia o último canto!
Alargando o gargarejo,
da sanga que se desmancha,
há um eco pedindo cancha
no primitivo falquejo!

A lua nasce num beijo,
prateando o lombo do cerro
e um grilo acorda um cincerro,
do meu retiro de andejo!

Paisagens de campo e alma
perdidas no vem e vai,
soluços do Uruguai
que bebe lua e se acalma:
a noite passa à mão salva,
com ela vem a saudade,
olfateando a claridade
das brasas da Estrela D‘Alva!

Nascem rugas no semblante,
paisagens da natureza
que a força da correnteza
não pode levar por diante;
então exige que eu cante
quando me encontro desperto,
mas sempre que chego perto
meu sonho está mais distante!

Paisagens de sombra e luz,
como é que pude perdê-las?
Ficaram as 5 estrelas
fazendo o “ sinal da cruz “ !
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Jayme Caetano Braun (1924 – 1999)



Jayme Guilherme Caetano Braun (Timbaúva, Bossoroca/ São Luiz Gonzaga 30 de janeiro de 1924 — Porto Alegre, 8 de julho de 1999) foi um renomado poeta do Rio Grande do Sul, prestigiado também na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

Era conhecido como El Payador e por vezes utilizou os pseudônimos de Piraju, Martín Fierro, Chimango e Andarengo.

Jayme Caetano Braun nasceu em 30 de janeiro de 1924, na Timbaúva, distrito de São Luiz Gonzaga (RS), hoje pertencente ao município de Bossoroca.

Jayme foi alambrador, tropeiro e curandeiro. Um artista missioneiro que fez de sua terra o seu mundo, de sua aldeia, uma pátria.

Sonhava em cursar Medicina, mas formou-se em jornalismo. Sua imensa cultura foi apurada no período em que ocupou o cargo de diretor da Biblioteca Pública do Estado, entre 1959 e 1963.

Especializou-se em décimas (poemas com estrofes de 10 versos). Os poemas, que começou a escrever piazito, por influência da família, foram publicados em vários livros. O primeiro, Galpão de Estância (1954), trazia versos de temática campeira, quase sempre dedicados a objetos do universo do homem da Campanha: relhos, chilenas, laços, carretas.

Na década de 70, trabalhou como radialista na Rádio Guaíba, onde apresentava o programa "Brasil Grande do Sul", que ia ao ar aos sábados pela manhã. Ele também foi funcionário público estadual. Trabalhou no Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado (Ipase).

Considerado o maior pajador do Rio Grande do Sul, Jayme Caetano Brun foi membro e co-fundador da academia nativista Estância da Poesia Crioula, em Porto Alegre (RS).

Poeta regionalista, costumava usar os pseudônimos de Piraju, Martín Fierro e Andarengo. Carismático, tornou-se popularmente conhecido não só no Brasil, mas também em países como Uruguai e Argentina.

Vários CTGs lhe homenagearam, inclusive em v i da, atribuindo-lhes o nome de "Jayme Caetano Braun", em várias cidades brasileiras, inclusive na Capital Federal.

Entre seus poemas mais declamados pelos poetas regionalistas do país inteiro, destacam-se "Tio Anastácio", "Bochincho" e "Galo de Rinha".

Jayme faleceu em 08 de julho de 1999, às 5h30, na Clínica São José, em Porto Alegre, vítima de complicações cardiovasculares, depois de receber quatro pontes de safena e enfrentar problemas de depressão e tentar o suicídio.

Fonte:
http://www.letras.com.br/biografia

Lima Barreto (O Jornalista)



A cidade de Sant'Ana dos Pescadores fora em tempos idos uma cidadezinha próspera. Situada entre o mar e a montanha que escondia vastas vargens férteis, e muito próximo do Rio, os fazendeiros das planuras transmontanas preferiam enviar os produtos de suas lavouras através de uma garganta, transformada em estrada, para, por mar, trazê-los ao grande empório da Corte. O contrário faziam com as compras que aí faziam. Dessa forma, erguida à condição de uma espécie de entreposto de uma zona até bem pouco fértil e rica, ela cresceu e tomou ares galhardos de cidade de importância. As suas festas de igreja eram grandiosas e atraíam fazendeiros e suas famílias, alguns tendo mesmo casas de recreio apalaçadas nela. O seu comércio era por isso rico com o dinheiro que os tropeiros lhe deixavam. Veio, porém, a estrada de ferro e a sua decadência foi rápida. O transporte das mercadorias de "serra-acima" se desviou dela e os seus sobrados deram em descascar como velhas árvores que vão morrer. Os mercadores ricos a abandonaram e os galpões de tropa desabaram. Entretanto, o sítio era aprazível, com as suas curtas praias alvas que foram separadas por desabamentos de grandes moles de granito da montanha verdejante do fundo do vilarejo, formando aglomerações de grossos pedregulhos.

A gente pobre, após a sua morte, deu em viver de pescarias, pois o mar ai era rumoroso e abundante de pescado de bom quilate.

Tripulando grandes canoas de voga, os seus pescadores traziam o produto de sua humilde indústria, vencendo mil dificuldades, até Sepetiba e, daí, à Santa Cruz, onde ele era embarcado em trem de ferro até ao Rio de Janeiro.

Os ricos de lá, além dos fabricantes de cal de marisco, eram os taverneiros que, nessas vendas, como se sabe, vendem tudo, mesmo casimiras e arreios, e são os banqueiros. Lavradores não havia e até frutas iam do Rio de Janeiro.

As pessoas importantes eram o juiz de direito, o promotor, o escrivão, os professores públicos, o presidente da Câmara e o respectivo secretário. Este, porém, o Salomão Nabor de Azevedo, descendente dos antigos Nabores de Azevedo de "serra-acima" e dos Breves, ricos fazendeiros, era o mais. Era o mais porque, além disto, se fizera o jornalista popular do lugar.

A idéia não fora dele, a de fundar - O Arauto, órgão dos interesses da cidade de Sant'Ana dos Pescadores; fora do promotor. Este veio a perder o jornal, de um modo curioso. O doutor Fagundes, o tal de promotor, começou a fazer oposição ao doutor Castro, advogado no lugar e, no tempo, presidente da Câmara. Nabor não via com bons olhos aquele e, certo dia, foi ao jornal e retirou o artigo do promotor e escreveu um descabelado de elogios ao doutor Castro, porque ele tinha suas luzes, como veremos. Resultado: Nabor, o nobre Nabor, foi nomeado secretário da Câmara e o promotor perdeu a importância de melhor jornalista local, que coube, daí por diante e para sempre, a Nabor. Como já disse, este Nabor recebera luzes num colégio de padres de Vassouras ou Valença, quando os pais eram ricos. O seu saber não era lá grande; não passava de gramaticazinha portuguesa, das quatro operações e umas citações históricas que aprendera com Fagundes Varela, quando este foi hóspede de seus pais, em cuja fazenda chegara, certa vez, de tarde, numa formidável carraspana e em trajes de tropeiro, calçado de tamancos.

O poeta gostara dele e lhe dera algumas noções de letras. Lera o Macedo e os poetas do tempo, daí o seu pendor para cousas de letras e de jornalismo.

Herdou alguma cousa do pai, vendera a fazenda e viera morar em Sant'Ana, onde tinha uma casa, também pela mesma herança. Casou aí com uma moça de alguma pecúnia e vivia a fazer política e a ler os jornais da Corte, que assinava. Deixou os romances e apaixonou-se por José do Patrocínio, Ferreira de Meneses, Joaquim Serra e outros jornalistas dos tempos calorosos da abolição. Era abolicionista, porque... os seus escravos ele os tinha vendido com a fazenda que herdara; e os poucos que tinha em casa, dizia que não os libertava, por serem da mulher.

O seu abolicionismo, com a Lei de 13 de Maio, veio dar, naturalmente, algum prejuízo à esposa...Enfim, após a República e a Abolição, foi várias vezes subdelegado e vereador de Sant'Ana. Era isto, quando o promotor Fagundes lembrou-lhe a idéia de fundar um jornal na cidade. Conhecia aquele a mania do último, por jornais, e a resposta confirmou a sua esperança:

— Boa idéia, "Seu" Fagundes! A "estrela do Abraão" (assim era chamada Sant'Ana) não ter um jornal! Uma cidade como esta, pátria de tantas glórias, de tão honrosas tradições, sem essa alavanca do progresso que é a imprensa, esse fanal que guia a humanidade - não é possível!

— O diabo, o diabo... fez Fagundes.

— Por que o diabo, Fagundes?

— E o capital?

— Entro com ele.

O trato foi feito e Nabor, descendente dos Nabores de Azevedo e dos famigerados Breves, entrou com o cobre; e Fagundes ficou com a direção intelectual do jornal. Fagundes era mais burro e, talvez, mais ignorante do que Nabor; mas este deixava-lhe a direção ostensiva porque era bacharel. O Arauto era semanal e saía sempre com um artiguete landatório do diretor, à guisa de artigo de fundo, umas composições líricas, em prosa, de Nabor, aniversários, uns mofinos anúncios e os editais da Câmara Municipal. As vezes, publicava certas composições poéticas do professor público. Eram sonetos bem quebrados e bem estúpidos, mas que eram anunciados como "trabalhos de um puro parnasiano que é esse Sebastião Barbosa, exímio educador e glória da nossa terra e da nossa raça".

Às vezes, Nabor, o tal dos Nabores de Azevedo e dos Breves, honrados fabricantes de escravos, cortava alguma cousa de valia dos jornais do Rio e o jornaleco ficava literalmente esmagado ou inundado.

Dentro do jornal, reinava uma grande rivalidade latente entre o promotor e Nabor. Cada qual se julgava mais inteligente por decalcar ou pastichar melhor um autor em voga.

A mania de Nabor, na sua qualidade de profissional e jornalista moderno, era fazer de O Arauto um jornal de escândalo; de altas reportagens sensacionais, de enquetes com notáveis personagens da localidade, enfim, um jornal moderno; a de Fagundes era a de fazê-lo um cotidiano doutrinário, sem demasias, sem escândalos - um Jornal do Comércio de Sant'Ana dos Pescadores, a "Princesa" de "O Seio de Abraão", a mais formosa enseada do Estado do Rio.

Certa vez, aquele ocupou três colunas do grande órgão (e achou pouco), com a narração do naufrágio da canoa de pescaria - "Nossa Senhora do Ó", na praia da Mabombeba. Não morrera um só tripulante.

Fagundes censurou-lhe:

— Você está gastando papel à-toa!

Nabor retrucou-lhe:

— É assim que se procede no Rio com os naufrágios sensacionais. Demais: quantas colunas você gastou com o artigo sobre o direito de cavar "tariobas" nas praias.

— É uma questão de marinhas e acrescidos; é uma questão de direito.

Assim, viviam aparentemente em paz, mas, no fundo, em guerra surda.

Com o correr dos tempos, a rivalidade chegou ao auge e Nabor fez o que fez com Fagundes. Reclamou este e o descendente dos Breves respondeu-lhe:

— Os tipos são meus; a máquina é minha; portanto, o jornal é meu.

Fagundes consultou os seus manuais e concluiu que não tinha direito à sociedade do jornal, pois não havia instrumento de direito bastante hábil para prová-la em juízo; mas, de acordo com a lei e vários jurisconsultos notáveis, podia reclamar o seu direito aos honorários de redator-chefe, à razão de 1:800SOOO. Ele o havia sido quinze anos e quatro meses; tinha, portanto, direito a receber 324 contos, juros de mora e custas.

Quis propor a causa, mas viu que a taxa judicial ia muito além das suas posses. Abandonou o propósito; e Nabor, o tal dos Azevedo e dos Breves, um dos quais recebera a visita do imperador, numa das suas fazendas, na da Grama, ficou único dono do jornal.

Dono do grande órgão, tratou de modificar-lhe o feitio carrança que lhe imprimira o pastrana do Fagundes. Fez inquéritos com o sacristão da irmandade; atacou os abusos das autoridades da Capitania do Porto; propôs, a exemplo de Paris, etc., o estabelecimento do exame das amas-de-leite, etc., etc. Mas, nada disso deu retumbância a seu jornal. Certo dia, lendo a notícia de um grande incêndio no Rio, acudiu-lhe a idéia de que se houvesse um em Sant'Ana, podia publicar uma notícia de "escacha", no seu jornal, e esmagar o rival - O Baluarte - que era dirigido pelo promotor Fagundes, o antigo companheiro e inimigo. Como havia de ser? Ali, não havia incêndios, nem mesmo casuais. Esta palavra abriu-lhe um clarão na cabeça e completou-lhe a idéia. Resolveu pagar a alguém que atacasse fogo no palacete do doutor Gaspar, seu protetor, o melhor prédio da cidade. Mas, quem seria, se tentasse pagar a alguém? Mas... esse alguém se fosse descoberto denunciá-lo-ia, por certo. Não valia a pena... Uma idéia! Ele mesmo poria fogo no sábado, na véspera de sair o seu hebdomadário—O Arauto. Antes escreveria a longa notícia com todos os "ff" e "rr". Dito e feito. O palácio pegou fogo inteirinho no sábado, alta noite; e de manhã, a notícia saía bem feitinha. Fagundes, que já era Juiz Municipal, logo viu a criminalidade de Nabor. Arranjou-lhe uma denúncia-processo e o grande jornalista Salomão Nabor de Azevedo, descendente dos Azevedos, do Rio Claro, e dos Breves, reis da escravatura, foi parar na cadeia, pela sua estupidez e vaidade.

Fontes:
BARRETO, Lima. Contos. Revista Sousa Cruz, Rio, julho 1921.
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Felipe Assumpção Gertum



Felipe Assumpção Gertum nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 15 de setembro. Filho de Jorge Ivan da Costa Gertum e Maria Leocádia Assumpção Gertum, é tataraneto dos Barões de Jarau e dos Barões de Arroio Grande, e bisneto do Senador Joaquim Augusto de Assumpção. Seus avós paternos são: o renomado engenheiro doutor Paulo Mostardeiro Gertum e Noêmia da Costa Gertum; seus avós maternos: o grande pioneiro da raça holandesa no Brasil, Arthur Augusto de Assumpção e Judith Assumpção de Assumpção.

O menino Felipe iniciou seus estudos primários na tradicional Escola São Francisco de Assis, que ficava ao lado da casa onde residia com os seus pais, na rua Santa Cruz esquina Barão de Butuí. Ao terminar o admissão, estudou no Colégio Municipal Pelotense até a Reforma do Ensino lhe alcançar. Foi, então, para o Colégio Universitário Diocesano, onde terminou o Segundo Grau, ainda sob a direção da professora Alice Flora Loréa.

No ano de 1989 formou-se na Universidade Católica de Pelotas, no Curso de Comunicação Social, especializando-se mais tarde na Faculdade de Jornalismo. Lançou diversos livros de crônicas e poesias, sempre afirmando que não tinha como objetivo tornar-se um grande escritor. Apenas, segundo Felipe, “gostava de escrever para expressar o que sentia...” e ficava feliz quando as pessoas sentiam-se auxiliadas com os seus textos, quase sempre polêmicos, mas repletos de uma visão romântica do mundo em que vivemos, resgatando os verdadeiros valores da vida.

No ano de 1986 lançou o primeiro livro intitulado “A Volta do Menino” (crônicas). Em 1989, estimulado pelo sucesso da obra, faz o lançamento de “Quando os anjos dizem amém” (crônicas), iniciando a viajar por diversas cidades gaúchas proferindo palestras. Em 1995, lançou o seu romance: “Paraíso Cristal”. O livro, no ano seguinte, conquistou a marca de ser uma das obras mais vendidas nas feiras do livro de várias cidades do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Em 1998, o romance de Felipe Assumpção Gertum recebeu o 1o lugar em um Concurso promovido pela Academia de Letras e Artes de São Lourenço, Minas Gerais. A premiação também lhe rendeu o título de “Escritor do Ano” no estado mineiro.

Em 1999, “Paraíso de Cristal” conquistou nova premiação: 1o lugar no 9o CONAOP (Concurso Nacional de Obras Publicadas), também em Minas Gerais. Em Porto Alegre, dois prêmios distintos: “Operário das Letras” pela Editora Alcance e “Troféu Nelson Fachinelli” pela Casa do Poeta Rio-Grandense.

Mas a maior glória viera no ano de 2001, quando a Academia Internacional da Itália recebeu a indicação do romance “Paraíso de Cristal” para concorrer com autores sul-americanos. No resultado final o livro recebeu o 1o lugar e a América Latina que participaram do “II Convívio”.

Assumiu, posteriormente, a presidência da Academia Sul-brasileira de Letras, da Casa Brasileira de Cultura e, atualmente, preside o Instituto Nacional Brasileiro Senador Joaquim Augusto de Assumpção, entidade que reúne 15 Seções que tratam de Literatura, Artes Plásticas, Cidadania, Jornalismo, Cultura Religiosa, etc, destacando-se a Seção de Museologia que administra o Museu Histórico Helena Assumpção de Assumpção, o Memorial da Praia do Laranjal Arthur Augusto de Assumpção e, em fase de estruturação, o Museu de Arte Sacra João Paulo II, que preservam um acervo precioso no que se refere aos costumes, a tradição e a história do Rio Grande do Sul e, em especial, da cidade de Pelotas.

Hoje, além da carreira de escritor e jornalista, dirige também a Gertum Empreendimentos Turísticos Ltda. e o Laranjal Parque Hotel, situados na Praia do Laranjal, em Pelotas. Dedica-se igualmente às atividades desenvolvidas pela Igreja Católica, da qual participa com toda sua família, especificamente ao Movimento Familiar Cristão e à Seção de Filantropia e Benemerência do Instituto Nacional Brasileiro Senador Joaquim Augusto de Assumpção, sempre promovendo ações sociais que visam amenizar as necessidades das pessoas mais carentes em todos os seus aspectos.

Felipe é casado com a professora e artista plástica Arlene da Silveira Gertum, com quem contraiu matrimônio no dia 9 de março de 1985. Do casamento vieram-lhe duas filhas: Natália e Carolina. O escritor viaja pelo Brasil proferindo palestras a convite de escolas públicas e particulares, universidades federais, estaduais e privadas e de outras instituições a fins. Até os dias atuais, o seu Projeto denominado “Leitura rima com cultura” consegue atender aos anseios de muitos estudantes, professores e pessoas ligadas à Literatura, à Educação e à Cultura do nosso Brasil.

Atividade Cultural

# Troféu Sentinela Gaúcho, de Antônia Caringi Aquino e Tv Pampa. (2007)
# Medalha de Ouro da INTERNATIONAL SOCIETY OF GREEK WRITERS, na Grécia (2007).
# Edição do livro de crônicas “A volta do menino” – Editora Livraria Mundial (1986).
# Idealizador do Projeto “Leitura rima com cultura”, o escritor visitou diversas cidades brasileiras levando sua palavra através de palestras dirigidas aos professores e jovens estudantes do Ensino Médio e Fundamental (1987).
# Antologia de Contos e Crônicas – Edicon Editora – São Paulo – (1988).
# Edição do livro de crônicas “Quando os anjos dizem amém” – Livraria Mundial – (1989).
# Primeiro lugar com a crônica “Meu fiel felino inquilino”, concedido pela Casa Poeta de Amparo – Amparo – SP (1989).
# Primeiro lugar com a crônica “Estrela e Lágrima” concedido pelo jornal Diário da Manhã – Pelotas – RS (1989).
# Patrono da Feira do Livro de São Lourenço do Sul – São Lourenço do Sul – RS – (1989).
# Destaque Literário concedido pelo Clube Literário de Brasília – Brasília/DF – (1989).
# Edição do romance “Paraíso de Cristal” Editora Papa Livro – Florianópolis/SC – (1995).
# Ingresso na Academia Sul-brasileira de Letras, onde ocupa a cadeira número 11, cujo o patrono é o escritor Álvaro Porto Alegre. A posse ocorreu no dia 16 de setembro de 1995, na sede da ASBL, na Casa de Cultura João Simões Lopes Neto, em Pelotas/RS.
# O romance “Paraíso de Cristal” é um dos livros mais vendidos nas feiras do livro realizadas nas principais cidades gaúchas e catarinenses, obtendo tal registro no espaço reservado aos “Lançamentos”, nos jornais Zero Hora e Diário Catarinense – (1996).
# Felipe Assumpção Gertum toma posse como presidente da Academia Sul-brasileira de Letras, entidade literária que abrange os três estados do sul do Brasil (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A solenidade de posse ocorre no dia 10 de maio de 1997, em Pelotas/RS.
# Troféu Nelson Fachinelli, concedido pela Editora Alcance – Porto Alegre/RS – (1997).
# Troféu “Operário das Letras” – Hotel Embaixador – Porto Alegre/RS – (1997).
# Primeiro Lugar em Prosa, Concurso de Natal, concedido pelo Elos Clube de Santos – Santos/SP – (1997).
# Diploma de “Honra ao Mérito”, concedido pelo Elos Clube de Santos – Cellula Mater do Elismo Universal – Santos/SP – (1997).
# Selo Comemorativo do Centenário de morte do poeta Cruz e Sousa, concedido pela Academia Catarinense de Letras – Florianópolis/SC – (1998).
# Destaque Literário concedido pela Associação Artística e Literária de Cruz Alta – Cruz Alta/RS – (1998).
# “Escritor do Ano” concedido pela Academia de Letras e Ciências de São Lourenço – São Lourenço/MG – (1998).
# Comenda do Mérito Jornalístico” concedida pela Academia de Letras e Ciências de São Lourenço – São Lourenço/MG – (1998).
# Ingresso na Academia de Letras e Ciências de São Lourenço, onde ocupa a cadeira número 83, cujo o patrono é o jornalista David Nasser – São Lourenço/MG – (1998).
# “Destaque de Cultura” concedido pelo Centro de Escritores Lourencianos – São Lourenço do Sul/RS – (1998).
# “Prêmio de Edição” no Concurso “Amor à Literatura”, concedido pela Casa do Novo Autor Editora – Rio de Janeiro/RJ – (1999)
# “Colar da Grão-Cruz do Mérito Literário” concedido pela Academia de Letras e Ciências de São Lourenço – São Lourenço/MG – (1999).
# “Honra ao Mérito” no Concurso Nacional de Obras Publicadas, concedida pela Academia de Letras e Ciências de São Lourenço – São Lourenço/MG – (1999).
# Prêmio “A Palavra do Século XXI” outorgado pela Associação Artística de Cruz Alta – Cruz Alta/RS – (1999).
# “Destaque Cultural” concedido pela Academia Brasiliense de Letras – Brasília/DF (1999).
# Ingresso na Casa do Poeta Riograndense – Porto Alegre/RS – (1999).
# Fundador e primeiro Presidente da Casa Brasileira de Cultura, entidade que abriga as sete artes, sediada em Pelotas/RS – (1998).
# “Mérito Integração Zona Sul”, concedido pelo jornal “A Notícia” – Canguçu/RS – (1999).
# “Mérito Associativismo Cultural” concedido pelo Grupo Cultural Mona-lisa – Esteio/RS – (1999).
# “Medalha Cruz do Mérito Cultural” concedida pelo Grupo Cultural Mona-lisa – Esteio/RS – (1999).
# Prêmio de Edição no Concurso Literário “Anuário de Escritores 2000”, concedido pela Casa do Novo Autor – Rio de Janeiro/RJ – (2000).
# Ingresso na Casa do Poeta Brasileiro – POEBRAS – Salvador/BA – (2000).
# Diploma de Sócio Correspondente concedido pela Casa do Poeta Brasileiro – Salvador/BA – (2000).
# Idealizador dos Encontros Sul-brasileiros de Escritores promovidos durante sua gestão como presidente da Academia Sul-brasileira de Letras (1997, 1998 e 1999).
# “Destaque Literário” concedido pela Câmara Júnior de Jaguarão – Jaguarão/RS – (2000).
# Diploma de “Amigo de Caxias” concedido pelo poeta Rev. Dr. Jocarlos Gaspar – Duque de Caxias/RJ – (2000).
# Fundador e primeiro presidente do Instituto Nacional Brasileiro Senador Joaquim Augusto de Assumpção – INBRAJA – entidade que reúne 15 Seções que tratam de Literatura, Arte Plásticas, Jornalismo, Cidadania, Cultura Religiosa, destacando-se a Seção de Museologia que administra o Museu Histórico Helena Assumpção de Assumpção, o Memorial da Praia do Laranjal Arthur Augusto de Assumpção e, em fase de estruturação, o Museu de Arte Sacra João Paulo II – (2001).
# Em 16 de agosto de 2002, o romance “Paraíso de Cristal” recebe o prêmio máximo: Primeiro Lugar no Concurso “II Convívio 2002”, outorgado pela Academia Internazionale da Itália – Sicília. Jornais e revistas italianos divulgam a obra de Felipe Assumpção Gertum, extraindo partes do texto e traduzindo para o italiano alguns capítulos do livro.
# Diploma de Presidente de Honra da Casa Brasileira de Cultura – (2001).
# Prêmio “100 Livros do Século” outorgado ao romance “Paraíso de Cristal” pela Casa Brasileira de Cultura.
# Diploma de “Honra ao Mérito” ao romance “Paraíso de Cristal” concedido pelo Rev. Dr. Jocarlos Gaspar – Duque de Caxias/RJ – (2002).
# Troféu “Giardini Naxos” outorgado pela Academia Internazionale II Convívio, na Itália – (2002).
# Ingresso na International Whiters and Artists Association – IWA – Toledo – USA – (2003).
# Diploma “Pacto Policial” concedido pela Revista Impacto Policial – Informativo de Segurança Pública do Rio de Janeiro – Rio de Janeiro/RJ (2004).

Fontes:
http://www.felipeassumpcaogertum.com/
http://www.museuhelenaassumpcao.com.br

Andrey do Amaral (Dicas Para o Escritor)



1) Você não precisa esperar para ter condições financeiras para publicar uma coletânea. Pode pedir a participação dos autores com uma ajuda financeira. Por exemplo, cada página custaria R$ 50,00. Então, o autor adequará a publicação de acordo com o orçamento dele. Caso um escritor tenha um conto com 4 páginas, ele pagará R$ 200,00; se não puder pagar esse valor pagará por uma ou duas.

2) Não misture os gêneros. Faça uma coletânea só com contos e outra só com poesias. O mercado não vê com bons olhos essa mistura. Para o livro de contos, publique apenas um conto por autor; para o de poesias, no máximo duas. Sobre a biografia desses autores, você deve manter um padrão. Peça aos autores para se definirem em no máximo 5 linhas. O leitor que quiser saber mais sobre eles que busquem informações num site, blog, etc.

3) Sobre os direitos autorais: se você publicar textos de autores vivos ou falecidos tem que ter sim autorização. Os vivos têm que autorizar a publicação, independentemente se serão remunerados ou não. No caso dos falecidos, a autorização deve ser dada pela família.

4) Geralmente, autores que participam de coletâneas são - na maioria dos casos - autores que não conseguem publicar pelas editoras comerciais. Talvez, por isso, seja comum pensar que não é necessário pedir autorização. Inclusive deve ser pago os devidos direitos autorais. O vc deve fazer enquanto a isso é o seguinte: Quando o autor aderir a participação na coletânea, você já pede para ele assinar o termo de autorização de publicação do texto tal no livro tal. Nesse termo, ele está ciente que os direitos autorais serão pagos com alguns exemplares do referido título. Para ser mais claro: eu te mando meu conto, mando cheque comprando a página ou o comprovante de depósito, assino o termo de autorização e já saberei que não receberei meus direitos autorais em pecúnia, ou em espécie, dinheiro; meus direitos autorais serão pagos com 5 exemplares da coletânea. Se eu quiser mais livros, aí tenho que comprar mais exemplares pelo preço de capa. Estipule um valor: por exemplo, sua coletânea de contos custará R$ 30,00, e a de poetas custará R$ 25,00

5) Peça autorização por escrito dos escritores que for publicar, pois as fontes de referência ao final do livro não são suficientes.

6) Acho que você pode fazer uma série desses livros. Todo ano você lança duas coletâneas (poesia/contos).

Para mais dicas, obtenha o livro Mercado Editorial: Guia para autores . Neste livro, Andrey do Amaral dá o passo a passo para se ter êxito com uma editora comercial; indica onde, como e para quem vender seu original; nomeia quem são os principais agentes; quais as melhores editoras para seu livro etc.
Andrey do Amaral, agente literário filiado à Câmara Brasileira do Livro (CBL/SP). Dá consultoria a autores, principalmente aos novos que pretendem entrar no mercado editorial.
Site do Escritor: http://www.andreydoamaral.com .
Contatos : perguntafixar@andreydoamaral.com

Fonte:
O Autor

segunda-feira, 1 de março de 2010

Adelmar Tavares (1888 – 1963)


Adelmar Tavares da Silva Cavalcanti nasceu em Recife em 16 de fevereiro de 1888.

Sobre o seu nascimento escreveu Maria de Lourdes Costa, na "Gazeta Comercial" de Juiz de Fora, em 1959: "Há setenta anos passados, no 3º andar da rua Santo Antônio, em Recife, num sobrado azul salpicado de estrelas brancas, onde havia uma casa de fazendas chamada: "Loja das Estrelas", nascia o maior trovador do Brasil: ADELMAR TAVARES da Silva Cavalcanti." E continua: "Ele próprio descreve: "Nossos familiares brincavam com meu pai, dizendo: "Tavares, o menino vai ser poeta. Nasceu nas estrelas...''

Adelmar fez os seus primeiros estudos em Goiana (Pernambuco). Transferiu-se para Recife com 11 anos. Estudou no Colégio XI de Agosto e no ''Instituto Pernambucano". Formou-se em Direito em 1910. Em Recife, com outros colegas de Faculdade, publicou o seu primeiro livro, em 1907, quando tinha apenas 19 anos. O volume intitulava-se "Descantes", compunha-se de trovas e os seus companheiros eram: Carlos Estevão, Manoel Monteiro, A. Silveira Carvalho e Moreira Cardoso.

Veio para o Rio de Janeiro logo depois de formado. Nesta cidade ocupou o cargo de adjunto de Promotoria Pública, de advogado do Banco do Brasil e foi, mais tarde, presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e professor da Faculdade de Direito de Niterói. Em 1926 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira nº 11 que tem como patrono Fagundes Varela.

Conheci Adelmar Tavares; há mais de vinte anos, apresentado pelo nosso amigo comum - o poeta A. J. Pereira da Silva. Se antes já apreciava o trovador, nesses vinte anos a minha admiração cresceu e foi-se solidificando a amizade.

Em 1947, assim iniciava uma crônica sobre o seu livro "Poesias Escolhidas": "Se deixar correr livremente o pensamento, eis as idéias que o nome de Adelmar Tavares me sugere: ... trova... emoção... bondade... ternura. . . "

Em 1951 escrevia eu: "Adelmar Tavares é considerado, com inteira justiça, o Príncipe da Trova Brasileira. Suas quadras, nascidas de um coração emotivo, são simples e puras, sem preocupações técnicas e preciosismos. Andam anônimas, na boca do povo e são admiradas e elogiadas por críticos, leitores e trovadores. Profundamente lírico, possui trovas sentimentais e conceituosas que enternecem e fazem meditar."

E ao receber o seu "Ramo de Cantigas" assim terminava o artigo que escrevi sobre o livro, em 1955: "... E quantas, nesse "Ramo de Cantigas" poderiam ser citadas?! Quase todas. . . diria, sem exagero. Pois, os que compõem trovas ou que admiram esse gênero poético, sabem que Adelmar Tavares é um trovador de mãos cheias.. . Repletas de trovas bonitas, espontâneas e musicais, nascidas de um coração de poeta-trovador. Suas quadras são fáceis. Fáceis de ouvir, sentir e decorar. E são perfeitas. Não pela preciosidade de rimas ou termos raros, mas, sim pelo sentimento, pela idéia e inspiração."

Além de poeta, jurista, professor, Adelmar Tavares é um dos marcos que assinalam o prestígio e a revitalização da Trova no Brasil. Pelo seu valor como poeta e pela sua posição social e literária, ajudou o reerguimento da Trova e sua aceitação como gênero poético dos mais apreciados e mais difíceis. Desde a mocidade, com seu primeiro livro "Descantes", em 1907, até os dias que correm, em 1959, Adelmar Tavares tem contribuído magnificamente para a elevação da Trova na língua portuguesa. Já fez as suas bodas de ouro como trovador! E nesses cinqüenta anos tem sido sempre o mesmo: um sincero e admirável poeta simples, cheio de ternura, - um criador riquíssimo de belas trovas! Neste meio-século como o mundo se transformou! E o menino de Goiana e jovem estudante de Recife como subiu! Advogado, professor, presidente do Tribunal de Justiça, membro da Academia Brasileira de Letras. E, no entanto, apesar das modificações do mundo e de sua própria vida, guardou carinhosamente o seu grande amor à Poesia, conservou permanentemente a sua fidelidade à Trova.

O valor da Poesia de Adelmar Tavares, a aceitação de suas trovas, quer nos meios literários, quer nas esferas populares, são fatos tão conhecidos que não necessitam de provas. Mas o que contarei a seguir é tão expressivo que não deveria guardar só para mim: Quando em 1956 publiquei "Meus Irmãos, os Trovadores", na Introdução pedia que os leitores ou poetas me enviassem a relação das 250 trovas (entre as duas mil) que mais lhe tivessem agradado. Os três primeiros votantes foram poetas e das duas mil quadras apenas quatro restaram com a votação unânime dos três. E dessas quatro trovas três pertenciam a Adelmar Tavares, que no livro tinha mais de seiscentos companheiros. Ao receber a quarta relação, também de um poeta, vi que só restava uma única trova com a votação unânime dos quatro. Essa trova era também de Adelmar e, por coincidência, era a nº 1 do livro que recebera tal numeração sem intuitos de preferência ou prioridade. Transcrevo-a aqui para matar a natural curiosidade do leitor:

"Para matar as saudades,
fui ver-te em ânsias, correndo...
- E eu que fui matar saudades,
vim de saudades morrendo.. ."

Fica assim comprovado o grande prestígio das trovas de Adelmar entre poetas e trovadores.

Por outro lado, o seu prestígio popular é muito grande. Eis um exemplo no meio de muitos. Tendo eu organizado um "Inquérito sobre trovas populares (anônimas)" em todos os Municípios Brasileiros, feito oficialmente pelo IBGE, notei o seguinte fato, muito interessante: chegavam-me às mãos muitas trovas, como anônimas, e que na realidade pertenciam a trovadores meus conhecidos, entre eles, com maior freqüência, as de Adelmar Tavares. E no meio delas, talvez com maior insistência aquela citada acima.- "Para matar as saudades", e outras também dele, como esta, vinda do Município de Ourém, no Pará, citada de memória, por Pacifico da Costa:

"É nossa alma uma criança,
que nunca sabe o que faz,
quer tudo que não alcança,
quando alcança, não quer mais."

Do Maranhão - Município de Paranarama, ouvida em Rosário, num Coco do Mato, Hilton Pires de Castro envia-nos esta, como anônima:

"A imagem de nossas almas
está nas águas profundas,
quanto mais tristes mais calmas,
quanto mais calmas" mais fundas."

Do Piauí - Município de Floriano, Messias Alves Feitosa manda-nos esta com a informação: "de poeta desconhecido", o que constitui o maior galardão dos trovadores:

"Tu censuras de minha alma
esse alvoroço, esse ardor...
Quem tem amor e tem calma,
tem calma ... não tem amor..."

De Itatira, no Ceará, recebemos esta outra, como anônima:

"Todo rio na corrente
busca um lago, um rio, um mar.
Mas o destino da gente
quem sabe onde vai parar?"

... E assim poderíamos ir correndo as fichas de todo o Brasil e nos diversos Estados, em todos os recantos, encontraríamos uma trova de Adelmar Tavares aflorando, anônima, na boca do povo...

...E que alegria e glória maior para um trovador do que essa de ouvir as suas próprias trovas na boca do povo?! O próprio Adelmar, saudando o grande trovador português Antônio Correia de Oliveira, na sua chegada ao Brasil, compôs várias quadras e entre elas havia esta, que serve perfeitamente para o seu autor:

"Porque és um Rei de verdade.
- Nem há reinado maior,
que o reinado de um poeta,
que o povo sabe de cor.. .

Não cabe na pequena extensão deste trabalho uma análise minuciosa das trovas do nosso biografado. Vejamos assim, rapidamente, a maneira de trovar de Adelmar Tavares. O que, em primeiro lugar, ressalta aos nossos olhos é o seu carinho e amor pela Trova e, ao mesmo tempo, como disse anteriormente, a sua fidelidade a esse gênero. Na Introdução de "Um Ramo de Cantigas" ele confidencia: "A trova foi sempre, das formas de poesia, a que mais me tocou a sensibilidade, porque foi a poesia dos lavradores de meu velho engenho pernambucano, a poesia daquelas violas inesquecíveis que fizeram o enlevo da minha meninice, e levarei comigo dentro da alma até o último bater do coração."

E esse carinho fica evidenciado nestas palavras simples e saudosas, a respeito de seu livro "Descantes": "Isso é uma saudade muito grande na minha vida ... porque essas trovas nasceram das serenatas. . . O violão... o luar... e a serenata ... daqueles lindos tempos... A serenata era tudo para nós. . . "

De alma lírica e coração sensível, cultuando a Trova, Adelmar Tavares é sobretudo um poeta simples. De uma simplicidade que encanta e que está presente em quase todas as suas quadras. Não força a sua maneira de dizer, faz as suas trovas como se estivesse conversando. Elas nascem espontaneamente como esta:

"Vivo triste, triste, triste,
que mesmo nem sei dizer.
- Desconfio que é saudade,
que é vontade de te ver."

Numa gravação feita há alguns anos, em meu poder, ele observava: "A trova quando é erudita demais não é propriamente trova... A trova não precisa ter essa erudição profunda porque perde assim o seu espírito, aquele espírito de que o Luiz Otávio falava ainda há pouco..."

Além da simplicidade as suas trovas são sentidas. Têm alma, têm sentimento. Vejam, por exemplo:

"Neste mundo, a certas vidas,
a morte seria um bem,
mas até a própria morte
se esquece delas também."

Por outro lado seus versos agradam porque possuem melodia. São musicais, no ritmo e nos sons. Sintam toda a beleza, sonoridade e poder sugestivo desta miniatura:

"Duvido que alguém no mundo,
olhe sem melancolia,
uma vela no horizonte,
lá longe... no fim do dia..."

Simplicidade, sentimento, música... Com estas três chaves milagrosas vai Adelmar Tavares abrindo o coração do povo e nele aninhando as suas trovas.. . Tão suavemente que o povo, muitas vezes, não grava o seu nome... mas guarda as suas trovas ... Disse-me ele: "Esse é o destino das trovas: é perder o seu autor... é cair na boca do povo ... O povo toma a trova do autor.. . Eu apenas completaria: é o destino das boas trovas... "

O caráter predominante de suas trovas é o lirismo. O seu cantar é suave, geralmente cheio de ternura e de bondade. Ele mesmo confessa: "Quem dera que minhas trovas, andassem pelos caminhos, consolando os desgraçados, dando pão para os ceguinhos. . . "

Na sua mocidade cantou o amor lírica e apaixonadamente. São inúmeras as suas trovas sobre o amor, a saudade, ou para a mulher amada. Vejamos apenas uma, tão delicada e sugestiva:

"Quando vejo o teu sorriso,
tudo se doira e aligeira.
Teu sorriso é na minha alma,
como o sol numa roseira."

Além dessa faceta lírica, sentimental, o Rei da Trova Brasileira é também um trovador conceituoso. Compõe muitas quadras profundas. Daquelas que o leitor lê, repete mentalmente e fica a meditar... Entre outras: "Ora a Vida! ... Deixa-a andar." ou "A imagem de nossas almas", ou "Todo o rio na corrente" ou esta, tão profunda e triste:

"A morte não é tristeza,
é fim, é destinação.
- Tristeza é ficar na vida
depois que os sonhos se vão...

E a trova satírica estará também entre os motivos constantes de sua inspiração? - Não, ela não se harmoniza bem com a alma pura, com o coração ingênuo e sem maldades de Adelmar Tavares. Ele não é contra a trova satírica, humorística, bem feita. Em 1953 me dizia: "Essa trova satírica é usada muito pouco. Quem no Brasil fere, às vezes, essa trova mordaz e que eu aprecio imenso, porque è um dos nossos maiores trovadores, é Bastos Tigre. O Bastos Tigre tem coisas admiráveis... Também magnífico é Djalma Andrade... E' uma das grandes vozes trovadorescas nossas..." E terminava: "Quando essa trova (a satírica) é feita sem talento é chalaça. . . " Com o que concordamos. Às vezes, - muito raramente - ele usa uma leve ironia, como naquela: "Proclamas teu amor-próprio" ou "Tu censuras de minha alma" ou ainda: "Amar com ciúme... Quem ama?!" Em algumas a ironia é dirigida a si próprio, como em: "Para esquecer-te, outras amo". Há um tipo de trova, tão raro - ou mais ainda - do que a satírica, e que Adelmar usa com talento e felicidade. E' a trova sugestiva, pictórica. A trova que faz lembrar o "hai-kai" japonês. O poeta dá leves pinceladas sugere... e o leitor, sensível e inteligente, captará a semente de Poesia e fará com que floresçam em seu coração as mais belas rosas que eram contidas naquela semente... Eis um sugestivo exemplo:

"Se eu pintasse minha infância,
pintava, num sol de estio,
a sombra de uma ingazeira,
debruçada sobre um rio."

Eis aí, prezados leitores, um resumo da vida de Adelmar Tavares, um breve estudo de suas trovas e a citação de alguns de seus pensamentos revelados em palestras íntimas, despreocupadas. É claro que o nosso ilustre e conhecido poeta não necessitava de apresentação. Mas, cumprindo prazerosamente um dos itens da regulamentação da COLEÇÃO TROVADORES BRASILEIROS foi com imensa satisfação que reli as suas trovas e escrevi estas palavras para o seu livro. Palavras sem brilho, é verdade, mas, assim como as trovas de Adelmar, espontâneas e nascidas na profundidade de nosso coração.
G G G G G G G G G G G G G
Continua … As 100 trovas de Adelmar Tavares
G G G G G G G G G G G G G G G
Fonte:
Prefácio do Livro por Luiz Otávio.
JORGE, J. G. de Araujo e OTÁVIO, Luiz (organizadores). 100 Trovas de Adelmar Tavares. RJ: Editora Vecchi, 1959.Coleção Trovadores Brasileiros. volume 5.

Daniel Mazza (Poemas de Fim de Tarde)


A CARPIDEIRA

Na sala, emudecido, esquife intransigente,
Com a seda branca e fúnebre aconchegando
O corpanzil do morto, glacial e infando,
Em repouso cansado, exausto eternamente.

Tece preces, a esposa, pelo Miserando,
Enquanto genuflexo, o filho, penitente,
Em alta voz pranteia, sua mão tremente
A soltar do pai a gélida, segue negando.

Enlutados na fila para as despedidas:
Aproximam-se um a um, benzem-se, balbuciam
E prosseguem, por fim, com as almas recolhidas...

Num canto, em espetáculo de encenação,
Soluços teatrais, lágrima financeira,
Concentrada e calma, chora uma carpideira

PÃO E CIRCO

No Coliseu, o urro das famintas feras
O povaréu romano alvoroçava.
O circo mais o pão que alimentava
A Roma augusta das passadas eras.

Ao sinal das trombetas, os escravos
Na saliva da morte agonizavam...
Festejos na tribuna onde brindavam
Tibério César e a súcia de ignavos.

Os caninos cravados no pescoço...
Ventres rasgados expelindo a entranha...
O banquete das feras inclementes...

O brilho rubro aumentava o alvoroço...
Enquanto César, com a face estranha,
Mudo, sorria, sorrateiramente..

ODES

I

Não sei se o sonho que tenho
É o sonho que sonho.
A mesma
Chuva que irriga os vales,
Inunda as pequenas aldeias.
A lua sobre os amantes risonhos
É a mesma,
Sombria nos bosques escuros.

II

Se creres que podes:
Tenta.
Arrisca a perder-te,
Mas desbrava longe.
Arrisca à deriva,
Mas navega além do horizonte.
Melhor é a certeza da derrota
Que a vitória na possibilidade.
Se creres que podes:
Ousa.
Confia em ti.

III

As tuas esperanças
Deposita-as em ti.
As pedras do teu jardim,
Remove-as.
Planta as tuas sementes,
Varre os teus canteiros,
Rega as tuas árvores.
Não esperes que o vento
Limpe o chão do teu Outono.
Limpa-o tu. Sê teu estro.

IV

Reina sobre ti,
Mas não como um César: ergue o teu polegar.
Calígula perscruta
As viscosidades do teu corpo: reina sobre ti.
Estrangula o Iscariotes
Nas tuas mãos avarentas:
Reina sobre ti.

V

A mesma terra que calcamos
É a manta que nos recama no sono da sepultura.
Como uma brisa beijando as ramagens,
Passamos...

Após dormirmos
As folhas cinzas,
Ao pé das árvores
No Outono alheio,
Todos os anos
Ainda assim
Sobrevirão.

VI

Muitas vezes mais Judas
Do que Judas temos sido.
O beijo na face dado
Ainda hoje
Nós o damos!
Nada diferentes
De escribas e fariseus.
Esbanjamos Avarezas
E Vaidades, Vaidades.
Facilmente corrompidos
Por um punhado de moedas.
Muitas vezes mais Judas
Do que Judas temos sido.

VII

Meu coração publicano,
Corrupto cobrador de impostos...
Meu coração fariseu,
Mesquinho doutor da lei...
Meu coração soldado romano com as mãos ensangüentadas,
Pôncio Pilatos com as mãos impecavelmente lavadas,
Caifás com a consciência impecavelmente limpa,
Barrabás impecável.

Lázaro meu coração...

O ladrão
Meu coração
Na cruz.

VIII

Com a força com que abraçamos
Somos abraçados.
O beijo que pomos na face,
Simultaneamente,
Na face é-nos posto.
Das sementes do Mal plantadas,
O Mal medrará.
No espelho invejoso fitamos
Nossos olhos invejosos...

IX

Entre lobos
Lobos sejamos.
Entre ovelhas:
Ovelha.
Perante tantos Césares,
Submissos nunca.
Os oprimidos, entre nós,
Não sejam oprimidos.
Demo-nos
As mãos.

X

Melhor é a coroa na choupana
Que o esfregão no palácio.
Enfuna as tuas velas,
Conduz a tua jangada:
O parco peixe pescado
É teu.
O mar
Pertence a Deus.

XI

Aos deuses,
Nunca tarda,
A dádiva pedida...

Passem-se os anos:
Não tardará
O que nunca tarda.

Em breve,
Sobre o campo seco,
O amanhecer da chuva.

XII

Antes pelos jardins em que caminho,
Sem uma única flor,
Que caminhar por jardins floridos de outrem.

Quando fui semear
A terra não era minha...

Quando olhei para trás
Tinha virado à esquerda
Ao invés de à direita...

XIII

As lágrimas perdidas,
Na face humana
Diamantes são
Garimpados da vida...
A risada de hoje
É o soluçar de amanhã.

A mesma
Lagarta
Que hoje,
Penosamente,
Arrasta-se,
Amanhã,
Borboleta,
Graciosamente,
Voa.

XIV

Brinca enquanto ainda
Tens tempo para brincar.
A infância não é infinda
Há de chegar ainda
O tempo em que vais chorar.

O Outono em breve vem
Com as folhas murchas e pardas.
O Verão ficou mais além,
A Primavera passou também
O Inverno no peito guardas!

XV

De mim mesmo
Padrasto.
Estou farto da disciplina!
Ando
Por cima dos muros.
Salto
Das sacadas das janelas.
Da educação que me deram,
Restaram os pés descalços.
Algum dia
De mim mesmo
Pai.

A "EPOPÉIA" DA MORTE

I

Na companhia dos bichos,
Na terra que lhe foi dada,
O homem com os seus caprichos
São o resumo do nada.

Seiva das árvores altas,
A sua carne é do fruto.
O homem com as suas faltas
Paga por fim o tributo.

O homem é cálcio e carbono,
O húmus a nutrir a terra.
O seu corpo é um abono
Doado a faminta terra.

O homem é a pele...E os ossos,
Braços e rins, sangue e dedos,
Carne exalando remorsos,
Pútrida de ânsias, de medos.

O homem enriquece o solo
Como o fez a sua avó.
E repete o protocolo
Assim retornando ao pó.

E a sombra noutrora viva
Agora é raiz de um horto.
Foi a solução aditiva
Da terra o seu corpo morto.

Debaixo do chão que o cobre
O homem, servido, é a ceia.
Da terra a ceia tão nobre
Temperado com areia.

Debaixo do chão que o enterra
É o homem a comida farta
Que a fome enorme da terra
Nem os seus ossos descarta.

Debaixo dessas ramagens
O homem alimenta os milhos.
E transforma-se nas vagens
Que nutrirão os seus filhos.

Debaixo do chão que o come
O homem a vida renova.
E sobra apenas seu nome
Para, da vida, dar prova.

II

Propriedade divina,
A morte arrendou esse chão.
E eis que moureja na sina
Do homem nessa plantação.

A lida infinda da morte
É ceifar toda a arrogância,
E plantar toda a coorte
Junto com sua ganância.

III

A morte não quer passagem
Para a viagem fortuita.
E o homem não leva bagagem
Nessa viagem gratuita...

Com o seu infindo labor,
Essa Matrona infalível,
No sofrimento e na dor
Traz a benção indizível.

Com o seu infindo labor,
Essa Matrona usurpável,
No regozijo e no amor
Traz a agonia execrável.
G G G G G G G G G G G G

Fonte:
MAZZA, Daniel. Fim de Tarde. Editora Funpec, 2004.

Luiz Alberto Machado (O Poema e a Poesia)



Falar de poesia num tempo tão sem poesia é, deveras, quase falar balela. No entanto, apesar de tanta insensibilidade, tanta mediocridade, tanta barbárie, insiste-se no sentimento do ser humano na forma como realmente ele deve ser: humano.

Entenda-se que a insensibilidade, a mediocridade e a barbárie sempre se fizeram presentes no inventário humano, o que nos deixa, por conclusão, que não é nenhuma novidade resistir. Se sempre fora adversa a realidade com relação ao sentimento humano, não será agora, que tudo se redima de uma vez. A gente vai continuar resistindo mesmo que a indiferença seja plena e que os ouvidos e toda percepção humana se torne uma parede gélida de inumanidade.

Pois bem, antes de mais nada, gostaria de fazer menção ao fato de diversos estudantes solicitando a diferença entre poema e poesia. Então, aproveito tal interesse para trocar umas idéias a respeito.

Inicialmente, na tentativa de esclarecer o que é o poema, faço uso da definição dada pelo eminente escritor Assis Brasil:

"Poema é o ´objeto` poético, o texto onde a poesia se realiza, é uma forma, como o soneto que tem dois quartetos e dois tercetos, ou quatorze versos juntos, como é conhecido o soneto inglês. Um poema seria distinto de um texto ou estrofes. Quando essa nomenclatura definitiva é eliminada, passando um texto a ser apresentado em forma de linhas corridas, como usualmente se conhece a prosa, então se pode falar em poema-em-prosa, desde que tal texto (numa identificação sumária e mecânica) apresente um mundo mais ´poético` ou seja, mais expressivo, menos referente à realidade. A distinção se torna por vezes complexa. (...) a poesia pode estar presente quer no poema que é feito com um certo número de versos, quer num texto em prosa, este adquirindo a qualidade poema-em-prosa".

Já poesia, Assis Brasil define como:

"(...) uma manifestação cultural, criativa, expressiva do homem. Não se trata de um ´estado emotivo`, do deslumbre de um pôr-do-sol ou de uma dor-de-cotovelo; é muito mais do que isso, é uma forma de conhecimento intuitivo, nunca podendo ser confundido o termo poesia com outro correlato: o poema".

Daí fica claro que um é o objeto e, o outro, a manifestação. E para não ficar tão simplista, possibilitando maior amplitude, considere-se outras observações, a meu ver, pertinentes. Aristóteles, por exemplo, em sua Poética, tratou sobre o assunto:

"(...) não é ofício de poeta narrar o que aconteceu; é sim, o de representar o que poderia acontecer, quer dizer: o que é possível segundo a verossimilhança e a necessidade. (...) a poesia é algo de mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e essa o particular. (...) Daqui claramente se segue que o poeta deve ser mais fabulador que versificador; porque ele é poeta pela imitação e porque imita ações".

Sobre esta visão aristotélica, Ariano Suassuna considerou que a poesia, no sentido grego, significa criação:

"(...) como espírito criador que se encontra na raiz de todas as artes. (...) A poesia seria o espírito criador que se encontra por trás de todas as artes literárias, sejam estas realizadas através da prosa ou do verso".

Assim, poesia é "o ritmo e a imagem, principalmente a metáfora".

Ampliando mais a discussão, no que concerne ao que pensam determinados poetas do que seja, na verdade, a poesia.

Vejamos pois, o que pensa, por exemplo, Maiakovsky:

"A poesia começa onde existe uma tendência. (...) A poesia é uma indústria: das mais difíceis e das mais complicadas, mas, apesar disso, uma indústria. Aprender o ofício de poeta não é aprender o modo de preparar um tipo definido e limitado de obras poéticas, mas sim, o estudo dos meios de todo o trabalho poético, o estudo das práticas dessa indústria que ajudam a criar outros. (...) O trabalho do poeta deve ser quotidiano, a fim de melhorar a técnica, e acumular reservas poéticas".

Eliot, por outro lado, defende que:

"(...) A poesia pode ter um significado social deliberado e consciente. (...) Podemos observar que a poesia difere de qualquer outra arte por ter para o povo da mesma raça e língua do poeta um valor que não tem para os outros. (...) nenhuma arte é mais obstinadamente nacional do que a poesia (...) a poesia que é o veículo do sentimento".

E arremata: "A poesia é uma constante lembrança de todas as coisas que só podem ser ditas em uma língua, e que são intraduzíveis". E como tarefa de poeta, Eliot defende que primordialmente e sempre se leve a efeito uma revolução na linguagem, articulada com musicalidade de imagens e de sons. Pound, entretanto, acrescenta: "Cada homem é o seu próprio poeta", defendendo que ninguém será um poeta escrevendo hoje com um jeito de anos atrás e que a linguagem deve ser usada com eficiência.

Uma série de outras questões podem e devem ser abordadas, ficando, portanto, para a próxima oportunidade, uma maior observação a respeito do tema poesia.

Fontes:
Luiz Alberto Machado http://www.sobresites.com.br/
Imagem = http://www.euniverso.com.br/