domingo, 12 de setembro de 2010

Igor Martins de Menezes (O Imortal Kalymor)


A busca por um amor perdido pode levar à imortalidade?

A cidade é Florianópolis, o lugar é a Catedral Metropolitana. Definir os acontecimentos desta noite não é tarefa fácil. A princípio um homem comum, atormentado como também um homem comum, deseja uma confissão. Expor a um padre seus pecados, na ânsia de que Deus possa estar ouvindo. Pecados que ele cometeu por causa de seu amor perdido. Crimes contra outros e contra si mesmo. E ele se perdeu no abismo de sua própria amargura.

RESENHA

_ “Quem diria que um dia eu estaria do outro lado do mundo? Quem diria que existiria o outro lado?” Lembro de ter ouvido este pensamento ecoando pelas paredes de meu apartamento, assim que ele cruzou a porta da frente. Encharcado pela forte chuva que caía naquela noite de carnaval, onde pelas ruas tomadas de foliões perseguia sorrateiro uma de minhas crias. Palavras simples em singelas frases, que certamente qualquer pessoa diria, sempre que chegasse a um lugar completamente novo. Mas, pronunciada por aquele ser peculiar, o sentido era muito, mas muito mais abrangente...

Uma busca frenética por uma vida não ocorrida. Um deus com o poder de gritar, mas que apenas sussurra. Um oceano de possibilidades, movido por uma simples poça. Estas seriam uma das definições mais plausíveis para Hans Kalymor. Um universo mensurável. Uma montanha com o ideal de uma simples pedra. Uma grandiosidade reduzida. Sim, reduzida, mas reduzida a quê? Reduzida por quê? Isto me assolou por um breve momento, mas, como poucas coisas neste mundo me intrigam, o instante logo passou. Deduzi, então, o que mantinha aquele pássaro preso ao ninho de seus medos. O que lhe prendia em sua incoerente inferioridade. Uma contradição, onde o mais sublime dos sentimentos fora capaz de marginalizar um homem. Duas facetas de um anseio, com extremos mais opostos que o céu e o inferno. Onde quem o tem, possui livre acesso a qualquer um deles...

E esse sentimento é, logicamente, o amor...

Lá estava ele então, a personificação do amor. Em sua forma mais doentia, mais destruída. Um homem, mais morto do que vivo, tanto em carne como em alma. Tão maravilhosamente perfeito para mim. Encantei-me também por seu apetite voraz para com as curiosidades distintas de meus aposentos. Cálices, criaturas empalhadas, livros. Quadros... Olhos que farejavam. Isto a eternidade lhe permitiu desenvolver com afinco. Talvez por isso contei-lhe todos meus segredos. E talvez por isso hoje ele detenha, simples e inteiramente, o conhecimento absoluto...

Então, depois de longos anos, evidentemente curtos para mim, vejo-o novamente. Desta vez saindo de uma catedral. Está próximo do amanhecer e minha condição não me permite ficar aqui à espera desse fenômeno. Eu até que poderia, mas é algo que não me agrada. A mesma capa, o mesmo caminhar arrastado. A mesma dor. Mas agora seus passos estão lentos e confusos, quase tímidos. Desta forma ele desce toda a escadaria. No final, se vira, fitando a catedral com olhos maravilhados de uma criança. E de longe eu ouço um “obrigado”. Seus ombros, então, não mais pesam. Sua dor se esvai como chuva em bueiro. E sinto sua alma, pela primeira vez, sorrir. Hans Kalymor, o filho que não tive, a cria que não me pertenceu, teria finalmente encontrado o fim de sua eterna busca? Leio seu pensamento novamente, assim como o fiz em meu apartamento há alguns anos. E descubro tudo o que ocorreu. Daria um excelente conto. A narrativa de uma eternidade em uma simples madrugada...

Este é apenas mais um dia trivial de nosso tempo. Na verdade, mais uma noite trivial. A cidade é Florianópolis, o lugar é a Catedral Metropolitana. Definir os acontecimentos desta noite não é tarefa fácil. A princípio um homem comum, atormentado como também um homem comum, deseja uma confissão. Expor a um padre seus pecados, na ânsia de que Deus possa estar ouvindo. Pecados todos que giram em torno do amor. Poderiam então, ou sequer deveriam, ser chamados pecados? Eis o amor, levando ao céu e ao inferno... a chave-mestra de dois distintos aposentos. Ele entrou no início desta noite, acanhado e temeroso. Por séculos não se confessava, literalmente. A catedral o atormentou logo em sua chegada, como se ele fosse um insulto, uma afronta. E realmente o era, pois aquele templo de paz estava sendo visitado pelo maior de todos os pecadores. Era o que ele pensava, o que julgava ser. A dor do remorso aumenta consideravelmente o sentimento de culpa. Acho isso uma tolice, mas infelizmente é uma verdade, até mesmo em seres superiores como ele. Mas não vou meditar sobre isso agora. Vou apenas me deliciar com as lembranças que extraí de sua mente neste instante...

“_ Padre! Faz muito que não venho num lugar como este. E só hoje reuni forças para aceitar meu castigo. O que devo fazer?

_ Conte-me sua historia, meu amigo!_ Diz o padre_ Deus está lhe ouvindo e pronto para perdoá-lo por qualquer pecado que tenha feito. Apenas abra seu coração e ele abrirá seus braços.

_Acredita que ele esteja ouvindo? Acredita mesmo na igreja, nos santos e nos anjos? Acredita na sua fé?

_Se eu não acreditasse estaria aí no seu lugar agora. E, se você também não acreditasse, este lugar estaria vazio.”

Assim eles começaram. Visivelmente Hans estava receoso, e logo desejou uma espécie de afronta com o padre. Uma defesa instintiva, um ataque na hora do medo.

“_Meu nome é Hans Kalymor, filho de Carlos e Simone Kalymor. Ambos cristãos que morreram em nome de Deus. Não sei como foi. Era muito pequeno e foi só o que me disseram. O lugar era uma planície ao leste do reino de Yarkan, na atual Eslováquia. O ano, bem, não vá se assustar, padre, 1196 depois de Cristo.”

Isto foi um choque...

“_Como disse, a planície era linda. Vivíamos em barracas ou casas construídas para logo serem abandonadas. Éramos nômades. Uma tribo de nômades que pregava a palavra de Deus e os ensinamentos de Cristo por todo o reinado. Não éramos a única tribo de cristãos que existia. Havia dezenas. As pessoas gostavam das palavras e da felicidade que passávamos para elas. Claro que existiam outros credos e seus seguidores não gostavam nem um pouco de nós. Mesmo assim continuávamos. Vivíamos da hospitalidade do povo, da caça, da venda de artesanato e da luz dos céus.

Quando meus pais morreram, um grande amigo deles me criou. Altair, clérigo de Deus. Era assim que chamavam os atuais padres. Ele não tinha filhos, e viu em mim uma possível família. Eu o via da mesma forma.”

Altair. Há muita consideração quando ele pensa nesse nome. Muito carinho e devoção. Mas também aí reside um de seus maiores pecados...

“Observava a alegria dos pais quando os filhos traziam a primeira presa. Ficava um pouco triste. Não tinha para quem trazer aquilo como as outras crianças tinham. Lembrava do dia da colina e sempre que conseguia caçar algo, levantava em direção ao sol. Mostrava minha presa, de alguma forma, para meus pais.”

Um órfão. A dor de uma criança sem os pilares de uma família. Projetando em um elemento grandioso suas imagens. Representando a importância que tinham para ele tanto quanto o sol para o mundo. Desta forma invejava os outros. E a inveja o isolou.

“Certa vez no almoço as crianças estavam jogando restos de comida umas nas outras e um pouco bateu no meu rosto. Todos riram sem parar. Fiquei muito bravo. Até que uma menina, que eu jamais havia conversado antes, tocou em meu rosto, me pedindo desculpas. Por um instante me paralisei. Não sabia por que, mas não consegui dizer uma única palavra. Ela limpava meu rosto e eu apenas observava. Depois disso, olhei para Altair. O velho clérigo já estava me olhando. E, por baixo daquela curta e grossa barba, pude ver um sorriso.”

Até este momento. Quando conheceu a pequena e doce Marina...

Mas no que me delicio mesmo não são nesses momentos. Prefiro me ater na afronta. Nas tentativas de Hans de querer confundir e ludibriar o padre. A história alucinante de seu passado, habitado por centauros, minotauros e dragões. E sobre o que ele mesmo era de fato.

“_E como posso ter mais de 800 anos? Seria um imortal? Um elfo? Um vampiro? Talvez só um louco qualquer?

_Um imortal? Não. Pois não temeria o julgamento de Deus a ponto de estar num confessionário. Um elfo? Bem, desconheço essa espécie, mas creio que não são cristãos. Um vampiro? Jamais entraria aqui. Um louco? Não levantaria essa hipótese, se realmente o fosse.”

E também em diversos outros pontos...

“O clérigo falava algo sobre anjos. Dizia se tratarem de seres celestiais, que existiam cada um com um propósito. Uma missão. Não como um fardo, ou uma responsabilidade que representasse uma espécie de “peso” em suas costas. Mas um motivo que justificasse sua existência. Não eram seres que devessem ser venerados como semideuses. Mas, no meu entender, criaturas que deveriam ser idolatradas pelo que representavam. Mesmo que muitas vezes não pudéssemos compreender o que representavam. E também o que eram. Anjos, segundo Altair, eram a personificação de uma causa, que talvez fosse inatingível para um mortal, mas que deveria ser alcançada em benefício dos próprios mortais. Como um guia para uma pessoa perdida e sozinha. Talvez mais como uma correção de um fato que estivesse seguindo um curso errado. No caso dos mortais, uma força para que não se perdessem de seu destino.”

Mesmo que eu busque com afinco por estes questionamentos, sua mente se perde em lembranças. E o sentimento de amor sempre retorna...

“Começava a ver o mundo com outros olhos. Mais precisamente, começava a ver Marina com outros olhos. Ela encantava-me. Sua simpatia, sua beleza. Responsabilidades na tribo limitavam nossas brincadeiras juntos. Mas quando tínhamos um tempo para nós, aproveitávamos da melhor maneira possível. A alegria de estar com ela há muito já havia mudado de nome. Passou a se chamar amor. Meu primeiro. Meu único. Minha semente que germinava em meu coração.”

Este amor então se estendeu. À medida que Hans tornava-se um homem...

“Como foi lindo amar. Como foi puro. Como foi saboroso. Nem o mais poderoso dos elfos pode imaginar uma magia como esta. Nenhum mago pode replicá-la. O amor é a alma da vida. E sem ele, não passamos de corpos animados, que vagam numa eterna busca por um sentido. Poucos homens têm isso na vida. E poucos homens, no fardo de seu machismo, se permitem isso. Há homens que têm tudo, mas não têm amor. E há homens que nada têm, mas possuem um amor. Qual deles é o mais rico? Qual deles é o mais feliz? Qual deles possui o maior sorriso? Se perguntarmos para o ego, ele dirá o primeiro. Mas, e se perguntarmos para o coração? E se perguntarmos para a vida?”

Quase posso sentir seu coração pulsar novamente quando se lembra deste momento. De como acreditou que sua união com ela seria eterna...

“Levantei seu véu em seguida. Retirando a última barreira que nos afastava. Com um beijo concretizamos nossa união. Deus, em seu pergaminho celestial, deu mais um ponto, a partir do qual iniciaria um novo parágrafo.

Abraçados nos deitamos. Ela respirava ofegante. Seus músculos estavam todos contraídos. Seus olhos cheios de lágrimas. Apertava-me forte, e quanto mais seu medo crescia, mais forte era seu abraço. Mesmo com toda delicadeza possível, nós, na condição bruta de homens, jamais saberemos como tocar em uma mulher. Jamais entenderemos tudo o que seus olhos nos pedem. Tudo o que a força de seu suave toque nos quer dar. A expressão de seus corpos, quando o tocamos, jamais será corretamente descrita. Palavras não definem a divindade de uma mulher. O seu colorido jamais será pintado. Sua forma jamais será esculpida. Quando as tocamos, mesmo com o mais leve dos toques, sempre será como um urso acariciando uma borboleta. Como um relâmpago beijando o chão. Ainda lembro do seu calor. Do seu envolvente cheiro. Do suor lavando meu corpo, como um batismo em água benta. Não havia céu, ou terra, ou festa, ou barraca. O mundo não estava ao nosso redor. Havia apenas ela e eu. E a soma de nossas vidas.”

Se felicidade para os mortais é o amor, o que lhes resta quando o perdem?

“Ele a segurava pelos cabelos com uma das mãos. Enquanto a outra alisava seu pescoço, retirando delicadamente uns poucos fios que ali restavam, como numa espécie de ritual. Eu não sabia o que fazer. Correr em sua direção me parecia a atitude mais óbvia, mas o vampiro poderia atacá-la ao ver minha aproximação. Por outro lado, ele poderia atacá-la a qualquer momento, já que ninguém o ameaçava. O que fazer? Que reação tomar perante essa situação? Enquanto eu corria, amaldiçoando minhas pernas por não poderem fazer mais, por não serem mais rápidas. Enquanto eu olhava o rosto de Marina, enquanto eu era dominado pela sensação de incapacidade. Enquanto percebia que de nada valiam as súplicas, ele, num rápido movimento, expondo seus enormes dentes caninos, a mordeu.”

Eis o início de sua dor. O começo de seus sórdidos pecados. Sua queda. Sua esposa não apenas morta, mas transformada. Convertida na mesma forma bizarra que o monstro que a atacou. Situação esta ainda mais terrível. Pois, como todo monstro, não poderia ser aceita ali. E a morte veio mais uma vez para ela. Conseqüentemente também para ele...

“_Marina, _comecei _olhe nos meus olhos. Veja bem fundo, e somente eles. Quero que, não importa o que aconteça, acredite em mim. Saiba que tudo isso não passou de um sonho. Um terrível pesadelo, e somente eu estou aqui.

_Nós morremos, não foi? Morremos, e nossos espíritos estão se despedindo. Não sei o que está acontecendo, mas acho que faço alguma idéia. Não sei se eu morri, ou se morremos ambos. Apenas sei que algo não está bom. E acho que tenho que falar algumas palavras. Você foi a coisa mais maravilhosa que me aconteceu. O homem da minha vida. Quem sempre sonhei para seguir ao meu lado. Sou grata a Deus por ter me concedido esta oportunidade. Sou a mulher mais completa deste mundo, pois tenho o mais verdadeiro dos amores. Desculpe se fui a culpada disso que ocorreu. Mas obrigada por estar comigo numa hora como esta. E em todas as outras que você esteve. Para onde quer que nossas almas possam ir, por mais distantes que fiquem, eu sempre vou amar você, meu querido Hans Kalymor!

_Há um pequeno espaço no tempo. Uma brecha onde não estamos totalmente vivos nem totalmente mortos. Um pedaço em que nos esquecemos de viver e não nos lembramos de morrer... é quando dormimos. Será lá, Marina, nesse intervalo de vida, quando acordo para os meus sonhos e durmo para minha existência, que estarei te esperando!”

Os primeiros raios de sol da manhã a destruíram. Em seus braços ela se foi, como em uma lufada de vento. E ele se perdeu no abismo de sua própria amargura. A dor chega até mesmo a me corroer. Hans tornou-se uma mera carcaça. Vagou desolado, até esta mesma desolação tornar-se revolta. Ele um cristão, dos verdadeiros, servidor de Deus desde seu nascimento, fora abandonado no único momento em que precisou. Naturalmente a descrença tomou sua alma. E a dor virou atitude. Hans embeveceu-se de vingança, e odiou a Deus por sua ausência. Sua revolta fora tamanha, que contagiou a outros de sua tribo. Um grupo de homens que nada mais tinha a perder, pois tudo já lhes havia sido tomado. Buscaram por vampiros, então. E procurando a morte, naturalmente a encontraram. Deus os abandonou mais uma vez. Fazendo a injúria não somente assolar, mas zombar de sua alma. O abismo tornou-se mais profundo. As lutas foram tantas quantas foram as baixas. A cada brandir de sua espada percebia os gumes de sua fraqueza. De sua reles condição humana. E entendeu que como homem não poderia seguir em frente. Sua busca era maior que sua condição. Então, por uma cilada do destino, ele novamente caiu. Tornou-se imensurável o abismo de sua alma. Um monstro agora. Um morto, um zumbi. Para mim, maravilhosamente belo em sua essência. Um imortal. Eterno em sua dor, banhado em culpas que se perdem nas linhas dos séculos...

“Dei-lhe um forte abraço! Como um filho faz em agradecimento ao seu pai. Senti suas lágrimas se mesclarem às minhas e inundarem um dos lados de nossas faces. Eu amava aquele velho com uma força incrível. Ainda hoje remôo minha alma quando penso no que poderia ser diferente se eu não tivesse fechado aquela porta.”

Despediu-se de Altair...

“Galhos que se projetavam em direção às plantações, que pareciam braços me chamando para não partir. Observei admirado que, nas raízes da árvore, uma forma humana erguia-se como que por encanto. Havia uma figura, fantasmagórica pelo seu modo de surgir, e bela por sua graciosa forma. Uma menina linda havia se conjurado diante de meus olhos, com cachos negros escorrendo em frente de sua face. Numa respiração profunda, puxou para dentro de si não somente ar, mas com ele toda a vida que antes não tinha. Logo, não mais era uma escultura, mas uma criança. Começou a escalar a árvore, como um fruto que deseja voltar à sua mãe. Lentamente, à medida que fugíamos do chão, seu corpo parecia crescer a cada vez que suas unhas e pés se prendiam nas frestas da madeira. Logo, eu estava rindo como há muito não fazia, pois me dei por conta de já ter feito aquilo antes, com aquela mesma pessoa. Marina estava graciosa, e como num leve e implorado sonho, começamos a subir a árvore como crianças novamente. E os anos que vivemos passavam diante de nós, à medida que subíamos, deixando os galhos que ficavam para baixo como testemunhas de cada época. No final, quando as estações do tempo não mais se apoiavam nos galhos, Marina estava como da última vez em que a vi. Ela mantinha o sorriso nos lábios, e com uma alegria infantil pegou-me pela mão. E surpreendentemente se jogou da árvore. Como bailarinos do espaço, de mãos dadas, iluminados pela lua e tendo o trigo como um imenso tapete, cortávamos o vento na velocidade dos pássaros. E esquecendo completamente da altura, nos amamos, cavalgando as correntes do ar. Talvez Deus tenha tentado se redimir, e a tenha tornado um anjo.”

Despediu-se de Marina? Ou talvez a tenha encontrado para somente se despedir mais uma vez?

“Entrei no corredor de árvores retorcidas que dava acesso à porta da frente da casa de Zacchi. O mago apareceu uns passos adentro. O necromante fitou-me de uma forma que nunca havia feito antes. Olhava para mim quase como se não me conhecesse mais, ou como se fosse a primeira vez que nos víssemos. A lua lancinou de uma absurda intensidade. Não, não era mais a lua, mas o sol, que mostrava seus primeiros raios. Virei meu rosto em sua direção, pois o astro ainda não tinha tanta força para me cegar. Por sobre as densas árvores que compunham os arredores da morada de Zacchi, vi, a silhueta, perfeita, de meus pais. Estavam de mãos dadas, lado a lado. Pareciam seres feitos de porcelana. Bonecas divinas. Uma melancólica imparcialidade eclodia naquela imagem. Com um movimento leve, ambos acenaram para mim, em despedida. Tirando minha atenção daquela imagem, o necromante me chamou. E falou palavras ainda mais estranhas do que tudo o que havia acontecido até então.

_Hans Kalymor! Conseguimos!”

E compreendeu que estava, sim, despedindo-se de sua própria vida...

“Você morreu, Hans Kalymor! Era o início desta madrugada. Sua alma deixou este corpo e vagou. A morte é diferente para cada um, assim como sua aceitação. Não sei o que viu, não sei o que sentiu, mas as portas do outro mundo foram ignoradas, por isso está aqui. Você não quis, Hans, entrar definitivamente para o outro lado. Isso é único. E, no meu ponto de vista, uma tolice. Eu o matei, neste mundo, e o impedi de ir para o outro. Não há definição correta para o que se tornou. Você é uma linha tênue, uma corda bamba, o extremo do meio, o início do fim. Um morto-vivo, nem vivo e nem morto.”

Zacchi, o mago necromante que o imortalizou. Tornando-o pior que os monstros que buscava destruir. Bestial por opção, grandioso aos meus olhos, mas miserável por si mesmo. Eis agora o Imortal Kalymor. O extremo desgarradamente sofredor do amor. Agora eterno. Eterno em pecados, eterno em sina. Acima das ordens e leis do tempo. Com infinitas possibilidades de aprender no leito dos séculos. Com este propósito ele desejou a mudança. E foi exatamente assim que ocorreu...

“_Espantosa sua capacidade em aprender! _Disse o mago. _Os livros são devorados numa única leitura. E nada é perdido. Todas as nuances são por você fixadas. Estranhamente não passa de um zumbi, mas o invejo. A incrível grandeza de sua inferioridade. Em pouco tempo será um mago muito mais poderoso do que eu.”

Aprendendo magias do plano dos mortos. Por aí ele começou...

“Quando compreendi minha nova natureza, tudo ficou mais claro. Vi o que realmente somos, o que deve corretamente ser chamado de “eu”. Somos nosso espírito, e o corpo simplesmente nos pertence. A correta definição de alma é que ela é a manifestação de nosso espírito, quando unido ao corpo através do cordão de prata. A alma é nossa personalidade, nossas escolhas, nossa forma de viver este pequeno instante no mundo. A alma é somente uma característica do espírito.”

E não mais parou...

“A alma não se materializa da forma humana, como estamos acostumados a imaginar. Tinha que procurar as maneiras que cada um se via em sua morte. Às vezes eram imensos rochedos, se uma pessoa fosse extremamente conservadora e egoísta, ou uma simples fagulha de luz, quase imperceptível, se fosse de alguém que se achasse muito insignificante, mas com um potencial reprimido, representado pelo fato de mesmo a luz sendo fraca, poderia crescer e se expandir, a ponto de clarear totalmente um ambiente.”

Ele aprendeu. Dominou a morte e suas trilhas. O tempo levou o necromante, seu único companheiro. Outros homens surgiram para seu aprendizado, qualquer um que pudesse contribuir para sua evolução. Desta forma viu um mundo que corria ao seu lado. Acompanhou pessoas que em sua comum forma guardavam grandes essências. Inspirou-se em homens maiores que sua condição. Simples humanos tornaram-se eternos em seus atos.
E nesse ínterim, viu também o extremo oposto de seu conhecimento...

“_Você é contrário a tudo isto que está ao seu redor! _Disse ela. _Adverso de uma maneira que talvez não exista nada mais distante. Possui os olhos da morte, e deseja observar a complexidade da vida.

_Abra meus olhos, então, para o que realmente devo enxergar.

_Tem que aprender a usar seus olhos não somente para captar uma imagem, mas fazê-los com que compreendam esta imagem. Veja com a razão. Veja com inteligência. Existem incontáveis árvores e animais. Você capta cada um como um componente desta paisagem. Esta árvore a nossa frente, por exemplo, você a vê desta forma, não é? Mas quando olha para mim, o que vê? Uma mulher? Uma elfa? É isto que irá me responder. Mas por que não pode me ver, também, como uma árvore? Não posso ser para seus olhos mais um detalhe desta paisagem?

_Não! Você é mais que esta simples árvore. Tanto que pode até mesmo movê-la com seu pensamento.

_Então somos, eu e você, completamente diferentes desta natureza toda que nos cerca? Como pode conceber esta incoerência, estando aqui? Se esta árvore é diferente de mim, como pode precisar deste local tanto quanto eu? Será que ela não o ama de uma forma semelhante à minha? Eu sou esta árvore. Assim como ela também é algo como eu. Sou o ninho que sustenta os filhotes dos pássaros. Sou os galhos onde estão esses ninhos. Sou a chuva que beija a terra, e a terra que é beijada pela chuva. Sou tão poderosa por ser tudo isto, e tão simples por ser cada uma dessas coisas. Sou a última gota de orvalho que escorre da folha que possui esta graça. Assim como todas as outras folhas que continham todas as outras gotas que escorreram, detentoras da mesma graça. Sou os pés que pisam a grama, mas também sou as inúmeras folhas desta mesma grama, que em um imensurável esforço conjunto empurram meus pés para cima. Sou a semente que iniciou isto tudo, assim como o último de seus frutos. Quando seus olhos lhe mostrarem a natureza, em sua real forma, saberá que estará também olhando para você mesmo. Eu, você, aquilo ou isto, são termos que não se aplicam a esta imensidão. Pois tudo não passa de um conjunto. Pode parecer estranho, mas esta é a gloriosa unidade de nós mesmos. Isto é o que quero que enxergue. Pois isto é simplesmente a vida.”

Aprendeu sobre a vida, em seu sentido global. Magias relacionadas à natureza o tornaram muito mais poderoso. Nascimento, morte, renascimento. Todos os pontos ele dominava. Da totalidade, agora restavam apenas as nuances. Procurou então inspiração nas mínimas coisas, que para ele tornaram-se divinas. Viu conceitos simplórios, que os mortais tanto prezam, serem elevados ao extremo. Honra, respeito, virtude. Viu homens abdicarem de suas vidas em prol de uma causa. Normalmente um sonho tolo. Mas por vezes, nessas observações que fazia com freqüência, descobria que a simples vontade de alguém pode ser a mais notória das magias...

“Ajoelhou-se e tateou o chão sem explicação. Queria achar alguma coisa que lhe prendesse a atenção e o fizesse, mesmo que sutilmente, esquecer onde estava. Nos escombros, encontrou uma pequena cruz, símbolo de sua antiga adoração. Fitou-a com amargura, fazendo seus dedos escorrerem pelos contornos do objeto, como se pedissem desculpas. Em sua alma suplicava por perdão, e desejava veementemente ser julgado por aquilo. Arrependeu-se de seus crimes, sabendo que não eram somente os crimes das mortes que causou, pois pecou muito antes disso, quando realizou seus sonhos. Errou, quando se tornou um cavaleiro, e viu que de fato nunca fora um. Quando passou a adorar um deus diferente de suas origens, em prol desse sonho. E percebeu que por ele destruiu o Deus que realmente lhe importava.”

Referindo-se a Ismael, um dos Cavaleiros do Dragão, um não nobre de berço, mas de atos. Que me foram importunos por um tempo. Hans fascinou-se por este homem, o que me levou a finalmente encontrá-lo, para um acordo. Para que ele pudesse destruir o cavaleiro, ofereci ninguém menos do que o vampiro que tomou sua amada. No auge da guerra de maior repercussão na história deste mundo, que nenhum mortal de agora sequer ouviu falar, ele o faria. Mas, o fascínio superou seu desejo de vingança, em prol de uma causa maior que sua dor...

“Poderia atacá-lo pelas costas, sem que soubesse o motivo. Pensei incessantes vezes em Winslet e no trato que fiz com Malberon. Lembrei da face do primeiro, ao me reconhecer em seu cativeiro. Em seus olhos rubros observei a vida de Marina, estampada como lágrimas. Como se de alguma forma estivesse ainda viva, mas presa em seu corpo nefasto. Como se aquele ladrão a guardasse em seu bolso, e como um pingente a chacoalhasse de um lado ao outro, brincando exibido, deixando-me a salivar, parecido com um animal esfomeado. Fitando Ismael, ao mesmo tempo em que fitava minha recordação, e nesta constante troca de imagens, fiquei. Constantemente a figura de um acendia, enquanto a do outro se apagava. E nesse vice-versa macabro, que já passava ante meus olhos como fagulhas, meu ódio crescia, assim como minha admiração. Winslet proporcionava o primeiro sentimento, e Ismael o segundo. E por vezes suas imagens, de tão rápidas que eram, chegavam a se sobrepor. E eu não sabia mais a quem odiar ou admirar. O Cavaleiro fora aos poucos sendo visto como mais uma de minhas vítimas. Cuidadosamente selecionado por seus pecados, merecedor de minha punição. Passei a vê-lo desta maneira, para poder cumprir com minha parte no trato. Desta forma, saí das sombras como um lobo, com fúria e bestialidade. Para trás, ficariam somente as pegadas de minha consciência, esculpidas em areia fina, que fácil e rapidamente se apagariam. Eu em nada me parecia com aquele homem. Jamais teria um resquício de sua integridade, de seu valor. Sua coragem para mim era inalcançável como um esticar de braços na noite, na tentativa de colher uma estrela. Suas escolhas, suas renúncias e seus atos ecoavam como histórias de ninar, contadas a jovens anjos. Assim, já entrando na ponte, com a espada gemendo, eu estava na iminência de fazê-lo, quando, interrompendo, percebi o enorme ogro, que se aproximava com o tamborilar de suas passadas.”

Permitiu que Ismael vivesse. E libertasse o reino dos domínios do Deus-Dragão...

“_A vitória lhe sorri, meu Cavaleiro! Mas ao preço de uma tênue comemoração.

_Por que diz isso? _Perguntou Ismael. _Livramos o reinado de você, e todos poderão viver livres a sua maneira, cultivar suas crenças e tradições. Ninguém mais se curvará oprimido, forçosamente tendo que aceitar a sua religião.

_E qual aceitarão? Acha mesmo que seguirão todos os povos para seus cantos, e reimplantarão seus reinos? Acha que se dividirão por uma razão tão fútil? Jamais irão se desgarrar do que há séculos já está formado. Fragmentar novamente Yarkan significa retroceder, significa perder exércitos e relações. Significa fragilizar.

_Podemos então ainda ser esse reinado, mas admitirmos a religião de todos.

_Não seja tolo, Ismael! São apenas homens e jamais conseguirão caminhar por suas próprias pernas. Dependem de algo superior. São por natureza submissos. Os homens não buscam a liberdade para que possam seguir sozinhos. O que os prende, o que os sufoca, é somente a necessidade que possuem de se sentirem inferiores. São os únicos seres neste planeta que buscam por opressão, mas envergonhados não admitem esta palavra, preferindo se referir a ela como “caminho”. Caminho para a salvação, caminho para o certo. Enquanto os homens existirem, existirá algo superior que os guiará, e jamais o contrário. Fala que eu os oprimi, mas apenas dei o que desejavam. Hoje partirei, mas meu lugar terá que ser preenchido. Eles anseiam por isso. E quem melhor que o Deus que os libertou?

_Não! _Ismael balbuciou. _Não será desta maneira.

_Nada mudará, porque os homens são estúpidos demais para mudar. Há somente um derrotado aqui: você! Pois não livrou ninguém. Apenas trocou um deus por outro...”

Desoladora verdade. Ergueu-se desta maneira, continuando assim até os dias de hoje, o Deus dos cristãos...

E o tempo passou. O mundo mudou. Hans conheceu todas suas terras. Enquanto eu lentamente ganhava espaço entre os homens, que distorciam suas visões. Enquanto eu destruí tudo o que era místico e o que não era humano. Enquanto exterminei todas as espécies na Inquisição, e dizimei a magia. Enquanto eu, e eles próprios corrompiam os ensinamentos de Deus. Fazendo com que, desta maneira, eu os domine, o que por séculos venho fazendo. O mundo é hoje fruto unicamente de meus anseios.

Então, novamente nos encontramos. Meio milênio depois. Em meu apartamento ele se deslumbrou com a decoração. Com os detalhes da história da humanidade, em minhas coleções. Mas nada comparado com o que de mais precioso lhe mostrei. A resposta definitiva para o maior questionamento do universo...

“_O restante é inferior! Esta é sua conclusão agora! E isto lhe permite realizar qualquer pergunta que obterá resposta. E sei o que irá questionar. A mais complicada das perguntas, com a mais óbvia das respostas.

_Quem é Deus?

_Pergunta-me isso, _disse então o vampiro _mas sabe até onde deseja compreender? Posso lhe explicar o “tudo”, mas se o fizer que sentido teria o restante?”

Ele não temeu. Ansiou pela compreensão absoluta. E a teve...

Se agora possui o conhecimento completo, isto não o torna também um Deus? A resposta é não, simplesmente porque ainda se limita a pensar que não o é. Isto justifica o fato de ter se confessado esta madrugada. Caso fosse realmente superior, não deveria explicação a ninguém. Mas por que ele saiu purificado daquele lugar? Por que virou para a catedral e agradeceu? Por que agora ele levita como se suas culpas tivessem sumido?

Penso agora que há uma remota possibilidade de ele ter aprendido ali algo que não fui capaz de ensinar-lhe. Certamente algo que a humanidade não está pronta para compreender. Um ensinamento que estes pobres mortais terão que absorver por seus próprios meios. E sei que nunca o farão. Pois não são capazes de se deparar com seus próprios erros. São incapazes de evoluir.

“Quem diria que um dia eu estaria do outro lado do mundo? Quem diria que existiria o outro lado?”... Talvez haja aqui um sentido ainda mais abrangente...

Fonte:
http://www.escritoresdosul.com.br/

Igor Martins de Menezes em Xeque


Entrevista realizada por Graziely Neri

Nascido no Rio Grande do Sul. Ígor Martins de Menezes levou oito anos para escrever, e agora o livro está sendo publicado pela Editora Insular. Ainda na infância Igor Martins de Menezes, médico residente em São João Batista, colocou no papel suas primeiras idéias. Seu passatempo preferido era desenhar tirinhas expiradas nos personagens da Marvel. A junção de desenhos, texto e idéias se tornou pequena para um caderno e se projetou num livro de 400 páginas, publicado em dezembro de 2007 pela editora Insular.

Como surgiu a idéia do livro?

A idéia vem desde pequeno dos tempos de infância. Eu sempre fui muito aéreo mais gostava de desenhar. Cresci e quando entrei na faculdade não tinha muito tempo para isso, pois achava que devia estar estudando. É claro que também não estudava muito, pois no início da faculdade só queria festa, como todos. Resolvi pegar as idéias dos desenhos e escrever em uma agenda, onde anotava as provas e trabalhos também. Era uma forma de fugir da faculdade e aos poucos a agenda ficou pequena, passou para um caderno e depois para o segundo, quando me dei por conta que era mais fácil digitar.

Qual foi a trajetória do livro desde a criação até a publicação?

Comecei a digitar dois anos depois de começar, eu imprimi e ficou no formato de uma apostila, até então quase ninguém sabia o que eu escrevia. Ocorreu um episódio em que a família estava na casa da minha avó, na Cachoeira do Bom Jesus. A minha tia havia acabado de almoçar e iria dormir, mas queria algo pra ler entreguei o meu livro. Ela não conseguiu dormir e leu até o final, isso me inspirou a publicar.

Quanto tempo você dedicava ao livro?

Eu demorei muito para escrever por causa da faculdade tinha épocas em que eu ficava meses sem escrever, por causa dos semestres difíceis do curso. Foram uns quatro anos escrevendo. Depois de decidido que iria tentar publicar, entreguei o que já tinha feito ao meu pai, ele é professor de português.

Foi difícil fazer essa correção?

Levou mais de dois anos fazendo isso, essa foi a pior parte, pois ele tinha que corrigir uma frase, sem que ficasse de uma forma que ele escrevesse, ele tinha que manter a minha idéia. Essa parte foi estressante, mas muito boa, pois já estava formado e trabalhava o dia todo, e as noites eu ficava com ele. Tivemos um contato tão intenso que muitas noites eram eu e ele, umas cervejas, uns jogos do grêmio e churrasco. Conseguimos publicar em dezembro de 2007.

Porque a escolha de ser médico e não fazer línguas ou jornalismo algo ligado a literatura?

Eu sempre fui mais quieto, mais de observar. Fiz medicina pra fazer psiquiatria. Só comecei a escrever depois que passar na faculdade, talvez se eu tivesse feito jornalismo ou línguas, não teria escrito.

Quais os próximos projetos para o livro?

Primeiramente a divulgação das mais variadas formas. Esse ano, isso é extra-oficial, o colégio catarinense vai adotar o livro no currículo. Vou também fazer a Coperve adotar no currículo do vestibular. Isso é apenas um sonho.

O que você encontra no livro O Imortal Kalymor:

O livro conta a história de um homem (Hans Kalymor) que procura a Catedral Metropolitana de Florianópolis para realizar uma confissão sobre inúmeros crimes que ele cometeu por causa de seu amor perdido. Na busca por vingança, por um acaso do destino ele se tornou imortal e percorreu oito séculos de lutas, sofrimento e busca por um sentido em sua eternidade. Nessa caminhada, o personagem se deparou com diversos seres, místicos ou humanos, sempre na procura de conhecimento e sabedoria sobre diversos aspectos da vida, do amor, da honra, de guerras e evolução de si próprios, inclusive uma explicação plausível sobre o que seria Deus e as leis do universo.

Fonte:
http://meucursominhavida.wordpress.com/2009/05/29/o-imortal-kalymor/

sábado, 11 de setembro de 2010

Roberto Pinheiro Acruche (Encanto)

Fonte:
Colaboração do Autor

Ialmar Pio Schneider (Baú de Trovas VIII)


Acabou-se da memória
o desejo de te amar,
mas ninguém me rouba a glória
de em meus versos te cantar!...

Amiga de muitos anos,
companheira de verdade,
enfrentando os desenganos,
ela se chama: saudade.

Cada paixão que me invade
surge do amor que não tive;
e representa a saudade
de quem neste mundo vive.

Cresce a planta no jardim
por força da natureza;
e cresce dentro de mim
o amor à tua beleza.

Desejo fazer somente
o que deveras me apraz,
levando os sonhos em frente,
deixando as mágoas pra trás.

Devo te dizer cantando
para que escutes sorrindo
e assim vás acreditando
que eu não esteja fingindo...

Esse amor que tu me deste
foi efêmero, fugaz...
Por isto a tristeza investe,
arrebatando-me a paz.

Eu agora não me espanto
e nem me causa pavor,
o terrível desencanto
que sofri por teu amor.

Eu fui ficando distante
e vivendo da saudade,
pois desejo, doravante,
somente a sinceridade...

Eu fui vivendo meus dias,
procurando te olvidar,
e quantas horas vazias
se arrastavam devagar...

Eu não sou navegador,
mas enfrento o mar da vida,
por causa do nosso amor
que não teve despedida.

Fiquei contente ao saber
que realizaste teu sonho,
pois fazes por merecer
um futuro assaz risonho.

Foste a morena brejeira
que surgiu em meu amor
como o botão da roseira
que agora não dá mais flor.

Fui feliz antigamente,
quando era um pobre menino;
e só vivia o presente,
sem me importar com o destino.

Hoje não tenho alegria
por sentir esta saudade
que nasce de quem fazia
a minha felicidade.

Mesmo depois de velhinho,
se Deus me der esta graça,
quero sentir o carinho
do amor total que não passa...

Meu amor simples em tudo
não te convenceu bastante,
porque permaneço mudo
ao te ver tão deslumbrante.

Não foram horas perdidas
as que passei junto a ti;
são lembranças bem vividas
que nunca mais esqueci...

Não há poder que consiga
me demover da vontade,
de tê-la só como amiga
quando me assalta a saudade.

O amor à primeira vista
visitou meu coração,
mas no instante da conquista
vi que tudo foi em vão.

Para sofrer tanto assim
fora melhor não revê-la;
está tão longe de mim
como se fosse uma estrela.

Para te amar me concentro,
esperando chegar a hora;
pois quem não ama por dentro,
não adianta amar por fora.

Para tê-la novamente
andei por muitos caminhos
e retornei descontente
sem conseguir seus carinhos...

Para viver com carinho
procurei amar alguém;
hoje sinto que sozinho
eu vivia muito bem.

Pelos caminhos da vida
fui deixando para trás,
como em cada despedida
um sonho que se desfaz.

Perambulando sozinho
pelas ruas da cidade,
procuro achar o caminho
que leva à felicidade.

Perto de ti me convenço
que nada posso fazer,
sem empregar o bom senso
para afinal te esquecer.

Posso perder-te... que importa
se não queres me aceitar...
Há muito tempo está morta
a vontade de te amar.

Quantos amores têm fim
por falta de persistência,
não concretizando assim
a base da convivência.

Quem quiser ser trovador,
seja primeiro aprendiz,
mesmo em matéria de amor
se aprende pra ser feliz.

Roubei-lhe um beijo, ao passar
ao meu lado, sorridente;
e lembrando seu olhar,
de noite, dormi contente...

Se amar causa sofrimento;
é preciso suportar...
pois não há pior tormento
do que sofrer sem amar...

Se tens amor e resistes
às ligações perigosas,
teus dias não serão tristes
e viverás entre rosas...

Se te querer foi loucura,
eu serei um triste louco,
por te dar tanta fartura
e ter em troca tão pouco.

Sofro por ti, me atormento
a cada instante que passa;
e neste martírio lento
vou vivendo na desgraça...

Vai-se um amor... outro vem...
e assim se passam os dias.
Os nossos sonhos também
são de mágoas e alegrias.

Vive de amor, se te apraz,
e nunca percas a calma;
porque a verdadeira paz
só se encontra dentro da alma.

Fonte:
O Autor

I Concurso de Poemas Cultura Revista, tema Primavera (Classificação Final)



Nesta edição, estamos divulgando a relação dos vinte primeiros classificados do “I Concurso de Poemas Cultura Revista, tema Primavera”, conforme previsto no regulamento.

A entrega dos prêmios está prevista para 24 de setembro de 2010, em razão de estarmos no início da Primavera. Local e horário serão divulgados, até trinta dias antes da data prevista para entrega, aqui na Cultura Revista.

Mais informações podem ser obtidas solicitando via e-mail
redacao@culturarevista.jor.br ou via telefone 0..27 8155-3446.
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CLASSIFICADOS ATÉ O 20º COLOCADO

1º –
Luiz Antonio Cardoso (Taubaté/SP)
CHEGASTE...

Chegaste em meu destino, de repente,
com poucas palavrinhas, a sorrir.
Chegaste no meu mundo e docemente,
fizeste a minha vida refulgir.

Chegaste, completando o meu presente...
traçando com detalhes meu porvir.
fazendo renascer, efervescente,
a vida - que queria inexistir !

Chegaste, numa noite irretocável,
alimentando sonhos magistrais
de um tempo de carícia incomparável.

Chegaste... e amanheceu neste jardim...
e aquele que era triste? Não é mais...
fizeste florescer dentro de mim !

2º –
Rosana Banharoli (Santo André/SP)
ESPERA

Pendurada no tempo,
Balanço entre outonos
À sua espera

Você, verão
Desperta em sóis
Apresenta-me à vida

Fechada em passados
Eu, gris
Em invernos

Você, primavera
Planta futuros
Em Viagens

No recorte das estações
Nos encontramos
Na zona de confluências
Embebidas em fotografias


António José Barradas Barroso (Parede/Portugal)
PRIMAVERA EM FLOR

Mostrando, muito leve, um tom de rosas,
Todas brancas, algumas mais lilases,
Ondulam, com a brisa, tão formosas,
Que os olhos, de as deixar não são capazes.

Essas flores que brotam, tão vivazes,
Tão belas, tão puras, tão vistosas,
Em momentos de vida tão fugazes,
São só belezas de alma, milagrosas!

E enquanto tronco e ramo sem mais nada,
A amendoeira só vive esperançada
Na rima das flores que não se queixam;

Que nascem por amor, com alegria,
E que, ao morrer, dão lições de poesia
Nos frutos que, afinal, elas nos deixam!


Eduardo de Paula Nascimento (São Paulo/SP)
AS QUATRO ESTAÇÕES

“Desejo-te o amor no universo
Disperso em cada etéreo sonho humano
E por mais que pareça controverso
Desejo gritar bem alto que eu te amo

Desejo uma paixão tão elevada
Que a estrela mais distante alcançaria
Mesmo a deusa mais linda e desejada
Ser você, ao deus do amor, imploraria

Desejo que nosso amor seja eterno
Em todo ano, em todas as estações
No outono mágico, quente no inverno

Na primavera forte em emoções
E no verão, no calor dos seus beijos
Desejo que me guardes seu desejo”


Denise Moraes (Vitória/ES)
PRIMAVERA

É primavera
teço uma tela.
Pinto os frondosos ipês,
que já estavam a minha espera.
Os pincéis, as tintas...
Aguardavam a inspiração na quimera.

Os ipês amarelos
iluminam,
ofuscam
e roubam a cena

A cor amarela
sente - se a mais bela.
Envaidecida
causa fuzuês,
ansiosa,
para ter vida na tela.

ganham vida os ipês amarelos,
reluzentes como ouro.

Ao desabrochar,
seus cachos despontam
confundindo - se com o raiar do sol.
Iluminando a madrugada que adentra
umedecida pelo orvalho,
o seu perfume vem exalar.

Silenciosa chega a aurora!


Nilton Silveira (Porto Alegre/RS)
SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA

Em carruagem de estrelas,
Num tilintar de magia,
Desabrocha a Primavera
Ante o castelo da Vida
Que com festejo celebra
A sua digna chegada.
Para a entrada triunfal,
O tapete que a enobrece
Não é de carmim veludo,
Mas a terra que se doa
E dadivosa a abençoa
Em sua divinal missão
De, por onde quer que passe,
Deixar rastros de empatia,
Respeito e aceitação,
Todos ornados de flores
Que deem ensejo ao milagre
Da olorada beleza
Que estabelece a nobreza
Na evolução do humano
E atrai os seres alados,
Das borboletas aos anjos.
Ao toar de clarinadas
Escancara-se o portal
E adentra a Primavera,
Que luzente ascende ao trono
Onde Ígor Stravinski,
Com fato de Sinfonia,
Cinge-lhe a fronte com poesia
E a consagra rainha.


Ivan Frederico Lupiano Dias (Londrina/ PR)
PRIMAVERA E UM QUERER

Primavera
Que aos olhos dela
Me conduz
Em uma caravela
Para dentro dos olhos dela
Onde outra primavera
Se reduz
A um verde tanto verde
De um verde que não me lembro
A não ser o de setembro
De um certo dia
Que traduz
O seu ver de fantasia
Um verde que eu sabia
Ser o ver de do olhar dela
Um verde de aquarela
Que reluz
Como uma estrela que revela
O caminho da primavera
Para o verde do olhar dela
E me seduz!


Solange Firmino de Souza (Rio de Janeiro/RJ)
SETEMBRO

Um poema-deserto
Vê um oásis
Na primavera florida

Descobre cores
Olores
E o silêncio
Da semente
Rasgando o ventre
Da estação repetida

Um poema-fruto
Brota na ruga
Do tempo
Cíclico


Tatiana Alves Soares Caldas (Rio de Janeiro/RJ)
SAZONAL

Mirava os bosques, de todo sem vida
Em sua existência, um ar sepulcral
Era como um cais, já em despedida,
O vento na face batia, glacial.

Saudoso do estio dos braços de outrora
Dos tempos do vinho, hoje já vinagre,
Contava as perdas, do tempo que chora
Clamava aos céus por santo milagre.

Lembrando o Outono, de folhas caídas,
Chorou pela vida deixada pra trás
Agarra-se às dores, mesmo as sofridas,
Mostrando-lhe tudo de que era capaz.

Percebe, enfim, que, nesse umbral,
Há ritmo, hora, e tempo de espera
Se as sombras trouxeram-lhe a dor hibernal,
Aguarda, risonho, pela Primavera!

10º
Nilson Vieira Moreno (São Carlos/SP)
PRIMAVERA

Eu sinto como fosse um reinício
Que o mundo convidasse o olhar e o ócio
Em setembro, passado do equinócio
Tudo ao fundo das almas mais propício

Beleza se fazendo mais que indício
Desfilando mais leve, doce e dócil
Primavera zelosa, um sacerdócio
Que só finda em dezembro, no solstício

Celebrando estação de mais amores
Assaltam nossas ruas vivas cores
Céu azul, tempo ameno, belos dias

Tantos ninhos, abelhas, girassóis
Sensação que eu e um outro somos nós
Natureza declama poesias.

11º
Regina dos Anjos Sousa Gouveia (Porto - Portugal)
PRIMAVERA

Floriu a magnólia e nem me apercebi.
Por certo nem para ela olhei
eu que, ansiosamente, sempre aguardo que dê flor
e em frente a ela me sento, comovida ao vê-la tão florida.
Floriu a magnólia e nem me apercebi.
Por certo andava distraída com a vida
quem sabe a pensar em ti, que nem conheço
e que, por certo, não mereço,
tão perfeito esse “ti” que imaginei.
Um ser dotado de tão grande perfeição
quiçá nunca existiu em toda a criação.
Estou a pensar na lua e em Galileu
que nela viu crateras e montanhas,
e foi julgado por dizer heresias tão tamanhas
pois no pensar dos homens que o julgaram a lua,
porque celestial, não poderia ter qualquer imperfeição.
E afinal Galileu tinha razão.
Floriu a magnólia e nem me apercebi
mas as flores da magnólia, que eu não vi,
de tão simples e belas, provocam em mim tal sensação
que fico extasiada só de vê-las.
Floriu a magnólia e nem me apercebi.
Não havia mais flores quando para ela olhei.
Também elas não cumprem o ideal da perfeição.
As que ainda restavam, tombadas no chão,
já não eram as flores da minha magnólia
apenas seres em decomposição.
Floriu a magnólia e eu não vi.
Fico à espera do pré- dealbar da nova primavera.

12º
Reginaldo Costa de Albuquerque (Campo Grande/MS )
O IPÊ

Sob a esfolhada pele dos teus ramos
fomos os mais ditosos dos mortais:
havia em nós, ipê, risos demais,
havia em ti, pesar que lamentamos.

Sobre outonais corolas nos amamos,
e tu que assim nos viste tão sensuais,
do amor às mil volúpias divinais,
invejaste os momentos que gozamos...

Veio a separação que nos surpreende
e assomou-te em regalo a primavera,
que em dourado matiz e aroma, esplende.

E agora, ante os teus pés quanta mudança:
há em ti as flores e o frescor de outra era,
há em nós um pranto, um luto, uma lembrança...

13º
Paulo Tórtora (Rio de Janeiro/RJ)
MAIS UMA VEZ, PRIMAVERA...


Primavera! Eclode a natureza
Numa profusão de ninhos e flores,
Numa pujança de gozo e de amores,
Num frêmito de júbilo e beleza!

Há em cada canto festas e risos.
Há em cada coração, esperança,
E, até onde a vista alcança,
Descortina-se o sol do paraíso.

Sinfonia de casais enamorados,
Amando-se sem pudor ou pecado,
Pelos parques e alamedas dispersos.

E o poeta só, sorrindo, indulgente,
E fingindo não sentir o que sente,
Ilude a solidão, tecendo versos...

14º –
Jayme Cardozo dos Santos Junior (Mogiguaçu/SP)
O JARDIM

Eu quero um jardim na primavera
Com toda sua luz, suas cores
Seu cheiro - cheiros que inebriam
Seu envolver em minh'alma, sua calma.

O jardim, os jardins na primavera
São a prova mais nítida de que há paz
Paz na turbulência, nos espaços sós
Paz que se vê, que quem quer faz.

Qual é a mais linda flor do jardim?
Será enfim que já sabemos ser todas?
Irmãos são o amor e a fraternidade
São um só a humanidade e flores.

Tem que ter chegado a esperada Era
E como a primavera têm seu tempo
O ser racional também tem um vento
Que sopra levando as cinzas; refazendo.

A vida tem que ser mais importante
Do que a morte no centro, no morro
Do que os tanques lá na faixa de Gaza.
A vida é primavera em rebento.

Que seja a Terra então um Jardim
De belas flores e odores suaves
Onde se possa reconhecer não só uns
Mas todos os comuns que nela viajam.

15º
Marisa Helena Carneiro Ribas (Curitiba/PR)
ESTAÇÃO

Suave canto invade a madrugada,
Não é a cotovia de Romeu.
O regional canto ora transformado
em alegre trinado do sabiá
Anúncio que o dia já vem
Colorindo todo o céu
com todas as cores do arco-íris.
O pintor que ora amanheceu
a brincar com as cores,
no céu e na terra
repletos de muitas flores.
Assim como o paraíso,
falado e descrito
nos sonhos dos homens.
É hora de novas vidas
Surgirem na Terra
Na estação do amor.

16º
Tânia Diniz (Belo Horizonte/MG)
FEITO FLOR

Trepadeira
dama-da-noite
em cantos e muros
varanda e escuro
a vida enfeita
e perfuma

germina e apruma
floresce desejos
corpos-deleite
buquês de beijos
mordentes-de-leão

Verdegestação

Em lençóis d'água
alastra, propaga
carícia-folhagem
larga ramagem
cobrindo o leito
em arranjos
de amor-perfeito
Indecorosa
Delírio
Jas em in.
Eu, jardim.

17º
Fernando Catelan (Mogi das Cruzes/SP)
VEM, PRIMAVERA

Vem, primavera, que tanto te anseio,
'inda hoje a esfolar a carne o inverno
Se de minha investidura, vê, eu apeio
é por te adiares em desenlace eterno!

Vem, primavera, que tanto te anelo,
se, ajardinada, vens num riso florido,
'inda cá mui se dê as costas ao Belo,
'inda cá o versejar há tanto, crê, ido!

Vem, primavera, cessa de vez vento,
vento que, impiedoso, rói as vísceras
Traz-nos tua brisa por dádiva, alento,
acende sóis, ora da palidez de ceras!

Tu, ausente, 'inda cá o peito te ama,
o facho de luz que irradias tudo para
Vem, primavera, flor na verde rama,
se verdes são teus olhos, coisa rara!

Vem, primavera, noite ébria de perfume,
'inda lancem garras sobre botão em flor
Se desejo campos cheios de teu lume,
mais ainda és, ó primavera, meu amor!

Vem, primavera, vem em doce vestal,
traja lírios, e nada mais, pois, te cubra
Desce de vez desse teu régio pedestal,
ou deusa caída cá verve, sei, elocubra!

Vem primavera, verdes olhos em diva,
espargindo da Terra vez mais a flora
Se minh'alma da tua, ora sei, se priva,
teu prisco amante vinda tua implora!

18º
Edinan de Almeida Preisigke (Aracruz/Espírito Santo)
PRIMAVERA

Flores de todas as cores e tons
Rosas, tulipas e alecrins.
Flores da primavera
Que enfeitam o jardim

O Beija Flor
Encanta-se com tanta beleza
E agradece ao pai da natureza
Por todas as cores das flores

Os passarinhos
Nos galhos verdes e pequeninos
Constroem seus ninhos.

As borboletas, quase que se perdem
No meio de tantas cores.
Misturam-se na paisagem
Deixando mas linda a sua imagem.

E todos os animais da floresta
Em um só tom, numa só orquestra
Cantam alegres pelo verde que os cerca

19º
Ruth Hellmann Claudino (Dourados/MS)
É SETEMBRO

Abra a janela e veja
Como o panorama se transforma,
O que estava seco e sem forma
Com mito vigor verdeja.

É setembro, é vida, tudo cresce.
É primavera de alegria e paz.
E em cada criatura capaz
É tempo em que o amor floresce.

Natureza, enorme palco especial
Onde impera o verde encanto
Dos pássaros a arte do canto,
Dos insetos a dança espacial.

É hora de conscientização e ação;
Sem plantas tudo fica imundo.
Semeia, para colher neste mundo
Bons frutos e paz no coração.

20º
Lia Abreu Falcão (Pernambuco)
SOL DE PRIMAVERA

Da solitude da sua vida
pressentiu o que era nunca

E pendurou cascas de ovos
no pé seco da umburana

Fez cortinas para a sala
com flor de chitão guardado

No sagrado de sua casa
fincou o sempre de uma rosa

E colheu flores campestres
para alguém vindo dos longes

Trajou-se de branco-lírio
para a ceia derradeira

E viu o mar reluzente
pela luz do Sete Estrelo

E chorou todo o seu pranto
vendo o Sol da Primavera

Que semeia a Vida sempre
com Verdade e Esperança.

COMISSÃO JULGADORA

Rose Vieira Tunala - Poetisa, cronista, delegada da UBT em Cachoeiro de Itapemirim-ES, colunista da Cultura Revista-ES.

Maria Catherine Rabello - poetisa, colunista do Jornal da Cidade On Line www.jornaldacidadeonline.com.br

Andrade Sucupira Filho - jornalista, poeta, cronista, delegado da UBT em Vila Velha-ES, editor da Cultura Revista- ES

Falecimento de Antonio José Giacomazzi

Antonio José Giacomazzi (1941 - 2010)


Giacomazzi nasceu em Salto/SP 21 de março de 1941 radicando-se em Canoas/RS. Faleceu em Canoas/RS, em 9 de setembro de 2010.

Militar da Reserva da Força Aérea, cursou Jornalismo na Fundação Casper Líbero, Artes Plásticas no Liceu de Artes e Ofícios, e Teatro, curso Eugênio Kusnet.

Com Vinício Cassiano e Voldinei Lucas introduziu em Canoas as Exposições Coletivas. Artista plástico premiado, participou de exposições em Canoas, Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Fortaleza.

Escritor e poeta, tendo seus trabalhos inseridos em uma dezena de coletâneas.

Recebeu onze prêmios literários nacionais e um prêmio internacional. Entre eles:
Moutonnée de Poesia (USP- Universidade de São Paulo/SP);
Conto e Poesia (UCS-Universidade de Caxias do Sul);
Conto ( Editora Taba/RJ);
Conto ( Alphas - Cruz Alta/RS);
Concurso Poetrix (Salvador/BA); e
Poesia ( Tietê - São Paulo, Curitiba e Ponta Grossa).

Antônio José Giacomazzi foi o patrono da 25ª Feira do Livro de Canoas, em 2009, e da II Feira do Livro de Niterói, sendo escolhido entre representantes de movimentos e entidades literárias da cidade, e poder público municipal. Na oportunidade, o nome do canoense foi sugerido ao longo dos encontros que defiram detalhes sobre o evento, junto com o de profissionais como Nelsi Urnau e Neida Rocha. Eleito pela maioria, Giacomazzi esteve à frente dos trabalhos da feira temática pelos 70 anos de Canoas, entre os meses de junho e julho do ano passado.

Publicou os livros:
Seita Diabólica (aventura, infanto-juvenil);
Tu e eu (poesias);
Como Vicente Praguetone Venceu o Diabo e Ficou Rico (sob pseudônimo);
25 anos do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Canoas (livro comemorativo).

Sócio-fundador da Associação Canoense de Escritores (ACE) e da Casa do Poeta de Canoas

Fontes:
http://www.canoas.rs.gov.br/Site/Feira/AntonioJoseGiacomazzi.asp
http://www.deniteroi.blog.br/2010/09/morre-antonio-jose-giacomazzi.html

Antonio José Giacomazzi (Escuna)


Doce roteiro
Aquele em que navego
Tripulante
Da escuna leve de teu corpo

A me envolver na espuma
Flutuante
Ondulante
De um prazer sem fim.

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Antonio Brás Constante (Você Reconhece os Presentes que Ganha?)


NOTA DO AUTOR: Nesta data (09.09.2010) morreu um grande escritor Canoense, Antonio José Giacomazzi, e para prestar uma homenagem ao nobre amigo das letras, envio o texto abaixo, extraído e forjado em uma conversa casual com ele, em uma bela tarde de sol, tendo como platéia uma legião de livros. Espero que apreciem.
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Bons presentes muitas vezes não custam dinheiro, mas em virtude disto, custamos a reconhecê-los como presentes. Uma troca de palavras pode ser bem mais preciosa do que uma jóia. Foi o que aconteceu em um dos dias em que estive prestigiando a feira do livro de Canoas de 2009. Estava eu na praça vendo as pessoas rodeadas pelas árvores e as árvores rodeadas de pessoas, tendo os livros preenchendo todos os demais espaços vazios. Naquele dia tive a oportunidade de conversar um pouco com o patrono do evento.

Para quem não o conheceu, posso descrever o patrono daquela feira do livro, Antonio José Giacomazzi, como um jovem de um pouco mais de sessenta anos, poeta, artista plástico, escritor e dono de uma mente indomável, capaz de criar obras lindíssimas, usando os papéis ou pincéis ao seu dispor. Ele me agraciou com uma história, dessas que ocorrem durante a valsa entre dois dançarinos hindus chamados de: espaço e tempo.

A história falava sobre a amizade entre um menino e um golfinho, e que graças a esta relação de amizade, o animal foi desenvolvendo acrobacias e malabarismos como forma de brincar e interagir com o garoto. Essas brincadeiras com ares de show circense foram atraindo pessoas de longe para conhecer e assistir ao espetáculo que ali acontecia.

Mas toda essa migração de pessoas de outras localidades começou a onerar o reino local, que se via obrigado a dar abrigo e comida para aquela multidão que ali se aglomerava, ansiosa para ver o menino e seu golfinho. O que o rei resolveu fazer então para sanar o problema? Matou o golfinho...

Antes que alguém possa pensar que esta história pretende falar sobre os políticos em geral, que com suas tantas atitudes cegas e burras acabam matando verdadeiros tesouros, no intuito simplista de resolver problemas administrativos, se enganou. Quero dizer que o rei está dentro de nós. Pois nossos atos geram políticos decepcionantes, matam golfinhos artistas e destroem presentes valiosos que deixamos de lado por não entendê-los como presentes. Ao cobiçar o jarro de ouro em um deserto, muitas vezes desperdiça-se a preciosa água guardada dentro dele, que poderia salvar uma vida.

Bons presentes devem ser partilhados, e por isso resolvi compartilhar de forma escrita esta bela história. E você? Já presenteou alguém, ou recebeu de presente algo que considera especial?

Fonte:
O Autor
Imagem = http://utopia-artes.bloguedobebe.com

Sylvio Von Söhsten Gama (Sonetos Parnasianos)


AQUELA FLOR
Maceió / 1938
Em um dos primeiros namoros meus houve troca de mimos.

Achei aquela flor, já desbotada,
que um dia, perfumada, recebi.
Um pouco... Um muito a relembrar de ti
nas páginas de um livro agasalhada.

Nós dois... Uma ilusão que foi guardada,
é tudo que esta flor resume em si;
ilusão em que a vida conheci,
num amor de criança... Só, mais nada.

Talvez contigo não conserves inda,
mesmo que ressequida quem foi linda,
a outra flor que dei apaixonado.

Eu a minha guardei tendo a certeza
de um dia recordar toda beleza
do que depressa se tornou passado.

DECEPÇÃO
Maceió / 1938

Uma desejada vingança.

Muito desejo confessar-te tudo,
dizendo-te o tanto que te quero
e, aguardando o momento, calo e espero,
na agonia de ter que ficar mudo.

Ignoras o quanto sou sincero
e tua indiferença é conteúdo
que torna meu desejo mais agudo.
Não o posso reprimir e desespero.

Não suporto viver mais de desejos,
pensando noite e dia nos teus beijos
que, certo, me encheriam de emoção...

Por isso, agora, sinto diferente,
o que me agradaria no presente
era o teu sim, para dizer um não.

ENGANO
Maceió / 1938

Na adolescência, quase infância, o exagero dominava os sentimentos.

Tentei vê-la outra vez. Melhor seria
que eu houvesse ficado na ilusão,
pois os sonhos que tinha, com emoção,
decorriam de mera fantasia.

Como a encontrei mudada! Parecia
que não era você. Desilusão!
Nos olhos seus a procurei em vão
não reencontrando aquela que eu queria.

Foi triste constatar acabrunhado
que só eu conservava do passado
o nosso amor, meu sonho, a sua jura...

Não me conformo em ter fingido tanto
pra mim que acreditava, lhe garanto,
ser você das mulheres a mais pura.

PRIMEIRA DESVENTURA
Maceió / 1939

Felizmente as desventuras não foram muitas.

Descamba a tarde a se arrastar tristonha,
envolve a Terra um tom esmaecido.
A Natureza perde o colorido,
é quase anoitecer... O mundo sonha.

Por entre as nuvens, pálido, perdido,
um brilho que escondeu-se de vergonha...
e a escuridão a se espalhar medonha
deixam, no espaço, o negro difundido.

Esperei por você com ansiedade,
custa-me acreditar que na verdade
o seu alheamento me tortura.

Nosso encontro não foi realizado.
Em mim ficou um coração magoado
e o gosto da primeira desventura.

INSPIRAÇÃO
Maceió / 1939

Eu ainda não sabia que poesia não se faz, se liberta, e que está em todas as coisas.

Saí pra fazer versos, procurando
em tudo que encontrava uma inspiração.
Estrelas, céu, luar, escuridão,
e a tudo indiferente ia passando.

Horas vaguei mal inspirado... Em vão
tentei o espaço percorrer voando,
e as imagens que ia formulando,
se as erguia, rolavam pelo chão.

Desditosa ventura de poeta!
Se acaso quer sonhar – coisa dileta –,
o mundo o contraria e lhe diz não.

Se resolve viver na realidade,
força estranha lhe tolhe essa vontade
e o envolve no manto da ilusão.

ENCONTRO MARCADO
Maceió / 1940

Naquele tempo o namoro era proibido.
Acontecia, furtivamente, na entrada e saída dos colégios.

Meio-dia, poeira, solo ardente.
O sol se apraz em espalhar mormaço,
e este, com forte e tenebroso abraço,
me envolve e me angustia horrivelmente.

Demoras... Apreensivo, olhando o braço,
vejo o relógio que anda lentamente.
Me aborreço. Nervoso, impaciente,
entro em luta, debato-me, fracasso.

Sou todo exaltação de ansiedade.
Minutos se transformam em eternidade
e lentos se sucedem... Desespero!

Mas o desejo de te ver é tanto
que venço a impaciência e, num recanto,
fico sereno, acalmo-me, te espero.

ADEUS
Rio de Janeiro / 1941

O porto de Maceió não existia e os navios ficavam ao largo.
O embarque e o desembarque eram feitos em barcos a remo.

Adeus foi o que lhe disse... Adeus, parti.
Parti e, do navio a praia olhando,
vi seu vulto nas águas mergulhando...
E as lágrimas deter não consegui.

Longos dias se vão... Triste, pensando
nos momentos de angústia que vivi,
fecho os olhos pra vê-la tal a vi,
linda, na tarde triste, e chorando.

Busco em tudo lembranças do passado.
Horas vivo no tédio mergulhado,
mergulhado em tristeza como quê.

A recordá-la com carinho e encanto,
quase, quase a ver, vertida em pranto,
a saudade que sinto de você.

ESPADIM
Realengo(RJ) / 1941

Juramento que fiz no recebimento do espadim – miniatura do Sabre de Caxias –,
depois de rigoroso teste, na Escola Militar do Realengo.

Ah! Que sonho eu sonhei, quando desperto,
que te incluía, Escola Militar!
Um projeto de vida a modelar
pro qual o coração estava aberto.

Consegui em teu seio ingressar.
Formidável conquista foi... Decerto.
Porém, outro maior feito concreto,
eu confiava, ia se realizar.

Realizou-se entre alegria pura,
quando apuseram, em minha cintura,
o que eu julgava ser demais pra mim.

Prometo vida plena em ousadias
– miniaturas, porém, das de Caxias,
como é a dimensão desse espadim.

LONGE
Rio de Janeiro / 1941

Um cadete, no Rio de Janeiro, morria de saudades da namorada que deixara em Maceió.

Parto deixando-te. E, em partir somente,
o pensamento fica atordoado.
Não sei... Quero falar, porém, calado,
te deixo o coração, levo-te em mente.

De longe, te relembro. Ao meu lado
sinto-te em tudo, em tudo que se sente:
tristeza ou alegria... E, em ter-te ausente,
o alegre pelo triste vem trocado.

Tenho fé que na vida serás minha,
porquanto a cada dia mais se aninha
no fundo do meu eu esse desejo.

Eu sei que minha vida será tua.
Isso fica evidente e se acentua,
pois sonhando somente a ti eu vejo.

PRIMEIRO BEIJO
Palmeira dos Índios / 1942

O cadete, no hotel, recordava o lindo dia que fez acontecer.

Agora aqui, neste cair de tarde,
hora da dúvida, hora da incerteza,
busquei uma alegria na tristeza,
na tristeza feliz que tudo invade.

Em você e em nós dois pensei... Verdade.
É verdade, querida. Com certeza
deste dia completo de beleza
ficou lembrança para a eternidade.

É verdade e foi hoje! Um sonho ousado,
que sonhei tanto tempo acordado
alimentando a chama de um desejo.

Tomei-a nos meus braços palpitante...
E aconteceu, marcando aquele instante,
o seu, o meu, nosso primeiro beijo.
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Fonte
Gama, Sylvio von Söhsten. Meus sonetos: 211 parnasianos. Maceió,AL: [S N], 2005

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Associação Gaúcha de Escritores


História

Em 1981, um grupo de escritores iniciou as atividades da AGES, entidade que busca reunir e representar os escritores; preservar seus interesses e direitos; preservar nosso patrimônio cultural; estimular quaisquer expressões e atividades culturais; atuar em defesa das liberdades democráticas e da livre manifestação de pensamento em todas as suas formas; combater os preconceitos e promover a convivência pacífica com base em justas relações de intercâmbio; participar no desenvolvimento e no progresso cultural do RS e do Brasil.

Relação dos sócio-fundadores
Alfredo Nery Paiva
Alfredo Roberto Bessow
Antonio Carlos Resende
Antonio Hohlfeldt
Ary Quintella
Carlos Carvalho
Carlos Reverbel
Carlos Saldanha Legendre
Celso Pedro Luft
Cesar Alexandre Pereira
Dilan Camargo
Donaldo Schüler
Humberto Zanatta
Ivette Brandalise
Ivo Bender
Jaime Cimenti
Jayme Paviani
Jorge Rein
José Eduardo Degrazia
José Guaraci Fraga
Kenny Braga
Laci Osório
Luiz Antonio de Assis Brasil
Luiz Coronel
Luiz de Miranda (primeiro presidente da Associação)
Luiz Pilla Vares
Lya Luft
Mario Quintana
Moacyr Scliar
Ozy Pinheiro Souto
Paulo Kruel de Almeida
Ruy Carlos Ostermann
Sergio Faraco
Sergio Jockymann
Sergio Napp
Tarso Genro
Tau Golin

Diretoria atual:

Presidente: Maria Eunice (Marô) G. Barbieri
Vice-Presidente Administrativo: Marcelo Spalding
Vice-Presidente Social: Sérgio Napp
Vice-Presidente Cultural: Waldomiro Manfrói
Secretaria Geral: Ana Maria de Souza Mello
Tesouraria: Christian David
Diretoria de Comunicação: Lu Thomé
Diretoria de Relações Públicas: Celso Sisto

ATIVIDADES

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA
Com muita satisfação, vimos comunicar que a AGEs foi inscrita para as Eleições do Conselho Estadual de Cultura, biênio 2004/2005, no Segmento Cultural Livro e Literatura. Por conseqüência, desde janeiro temos no Conselho um membro titular, a poeta Maria Carpi, e sua suplente, a escritora Marô Barbieri. Sem dúvida, esta é uma grande conquista para a AGEs e todo seu corpo associativo.

PALAVRA NOVA
O Palavra Nova é um evento mensal organizado pela AGES com o objetivo de reunir seus sócios e degustar um pouco do mundo da palavra. A cada edição um escritor gaúcho é homenageado com a leitura de trechos de sua obra e responde a algumas curiosidades dos espectadores. Em 2002, quando o evento começou a ser realizado, foram homenageados autores como Sérgio Napp, Liberato Vieira da Cunha, Ruy Carlos Ostermann e Fernando Neubarth.

JANTAR DOS PATRONÁVEIS
Desde 2002 a Associação tem a tradição de promover o Jantar dos Patronáveis, realizado em parceria com a CDL. O jantar é uma oportunidade única de se conhecer pessoalmente os 10 indicados para patrono da Feira do Livro de Porto Alegre do corrente ano.

JANTAR DE CONFRATERNIZAÇÃO
A cada seis meses os sócios da Associação se reúnem ao redor de uma bela mesa para conversar sobre literatura e rever os amigos. Estes jantares também são belas ocasiões para se prestar justas homenagens. No inverno de 2002 homenageou-se os indicados a Patrono da Feira do Livro, e em Dezembro de 2002, início do verão, final do ano, foi a vez de homenagear os ex-Presidentes da AGES.

ENCONTRO GAÚCHO DE ESCRITORES
O Encontro Gaúcho de Escritores é uma tradição da AGEs desde as primeiras gestões. Os sócios são convidados a participar de um ciclo de palestras durante o fim de semana em determinada cidade do interior do estado. Em 2003 foi realizado o I Encontro Gaúcho de Escritores em Bento Gonçalves.

FEIRAS DO LIVRO
A Associação Gaúcha de Escritores é convidada a participar de diversas Feiras do Livro ou eventos culturais do Rio Grande do Sul e até de outros Estados. A sua diretoria representa a Associação nestes eventos. A partir de 2003 a idéia é convidar os sócios a também participar em nome da AGES para que possamos estar presentes num maior número destes eventos.

PRÊMIO 'LIVRO DO ANO'
O prêmio é uma escolha de escritores para escritores onde todo livro publicado pode ser indicado. No entanto, a escolha será feita apenas por associados da AGEs em sete categorias: Narrativa Longa, Narrativa Curta, Crônica, Poesia, Literatura Juvenil, Literatura Infantil e Não-ficção.

Os premiados

NARRATIVA LONGA
2009: A parede no escuro - Altair Martins
2008: Contramão - Henrique Schneider
2007: Por que sou gorda, mamãe? - Cíntia Moscovich
2006: O reino de Macambira - José Eduardo Degrazia
2005: Estudo das teclas pretas - Luiz Paulo Faccioli
2004: A Margem Imóvel do Rio - Luiz Antonio de Assis Brasil
2003: Dores, amores e assemelhados - Claudia Tajes

CONTO
2009: Trocando em miúdos - Luiz Paulo Faccioli
2008: Olhos de morcego - Leonardo Brasiliense
2007: Transversais do tempo - Tailor Diniz
2006: O gato escarlate - Luiz Coronel
2005: Arquitetura do Arco-íris - Cintia Moscovich
2004: Mínimos Múltiplos Comuns - João Gilberto Noll
2003: A rua dos secretos amores - Jane Tutikian

CRÔNICA
2009: Agora eu era - Cláudia Laitano
2008: Cartas à minha neta - Armindo Trevisan
2007: O amor esquece de começar - Fabrício Carpinejar
2006: O olhar médico - Moacyr Scliar
2005: A lei primordial - Franklin Cunha
2004: Tipo Assim - Kledir Ramil
2003: Todos os meses - Valesca de Assis e Ana Maldonado

POESIA
2009: Prosa do mar - Marlon de Almeida
2008: Meu filho, minha filha - Fabrício Carpinejar
2007: O herói desvalido - Maria Carpi
2006: As sombras da vinha - Maria Carpi
2005: O sonho nas mãos - Armindo Trevisan
2004: A Força de Não Ter Força - Maria Carpi
2003: Biografia de uma árvore - Fabrício Carpinejar

NÃO-FICÇÃO
2009: A matéria encantada, por Xico Stockinger: ode a um guerreiro - Armindo Trevisan
2008: Crianças no asfalto - Marcelo Spalding
2007: O crepúsculo da arrogância - Sergio Faraco
2006: Crônica: o vôo da palavra - Walter Galvani
2005: Travessia da Amazônia - Airton Ortiz
2004: O Rosto de Cristo - Armindo Trevisan
2003: Lágrimas na chuva - Sergio Faraco

INFANTIL
2009: Cida, a Gata Maravilha - Luiz Paulo Faccioli
2008: Iberê menino - André Neves e Christina Dias
2007: A almofada que não dava tchau - Celso Gutfreind
2006: Bolacha Maria - Carlos Urbim
2005: O cavaleiro da mão-de-fogo - Mario Pirata
2004: Pestilóide e o Sumiço da Chuva - Marô Barbieri
2003: Fera domada - Celso Gutfriend

JUVENIL
2009: A cor do outro - Marcelo Spalding
2008: Mais ou menos normal - Cíntia Moscovich
2007: Adeus conto de fada - Leonardo Brasiliense
2006: Debaixo de mau tempo - Caio Riter
2005: Atrás da porta azul - Caio Riter
2004: J F e a Conquista de Niu Ei - Jane Tutikian
2003: Aconteceu também comigo - Jane Tutikian

Fonte:
Associação Gaúcha de Escritores

domingo, 5 de setembro de 2010

Balaios de Trovas VII


Se acaso seu filho abusa,
diga-lhe um “não”, que faz bem.
Muita vez uma recusa
salva o futuro de alguém.
A. A. DE ASSIS – PR

De uma forma desmedida,
muita gente, a toda hora,
dizendo gozar a vida,
vai jogando a vida afora!…
ALFREDO DE CASTRO - MG

Quanta gente em devaneios,
buscando instantes risonhos,
vive dos sonhos alheios
e esquece dos próprios sonhos!...
ANTÔNIO JURACI SIQUEIRA-PA

Se entre guizos, eu componho
meu disfarce de Arlequim,
há sempre um Pierrô tristonho,
que chora dentro de mim!
CAROLINA RAMOS – SP

Eu peço que não me iludas,
nem me deixes com infarto
com essas pernas desnudas
na penumbra do teu quarto.
CLÊNIO BORGES – ES

E desde o raiar do dia,
entre rocha, musgo e lua,
vou te fazendo poesia,
morta de saudade sua.
DÁGMA VERÔNICA -MG

Onde a lei torta vigora
e o povo ao jugo se presta,
o rico só comemora
e o pobre é quem paga a festa.
DIVENEI BOSELI - SP

A dor materializou-se,
nestas lágrimas sem cor.
Meu orgulho evaporou-se...
Rendi-me à força do amor!
FRANCISCO NEVES MACEDO-RN

Existe amor sem sequelas,
na união de um casal,
nos romances e novelas,
nunca na vida real.
GERALDO AMÂNCIO PEREIRA - CE

E’ de ternura o momento
em que o Sol sorri no espaço,
se faz vida e sentimento
e lança ao mar seu abraço!
GISLAINE CANALES - SC

Quando chegar, vou sorrir;
sorrirás, quando eu chegar.
Não chores quando eu partir,
para eu partir... sem chorar...
IZO GOLDMAN - SP

Sonhei um sonho tão triste!...
Sonhei que o mundo acabou...
- Logo depois, tu partiste,
e o sonho se confirmou...
JOSÉ OUVERNEY - SP

Para ser feliz, na vida,
bem alegre, a todo instante,
sem causar qualquer ferida,
o equilíbrio é importante.
NEI GARCEZ-PR

Sem rodeio e sem firula
deixo a todos essa dica:
Impostor sempre bajula,
amigo às vezes critica!
PEDRO ORNELLAS - SP

Você pode até amar
aos limites do impossível,
mas ao se relacionar,
equilíbrio, imprescindível.
RAYMUNDO SALLES BRASIL-BA

Quando à noite, a solidão
e a saudade trazem dor,
vou dizendo ao coração:
-é o preço por tanto amor.
ROBERTO PINHEIRO ACRUCHE - RJ

Na vida, em toscos degraus,
entre tropeços a sustos,
mais que a revolta dos maus,
temo a revolta dos justos!
RODOLPHO ABBUD - RJ

Um coração congelado
pega fogo, de repente,
quando o amor, fósforo alado,
risca faíscas na gente!
ROSA DE OLIVEIRA - PR

Fonte:
ACRUCHE, Roberto Pinheiro. Trovas e Poemas. n.19. setembro de 2010.

Athayr Cagnin (Poemas Avulsos II)

Terra Virgem do pintor
capixaba Levino Fanzeres (1884-1956)
PRIMAVERA

Farfalham folhas e despertam ninhos.
Acorda o dia em rútilos fulgores.
O sol abre a cortina dos caminhos
para a festa das aves e das flores.

Por toda a parte a voz dos passarinhos
confunde-se com a voz dos trovadores.
Namorados permutam-se carinhos...
Há uma feérica explosão de cores.

Aromas pairam no ar. Nuvens graciosas
evoluem no espaço, preguiçosas...
A conversar com os pássaros me arrisco...

É a primavera! E eu sinto dentro em mim
um desejo de amar que não tem fim,
como se eu fora um novo São Francisco!

INSÂNIA

Este amor impossível que me invade
a alma, enchendo-a de loucas fantasias,
troca minutos de felicidade
por semanas e meses de agonias.

Para beber a doce claridade
que dos teus negros olhos irradias,
em permanente estado de ansiedade
sou condenado a ruminar meus dias.

Em vão tento esquecer-te. Em vão invento
mil formas de arrancar-te da memória,
como se fora fácil meu intento.

Medito, raciocíno, persevero,
mas cada vez me afundo mais na inglória
luta de querer tanto a quem não quero.

CHAMA EXTINTA

Se ela me amasse como amou outrora.
com aquele mesmo ardor com que me quis,
eu mandaria esta tristeza embora
e voltaria até a ser feliz.

Versos de amor faria sem demora,
como jamais, em qualquer tempo, fiz,
e não vegetaria como agora,
acabrunhado, apático, infeliz.

Se ela me amasse como antigamente,
com o mesmo anhelo, o mesmo amor enfim,
minha vida seria diferente.

-Pedi-lhe que voltasse e ela voltou,
mas que me vale tê-la junto a mim,
se já não me ama mais como me amou!...

IN MEMORIAM

Homenagem a Benjamim Silva

Num dia assim, de céu tão meigo e brando,
Velho Itapemirim, por que soluças
E no leito das poedras te debruças,
Como uma grande lágrima rolando?

E Itabira, montanhas dominando,
Por que para o infinito o olhar aguças
E os espaços longínquos esmiúças,
Como que algo de grave adivinhando:
Que estranho mal vos traz tanto amargor?...

...E a tudo eu continuo perguntando,
Sem ver que a natureza está chorando,
Porque morreu o seu maior cantor!

Fonte:
http://www.poetas.capixabas.nom.br/

Ialmar Pio Schneider (Devaneios Poéticos)

Pintura de John Constable (1776 - 1837)
SE EU TE DISSESSE...

Se eu te dissesse que sinto a angústia de saber que existes
e não consigo te alcançar porque me pareces uma estrela distante...
Que os versos que componho se tornam cada vez mais tristes
e não posso te atingir como quisera e tenho que seguir adiante...

Se eu te dissesse que mesmo assim és a musa que me inspira
nos momentos de aflição, nas horas mais difíceis da vida...
Compreenderias talvez os soluços que magoada murmura a lira
do poeta que sou, maluco por tua presença inatingida ?!..

Se eu te dissesse também que representas o antes e o depois
de tudo que caminhei nas páginas de minha história...
que eu desejava, mesmo almejava, que fosse de nós dois
este feliz caminho, esta venturosa trajetória....

Se eu te dissesse que os dias custam a passar quando não estás
falando comigo e permaneço ouvindo tuas palavras ardentes...
Que em lugar nenhum consigo ficar, por assim dizer, em paz
e faço parte do rol nada agradável dos descontentes...

Sentirias a saudade que chega sem avisar, na hora
em que talvez estejas a fazer solitária, a tua prece
de amor por quem sentes bater o coração agora
pulsando ingovernável e bravio... Se eu te dissesse ....

FORAS CAPAZ....

Deixarias que eu entrasse em tua vida assim sorrateiramente
como chega um ladrão para roubar teu coração ?
Quiseras que eu fosse alguém desconhecido de ti, diferente
dos demais, e viesse para tua aceitação ?!

Se assim o desejas e vives sem preconceitos,
eu me apresento agora à tua contemplação,
embora trazendo em meu ser mil defeitos
próprios dos que amam ardentemente com tanta emoção !

Foras capaz enfim de projetares uma aventura louca
que descortinasse um mundo que nem sonhas existir,
e tivesses que enfrentá-lo, saturada de beijos em tua boca,
e dos outros que falassem te pusesses a rir...

Nós transporíamos todos os obstáculos possíveis e imagináveis
e seriamos dois em um, como sói acontecer aos amantes,
por assim dizer, enamorados e amáveis,
que querem desfrutar juntos todos os instantes...

Fonte:
O Autor

Silviah Carvalho (Tristeza)


Se minha tristeza tivesse fim, poderia mudar meu teor,
E virar a página do que há incontido no desfazer-se do nó.
No nascer de um novo dia, eu perceberia sua real beleza,
Eu poderia viver e amar, se não fosse esta tristeza.

Por ela me escondo e com ela sobrevivo e me divido,
Não há dor que não sinta, ou mal que não tenha conhecido,
Às vezes parece amiga, dorme e acorda comigo, não me deixa,
Mas de sua presença, minha alma reclama e a mim se queixa.

Dela escrevo por ela me inspiro, nela Deus se manifesta,
É a presença reflexiva que nos poemas exprime grandeza,
Perder a graça de viver é tão fácil, quanto não achar um
Motivo para tal. Finar-se, é da tristeza o estágio terminal.

Como a “Narciso” foi-me dado uma sentença, mas no espelho
D’água não vejo minha aparência, foi-se o que chamam de beleza,
Ficaram lembranças saudosas de um tempo que não volta por
Nunca ter existido que foi sonhado e não foi vivido... Tristeza!

Agora, tornar-se-á real o que parecia apenas sutileza,
Vais partir e nada terei por sua ausência, não vi teu rosto e já sinto
Saudade. Cativou-me algo tão raro, considerando sua frieza,
Restou-me esta certeza, nada sou para ti, e eterniza esta tristeza.

Fonte:
A Autora