quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.94)


Uma Trova Nacional

No coração sem maldade,
relevo a minha cobiça.
Da feição à liberdade,
amor, prazer e justiça.
(ANTONIO PAIVA RODRIGUES/CE)

Uma Trova Potiguar

Por hábito a mulher mente
e em tudo se contradiz:
– sente, e não diz o que sente,
– diz, e não sente o que diz.
(ANTÔNIO DAMASCENO/RN)

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > Menção Especial

Em meus delírios risonhos
fiz de você quase um Deus...
e fui vivendo os seus sonhos
como se fossem os meus!
(ARLINDO TADEU HAGEN/MG)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Na paineira do sertão,
muito longe da cidade,
sabiá, na solidão,
canta o choro da saudade.
(DÁGUIMA VERÔNICA/MG)

GLOSA:
Na paineira do sertão,
nas horas santas - amém!,
reza, o vento, uma oração
que os anjos ditam, do além.

A casinha de sapé,
muito longe da cidade,
abriga, com amor e fé
a nossa felicidade.

Sol a pino! Sobre o chão
animais agonizantes...
Sabiá, na solidão,
canta/dor dos retirantes.

Após nosso amor desfeito
tamanha é a dor que me invade
que meu coração, no peito,
canta o choro da saudade”.
(JURACI SIQUEIRA/PA)

Uma Trova de Ademar

Eu, no sertão, meninote,
depois de tomar mingau,
corria atrás de um garrote
no meu cavalo de pau.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Desfaz-se a flor, mas, no galho,
deixa, em pétala singela,
uma lágrima de orvalho,
que a noite chorou por ela
(CARLOS GUIMARÃES/RJ)

Estrofe do Dia

Com uma insônia aloprada
que não deixava eu dormir
comecei a refletir
na minha infância passada.
Lembrei da roça, da enxada,
daquele esforço medonho,
do meu trabalho enfadonho
no início da minha vida,
a noite não foi perdida
a reflexão virou sonho.
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– José Antonio Jacob/MG –
ILUSÃO MATERNA.

Ele era criança e pouco compreendia
O que era a dor de ter amor ausente:
Seu quintal era tudo o que ele via,
E via tudo muito de repente...

Contava estrelas mal morria o dia,
E ao vê-las pela noite simplesmente,
Fitava a mãe, e com o olhar pedia,
Uma delas para ele de presente.

E a mãe bondosamente lhe dizia,
Que a estrela era a alma boa que subia,
Para ir no Além com Deus sempre existir.

Hoje este homem aponta a estrela guia,
Feito uma criança se enche de alegria,
Ao ver a mãe no céu a lhe sorrir.

Fonte:
Ademar Macedo

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.93)


Uma Trova Nacional

Você me faz tanta falta,
que eu tenho a triste impressão
de ser nota numa pauta
sem clave nem duração...
(JEANETTE DE CNOP/PR)

Uma Trova Potiguar

Minha mãe – por sua cruz,
meu pai – por sua bondade,
hoje são anjos de luz
que tenho na eternidade.
(BENTO RABELO/RN)

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > M/H.

Quando a ilusão me conclama
a esperar por quem não vem,
eu deliro... e, em minha cama,
beijo o lençol... sem ninguém...
(PEDRO MELO/SP)

Simplesmente Poesia

– Antonio M. A. Sardenberg/RJ –
SORRISO

Esse seu sorriso aberto,
Mais lindo do que o luar
É como chuva miúda
Que faz a vida nascer
E a esperança germinar.

Ele é toque de ternura,
Toda candura que há,
É a beleza mais pura,
Tem a leveza e frescura
Da brisa que vem do mar.

Esse seu sorriso aberto
Transmite tanta energia
Que parece a luz do sol
Raiando ao nascer do dia.

Ele é doce que nem mel,
É como um jardim florido,
É pedacinho do céu,
O meu mundo colorido.

Uma Trova de Ademar

Uma mensagem de luz,
que trouxe uma fé tamanha,
foi aquela que Jesus
deixou pra nós na montanha.
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Chuvarada de granizo
deu cabo da plantação,
deu cabo do meu sorriso,
do cabo da enxada, não!...
(DURVAL MENDONÇA/RJ)

Estrofe do Dia

Eu fiquei contemplando o Ser divino
Exalando seu mundo de inocência
Os orvalhos cristais da transparência
Cintilavam no rosto pequenino.
O seu jeito delicado e cristalino
Expressava da vida a flor ternura,
Cada planta se curvava com brandura
Ofertando respeito e reverência,
Onde os galhos sutis da consciência
Tinham Deus na divina criatura.
(GILMAR LEITE/PE)

Soneto do Dia

– João Justiniano da Fonseca/BA –
SONETO SEM SAL E SEM PIMENTA.

Eu te responderei. Tenho presentes
os teus olhos, nas praias do infinito,
aonde o azul do céu é mais bonito,
em manhãs de maré, sonhos ardentes!

Nos teus porões de sonhos descontentes,
de bruxas e duendes, de maldito,
há sofrimento? Então, dá por proscrito,
o mal. Põe riso nos teus alvos dentes.

Busca-me sempre e mais, estás bem viva,
na lembrança do amado. És a Diva
do sonho, do ideal - o que desejo.

Toca a orquestra do amor no coração,
e mais te quero e com maior paixão,
onde me encontre, junto a ti me vejo.

Fonte:
Ademar Macedo

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.92)


Uma Trova Nacional

Num lance de rebeldia,
deste amor jurei fugir...
- Promessa que fiz um dia
e nunca pude cumprir.
(CONCEIÇÃO A. DE ASSIS/MG)

Uma Trova Potiguar

Com Jesus, não tenho escolhos,
e a luz que emana de Deus,
não vejo pelo meus olhos,
vejo pelo os olhos seus...
(CLÉA REVOREDO/RN)

Uma Trova Premiada

2000 > Niterói/RJ
Tema > DELÍRIO > M/H.

Num delírio descabido,
meu estro, em versos febris,
supõe o amor não vivido
e finge que foi feliz!
(PEDRO ORNELLAS/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE:
Lua branca, prateada,
Surge por trás do arvoredo.

GLOSA.
Chega a noite embaciada
pelo véu do Sol poente,
mas não tarda, é iminente,
Lua branca, prateada,
Vem, assoma desnevada,
portando o mesmo segredo,
que supera todo enredo
do que padece ao relento;
igual é seu nascimento
surge por trás do arvoredo.
(MANOEL DANTAS/RN)

Uma Trova de Ademar

Na minha “transposição”,
que eu faça a escolha certa:
em Deus encontre o perdão
e a porta do céu aberta!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Quanto mais disciplinado,
mais valor terá seu filho;
o diamante lapidado
se conhece pelo brilho.
(CAROLINA A. DE CASTRO/PE)

Estrofe do Dia

Desponta o sol no nascente,
o camponês vai pra roça,
a porca velha se coça
nos tijolos do batente,
corta o mato com o dente
faz uma cama e dá cria,
sem precisar cirurgia
e nem parteira aparando;
brilha o sol iluminando
tudo quanto a terra cria.
(JOÃO PARAIBANO/PB)

Soneto do Dia

– Darly O. Barros/SP –
MELANCOLIA.

O sol boceja! A Noite Santa avança
e, em meio ao lusco-fusco do poente,
volto a sentir saudades da criança
que a vida fez crescer e, de repente...

Nada, contudo, guarda semelhança
com os Natais do meu antigamente:
o mundo é outro, a bem-aventurança
da data, um breve hiato, num presente

de tanta violência entre os mortais,
que é fácil compreender não volte mais
essa criança que se foi tão cedo;

prefiro vê-la agora recolhida,
neste meu peito que, de volta à vida
mas, infeliz e trêmula de medo!

Fonte:
Ademar Macedo

Andreia Donadon Leal premiada em 18 de Janeiro

A Sociedade Fluminense de Belas Artes (fundada em 1940) e a Ordem dos Advogados Brasil outorgarão a Medalha Joaquim Nabuco à Artista Visual Mineira e Ex-aluna da UFOP, Andreia Aparecida Silva Donadon Leal, pelo destaque no mundo da arte e da cultura brasileira

Efigênia Coutinho (Cristais Poéticos)


PORQUE AMO

Amo-te na união de todos os sonhos
Que te completam em cada era destinada.
Amo-te nos meus ideais mais risonhos...
Teu coração é minha estrela Futurecida!

Amo-te até na aerosfera que respiro…
Tal qual o verão estação que prefiro,
Amo-te acima, aos céus, onde és meu suspiro,
Porque creio nos sonhos e por ti aspiro!

Num amor pelos deuses do Olimpo aclamado,
Onde sou vestal preparando a tua vinda,
Vestida em brocados de cristal dourado,
Para te ofertar o amor de minha alma infinda!

Amo-te! E amarei assim tão docemente,
Afagando os sonhos postos em minha mente.
Amo-te! Deste grande amor eu sou ciente
Que seremos abençoados eternamente!

Sei que a vida nos colocou num só destino,
Por esta razão o meu amar eu proclamo.
Vou embalando o amor ao tons cristalinos,
Acalentando por todo Universo porque Amo!

O SONHO REALIZADO

E na noite, onde o sonho que te inflama,
Tornar-se-á na mais bela realidade.
Ao amanhecer tecendo toda trama,
Unindo corpos em aprazível felicidade.

No real que nos tinge nas cores do amor,
Serei tua, sequiosa de todos os desejos.
Na pele, sentirei da paixão todo ardor
Do teu afago em mim, tão benfazejo.

E nas noites, jamais sozinho ficarás,
Porque o futuro ditará a nossa vontade.
Na cama, teu corpo ao meu tu unirás
E no sempre viveremos nessa dualidade.

Este sentir que hoje é tão sonhado,
Logo será o nosso mais belo momento.
Quando se fizer em ato consumado,
O aconchego deste sublime sentimento.

SONHOS

Quando tiver um sonho, construa um altar:
um espetacular altar de rua
que lhe couber em sorte no ato de amar
ainda que imperfeito à luz da Lua!

Quando você sonhar, construa um caminho
de saibro ou granito, pouco importa!,
onde a Lua possível seja o linho
dum telhado com janelas e uma porta!

Não há sonho que dure eternamente,
perdemos um-a-um, sem grande esforço,
sorrimos à deriva pela mente
que nos atrai o pólo ou o seu dorso.

Somos fiéis ao amor pra nosso mérito
porque nele encontramos o que é feérico...

CANÇÃO DO AMOR

Quando em teus braços estou
sou o teu sonho todo esplendor
vestida nas cores dum arco-íris
Palpitando o coração amoroso!

Com teu Amor deixo-me a sonhar
dentro, teu olhar, ouvindo teu cantar
outra vez, em teus olhos banho-me
Com este imenso Amor a Sonhar...

Vou levando essa melodia sem par
Se é sonho ou soneto, veio para ficar...
Com teu olhar tua voz, eu Amo sonhar!

De Amar e de ser Amada...,
Todo meu esplendor te dou
Na canção que nasceu essa paixão!

SÓ QUERO EXISTIR

Me dão asas que me prendem
Querem-me mãe-líder
Porque você resolve tudo
E me mantém submissa

Me querem omissa
Mas me cobram decisões
Não me permitem ir
Mas me cobram a busca

Me prendem nas prendas
Enclausuradas do lar
Afinal, você faz tudo
Mas exigem tudo de mim

Me tolhem ações e pensamentos
Mas quando ajo e penso
Querem saber o que fiz
Querem saber o que penso

Me tiram até o direito ao sonho
Mas me exigem sonhando
Me tiram até o direito ao canto
E me querem só música

Me prendem imobilizada
Sem deixar de cobrar-me liberdade
Sem que eu possa me dividir
Nem me doar a ninguém
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Elmano Cardim (As Primeiras Revistas Literárias)

Idade d'Ouro do Brasil (1a. edição publicada)
Contudo, a imprensa literária surgiu cedo no Brasil, logo em seguida aos dois primeiros periódicos, que se registram na história do nosso jornalismo.

Depois da Gazeta do Rio de Janeiro e da Idade d’Ouro do Brasil, apareceu na Bahia em janeiro de 1812, com o título AS VARIEDADES ou ENSAIOS DE LITERATURA, o primeiro jornal literário, que foi, ao mesmo tempo, o terceiro publicado no país. Fundou-o, ao que tudo indica, Diogo Soares da Silva de Bivar, português culto, dado às letras, formado em Coimbra e de espírito liberal. Dizia-se descendente do Cid, o Campeador. Mandado em degredo para Moçambique, por haver hospedado Junot na sua casa da vila de Abrantes, desviou-se na viagem para a Bahia, onde se instalou e obteve depois o perdão pelo crime que hoje seria chamado de colaboracionismo com o inimigo. Da Bahia, onde exerceu a advocacia, passou para o Rio e aqui viveu até os 80 anos, ocupando vários cargos em associações cultas, benquisto e considerado. Era sócio do Instituto Histórico e faleceu aos 10 de outubro de 1865, deixando dois filhos ilustres, Rodrigo Soares Cid de Bivar e Luís Garcia Soares de Bivar, e uma filha que foi a primeira jornalista brasileira, Violante Atalipa Ximene de Bivar e Velasco, diretora, em 1852, do Jornal das Senhoras.

O Sr. Hélio Vianna desfez todas as dúvidas e confusões dos bibliógrafos sobre As Variedades, que se publicou em três números, reunidos os dois últimos num só, e assim se apresentava aos leitores:

"O Folheto que oferecemos ao Público, mostra de alguma forma o plano que havemos concebido, e que, quanto em nós é, desejamos desempenhar na redação e publicação do presente Periódico. Discursos sobre os costumes e as virtudes morais e sociais, algumas novelas de escolhido gosto e moral; extratos da história antiga e moderna, nacional ou estrangeira, resumo de viagens; pedaços de autores clássicos portugueses, querem em prosa, quer em verso, cuja leitura tenda a formar gosto e pureza na linguagem; algumas anedotas e boas respostas, etc. - tais são os materiais que tencionamos servir-nos para a coordenação desta obra, que algumas vezes oferecerá artigos que tenham relação com os estudos científicos propriamente ditos, e que possam habilitar os leitores a fazer-lhes sentir a importância das novas descobertas filosóficas".

O sumário dos três números das Variedades é interessante, de nível evidentemente elevado para o meio, o que determinaria, por certo, o seu fracasso, pois logo desapareceu, por falta de assinantes.

O segundo jornal com o tipo de revista literária surgido no Brasil foi O Patriota, fundado em janeiro de 1813 pelo Coronel Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, redator da primeira folha brasileira, a Gazeta do Rio de Janeiro, e fundador do Espelho, que foi, no período da Independência, um periódico muito informativo.

O Patriota teve, para a época e para o seu feitio, uma longa duração, pois se publicou até dezembro de 1814. Foi, na opinião do Sr. Carlos Rizzini, comprovada pelos fatos, a melhor publicação literária, não apenas da Colônia, mas do Reino e da Regência. Foi o primeiro jornal no Brasil a apresentar ilustrações.

O seu fundador, que abreviava o nome para Ferreira de Araújo, igual ao do jornalista que foi no fim do século uma glória da imprensa carioca, era baiano e tinha uma marcada vocação profissional. Fez carreira de engenheiro, alcançou o cargo de professor da Academia da Marinha de Lisboa, onde estudara, lecionou depois nas Academias da Marinha e Militar do Brasil e chegou ao posto de brigadeiro.

Tinha um grande pendor para as letras e por isso fundou O Patriota, cujas páginas publicaram a melhor produção literária da época, dos escritores Borges de Barros, Garção Stockler, Mariano da Fonseca, José Bernardes de Casto, Camilo Martins Lage, Ildefonso José da Costa e Abreu, Pedro Francisco Xavier de Brito, Silva Alvarenga, José Bonifácio, Silvestre Pinheiro e José Saturnino.

O Patriota, pelo seu subtítulo, se destinava a ser um jornal literário, político, mercantil etc. Saiu da Imprensa Régia. Publicou - diz Inocêncio - muitos documentos inéditos e notícias importantes para a história de Portugal e do Brasil, muitas poesias e artigos de arte, ciências e literaturas, como se vê do índice geral inserto no terceiro e último volume.

Manoel Ferreira de Araújo Guimarães, que era poeta, divulgou muitos dos seus versos no Patriota. Da veia lírica do jornalista, Joaquim Norberto, no seu Bosquejo da História da Poesia Brasileira, diz "que Araújo Guimarães cultivava a poesia lírica com pouca felicidade, porque a sua fantasia estragada com círculos e retas não era para poesia; e suas produções, a maior parte delas seladas com o cunho da mediocridade, ali jazem, e foram o assunto de muitas censuras dos seus coevos".

Os Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura estavam fadados a morrer de inanição, por falta de assinaturas que correspondessem ao esforço representado pela sua criação. Era uma revista, com 15 páginas, aparecida em princípios de 1822 e publicada uma só vez pela Sociedade Filotécnica, associação literária, que não chegou propriamente a funcionar, presidida pelo Conde da Palma e que fora fundada por José Silvestre Rebelo, que depois serviu à Diplomacia brasileira e foi um dos fundadores do Instituto Histórico.

A introdução, ou plano da revista, teria sido escrita por José Bonifácio, segundo a Vale Cabral declarou Varnhagen.

Os Anais foram o terceiro jornal literário do país. O seu redator era José Vitorino dos Santos e Sousa, que tinha uma oficina tipográfica e era matemático, autor de livros de álgebra e geometria e foi depois redator do Jornal Científico, Econômico e Literário.

O único número dos Anais tem na capa externa esta quadra, seguida de tradução:

Père de la nature, Être puissant et bon
Protège cet Empire, où l’humaine raison,
Dans un ordre nouveau, sous ton Auguste auspice,
De la Societé rebatit l’édifice.

O principal trabalho publicado nos Anais é o estudo do Desembargador Antônio Rodrigues Veloso de Oliveira sobre "A Igreja no Brasil", com dados e informações que constituem ótimo subsídio para a história eclesiástica do país.
***

Todos os historiadores são acordes em reconhecer o relevante papel que teve a imprensa na proclamação da Independência. A influência desse fator da emancipação nacional foi, no entanto, menos dos jornais propriamente ditos e dos panfletos de então do que dos redatores, cuja ação estudamos rapidamente nesta palestra. Com exceção de Hipólito da Costa, todos eles agiram à margem dos periódicos que redigiam, em ação política desenvolvida nas associações secretas, como a Maçonaria, nas reuniões, na Assembléia Legislativa e no próprio seio do governo.

Os nomes dos redatores das folhas de então não apareciam nos cabeçalhos, nem assinavam os artigos publicados. As "correspondências" valiam pelos "A pedido" de hoje. A luta contra o anonimato era, como já vimos, uma preocupação dos homens públicos, a fim de coibir os excessos da liberdade de imprensa.

Estudando esse aspecto da época, o Sr. Octávio Tarquínio de Souza acentua que "por força da estreiteza e do acanhamento do meio social do Rio desse tempo, de par com a exaltação das paixões políticas, o jornal era a expressão de uma personalidade, refletindo-lhe as idéias, os sentimentos, o feitio moral. O jornal era o seu redator, recebia-lhe a marca, como um livro, como uma obra individual a recebe do seu autor exclusivo".

Nas lutas da Independência, como em todos os outros momentos graves da nacionalidade, a imprensa representou, de fato, um grande papel. Mas não é de crer que a sua influência sobre a elite dirigente resultasse do reflexo da opinião pública, expressão que raramente aparecia nos escritos da época, embora neles se usasse e se abusasse mesmo das invocações ao povo.

Mas povo, em verdade, ainda não havia no país, cuja população era na sua grande maioria composta de analfabetos e de escravos.

Na época da Independência, o "povo" brasileiro era um valor muito relativo, uma expressão muito mais social do que demográfica. Basta dizer-se que o apelo entregue ao Príncipe Regente em favor da Independência continha 8.000 assinaturas, quando a população do país andava por três milhões de habitantes.

Como mostraram Armitage, Oliveira Lima, Oliveira Viana, Barbosa Lima Sobrinho e outros publicistas, o "povo" eram então os fazendeiros, os letrados, o clero, a burguesia comerciante.

Havia, naturalmente, as manifestações da rua, nas quais aparecia, não o povo, mas a plebe, facilmente manejada pelos agitadores que a usavam como instrumento para os seus desígnios políticos.

Foi essa plebe que acompanhou, com vaias e assobios, os deputados presos por ocasião da dissolução da Constituinte, o que levou José Bonifácio, ao entrar no Arsenal da Marinha, caminho da Fortaleza da Lage, onde ficaria preso, a dizer ao General Morais, que o recebeu: " hoje é o dia dos moleques".

Os fatos marcantes da época tinham pouca repercussão no noticiário, e entre eles a própria proclamação da Independência, sobre a qual os periódicos foram omissos ou parcimoniosos. Nem se usava, para a divulgação dos acontecimentos, das colunas dos jornais, embora em 1822 constasse o Rio de Janeiro com quatro tipografias e 14 jornais, entre os quais dois quotidianos, o Volantim, de existência muito passageira, e o Diário do Rio de Janeiro, aparecido em 10 de junho de 1821 e cuja publicação foi até 1878. Esse jornal, que teve uma grande importância na imprensa brasileira, timbrando no começo em não cuidar de política, deixou de noticiar a proclamação da Independência.

Os acontecimentos da história pátria eram conhecidos, seja por editais afixados nas esquinas, seja por meio dos bandos, que vinham à praça pública, numa pitoresca encenação, descrita por Max Fleiuss como uma "espécie de proclamação de caráter todo municipal, consistente em uma ruidosa cavalgada, em que tomava parte todo o Senado incorporado: presidente, procurador, porta-estandarte, oficiais, almotáceis e meirinhos, precedidos de um pelotão de cavalaria de polícia, seguido de uma banda de música da milícia burguesa.

"À frente iam pretos, soltando foguetes, e fechava o préstito outro pelotão de cavalaria e o povo dando vivas.

"Nas encruzilhadas das ruas, parava o cortejo e um dos oficiais da Câmara, a cavalo e de cabeça descoberta, procedia à leitura do bando ou proclamação como assim sempre se fazia, nos três dias antes das principais solenidades da Corte, tais como o nascimento, casamento ou falecimento de alguma pessoa real.

"Nos bandos que anunciariam a aclamação e coroação de D. João VI, que se realizou em 6 de fevereiro de 1818, e as cerimônias da coroação e sagração de D. Pedro I, a 10 de dezembro de 1822, os mais notáveis personagens disputavam a honra de neles figurar
".

A imprensa, com a restrita circulação dos periódicos, era então essencialmente política, doutrinária e personalista. Mas nem por isso deixava de existir e de pesar sobre o ânimo dos que detinham o poder e orientavam os acontecimentos formadores da nação que se criava.

É que já se forjara, nítida e robusta, como alavanca de comando dos episódios históricos, uma consciência nacional, que naqueles dias confusos e tormentosos orientava o patriotismo dos brasileiros.

(Jornalistas da Independência, 1958)

Fontes:
Academia Brasileira de Letras
Imagem = http://hcnb.wordpress.com

Elmano Cardim (1891 – 1979)



Elmano Gomes Cardim era natural de Valença, no Estado do Rio de Janeiro, onde nasceu a 24 de dezembro de 1891, filho de Francisco Eduardo Gomes Cardim e de Adelia Figueiredo Cardim. Faleceu na cidade do Rio de Janeiro em 19 de fevereiro de 1979.

Estudou nos Colégios Pedro II e Alfredo Gomes. Concluiu o curso de Direito na Faculdade do Rio de Janeiro em 1914.

Iniciou cedo a carreira de jornalista em "O selo" e no "Diário de Notícias". Integrou-se, em 1909, na equipe do "Jornal do Commercio", do Rio de Janeiro. No jornal redigiu por algum tempo as famosas “Várias” e passou de revisor de provas a diretor e proprietário.

Exerceu cumulativamente alguns cargos públicos, no Arquivo Nacional e mais tarde foi indicado escrivão de uma das Varas de Órfãos e Sucessões.

Em 1935 presidiu a delegação de jornalistas que acompanhou o presidente Getúlio Vargas em viagem aos países do Prata.

Recebeu em 1951 o Prêmio Moors Cabot de Jornalista. Foi eleito sócio honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro" em 1937, passando a efetivo em 1970 e a benemérito em 1976. Integrou a missão cultural no Uruguai em 1943, onde pronunciou conferências na Universidade daquele país.

Entre os trabalhos publicados por Elmano Cardim merecem destaque - "Justiniano José da Rocha", "A vida jornalística de Rui Barbosa", "Joaquim Nabuco, homem de imprensa", "Na minha Seara", "Jornalistas da Independência", "Discursos", "Rocha Pombo", "Vidas Gloriosas", "Graça Aranha e o modernismo Brasil", "Na pauta da História".

Presidiu Elmano Cardim a Associação Brasileira de Imprensa.

No Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro ingressou como sócio honorário em 1937, passado a efetivo em 1970 e a benemérito em 1976.

Membro da Academia Brasileira de Letras, quinto ocupante da Cadeira 39, eleito em 13 de abril de 1950.

Obras publicadas:
Justiniano José da Rocha,
A vida jornalística de Rui Barbosa,
Joaquim Nabuco, homem de imprensa,
Na minha Seara,
Jornalistas da Independência,
Discursos,
Rocha Pombo,
Vidas Gloriosas,
Graça Aranha e o modernismo Brasil,
Na pauta da História.

Fonte:
Academia Brasileira de Letras

Adelto Gonçalves (Uma “redescoberta” da Literatura Africana no Brasil)


I

A Editora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) colocou no mercado uma nova coleção, Poetas de Moçambique, em que apresenta antologias dos maiores poetas modernos de língua portuguesa e origem moçambicana. Segundo a editora, os autores escolhidos estabeleceram freqüentemente diálogo com a literatura brasileira, especialmente com as obras de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Cecília Meireles (1901-1964), Vinicius de Moraes (1913-1980) e Manuel Bandeira (1886-1968). Os primeiros volumes são dedicados a José Craveirinha (1922-2003) e Rui Knopfli (1932-1997).

Craveirinha, primeiro autor africano galardoado com o Prêmio Camões, em 1991, é um dos nomes fundamentais da literatura moçambicana. Filho de pai algarvio e mãe ronga, é dono de uma obra concisa, que cobre cinco livros publicados em vida e duas coletâneas póstumas, além de dezenas de poemas espalhados em periódicos e antologias. Este livro reúne os principais poemas do autor com nota biobibliográfica de Emílio Maciel.

Já Rui Knopfli produziu uma encorpada e original obra literária durante o período colonial. Seus poemas selecionados estabelecem diálogo com as principais tradições clássicas e modernas da poesia. O livro traz posfácio com texto crítico e nota biobibliográfica de Roberto Said.

Ao mesmo tempo, a Ateliê Editorial, em parceria com a Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp), acaba de lançar Portanto... Pepetela, organizado por Rita Chaves e Tania Macêdo, professoras de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo (USP). O angolano Pepetela, nascido Artur Carlos Maurício Pestana dos Santos, ganhador do Prêmio Camões de 1997, é talvez o mais importante romancista de seu país. Com apresentação do moçambicano Mia Couto, o livro reúne 38 artigos e ensaios de estudiosos da obra de Pepetela.

Nada mais alvissareiro do que essa “redescoberta” da literatura africana de expressão portuguesa. Mas desses três autores, apenas José Craveirinha é resultado da mistura do sangue português com africano. O que se espera é que esse interesse não se restrinja apenas a autores lusodescendentes, mas seja aberto a todos os africanos que fazem literatura em Língua Portuguesa.

II

Nada contra Pepetela, Agualusa, Mia Couto ou Luandino Vieira, nomes hoje incontestáveis no panorama da literatura africana de expressão portuguesa. O que se estranha é por que só descendentes de portugueses que nasceram em terras africanas têm largo espaço nos veículos de comunicação de Portugal e nas universidades de Portugal e do Brasil.

Basta ver que o livro Portanto... Pepetela traz, ao final, uma lista de 56 teses de doutorado e dissertações de mestrado defendidas em universidades brasileiras sobre a obra de Pepetela. Um exagero, evidentemente, porque há muitos outros autores africanos de expressão portuguesa que poderiam ser estudados. E não o são. Não se quer acreditar que seja por racismo, pois o que se espera é que esse tipo de comportamento seja algo já superado, sem razão de existir neste começo de século XXI.

Talvez seja ainda a "saudade do império colonial perdido", como disse Patrick Chabal, professor de Estudos Africanos do King´s College, de Londres, para se citar aqui um nome isento destas questiúnculas lusófonas, que impeça os acadêmicos e editores portugueses de enxergar que a lusofonia é uma falácia – que não vai chegar a lugar nenhum – enquanto eles não aceitarem a verdadeira dimensão da língua portuguesa para além da Europa.

Em outras palavras: Pepetela, Agualusa, Mia Couto e Luandino Vieira fazem parte da última geração de lusodescendentes que, nascidos na África, praticam uma literatura com vivência africana. Dentro de 20 ou 30 anos, quando provavelmente já não estiverem mais neste mundo, quem irá representar a Literatura Africana de expressão portuguesa senão os autóctones ou um ou outro miscigenado?

Portanto, o futuro da Língua Portuguesa na África vai depender dos naturais desses países por onde os portugueses criaram raízes – e também daquelas regiões que, hoje, sofrem com a opressão de vizinhos que não falam português. É o caso da Casamansa, província do Sul do Senegal, que ainda aspira livrar-se da opressão de Dakar para se tornar um país independente e membro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Será que em Casamansa não há um único poeta ou escritor que escreva em português? Ou somos nós que não queremos vê-los?

Como diz o escritor moçambicano João Craveirinha, por mais que se assumam "lusófonos", os escritores de tez escura serão sempre os "outros", os outsiders, os ex-colonizados. Entre esses, além de João Craveirinha, pode-se citar de uma enfiada Paulina Chiziane, Ungulani ba Ka Kossa, Nelson Saúte, Noémia de Sousa, Kalungano, Luís Bernardo Honwana e Suleimane Cassamo, de Moçambique; Adriano Mixinge, João Melo, Ondjaki, Victor Kajibanga, Uanhenga Xitu, Ana Paula Tavares, Luís Kandjimbo, de Angola; José Luís Hopffer Almada e Germano Almeida, de Cabo Verde; Abdulai Sila, Hélder Proença (?-2009) e Odete Semedo, da Guiné-Bissau; Alda do Espírito Santo e Tomás Medeiros, de São Tomé Príncipe. E muitos outros.

O que é preciso dizer – e quase ninguém o faz – é que persistir nessa visão preconceituosa é um erro, que equivale a dar um tiro no próprio pé, pois recusar-se a reconhecer que o futuro da Língua Portuguesa na África depende dos naturais daqueles países é condená-la ao desaparecimento. E olhem que quem escreve isto é um brasileiro de primeira geração, de pai português de Paços de Ferreira, Norte de Portugal, e de avós maternos açorianos.

III

Embora o desconhecimento no Brasil acerca dos assuntos africanos seja abissal, não se pode deixar de reconhecer que foi graças aos literatos brasileiros que a Língua Portuguesa continuou viva nas décadas de 1950, 60 e 70 na África de expressão portuguesa, especialmente entre aquela camada mais culta, que gostava de ler Jorge Amado (1912-2001), Érico Veríssimo (1905-1975), Guimarães Rosa (1908-1967) e outros tantos.

Rui Knopfli mesmo é um poeta fortemente influenciado pela literatura brasileira, além de suas grandes ligações com a poesia portuguesa moderna. De africano, só carrega o fato de ter nascido em Inhambane. Trata-se de um fino poeta, cuja poesia está entre o que de melhor se escreveu em Língua Portuguesa no século XX, mas que, ao contrário de Pepetela que permaneceu em Angola e lutou contra o colonialismo, deixou Moçambique tão logo o país se separou de Portugal. Jamais se assumiu "moçambicano" no anterior e muito menos no atual contexto africano e sociopolítico do pós-independência. Assumiu-se, sim, como um português de Moçambique agastado com os "pretos" da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) que queriam ser iguais aos "brancos".

A visão que Knopfli tinha da África era eurocêntrica, de um colono que pertencia a uma elite colonial intelectual que, provavelmente, sonhava com um Moçambique semelhante à Rodésia ou à África do Sul sem apartheid, mas com os chamados “brancos” a mandar nos "pretos", ou seja, “cada macaco no seu galho", para se repetir aqui uma expressão politicamente nada correta que se ouve ainda neste Brasil de racismo disfarçado. A lusitanidade européia de Knopfli sempre falou mais alto.

Quem conhece a vida moçambicana pré-independência sabe muito bem que Knopfli atacara a arte banta do escultor Alberto Chissano e do pintor Malangatana em termos depreciativos, como a dizer que eles nunca poderiam ascender a artistas plenos em razão de sua origem "primitiva", tal como os "bons selvagens" de Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), que seriam congenitamente limitados. Isto está na Revista Tempo, de Lourenço Marques (hoje Maputo), dos anos 1970-1971. Quem duvidar que consulte na Biblioteca Nacional de Lisboa a coleção da revista. Mas é claro que isto ninguém gosta de lembrar.

Como se sabe, na África os conceitos não são os mesmos vigentes no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa em relação ao ser e estar africano. Até porque na África os "nativos" não foram exterminados como os ameríndios nas Américas. E, como continuam a sê-lo no Brasil em pleno século XXI. Para se ter um exemplo desse holocausto, basta ver que os traços indígenas hoje são pouco perceptíveis no brasileiro médio, exceto talvez no homem do Centro-Oeste e do Amazonas, ao contrário do que se pode constatar no Chile, no Paraguai, na Bolívia, no Equador e até na antigamente tão conservadora Argentina. Basta ver o que fazem, nos dias de hoje, certos fazendeiros e seus capangas com os caiowás, em Mato Grosso do Sul, sem que as autoridades tomem qualquer providência mais efetiva.

Na África, os autóctones continuam a ser maioria esmagadora e isso tem um peso enorme na consciência dos africanos, mesmo em meio a crises econômicas. Até mesmo porque eles estavam num estágio de desenvolvimento superior ao dos indígenas americanos, o que obrigou a chamada colonização portuguesa a restringir-se a vilas e destacamentos litorâneos. Até mesmo para “atravessar” o comércio da escravatura, os portugueses dependiam de nações africanas que traziam subjugados seus inimigos para comercializá-los nas praias. Com isso, a ocupação européia, de um modo geral, nunca conseguiu apagar no homem africano o grande sentimento de pertença ao legado banto.

Como tudo isso são águas e ressentimentos passados, o que importa hoje é preservar a Língua de Camões também na África. E essa preservação passa por um apoio mais decisivo em favor da divulgação e estudo da literatura de expressão portuguesa que é hoje praticada por africanos de todos os matizes de pele, indistintamente.
_______________________
PORTANTO... PEPETELA, de Rita Chaves e Tania Macêdo (organizadoras). São Paulo: Ateliê Editorial/Fapesp, 2009, 389 págs.

ANTOLOGIA POÉTICA, de José Craveirinha. Organizadora: Ana Mafalda Leite. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 198 págs.

ANTOLOGIA POÉTICA, de Rui Knopfli. Organizador: Eugénio Lisboa. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010, 206 págs.
__________________________
Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002) e Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Fonte:
Literatura Sem Fronteiras.

Luiz Eduardo Caminha (Lenda de Iaraguaçu)


Lenda premiada em 1º.Lugar no 1º. Concurso Internacional de Lendas e Poesia ME (Mulheres Emergentes) - 2010

Iaraguaçu, grande mãe d’água, era uma velha índia da aldeia Mbyá, do tronco Guarani-karijós, que habitava a ilha de Santa Catarina nos séculos XVI a XVIII, quando o homem branco chegou. Sua tribo descendia dos últimos sete casais fugitivos dos brancos invasores que massacraram a maioria dos Guaranis-karijós da Ilha da Magia. Antes, os casais refugiaram-se no sul da ilha, donde atravessaram para a Praia da Pinheira. Ali, permaneceram apenas um verão, temerosos de novos massacres. Foram para o Morro dos Cavalos. Anos mais tarde, seus pais e parentes migraram para o local onde vivia. Eram pescadores e não podiam viver longe das águas. Dela tiravam seu sustento em canoas de um pau só de garapuvu. Assentaram-se, ainda na segunda metade do século XVII, às margens da Lagoa de Fora, como chamavam a Lagoa de Santo Antônio onde, na margem oposta, crescera a Vila de Laguna.

Iara, como gostava que a chamassem, vivia numa choupana de paus e telhado de folhas de Indayá, uma palmeira da região. Desde pequena tinha visões que prenunciavam coisas boas ou ruins. Na tribo, estas atribuições eram próprias dos Pajés, mas muitos de seus “irmãos da terra” - como ela chamava os índios – dela se valiam. Também era dada a práticas medicinais e até caciques vinham atrás de seu conhecimento sobre as ervas.

Era o ano de 1838. Sua idade era desconhecida, mas os fatos que narrava ter vivido, como a fundação de Laguna em 1776, supunham que beirava os 75 anos. Sua vida resumia-se aos arredores da choupana e, boa parte do dia, em torno de um fogão de barro construído por um de seus netos. Curava muita gente, dava muitos conselhos e mesmo as autoridades de Laguna e as famílias de posse, de vez em quando, a ela recorriam. Afirmavam que, além das curas, ela mudara a vida de muita gente com seus aconselhamentos e adivinhações.

Ainda menina, fora levada pela mãe para servir a uma família da Vila, mas não sabia viver longe da liberdade da mata. Quase nada fazia que fosse costume dos brancos. Sua Senhora, uma mulher má, surrava-lhe com açoites e com uma espalmadeira “pra aprender as coisas”, como dizia.
Um dia, já moça feita, depois de inúmeras tentativas de fuga, fora mandada embora. A mãe já não vivia mais. Havia morrido de fraqueza nos pulmões, doença trazida pelos brancos. A maioria da aldeia havia deixado o lugar.

Iara foi catequizada aos 30 anos e aprendeu malmente a língua dos brancos misturando palavras com o tupi-guaraní. Era assim que falava com as pessoas que a procuravam. A todos atendia e transmitia sua paz interior, fruto das bênçãos de Nhanderú-etê, o Deus Verdadeiro, em quem acreditava.

Vivia com o neto, um cachorro velho e uma formosa águia cinzenta que ela mesma amestrara. Os moradores de Laguna já haviam se acostumado com sua presença soberana e solitária nos céus. Sempre que ela aparecia com seus estridentes trinados, alguma coisa estava por acontecer. Diziam que era Iaraguaçú que a enviava para lhes avisar. Era corrente a crença: quando a águia de Iaraguaçú plainava silente era época de calmaria e peixe em abundância, mas quando aparecia gritando e fazendo voos rasantes, um tempo ruim estava por vir. Era melhor guardar os animais, não sair para o mar e recolherem-se em suas casas, “prá modo de mal algum assussedê”, como diziam os matutos pescadores. Era dito e feito. Quando alguém desafiava o aviso, alguma tragédia acontecia. Barcos que soçobravam, pessoas que adoeciam – e até faleciam – vítimas de uma molha de chuva, gado que morria por ter ficado fora dos potreiros, enfim, o melhor era se precaver.

Uma das protegidas de Iaraguaçú era Aninha, a quem chamava kunhataí, filha do tropeiro Bentão. Fora Iara quem prevenira Aninha que seu casamento, arranjado pela mãe, com o sapateiro da cidade, não vingaria. Também previra que Aninha iria esposar um aventureiro de outras terras, vindo do mar, um valente que viria junto com a guerra que aconteceria no sul do Brasil e que tentaria criar em Laguna uma outra nação, a República Juliana. Tudo acontecera como dissera. Até a doença do pai, também vítima dos pulmões, quando tomara uma chuvarada no alto da Serra do Dose, assim escrita, com “esse”, em virtude de um estalajadeiro italiano da família Dose que vivia no sopé da escarpada montanha. O pai não aguentara e, como previra Iara, atravessara “manõ yvy ugwa” - o vale da morte, para se juntar a Nhanderú-etê.

Aninha não dava um passo sem consultar a velha índia. Muitas vezes, quando algo lhe afligia, era a própria águia que pousava num galho alto de um garapuvu, perto de sua casa, emitindo trinados peculiares, sinal de que a índia queria lhe falar.

Por isso, Aninha muito chorou quando a velha amiga partiu. Teve um estranho pressentimento naquela manhã, ao ver a chuva incomum com raios e trovões como se fosse uma chuvada de verão.

De repente, o sol se abriu, o vento parou e um duplo arco-íris, que ia em direção à Lagoa de Fora, apareceu no céu.

A passarada, que já vinha se ocupando do acasalamento, no leva e trás de palhas e raminhos para os ninhos, parecia ter sido convocada por um Ser Supremo para uma revoada conjunta. O barulho dos pardais, tico-ticos, sabiás laranjeiras, coleirinhas e dos sanhaçus azuis, se misturavam com o gorjeio das pombas rolas e com o grito agudo dos gaviões. Uma Sinfonia da Natureza. Todos os pássaros seguiam o mesmo rumo, em direção ao final do arco-íris. Nas ruas, cavalos relinchavam como se pressentissem um predador. Cães ladravam. Não um latido comum. Uivavam como se estivessem a sofrer, a chorar.

Foram três minutos daquela algaravia. E uma calada se fez. Um grito agudo, da águia cinzenta que voava acima de tudo, rompeu o silêncio. A atenção se voltou para os lados da Lagoa de Fora.

A notícia correu pela Vila como o vento gelado vindo do Sul. Era trazida por “pena-esvoaçante” o pequeno indiozinho carijó, o neto que vivia com Iaraguaçu.

~ Mãe Iara suspirou! Foi pra terra de seus pais! Seu espírito viaja pra encontrar “Nhanderú etê”.

Aninha montou seu cavalo assim mesmo, no pelo, sem perder tempo de encilhá-lo. Disparou em cavalgada para as bandas de onde, à beira da laguna, jazia no leito de palha, o corpo da amiga. Chorava pelo caminho. Suas lágrimas escorriam pelo rosto e embaçavam-lhe a visão.

Não foi só Aninha a única que para lá se dirigiu. A cidade quase se esvaziara para reverenciar a velha índia. Até o Vigário se abalou, em uma charrete, para lá estar. Embora guardasse alguma ligação com aquela espécie de ocultismo dos silvícolas, ele não tinha dúvidas, ali, naquele corpo, habitara um Anjo. Não! Iaraguaçu não era uma bruxa como insistiam alguns poucos maldizentes. Seu Deus era o mesmo Deus da Cristandade. Quando fazia uma prece a “Nhanderú etê”, estava orando ao Deus Verdadeiro dos cristãos. Quando rogava a “Nhanderu ra'y”, o filho de “Nhanderú etê”, era a Jesus Cristo que evocava. Por isso, e por ser batizada, merecia um enterro cristão, no Cemitério da Vila.

Mas, estas vãs preocupações eram desnecessárias. Iara tinha um testamento. Queria um enterro cristão, mas também, de acordo com a tradição tupi-guarany, ser enterrada no Campo dos Espíritos, aonde muitos de sua tribo jaziam em paz. Manifestou ainda em vida, o desejo de ter os serviços funerais de um padre, mas queria que seus restos repousassem com sua gente.

Aninha estava desolada, mas ao mesmo tempo resignada. Embora triste, ficou ali, velando aquele corpo cuja alma, cujo espírito, já estava no lugar que a vida eterna lhe reservara. Um lugar diferente da choupana humilde e pobre que vivera, embora Iara sempre lhe dera a impressão que era feliz do jeito que vivia, da sorte que “Nhanderú etê” lhe reservara. Talvez porque soubesse que a morte era uma passagem para um lugar de Paz, sem sofrimentos, sem o frio gelado do inverno e o calor insuportável dos verões. Uma vida onde as primaveras e os outonos eram as únicas estações. Lá, onde dizia que seu pai Bentão também estava, Iara seria uma luz a brilhar em todos os momentos.

Hoje, as águias cinzentas são uma raridade. Como os índios, foram enxotadas por seu predador, o homem. Mas o espírito de Iaraguaçu ainda paira sobre a Lagoa. Dizem os mais antigos que quando uma tormenta vinda do sul ameaça os pescadores, basta uma prece: “Iaraguaçu, grande mãe d’água, socorrei-nos!” Logo o vento se dissipa e a calmaria reina absoluta.

Quando uma águia cinzenta ainda é vista plainando silente e graciosa sobre os céus da região, os mais velhos sabem que a pesca do camarão e das tainhas será afortunada.
E ainda se recolhem e se protegem quando ouvem alguma delas, com trinados agudos voarem em rasantes por ali.

Luiz Eduardo Caminha
Ratones, Florianópolis

Fontes:
– O autor
– Imagem = http://www.angela.amorepaz.nom.br

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.91)


Uma Trova Nacional

Na calmaria aparente,
num silêncio enganador,
saudade, dentro da gente,
grita mais alto que a dor...
(DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP)

Uma Trova Potiguar

Minha mãe, favo de mel,
doçura de um alfenim,
quando estiveres no céu
guarda um lugar para mim.
(CELSO DA SILVEIRA/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Camboriú/SC
Tema > SEGREDO > Vencedora

A vida é tão passageira,
para que tanto segredo?
Se você me ama inteira
revele ao mundo, sem medo!
(GLEDIS TISSOT/SC)

Simplesmente Poesia

– Selmo Vasconcellos/RJ –
MATA

Hoje me matas
violentamente com este machado.
Mas, amanhã das minhas flores
te farão uma coroa,
do meu caule
tua urna mortuária.
Aí sim,
irás ao encontro da minha raiz.

Uma Trova de Ademar

Na natureza eu obtive
uma verdade que ocorre:
sem sangue a gente não vive...
e, sem seiva a planta morre!...
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Dentro do próprio conceito,
sejam quais as conseqüências,
a justiça, por direito,
não permite reticências...
(CAROLINA A. DE CASTRO/PE)

Estrofe do Dia

Não troco o meu Deus por nada,
Ele é o meu soberano.
Sem Ele eu sou um qualquer
Sem eira e beira, sem plano.
Deus é a minha alegria,
Inspiração, poesia,
Dia, noite, mês e ano...
(DAMIÃO METAMORFOSE/RN)

Soneto do Dia

– Diamantino Ferreira/RJ –
CONSELHO

Afasta de mim os teus olhos... Procuras
curvar-me ao seu brilho? Por que não desistes?
Nas lutas de amor não triunfam loucuras:
mais pode um sorriso que os olhos mais tristes...

Se almejas da vida somente as venturas
por que – se é frustrado – no intento persistes?
Não poupes sorrisos, palavras, ternuras...
E foge de tudo, daquilo em que insistes.

Repara nos outros que vivem ditosos:
felizes, tranqüilos, semblantes formosos...
Sem manchas no dia do Eterno Juízo!

A vida é tão bela! Desterra a tristeza!
Insere em teus olhos a eterna beleza!
Reabre teus lábios num doce sorriso!...

Fonte:
Ademar Macedo

domingo, 9 de janeiro de 2011

Pedro Ornellas (Rinha de Trovas) 4. Round


4º round

Iniciamos dando a palavra ao Humberto Poeta, que avaliou assim a ausência do Ademar:

Se alguém da grei dos Macedo
mantém-se alheio a estes papos,
é porque morre de medo
de tomar alguns sopapos!

Xii, rapaz, cê falou cedo demais... Ademar Macedo num é ômi de ter medo...

Pode acreditar, irmão,
o cangaço nos reveste;
pra defender nosso chão
somos dois cabras da peste!

A Heloísa Crespo "viu" a briga lá no site do nosso amigo José Feldman, o "Singrando Horizontes". Ele tá acompanhando par e passo a peleja. Publicou os 3 rounds anteriores e ilustrou a trova inicial.

Ficou bão demais, oceis precisa ver... dá uma oiada, clicando no link:
http://singrandohorizontes.blogspot.com/2011/01/pedro-ornellas-rinha-de-trovas-1o-2o-e.html

A Heloísa que prefere assistir, avalia a posição dos 25 que se envolveram na refrega:

Estou muito admirada
com a Rinha pegando fogo.
Tem gente dando risada
do bravo e do demagogo.

E continua aparecendo cupincha dos Macedos... Deth Haak "A poetisa dos Ventos" mandou dizer:
Não fico chupando os dedos
aqui na beira do mar,
pupila sou dos Macedos
nesta rinha quero entrar!

Já o recado do coroné Francisco Macedo foi para o Pessoa:

Fosse Pessoa, não vinha...
Mas se vem, vou enfrentá-lo.
- Não há lugar pra galinha,
na ”rinha” só entra galo!

Haroldo Lyra que prometeu puxar as orelhas de tudo quanto é Macedo do nordeste, tem medo não...

Retiro o que eu disse ontem
sobre essa dupla folgaz.
Puxar orelhas? Não contem!...
Orelhas já não tem mais.

O Haroldo também tem sangue de cangaceiro, Cônsoli. Mais ocê num tem não... tá brincando com fogo!

Eu não conheço os Macedo,
um dia vou conhecer!
Vou lhes fazer tanto medo,
que vou pô-los pra correr.

A Divenei tá até o pescoço nesse balaio de gato. Mas ela é tinhosa... continua marruda:

"Fugir?, eu? Nem morta.... Nem da morte eu tenho medo... vou temer uns Macedinhos?..."

O Chico Macedo é um galo...
Canta verso o dia inteiro...
Olhem, sei bem do que falo,
sei bem do seu "galinheiro"...

O Ademar me achincalhou,
mostrando que é (?) cabrau mau...
Dura na queda, eu lá vou:
mato as cobra e... mostro o pau!

Zé Lucas já sentiu o poder de fogo dessas meninas... e dá um conselho pro's Macedos:

Com mulheres nesse enredo,
nós, machos, ficamos tontos...
Se eu fosse a dupla Macedo
já tinha entregado os pontos.

Ah, mas isso os Macedos não vão fazer não! Entregar os pontos? Nunca! O Thalma avisa:

Aviso, não é brinquedo
entrar nessa entreverada,
que a corneta dos Macedo
não dá toque em retirada!

E num dá memo! Por isso que na opinião do Roberto Acruche, não foi uma boa a provocação do Francisco Pessoa...

Francisco deu uma pisada
isso é provocação,
dizer que a dupla é de nada
vai gerar mais confusão!

O Ademar está armado
com facão e com peixeira...
Francisco, tome cuidado,
pra não cair na trincheira!

Mesmo assim, óia só quem tá peitando os dois potiguares malucos: Dorothy Moretti, a sorocabana! Ela diz:
"se o entrevero continua, entro com tudo"

Não tenho medo, esconjuro
esses dois morubixaba.
"Briga de foice no escuro?!"
Topo!!! Eu sô di Sorocaba!

Num sabia que sorocabano era doido... Juízo tem a Verônica Martins, que não se arrisca de graça...

Poeta do amanhecer,
_ também vale para o Chico,
estou vendo o chão tremer
e nessa arena eu não fico!

E quer saber? Você que tá certa, acho que não foi prudente mexer com esses dois...

Ademar Macedo num gostô não, e resolveu apelar! Se não puder ganhar na trova, vai usar outros meios:

A guerra, eu sei que é sadia,
mas vou usar de mutreta,
deixo de lado a poesia
e vou brigar de "muleta".

Depois dessa, vou resumir minha proposta de cessar fogo:

Na rinha armada por Chico
Ademar depressa chega,
e o tropel de espora e bico
foi um sucesso da pêga.

Um bocado vei cum tudo
pra riba dos dois Macedo...
Outros dissero: "Eu ajudo!"
- e um bando correu di medo!

Dispois que atiçaro o fogo
dispois que o fogo alastrou,
arguns entregaro o jogo
na hora que o pau torou!

Valia tudo no embalo
- a jiripoca piou!
Galinha cantou de galo,
e galo cacarejou!

Na desgracera prevista,
depois de tanta bicada,
tem galo perdendo a crista
e munta espora lascada!

Tá fazendo história a intriga
dos Macedos contra "rapa",
mas o bom é que essa briga
é de trova e não de tapa!

E é fazendo parte agora
da turma do "dexa disso"
que eu digo: Já tá na hora
de botá fim nesse enguiço!

E qual foi o resultado?
Disso eu não faço segredo:
Ficou mais do que provado:
não se brinca com Macedo!

Proponho então que esses dois,
esses dois "cabras da peste"
sejam declarados, pois,
os bambambans do nordeste!

Convido todos a dar seu parecer e deixar seu recado de despedida numa trova. pedroornellas@uol.com.br

Abraços!
Pedro Ornellas

Vladimir Cunha dos Santos (Antologia Poética)


REENCONTROS

Quantas vezes nos encontramos
pelas ruas e avenidas....

Quantas vezes nos desencontramos
pelas ruas e avenidas....

Casas velhas
edifícios
velhas árvores
velhas vidas...

Hoje
Fala-se de coisas novas
velhas ficam esquecidas
cicatrizando as feridas
que o tempo
nos propôs.

Quantas vezes
haveremos de nos encontrar
neste caos disfarçado de calmaria?

Quantas vezes?
Quantos dias ?

EU PENSO QUE EXISTO

Eu não existo.
Eu penso que existo
e fico imaginando
mil coisas para mim
que não existo.

Tento negar
esta existência
mas me reencontro
com meras carências mundanas
fraquezas espirituais
dores e ais
obsessões sexuais, musicais...
e digo, escrevo, repito
que não existo
sou fantasia de mim
eu
o poeta
insurgindo-me do nada
ao som de Bach

repassando as cenas do mar
das mulheres nuas e gentis
dos pais e irmãos rindo na ceia

eu criança humana
eu jovem bacana
eu homem responsável
eu velho esperando a morte chegar
eu sempre poeta
meditando, versando....
para descobrir
que não existo.

Sou química?
Apenas isto?

Insisto nisto!

PRESSÁGIO

Mais uma vez
a cafeteira Arno entra em ação.
A manhã é uma loura, louca, plácida.
A agenda, uma perfeita companheira
dos óculos
e as pessoas em volta da cafeteira Arno
entram em ação.

Chega um raio na cidade
e pelas frestas dos edifícios
seca o suor das ruas.

Depois, de uma janela
grita Madalena
louca
aguda
o desabrochar
do 3º milênio.

Sua caricatura
é estampada flácida
nos boletins
do submundo.

CANÇÃO DO MAR

Ai meu velho mar
Ai meu lindo mar
Vou lavar toda a tristeza
que eu trouxe de lá.

Devemos aprender
amar a solidão
amar a tristeza
amar a reclusão.

Ai meu velho mar
Aqui eu quero trabalhar, filosofar...
e a mulher que me quiser, vou namorar.

Ai meu lindo mar
Dai-me alegria e energia
pra eu custar me terminar.

POESIA

Quase tudo é poesia, penso.
A música, o cinema, o teatro
a vida real, o dia a dia...
desejos... tudo tem poesia.

A inspiração das edificações
dos arquitetos do mundo....
é poesia...

a fábrica de juros do capitalismo
e o êxtase nas bolsas de valores
comemora-se com poesia e amores.

Mulheres -alegria dos homens-
são puras poesias
essências dos versos
como a natureza é para os naturalistas
como a revolução para os modernistas...

a vida toda
o mundo gira gira
e tudo vira
poesia.

FOTOGRAFIA

Nos destroços desta geração
lá encontrarão minha fotografia,
um tanto amarelada do tempo
e no cenário uma ventania.

Minha face pálida, morena, colorida...
meu cabelo contrastando com o contra-mar
meu encontro estranho com o flash
e o sorriso mórbido de amar.

Um tanto exótico, desarmado,
esperando que uma morena de olhos verdes confesse
que tanto como ela, ele é amado.

Lábios secos, olhos oblíquos, obstinado
com os destroços desta geração,
um tanto do tempo orfaico a correr pelas mãos.

Fonte:
http://www.vladimirsantos.com.br/

Movimento União Cultural (Participe!)


Vamos unir nossas culturas?

Venha participar do movimento UNIÃO CULTURAL, um grupo com representantes em várias cidades brasileiras e no exterior, sem quaisquer cobranças obrigatórias de taxas, e que visa a busca do conhecimento, a união dos povos, o cultivo da paz universal, dentre outros princípios;

Na UNIÃO CULTURAL você terá:

- Campanhas pela fraternidade, cordialidade, respeito, tolerância, cidadania, caridade, cultura, artes, literatura, dentre outras;

- Um site que está sendo idealizado por LUIZ ANTONIO CARDOSO (Seção Taubaté-SP-Brasil) e que será confeccionado por WALLACE MOURA(Parnamirim-RN-Natal);

- Intercâmbio de informações culturais das seções e núcleos das mais diversas localidades;

- Notícias diversas;

- Um boletim divulgador enviado por e-mail;

- Curiosidades;

- Muitos textos literários;

- Convites para eventos em geral;

- Espaço aberto para seus membros divulgarem seus projetos, eventos, produções, blog´s, etc.;

- Um vasto circulo de amigos com objetivos em comum;

- Eventos culturais conforme os Núcleos e Seções forem se estruturando.

Participe! Informe-se! Basta preencher a fica abaixo e enviar para o e-mail: movimentouniaocultural@gmail.com

FICHA PARA UNIÃO CULTURAL

Nome –
Data de Nascimento –
Local de Nascimento -
Endereço Postal (completo, com cidade e CEP) –
Telefones –
e-mail –
Site ou Blog –
Instituições que pertence –
Formação Escolar –
Profissão -
Possui atividades artísticas ou literárias? Quais? –
Hobbies -

Envie para movimentouniaocultural@gmail.com

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.90)


Uma Trova Nacional

No jardim, junto ao meu quarto,
o silêncio é tão profundo
que se pode ouvir o parto
das rosas chegando ao mundo!...
(HÉRON PATRÍCIO/SP)

Uma Trova Potiguar

Antes que a aurora desponte
dando vida à luz do dia,
tenho que cruzar a ponte
nos braços da poesia.
(PROF. GARCIA/RN)

Uma Trova Premiada

2010 > Curitiba/PR
Tema > MADRUGADA > Vencedora

Pelas noites desoladas,
minha saudade, sem sono,
vai contando, em madrugadas,
os meus dias de abandono...
(MARINA BRUNA/SP)

Simplesmente Poesia

MOTE :
A gente leva da vida,
A vida que a gente leva..

GLOSA :
Na estrada longa e comprida
para a viagem do além,
somente os atos do bem
a gente leva da vida.
Nessa hora decidida
em que o espírito se eleva,
fica a matéria na treva
porém deixa de sofrer,
porque ninguém vai saber
a vida que a gente leva.
(CELSO DA SILVEIRA/RN)

Uma Trova de Ademar

Quando chove, no terreiro,
crianças brincando ao léu,
se banham nus, no chuveiro
da caixa d’água do céu!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

Eu tenho sofrido tanto!
Nunca as dores vêm sozinhas!
Julgo até que estou sofrendo
as dores que não são minhas...
(LUIZ OTÁVIO/RJ)

Estrofe do Dia

Vi morrer um pequenino
Que envolto subiu num véu,
Quando chegou lá no céu
São Miguel disse ao Divino:
- Vamos pesar o menino
Que também é pecador?
Jesus disse: - Não senhor,
Pode guardar a balança
Que coração de criança
Não tem ódio e nem rancor!
(SEVERINO FERREIRA/RN)

Soneto do Dia

– Júlio Salusse/RJ –
CISNES

A vida, manso lago azul algumas
vezes, algumas vezes mar fremente,
tem sido para nós constantemente
um lago azul, sem ondas nem espumas.

Bem cedo quando, desfazendo as brumas
matinais, rompe um sol vermelho e quente,
nós dois vogamos indolentemente,
como dois cisnes de alvacentas plumas.

Um dia um cisne morrerá, por certo...
Quando chegar esse momento incerto,
no lago onde talvez a água se tisne,

que o cisne vivo cheio de saudade
nunca mais cante, nem sozinho nade,
nem nade nunca ao lado d'outro cisne.

Fonte:
Ademar Macedo

sábado, 8 de janeiro de 2011

Henrique Oliveira (O Bêbado e o Poeta)

Pintura a óleo, de Francisco Eduardo
- Faz tempo que não venho num espetáculo
- Tem leão?
- Acho que tem.
- Quer quebra-queixo?
- Quero.
- Chocolate quente também?
- Prefiro uma.
- O circo é um lugar sagrado. Você não pode beber aqui.
- Ué. Não é desrespeito beber da forma que eu bebo. Sabe disso.

A noite começava a chegar quando a fila se formava sob a gigante lona amarela e azul. O chão de terra batida era coberto pelo pó de serra. Um friozinho agradável aumentava a venda do tiozinho da barraca de chocolate quente. Osvaldo, o poeta pacientemente aguardou sua vez e pediu ao tiozinho um chocolate e se ele tinha vodka. O bigodudo lhe serviu a bebida quente e balançou a cabeça para os lados respondendo a pergunta. Enquanto fazia o troco para dez, o tiozinho lembrou.

- Não quer um conhaque?
- Pode ser.
- Com gelo?
- Não precisa. Quero quatro doses.

Antes de voltar pra fila Osvaldo passou na barraquinha de doces e comprou dois quebra-queixos. Num, deu uma pequena mordida. O outro deu para o moleque que pedia para engraxar sapatos.

- Obrigado por guardar o lugar.

A moça de vestido roxo sorriu.

- Está forte o chocolate, bêbado?
- Está bom.
- Vamos sentar aqui.
- Aqui é melhor.
- É muito perto do palco. Assusto-me com as bombinhas dos palhaços.
- Deixa de frescura.
- Demora pra começar?

Osvaldo era homem de bom coração. Com canetas e teclados transformava palavras em obras admiráveis. Era um nobre escritor. Chorava fácil. Seus ápices da felicidade atingiam-se em momentos toscos, ingênuos e infantis. O circo era um deles. As luzes se apagaram, uma lágrima desceu para a bochecha do poeta.

Gritou o homem de cartola e smoking pretos.

- Gosto de malabares.
- Eu também.
- Esses são bons.
- Vou pegar mais um conhaque.

Não tinha fila na barraquinha do bigodudo. “O senhor me vê quatro doses de conhaque e um chocolate quente”, pediu o bêbado, que sentou no banquinho de madeira do meio. O tiozinho, sem fregueses naquela hora, puxou papo com o bêbado. “Frio, né? Não gosta de circo?” O bêbado já tem ela pronta. “Gosto sim, e muito. Estou aqui fora porque queria tomar mais um conhaquinho, mas já vou voltar. Quero ver os palhaços. Adoro os palhaços. Você gosta?” “Gosto também. Já fui palhaço. Era um dos bons. Ninguém ficava sem rir. Tenho saudade daquela época.” O causo foi longo. O bêbado ouviu o bigodudo atenciosamente. Despediu-se do tiozinho e voltou para o circo. O espetáculo chegara ao fim. Sua decepção foi visível. Encheu os olhos de água e partiu em direção a porta de saída.

- Eu não vi nada.
- Quem mandou ficar lá fora?
- Não seja ruim comigo.
- Não estou sendo.
- Vamos passar no bar

Osvaldo puxou a cadeira de uma mesa que estava próxima à parede e se sentou. Puxou uma caneta do bolso, um pedaços de guardanapos do porta-guardanapo e começou a resenhar. O bêbado pediu uma vodka.

- Vai tomar vodka?
- Não quero mais conhaque.
- Você está triste por ter perdido os palhaços?
- Um pouco.
- Vamos voltar ao circo amanhã.
- Ótimo.

O bêbado, completamente embriagado levantou-se. Foi ao balcão.

- Eu quero mais uma vodka. Marca pra mim. Estou indo embora.

Responde o dono do boteco: “Vou pendurar, mas preciso que você me pague na semana que chega. Combinado Osvaldo?” “Combinado”, responde o bêbado que foi para casa terminar o conto que havia começado.

Só fico sóbrio para corrigir a gramática do que crio na embriaguez.
Osvaldo, o poeta.

Fonte:
http://oliveirando.blogspot.com/2009/09/o-bebado-e-o-poeta.html

Lino Sapo (Poesias Escolhidas)


JARDIM DOS SONHOS

Abra seu coração e liberte a solidão
Vá até a porta do egoísmo e o prenda com as algemas do altruísmo.
Ache o lugar onde guardou seu ódio e o extraia até a última gota e as lance no fogo do perdão
Atice com coerência,
Para que a temperatura seja correspondente a da razão.
Para apagar o fogo use a lógica,
Depois junte as cinzas no caco da esperança
E misture com honestidade
Deixe descansar por algum tempo à sombra da ética.
Quando estiverem homogêneas plante uma semente do bem
Aguai todos os dias com muito amor,
Quando a paz estiver desabrochando adube com dignidade
Aguai e adube sempre e em pouco tempo colherás felicidade
Tire uma semente e deixe secar aos raios da sabedoria
Embrulhe na gratidão e amarre com solidariedade
Presentei alguém e peça que continue fazendo
Só assim existirá o jardim dos sonhos
Que brotará unicamente da simplicidade
Para que o jardim seja sempre vivo.
Use como inseticida para o orgulho a humildade

POESIA DA CACHOEIRA

Cachoeira do sapo desvirginada antes de nascer ,
Por tropeiros valentes em suas entranhas a percorrer.
Nascida isolada depois de batizada em recantos tão errantes,
Crescendo cheia de vida adotada por pais distante.
Com remonto de segredos que embeleza o existir,
Triunfante como um cometa no seu curso a seguir,
Foste menina que a infância não celebrou,
Devendo obediência a quem não se importou,
Adolescente rebelde que já que andar sozinha,
Nos caminhos da vida já sabe cobrar carinho.

Sempre fostes mãe antes que soubesse caminhar,
De seca a inverno sempre no mesmo lugar
Um presente que Deus deu a quem não sabe cuidar,
Guardas em teu seio segredos de lutas longas a conquistar.
Tua alma espelha a grandeza daqueles que a povoou,
E chora com saudade aqueles que te amou.
Entre o chorão e o purão tuas lagrimas despejou,
Por Inês que foi embora e Sofia que não chegou.
Tão linda como era quando belas fica a encantar,
Mas triste como Danaê sem a chuva a encontrar.

O sol que brilha nascendo por trás das serras a coroa de magia,
E a criança que chora procurando o peito da mãe
É tão viva quanto a lua que a vigia.
Teus rochedos são tão fortes que parecem Sansão.
Tens ventos suaves que alivia o fardo do pobre coração.
Cachoeira das Damianas,das coroas de espinhos.
Sois cigana que sangra cada ano um pouquinho.
Teu poeta é tão simples que nem parece existir,
Mas te louva com amor e te planta na memória
Para no futuro te dividir.

CACHOEIRA DO SAPO

A minha amada terra (Cachoeira do Sapo)

Onde as águas rolam fortes, onde as pedras são sem igual
Onde o vento é maravilha, onde tudo é bem normal
A natureza é uma beleza, E que por aqui ficou
A fauna e a flora que o tempo conservou.
Tudo é maravilhoso, por aqui se pode ver
Já sabemos quem criou, e agradecemos ao senhor.
Como prova de sua grandeza essa terra povoou
Com criaturas exóticas e homem de valor
Obrigado pelo presente que vós nos deixou
O orgulho dessa gente, é que cachoeira do sapo se tornou.

Que eu sou cachoessapense, eu sou.
Com muito orgulho e muito amor.
Cachoeira do sapo eu sei,
Nesta terra me criei.

Foi aqui que eu nasci, por aqui aprendi
O que deve cultivar, o amor e a alegria
Sempre em grande parceria, eternamente iremos levar.
Nossa dor é quase nada e foi imediatamente superada,
Transformada em piada para quem nos escutar.
E a força dessa gente, se deve ao lugar
Nossa historia é forte, não se pode duvidar
Houve conflitos teve mortes, Mas deixou tudo pra lá
Hoje o povo é feliz e pode se orgulhar,
Pois nos restou, a paz para contemplar.

Que eu sou cachoessapense, eu sou.
Com muito orgulho e muito amor.
Cachoeira do sapo eu sei,
Nesta terra me criei.

De seca a inverno, de janeiro a dezembro
Essa terra não deixou seus filhos morrerem em desalento
Água pra matar a sede e pão pra saciar fome
A vida por aqui é bela, e molda nosso homem
De Pedro leite a Junior Bernardo, de Silvio a andrelino
Vivemos de realizar sonhos, que nasceram quando menino
De Neném loicera a Zé Quixaba, de Nicolau a expedito
Nossa sociedade é organizada, esse é o lado mais bonito
São José nosso padroeiro e também bom protetor
Ajude aos filhos de cachoeira do sapo, a viver com muito amor.

Que eu sou cachoessapense, eu sou.
Com muito orgulho e muito amor.
Cachoeira do sapo eu sei,
Nesta terra me criei.

MINHA TAPERA


Quem dera fosse uma mansão
Com quarto, cozinha, banheiro e salão.
Não, não era.
Era miúda com cacto crescendo em suas telhas,
Como cresce verrugas em crianças que contam estrelas.
Tortinha e pensa,
Baixinha e magra,
Suas varas apareciam amarradas com embira
E coberta com folhas de marmeleiro.
Parecia um menino buchudo e desnutrido
Com os pés cheios de feridas.
Assim, ficava
Quando o barro começava a caí dos paus que a segurava.
Barroquenta e fria,
Com meus pés tocando o chão,
A sentia e a via,
Com os olhos remelentos rodeados de mosquitos.
Suas janelas viam os lados
E quando suas portas se fechavam,
As tramelas eram transpassadas
Para dar segurança;
Segurança desnecessária.

Em suas paredes estavam as digitais
Dos dedos marcados no barro seco,
Legado da luta que foi construí-la.
E as frestas de suas telhas,
Quando não tinha uma lata de óleo aberta substituindo uma,
Clareavam o chão batido do piso.
As restas redondinhas ou ovais
Seguiam seu caminho ao contrário do sol.
Em suas rachaduras,
Ficava o habitat dos insetos,
Que furavam seus buraquinhos redondos.
Maribondos também faziam suas casas
Nas linhas de facheiro ou nos caibros de mufumbo.

Minha tapera,
Que não era só minha,
Abrigava sapos, ratos,
Cobras, lagartixas, víboras, maribondos e muriçocas.
Minha tapera,
Que na chuva quase se desfazia por completa
e que na minha infância seu barro era comestível
Tão fria e lamacenta,
Fedorenta e fumacenta.

Lembro ainda do teu fogão de lenha,
Das tripas e preás espendurados num cordão,
Da portinha toda emendada,
Dos armadores da minha rede,
Do pote no canto da sala,
Do cupinzeiro na furquia.

Ah! Que lembrança salgada,
Lembranças das noites mal dormidas
Em que as goteiras caiam dentro de minha rede
Ou os grilos cantavam nos rachões do barro até de manhã.
Velha minha,
Velha tapera,
Hoje já não estais aqui.
Teu barro foi nas águas do riacho
Que tanto nos acordou no meio da noite (com água)
Querendo nos levar.
Tua madeira foi queimada nos fogões da vizinhança
E nas fogueiras de são João.
Tuas poucas telhas
Não serviram para nada,
Nem mesmo para cobrir a casa do meu cachorro,
Virou aterro para o baldame de tua substituta.

Minha querida tapera,
Da minha infância nostálgica,
Ainda lembro de teus quatros repartimentos,
Da meia parede,
Dos papelões tapando teus buracos,
Das pontas de vara nos portais
Arranhando-nos os braços ao passar.
Quantos sonhos de te substituir
Elaborados dentro de ti!
Separamo-nos
Como quem há tempo desejava.
Mesmo ao longe,
Via-te erguida.
Tristinha,
Como se sentisses a minha saída.
Em pouco tempo,
Viesses ao chão
Se desmanchando por completa
E não duraste muito até desapareceres,
Ficando apenas marcas tuas
Do lugar onde foste erguida.
Não te guardei os restos mortais pequenina,
Mas te gravei pra sempre em meu coração,
Que parece te encontra em cada arranha céu que vejo,
Hoje, ele parece ser do mesmo barro que você,
Pois acolhe a todos
Dentro de seus limites, que queira nele viver.

(Homenagem a tapera em que vivi minha infância)

Fonte:
http://linosapovidaeobra.blogspot.com/

Lino Sapo (1981)


Andrelino da Silva (Lino Sapo) nasceu no dia 06/01/1981, no distrito de Cachoeira do Sapo/RN. Filho do casal José Adelson da Silva e de dona Damiana Lúcia da Silva.

Foi o segundo filho do casal num total de cinco. Após seu nascimento foram morar em outras casas do lugar somando num total de doze casas e um pé de árvore por um dia. Começou seus estudos no Projeto Casulo, e sua primeira serie fez na mesma escola que nasceu, agora reformada e em atividade.

Aprende a ler influenciado pelos livros de cordéis que via seu pai ler. Em 1989, seu pai se separa de sua mãe deixando apenas com seus cinco filhos onde a mais velha tinha 10 anos e a mais nova estava na barriga com dois meses.

Andrelino encontra na escola uma oportunidade de fugir de sua realidade, já que a fome e tantas outras necessidades o faziam sofrer diversas formas de preconceito tanto racial como econômico.

Faz seu ginásio em Cachoeira do Sapo, e conclui seu ensino médio em 1998, aos 17 anos. Considerado como vagabundo por gostar e andar com livros pra cima e para baixo, foi amante da literatura no qual se apaixona por personagens como dom Quixote e Policarpo Quaresma.

Trabalhou como carregador de ração de porco durante nove anos, foi carvoeiro, batedor de tijolo e arrancador de toco. Mesmo não tendo apoio fundou o PLUJET, grupo de jovens que trabalhava com o desenvolvimento social e cultural de Cachoeira do Sapo, no qual ocupava a função de diretor de eventos, colocando sua pequena cidade na mídia ao realizar a festa de comemoração dos 70 anos de Cachoeira do Sapo no ano de 1999.

No ano 2000 foi soldado do exército, onde começou a criar suas primeiras poesias. Ao terminar seu ano no exército retorna para Cachoeira do Sapo onde funda no ano 2001 o Arraiá do Sapo, o primeiro grupo de quadrilha matuta a disputar em festival e a ganhar destaque no meio cultural da região conquistando seus primeiros troféus.

Criador de peças de teatro e também ator, investiu por conta própria na cultura de Cachoeira do Sapo pesquisando e escrevendo história local. No ano de 2003 foi trabalhar em Natal como servente de pedreiro, lugar onde se encanta com a Universidade Federal.

No ano de 2005 presta seu primeiro vestibular. Passando em décimo lugar para o curso de Biblioteconomia, se tornando o primeiro cidadão Cachoeissapense a entrar na Universidade Federal, saindo do interior e estudando somente em escola pública sem nunca ter feito cursinho.

No mesmo ano passa no concurso para agente de saúde da Prefeitura Municipal de Riachuelo. Também começa a fazer o curso de História na Universidade potiguar UNP.

Em 2006 torna-se palestrante do projeto conheça a UFRN através do residente, motivando os alunos do interior do estado através de sua história de vida.

Também leva para o interior a idéia de que é possível chegar a universidade, e começa a dar aulas solidariamente para alunos tanto do interior como de outros.

No ano de 2007 se torna conselheiro da residência universitária CAMPUS II, durante um ano. Nesse mesmo ano escreve a fabula Inês.

Em 2008 apresenta na câmara municipal proposta de um projeto de lei que para cada criança nascida no município, um livro seja comprado, dedicado à criança e inserido na biblioteca pública do município.

Suas poesias são trabalhadas a nível acadêmico e além de despontar o patriotismo da terra que nasceu, apresenta as situações econômica das famílias humildes do interior do estado.

Atualmente Andrelino ou Lino Sapo, nome que ganhou por ser dessa terra e ter herdado do sapo a característica de ser persistente.

Bacharel em biblioteconomia, licenciado em Historia pela UNP, aluno de letras da UFRN, e mestrando de Ciências Sociais pela UFRN. Tem como ícone de suas poesias coisa do sertão de antes, e o conto Conhecendo os Nomes das cidades do Rio Grande do Norte (publicado neste blog), além de livros e outras tantas poesias.

Fonte:
http://linosapovidaeobra.blogspot.com/2010/06/biografia.html

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n.89)


Uma Trova Nacional

O galo, olhando a pombinha,
pecou por mau pensamento:
– “Que pena que essa baixinha
comeu tão pouco fermento!...”
(OSVALDO REIS/PR)

Uma Trova Potiguar

Pra velhice não tem rogo,
parece até uma praga;
aos sessenta baixa o fogo
e aos oitenta o fogo apaga.
(HILTON DA C. GOUVEIA/RN)

Uma Trova Premiada

2009 > Bandeirantes/PR
Tema > ARRUAÇA > Vencedor

Baita arruaça, bravatas,
um tremendo sururu...
Frangas, marrecas e patas
brigando por um peru!
(A. A. DE ASSIS/PR)

Uma Trova de Ademar

Fiz a “pergunta" ao espelho,
que para não me ofender,
disfarçou, ficou vermelho
e não quis me responder!
(ADEMAR MACEDO/RN)

...E Suas Trovas Ficaram

A solteirona infeliz
viu sua casa assaltada,
ladrão levou o que quis:
menos a pobre coitada.
(GRAZIELA MONTEIRO/MG)

Estrofe do Dia

Um falso intelectual,
travestido de leitor,
chega ao distribuidor,
um livreiro, sem igual.
Vê o catálogo geral,
pede, demonstrando anseio:
Destes, bote um metro e meio,
e grita todo arrogante,
eu quero encher minha estante,
mas, lê mesmo, eu nunca leio.
(FRANCISCO MACEDO/RN)

Soneto do Dia

– Glauco Mattoso/SP –
PECHINCHADO.
(a Luís Fernando Novoa Garzon)

Comércio entre nações não tem acordo
que seja de interesse a cada parte.
Quem pode mais garante o que lhe farte
e para o menos forte exibe o lordo.

O lado americano quer que o gordo
bocado lhe pertença, e só reparte
com outros seu refugo e seu descarte,
mas isca desse tipo eu cá não mordo.

Agora nos impingem a tal ALCA,
balela disfarçada de franquia
que menos favorece que desfalca.

Não basta o que depena e o que tosquia
da gente quem nos pisa a cara e calca
a sola, e inda esse gringo quer que eu ria?

Fonte:
Ademar Macedo