terça-feira, 4 de outubro de 2011

Carolina Ramos (Esperança)


Que falta faz a mão do Poverello,
mão chagada, que lembra o Salvador!
Mão que outras mãos unia, como um elo,,,
elo de luz fraterna, elo de Amor!

Que falta faz o ardor do seu anelo,
quando tentava unir a um só Pastor
as ovelhas dispersas – sonho belo,
que a vida se compraz em decompor!

E a vida o quanto vale?! – Um quase nada!
Por todo o lado, há só gente empenhada
em fazer gente ser mais infeliz!

...Quem sabe ainda houvesse uma esperança
se o mundo ouvisse a voz, humilde e mansa,
do bom Francisco...nosso Irmão de Assis!
---
Fonte:
Soneto enviado pela autora
Montagem da Trova por José Feldman, com trova enviada pelo autor.

Vinicius de Moraes (A Espantosa Ode a São Francisco de Assis)


1
Meu são Francisco de Assis, Francisco de Assim, poverello, ou como te chame a sabedoria dos povos e dos homens
Este é Vinicius de Moraes, de quem se podia dizer - o poeta - se jamais alguém o pudesse ser depois de ti.

2
Este é o impuro, o inconstante, o trágico, o leproso e possivelmente o morto
Que vem a ti o fiel, o calmo, o humano, o constante.

3
Este é o que sacrifica a vida pelo prazer da hora, e se desgraça
Que vem a ti que sacrificaste a vida pela eternidade e pela graça.

4
Este é o homem da mulher, o homem da carne, o homem da terra
E que te ama santo da Mulher, santo da Carne, santo da Terra.

5
Este é o que peca e não se arrepende, o supliciador e o criador do espasmo
E que te exalta irmão humilde e louco, confidente, e inventor do êxtase.

6
Este é o mágico do desespero, o inquisidor e o sedutor, o poeta triste
Que te proclama o rei, entre todos, amante sem mácula.

7
Meu são Francisco de Assis! acolhe teu amigo e teu criado
Que partiu para sempre e se perdeu, e nunca mais foi encontrado.

8
Tenho um mistério a te dizer, mas quem sabe não o ouvirias
Vendo-me criança - se é que eu fui criança um dia!

9
Ó dá-me teu sorriso, são Francisco, e me purifica
E liberta-me da vã palavra de sonho que me impurifica!

10
Eis que converti meu demônio a mim e meu anjo a mim
E me sinto demais em mim mesmo e quisera me despedaçar em ti.

11
Porque me sinto covarde de não poder dormir e precisar fechar a porta
Ao vento frio ou ao chamado sombrio da pureza morta.

12
És tu um dom da minha miséria e serias o mesmo
Se eu fosse como tu mesmo? - e te proclamaria?

13
E [...] porque amo a miséria em mim que me deposita em ti
Porque não fosse eu sombra não serias sol nem pensarias em mim.

14
E [ ... ] porque aceito minha depravação e faço a minha queixa sem piedade
E de todos tenho piedade menos de mim - e não há salvação para minha piedade

15
Sou digno como o animal nobre que morre em silêncio e sem lágrimas
E não tem limbo ou purgatório, céu ou inferno para a sua alma.

16
Mas sou impuro como a terra que recebe a consumação da carne
E astuto como o fogo e plástico como a água.

17
Meu são Francisco, ouve o meu voto e compreende o meu vazio
E me aquece do frio, e me protege do sonho sombrio.

18
Tu és a Palavra - a palavra inexistente - a poesia
Que eu busco sem tréguas, que busco de noite e que busco de dia.

19
Não creio em Deus mas creio em ti - Deus é minha melancolia
Tu és minha poesia - ou quando não seja o amor que ela se deseja

20
Tenho o lar e tenho o mar, e nada tenho
Tenho a emoção - tenho-a? - nem pranto mais blues.

21
Na verdade muitas coisas eu tenho, e muita razão de ser feliz
Se não existisses talvez - mas exististe, São Francisco de Assis!

22
És a infância não vivida, és a mocidade não merecida
És tudo de justo feito injusto pela catástrofe da vida.

23
Ninguém o sabe senão tu - nem mesmo eu sei! nesse momento
Meu pensamento é tédio mas amanhã pode ser contentamento.

24
Porque há em mim uma fonte pura de mal que me embriaga
De bem, mas que subitamente me estanca o que me falta.

25
É a mulher, essa que me suporta e que me acaricia
E a quem acaricio, e a quem eu rio e que se ri.

26
Não fosse ela, e eu estaria como Jó te mentindo,
Porque o poeta é a semente da mentira se, no desespero, só.

27
Dou-te meu voto além da mulher! é a criança que te fala
Quando subitamente se conheceu menino no grande silêncio de uma sala.

28
Quando brincando com o próprio sexo o surpreendeu sensível
E o viu inteligente e emocionado e não compreendeu.

29
E que criou sozinho a primeira forma nua para o prazer contemplativo E que se deu a ela desvairado do mistério de se saber vivo.

30
E que a transportou na memória em amor e que foi traído
Pelo toque de outra mão menos pura e mais desmerecida.

31
E que foi seviciado antes do sêmen pela desventura
Feito mulher, e a perdoou, e a amou, e a fez sua criatura.

32
E que foi iniciado nos prazeres da carne como o inocente aprendiz
A quem a mulher diz - Faz! e ele faz, tal como eu fiz.

33
Antes do sêmen! e não morri - e bela fiz minha criatura
Eis por que não há salvação e eu amo a minha degradação e impostura.

34
Porque eu sou o sedutor, se seduzido, e o erótico, se seviciado
E o amante, se querido, e o perdido, se privilegiado.

35
Porque fazemos um - eu e a mulher - e não há dois arrependimentos
Para um só corpo - nem duas salvações para um só sentimento.

36
E se alguém não vem comigo eu não quero ir, porque não sou sozinho
E se eu fosse sozinho não estava nesse momento clamando de ti

37
Meu são Francisco de Assis! ouve tu ao menos a minha inefável miséria
Sem perdão e sem consolação e sem fim nos caminhos da Terra.

38
Ouve o apelo mais íntimo, o que não está nas minhas palavras
E que está no meu ser infeliz e no ser infeliz que eu crio à minha passagem.

39
O santo, o herói e o poeta - três penitências do mundo
Tu, santo, herói e poeta - uma penitência em mim.

40
Nunca te verei no céu, nem nunca me verás no inferno
Mas hei de te escutar no estio, e tu me escutarás no inverno.

41
Não me verás no céu porque não há paixão para a serenidade
Nem no inferno porque não há castigo para a fatalidade.

42
Mas eu te escutarei aqui na Terra, entre as grandes árvores
A cabeça no seio da amiga, e a quem eu falo como ao pássaro.

43
Um dia deixarei a cidade da minha angústia e sua torre
E irei a Assis entre colinas me abandonar à tua saudade.

44
E dá-me nesse dia de chorar todas as lágrimas contidas
E de me perder em mim o pranto e de me ajoelhar no teu sepulcro.

45
Ó grande santo louco, meu irmão, taumaturgo em minha alma
Taumaturgo - palavra que contém silêncio e que me acalma!

46
Just now I have been in a [ ... ] party in the Magdalen's cloister
And there was an Armenian [ ... ] all the others.

47
Good inocent peopte [ ... ] some liquor in their rooms
But was a bloody phantom between them, so help me God!

48
Eu sou o conhecimento perfeito das coisas e dos homens
Linchai-me! eu sei todos os segredos, e eu me abandono.

49
Nunca criatura criada foi tão pagã como eu, so help me God!
Arrastando meu ser à execração e à contemplação quieta da morte.

50
Em vão te direi - ou não? - porque não vens beber meu vinho
Na minha mesa, e poderíamos falar com mais carinho.

51
São Francisco de Assis! meu irmão, meu único inimigo
No céu, eu te maldigo, eu te bendigo. Eu me persigno!

52
Tive uma jetatura: a mulher; uma aventura: a poesia
Uma desventura: a delicadeza. Sou delicado, não peço, mendigo!

53
Mendigo: mendigo o pão de meus pais, o amor de meus amigos
Mas só a mulher me persegue e só à mulher eu persigo.

54
Santo! tenho gana de te dizer: foge de mim! evita o meu contato escuro
Porque eu sou puro na maldade e puro na sinceridade e impuro.

55
Quatro livros escrevi - e sou tão moço! e nada compreendo de mim
Senão que sou cruel com a mulher, e que minha angústia não tem fim.

56
Fui buscado, também. Buscou-me a sociedade, o anfitrião
E eu fui mendigo em meu salão e me desprezei e disse não.

57
E me mandaram a Oxford, e eu disse não, e vi jovens viscondes
Que temeram meu pudor, e eu disse não, e me persigno!

58
Tudo é magia! Lembras-te? o silêncio fantástico das noites
E a alma bêbada de emoção? e nenhum pouso.

59
Ah, que a vida não tem solução. Muitos o disseram em vão
E o direi em vão, e morrerei, e os que me virem, sorrirão.

Fonte:
http://www.viniciusdemoraes.com.br/site/

Olivaldo Junior (Francisco (ou Poema a São Francisco de Assis))


Não quero o Francisco de altares,
que os altares que tenho são trovas,
pequenos versos e rimas
que lhes deixo aos pés.

Não quero o Francisco de alturas,
que as alturas que tenho são rosas,
pequenas petalazinhas
que lhes deixo à mão.

Não quero o Francisco de altezas,
que as altezas que tenho são pobres,
pequenos sóis, luazinhas
e estrelinhas quaisquer.

Não quero o Francisco sem Clara,
sem as aves, sem os animais...
Eu quero o Francisco de cara,

com altares de alturas, altezas
que têm os servos, acima,
bem acima, em paz.

Fonte:
Poema enviado pelo autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 354)


Uma Trova Nacional

São Francisco te amo tanto...
Temos algo igual, porém,
estou longe de ser santo
mas sou Francisco também!
–FRANCISCO JOSÉ PESSOA/CE–

Uma Trova Potiguar

Com sua fé inaudita,
São Francisco, na verdade,
fez a prece mais bonita
pela Paz da humanidade!
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2001 - Intersedes/SP
Tema: SÃO FRANCISCO - M/H

Entendo agora a grandeza
de São Francisco de Assis,
pois vivo em meio à pobreza
e, mesmo assim... sou feliz!
–MARIA MADALENA FERREIRA/RJ–

Uma Trova de Ademar

Fazer o mal, não me arrisco,
porque Deus logo percebe.
Penso igual a São Francisco:
é dando que se recebe!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Bendigo a pessoa honrada
que guarda, na alma, a raiz
da humildade ilimitada
de São Francisco de Assis.
–JOSÉ MARIA M. DE ARAÚJO/RJ–

Simplesmente Poesia

Creio, pensando em Jesus,
e em são Francisco também,
que existe um arco de luz
ligando Assis a Belém...
–DAVID DE ARAÚJO/SP–

Estrofe do Dia

Sobre São Francisco, esse santo e mito,
muito já foi dito, e, tudo é verdade,
trocou riqueza, pela santidade,
renunciou aos bens, sem nenhum conflito,
mas, muita coisa, inda não foi escrito,
o exemplo de luta, a lição de amor
a cada exegeta, eu peço um favor,
se aprofunde mais e diga a razão
porque São Francisco, esse santo irmão,
se fez padroeiro do Trovador...
–FRANCISCO MACEDO/RN –

Soneto do Dia

Francisco de Assis
–MARIA DE LOURDES CAMPOS/SP–

Deixando atrás o fausto, a riqueza
e o sonho de tornar-se um cavaleiro,
abraçaste a evangélica pobreza,
na caridade e amor foste o primeiro!

No ardor da fé venceste a vil fraqueza,
do Cristo foste humilde mensageiro,
no afã de amenizar toda a aspereza
da trilha incerta e rude do viajeiro...

Assim sendo dos pobres o mais pobre,
– quando bem poderias ser um nobre,
na alegria de dar foste feliz!

Teu nome é nota no esplendor das claves,
falando às feras, encantando as aves,
Ó São Francisco, Universal, de Assis!

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Wagner Marques Lopes (Trova Ecológica 25)

Hermoclydes S. Franco (Proposições a um Vocabulário em Trovas) Letras “G”, “H” e “I”


LETRA “G”

GETÚLIO VARGAS: Legenda;
Petrobrás – grande momento!
Leis Trabalhistas, na agenda
E na Carta-Testamento.

GORILA: Grande macaco
Que jamais andou fardado.
GOSTO: O que tantos têm fraco.
GOTEIRA: Pingo-pingado...

GRAMÁTICA: Rege a língua.
Tanta gente descompassa
Que certas trovas, à mingua
Das regras, perdem a graça.

GRAMPO: Peça de metal,
Com várias aplicações.
No telefone é ilegal
Vigia das ligações.

GUARATINGUETÁ: “Guará”
Bem simplesmente à paulista.
Deixei emoções por lá;
Trouxe a saudade sulista!

GUERRILHA: Guerra entre irmãos,
Em ataques de emboscada.
Se os povos dessem as mãos
Seria a paz conquistada!

GUARDA-COSTAS: É patrulha;
Marinha no litoral;
O truculento que empulha,
Em troca do vil metal...

LETRA “H”

HABANERA: Lembra a Espanha;
Dança e musica de escol.
HABEAS-CORPUS: Não se ganha
De juiz de futebol...

HORACIO: Poeta latino,
De estilo “enxuto” (bem seco?);
Em Niterói – que homem fino
E nobre: Horácio Pacheco!

HORTO: Arvoredo; Floresta;
O Jardim das Oliveiras.
HOSANA: É louvor; É festa
Nas comunhões domingueiras...

LETRA “I”

IANQUE: Norte-americano.
IARA: Senhora mãe d’água.
IATAGÃ: Sabre otomano
IATE: Cura qualquer mágoa...

IDEALISTA: Sonhador.
IDILIO: Romance suave.
IEMANJÁ: Deusa do amor
Que protege qualquer nave...

IRÔNICO: Zombeteiro.
IRRACIONAL: Sem razão.
ISCA: Pavio de isqueiro;
Comida de tubarão...

ITAIPAVA: Clima frio.
Arvoredo... Rios claros...
Flores que, em tardes de estio,
Recendem perfumes raros!

ITAPOÃ: Praia linda
E famosa, na Bahia.
Por ali, ressoa, ainda,
De Vinicius a elegia.

Fontes:
Trovas enviadas pelo autor
Imagem = montagem por José Feldman

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 353)


Uma Trova Nacional

Tentei fugir de mansinho...
devagar, romper os laços...
Desisti : qualquer caminho
sempre me leva aos teus braços...
–WILMA MELLO CAVALHEIRO/RS–

Uma Trova Potiguar

Quando o vaqueiro valente
se encontra longe de casa,
no seu aboio plangente
toda a saudade extravasa.
–REINALDO AGUIAR/RN–

Uma Trova Premiada

2010 - ATRN-Natal/RN
Tema: INSPIRAÇÃO - 11º Lugar

“Bate” a inspiração na gente...
Verso nenhum se aquieta,
quando Deus, onipotente,
nos permite ser poeta!
–ROBERTO TCHEPELENTYKY/SP–

Uma Trova de Ademar

O tempo mostrou-me enfim,
sem regras e sem medida,
que a poesia é para mim
uma opção real de vida.
ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Não paras quase ao meu lado ...!
e em cada tua partida,
eu sinto que sou roubado
num pouco da minha vida ...
–LUIZ OTÁVIO/RJ–

Simplesmente Poesia

Mote:
Toda casa de taipa abandonada,
Guarda um grito de fome dentro dela.

Glosa:
Tapera velha na beira da estrada
Onde mora o fantasma da maldade
É o retrato da tristeza que invade
Toda casa de taipa abandonada.
Foi projeto de vida inacabada
Triste, morreu insepulto e sem vela
Sem porta sem tramela e sem janela
É um retalho de vida mal vivida
Como um brado de revolta incontida
Guarda um grito de fome dentro dela.
–MARIVA/PB–

Estrofe do Dia

Eu não vou debruçar-me na janela
e nem vou conversar com as vizinhas,
porém através das preces minhas
me inspiro ao reflexo de uma vela,
se me chamam pra ver uma novela
eu recuso o convite e digo não;
para mim a maior televisão
é pensar em “Chudu” eternamente,
acredito que Deus está presente
no silencio da minha solidão.
–DINALVA/PB–
(VIÚVA DE MANOEL CHUDU - POETA VIOLEIRO)

Soneto do Dia

Tenho Pena
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–

Tenho pena dos que sofrem na vida,
neste mundo tão mau tão inclemente,
dos que morrem sem culpa, do inocente
que sozinho, nem sabe o que é guarida.

Da montanha calada e soerguida
que altiva enfrenta as águas da vertente,
do mar, enfurecido de repente,
das ondas que se curvam na descida.

Tenho pena do brilho das estrelas,
dos cegos, que jamais poderão vê-las
e do tempo que mostra a realidade.

Tenho pena das lágrimas vertidas,
da ilusão cujas asas são partidas
e de um sonho que deixou tanta saudade.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Ivan Carlo (Manual de Redação Jornalística) Parte 1


“O jornalismo não é um gênero literário a mais. Enquanto, na literatura, a forma é compreendida como portadora, em si, de informação estética, em jornalismo a ênfase desloca-se para os conteúdos, para o que é informado. O jornalismo se propõe processar informação em escala industrial e para consumo imediato”
LAGE, Nilson. Linguagem Jornalística. São Paulo, Ática, 35

“Surpresa agradável: cientistas confirmam que o cérebro adora o inesperado Nada mais chato que a rotina e os acontecimentos absolutamente previsíveis, certo? Isso mesmo. A mente humana gosta é de ser surpreendida. Essa foi a conclusão a que chegaram neurologistas da Emory University Health Sciences Center, nos Estados Unidos. Por diversas vezes, os médicos pingaram gotas de suco de frutas ou de água em voluntários monitorados por ressonância magnética. A escolha da bebida era aleatória, ou seja, foram testadas diversas seqüências que podiam ser quebradas a qualquer momento. Quando a bebida era trocada – o que pegava o cérebro de surpresa –, a atividade dos neurônios ficava mais intensa. De tão entusiasmada, essa resposta chegava a ser mais forte do que aquelas causadas pela sensação de prazer. "A mente humana é atraída por estímulos inusitados. Quando um evento foge do esperado, o cérebro mobiliza mais células para gravar o acontecimento", explica o neurologista Paulo Henrique Bertolucci, professor de Neurologia do Comportamento da Universidade Federal de São Paulo”. (Priscila Boccia. Revista Saúde, abril de 2001)

APRESENTAÇÃO

Este texto é resultado de minhas aulas como professor de cursos seqüenciais e de graduação na área de comunicação. Ele foi feito com o objetivo de solucionar as principais dúvidas que eu encontrava em meus alunos quando estes começavam a escrever jornalisticamente.

Embora haja manuais de redação dos principais jornais do país, eles são visivelmente feitos para pessoas graduadas. A bibliografia de iniciação ao texto jornalístico é totalmente deficiente. O objetivo deste trabalho é, portanto, abrir caminho para a realização de um trabalho desse tipo, que sirva de guia para quem não conhece ainda nem mesmo os conceitos básicos de jornalismo, tais como pauta e lide. Sendo um texto experimental, eu ficaria muito satisfeito ao receber críticas e comentários que possam enriquecê-lo.

INTRODUÇÃO

Seja uma senhora perguntando sobre seus novo vizinhos, um homem do campo ouvindo um radinho de pilha ou um executivo lendo um jornal, todos atualmente estão muito interessados em um produto chamado informação. A necessidade de informação, de novidade, é tão antiga quanto o homem. Os nossos antepassados que se aproximavam cuidadosos de uma árvore em chamas após um relâmpago estavam curiosos com o fenômeno e queriam conhecê-lo melhor.

Da mesma forma, uma criança que coloca um objeto na boca está querendo informações sobre ele. A curiosidade e a necessidade de informações movem o mundo.

Mas o que é, exatamente, informação?

Leia a matéria abaixo e tente responder porque ela configura informação:

Pedreiro morde cachorro e quase é linchado

O pedreiro Jair Rodrigues da Silva, 32 anos, escapou de um linchamento em Americana (133 km de São Paulo), depois de morder o focinho de um cachorro vira-lata que o atacou, no bairro Antônio Zanaga, periferia da cidade.

O fato ocorreu quando Silva amarrou uma corda de nailon no pescoço do cachorro e saiu para passear. Como o animal não andava, o pedreiro resolveu empurrá-lo com um chute. O cachorro o mordeu e o pedreiro revidou, primeiro com pauladas, depois a dentadas, que feriram gravemente o animal.

Moradores do bairro que assistiram a cena ficaram revoltados e passaram a perseguir o pedreiro, que só foi salvo graças à intervenção da Guarda Municipal de Americana. O cachorro foi levado para o Centro de Zoonoze da cidade. Silva foi para o Hospital Municipal de Americana, onde foi medicado e liberado. Os dois passam bem. A polícia registrou boletim de ocorrência contra o pedreiro por maus tratos a animais.

Cachorros mordendo homens são muito comuns e, portanto, não dão notícia. Entretanto, um homem mordendo um cachorro é um evento que foge do normal e, portanto, configura informação. Já temos, portanto, uma indicação do que seria informação: tudo aquilo que foge do normal, que é novo, diferente.

Esse conceito está intimamente relacionado ao de redundância. Redundância é repetição. Se escrevo duas vezes a mesma palavra, estou sendo redundante. Se levo meia-hora para dizer algo que poderia ser dito em dois minutos, estou sendo redundante.

A redundância é um conceito oposto ao de informação. O que é redundante não é informação, e o que é informação não é redundante. Um cachorro mordendo um homem é redundância, pois diariamente milhares de cachorros mordem humanos. Mas um homem mordendo um cachorro é um evento com baixa probabilidade de ocorrer, sendo, portanto, informativo.

As pessoas costumam ter certa ojeriza à redundância. Pessoas que falam muito e dizem pouco costumam ser evitadas e chamadas de chatas. O indivíduo chato é, na verdade, um tremendo redundante. Nosso cérebro tem tanta necessidade de informação que, quando o estímulo é muito redundante, ele simplesmente apaga. Esse é o princípio da hipnose. O hipnotizador balança um pêndulo monotonamente na frente do hipnotizado e repete sempre as mesmas palavras, no mesmo tom. Como defesa, o cérebro entra em estado hipnótico.

O mesmo ocorre com aquelas aulas chatas, em que todo mundo dorme. O estímulo é tão redundante que o cérebro se nega a continuar prestando atenção. Se quisermos uma definição um pouco mais científica de informação, podemos recorrer ao conceito emitido pelo matemático Claude Shannon, criador da teoria da informação. Ele diz que informação é a diminuição da quantidade de incerteza quando se recebe uma resposta a uma pergunta.

Vamos imaginar uma situação. Eu recebo meus proventos por um determinado banco e ligo para o mesmo, perguntando se o dinheiro já saiu. Se o funcionário responder “sim”, a minha quantidade de incerteza diminuiu, não é mesmo? O mesmo ocorre se ele responder “não”. Nos dois casos, a minha dúvida está sendo respondida de forma que eu tenha mais informações do que antes.

Entretanto, se o funcionário me der respostas como “Não sei” ou “talvez”, eu vou continuar com a mesma dúvida de antes. Assim, a mensagem é de nível informacional baixíssima.

A mesma situação pode ser aplicada a uma eleição. Temos dois candidatos, A e B, ambos com chance de serem eleitos. Se o jornal me diz: “A venceu”, ele estará, certamente, repassando uma informação. Quanto maior a quantidade de respostas possíveis, maior a quantidade de informação da mensagem. E a mensagem será mais informativa se a resposta for a menos provável. A manchete “A e B empataram” tem muito mais informação do “A venceu”. Primeiro, porque agora o leque de respostas foi aumentado (antes eram apenas duas possibilidades, agora são três), segundo porque a resposta dada foi justamente a mais improvável. É muito pouco provável que dois candidatos tenham exatamente o mesmo número de votos.

Portanto, quanto maior a quantidade de respostas possíveis, maior a carga de informação da mensagem. E quanto mais improvável a mensagem, mais informativa ela será.

A mensagem “A venceu” terá mais informações, quanto maior for a quantidade de candidatos com chances reais de serem eleitos. E a mensagem terá ainda mais informação se “A” for justamente o candidato que se achava ter menores chances de vitória.

Um jornalista se vê diariamente diante de vários fatos e acontecimentos. Alguns devem ser enunciados, outros não. A escolha entre um e outro ficará a cargo da quantidade de informação desses eventos.

Isso fica bem claro no caso das pessoas vitimadas por balas perdidas no Rio de Janeiro. No começo a imprensa noticiou muito esses fatos, e agora parece ter se esquecido deles. O que aconteceu? As pessoas deixaram de ser atingidas por balas perdidas? Não. Simplesmente a coisa se tornou tão redundante que perdeu toda a carga de informação. A primeira pessoa acertada por uma bala perdida é um novidade. A centésima já é redundância.

O jornalista estará sempre em busca de eventos novos, improváveis. Não é à toa que uma das perguntas prediletas de todo repórter é “O que aconteceu de diferente?”.

Ao fazer uma matéria sobre vigilantes noturnos, o jornalista procurará retirar do entrevistado casos e histórias que saiam do normal e, portanto, tenham interesse para o leitor. Por outro lado, uma notícia que já tenha sido veiculada dificilmente vai voltar a ter interesse para o receptor.

Há um conto de Cortazar que mostra bem isso.

Um homem senta-se em um banco de praça e começa a ler um jornal. À medida em que lê, as páginas vão ficando em branco, demonstrando que aquilo já não é mais informação para ele. O homem termina de ler e deixa as folhas em branco sobre o banco. Passa uma outra pessoa e vê um jornal normal. Afinal, como ela ainda não leu o jornal, ele ainda traz informações para ela. A pessoa começa a ler e as páginas vão ficando em branco, como ocorrera com o outro.

O processo continua por todo o dia, até a meia-noite, quando o jornal fica definitivamente em branco, ou seja, ele deixa de ser informativo e passa a ser, definitivamente, redundante.

Lembre-se: o jornalismo lida com o diferente, improvável, com fatos que fogem do normal.
––––––––––-
continua…

Fonte:
Virtualbooks

Ialmar Pio Schneider (Amor Antigo)

Tela de Glaucia Scherer


Eu quis fazer um verso de saudade
que me trouxesse os dias já vividos;
e pensei nos caminhos percorridos
quando te amei demais, na mocidade.

Mas, hoje mergulhado na ansiedade,
só me atormentam sonhos reprimidos,
como se fossem cânticos perdidos
que me negaram a felicidade.

Aquela que cruzou o meu destino
e só me fez cantar inutilmente
os seus dotes de rara exuberância,

matou pra sempre os sonhos de menino
que povoavam então a minha mente
de todos os amores sem constância...

Porto Alegre - RS, 26 de maio de 2002
---

Fontes:
Soneto e Imagem enviados pelo autor

Olavo Bilac (Almas Inquietas: poesias) Parte 6


BALADAS ROMÂNTICAS

I
Branca...

Vi-te pequena: ias rezando
Para a primeira comunhão:
Toda de branco, murmurando,
Na fronte o véu, rosas na mão.
Não ias só: grande era o bando...
Mas entre todas te escolhi:
Minh’alma foi te acompanhando,
A vez primeira em que te vi.

Tão branca e moça! o olhar tão brando!
Tão inocente o coração!
Toda de branco, fulgurando,
Mulher em flor! flor em botão!
Inda, ao lembra-lo, a mágoa abrando,
Esqueço o mal que vem de ti,
E, o meu ranços estrangulando,
Bendigo o dia em que te vi!

Rosas na mão, brancas... E, quando
Te vi passar, branca visão,
Vi, com espanto, palpitando
Dentro de mim, esta paixão...
O coração pus ao teu mando...
E, porque escrevo me rendi,
Ando gemendo, aos gritos ando,
- Porque te amei! porque te vi!

Depois fugiste... E, inda te amando,
Nem te odiei, nem te esqueci:
- Toda de branco... Ias rezando...
Maldito o dia em que te vi!

II
Azul...

Lembra-te bem! Azul-celeste
Era essa alcova em que amei.
O último beijo que me deste
Foi nessa alcova que o tomei!
É o firmamento que a reveste
Toda de um cálido fulgor:
- Um firmamento, em que puseste
Como uma estrela, o teu amor.

Lembras-te? Um dia me disseste:
“Tudo acabou!” E eu exclamei:
“Se vais partir, por que vieste?”
E às tuas plantas me arrastei...
Beijei a fímbria à tua veste,
Gritei de espanto, uivei de dor:
“Quem há que te ame e te requeste
Com febre igual ao meu amor?”

Por todo o mal que me fizeste,
Por todo o pranto que chorei,
- Como uma casa em que entra a peste,
Fecha essa casa em que fui rei!
Que nada mais perdure e reste
Desse passado embriagador:
E cubra a sombra de um cipreste
A sepultura deste amor!

Desbote-a o inverno! o estio a creste!
Abale-a o vento com fragor!
- Desabe a igreja azul-celeste
Em que oficiava o meu amor!

III
Verde...

Como era verde este caminho!
Que calmo o céu! que verde o mar!
E, entre festões, de ninho em ninho,
A Primavera a gorjear!...
Inda me exalta, como um vinho,
Esta fatal recordação!
Secou a flor, ficou o espinho...
Como me pesa a solidão!

Órfão de amor e de carinho,
Órfão da luz do teu olhar,
- Verde também, verde-marinho,
Que eu nunca mais hei de olvidar!
Sob a camisa, alva de linho,
Ta palpitava o coração...
Ai! coração! peno e definho,
Longe de ti, na solidão!

Oh! tu, mais branca do que o arminho,
Mais pálida do que o luar!
- Da sepultura me avizinho,
Sempre que volto a este lugar...
E digo a cada passarinho:
“Não cantes mais! que essa canção
Vem me lembrar que estou sozinho,
No exílio desta solidão!”

No teu jardim, que desalinho!
Que falta faz a tua mão!
Como inda é verde este caminho...
Mas como o afeia a solidão!

IV
Negra...

Possas chorar, arrependida,
Vendo a saudade que aqui vai!
Vê que linda, negro, da ferida
Aos borbotões o sangue cai...
Que a nossa história, assim relida,
O nosso amor, lembrado assim,
Possam fazer-te, comovida,
Inda uma vez pensar em mim!

Minh’alma pobre e desvalida,
Órfã de mãe, órfã de pai,
Na escuridão vaga perdida,
De queda em queda e de ai em ai!
E ando a buscar-te. E a minha lida
Não tem descanso, não tem fim:
Quanto mais longe andas fugida,
Mais te vejo eu perto de mim!

Louco! e que lúgubre a descida
Para a loucura que me atrai!
- Terríveis páginas da vida,
Escuras páginas, - cantai!
Vim, ermitão, da minha ermida,
Morto, do meu sepulcro vim,
Erguer a lápida caída
Sobre a esperança que houve em mim!

Revivo a mágoa já vivida
E as velhas lágrimas... a fim
De que chorando, arrependida,
Possas lembrar-te inda de mim!

VELHA PÁGINA

Chove. Que mágoa lá fora!
Que mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre este rio que chora
Velhos e eternos pesares.

E sinto o que a terra sente
E a tristeza que diviso,
Eu, de teus olhos ausente,
Ausente de teu sorriso...

As asas loucas abrindo,
Meus versos, num longo anseio,
Morrerão, sem que, sorrindo,
Possa acolhe-los teu seio!

Ah! quem mandou que fizesses
Minh’alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?

Por que é que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?

Tu tens um nome celeste...
Quem é do céu é sensível!
Por que é que me não disseste
Toda a verdade terrível?

Por que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
- Era tão bela esta rosa!...
Já me tardava este espinho!

Fora melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perde-lo tão cedo!

Por que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?
Viste que eu vinha chorando...
Antes assim me deixasses!

Antes! Menor me seria
O sofrimento, querida!
Antes! a mão que alivia
A dor, e cura a ferida.

Não deve depois, tranqüila,
Vendo sufocada a mágoa,
Encher de sangue a pupila
Que já vira cheia de água...

Mas junto a mim que te falta?
Que glória maior te chama?
Não sei de glória mais alta
Do que a glória de quem ama!

Talvez te chame a riqueza...
Despreza-a, beija-me, e fica!
Verás que assim, com certeza,
Não há quem seja mais rica!

Como é que quebras os laços
Com que prendi o universo,
Entre os nossos quatro braços,
Na jaula azul do meu verso?

Como hei de eu, de hoje em diante,
Viver, depois que partires?
Como queres tu que eu cante
No dia em que não me ouvires?

Tem pena de mim! tem pena
De alma tão fraca! Como há de
Minh’alma, que é tão pequena,
Poder com tanta saudade?!

VILFREDO
LENDA DO RENO, GRANDMOUGIN

I
O castelo

Sobre os rochedos, longe, o castelo aparece,
Dominando a extensão das florestas sombrias.
A tarde cai. O vento abranda. O ar escurece.
E Vilfredo caminha entre as neblinas frias.

Vai vê-la... E estuga o passo. Alto e silencioso,
Abre o castelo, em fogo, os vitrais das janelas.
Nas ameias, manchando o céu caliginoso,
Aprumam-se perfis de imóveis sentinelas.

Vilfredo vai ouvir a voz da sua Dama...
Mas, no seu coração perturbado, parece
Que vive, em vez do amor, essa ligeira chama,
Que arde apenas um dia, arde e desaparece...

E o arruinado solar, refletido no Reno,
Sobre o qual paira e pesa um sonho sobre-humano,
Sobe, entre os astros, só, furando o céu sereno,
Com a calma e o esplendor de um velho soberano.

II
As fadas da lagoa

Vilfredo conheceu o amor nos braços d’Ela...
Teve-a nua, a tremer, nos braços, nua e fria!
Teve-a nos braços, louca, apaixonada e bela!
Mas parte, alucinado, antes que aponte o dia...

É que uma outra paixão o descuidado peito
Lhe entrou. Paixão cruel, loucura que o atordoa,
Desde o momento em que, formosas, sobre o leito
Das águas calmas, viu as fadas da lagoa.

Parte... À margem fatal da lagoa das fadas
Chega, e em êxtase fica, a riba em flor mirando.
Um ligeiro rumor de vozes abafadas
Aumenta... E exsurge da água o apaixonado bando.

Corre Vilfredo, em febre, a aperta-las ao seio,
E despreza o passado e esquece o juramento:
Beija-as, e, na expansão do carinhoso anseio,
Imola toda a vida aos beijos de um momento.

Para os seus corpos ter, toda a alma lhes entrega:
E, na alucinação do gozo em que se inflama,
Por esse amor, por essa embriaguez renega
O Deus dos seus avós, o amor da sua Dama...

III
O remorso

Delira. Mas, depois do delírio sublime,
O remorso, imortal, nasce com o arrebol.
E ele mede a extensão do seu monstruoso crime,
E esconde a face à luz vingadora do sol.

Busca assustado a paz, busca chorando o olvido...
Á volúpia infernal o coração vendeu,
E o inferno lhe reclama o coração vendido,
Cobrando em sangue e pranto o gozo que lhe deu.

Quer rezar, quer voltar ao seu fervor primeiro,
Quer nas lajes, de rojo, abominando o mal,
Ser de novo Cristão, Fiel e Cavaleiro:
Mas não encontra paz na paz da catedral.

Pobre! até no palor das faces maceradas
Das monjas, cuida ver as faces que beijou;
Ah! seios de marfim! ah! bocas perfumadas!
Recordação cruel de um Éden que acabou!

Parte só, sem destino, errando, a passo incerto,
Por montes e rechãs, no inverno e no verão,
E por anos sem conta habitando o deserto,
Sem lágrimas no olhar, sem fé no coração.

Das florestas sem fim sob a abóbada escura
Ouve, nos alcantis de em torno, a água rolar;
Sobre ele, a longa voz das árvores murmura,
E o vendaval retorce os ramos negros no ar.

Mas à fera, ao inseto, ao limo verde, ao vento,
Ao sol, ao rio, ao vale, à rocha, à serpe, à flor
É em vão que Vilfredo implora o esquecimento
Do seu amor cruel, do seu horrendo amor...

IV
O Castigo

Volta... Nem luta já contra o crime que o atrai...
Velho e trôpego vem, mendigo esfarrapado,
E examine, por fim, num calefrio, cai
Sem consciência, ao pé das águas do Pecado.

Calma. A noite caiu. Nem um pássaro voa.
Não piam no silêncio as aves agoireiras.
Mas palpitam, luzindo, à beira da lagoa,
Fogos-fátuos subtis sobre as ervas rasteiras.

E, então, Vilfredo vê, presa de um medo
Do denso turbilhão dos fogos repentinos,
Com tentações no olhar e convites na voz
Surgirem turbilhões de corpos femininos.

E o Inferno pela voz dos fogos-fátuos fala!
Vilfredo foge. O horror vai com ele, inclemente!
Foge. E corre, e vacila, e tropeça, e resvala,
E levanta-se, e foge alucinadamente...

Em vão! pesa sobre ele um destino fatal:
E o louco, em todo o horror dos campos tenebrosos,
Vê fechar-se e prende-lo a cadeira infernal
Das infernal multidão dos Elfos amorosos...
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Fonte:
BILAC, Olavo. Antologia : Poesias. São Paulo : Martin Claret, 2002. Alma Inquieta. (Coleção a obra-prima de cada autor). Digitalizado por Anamaria Grunfeld Villaça Koch – São Paulo/SP