sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 10, final


211 - Zé Lucas
Na doçura do lirismo,
nossos poemas são hinos
que viram salmos de amor,
e os poetas são meninos
de imaginários castelos,
cantando versos tão belos
como notas de violinos.

212 – Gislaine Canales
Nossos sonhos pequeninos
vamos sempre realizar,
e enormes se tornarão,
em nosso filosofar,
pois poeta nunca é triste,
e nem percebe, se existe,
alguma nuvem no olhar!

213 - Prof. Garcia
Nunca pensei versejar
por caminhos tão distantes,
pisar na relva macia,
em campos tão verdejantes;
por onde a musa vagueia,
nosso repente passeia
enfeitiçando os amantes.

214 – Delcy Canalles
Que nós moramos distantes
não podemos duvidar!
Vindo lá do teu Nordeste,
ao Sul, pudeste chegar,
pra conhecer as flechilhas
e as ondulantes coxilhas,
que nos levam a sonhar!

215 - A. A. de Assis
E por falar em sonhar,
a vocês boa viagem.
Vocês vão para o Caribe,
eu estou noutra paisagem,
mas vamos todos ficar
de dia curtindo o mar
e à noite gostosa aragem.

216 - Arlindo T. Hagen
Bem merece uma homenagem
nos momentos atuais
nossa Gislaine Canales.
Seus esforços pessoais
fazem, de modo fecundo,
multiplicar pelo mundo
os nossos Jogos Florais!

217 – Thalma Tavares
Sem preâmbulos formais,
te digo, irmão trovador,
que nossa Gislaine é um prêmio
que nos deu nosso Senhor,
para que a Trova altaneira
florescesse além-fronteira
difundindo Paz e Amor.

218 - Zé Lucas
Quem age com tal fervor
tem o dom da liderança,
é luz que mostra caminhos,
pertinácia que não cansa,
alma, de bondade, cheia,
mão que, no mundo, semeia
as sementes da esperança.

219 – Gislaine Canales
Feliz como uma criança,
agradeço emocionada
a todos, esse carinho.
A trova, por nós amada,
realizou o meu sonho,
tornou meu dia, risonho,
e minha noite, alvorada!

220 - Prof. Garcia
O poeta, a cada alvorada,
ao despertar se extasia,
sonha, delira e se encanta,
com a graça de um novo dia;
como quem faz uma prece,
se entrega ao sono, e adormece
nos embalos da poesia.

221 – Delcy Canalles
Quando a manhã nos espia,
banhada pela alvorada,
eu sinto um prazer imenso
que enche de luzes a estrada,
e a beleza dessa hora
se mistura com a da aurora
e se faz acariciada!

222 – A. A. de Assis
Preparemo-nos, moçada,
que os sinos já estão nos ares.
Porém fico aqui pensando
se vocês, os potiguares,
acham todo dia igual,
visto que aí tem Natal
todo dia, em mil cantares...

223 - Arlindo T. Hagen
O Natal está nos ares...
No comércio há uma abundância
de símbolos natalinos...
Mas quem não olha, à distância,
os Natais da atualidade
sem sentir certa saudade
dos Natais da nossa infância?...

224 – Thalma Tavares
Eu não discuto a importância
do nababesco tropel
dos natais da atualidade,
mas reprovo o seu papel
porque vejo, entristecido,
Jesus sendo preterido
por um tal Papai Noel.

225 - Zé Lucas
Colocam Papai Noel
acima do Salvador,
como se um mito pudesse
salientar-se em valor,
para nossa humanidade,
diante da majestade
do Filho do Criador.

226 – Gislaine Canales
Noel é ilusão de amor,
no coração da criança,
mas façamos nossos filhos
terem a fé e a esperança,
nos preceitos dos seus dias,
que o Senhor das alegrias
é o nosso Deus de bonança!

227 - Prof. Garcia
Natal, de tanta bonança,
de tanta ilusão perdida!
Sobra comida nas mesas,
falta esperança na vida;
para o jantar, num segundo,
convida-se todo mundo,
só Jesus, ninguém convida!

228 – Delcy Canalles
Natal é Festa da Vida,
Festa do Amor e Perdão,
onde o homem mais que tudo
deveria ser cristão,
pra saciar, do pobre, a fome,
dar comida a quem não come,
repartir sua afeição!

229 - A. A. de Assis
De todo o meu coração,
neste momento aqui digo
que nada é mais importante
que uma amiga e um bom amigo,
aos quais possamos falar,
ao ver o ano findar:
- Como é bom contar contigo!

230 - Arlindo T. Hagen
Eu tenho sempre comigo
uma saudável vaidade
das amizades que eu tenho.
Eu vivo em felicidade
pois tenho a certeza plena
que a vida só vale a pena
se vivida na amizade!

231 – Thalma Tavares
Chegar à longevidade
sem amizade é castigo...
É como andar ao relento
sem o calor de um abrigo.
Se amizade é uma riqueza,
sou rico e ponho nobreza
em meus abraços de amigo.

232 - Zé Lucas
Eu sempre pensei comigo
que amizade é uma riqueza
fácil de se conseguir
e conservar com firmeza;
mas, quem não é seu herdeiro,
mesmo nadando em dinheiro,
é pobre por natureza.

233 – Gislaine Canales
A amizade é só riqueza,
e a cada dia que surge
sinto novas emoções,
pois nela sempre ressurge
a minha grande utopia,
que é viver só na alegria,
pois ser feliz, em mim, urge!

234 - Prof. Garcia
A cada Natal ressurge
no lar de cada pessoa,
um sentimento de paz,
na voz santa que ressoa;
vinda dos braços da cruz,
de um Cristo cheio de luz,
dando vida a quem perdoa.

235 – Delcy Canalles
As canções que a gente entoa
nestas Festas Natalinas,
nos fazem irmãos melhores,
têm brilho de purpurinas,
pois Natal é Festa Santa,
aos cristãos todos, encanta,
com melodias divinas!

236 - A. A. de Assis
Bons meninos e meninas,
nas vésperas do Natal,
nossa troca de setilhas
entra na reta final.
A vocês, emocionado,
deixo o meu muito obrigado
e um abraço fraternal.

237 - Arlindo T. Hagen
Num convívio fraternal,
repleto de novidades,
compomos nossas setilhas
e, alheio às nossas vontades,
temos de nos despedir
e já começo a sentir
inevitáveis saudades!

238 – Thalma Tavares
Vencendo dificuldades
minha lira despojada
pôs-se a refletir a luz
da poesia iluminada...
De Zé Lucas ao Arlindo T. Hagen
quem muito aprendeu fui eu
nesta batalha encantada.

239 - Zé Lucas
Os versos desta empreitada
não cairão no paul...
Sei que não brilham tão longe
como o Cruzeiro do Sul;
porém, com sua mensagem,
marcarão nossa passagem
por este planeta azul.

240 – Gislaine Canales
Aqui do meu belo Sul,
eu também quero abraçar
todos vocês, meus amigos,
e a todos, paz desejar,
inspiração na poesia,
vida cheia de alegria,
numa ventura sem par!

241 - Prof. Garcia
Dói muito ter que parar
um jogo tão grande assim...
Mas tudo na vida passa,
tem seu princípio, seu fim;
e este debate acabando,
vai deixar triste, chorando,
a musa dentro de mim!

242 – Delcy Canalles
Um jogo, jogado assim,
entre amigos, eu diria,
não devia terminar,
pois viverá na poesia.
aumentando esta amizade,
que se transforma em saudade
na faina do dia-a-dia!

243 - A. A. de Assis
Meus irmãos de poesia,
a um tempo triste e feliz,
aqui lhes deixo a setilha
mais comovida que eu fiz.
A vocês muito obrigado,
e um grande abraço apertado
do irmão menorzinho, o A. A. de Assis.

244 – Arlindo T. Hagen
Relendo os versos que fiz,
agradeço a compreensão
dos colegas "setilheiros"
e desejo a cada irmão
um santo e feliz Natal
e um 2010 legal
repleto de inspiração!

245 – Thalma Tavares
Pedi ao meu coração
que não seja emocional
ao fechar este debate
tão belo e tão fraternal...
E ao Cristo, de quem sou crente,
pedi que não deixe a gente
ser cristão só no Natal.

Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Marilda de Almeida (Livro de Poesias)


VIAJANTE DO TEMPO

Viajante sou, no tempo e no espaço,
Procuro nas incontidas idas e vindas,
O calor humano, o sabor da vida,
A maciez do abraço apertado,
O carinho dado, mas a mim negado.
Em meus devaneios procuro o amor,
A paixão que arrebata e acalma,
No desejo ardente, pela vida e pelo viver.
Nas cores de um arco-íris depois das chuvas,
Busco no brilho dos céus, que refletem nos meus olhos, a saudade dos teus.
O brilho da alegria, do olhar e do toque.
Não me permito a dor, em meu ser, em meu querer.
Os sonhos e as ilusões são a minha esperança.
Não quero silenciar minha alma viajante,
Só irei parar no tempo e no espaço,
Quando os ponteiros do relógio marcar minha hora,
De partida ou encontro com o meu Eu, com a minha felicidade.
Viajante sou, com desejos e tentações ,
Mas não quero deixar nenhuma página em branco,
Por tudo que a vida me deu, e que Deus me permitiu viver.
Encontros e desencontros; caminhos e descaminhos;
amores e desamores; alegrias, tristezas e solidão.
E no espelho de minha alma, continuo viajante solitário,
Sigo meu caminho, sem hora marcada para chegar ou partir.
Sigo apenas como um viajante nômade,
Perdido no tempo e no espaço.

SENTIR O AMOR!

É ter o mundo aos nossos pés.
Ter um olhar atrevido, lépido,
faceiro, traquino.
Na mão... uma flor e na boca
Um silêncio que fala.
Ingênuo, às vezes criança.
Mas, está vivo a cada instante,
O coração pulsa flamejante.
Tem na alegria o sentido da vida.
É ser um sonhador, ir até os céus ,
E falar com Deus.
Trazer no olhar, as estrelas,
Fazer da lua sua eterna paixão.
De um breve momento, um reflexo,
Cristalizar uma gota de lágrima,
Para eternizar o sentimento.
É ter asas e poder subir aos cumes,
Cantar o amor em prosa e verso.
É perdoar, caminhar lado a lado,
Ter abraços para se entregar, mesmo
contra a própria razão.
Pois a razão... o amor desconhece.
Sentir o amor, é ter o elixir da vida.
E não poder confessar, sentir o perfume
que brota, no coração quando
ao seu lado estou, ávida
dos carinhos de suas mãos.

DESCOMPASSO DE UMA VIDA.

Invadiu minha alma rompendo saudades,
Sonhos, desejos, acalentando verdades,
Meu coração bateu descompassado,
Pensei ter encontrado meu bem.

Aos sons de harpas desafinei meu compasso,
Acordei em mim o desejo de amar,
Meu corpo cambaleou no caminhar,
Quando ao teu encontro segui passo a passo.

Levitei até as estrelas,
Busquei encher de brilho nossas vidas
E o meu olhar, para te entregar,
E entre abraços me fazer amada.

Mas o tempo mostrou-me quão tola fui,
Meus pensamentos serviram-me de armadilha,
Para ludibriar meus devaneios,
Emudeci minhas lágrimas.

Deixei-te partir e o pranto
Não deixei rolar pela face,
Pois quero a calma da madrugada,
Para minha harpa poder afinar,
E na minha vida um suave canto entoar.

COMO FÊNIX...

Sou como fênix, que ressurjo das cinzas...
Em uníssono a voz de minh’alma clama pela vida.
A paixão escondida, renasce em meus sonhos,

Inquieta, querendo explodir no peito.
Sinto falta de um bem querer, de carinho, abraço,
do dormir agarradinho e de um perfume que inebria.
Mas que pena, onde está você, que não me vê...
Calada, deparo-me guardando o melhor de mim,
Meu sorriso, o brilho do olhar, minha alegria, somente
por te amar.
Uma dor singra no vazio, por onde anda você, que não me vê...
Levo-me à exaustão, pensamentos fervilhando,
Queimando a minha alma, incendiando meu ser.
E como fênix, acredito no milagre, na renovação.
Quem sabe, com o sol reluzindo sobre o verde dos campos,
E o vento soprando em meu rosto, trazendo a esperança
de que tudo pode renascer
Nossos olhares se encontrarão para que o amor flua numa chama ardente,
Milagre de uma vida.

SE QUISERES...

Se quiseres ver-me sofrer, perder o encanto rouba o brilho das
estrelas, apaga a luz do luar.
Tira de mim o sol que aquece meu corpo e minh’alma.
Arranca dos lábios da criança o sorriso e a alegria que
encanta com sua inocência.
Se quiseres ver-me sofrer, destrói a natureza, mata os
pássaros que cantam em minha janela.
Polui as águas dos rios que matam minha sede
e nas tardes de verão, banho meu corpo para renovar as energias.
Se quiseres ver-me sofrer, polua o ar que respiro,
enche meus pulmões com os gases e fuligens que
saem pelas chaminés de suas fábricas.
Se quiseres ver-me sofrer tira de mim a alegria do sorrir,
do abraço amigo que acalma minhas dores.
Se quiseres mesmo ver-me sofrer, parte na calada da noite,
em silêncio, deixando apenas o perfume suave
das madrugadas, para o meu amanhecer.
Mas se quiseres ver-me feliz, suplica a Deus que
transforme meus sonhos em realidade,
transforme o coração do homem que destrói o mundo,
pede a Ele que acabe com a violência, com as tragédias e as dores
que assolam o nosso planeta.

Fonte:
ORSIOLLI, Sonia Maria Grando; FERNANDES, Dorival C. SCARPA; Maria Antônia Canavezi; JULIO, Sandra M. (organizadores). 1a. Coletânea Teia dos Amigos 2008. Itu,SP: Ottoni, 2008.

Monteiro Lobato (O Saci) V – Pedrinho pega um saci ; VI – A modorra


Tão impressionado ficou Pedrinho com esta conversa que dali por diante só pensava em saci, e até começou a enxergar sacis por toda parte. Dona Benta caçoou, dizendo:

— Cuidado! Já vi contar a história de um menino que de tanto pensar em saci acabou virando saci...

Pedrinho não fez caso da história, e um dia, enchendo-se de coragem, resolveu pegar um. Foi de novo em procura do Tio Barnabé.

— Estou resolvido a pegar um saci — disse ele — e quero que o senhor me ensine o melhor meio.

Tio Barnabé riu-se daquela valentia.

— Gosto de ver um menino assim. Bem mostra que é neto do defunto sinhô velho, um homem que não tinha medo nem de mula-sem-cabeça. Há muitos jeitos de pegar saci, mas o melhor é o de peneira. Arranja-se uma peneira de cruzeta...

— Peneira de cruzeta? — interrompeu o menino. — Que é isso?

— Nunca reparou que certas peneiras têm duas taquaras mais largas que se cruzam bem no meio e servem para reforço? Olhe aqui — e Tio Barnabé mostrou ao menino uma das tais peneiras que estava ali num canto. — Pois bem, arranja-se uma peneira destas e fica-se esperando um dia de vento bem forte, em que haja rodamoinho de poeira e folhas secas. Chegada essa ocasião, vai-se com todo o cuidado para o rodamoinho e zás! — joga-se a peneira em cima. Em todos os rodamoinhos há saci dentro, porque fazer rodamoinhos é justamente a principal ocupação dos sacis neste mundo.

— E depois?

— Depois, se a peneira foi bem atirada e o saci ficou preso, é só dar jeito de botar ele dentro de uma garrafa e arrolhar muito bem. Não esquecer de riscar uma cruzinha na rolha, porque o que prende o saci na garrafa não é a rolha e sim a cruzinha riscada nela. É preciso ainda tomar a carapucinha dele e a esconder bem escondida. Saci sem carapuça é como cachimbo sem fumo. Eu já tive um saci na garrafa, que me prestava muitos bons serviços. Mas veio aqui um dia aquela mulatinha sapeca que mora na casa do compadre Bastião e tanto lidou com a garrafa que a quebrou. Bateu logo um cheirinho de enxofre.

O perneta pulou em cima da sua carapuça, que estava ali naquele prego, e “até logo, Tio Barnabé!”

Depois de tudo ouvir com a maior atenção, Pedrinho voltou para casa decidido a pegar um saci, custasse o que custasse. Contou o seu projeto a Narizinho e longamente discutiu com ela sobre o que faria no caso de escravizar um daqueles terríveis capetinhas. Depois de arranjar uma boa peneira de cruzeta, ficou à espera do dia de São Bartolomeu, que é o mais ventoso do ano.

Custou a chegar esse dia, tal era sua impaciência, mas afinal chegou, e desde muito cedo Pedrinho foi postar-se no terreiro, de peneira em punho, à espera de rodamoinhos. Não esperou muito tempo. Um forte rodamoinho formou-se no pasto e veio caminhando para o terreiro.

— É hora! — disse Narizinho. — Aquele que vem vindo está com muito jeito de ter saci dentro.

Pedrinho foi se aproximando pé ante pé e de repente, zás! — jogou a peneira em cima.

— Peguei! — gritou no auge da emoção, debruçando-se com todo o peso do corpo sobre a peneira emborcada. — Peguei o saci!...

A menina correu a ajudá-lo.

— Peguei o saci! — repetiu o menino vitoriosamente.

— Corra, Narizinho, e traga-me aquela garrafa escura que deixei na varanda. Depressa!

A menina foi num pé e voltou noutro.

— Enfie a garrafa dentro da peneira — ordenou Pedrinho — enquanto eu cerco os lados. Assim! Isso!...

A menina fez como ele mandava e com muito jeito a garrafa foi introduzida dentro da peneira.

— Agora tire do meu bolso a rolha que tem uma cruz riscada em cima — continuou Pedrinho. — Essa mesma. Dê cá.

Pela informação do Tio Barnabé, logo que a gente põe a garrafa dentro da peneira o saci por si mesmo entra dentro dela, porque, como todos os filhos das trevas, tem a tendência de procurar sempre o lugar mais escuro. De modo que Pedrinho o mais que tinha a fazer era arrolhar a garrafa e erguer a peneira. Assim fez, e foi com o ar de vitória de quem houvesse conquistado um império que levantou no ar a garrafa para examiná-la contra a luz.

Mas a garrafa estava tão vazia como antes. Nem sombra de saci dentro...

A menina deu-lhe uma vaia e Pedrinho, muito desapontado, foi contar o caso ao Tio Barnabé.

— É assim mesmo — explicou o negro velho. — Saci na garrafa é invisível. A gente só sabe que ele está lá dentro quando a gente cai na modorra. Num dia bem quente, quando os olhos da gente começam a piscar de sono, o saci pega a tomar forma, até que fica perfeitamente visível. É desse momento em diante que a gente faz dele o que quer. Guarde a garrafa bem fechada, que garanto que o saci está dentro dela.

Pedrinho voltou para casa orgulhosíssimo com a sua façanha.

— O saci está aqui dentro, sim — disse ele a Narizinho. — Mas está invisível, como me explicou Tio Barnabé. Para a gente ver o capetinha é preciso cair na modorra — e repetiu as palavras que o negro lhe dissera.

Quem não gostou da brincadeira foi a pobre Tia Nastácia. Como tinha um medo horrível de tudo quanto era mistério, nunca mais chegou nem na porta do quarto de Pedrinho.

— Deus me livre de entrar num quarto onde há garrafa com saci dentro! Credo! Nem sei como Dona Benta consente semelhante coisa em sua casa. Não parece ato de cristão...

VI – A modorra

Um dia Pedrinho enganou Dona Benta que ia visitar o Tio Barnabé, mas em vez disso tomou o rumo da mata virgem de seus sonhos. Nem o bodoque levou consigo. “Para que bodoque, se levo o saci na garrafa e ele é uma arma melhor do que quanto canhão ou metralhadora existe?”

Que beleza! Pedrinho nunca supôs que uma floresta virgem fosse tão imponente. Aquelas árvores enormes, velhíssimas, barbadas de musgos e orquídeas; aquelas raízes de fora dando idéia de monstruosas sucuris; aqueles cipós torcidos como se fossem redes; aquela galharada, aquela folharada e sobretudo aquele ambiente de umidade e sombra lhe causaram uma impressão que nunca mais se apagou.

Volta e meia ouvia um rumor estranho, de inambu ou jacu a esvoaçar por entre a folhagem, ou então de algum galho podre que tombava do alto e vinha num estardalhaço — brah, ah, ah... — esborrachar-se no chão.

E quantas borboletas, das azuis, como cauda de pavão; das cinzentas, como casca de pau; das amarelas, cor de gema de ovo!

E pássaros! Ora um enorme tucano de bico maior que o corpo e lindo papo amarelo. Ora um pica-pau, que interrompia o seu trabalho de bicar a madeira de um tronco para atentar no menino com interrogativa curiosidade.

Até um bando de macaquinhos ele viu, pulando de galho em galho com incrível agilidade e balançando-se, pendurados pela cauda, como pêndulos de relógios.

Pedrinho foi caminhando pela mata adentro até alcançar um ponto onde havia uma água muito límpida, que corria, cheia de barulhinhos mexeriqueiros, por entre velhas pedras verdoengas de limo. Em redor erguiam-se os esbeltos samambaiaçus, esses fetos enormes que parecem palmeiras. E quanta avenca de folhagem mimosa, e quanto musgo pelo chão!

Encantado com a beleza daquele sítio, o menino parou para descansar. Juntou um monte de folhas caídas; fez cama; deitou-se de barriga para o ar e mãos cruzadas na nuca. E ali ficou num enlevo que nunca sentira antes, pensando em mil coisas em que nunca pensara antes, seguindo o vôo silencioso das grandes borboletas azuis, embalando-se com o chiar das cigarras.

De repente notou que o saci dentro da garrafa fazia gestos de quem quer dizer alguma coisa.

Pedrinho não se admirou daquilo. Era tão natural que o capetinha afinal aparecesse...

— Que aconteceu que está assim inquieto, meu caro saci? — perguntou-lhe em tom brincalhão.

— Aconteceu que este lugar é o mais perigoso da floresta; e que se a noite pilhar você aqui era uma vez o neto de Dona Benta...

Pedrinho sentiu um arrepio correr-lhe pelo fio da espinha.

— Por quê? — perguntou, olhando ressabiadamente para todos os lados.

— Porque é justamente aqui o coração da mata, ponto de reunião de sacis, lobisomens, bruxas, caiporas e até da mula-sem-cabeça. Sem meu socorro você estará perdido, porque não há mais tempo de voltar para casa, nem você sabe o caminho. Mas o meu auxílio eu só darei sob uma condição...

-— Já sei, restituir a carapuça! — adiantou Pedrinho.

— Isso mesmo. Restituir-me a carapuça e com ela a liberdade. Aceita?

— Que remédio!

Pedrinho sentia muito ver-se obrigado a perder um saci que tanto lhe custara a apanhar, mas como não tinha outro remédio senão ceder, jurou que o libertaria se o saci o livrasse dos perigos da noite e pela manhã o reconduzisse, são e salvo, à casa de Dona Benta.

— Muito bem — disse o saci. — Mas nesse caso você tem de abrir a garrafa e me soltar. Terei assim mais facilidade de ação. Você jurou que me liberta; eu dou minha palavra de saci que mesmo solto o ajudarei em tudo. Depois o acompanharei até o sítio para receber minha carapuça e despedir-me de todos.

Pedrinho soltou o saci e durante o resto da aventura tratou-o mais como um velho camarada do que como um escravo. Assim que se viu fora da garrafa, o capeta pôs-se a dançar e a fazer cabriolas com tanto prazer que o menino ficou arrependido de por tantos dias ter conservado presa uma criaturinha tão irrequieta e amiga da liberdade.

— Vou revelar os segredos da mata virgem — disse-lhe o saci — e talvez seja você a primeira criatura humana a conhecer tais segredos. Para começar, temos de ir ao “sacizeiro” onde nasci, onde nasceram meus irmãos e onde todos os sacis se escondem durante o dia, enquanto o sol está de fora. O sol é o nosso maior inimigo. Seus raios espantam-nos para as tocas escuras. Somos os eternos namorados da lua. É por isso que os poetas nos chamam de filhos das trevas. Sabe o que é trevas?

— Sei. O escuro, a escuridão.

— Pois é isso. Somos filhos das trevas, como os beija-flores, os sabiás e as abelhas são filhos do sol.

Assim falando, o saci levou o menino para uma cerrada moita de taquaruçus existente num dos pontos mais espessos da floresta.

Pedrinho assombrou-se diante das dimensões daqueles gomos quase da sua altura e grossos que nem uma laranja de umbigo.
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continua... VII - A Sacizada; VIII – A Onça
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Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Paulo Leminski (Aço e Flor)



Trova 197 - Durval Mendonça (RJ)


Fonte:
Trova obtida no blog de Pedro Mello, Trova do dia de hoje, http://pedromello-ubt.blogspot.com/

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 307)

Paraty (Aquarela de Eduardo Bajzek Barbosa )
Uma Trova Nacional
Esquecer-te? de que jeito?!...
Teu receio é sem motivo,
porque, dentro do meu peito,
tens lugar definitivo!
–JOSÉ TAVARES LIMA/MG–

Uma Trova Potiguar


No velho barco ancorado,
vindo de um tempo obscuro,
a carga do meu passado,
é o lastro do meu futuro.
–SERGIO SEVERO/RN–

Uma Trova Premiada


2000 - Fortaleza/CE
Tema: FEITIÇO - 2º Lugar


A mesma sorte vadia
que de mel nos enche a taça,
serve também, quem diria,
o veneno da desgraça.
–JOSÉ PEREIRA ALBUQUERQUE/CE–

Uma Trova de Ademar

O rio com suas águas
faz igual a um triste monge,
viaja cheio de mágoas
para desaguar bem longe.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Dei conforto em hora aguda
a tantos (que nem mais sei),
mas na dor só tive ajuda
de mãos que nunca ajudei.
–ALONSO ROCHA/PA–

Simplesmente Poesia

Colar de Carolina.
–CECÍLIA MEIRELES/RJ–

Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.

E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral

nas colunas da colina.

Estrofe do Dia

Virou o mundo um abismo
depois da segunda guerra,
de um lado o planeta terra
seguia o socialismo,
do outro o capitalismo
ganhava status de rei
passando a ditar a lei
do lucro e do seu provento;
isso é somente um por cento
dos cem por cento que eu sei.
–JÚNIOR ADELINO/PB–

Soneto do Dia

A Mulher
–RENÃ LEITE PONTES/AC–

A mulher deve ter semblante brando,
delicadeza é mais uma iguaria.
a mulher deve ter a voz macia,
encantar quando entra caminhando.

A mulher deve ser, de vez em quando,
um oásis de paz e calmaria,
como um “lago de prata” à luz do dia
e, vulcão noite adentro, estando amando.

A mulher deve ter este mistério
de fundura e frescor que faz do rio
vigor que faz nascer a cidadela.

A mulher deve ser este desvelo
que obriga a dedicá-la todo o zelo
e, se preciso for, morrer por ela.

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Lino Sapo (Natal, Uma Cidade Turística: Um passeio entre versos)


Para começar o roteiro
Vamos apresentar Natal
Uma cidade perfeita
De um clima especial
Do Rio Grande do Norte
A sua linda capital.

Com história fascinante
Que muito abrilhantou
Quatrocentos anos
O aniversário comemorou
É menina debutante
Que a copa conquistou.

Rio Grande era capitania
Muito difícil de povoar
Pertencia a João de Barros
Que não veio habitar
E ao senhor Aires da Cunha
Que ainda quis tentar

Capitanias hereditárias
Por aqui não se projetou
Devido muitos índios
A colonização dificultou
E aliado aos franceses
Com os lusos se rebelou
O reino de Portugal
A Espanha se integrou
Foi quando as coisas aqui
De verdade é que mudou
Para expulsarem os franceses
Uma fortaleza se cogitou

E a fundação duma cidade
Para proteger o lugar
Juntos com a fortaleza
Essa terra conquistar
Assim nasceu Natal
Rodeada pelo mar

Em Seis de janeiro
Do ano de mil quinhentos
Da década e ano noventa e oito
Vive-se um novo momento
A fortaleza é construída
Cumprindo-se o intento

Natal nasce no natal
Um ano depois da fortaleza
Já nasceu cidade
E repleta de beleza
Primeiro constrói uma Capela
Era ordem da realeza.
Palco de grandes conquistas
Foi tomada pelos holandeses
Que mudaram o seu nome
Contrariando os portugueses
Chamou-se Nova Amsterdam
Para os novos povos burgueses

Na segunda guerra mundial
Natal também participou
Recebendo tropas aliadas
Pela geografia que herdou
Na posição privilegiada
Ao combate se integrou

Apresentado essa parte
Da história do lugar
Vamos mostrar os pontos
Pra quem quer nos visitar
Aqui tem de tudo
Pode vir comprovar
A Igreja Nossa Senhora
Denominada da Apresentação
Hoje está a Igreja Matriz
E foi marco da povoação
Com casamentos, batizados
Missas, novena e celebração

Por cima do Potengi
A Newton Navarro fica
Uma ponte interessante
Imponente e magnífica
Unindo a bela cidade
E a mantendo mais rica

A Fortaleza dos Reis Magos
Palco de tantos eventos
Nos arrecifes de pedras
Rodeado de mar e vento
É marco de nossa história
Testemunha de belos momentos

Teatro Alberto Maranhão
Um século de existência
Com arquitetura francesa
O TAM tem a decência
Palco de grandes espetáculos
Da cidade é referência
Museu Câmara Cascudo
Boda de ouro comemorou
Cinqüenta anos de história
Que a cidade presenciou
Ampliando o conhecimento
Que a vida nos ofertou

A praia de Ponta Negra
Americanos descobriram
Na segunda guerra mundial
E o turismo introduziram
Lá tem o morro do Careca
Que proibir subir decidiram

O Memorial Câmara Cascudo
Relembra um homem de valor
Estudante da cultura brasileira
Foi folclorista e historiador
Mil novecentos e oitenta e sete
Homenagearam o grande escritor

A linda Igreja do Galo
Beleza do solo potiguar
Com arquitetura barroca
E Santo Antônio a homenagear
Mil setecentos e sessenta e seis
Que se pode terminar

A querida cidade do sol
É rica em tanta beleza
Na messoregião do leste potiguar
Tem no ar grande pureza
Banhada pelo Rio Potengi
Paraíso terreno da natureza

Suas praias são perfeitas
Verdadeira criação divina
Que encanta e seduz
Parecendo ouro em mina
Visitada por todo Brasil
Povo bom aqui se destina

Tem a Feira do Alecrim
Pra completar o passear
O museu Café Filho
Pra o conhecimento ampliar
E o Instituto Histórico
Para a pesquisa aprofundar

O Palácio Felipe Camarão
Com estilo colonial
A Praça André de Albuquerque
Que também é sensacional
Tem ainda a Pinacoteca
Que essa é fenomenal

Não demore venha logo
Que Natal te receberá
Com carinho e muito amor
Por aqui não vai faltar
Temos enorme prazer
Em nossa terra te mostrar

Fonte:
Lino Sapo: Vida e Obra

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 9


183 – Zé Lucas
Discórdia e perversidade
já vêm do tempo de Adão,
quando Caim, por inveja,
tirou a vida do irmão;
apesar disso, acredito
que um futuro mais bonito
inda nos estende a mão.

184 – Gislaine Canales
Resta a nós, de coração,
sonhar com a paz mundial.
É a nossa meta, poetas!
Como oração especial,
nós deixamos em poesia,
as sementes da alegria
de uma esperança imortal!

185 - Prof. Garcia
A vida é fenomenal
ante a luz da criação.
Quem fez este mundo lindo
nunca viveu de ilusão;
mas teve um amor tão profundo,
que fez das glórias do mundo
o reino da salvação

186 – Delcy Canalles
Falas de Deus, meu irmão,
e eu concordo, hoje, contigo!
A beleza do Universo
Ele trazia consigo...
Fez nosso mundo bonito,
com promessas de infinito,
que, às vezes, chora comigo!

187 - A. A. de Assis
Deus é Pai, é Amor, é Amigo,
por isso nos quer irmãos,
caminhando sempre unidos,
uns aos outros dando as mãos.
Brasileiros e estrangeiros,
somos todos companheiros,
universais cidadãos.

188 – Arlindo T. Hagen
Para sermos bons irmãos
há uma receita que eu sei,
aliás, todos sabemos:
seguir os passos de um Rei
transformado em Salvador:
"Amai-vos no mesmo Amor
com que sempre eu vos amei."

189 – Thalma Tavares
Cristo fez do Amor a lei
mais branda que se conhece.
Quem nessa lei se compraz
vence a dor e não padece.
Quem segue essa Lei divina
vive em paz, não desatina
e a vida eterna merece.

190 – Zé Lucas
Creio na força da prece
que atrai os fluidos do bem
e nos leva pra mais perto
do Pai, de cujas mãos vem,
para quem nele acredita,
aquela paz infinita
que o mundo anseia e não tem.

191 – Gislaine Canales
Uma prece por alguém
atrai a felicidade,
enobrece os corações,
faz brotar a caridade
e enfeitando o nosso dia
feito um Sol, só de alegria,
enraíza uma amizade!

192 - Prof. Garcia
Deus por amor e bondade,
num mandamento de luz...
para salvar este mundo,
mandou seu filho Jesus;
mas nem o Cristo inocente
escapou da chama ardente
nem do castigo da cruz!

193 – Delcy Canalles
Nem mesmo Cristo Jesus
escapou da violência !
Perdeu para Barrabás,
um malfeitor em essência!
Pregou o Bem e a Bondade,
quis salvar a Humanidade
e o mataram sem clemência!

194 - A. A. de Assis
Um dia por excelência
o de hoje, afinal com cara
de primavera - aleluia! -,
coisa linda e este ano rara.
Céu azul, sol abundante,
passarinhada cantante,
como o poeta sonhara.

195 – Arlindo T. Hagen
Quando a Morte nos separa
de quem, tão fraternalmente,
fomos unidos na Vida
o coração se ressente.
Que sejam, neste Finados,
nossos mortos relembrados...
tão vivos dentro da gente...

196 – Thalma Tavares
A morte eu sei, finalmente,
que é passagem concedida,
é porta do além que se abre
para outro plano, outra vida...
Lá curtirei outra vez
saudades de quem já fez,
antes de mim, a partida.

197 - Zé lucas
A morte é uma despedida
de quem vai pra não voltar...
Para o ateu, é o simples fim;
para o crente, é o caminhar
noutra dimensão da vida,
buscando a eterna guarida
que Deus tem para nos dar.

198 - Gislaine Canales
A partida faz chorar,
mas essa, que não tem volta,
nos faz sofrer mais ainda;
muitas vezes, nos revolta;
choramos de nostalgia,
com uma angústia vazia,
que, da morte, vira escolta!

199 - Prof. Garcia.
Mesmo que cause revolta,
nesta hora estremecida;
a morte é o pagamento
do preço desta corrida...
Onde o homem revoltado,
achou que fosse o pecado
o doce melhor da vida!

200- Delcy Canalles
A morte, pra mim, é tida
como algo que causa horror!
Quisera sempre viver,
ainda que em meio à dor;
por isso imploro por fé,
pedindo perdão até
a Deus Pai, Nosso Senhor!

201 - A. A. de Assis
Enquanto possível for,
vivamos então a vida,
que ela é dura e passageira,
porém de todos querida.
Fazer da vida um troféu
é um modo de estar no céu
antes mesmo da subida.

202 - Arlindo T. Hagen
Há vida depois da vida?
Na dúvida me mantenho
alheio a tais discussões.
Mas enquanto eu me contenho
no crer ou deixar de crer,
tudo o que eu queria ter
é a certeza que eu não tenho!

203 – Thalma Tavares
Pois esta certeza eu tenho,
mas não imponho a ninguém
que nem todos acreditam
que há outra vida no Além.
Pra não teimar eu desisto,
mudo o tema, não insisto,
agradeço e digo: Amém!

204 - Zé Lucas
Thalma Tavares, tu fizeste bem.
Vamos buscar novas trilhas...
Certos temas nos afastam,
transformando-nos em ilhas,
e é preciso andarmos juntos,
pois não faltam bons assuntos
para o embalo das setilhas.

205 – Gislaine Canales
A inspiração nas setilhas
entre nós, faz-se infinita,
pois no passo da amizade,
fica sempre mais bonita.
Somos do verso, as estrelas,
e é tão gostoso escrevê-las
quando a musa nos visita!

206 - Prof. Garcia
É, pois, a musa bendita
que nunca nos deixa à-toa,
chega no sopro da brisa,
nas asas do vento voa;
faz do verso, arma secreta,
da inspiração do poeta
um coração que perdoa!

207 – Delcy Canalles
Tal pensamento ressoa
na minha alma tão sofrida,
pois a musa de que falas
anda, de mim, esquecida!
Volta, musa, ao meu caminho,
dá-me fé, dá-me carinho,
poetiza a minha vida!

208 – A. A. de Assis
Ah, minha musa querida,
sem você não sou ninguém:
só você me ajuda a ver
o encanto que a vida tem.
Sempre que a tenho a meu lado,
é como se houvesse entrado
no reino onde mora o Bem.

209 - Arlindo T. Hagen
No instante em que o verso vem,
os problemas mais diversos
desaparecem da mente.
Assim, em sonhos dispersos,
agradeço ao Criador
que, ao me fazer Trovador,
deu-me o dom de fazer versos!

210 – Thalma Tavares
Vivemos nós sempre imersos
em rimas, sonho e lirismo...
Nossos versos não traduzem
sentimentos de egoísmo.
E as mágoas de cada dia
transformamos em poesia
do mais puro idealismo.
---------------
continua...

Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.

Rubem Braga (O Conde e o Passarinho: Sentimento do Mar)


Passo pela padaria miserável e vejo se já tem pão fresco. As jogadas e os camarões estão aqui. Está aqui a garrafa de cachaça. Você vai mesmo? Pensei que fosse brincadeira sua.

Arranje um chapéu de palha. Hoje vai fazer sol quente. Andamos na madrugada escura. Vamos calados, com os pés rangindo na areia. Venha por aqui, aí tem espinhos. Os mosquitos do mangue estão dormindo. Venha. Arrasto a canoa para dentro da água. A água está fria. Ainda e quase noite... O remo está úmido de sereno, sujo de areia. Sente ali na proa, virada para mim. Olhe a água suja no fundo da canoa. Ponha os pés em cima da porta. Eu estou dentro d’água até os joelhos, empurro a canoa e salto para dentro. Uma espumarada de onda fria bate na minha cara. Remo depressa, por causa da arrebentação. Fique sentada, não tenha medo não. Firme aí. Segure dos lados. Não se mexa! Firme! Ooooi.. Quase! Outra onda dá um balanço forte e joga um pouco de água dentro do barco. Estou remando em pé, curvado para a direita, com esforço. A outra onda passa mansa, mansa, a proa bate n’água e avança. O remo esta frio nas minhas mãos. Eu o mergulhei dentro d’água para limpar a areia. A água que escorre molha as mangas de meu paletó. 0 mar está muito calmo. Esse ventinho que está vindo e passando em seus cabelos é o vento da terra. O terral vem de longe, lá do meio da terra, dos matos dormentes atrás dos morros. Vem da terra escura para o mar escuro. Nós iremos com ele.

Levantei a vela encardida. O meu leme está quebrado, mas tenho o remo. Vamos um pouco beirando a praia para o norte. Agora o ventinho nos pega. A vela treme feito mulher beijada. Fica túmida feito mulher beijada. As vezes, a força do vento diminui um pouco, e ela bambela, amolece, feito mulher possuída. Olhe lá a sua casa. Não está vendo, não? O pão está bom? Se você comer todo agora, vai ficar com fome lá fora. Me dá essa cuia, vou tirar a água da canoa. Raspo o fundo do barco, onde o cheiro forte e enjoado da maresia, esse cheiro que eu amo, embebeu para sempre o lenho. Viro um pouco a vela, sento, e passo o remo para a esquerda. O leme, assim como está, ajuda. Vamos cortando a água maciamente... A água está cinza, escura, pesada, como óleo. O balanceio nos leva. A praia pobre ficou lá longe, com luzinhas piscando. Estamos quietos, e ela rói o pão olhando a água. A água fala alguma coisa ao batelão, lambendo seu corpo, numa ternura de velha amiga com velho amigo.

Ela está quase deitada. O frio do fim da noite, o ar cheio de água, com um cheiro úmido, me faz abrir as narinas, apaga o meu sono. Na penumbra imensa seus cabelos parecem úmidos sobre a testa morena. Nós avançamos no bamboleio manso, conversando com moleza. A sua voz me vem, atravessando o vento fraco, entre a voz da água na beira da canoa. Seu corpo, na proa, sobe e desce no horizonte... Ela está virada para mim. Contempla lá atrás a terra que vai morrendo no escuro, que é apenas um vago debrum sujo além da água. Eu olho a água. Tenho vontade de beijar a água. Beijar de leve a flor salgada da água, depois beijar com lábios úmidos, com pureza, de manso, aquela boca sob os olhos negros, sob a testa morena. Mas isso é apenas um desejo à-toa, sem força nenhuma, um desejo que sabe que veio à toa e que vai à toa.

Acendo um cigarro e perguntou - Você quer fumar?

A minha amiga não fuma, e ri. Ri muito, como se eu tivesse ficado triste muito tempo e de repente tivesse dito uma coisa engraçadíssima. Ri... Seu riso quebra, parte, destrói o encanto molengo da madrugada. L como se estivéssemos em terra e, por exemplo, fizesse sol, em uma tarde comum, ou nós andássemos depressa pela rua. Seu riso rasga a calma do mar escuro, como se o mar não estivesse soluçando sob a canoa.

Uma claridade pastosa, débil, vem lá do fundo sobre o qual o seu corpo deitado se balança. E nós conversamos animadamente, como se estivéssemos em um bonde, fôssemos a um cinema. Não estamos sozinhos no mundo, em uma canoa no meio do mar. A nossa vida não é apenas esta velha canoa, esta vela encardida e pequena, este remo úmido. Somos gente da terra, sem nenhuma evasão nem mistério. Conversamos. Eu conto histórias do mar, como se fosse um velho pescador. Ela me interrompe para contar uma coisa - uma coisa terrena, acontecida na terra, dentro de uma casa na terra, com lâmpada elétrica, onde os homens se atormentam. E eu ouço, me interesso. Desci a vela. Vou remando, remando tão bestamente como se os músculos de quem rema não tivessem alma, como se a água rompida pelo remo não tivesse músculos e alma, como se eu jamais tivesse sentido pulsar, nas minhas velas rolando ondas, a

vertigem calma do mar. Remo, não há mais encanto nenhum. Tudo vai clareando no ar e na água. Remarei, pescarei. Pedirei a ela que se levante para que eu possa descer a pedra pela proa, até sentir bater na lama. Pescarei. Se ela estiver cansada, se ela achar cacete, voltarei para terra conversando. Ela achará cacete. Ela é da terra, está viciada pela terra, e eu não poderia lhe ensinar meu sentimento. Meu sentimento é inútil, eu converso conversas da terra com essa filha da terra. Eu pescarei e assobiarei um samba. Eu remarei para a terra logo que ela estiver cansada do mar.

Fonte:
BRAGA, Rubem. 200 cronicas escolhidas.

Monteiro Lobato (O Saci) III – Medo do saci; IV – Tio Barnabé


Pedrinho, naqueles tempos, costumava passar as férias no sítio de Dona Benta, onde brincava de tudo, como está nas Reinações e na Viagem ao céu. Só não está contado o que lhe aconteceu antes da famosa viagem ao céu, quando andava com a cabeça cheia de sacis.

A coisa foi assim. Estava ele na varanda com os olhos no horizonte, postos lá onde aparecia o verde-escuro do Capoeirão dos Tucanos, a mata virgem do sítio. De repente, disse:

— Vovó, eu ando com idéias de ir caçar na mata virgem.

Dona Benta, ali na sua cadeirinha de pernas cotós, entretida no tricô, ergueu os óculos para a testa.

— Não sabe que naquela mata há onças? — disse com ar sério. — Certa vez uma onça-pintada veio de lá, invadiu aqui o pasto e pegou um lindo novilho da Vaca Mocha.

— Mas eu não tenho medo de onça, vovó! — exclamou Pedrinho fazendo o mais belo ar de desprezo.

Dona Benta riu-se de tanta coragem.

— Olhem o valentão! Quem foi que naquela tarde entrou aqui berrando com uma ferrotoada de vespa na ponta do nariz?

— Sim, vovó, de vespa eu tenho medo, não nego — mas de onça, não! Se ela vier do meu lado, prego-lhe uma pelotada do meu bodoque novo no olho esquerdo; e outra bem no meio do focinho e outra...

— Chega! — interrompeu Dona Benta, com medo de levar também uma pelotada. — Mas além de onças existem cobras. Dizem que até urutus há naquele mato.

— Cobra? — e Pedrinho fez outra cara de pouco-caso ainda maior. — Cobra mata-se com um pedaço de pau, vovó. Cobra!... Como se eu lá tivesse medo de cobra...

Dona Benta começou a admirar a coragem do neto, mas disse ainda:

— E há aranhas-caranguejeiras, daquelas peludas, enormes, que devoram até filhotes de passarinho.

O menino cuspiu de lado com desprezo e esfregou o pé em cima.

— Aranha mata-se assim, vovó — e seu pé parecia mesmo estar esmagando várias aranhas-caranguejeiras.

— E também há sacis — rematou Dona Benta. Pedrinho calou-se. Embora nunca o houvesse confessado a ninguém, percebia-se que tinha medo de saci. Nesse ponto não havia nenhuma diferença entre ele, que era da cidade, e os demais meninos nascidos e crescidos na roça. Todos tinham medo de saci, tais eram as histórias correntes a respeito do endiabrado moleque duma perna só.

Desde esse dia ficou Pedrinho com o saci na cabeça. Vivia falando em saci e tomando informações a respeito. Quando consultou Tia Nastácia, a resposta da negra foi, depois de fazer o pelo-sinal e dizer “Credo!”:

— Pois saci, Pedrinho, é uma coisa que branco da cidade nega, diz que não há — mas há. Não existe negro velho por aí, desses que nascem e morrem no meio do mato, que não jure ter visto saci. Nunca vi nenhum, mas sei quem viu.

— Quem?

— O Tio Barnabé. Fale com ele. Negro sabido está ali! Entende de todas as feitiçarias, e de saci, e de mula-sem-cabeça, de lobisomem — de tudo

Pedrinho ficou pensativo.

IV – Tio Barnabé

Tio Barnabé era um negro de mais de oitenta anos que morava no rancho coberto de sapê lá junto da ponte. Pedrinho não disse nada a ninguém e foi vê-lo. Encontrou-o sentado, com o pé direito num toco de pau, à porta de sua casinha, aquentando sol.

— Tio Barnabé, eu vivo querendo saber duma coisa e ninguém me conta direito. Sobre o saci. Será mesmo que existe saci?

O negro deu uma risada gostosa e, depois de encher de fumo picado o velho pito, começou a falar.

— Pois, Seu Pedrinho, saci é uma coisa que eu juro que “exéste”. Gente da cidade não acredita — mas “exéste”. A primeira vez que vi saci eu tinha assim a sua idade. Isso foi no tempo da escravidão, na Fazenda do Passo Fundo, que era do defunto Major Teotônio, pai desse Coronel Teodorico, compadre de sua avó Dona Benta. Foi lá que vi o primeiro saci. Depois disso, quantos e quantos!...

— Conte, então, direitinho, o que é saci. Bem Tia Nastácia me disse que o senhor sabia — que o senhor sabe tudo...

— Como não hei de saber tudo, menino, se já tenho mais de oitenta anos? Quem muito “véve” muito sabe...

— Então conte. Que é, afinal de contas, o tal saci? E o negro contou tudo direitinho.

— O saci — começou ele — é um diabinho de uma perna só que anda solto pelo mundo, armando reinações de toda sorte e atropelando quanta criatura existe. Traz sempre na boca um pitinho aceso, e na cabeça uma carapuça vermelha. A força dele está na carapuça, como a força de Sansão estava nos cabelos. Quem consegue tomar e esconder a carapuça de um saci fica por toda vida senhor de um pequeno escravo.

— Mas que reinações ele faz? — indagou o menino.

— Quantas pode — respondeu o negro. — Azeda o leite, quebra a ponta das agulhas, esconde as tesourinhas de unha, embaraça os novelos de linha, faz o dedal das costureiras cair nos buracos, bota moscas na sopa, queima o feijão que está no fogo, gora os ovos das ninhadas. Quando encontra um prego, vira ele de ponta pra riba para que espete o pé do primeiro que passa. Tudo que numa casa acontece de ruim é sempre arte do saci. Não contente com isso, também atormenta os cachorros, atropela as galinhas e persegue os cavalos no pasto, chupando o sangue deles. O saci não faz maldade grande, mas não há maldade pequenina que não faça.

— E a gente consegue ver o saci?

— Como não? Eu, por exemplo, já vi muitos. Ainda no mês passado andou por aqui um saci mexendo comigo — por sinal que lhe dei uma lição de mestre...

— Como foi? Conte... Tio Barnabé contou.

— Tinha anoitecido e eu estava sozinho em casa, rezando as minhas rezas. Rezei, e depois me deu vontade de comer pipoca. Fui ali no fumeiro e escolhi uma espiga de milho bem seca. Debulhei o milho numa caçarola, pus a caçarola no fogo e vim para este canto picar fumo pro pito. Nisto ouvi no terreiro um barulhinho que não me engana. “Vai ver que é saci!” — pensei comigo. E era mesmo. Dali a pouco um saci preto que nem carvão, de carapuça vermelha e pitinho na boca, apareceu na janela. Eu imediatamente me encolhi no meu canto e fingi que estava dormindo. Ele espiou de um lado e de outro e por fim pulou para dentro. Veio vindo, chegou pertinho de mim, escutou os meus roncos e convenceu-se de que eu estava mesmo dormindo. Então começou a reinar na casa. Remexeu tudo, que nem mulher velha, sempre farejando o ar com o seu narizinho muito aceso. Nisto o milho começou a chiar na caçarola e ele dirigiu-se para o fogão. Ficou de cócoras no cabo da caçarola, fazendo micagens. Estava “rezando” o milho, como se diz. E adeus pipoca! Cada grão que o saci reza não rebenta mais, vira piruá.

Dali saiu para bulir numa ninhada de ovos que a minha carijó calçuda estava chocando num balaio velho, naquele canto. A pobre galinha quase que morreu de susto. Fez cró, cró, cró... e voou do ninho feito uma louca, mais arrepiada que um ouriço-cacheiro. Resultado: o saci rezou os ovos e todos goraram.

Em seguida pôs-se a procurar o meu pito de barro. Achou o pito naquela mesa, pôs uma brasinha dentro e paque, paque, paque... tirou justamente sete fumaçadas. O saci gosta muito do número 7.

Eu disse cá comigo: “Deixe estar, coisa-ruinzinho, que eu ainda apronto uma boa para você. Você há de voltar outro dia e eu te curo”.

E assim aconteceu. Depois de muito virar e mexer, o sacizinho foi-se embora e eu fiquei armando o meu plano para assim que ele voltasse.

— E voltou? — inquiriu Pedrinho.

— Como não? Na sexta-feira seguinte apareceu aqui outra vez às mesmas horas. Espiou da janela, ouviu os meus roncos fingidos, pulou para dentro. Remexeu em tudo, como da primeira vez, e depois foi atrás do pito que eu tinha guardado no mesmo lugar. Pôs o pito na boca e foi ao fogão buscar uma brasinha, que trouxe dançando nas mãos.

— É verdade que ele tem as mãos furadas?

— É, sim. Tem as mãos furadinhas bem no centro da palma; quando carrega brasa, vem brincando com ela, fazendo ela passar de uma para a outra mão pelo furo. Trouxe a brasa, pôs a brasa no pito e sentou-se de pernas cruzadas para fumar com todo o seu sossego.

— Como? — exclamou Pedrinho, arregalando os olhos. — Como cruzou as pernas, se saci tem uma perna só?

— Ah, menino, mecê não imagina como saci é arteiro!... Tem uma perna só, sim, mas quando quer cruza as pernas como se tivesse duas! São coisas que só ele entende e ninguém pode explicar. Cruzou as pernas e começou a tirar baforadas, uma atrás da outra, muito satisfeito da vida. Mas de repente, puf! Aquele estouro e aquela fumaceira!... O saci deu tamanho pinote que foi parar lá longe, e saiu ventando pela janela fora.

Pedrinho fez cara de quem não entende.

— Mas que puf foi esse? — perguntou. — Não estou entendendo...

— É que eu tinha socado pólvora no fundo do pito — exclamou Tio Barnabé, dando uma risada gostosa. — A pólvora explodiu justamente quando ele estava tirando a fumaçada número 7, e o saci, com a cara toda sapecada, raspou-se para nunca mais voltar.

— Que pena! — exclamou Pedrinho. — Tanta vontade que eu tinha de conhecer esse saci...

— Mas não há só um saci no mundo, menino. Esse lá se foi e nunca mais aparece por estas bandas, mas quantos outros não andam por aí? Ainda na semana passada apareceu um no pasto de Seu Quincas Teixeira e chupou o sangue daquela égua baia que tem uma estrela na testa.

— Como é que ele chupa o sangue dos animais?

— Muito bem. Faz um estribo na crina, isto é, dá uma laçada na crina do animal de modo que possa enfiar o pé e manter-se em posição de ferrar os dentes numa das veias do pescoço e chupar o sangue, como fazem os morcegos. O pobre animal assusta-se e sai pelos campos na disparada, correndo até não poder mais. O único meio de evitar isso é botar bentinho no pescoço dos animais.

— Bentinho é bom?

— É um porrete. Dando com cruz ou bentinho pela frente, saci fede enxofre e foge com botas-de-sete-léguas.
-----------------
continua... V - Pedrinho pega um saci; VI – A modorra
--------------
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Viagem ao Céu & O Saci. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. II. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Paulo Leminski (Abaixo o Além)



Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 306)

Imagem por Igor Zenin
Uma Trova Nacional

Por mais bonita que sejas,
sê sóbria e tem compostura.
São mais lindas as cerejas
entre as folhas da verdura.
–CLARISSE BARATA SANCHES/PT–

Uma Trova Potiguar

Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida.
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - Amparo/SP
Tema: RESPEITO - M/H

A liderança bem vista
só a possui, justa e austera,
quem o respeito conquista,
não quem dele se apodera...
–JOSÉ OUVERNEY/SP–

Uma Trova de Ademar

Sem temer a correnteza,
qual um louco em desvario,
nos braços da natureza
eu me banhava no rio.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Há mentiras doces, belas,
que até parecem verdade.
A maior de todas elas
se chama felicidade...
–ELTON CARVALHO/RJ–


Simplesmente Poesia

Distância
–ANTONIO M. A. SARDENBERG/RJ–

Na distância não me perco,
rumo certo com meus passos...
na bagagem levo beijos,
sonhos, sussurros e abraços.

Assim como o andarilho,
no caminhar tão constante,
vou pouco a pouco encurtando
esta estrada tão distante!

E de repente te vejo,
como sempre quis te ver:
Musa...Mulher...e Desejo...
então te cubro de beijos
e me deságuo em você!

Estrofe do Dia

Não tem quem possa contar
cabelos que tem um gato,
os bichos que tem no mato
e os peixes que tem no mar,
as nuvens que tem no ar,
os gemidos de um pagão,
as folhas que tem no chão
e os fios que tem no véu,
estrelas que tem no céu
e os bois que tem no sertão.
–MANOEL XUDU/PB–

Soneto do Dia

Beleza Pagã
–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–

Deusa formosa de lendária seita,
dormes à margem da maldade humana;
teu corpo esbelto e abandonado o enfeita
a graça natural, virgem profana!

Não crês em deus e o próprio Deus te aceita,
pois te fez bela, o que à bondade engana.
Bondoso pai, nem aos pagãos rejeita
toda a beleza que do céu emana!

O leve arfar do busto prenuncia
que, aos desejos lascivos, algum dia
há-de imolar-se a castidade vã.

Verás, então, na solidão, com calma:
- por mais devota e pura, qualquer alma
tem sempre alguma coisa de pagã!

Fonte:
Textos enviados pelo autor

Ialmar Pio Schneider (Soneto a Carlos Drummond de Andrade)


Falecimento do poeta em 17.8.1987 - In Memoriam

Carlos Drummond de Andrade e a ´´pedra do caminho´´...
por isso compreendi que tudo dá poesia,
quando se tem amor, quando se tem carinho,
e as ideias triviais surjam da fantasia...

Porém, ´´e agora José´´, seguindo sozinho
no escuro, amedrontado e sem a luz do dia,
procurando encontrar um mero cantinho
para viver feliz e ´´não veio a utopia´´...

Eu também encontrei muitas pedras na estrada
e me achei qual José, caminhando no escuro,
mas não tinha ninguém, pois a mulher amada

não havia surgido em minha triste vida...
No entanto, acreditei nos sonhos do futuro
e nos versos que fiz buscava uma saída...

Fonte:
Soneto enviado pelo autor

Carlos Drummond de Andrade (Livro de Poesias)


REMISSÃO

Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.

Mas, pesares de quê? perguntaria,
se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme na base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,

e nada resta, mesmo, do que escreves
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contentamento de escrever,

enquanto o tempo, em suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas,
se evapora no fundo do teu ser?

RETORNO

Meu ser em mim palpita como fora
do chumbo da atmosfera constritora.
Meu ser palpita em mim tal qual se fora
a mesma hora de abril, tornada agora.

Que face antiga já se não descora
lendo a efígie do corvo na da aurora?
Que aura mansa e feliz dança e redoura
meu existir, de morte imorredoura?

Sou eu nos meus vinte aons de lavoura
de sucos agressivos, qe elabora
uma alquimia severa, a cada hora.

Sou eu ardendo em mim, sou eu embora
não me conheça mais na minha flora
que, fauna, me devora quanto é pura.

RESÍDUO

De tudo ficou um pouco
Do meu medo. Do teu asco.
Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco
Ficou um pouco de luz
captada no chapéu.
Nos olhos do rufião
de ternura ficou um pouco
(muito pouco).
Pouco ficou deste pó
de que teu branco sapato
se cobriu. Ficaram poucas
roupas, poucos véus rotos
pouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada,
de duas folhas de grama,
do maço
- vazio - de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo
no queixo de tua filha.
De teu áspero silêncio
um pouco ficou, um pouco
nos muros zangados,
nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo
no pires de porcelana,
dragão partido, flor branca,
ficou um pouco
de ruga na vossa testa,
retrato.
Se de tudo fica um pouco,
mas por que não ficaria
um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco,
nos anúncios de jornal,
um pouco de mim em Londres,
um pouco de mim algures?
na consoante?
no poço?
Um pouco fica oscilando
na embocadura dos rios
e os peixes não o evitam,
um pouco: não está nos livros.
De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira
pinga esta gota absurda,
meio sal e meio álcool,
salta esta perna de rã,
este vidro de relógio
partido em mil esperanças,
este pescoço de cisne,
este segredo infantil...
De tudo ficou um pouco:
de mim; de ti; de Abelardo.
Cabelo na minha manga,
de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas,
simplório arroto, gemido
de víscera inconformada,
e minúsculos artefatos:
campânula, alvéolo, cápsula
de revólver... de aspirina.
De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco.
Oh abre os vidros de loção
e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco,
e sob as ondas ritmadas
e sob as nuvens e os ventos
e sob as pontes e sob os túneis
e sob as labaredas e sob o sarcasmo
e sob a gosma e sob o vômito
e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate
e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes
e sob tu mesmo e sob teus pés já duros
e sob os gonzos da família e da classe,
fica sempre um pouco de tudo.
Às vezes um botão. Às vezes um rato.

ROMARIA

A Milton Campos

Os romeiros sobem a ladeira
cheia de espinhos, cheia de pedras,
sobem a ladeira que leva a Deus
e vão deixando culpas no caminho.

Os sinos tocam, chamam os romeiros:
Vinde lavar os vossos pecados.
Já estamos puros, sino, obrigados,
mas trazemos flores, prendas e rezas.

No alto do morro chega a procissão.
Um leproso de opa empunha o estandarte.
As coxas das romeiras brincam no vento.
Os homens cantam, cantam sem parar.

Jesus no lenho expira magoado.
Faz tanto calor, há tanta algazarra.
Nos olhos do santo há sangue que escorre.
Ninguém não percebe, o dia é de festa

No adro da igreja há pinga, café,
imagens, fenômenos, baralhos, cigarros
e um sol imenso que lambuza de ouro
o pó das feridas e o pó das muletas.

Meu Bom Jesus que tudo podeis,
humildemente te peço uma graça.
Sarai-me, Senhor, e não desta lepra,
do amor que eu tenho e que ninguém me tem.

Senhor, meu amo, dai-me dinheiro,
muito dinheiro para eu comprar
aquilo que é caro mas é gostoso
e na minha terra ninguém não possui.

Jesus meu Deus pregado na cruz,
me dá coragem pra eu matar
um que me amola de dia e de noite
e diz gracinhas a minha mulher.

Jesus Jesus piedade de mim.
Ladrão eu sou mas não sou ruim não.
Por que me perseguem não posso dizer.
Não quero ser preso, Jesus ó meu santo.

Os romeiros pedem com os olhos,
pedem com a boca, pedem com as mãos.
Jesus já cansado de tanto pedido
dorme sonhando com outra humanidade.

ROSA ROSAE

Rosa
e todas as rimas
Rosa
e os perfumes todos
Rosa
no florindo espelho
Rosa
na brancura branca
Rosa
no carmim da hora
Rosa
no brinco e pulseira
Rosa
no deslumbramento
Rosa
no distanciamento
Rosa
no que não foi escrito
Rosa
no que deixou de ser dito
Rosa
pétala a pétala
despetalirosada

SEGREDO


A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

SENTIMENTO DO MUNDO


Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio de escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microscopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados

ao amanhecer esse amanhecer
mais noite que a noite.

SINAL DE APITO

Um silvo breve: Atenção, siga.
Dois silvos breves: Pare.
Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna.
Um silvo longo: Diminua a marcha.
Um silvo longo e breve: Motoristas a postos.
........(A este sinal todos os motoristas tomam
.........lugar nos seus veículos para movimentá-los
.........imediatamente.)

SONETO DA PERDIDA ESPERANÇA

Perdi o bonde e a esperança.
Volto pálido para a casa.
A rua é inútil e nenhum auto
passaria sobre meu corpo.

Vou subir a ladeira lenta
em que os caminhos se fundem.
Todos eles conduzem ao
princípio do drama e da flora.

Não sei se estou sofrendo
ou se é alguém que se diverte
por que não? na noite escassa

com um insolúvel flautim
Entretanto há muito tempo
nós gritamos: sim! ao eterno.

Ignácio de Loyola Brandão (O Homem Que Gritou Em Plena Tarde)


Parou para espiar a vitrine. Sapatos e bolsas, pretos amarelados marrons, azuis. Não estava interessado em sapatos e bolsas. Olhava por olhar. Passava todos os dias por ali, cada dia observava uma vitrine, uma loja, um balcão, um canto. Costumava também olhar para cima. E assim tinha descoberto coisas que, era uma certeza, outros não viam. Um beiral antigo, esquecido na fachada de um prédio. Uma cornija. Uma grade, uma janela com vidros desenhados, vaso de flores, gaiola com pássaros, retrato pregado numa veneziana, números no alto de portais, rostos atrás de vidraças, aquários. Levava esbarrões, xingos, o que faz aí parado, seu bestalhão, pô, nesta cidade tem de tudo; até gente parada de boca aberta. Não ligava, falavam por falar, para ter alguma coisa contra o que reclamar.

Enquanto admirava a vitrine, ouviu os passos. Era a primeira vez que prestava atenção no ruído dos passos. Virou-se, observando os pés do povo. Os sapatos batiam no calçamento; uns arrastavam os pés; outros saltitavam; uns pareciam flutuar. O que o impressionava mesmo era o barulho. Não, não era o barulho, percebeu. Era o silêncio, dentro do qual os passos sobressaiam. Um silêncio espesso dentro da tarde. De tal modo que ele podia, com nitidez, distinguir cada ruído. O dos passos, o das vozes, o dos murmúrios (mesmo das pessoas que falavam sozinhas), dos chamados, das máquinas de escrever por trás das paredes, dos apitos dos guardas, de nomes gritados, sussurrados, chamados, de músicas que se confundiam, como se as letras fossem coisas absurdas, sem sentido algum, de motores engrenando, funcionando, buzinas, choros, soluços, zumbidos. Seu ouvido captava e selecionava, como um aparelho estereofônico, capaz de enviar para alto-falantes diversos, sons de instrumentos diferentes.

O silêncio pareceu incômodo a um homem acostumado dentro da cidade barulhenta, irritadiça, insuportável. O seu dia a dia era constituído quase que por um barulho só, homogêneo, que se integrara à sua vida. Algo de que ele dependia, que fazia falta ao seu organismo. Só conseguia pensar, trabalhar com eficiência, dentro daquele conjunto de ruídos absorventes que lhe davam a certeza de que a cidade marchava, à pleno vapor, e ele era parte dela, um acréscimo. E que sem ele, e sem ele — o outro — numa escala infinita, esta cidade iria parar, quebrando toda uma estrutura.

Então, aquele silêncio distinto, imenso vazio dentro da tarde, provocou nele primeiro um sentimento de desconforto. Em seguida, veio a insegurança, a dúvida sobre sua situação. Estava na sua própria cidade, ou caíra de repente dentro de um pesadelo? Quando o homem duvida, o seu mundo cai em ruínas, desaparecem os pontos de apoio, os suportes familiares e ele se balança como boneco João-teimoso.

O desconforto surgiu e ele teve vontade de gritar. Mas, se gritasse, iriam achar que ele estava louco. E os loucos são eliminados dos grupos normais. Mas ele queria gritar. O ar que enchia o seu corpo precisava ser expelido. Sentia-se como o pneu que suporta vinte e duas libras e está com trinta e cinco, a ponto de estourar. Os músculos do seu peito, a carne toda, doíam, dentro da tensão. Então, gritou. Ouviu o grito com nitidez dentro do silêncio que abrigava os ruídos da tarde. Olhou assustado para as pessoas e foi como se elas estivessem surdas. Nem se viraram. Gritou de novo, percebendo que o primeiro grito fora mais um urro, só para expulsar a massa de ar. E gritou. E gritou de frente para uma moça de amarelo. E a moça gritou. E os dois gritaram juntos, e sorriram. Viram outros sorrindo.

Gritaram os dois; e eram três. Gritaram os quatro; e eram cinco. Gritaram todas as pessoas naquela quadra. As que passavam, as que passeavam, as que olhavam vitrines, as que olhavam para o chão, as que entravam e saíam dos prédios. Gritavam, e o grito ecoou pela rua. Foi respondido. Gritaram na esquina. E na outra esquina. Na praça. Gritaram de dentro dos ônibus, dos carros, no interior dos cinemas e dos escritórios, gritaram nos mictórios e nas lanchonetes, nos bancos e doçarias. E no fim da tarde, quando o sol se pôs, não havia mais ruídos, nem silêncio, apenas o grito, uniforme, uníssono, unânime, solidário, de seis milhões de pessoas. Grito sem fim, enquanto a noite descia.

Fonte:
Brandão, Ignácio de Loyola. Cadeiras Proibidas. Rio de Janeiro, Codecri, 1984.

Cantando ao Som das Setilhas (Debate pela Internet) Parte 8


155 - Zé lucas
Somos do país do amor,
grande como um continente,
rico que só marajá,
pobre que só indigente;
tem corrupção como regra,
mas tem carnaval que alegra,
de ano em ano, nossa gente.

156 - Gislaine Canales
Ser vencedor faz contente
nosso povo brasileiro,
que está feliz, por demais,
por ser um povo guerreiro
e usando as guerras da paz,
transmite alegria e faz
mais feliz o mundo inteiro!

157 - Prof. Garcia
Nosso povo é o timoneiro
dos braços desta nação,
onde há poucos tendo muito,
muitos sem teto e sem pão;
mas o bom deste País,
é que seu povo é feliz
no Sul, Nordeste ou Sertão.

158 - Delcy Canalles
Nós somos um povo irmão
que luta por melhor sorte,
que tem os olhos no mundo
e é guapo, valente e forte!
Um povo que , hoje, é feliz,
pois quer ver o seu País
destacando-se no esporte!

159 - A. A. de Assis
Tristeza de Sul a Norte:
perdemos nosso Miguel,
queridíssimo poeta,
primoroso menestrel.
Um sonetista de truz,
que ao céu foi levar mais luz
e o seu coração de mel.

160 - Arlindo T. Hagen
Vai fazer falta o Miguel!
Em meio à consternação,
eu gosto de imaginá-lo,
no céu, numa exibição,
dizendo, em meio a um sorriso,
suas trovas de improviso,
num show de declamação!

161 – Thalma Tavares
Ao mostrar preocupação
com o poetar dos humanos,
Deus faz nascer um poeta
com talentos soberanos.
Por isso nasceu Miguel
que hoje é anjo-menestrel
poetando entre os arcanos.

162 - Zé Lucas
Já era avançado em anos,
mas estava sempre ativo:
mestre no lavor do verso,
deixou primoroso arquivo;
por isso, nosso decano
morreu como ser humano;
como poeta, está vivo.

163 - Gislaine Canales
Relembrá-lo é um lenitivo,
é triste sentir saudade,
se pensarmos na alegria,
que nos dava,de verdade,
nosso querido Miguel,
o mais doce menestrel,
mestre do amor e amizade!

164 - Prof. Garcia
Hoje, de fato a saudade,
chegou mais triste e cruel,
com a notícia inditosa
do fim de Dr. Miguel,
deixando a musa tristonha,
mas foi viver com quem sonha
nosso feliz menestrel!

165 - Delcy Canalles
Partiste, amigo Miguel,
excelente sonetista,
trovador dos mais queridos,
declamador, grande artista!
Saudosos, por ti, choramos;
tua ausência, lamentamos,
impagável piadista!

166 - A. A. de Assis
Porém no futuro invista,
porque o dia é da Criança,
dia de festa e alegria,
sobretudo de esperança,
pois que Deus aos pequeninos
- às meninas e aos meninos -
reserva a mais bela herança.

167 - Arlindo T. Hagen
Sem educar a criança
não há comemoração,
nem mesmo em doze de outubro.
Seremos uma Nação
quando toda a criançada
estiver matriculada
no curso da Educação!

168 – Thalma Tavares
Dói muito em meu coração
ver que o ensino da criança
não lhe prepara o futuro.
Porque nos tira a esperança
de ver o Brasil crescendo
e a criançada aprendendo
a ter nos homens confiança.

169 - Zé Lucas
Devemos dar à criança
amor intenso e profundo,
sem negar-lhe a proteção
e o carinho, um só segundo,
além de crença e saber,
porquanto ela vai crescer
e um dia governa o mundo.

170 - Gislaine Canales
Com nosso sonho profundo
seremos sempre criança
com nossas almas poetas,
cheias de amor e esperança
onde nasce, a cada dia,
uma nova fantasia
que deixaremos de herança!

171 - Prof. Garcia
A nossa maior poupança
é quando se educa alguém,
pois a riqueza maior,
é a educação que se tem;
porque nesta vida à-toa,
é mais feliz a pessoa
que estuda e pratica o bem!

172 - Delcy Canalles
Eu quisera ser alguém
bastante rico em virtude;
alguém em quem confiassem,
sempre bem com a Juventude;
uma pessoa bacana,
que, a outrem, jamais engana,
mas acreditem: - Não pude!

173 - A. A. de Assis
Por falar em juventude,
amanhã é o professor
que vai ter também um dia
em honra do seu valor.
A ele os meus cumprimentos,
hoje e em todos os momentos,
visto que é merecedor.

174 - Arlindo T. Hagen
Ao falar do Professor
que boa lembrança invade
meu coração de poeta!
Dos meus versos, na verdade,
a primeira professora
foi a musa inspiradora.
Minha primeira saudade!

175 – Thalma Tavares
Eu, então, sinto saudade
daquela gentil senhora
que iluminou minha infância:
minha Mestra, dona Aurora
que me ensinou com carinho
como encontrar o caminho
dos versos que faço agora.

176 - Zé Lucas
Do bom mestre sempre aflora
uma expressão de carinho.
A quem não conhece a vida,
ele prepara o caminho;
mas o pobre professor
ensina só por amor,
porque o salário é mesquinho!

177 - Gislaine Canales
Mando com muito carinho
minha sincera homenagem
aos mestres todos do mundo,
mas, no meu ser, essa imagem
tem um nome, e eu digo aqui,
com muito orgulho: é Delcy Canalles,
que merece esta mensagem!

178 - Prof. Garcia
Tive uma longa passagem
no mundo da educação,
ensinei por trinta anos
sempre naquela ilusão
de ver alguém mais feliz,
fazendo o que sempre quis
dono da própria razão.

179 - Delcy Canalles
Eu também, querido irmão.
muitos anos, ensinei:
fui paraninfa escolhida
de turmas que, então, formei;
lecionei Psicologia,
e fui mestra da poesia
das alunas que eu amei!

180 - A. A. de Assis
Ame o súdito e ame o rei,
ame o grande e ame o pequeno,
pois quem ama faz o mundo
mais bonito e mais ameno.
Do amor faça uma bandeira
que se estenda à Terra inteira,
levando da paz o aceno.

181 - Arlindo T. Hagen
Um mundo bem mais sereno
pode estar em nossas mãos
se todos colaborarmos.
Quando os sentimentos vãos
sumirem da Terra inteira,
quando o Amor for a bandeira,
o Mundo será de Irmãos!

182 -Thalma Tavares
Nós nos dizemos cristãos,
mas não somos de verdade...
Somos ainda egoístas,
parcos de amor e bondade.
Mas um dia chegará
em que o mundo viverá
na mais perfeita irmandade.
---------------
continua...

Fonte:
Colaboração de Zé Lucas. José Lucas e parceiros. Cantando ao som das setilhas. Natal/RN: 2011.