segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Aparecido Raimundo de Souza (História que a Vida Escreveu)


Fazem exatamente dois anos que nenhuma pessoa de minha família aparece aqui. Estou num asilo para velhos desamparados desde que completei setenta e um anos. Sou pai de quatro filhos. Um rapaz com a primeira esposa, uma mocinha com a segunda e duas com a terceira. Por circunstâncias outras, não pude criar meu primogênito, como pretendia, desde que nasceu. De igual forma, o destino foi demasiadamente cruel também com a menina.

Depois desses casamentos fracassados, uma dezena de jovens passaram pela minha vida, mas por convicção própria achei por bem não alimentar a idéia de começar tudo outra vez. Assim, os anos correram. O tempo, bem sei, não retroage. Meus cabelos brancos refletem a velhice que pesa de maneira latente por sobre os costados. Não sou mais aquele homem cheio de forças e vitalidade, de mãos firmes, braços fortes e cabeça erguida. Meus pés quedaram-se num cansaço embaraçoso. As vistas perderam o brilho. O pouco que consigo enxergar são imagens difusas, povoadas por brancas nuvens, manchadas, porém, de um escuro estranho que fazem-me tremer de medo e pavor. A cabeça gira e mistura-se num redemoinho de coisas e fatos passados. Sofro. O coração bate, às vezes, devagar, outras descompassado. Na verdade, o coitado pulsa como se não tivesse vontade de fazê-lo. As horas arrastam-se. Os dias estendem-se pela ampla janela debruçados sobre o peitoril e desperdiçam-se numa lentidão massacrante, atormentando e ferindo a alma combalida, moída, sofrida, morta.

Ontem – Meu Deus! – ontem minha garotinha completou quinze anos!...

Por um instante fecho os olhos e viajo. Estou em sua festa de “debut”. Vejo, então, a pequena, cercada por dezenas de coleguinhas. Como ficou linda!

Não é que lhe caiu como em uma princesa o vestido branco? Tanta gente ao redor, o bolo, as velinhas, os presentes amontoados no sofá, balões de gás colorindo, bandeirinhas espalhadas por todos os cantos da sala...

Será que ela pensa em mim?

As minhas reflexões correm mais longe. Na verdade galopam. Voam. Agora chegam ao Rio de Janeiro. Vejo-me de mãos dadas com um menino. Calças curtas, pezinhos no chão, suplica-me colo. Quer um doce. Prometo comprar. E asseguro não afastar-me jamais do seu lado...

De repente minha cabeça embaralha. E quem aparece? Minha filha numero três. Pobrezinha! Essa pequena veio ao mundo marcada. Logo, ao nascer, um balde de água fria gelou minha emoção ao final dos nove meses de espera. Lábios leporinos. O rostinho, lindo, sem igual, mas um cortezinho na boquinha deformava tudo. A vida é cruel, e por vezes, quebra as certezas que carregamos. Costuma, o destino, transformar nossos sonhos em trágicas realidades. Vontades retalham-se Despedaçam em nada os caminhos mais seguros e alguém, com mão forte, alguém escondido, afasta para além dos limites do superável tudo e todos que nos são caro.

Alguns dias atrás, um companheiro de quarto (está com câncer), vendo meu semblante aflito e os olhos chorosos, sentou-se a meu lado e com a voz embargada tentou reanimar-me:

Coragem, meu amigo, coragem. Seu barco é o mesmo que o meu. Nosso rumo é lugar nenhum. O destino, idem! Mas não esqueça nunca de uma coisa: estamos aqui, unidos para o que der e vier...e como vier...

Se fosse dado a mim, neste momento, exatamente neste ponto do caminho em que suplico à Deus que me tire o ar que respiro, a vida, se nesta hora amarga caísse dos céus a chance de pedir alguma coisa, uma apenas que fosse, rogaria somente que uma boa alma colocasse no aparelho de som o Cd com a musica que fiz para minha filha de número dois, logo que nasceu. Falha-me um pouco a memória, mas a letra da canção diz mais ou menos assim:

“...Você chegou pisando de mansinho
e pela porta entreaberta vi entrar
um vendaval de flores vivas em carinho
com certeza só o amor pode nos dar
Qual borboleta flutuando pelo ar
lança as asas no azul e se agita
mostra aos raios do sol da primavera
os seus encantos de menina tão bonita”...

Fonte:
http://www.paralerepensar.com.br/aparecidoraimundo.htm

Simões Lopes Neto (A Mboitatá)


A Andrade Neves Neto

Foi assim:

Num tempo muito antigo, muito, houve uma noite tão comprida que pareceu que nunca mais haveria luz do dia.

Noite escura como breu, sem lume no céu, sem vento, sem serenada e sem rumores, sem cheiro dos pastos maduros nem das flores da mataria.

Os homens viveram abichornados, na tristeza dura; e porque churrasco não havia, não mais sopravam labaredas nos fogões e passavam comendo canjica insossa; os borralhos estavam se apagando e era preciso poupar os tições...

Os olhos andavam tão enfarados da noite, que ficavam parados, horas e horas, olhando, sem ver as brasas vermelhas do nhanduvai... as brasas somente, porque as faíscas, que alegram, não saltavam, por falta do sopro forte de bocas contentes.

Naquela escuridão fechada nenhum tapejara seria capaz de cruzar pelos trilhos do campo, nenhum flete crioulo teria faro nem ouvido nem vista para bater na querência; até nem sorro daria no seu próprio rastro!

E a noite velha ia andando... ia andando...

Minto:

no meio do escuro e do silêncio morto, de vez em quando, ora duma banda ora doutra, de vez em quando uma cantiga forte, de bicho vivente, furava o ar: era o téu-téu ativo, que não dormia desde o entrar do último sol e que vigiava sempre, esperando a volta do sol novo, que devia vir e que tardava tanto já...

Só o téu-téu de vez em quando cantava; o seu - quero-quero! - tão claro, vindo de lá do fundo da escuridão, ia aguentando a esperança dos homens, amontoados no redor avermelhado das brasas.

Fora disto, tudo o mais era silêncio; e de movimento, então, nem nada.

Minto:

na última tarde em que houve sol, quando o sol ia descambando para o outro lado das coxilhas, rumo do minuano, e de onde sobe a estrela-d’alva, nessa última tarde também desabou uma chuvarada tremenda; foi uma manga d’água que levou um tempão a cair, e durou... e durou...

Os campos foram inundados; as lagoas subiram e se largaram em fitas coleando pelos tacuruzais e banhados, que se juntaram, todos, num: os passos cresceram e todo aquele peso d’água correu para as sangas e das sangas para os arroios, que ficaram bufando, campo fora, campo fora, afogando as canhadas, batendo no lombo das coxilhas. E nessas coroas é que ficou sendo o paradouro da animalada, tudo misturado, no assombro. E era terneiros e pumas, tourada e potrilhos, perdizes e guaraxains, tudo amigo, de puro medo. E então!...

Nas copas dos butiás vinham encostar-se bolos de formigas; as cobras se enroscavam na enrediça dos aguapés; e nas estivas do santa-fé e das tiriricas boiavam os ratões e outros miúdos.

E, como a água encheu todas as tocas, entrou também na cobra-grande, a – boi guaçu - que, havia já muitas mãos de luas, dormia quieta, entanguida. Ela então acordou-se e saiu, rabeando.

Começou depois a mortandade dos bichos e a boi guaçu pegou a comer as carniças. Mas só comia os olhos e nada, nada mais.

A água foi baixando, a carniça foi cada vez engrossando, e a cada hora mais olhos a cobra-grande comia.

Cada bicho guarda no corpo o sumo do que comeu.

A tambeira que só come trevo maduro, dá no leite o cheiro doce do milho verde; o cerdo que come carne de bagual nem vinte alqueires de mandioca o limpam bem; e o socó tristonho e o biguá matreiro até no sangue tem cheiro de pescado. Assim também, nos homens, que até sem comer nada, dão nos olhos a cor de seus arrancos. O homem de olhos limpos é guapo e mão-aberta; cuidado com os vermelhos; mais cuidado com os amarelos; e, toma tenência doble com os raiados e baços!...

Assim foi também, mas doutro jeito, com a boiguaçu, que tantos olhos comeu.

Todos - tantos, tantos! que a cobra-grande comeu -, guardavam, entranhado e luzindo, um rastilho da última luz que eles viram do último sol, antes da noite grande que caiu... E os olhos - tantos, tantos! - com um pingo de luz cada um, foram sendo devorados; no princípio um punhado, ao depois uma porção, depois um bocadão, depois, como uma braçada.

E vai, como a boi guaçu não tinha pêlos como o boi, nem escamas como o dourado, nem penas como o avestruz, nem casca como o tatu, nem couro grosso como a anta, vai, o seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelos miles de luzezinhas, dos tantos olhos que foram esmagados dentro dele, deixando cada qual sua pequena réstia de luz. E vai, afinal, a boi guaçu toda já era uma luzerna,um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela e triste e fria, saída dos olhos, que fora guardada neles, quando ainda estavam vivos...

Foi assim e foi por isso que os homens, quando pela vez primeira viram a boi guaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então, de boitatá, cobra de fogo, boitatá, aboitatá!

E muitas vezes a boitatá rondou as rancheiras, faminta, sempre que nem chimarrão. Era então que o téu-téu cantava, como bombeiro.

E os homens, por curiosos, olhavam pasmados, para aquele grande corpo de serpente, transparente - tatá, de fogo - que media mais braças que três laços de conta e ia alumiando baçamente as carquejas... E depois, choravam. Choravam, desatinados do perigo, pois as suas lágrimas também guardavam tanta ou mais luz que só os olhos e a boitatá ainda cobiçava os olhos vivos dos homens, que já os das carniças a enfaravam...

Mas, como dizia:

na escuridão só avultava o clarão baço do corpo da boitatá, e era por ela que o téu-téu cantava de vigia, em todos os flancos da noite.

Passado um tempo, a boitatá morreu; de pura fraqueza morreu, porque os olhos comidos encheram-lhe o corpo mas lhe não deram substância, pois que sustância não tem a luz que os olhos em si entranhada tiveram quando vivos... Depois derebolar-se rabiosa nos montes de carniça, sobre os couros pelados, sobre as carnes desfeitas, sobre as cabelamas soltas, sobre as ossamentas desparramadas, o corpo dela desmanchou-se, também como cousa da terra, que se estraga de vez.

E foi então, que a luz que estava presa se desatou por aí.

E até pareceu cousa mandada: o sol apareceu de novo!

Minto:

apareceu sim, mas não veio de supetão. Primeiro foi-se adelgaçando o negrume, foram despontando as estrelas; e estas se foram sumindo no coloreado do céu; depois foi sendo mais claro, mais claro, e logo, na lonjura, começou a subir uma lista de luz... depois a metade de uma cambota de fogo... e já foi o sol que subiu, subiu, subiu, até vir a pino e descambar, como dantes, e desta feita, para igualar o dia e a noite, em metades, para sempre.

Tudo o que morre no mundo se junta à semente de onde nasceu, para nascer de novo: só a luz da boitatá ficou sozinha, nunca mais se juntou com a outra luz de que saiu.

Anda sempre arisca e só, nos lugares onde quanta mais carniça houve, mais se infesta. E no inverno, de entanguida, não aparece e dorme, talvez entocada.

Mas de verão, depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário.

A boitatá, toda enroscada, como uma bola - tatá, de fogo! - empeça a correr o campo, coxilha abaixo, lomba acima, até que horas da noite!...

É um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca nem aquenta a água dos manantiais; e rola, gira, corre, corcoveia e se despenca e arrebenta-se, apagado... e quando um menos espera, aparece, outra vez, do mesmo jeito!

Maldito! Tesconjuro!

Quem encontra a boitatá pode até ficar cego... Quando alguém topa com ela só tem dois meios de se livrar: ou ficar parado, muito quieto, de olhos fechados apertados e sem respirar, até ir-se ela embora, ou, se anda a cavalo, desenrodilhar o laço, fazer uma armada grande e atirar-lhe em cima, e tocar a galope, trazendo o laço de arrasto, todo solto, até a ilhapa!

A boitatá vem acompanhando o ferro da argola... mas de repente, batendo numa macega, toda se desmancha, e vai esfarinhando a luz, para emutilar-se de novo, com vagar, na aragem que ajuda.
Campeiro precatado! reponte o seu gado da querência da boitatá: o pastiçal, aí faz peste....

Tenho visto!

Fonte:
http://www.lendas-gauchas.radar-rs.com.br/boitata.htm

Ialmar Pio Schneider (Soneto II)


Eu te recordo em minha fantasia
plena do belo sobrenatural,
pois hoje representas a magia
dentro do meu viver sentimental.

Após a noite insone, surge o dia
primaveril e sempre tão banal,
quando me abate a triste nostalgia
de tua ausência, oh! mulher fatal.

Fora melhor, talvez, não ter amado
quem tanto quis, sem ser correspondido,
num momento qualquer do meu passado...

E quando me reporto à juventude,
lamento em vão o tempo despendido
em ter amado alguém mais do que pude.

CANOAS (RS) - 28./09./93

Fonte:
O Autor

Revista Veja Digitalizada (Leia Grátis!)


Link de acesso a todas as revistas Veja, editadas pela Abril nesses últimos 40 anos.

Da capa a contra-capa, incluindo todas as páginas.

É um trabalho impressionante e servirá como fonte de consulta e garimpagem de dados para efetivação de eventuais trabalhos de pesquisa.

A revista VEJA abre todo o seu acervo de 40 anos de existência na internet.

Todas as edições poderão ser consultadas na íntegra em formato digital no endereço:

http://veja.abril.com.br/acervodigital/

A revista liberou o acervo em comemoração ao seu aniversário de 40 anos.

A primeira edição de VEJA foi publicada em 11 de setembro de 1968.

O sistema de navegação é similar ao da revista em papel: o usuário vai folheando as páginas digitais com os cliques do mouse.

O acervo apresenta as edições em ordem cronológica, além de contar com um sistema de buscas, que permite cruzar informações e realizar filtros por período e editorias.

Também é possível acessar um conjunto de pesquisas previamente elaborado pela redação do site da revista, com temas da atualidade e fatos históricos.

Com investimento de R$ 3 milhões, o projeto é resultado de uma parceria entre a Editora Abril e a Digital Pages e levou 12 meses para ficar pronto.

Mais de 2 mil edições impressas foram digitalizadas por uma equipe de 30 pessoas.

O banco Bradesco patrocinou a iniciativa.

Fonte:
Carlos Leite Ribeiro. Portal CEN.

Semana Literária SESC : Leitura e Cotidiano (Programação de Cascavel/PR)

A Semana Literária consolida-se como um grande evento do Sesc Pr e acontece em todas as suas Unidades de Serviço. Este ano o tema do evento é Leitura e Cotidiano, e a escritora homenageada é Raquel de Queiroz, no centenário de seu nascimento. Convidamos a todos a participar desta intensa programação.

No Sesc Cascavel teremos uma série de atividades: mesas-redondas, contação de histórias, Estandes de Livrarias, Mostra de Cinema e inúmeros convidados.

Confira abaixo a programação:

PROGRAMAÇÃO SEMANA LITERÁRIA – SESC CASCAVEL

De 13 a 17 de setembro

Dia 13 (Segunda-Feira)

15h00 - A Letra de Raquel - Espetáculo Teatral sobre a vida e obra da escritora Raquel de Queiroz.
Élcio Di Trento.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Palestra sobre a obra O Quinze – de Raquel de Queiroz.
Prof. Dr. Mauricio Menon – Campo Mourão.
Mauricio Menon é graduado em Letras, pela Unioeste em Cascavel, especialista em Literatura Brasileira pela Unicentro, Mestre em Letras pela Universidade Estadual de Londrina e doutor em Letras pela Uel. Atualmente é professor de Língua Portuguesa e Literatura no Ensino Médio, graduação e pós graduação da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

Dia 14 (Terça-Feira)

10h00 e 14h00
– A Letra de Raquel – Espetáculo Teatral.
Élcio Di Trento.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

17h00 – Lançamento do Livro Aprendizagem e Ação Docente . Organizadora: Profª Maria Lídia Sica Szymanski – Unioeste.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público –alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Mostra: Leituras Poéticas no Cinema.
Exibição dos filmes:
Vale dos Poetas (dir.: Marcílio Brandão , BRA, 2002, 21 min.)
Wenceslau e a Árvore do Gramofone (dir.: Adalberto Muller , BRA, 2008, 15 min.)
Litania da Velha (dir.: Frederico Machado , BRA, 1997, 16 min.)
Infernos (dir.: Frederico Machado , BRA, 2006, 13 min.)
Esta mostra é uma rica experiência para a reflexão sobre poesia e adaptação para o cinema. O valor poético presente nos filmes dialoga com o valor poético dos próprios poemas, mas qual o lugar de cada um enquanto meios distintos? Os quatro filmes propostos vão fomentar essa reflexão e abrir possibilidades para muitas outras idéias.
Debate sobre os filmes após a mostra.
Mediador – Vander Colombo.
Local : Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, comerciários e público em geral.

Dia 15 (Quarta-Feira)

15h00
– O Mundo Encantado das Letras - Bate-papo com crianças.
Luiz Andrioli

O escritor fala para as crianças sobre as possibilidades do universo da leitura.
Divide com os espectadores a sua experiência de leitor e compartilha as emoções de criar histórias a partir de detalhes do nosso cotidiano. Ler é escrever a própria história, é o que se propõe neste encontro.

Luiz Andrioli é escritor e jornalista. Trabalha atualmente como apresentador, locutor e editor-chefe de TV. É cronista do telejornalismo da RICTV, Rede Record. Atuou oito anos como repórter de televisão. Pós-graduado em Cinema e mestre em Literatura com a dissertação sobre Dalton Trevisan, “O Silêncio do Vampiro” (2010). Professor universitário e ator profissional. Como escritor, teve várias peças encenadas por grupos de teatro de Curitiba, dentre elas, “Não só as Balas Matam” (2001). Autor da biografia “O Circo e a Cidade – histórias do grupo circense Queirolo em Curitiba” (2007). Para crianças, escreveu “A menina do Circo” (2009).
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Estudantes, professores e público em geral.

19h30 – Palestra: Raquel de Queiroz e o cotidiano na Literatura.
Profª Drª. Valdeci Batista de Melo Oliveira – Unioeste.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores e público em geral.

Dia 16 (Quinta-Feira)

10h00 e 15h00
– Um Fio de Histórias. Contação de Histórias.
Rosângela Janea Rauen.
Rosângela Rauen é professora de língua portuguesa em escolas da rede pública e particular e assessora pedagógica. É também contadora de histórias com atuação nas Casas da Leitura da Fundação Cultural de Curitiba, em escolas da rede pública e particular, no Programa de Leitura da Petrobrás/Leia Brasil e em eventos universitários.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-alvo: Estudantes, professores, comerciários e público em geral.

19h30 – Performance Alfabeto Móvel .
Ricardo Corona e Eliana Borges.
Ricardo Corona e Eliana Borges desde os anos 1990 fazem apresentações ao vivo de poesia e performances. Criaram duas revistas: Medusa e Oroboro. Livros: Amphibia (Portugal, Cosmorama, 2009). Cinemaginário (1999); Tortografia (2003); Corpo Sutil (2005) e Sonorizador (Livrodisco), pela editora Iluminuras. E Ladrão de Fogo, disco de poesia (2001, Medusa). Organizou a ontologia Outras Praias (bilíngüe, Iluminuras, 1998) e traduziu Joça Wolff os livros Momento de simetria (Medusa, 2005) e Máscara âmbar (Lumme, 2008), de Arturo Carrera.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Escritores, estudantes, professores, comerciários e público em geral.

Dia 17 (Sexta-Feira)

15h00
- Maria de uma rima só – Espetáculo de Contação de Histórias.
Hérica Veryano - atriz, pedagoga, arte-educadora e contadora de histórias.
O espetáculo Infantil “Maria de uma rima só” conta a história de Maria, uma menina que está sempre atrasada e nunca consegue pegar o trem. Enquanto aguarda na estação, com sua mala de viagem, Maria conta outras histórias, navegando pela cultura popular, lendas e jogos infantis. O espetáculo também traz elementos da dança e malabares, tendo como inspiração o jogo das Cinco Marias. Repleto de poesia e musicalidade, “Maria de uma rima só” consegue capturar o interesse de crianças e adultos abordando temas universais como os conflitos, perdas, esperança e superação.
Local: Sesc Cascavel – Salão Social.
Público-Alvo: Estudantes, professores, comerciários e público em geral.

*PARTICIPAÇÃO GRATUITA EM TODA A PROGRAMAÇÃO DO EVENTO*

Mais informações: 45 3225-3828

Sesc Cascavel: Rua Carlos de Carvalho, 3367.

Coordenação Geral do Evento: Simone Moura (Técnica de Atividades) e Lysiane Baldo (Técnica de Atividades).

Fonte:
SESC PR/ Cascavel

Laé de Souza (Palestra: Publiquei o meu livro! E agora?)

Palestra na 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba: Publiquei o meu livro! E agora?

No dia 26 de agosto (quinta-feira), às 19h, como parte da programação da 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba, o escritor e produtor cultural Laé de Souza irá ministrar uma palestra no Auditório da FUNDEC, dirigida a escritores e produtores culturais.

Na palestra com o título “Publiquei o meu livro! E agora?”, Laé de Souza falará sobre as dificuldades do escritor na divulgação do seu trabalho, a experiência em doze anos de projetos de incentivo à leitura e diversos aspectos práticos e legais para execução de projetos culturais subsidiados por leis de incentivo à cultura. Ao final abrirá espaço para perguntas da platéia.

Laé de Souza é coordenador do Grupo Projetos de Leitura, que atua em todo território desde 1998, e autor de vários projetos de incentivo à leitura aprovados pelo Ministério da Cultura e Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, dirigidos a diversos públicos. Só o projeto “Ler é Bom, Experimente!”, contou neste ano com mais de cem mil alunos participantes, de varias regiões do país.

Além de projetos em escolas, outros são desenvolvidos pelo grupo “Projetos de Leitura” em hospitais, grupos de terceira idade, parques, ônibus, metrô e praças públicas. O escritor é autor de obras infantis, juvenis e adultos, entre elas, Acontece..., Coisas de Homem & Coisas de Mulher, Quinho e o seu cãozinho – um cãozinho especial, Nos Bastidores do Cotidiano. São de sua autoria os projetos "Lendo na Escola", "Leitura no Parque", Viajando na Leitura", "Caravana da Leitura", "Minha Escola Lê", Dose de Leitura", entre outros.

A FUNDEC fica na Rua Brigadeiro Tobias, 73, Centro, Sorocaba. A palestra é gratuita, está aberta ao público e a inscrição será realizada no próprio local.

Mais informações podem ser obtidas nos telefones (15) 3228-6209 e 8119-2476, com Sonia ou Cintian Moraes.

A programação da 6ª Semana do Escritor e do Livro de Sorocaba está no site: www.semanadoescritor.com.br .

Fonte:
Projetos de Leitura

Antonio Cândido (Literatura e Sociedade: A Literatura na Evolução de uma Comunidade) Parte 6, final


5 — O grupo se desprende da comunidade

Esta incorporação da literatura à comunidade — que noutras partes do Brasil já se havia dado antes — e a maneira por que se processou, explicam muitos aspectos do quinto e, para este estudo, último momento, que agora vamos considerar. Trata-se do Movimento Modernista, que nesta cidade se desenvolveu e teve as suas manifestações mais características de 1922 a 1935. Foi uma profunda renovação literária, estreitamente ligada à constituição de um agrupamento criador, como era o dos estudantes românticos; não mais justaposto à comunidade, todavia, mas formado a partir dela, oriundo da sua própria dinâmica, diferenciando-se de dentro para fora — por assim dizer. No plano funcional, diríamos que corresponde à necessidade de reajustar a expressão literária às novas aspirações intelectuais e às solicitações da mudança artística em todo o Ocidente. No plano da estrutura, diríamos que foi um esforço — em parte vitorioso — para substituir a uma expressão nitidamente de classe (como a dos anos 1890-1920) por uma outra, cuja fonte inspiradora e cujos limites de ação fossem a sociedade total.

Nesta parte, estamos ao alcance da memória de gente viva, e não há necessidade, como para os períodos anteriores, de aduzir documentos e provas. Todos sabem, por exemplo, que este movimento é o único, na literatura em São Paulo, cujo início pode ser precisamente datado: começa na famosa Semana de Arte Moderna, realizada em 1922 no Teatro Municipal. Espanemos mais uma vez a imagem cediça, para dizer que o Brasil teve, ali, a sua "noite do Ernâni"… Com efeito, ali se defrontaram duas facções, uma lutando por renovar a literatura de acordo com o espírito do tempo; outra, defendendo indignada uma tradição que, em São Paulo, correspondia a algo enraizado na sensibilidade. De ambos os lados, boa-fé e energia. Do lado dos conservadores, a aprovação tácita da comunidade; mas os renovadores tinham por si a premonição dos tempos novos e (tocamos no ponto que nos concerne sobretudo) formavam um agrupamento capaz de provocar o seu advento.

No seu estudo clássico sobre SUPERORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO, procurando explicar o motivo pelo qual o tirano — que é um só — pode manter submisso o povo, — que são todos, — argumenta Simmel que todos apenas de passagem se aplicam a pensar ou agir contra a opressão, e ainda assim com uma parte mínima das suas energias, empenhadas nos interesses vários da vida; portanto, exercem uma reação desconexa e parcial. O tirano, pelo contrário, põe no ato de mandar toda a sua personalidade em todos os momentos da sua vida, de tal forma que as reações parciais encontram sempre de volta a ação total da sua energia, expressa na inteireza do sistema repressivo.

Podemos aproveitar esta explicação para dizer que, ao passo que as tendências conservadoras se ocupavam apenas eventualmente em defender o seu ponto de vista, houve em São Paulo, durante anos, um grupo que punha na ação renovadora toda a sua capacidade de criação e agressão. De tal modo, que se as suas opiniões não chegaram a substituir a literatura dominante, elas exerceram atração poderosa sobre as forças criadoras, sobretudo o que havia de vivo e promissor. Com isso, encurralaram a literatura oficial no academismo mais estéril, e abriram caminho para a literatura nova, que dominaria completamente em nossos dias.

A ação de grupo foi, portanto, decisiva. Não só da parte do bloco inicial dos modernistas, que se manteve coeso durante algum tempo, como dos subgrupos que dele se originaram, decantando os vários aspectos contidos no movimento: Verdeamarelismo, Anta, Antropofagia, grupo do Diário Nacional, da Revista Nova etc.

No começo, o referido bloco abrangia os modernistas do Rio, dos quais Graça Aranha desejava passar por chefe. Os principais dentre os paulistas eram Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Cassiano Ricardo, A. Couto de Barros, Guilherme de Almeida, Rubens Borba de Morais, Sérgio Milliet — mais tarde Antônio de Alcântara Machado. O grupo desenvolveu uma linguagem própria, e muito do que se tornou expressão oficial do movimento, e pareceu ao público hermetismo voluntariamente perverso, se explica no fundo por certas formas de intercomunicação dos seus membros. Os modismos, o estritamente pessoal de cada um, passaram ao verso e à prosa, suscitando, para os não iniciados, problemas angustiosos de exegese, como certos versos de Mário de Andrade:

E os goianos governados por meu avô,
ou
A Flandres inimaginável
E a decadência dos Almeidas.

Ou ainda certo final de capítulo do Serafim Ponte Grande, jovial e realista, carregado de sentido para os que conheciam os motivos do autor.

Além desse esoterismo que reforça a coesão interna, opondo o grupo aos outros, e à sociedade geral, os modernistas desenvolveram as famosas atitudes "futuristas": interpelações públicas, protestos, intimidação, confusão do adversário. Estabeleceram uma desnorteante mistura de valores, como a citação do Guaraná Zanotta ao lado de referências a Bilac ou Fídias. Organizaram tertúlias famosas, espécies de cerimônias confirmatórias, em fazendas e salões de amigos, em excursões distantes, — a Ouro Preto, à Amazônia.

Passaram no crivo a tradição clássica, afetando total indiferença pelos seus valores. Todavia, este aparato esotérico e exotérico não passava de blindagem do grupo para a luta, cuja finalidade real foi o trabalho aturado e profundo de revisão literária. Pode-se reconhecer a autenticidade de um escritor dessa fase pela sua identificação com a vida aparente e a vida profunda do movimento. Os que dele participaram como quem tem catapora, e os que se realizaram nele, como obra e personalidade.

Na constituição desse, ou desses agrupamentos de campanha literária, deve-se apontar a relação que mantiveram com os salões burgueses, alguns oriundos da fase anterior e que, tendo constituído atmosfera estimulante para os efeitos convencionais do Parnasianismo, forneceram também, em certos casos, ambiente para os modernos. Algumas casas da classe dominante em São Paulo os acolheram, dando-lhes deste modo não apenas amparo e reconhecimento em face da tradição, mas reforçando os vínculos entre eles, confirmando-os na sua sociabilidade própria. Houve mesmo tensões e rupturas na base do apoio ou fidelidade aos vários mecenas. Dentre tais salões deve-se mencionar a famosa Vila Kyrial, onde "Freitas Vale o magnífico", — o poeta simbolista Jacques D'Avray, — congregou sucessivamente, por mais de um quarto de século, simbolistas, parnasianos, modernistas, estabelecendo um elo profundo entre estas diversas tendências. A circunstância dos modernistas se ligarem a formas tradicionais de sociabilidade literária mostra que a estrutura social da cidade, bastante rica a esta altura, já se encontrava aparelhada para assimilar as formações divergentes, originadas pela dinâmica do seu desenvolvimento.

Esta observação nos leva a outra, de natureza comparativa. Enquanto na São Paulo romântica a literatura surgiu e encorpou como expressão de um grupo, que não encontrava manifestação possível da sua integridade no quadro das atividades sociais disponíveis; na São Paulo pós-parnasiana o grupo modernista surgiu (isto é, constituiu-se enquanto grupo) como veículo de tendências intelectuais que não podiam manifestar-se através dos grupos literários (efetivos ou virtuais) então existentes.

Prossigamos na linha comparativa. Em 1922, como em 1845, o grupo literário se constituiu em oposição consciente à comunidade, na afirmação de uma existência própria. Em 1845, porém, a oposição era entre duas visões do mundo, e por assim dizer entre duas idades — adolescência e maturidade. Em 1922, era, além disso, de uma literatura a outra — pois o que se desejava era destruir um sistema literário solidamente constituído, coisa inexistente em São Paulo ao tempo do Romantismo.

Daí o estabelecimento, no plano literário, de uma competição com os grupos que representavam o sistema oficial: jornais, salões, academias, correntes de opinião. Foi nitidamente (e isto é o seu caráter diferencial do ponto de vista sociológico) uma porfia em torno da liderança intelectual em São Paulo. Foi uma concorrência em que se empenharam os defensores de uma literatura ajustada à ordem burguesa tradicional, implicando um "gosto de classe" (dominante), fielmente servido por escritores providos de beneplácito, difundindo-se pelo exemplo por toda a pirâmide social; e os renovadores, procurando exprimir valores mais profundos, aspirações e estilos recalcados na literatura popular pelo oficialismo burguês.

Por isso, embora os escritores de 1922 não manifestassem a princípio nenhum caráter revolucionário, no sentido político, e não pusessem em dúvida os fundamentos da ordem vigente, a sua atitude, analisada em profundidade, representa um esforço para retirar à literatura o caráter de classe, transformando-a em bem comum a todos. Daí o seu populismo — que foi a maneira por que retomaram o nacionalismo dos românticos. Mergulharam no folclore, na herança africana e ameríndia, na arte popular, no caboclo, no proletário. Um veemente desrecalque, por meio do qual as componentes cuidadosamente abafadas, ou laboriosamente deformadas (é o caso de "literatura sertaneja") pela ideologia tradicional, foram trazidas à tona da consciência artística. O admirável TUPI OR NOT TUPI, do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade — mestre incomparável das fórmulas lapidares —, resume todo este processo, de decidida incorporação da riqueza profunda do povo, da herança total do país, na estilização erudita da literatura. Sob este ponto de vista, as intuições da Antropofagia, a ele devidas, representam o momento mais denso da dialética modernista, em contraposição ao superficial "dinamismo cósmico" de Graça Aranha.

Outro traço, que reforça a semelhança geral do Romantismo com o Modernismo, é a atitude de negação, que lá foi satanismo e aqui troça, piada. O humor e a chacota pertencem também à atitude romântica, e uma das suas manifestações mais típicas, A ORGIA DOS DUENDES, de Bernardo Guimarães, é um xadrez de brincadeira, melancolia e perversidade, com predomínio das duas últimas. Já o Modernismo é o movimento mais alegre e jovial da nossa literatura, — manifestado no próprio comportamento dos seus protagonistas, na sua furiosa ânsia de diversão. Lembremos O CLARO RISO DOS MODERNOS, de Ronald de Carvalho, para sugerir que a alegria foi dogma equivalente à tristeza romântica e, por isso mesmo, não raro artificial, como esta. Ambas foram norma e expressão de grupo, a que se conformavam os seus membros respectivos. Macunaíma, de Mário de Andrade, a maior obra do movimento, reflete bem esta condição; mas termina num quebranto de melancolia, que revela as correntes profundas da atitude modernista.

E agora, terminando, lembremos a analogia derradeira: como o Romantismo, o Modernismo é, de todas as nossas correntes literárias, a que adquiriu tonalidades especificamente paulistanas. Se em São Paulo não tivesse havido os escritores que houve no período clássico, no Naturalismo, no Parnasianismo e no Simbolismo, a literatura brasileira teria perdido um ou outro bom escritor, mas nada de irremediável. Se tal acontecesse no Romantismo e no Modernismo, o Brasil ficaria mutilado de algumas das suas mais altas realizações artísticas, como são a tonalidade noturna do Macário e a explosão rabelaisiana de Macunaíma, com tudo o que se organizou de fecundo em volta dessas obras culminantes. Dois momentos paulistanos, portanto; dois momentos em que a cidade se projeta sobre o país e procura dar estilo às aspirações do país todo:

Dançamos juntos no Carnaval das gentes,
Bloco pachola do "Custa mas vai!"
Mário de Andrade

* * *

Se as considerações anteriores alcançaram o objetivo, o leitor terá obtido uma rápida visão da literatura nas suas relações com a comunidade paulistana. Terá visto que ambas se explicam e se complementam, se as quisermos ver solidariamente.

Com efeito, os cinco momentos mostram cinco maneiras diversas de associação dos escritores, de participação dos mesmos na vida social, de ajuste da expressão à dinâmica dessas relações e sua influência nelas.

A princípio, uma cidade em que não há condições para a vida organizada da inteligência, mas onde há alguns indivíduos animados do desejo de exprimir os valores locais. É o primeiro e vago esboço de uma literatura paulistana, definida pelo encontro de poucos intelectuais com os valores tradicionais da comunidade, já socialmente amadurecidos, mas ainda não simbólica e intelectualmente elaborados.

Decênios mais tarde, vemos desenvolver-se um agrupamento que permite a atividade literária permanente. Ele pertence à cidade, está demograficamente integrado nela, mas lhe é espiritualmente alheio. Não possui forças para elaborar uma expressão original, mas dá lugar a certas tendências que floresceriam mais tarde.

Em seguida, encontramos o corpo estudantino já estruturado e solidamente justaposto à cidade. A sua duração, a evolução das formas de sociabilidade, que lhe são próprias, deram lugar a uma atmosfera espiritual altamente condutora, que o segrega da comunidade. Os aspectos satânicos do Romantismo se casam admiravelmente a estas condições, e surge pela primeira vez uma literatura de tonalidade paulistana — expressão de um grupo que é corpo estranho na pequena cidade.

Mas esta cresce, e a moda romântica passa. O aumento de densidade demográfica e social abre novas possibilidades de ajuste dos moços, e deste modo rompe a sua sociabilidade hermética. As novas tendências literárias acentuam o caráter comunicativo da palavra, surgem escritores que não dependem da Faculdade de Direito. A literatura e os escritores se integram na comunidade. Como a sociedade é de classes, constitui-se uma literatura convencional, ajustada aos padrões de refinamento e inteligibilidade da classe dominante, cujo prestígio garante a sua difusão pelas outras camadas.

Ora, nessas condições, a literatura passa de tal modo a ser um elemento da ordem social, que não se sente nela a vibração e a receptividade em face das novas sugestões da vida, em constante fluxo. Daí um novo movimento, para lhe dar amplitude ainda maior, fundando-a, não no gosto e no interesse de um limitado setor da sociedade, mas na vida profunda de toda esta, na sua totalidade. O Modernismo completa o processo iniciado na segunda metade do século XVIII, quando os seus grupos revolucionários procuram alargar o âmbito da criação artística, englobando os aspectos recalcados da sociedade e da cultura nacional. É o segundo momento em que a cidade de São Paulo contribui com algo próprio ao patrimônio comum do país.

Um grupo virtual, bruxuleando na cidade indiferente; um grupo ordenado, estabelecendo a tradição literária; um grupo ordenado e vivo, criando uma expressão à margem da cidade; a cidade absorvendo este grupo e chamando a si a atividade literária, que se ordena pelos padrões eruditos da burguesia culta; da cidade surgindo um grupo que rompe esta dependência de classe e, quebrando as barreiras acadêmicas, faz da literatura um bem de todos. Há uma história da literatura que se projeta na cidade de São Paulo; e há uma história da cidade de São Paulo que se projeta na literatura.
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Fonte:
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade. 9. ed. RJ: Ouro Sobre Azul, 2006.

domingo, 22 de agosto de 2010

22 de Agosto (Dia do Folclore)

O Folclore Brasileiro

Imagem = Neli Neto
O folclore brasileiro é um conjunto de mitos, lendas, usos e costumes transmitidos em geral oralmente através das gerações com a finalidade de ensinar algo, ou meramente nascido da imaginação do povo. Por ser o Brasil um país de dimensões continentais, possui um folclore bastante rico e diversificado e suas histórias enaltecem o conhecimento popular e encantam os que as escutam.

O folclore brasileiro, apesar de ter raízes imemoriais, só começou a receber a atenção da elite nacional em meados do século XIX, durante o Romantismo. Naquele momento, acompanhando uma onda de interesse pela cultura popular que crescia na Europa e nos Estados Unidos, alguns estudiosos brasileiros como Celso de Magalhães e Sílvio Romero passaram a pesquisar as manifestações folclóricas nativas e publicar estudos sistemáticos [1]. Ao mesmo tempo, diversos artistas cultos passaram a empregar elementos da cultura popular na criação de obras destinadas aos círculos ilustrados, como parte de um projeto, estimulado e desenvolvido pelo governo de Dom Pedro II, de construção de um corpo de símbolos nacionalistas que poderia contribuir para a afirmação do Brasil entre as nações civilizadas. As classes superiores nunca foram inteiramente livres da influência da cultura popular, mas obras como por exemplo I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias, e a música de Luciano Gallet e Alexandre Levy deram a temas do folclore brasileiro um papel de destaque na arte culta, e desde então o interesse pelo assunto só cresceu, e em várias frentes, dando origem a numerosas obras de arte, estudos literários e pesquisas científicas, com vasta bibliografia local e atraindo também a atenção internacional.

O resultado disso é que atualmente o folclore brasileiro se encontra em uma posição privilegiada. Além de ser a base alimentadora de boa parte do turismo cultural do país, se tornou instrumento de educação nas escolas e está protegido por lei, sendo considerado um bem do patrimônio histórico e cultural do Brasil. A Constituição protege o folclore através dos artigos 215 e 216, que tratam da proteção do patrimônio cultural brasileiro, ou seja, "os bens materiais e imateriais, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira". Os órgãos estatais responsáveis pelo estudo, proteção e divulgação do folclore nacional são a Comissão Nacional de Folclore, ligada à UNESCO e ao Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura, e responsável pela elaboração da Carta do Folclore Brasileiro, e o Centro Nacional de Folclore e Cultura Popular, ligado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

Por outro lado, como se observa em outras partes do mundo, o folclore brasileiro está experimentando modificações importantes em virtude do apelo turístico, e da influência dos novos meios de comunicação de massa e das novas tecnologias de registro e difusão de informações, ocasionando a descaracterização de muitos fatos folclóricos e sua transformação em espetáculos de massa. Essa transformação cultural está obrigando os pesquisadores a rever seus conceitos e métodos de estudo dentro de uma perspectiva interdisciplinar mais ampla e mais livre de preconceitos etnocêntricos, incorporando os avanços recentes da ciência e da tecnologia.

Enlogação folclórica

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Música

Caracteriza-se pela simplicidade, monotonia e lentidão. Sua origem pode estar ligada a uma música popular cujo autor foi esquecido ou pode ter sido criada espontaneamente pelo povo. Observa-se a música folclórica sobretudo em brincadeiras infantis, cantos religiosos, ritos, danças e festas.

São exemplos:

cantigas de roda;
acalantos;
modinhas;
cantigas de trabalho;
serenatas;
cantos de velório;
cantos de cemitério.

Danças e festas

As danças acompanham as músicas em vários rituais folclóricos, sendo as principais danças folclóricas brasileiras samba, baião, frevo, xaxado, maracatu, tirana, catira, quadrilha.

As principais festas são Carnaval, Festas juninas, Festa do Rosário, Festa do Divino, Congado e as Cavalhadas.

Linguagem

As principais manifestações do folclore na linguagem popular são as seguintes:

Adivinhações: também chamados de adivinhas. Consistem em perguntas com conteúdo dúbio ou desafiador.
Exemplo:

O que é o que é?

Está no meio do começo, está no começo do meio, estando em ambos assim, está na ponta do fim?

Branquinho, brancão, não tem porta, nem portão?

Uma árvore com doze galhos, cada galho com trinta frutas, cada fruta com vinte e quatro sementes?

Uma casa tem quatro cantos, cada canto tem um gato, cada gato vê três gatos, quantos gatos têm na casa?

Altas varandas, formosas janelas, que abrem e fecham, sem ninguém tocar nelas?

Respostas:
A letra M
Ovo
Ano, mês, dia, hora
Quatro
Olhos

Parlenda: são palavras ordenadas de forma a ritmar, com ou sem rima.

Provérbios: ditos que contém ensinamentos.
"Dinheiro compra pão, mas não compra gratidão."
"A fome é o melhor tempero."
"Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão."
"Pagar e morrer é a última coisa a fazer."

Quadrinhas: estrofes de quatro versos sobre o amor, um desafio ou saudação.

Piadas: Piada ou Anedota é uma história curta de final geralmente surpreendente e engraçado com o objetivo de causar risos ou gargalhadas (ou sensação de) no leitor ou ouvinte. É um tipo específico de humor que, apesar de diversos estilos, possui características que a diferenciam de outras formas de comédia.

Literatura de Cordel: livrinhos escritos em versos, no nordeste brasileiro, e pendurados num barbante (daí a origem de cordel), sobre assuntos que vão desde mitos sertanejos às situações social, política e econômica atuais.

Frases prontas: frases consagradas de poucas palavras com significado direto e claro.

Frase de pára-choque: Trabalho com minha família para servir a suaFrases de para-choque de caminhão: frases humorísticas ou religiosas que caminhoneiros pintam em seus pára-choques.

Trava-Língua: É um pequeno texto, rimado ou não, de pronunciação difícil. Podemos definir os trava línguas como frases folclóricas criadas pelo povo com objetivo lúdico (brincadeira). Apresentam-se como um desafio de pronúncia, ou seja, uma pessoa passa uma frase difícil para um outro indivíduo falar. Estas frases tornam-se difíceis, pois possuem muitas sílabas parecidas (exigem movimentos repetidos da língua) e devem ser faladas rapidamente. Estes trava línguas já fazem parte do folclore brasileiro, porém estão presentes mais nas regiões do interior brasileiro.

Usos e costumes

Neste campo inclui-se itens a respeito da alimentação, cultivo, vestuário, comportamento, etc, de um povo de uma região, que tem costumes de ir a vários lugares.

Brinquedos e brincadeiras

Os brinquedos são artefatos para serem utilizados sozinho, como a boneca de pano, o papagaio (pipa), estilingue (bodoque), pião , arapuca , pandorga, etc.

As brincadeiras envolvem disputa de algum tipo, seja de grupos ou individual, como o pega-pega, bolinha-de-gude, esconde-esconde, resgate, nunca 3, pique-bandeira, etc.

As brincadeiras se modificam de acordo com sua região, pode ser mudar o nome ou então a forma de brincar.

Algumas lendas, mitos e contos folclóricos do Brasil:

Boitatá - Representada por uma cobra de fogo que protege as matas e os animais e tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza. Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560. Na região nordeste, o boitatá é conhecido como "fogo que corre".

Boto - Acredita-se que a lenda do boto tenha surgido na região amazônica. Ele é representado por um homem jovem, bonito e charmoso que encanta mulheres em bailes e festas. Após a conquista, leva as jovens para a beira de um rio e as engravida. Antes de a madrugada chegar, ele mergulha nas águas do rio para transformar-se em um boto.

Caipora - uma entidade da mitologia tupi-guarani. É representada como um pequeno índio de pele escura, ágil, nu, que fuma um cachimbo e gosta de cachaça.

Chupa-cabra - é, supostamente, um animal desconhecido para a zoologia que mata sistematicamente animais rurais em regiões da América, como Porto Rico, Flórida (Estados Unidos), Nicarágua, Chile, México e Brasil. O nome da criatura deve-se à descoberta de várias cabras mortas em Porto Rico com marcas de dentadas no pescoço e o seu sangue alegadamente drenado. Esta lenda moderna não é autóctone do Brasil e sim uma assimilação de lendas hispânicas divulgadas com fervor até pela mídia norte-americana.

Cuca - um dos principais seres mitológicos do folclore brasileiro. Diz a lenda que era uma velha feia na forma de jacaré que rouba as crianças desobedientes.

Curupira - Assim como o boitatá, o curupira também é um protetor das matas e dos animais silvestres. Representado por um anão de cabelos compridos e com os pés virados para trás. Persegue e mata todos que desrespeitam a natureza. Quando alguém desaparece nas matas, muitos habitantes do interior acreditam que é obra do curupira.

Lobisomem - Este mito aparece em várias regiões do mundo. Diz o mito que um homem foi atacado por um lobo numa noite de lua cheia e não morreu, porém desenvolveu a capacidade de transforma-se em lobo nas noites de lua cheia. Nestas noites, o lobisomem ataca todos aqueles que encontra pela frente. Somente um tiro de bala de prata em seu coração seria capaz de matá-lo.

Iara - Encontramos na mitologia universal um personagem muito parecido com a mãe-d'água : a sereia. Este personagem tem o corpo metade de mulher e metade de peixe. Com seu canto atraente, consegue encantar os homens e levá-los para o fundo das águas.

Mula-sem-cabeça - uma mulher, virgem ou não, que tivesse coito com um padre católico, se transformaria em Mula-sem Cabeça. Outra versão é que, se um padre engravidasse uma mulher e a criança fosse do sexo feminino viraria mula-sem cabeça e se fosse menino seria um lobisomem.

Negrinho do Pastoreio - lenda meio africana meio cristã, contada por defensores do fim da escravidão. A virgem Maria aparece para um menino escravo que é espancado pelo dono por ter perdido um cavalo baio. Com ela, o cavalo volta e o negrinho foge com toda a tropa do dono.

Corpo-seco - É uma espécie de assombração que fica assustando as pessoas nas estradas. Em vida, era um homem que foi muito malvado e só pensava em fazer coisas ruins, chegando a prejudicar e maltratar a própria mãe. Após sua morte, foi rejeitado pela terra e teve que viver como uma alma penada.

Pisadeira - É uma velha de chinelos que aparece nas madrugadas para pisar na barriga das pessoas, provocando a falta de ar. Dizem que costuma aparecer quando as pessoas vão dormir de estômago muito cheio.

Mapinguari - Seria uma criatura coberta de um longo pelo vermelho vivendo na Floresta Amazônica. Segundo povos nativos, quando ele percebe a presença humana, fica de pé e alcança facilmente dois metros de altura. Seus pés seriam virados ao contrário, suas mãos possuiriam longas garras e a criatura evitaria a água, tendo uma pele semelhante a de um jacaré.

Mãe-de-ouro - Representada por uma bola de fogo que indica os locais onde se encontra jazidas de ouro. Também aparece em alguns mitos como sendo uma mulher luminosa que voa pelos ares. Em alguns locais do Brasil, toma a forma de uma mulher bonita que habita cavernas e após atrair homens casados, os faz largar suas famílias.

Saci Pererê - O Saci-Pererê é representado por um menino negro, que tem apenas uma perna. Está sempre com seu cachimbo, e com um gorro vermelho que lhe dá poderes mágicos. Vive aprontando travessuras e se diverte muito com isso. Adora espantar cavalos, queimar comida e acordar pessoas com gargalhadas. A lenda também diz, que o Saci tem o poder de andar dentro de redemoinhos de vento, e folhas secas.

Vitória Régia - Uma índia que queria tanto encontrar Jaci (a lua) se engana com seu reflexo e se afoga no rio. Compadecida, Jaci a transforma na vitória-régia, a estrela das águas.

CRENÇAS E SUPERSTIÇÕES

SABENÇA: sabedoria popular utilizada na cura de doenças e solução de problemas pessoais através de benzeduras.
CRENDICE: crença absurda, também chamada de ablusão.
SUPERSTIÇÃO: explicações de fatos naturais como consequências de acontecimentos sobrenaturais.

ARTE E ARTESANATO

Compreende uma ampla área, que se estende desde a culinária até o artesanato propriamente dito. Baseiam-se em técnicas rudimentares de produção e utilizam-se de matéria-prima natural como madeira, ossos, couro, tecido, pedras, sementes, entre outros.

Fonte:
Wikipedia

Ialmar Pio Schneider (O Folclore Gaúcho)

Imagem por Lucia Aragão
Aqui no Rio Grande do Sul, o folclore, considerado como ciência do povo, termo que foi pela primeira vez empregado pelo arqueólogo inglês G. J. Thoms, originando-se de Folk, povo, e lore, ciência, em 22 de agosto de 1846, portanto, há cento e cinqüenta e dois anos passados, é sobremaneira cultuado, notadamente nos Centros de Tradições Gaúchas, já difundidos, segundo me consta, por vários estados do país e até no exterior. O que mais impressiona é o amor ao torrão natal, ao pingo, à china, que o gaúcho demonstra onde quer que se encontre, e deixa extravasar através de versos e toadas nas tertúlias e fandangos galponeiros. Seja no pontear de um violão, cantando uma milonga, ou no toque de uma cordeona ou bandônio, num xote bem largado, é que o gaudério se diverte e procura esquecer os reveses da vida nos braços de uma chinoca querendona. Também mostra sua destreza na dança da chula.

Mas o folclore gaúcho é deveras portentoso e abrange, além do lazer, os costumes, crendices populares, superstições e até práticas médicas de curandeiros, velhos pajés, parteiras de campanha, benzedeiras de cobreiros, costura de rendidura (hérnia), etc. São herança dos nativos, e povoadores açorianos e castelhanos que se mesclaram para formar a estirpe gaúcha.

Bem acentuados e conhecidos temos os mitos e lendas, tais como as do Negrinho do Pastoreio, A Salamanca do Jarau e A Mboitatá e muitos outros. Discorrendo sobre as Lendas do Sul, assim registra o ínclito mestre folclorista gaúcho Augusto Meyer, que foi membro da Academia Brasileira de Letras, em seu livro GUIA DO FOLCLORE GAÚCHO - Gráfica Editora Aurora, Ltda - RIO - 1951, pág. 96: “O único mito realmente popular, com raízes profundas na tradição gaúcha, é o do Negrinho do Pastoreio; é também o único de pura cepa rio-grandense, livre de qualquer influência gringa.” Mais recentemente, o erudito folclorista gaúcho Antonio Augusto Fagundes, em seu livro MITOS E LENDAS DO RIO GRANDE DO SUL - Martins Livreiro-Editor - Porto Alegre - 1992, num trabalho muito bem elaborado, desenvolveu o assunto, abrangendo nosso Estado, externando de modo cabal o seu conhecimento e assim se expressando, magistralmente, no final do prefácio: “Há muito amor nestes estudos, amor pelo povo, que é uma forma de amarmos a nós mesmos. O Folclore é a ciência do amor, por isso eu me fiz folclorista.”

Muito expressiva é a colaboração afro-brasileira para com o folclore gaúcho, representada, principalmente, pelas Congadas que se realizavam próximo ao litoral, em Santo Antônio da Patrulha, abrangendo Conceição do Arroio (hoje Osório), Palmares e Morro Alto, como bem explica Augusto Meyer, em seu livro acima citado, à pág. 60.

Resta acrescentar as contribuições dos imigrantes ao folclore gaúcho e que não foram poucas. Os alemães trouxeram o Kerb, o jogo de bolão, as “bandinhas” e os italianos com as festas paroquiais nas igrejas católicas, a vindima, o jogo da móra, da bocha, e as suas maravilhosas melodias.

É oportuno lembrar que a riqueza de um povo também se mede pela cultura de suas tradições.

(Publicado no Diário de Canoas em 19-08-1998)

Fontes:
O Autor