quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Inglês de Souza (Conto: O rebelde)


análise por Ms. Livia Sousa da Cunha

O conto O Rebelde, do livro Contos Amazônico, de Inglês de Sousa, publicado em 1893, no Rio de Janeiro, traz em sua composição nove histórias, que na introdução da terceira edição de Contos Amazônicos, podem ser consideradas quase como crônicas de costumes, ou um documento social construído a partir da observação de aspectos da região amazônica.

De maneira geral a narrativa apresenta a história do personagem Luís, ainda criança; mostra a amizade entre Luís, Júlia e Paulo da Rocha, um homem desprezado por toda a população de Vila Bela, pelo fato de ter participado da revolta de 1817 em Pernambuco. O assunto que atravessa toda a narrativa é a Cabanagem, fato que gera um clima tenso na região, bem como um sentimento de medo nos moradores pela ameaça de invasão dos cabanos. A situação se complica quando a ameaça se concretiza, os cabanos invadem Vila Bela e matam o juiz de paz Guilherme da Silveira. Luís e sua mãe Mariquinhas são salvos por Rocha e fogem juntamente com o padre João e Júlia para o sítio de Andresa.

O texto segue contando as várias situações vivenciadas pelos personagens no sítio. O personagem de Paulo da Rocha mostra-se ao longo da narrativa um grande amigo e protetor dos refugiados. Como último problema, Paulo tem sua filha capturada pelos revoltosos, que propõem uma troca da jovem pelo filho do juiz, e mais uma vez Luís é salvo, pois Paulo não faz a troca. O conto termina com Luís já adulto reencontrando Paulo que havia sido preso como um dos revoltosos, Luís consegue a liberdade de seu amigo, mas Paulo morre logo em seguida.

Em O Rebelde o tema central, o problema que impulsiona a narrativa, é a Cabanagem, assunto que envolve os personagens e direciona toda a narrativa. Neste sentido, são apresentados por meio das vozes do narrador e dos personagens vários posicionamentos e visões sobre este movimento. Estas vozes trazem versões sobre a situação social, sobre os motivos da revolta, além do posicionamento da igreja, do português, do estado, do homem marginalizado e desfavorecido, com relação às ações praticadas durante a revolta.

É por meio dessas vozes presentes no texto que se fará a leitura do conto, atentando para a organização da narrativa, dos discursos que se entrecruzam e se contrapõe como portugueses versus brasileiros; brancos versus tapuios; favorecidos versus desfavorecidos; estado versus revoltosos.

O primeiro aspecto que merece atenção é o próprio título do conto, pois quando lemos esse título nos perguntamos: Quem é o rebelde? Por que é rebelde? Essas perguntas são respondidas ao longo do texto através do comportamento e atitudes dos personagens.

A primeira resposta para essas perguntas é que Paulo da Rocha é o rebelde, pois participou da revolta de Pernambuco e, é visto pela sociedade de Vila Bela como um velho rebelde “Paulo da Rocha era pernambucano e fora um dos rebeldes de 1817, um soldado fiel do capitão Domingos José Martins, o espírito-santense.” Depois é possível também entender que o narrador, o personagem de Luís, é o rebelde, pois o garoto mostra-se possuidor de um espírito rebelde ao se interessar por tudo que é desprezado, incluindo a amizade dedicada ao homem marginalizado pela população de Vila, Paulo, como se verifica no trecho abaixo:

Desde a mais tenra infância, vivi sempre em contradição de sentimentos e de idéias com os que me cercavam: gostava do que os outros não queriam, e tal era a predisposição malsã do meu espírito rebelde e refratário a toda a disciplina que o melhor título de um homem ou de um animal à minha afeição era ser desprezado por todos.

Os dois amigos, Luís e Paulo, têm em comum um espírito rebelde, essa é a grande marca dos personagens. No entanto o personagem de grande destaque no conto é Paulo da Rocha, que aparece como uma voz de experiência (ele é um homem velho); ele representa o conhecimento (tinha o hábito de ler) e a rebeldia (participou da revolta em Pernambuco e apóia de certa forma a luta dos cabanos); é também o velho do outro mundo (comparado ao murucututu, figura lendária das cantigas usadas pelas mães de Vila para acalentar seus filhos) e um presságio funesto para o pai de Luís (quando aparece na porta da casa antes da invasão dos cabanos). Mas acima de tudo, Paulo da Rocha é um grande herói da narrativa, apresentado como um homem honesto, simples, que tem consciência de sua situação social e que é capaz de renunciar muitas coisas para salvar um grupo de amigos. Essa idéia será retomada mais tarde, quando será falado mais especificamente do personagem Paulo da Rocha.

Esta narrativa traz duas visões sobre o movimento cabano: uma que condena a revolta, visão dos brancos, portugueses, pessoas que detinham o poder; e outra que mostra ser justa a luta dos cabanos, visão defendida pelos grupos excluídos, diferentemente do conto A Quadrilha de Jacó Patacho, que traz um recorte da invasão de um grupo de revoltosos à casa da família do português Félix Salvaterra. Neste conto é ressaltado o papel de vítima dos portugueses, quando qualifica a família de Félix Salvaterra como “honrada” e possuidora de uma “consciência honesta”, e o papel de vilão dos cabanos, quando descreve os revoltosos como um aspecto feio e repugnante, “figura baixa e beixigosa”, “nariz roído de bexigas”, “boca imunda e servil”.

Nesta narrativa é mostrado apenas um lado da revolta, a violência praticada pelos cabanos, o clima de medo e terror instaurado na região amazônica durante este período, sem mostrar o porquê da revolta, a situação de exclusão social e miséria vivida por uma parcela da população paraense. O narrador conta as ações criminosas dos revoltosos, mas não mostra a violência cometida pelos guardas do governo ao conter a revolta. Já o conto O Rebelde, como foi dito anteriormente, nos possibilita a visão dos dois lados envolvidos na cabanagem, dos portugueses, brancos, da classe mais favorecida e a visão dos revoltosos e excluídos.

O texto deixa bem marcado as posições opostas tomadas pelos brancos e os caboclos, que se personificam nas figuras de Guilherme da Silveira e Matias Paxiúba. O primeiro assume o papel de dominador, conquistador e civilizado enquanto o outro é relegado ao papel de dominado, conquistado e incivilizado, ressaltando o ódio cultivado e mantido pelas duas “raças”, vejamos um trecho:

O certo é que o branco e o caboclo se haviam jurado um ódio eterno. Naqueles tempos de fortes paixões, em que todos os sentimentos tinham uma possança e uma pureza extrema, ódios arraigados e entranháveis eram comuns. Matias Paxiúba, o brasileiro, e Guilherme da Silveira, o marinheiro, tinham-se sempre encontrado inimigos – desde a primeira vez que se viram, parecia que todo o ódio das duas raças, a conquistadora e a indígena, se tinha personificado naqueles dois homens, cujos nomes eram o grito de guerra de cada um dos partidos adversos.

No conto encontramos muitas vozes que contam a Cabanagem, a do narrador adulto que conta sua experiência durante a infância com a revolta; a voz de Paulo da Rocha, homem marginalizado pela sociedade, participante da revolução de 1817 em Pernambuco; a voz de Guilherme da Silveira, juiz de paz; a voz de João da Costa do Amaral, padre e português; a voz de Mariquinhas, mãe de Luís e esposa de Guilherme da Silveira (voz que pouco aparece); a voz dos cabanos e de um dos líderes Matias Paxiúba. Essas vozes caracterizam posicionamentos políticos, representam pontos de vistas de classes sociais e marcam as relações de poder entre dominados e dominadores, compondo um painel da sociedade de meados do século XIX na Amazônia.

A voz do narrador Luís por vezes se posiciona com uma voz que condena os revoltosos chamando-os de “corja de bandidos”, de “fanáticos” possuidores de “uma alucinação religiosa e patriótica”, bem como mostra as crueldades praticadas a homens, mulheres e crianças

Os viajantes que passavam por Vila Bela narravam a meia voz as façanhas desses fanáticos caboclos, vítimas de uma dupla alucinação religiosa e patriótica, e o faziam com tal exagero que infundiam terror aos mais destemidos. Diziam de homens queimados vivos, de mulheres violadas e esfoladas e do terrível correio, suplício que inventara a feroz imaginação de um chefe.
Consistia em amarrar solidamente aos pés e as mãos da vítima e embarcá-la assim em uma canoa que, entregue à correnteza do rio, abria água em poucos minutos. [...]

A voz de Luís é essa voz que traz consigo a visão da classe em que ele está inserido, a classe favorecida e dominadora, possuidora de bens e de cargos públicos (o pai de Luís era juiz de paz), como aponta o próprio narrador “Meu pai representava a civilização, a ordem, a luz, a abastança.”, que via na luta dos cabanos uma forte ameaça para a continuação de sua dominação, o que explica o motivo dos “tapuios” serem apontados como fanáticos.

A voz do padre João representa um discurso que contradiz o seu próprio posicionamento dentro da sociedade, o de ter sempre a fé, a confiança na “Providência Divina”, pelo fato de que em alguns momentos ele declara não poder fica esperando pela providência

[...] Não podemos ficar de braços cruzados, à mercê da Providência [...] De que vale ser ministro do altar? Para esses fanáticos sanguinários, a minha antiga nacionalidade é crime que tudo faz esquecer!

e em outros ele apenas se entrega a essa possibilidade, vejamos a fala do personagem, ” – Entreguemo-nos à Divina Providência, o melhor amparo dos que padecem.” Padre João representa a voz da Igreja, de uma classe favorecida na sua condição de representante de Deus, da moral e da ordem, além de representar também o português, o branco e o colonizador. Essa voz aparece na narrativa condenando as ações dos revoltosos, “fanáticos sanguinários”, é uma voz marcada pelo medo da invasão a Vila, pelo medo do encontro com os revoltosos e que se esconde num discurso de preocupação com o povo, vejamos um trecho:

[...] — Oh! – continuou ele (padre João), depois de uma pausa, e como receando que fossem mal interpretadas as suas palavras.
– Deus me é testemunha de que não temo por mim, mas por estes povos infelizes, que serão vítima da minha involuntária culpa.

A voz de Mariquinhas soma-se à voz de Luís e a do padre João, pois é a voz de uma mulher ligada à classe social mais favorecida, voz de quem ocupa um papel de destaque, esposa do juiz de paz da região. É importante observar que essa personagem pouco fala ao longo de toda a narrativa, mas num momento de desespero desabafa e expõe sua visão obre a revolta, condenando os cabanos, apontando a luta como uma mera vontade de roubar e matar “— Isso dizem os cabanos para esconder os seus torpes motivos. O que eles querem é matar e roubar.[...]”.

Mariquinhas é uma personagem que traz consigo o preconceito de cor e de posicionamento social, pois mesmo depois de Paulo da Rocha lhe ter salvo, a personagem não consegue confiar no mulato “[...] Não posso explicar uma tal desconfiança, mas minha mãe, principalmente, não se soubera despir de antigos preconceitos, nem podia olhar com segurança para o mulato.” Como podemos verificar esta personagem esta arraigada em suas origens e em todos os preconceitos de sua classe, fato este notável na sua relação de desconfiança com Paulo, um homem simples, pobre e participante da revolta de Pernambuco.

O texto também revela a crueldade dos guardas, que fazem um cerco ao grupo de Matias Paxiúba, matam homens, mulheres e crianças. Os guardas também acham natural todas as brutalidades cometidas contra os revoltosos e só lamentam ter conseguido um único prisioneiro. Como é percebido na fala do tenente-coronel Miranda:

Atirando-se à água. Muitos deles foram mortos a tiro, outros se afogaram, alguns foram comidos de jacarés. Quando descobri a fuga mandei ativar o fogo. Ardeu das palhoças. [...] – Os que não se atiraram à água foram poucos. Mulheres e crianças morreram queimadas. Era natural. Nós não lhes podíamos acudir. O que é lamentável é que só se fizesse um prisioneiro, mas esse era de muita importância.

Todas essas vozes convergem para um único ponto: mostrar a situação instável durante a revolta Cabanagem a partir do olhar da classe social mais abastada, dos portugueses, dos brancos, em outras palavras, de como uma classe social que detinha o poder político e econômico da região enxergou a revolta.

A situação dos revoltos é contada pela voz do narrador e de outros personagens, como foi verificado nas observações acima, mas há ainda um acréscimo, pois em um certo momento da narrativa o próprio cabano ganha voz e expõe a sua visão sobre os fatos que o levaram a começar a luta, fato que surge como um diferencial dentro do texto inglesiano, “[...] — Branco mata e rouba o tapuio aos bocadinhos. Tapuio mata o branco de uma vez, porque o branco é maçom e furta o que o tapuio ganha.”. Nesta fala um dos “tapuios” tenta mostrar que o “branco” não é melhor que os revoltosos, visto que ambos matam, no entanto a diferença está na forma, o “branco” mata aos poucos por meio da exploração e o “tapuio” mata “de uma vez”, logo ambos estão cometendo os mesmos crimes só que de formas diferentes.

Esta fala surge dentro de todo o contexto da narrativa como uma força poderosa, capaz de apontar toda a situação de luta do “tapuio” em vencer a exploração que há anos lhe tinha sido imposta pelo “branco”, e por toda uma sociedade comandada pelos conquistadores portugueses, apesar da aparente liberdade alcançada pelo brasileiro com a independência do país.

Um dos lideres da revolta Matias Paxiúba também ganha voz no texto, personagem que é temido pelos portugueses, adjetivado pelo narrador como “feroz”, “cruel” e “desapiedado”, possuidor de uma “voz de trovão”, que aparece como uma figura quase mítica dentro da narrativa, traz a voz da vingança, de toda a revolta que impulsiona um desejo de acerto de contas entre o colonizado e o colonizador “— O filho dessa gente maldita – disse o tapuio em tom resoluto, - o filho de Guilherme da Silveira não pode viver. Tens que entregá-lo à vingança dos teus patrícios".

Dentro dessa fala há o conflito racial e social, traz-se à cena a relação conquistador versus conquistado, o personagem de Guilherme da Silveira, juiz de paz, português, representado a essa altura pelo filho e único herdeiro, versus o de Paxiúba, o brasileiro. Esses personagens caracterizam bem essa luta entre o conquistador, representando a “civilização”, a “ordem”, a “luz”, a “abastança”, e o conquistado representando a “ignorância”, a “superstição”, o “fanatismo”.

Outro momento em que a voz dos revoltosos se faz presente no texto, está justamente no momento da invasão de Vila Bela, em que ecoa o grito de guerra da Cabanagem “— Mata marinheiro, mata, mata!”, mostrando a força e o desejo de vingança dos revoltosos. Este grito quando é ouvido pelos portugueses gera pânico e desespero, é também um dos barulhos que acorda Luís, ainda menino, em sua casa durante a invasão. É um grito que traz consigo uma ação “matar”, um desejo e ao mesmo tempo uma ordem, um imperativo “mata”, e o alvo dessa ação é o “marinheiro”, simbolizando neste contexto a figura do juiz de paz e outros portugueses representantes da injustiça, na visão dos revoltosos.

Os revoltosos apesar de terem voz na narrativa e de exporem seus motivos em algumas falas, ainda são poucos os personagens do lado dos “tapuios” que ganham voz no texto se comparados ao número de personagens representantes dos brancos, portugueses, que condenam o movimento. Isso pode ser explicado pelo fato de que o narrador, já adulto, conta a história que vivenciou durante infância, e que foi prejudicado pela ação dos cabanos perdendo a casa, o pai e os amigos Rocha e Júlia.

Além de todas as vozes dos dominadores e dominados, há no texto uma voz diferenciada, a voz do personagem Paulo da Rocha que media de certa forma as outras vozes, uma voz que analisa a situação social do país no contexto histórico em que ele está inserido. Fala da miséria enfrentada pelas populações inferiores, da escravidão dos índios, da proclamação da independência, destaca o porquê da revolta dos cabanos, a situação de marginalização e miséria dos revoltosos mostrando um conhecimento e uma consciência política. Vejamos este momento da narrativa:

Paulo da Rocha dissertou longamente sobre as causas da cabanagem, a miséria originária das populações inferiores, a escravidão dos índios, a crueldade dos brancos, os inqualificáveis abusos com que esmagam o pobre tapuio, a longa paciência destes. Disse da sujeição em que jaziam os brasileiros, apesar da proclamação da independência do país, que fora um ato puramente político, precisando de seu complemento social. Mostrou que os portugueses continuavam a ser senhores do Pará, dispunham do dinheiro, dos cargos públicos, da maçonaria, de todas as fontes de influência, nem na política, nem no comércio o brasileiro nato podia concorrer com eles. Que, enquanto durasse o predomínio despótico do estrangeiro, o negro no sul e o tapuio no norte continuariam vítimas de todas as prepotências, pois que eram brasileiros, e como tais condenados a sustentar com o suor do rosto a raça dos conquistadores. [...]

Nesta fala de Paulo recontada pelo narrador, o personagem cria diante do leitor um panorama da sociedade brasileira, fazendo com que sejam conhecidos os problemas vividos durante o século XIX no Brasil. É feito uma crítica a organização do país, pois aponta a própria proclamação de independência como um ato político, que não possuiu um desdobramento social. Expõe a dominação ainda existente do português sobre o brasileiro, em que o primeiro detinha os cargos públicos e de governo enquanto que o segundo continuava como vítima da exploração do estrangeiro.

Este personagem ganha mais profundidade, pois não defende somente o seu lado marginal, ou tenta justificar os problemas com mais problemas, pelo contrário ele é capaz de descrever toda a situação social e política de sua região e até mesmo do país.

O personagem Rocha também faz algumas considerações sobre a Cabanagem, aponta o movimento paraense como uma extensão da Revolução de 7 de abril, e se questiona porque o governo do Rio de Janeiro, nascido de uma manifestação popular perseguia o povo do Pará . É interessante observar que, o personagem apesar de defender a luta e a causa dos revoltosos, apontando a situação de marginalização social,

[...] Bater os cabanos! Uns pobres diabos que a miséria levou à rebelião! Uns pobres homens cansados de viver sobre o despotismo duro e cruel de uma raça desapiedada! Uns desgraçados que não sabem ler e que não tem pão... e cuja culpa é só terem sido despojados de todos os bens e de todos os direitos [...] e quem disse ao senhor padre João que eu, Paulo da Rocha, o desprezado de todos em Vila Bela, seria capaz de pegar em armas contra os cabanos? [...]

também condena os crimes, as mortes e violências praticadas contra mulheres e crianças “— Senhor padre João, estou longe de provar os morticínios que têm feito os brasileiros por toda a parte [...]”.

Em alguns momentos da narrativa Rocha é visto pelo narrador como um herói, uma figura agigantada, e uma figura quase mítica “[...] uma voz oculta me indicava um herói das antigas lendas [...] um homem como eu sonhava nos meus devaneios infantis”.

Os raios do sol cadente, penetrando na humilde habitação, vinham ferir em cheio o crânio seminu do pernambucano, que, alto, ereto, agigantado e estranho, parecia outro homem, sem rugas no rosto, sem cansaço na voz, sem a habitual tristeza na fisionomia.

O personagem de Paulo é visto na narrativa de diversas formas, em alguns momentos ele é adjetivado como o pernambucano, o rebelde de 1817, o velho do outro mundo, o mulato, o velho feiticeiro, o sineiro da matriz ou estranho sineiro da Matriz, mas acima de todas essas características que lhes são atribuídas, ele é apresentado como o grande herói da história, capaz de ariscar a sua própria vida e a de sua filha para salvar a vida de um amigo e manter a palavra dada a Guilherme da Silveira. O resultado de tudo é apresentado no final do conto, ele passa muitos anos preso na cadeia, confundido como um dos cabanos, e quando ganha a liberdade morre sem condenar seus algozes, dono de uma grande bondade, fato que leva o narrador a compará-lo a Jesus de Nazaré no alto da cruz.

O pernambucano parecia ter mais de cem anos. Rugas profundas cortavam-lhe o bronzeado rosto em todos os sentidos. O corpo era de uma magreza extrema de vida que se esvai. Só lhe ficara o olhar, o olhar sereno e claro, e um sorriso de resignação e de bondade, o sorriso que teve Jesus de Nazaré no alto da cruz. [...] levei-o para minha casa, onde dois dias depois expirou nos meus braços. Voou aquela sublime alma para o céu sem murmurar contra os seus algozes.

Paulo da Rocha juntamente com os outros personagens trazem a voz da exclusão social, possibilitando ao leitor a oportunidade de conhecer um outro lado da revolta, o lado dos que foram marginalizados pelo governo, pelos portugueses, pela população detentora de maior poder aquisitivo, bem como a situação política e social do Brasil no período pós-independência nacional.

De maneira geral o conto O Rebelde, de Inglês de Sousa, conta as ações praticadas pelos cabanos, pelos guardas do governo e por outras pessoas envolvidas, reconfigurando no plano ficcional fatos do mundo real. Neste sentido, é possível por meio das vozes dos personagens e do próprio narrador conhecer os efeitos da Cabanagem na vida da população de Vila Bela.

Através da observação das vozes dos personagens, dominadores e dominados, buscou-se verificar o posicionamento de reprovação e aprovação das classes sociais sobre a revolta, tendo em vista que, essas vozes expõem ao leitor a situação política do país, a situação de miséria da população local (os chamados tapuios), bem como a exploração da população brasileira mantida pelo estrangeiro detentor de cargos públicos e do próprio governo.

A narrativa expõe os dois lados da revolta, as violências cometidas pelos cabanos e as cometidas pelo governo, diferentemente de outros textos e documentos históricos que mostram apenas a visão da classe dominante. Em O Rebelde é possível ver a denúncia na voz de Paulo da Rocha e outros personagens, que a Cabanagem não foi uma revolta sem objetivos ou motivos, pelo contrário, é exposta a situação insustentável de miséria e exclusão social que vivia o tapuio, explicando o porquê das ações violentas e da revolta como um todo, não se resumindo a um relato de guerra pelo poder, mas mostra-se como um texto revelador de uma história da sociedade da Amazônia.

Fonte:
Passeiweb

Trova Ecológica 59 - Wagner Marques Lopes (MG)

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 426)


Uma Trova Nacional

No presépio, um quadro lindo:
a jovem mãe e a criança.
– Era a ternura sorrindo,
amamentando a esperança!
–A. A. DE ASSIS/PR–

Uma Trova Potiguar


Na vida que se renova,
no Natal que se aproxima,
eu forro a mesa com trova,
e brindo a noite com rima.
–PROF. GARCIA/RN–

Uma Trova Premiada

2002 - Garibaldi/RS
Tema: Natal - M/H

O Natal já se insinua...
Na cidade que se agita,
são as crianças de rua
a consciência que grita!...
–DOMITILLA BORGES BELTRAME/SP–

Uma Trova de Ademar

Tal qual num conto de fadas,
quem sabe eu possa ver isto:
todas nações de mãos dadas
no aniversário de Cristo!
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram

Natal com ódio e ganância!
Bebedeira... bacanal...
– meu Deus, mas quanta distância
do verdadeiro Natal!
–ANTÍDIO AZEVEDO/RN–

Simplesmente Poesia

Luz Divina
–CARMO VASCONCELOS/PRT–

Eram de angústia os tempos tenebrosos,
quando os senhores da heresia opressora,
reinavam neste mundo, poderosos,
semeando a morte injusta, aterradora!

Mas contra a treva vil dos portentosos,
emerge a Luz por dentre a palha loura,
e erguem-se aos céus os hinos jubilosos,
a venerar Jesus na manjedoura!

C’o Deus-Menino nascem sóis radiosos
e nova fé na ansiada Paz vindoura,
que há-de brotar dos ramos amorosos,
da Sua Palavra Santa, imorredoura!

Que o Seu Verbo Divino contra o mal
floresça, vivo em nós, cada Natal!

Estrofe do Dia

Tem tanta criança pobre
Na nossa periferia,
Que nunca teve a alegria
De ter um brinquedo nobre,
pois logo cedo descobre
Não existir velho tal,
Então seja seu fanal
Transforme em seu assistido,
Porque esse é o sentido
Verdadeiro do Natal.
–PETRONILO FILHO/PB–

Soneto do Dia

Natal...
–DIAMANTINO FERREIRA/RJ–

Sinos festivos, repicai, ó sinos!...
Levai a chama da esperança a quantos,
desiludidos dos cruéis destinos,
vagueiam neste mundo, em dor e em prantos!...

Lembrai a todos os sublimes cantos
do bom Jesus, o Deus dos pequeninos:
Falai ao mundo dos fervores santos
na voz mais poderosa: a voz dos hinos!...

Fazei que vejam a bondade apenas;
e, da retina, horripilantes cenas
apagai-lhes da guerra, o horror profundo!

Pregai-lhes a concórdia e o bom senso...
Rendei justiça ao sacrifício imenso
de Quem morreu para salvar o mundo!....

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Cara De Coruja – I – Preparativos

Dona Benta estava ensinando Pedrinho a cortar as unhas da mão direita quando Emília apareceu na porta e piscou para ele com os seus novos olhos de seda azul, feitos na véspera. Pedrinho respondeu a essa piscadela com outra, que na linguagem do “pisco” (como dizia a boneca) significava: “Que há de novo?”

— Narizinho está chamando! — respondeu Emília, tão baixinho que dona Benta nada percebeu.

— Para quê? — indagou o menino ainda na língua do “pisco”.

— Para ajudá-la a arrumar a sala e salvar o Visconde.

Desta vez dona Benta pilhou a palavra “arrumar” e, erguendo os óculos para testa, perguntou:

— Que arrumação é essa, Pedrinho?

— Não é nada, vovó. Uma simples festinha que vamos dar aos nossos amigos do País das Maravilhas.

— Quer dizer que vamos ter novamente aqui o príncipe e aqueles bichinhos todos do mar?...

Pedrinho riu-se.

— A senhora não entende disto... Eu disse — amigos do País das Maravilhas, e não do Reino das Águas Claras. Há muita diferença.

— Pois vá receber seus amigos — disse dona Benta depois que acabou de lhe aparar as unhas — mas primeiro lave essa cara. Você comeu manga e está com dois bigodes amarelos.

— Foi de propósito, vovó — inventou o menino. — Quero que eles pensem que sou o conde dos Bigodes de Manga!...

Narizinho estava muito atrapalhada para salvar o Visconde que havia uma semana caíra atrás da estante. Logo que Pedrinho apareceu, gritou-lhe:

— Venha acudir o Visconde. Estou vendo um pedaço dele lá no fundo; com certeza o resto foi devorado pelas aranhas de pernas compridas. Temos que salvá-lo depressa — e vesti-lo, porque os convidados não tardam.

— Mandou os convites?

— Pois de certo. Mandei-os por um beija-flor que todos os dias vem beijar as rosas do pé de rosa da Emília. Cheguei-me a ele e disse: “Sabe ler?”

— “Sei, sim!” — respondeu a galanteza. — “Então pegue estas cartinhas no bico e vá entregá-las aos donos.” E ele pegou as cartinhas e partiu!... lá se foi...

— Para quem mandou convites?

— Para todos — para Cinderela, para Branca de Neve, para o Pequeno Polegar, Capinha Vermelha, Ali Babá, Gato de Botas — todos!

— Não esqueceu Peter Pan?

— Está claro que não. Nem Aladim, nem o Gato Félix verdadeiro. Até ao Barba Azul convidei. Pedrinho não gostou da idéia.

— Acho que não devíamos convidar esse monstro. Vovó vai morrer de medo.

— Não faz mal — conciliou a menina. — Mandei-lhe um convite bem seco, mas se mesmo assim ele vier nós fecharemos a porta bem no nariz dele — há!... Convidei-o de tanta vontade que tenho de ver se a tal barba é mesmo azul como dizem. Mas tratemos de salvar o Visconde.

Pedrinho ajudou-a a desencostar a estante de modo que pudessem pescar o pedaço do Visconde com o cabo da vassoura. Não era pedaço, não; estava inteirinho; apenas mais embolorado do que nunca – todo sujo de poeira e teias de aranha...

— Agora é que vai ficar um sábio completo! Tia Nastácia não acredita em sábio que toma banho, faz a barba e perfuma-se. Diz que sábio de verdade é assim — bem sujinho.

Depois de limpo mal e mal, o Visconde recebeu ordem de pendurar-se no alto da janela com o binóculo de dona Benta a fim de espiar a estrada.

— Assim que aparecer uma poeirinha lá longe, avise. Agora vou buscar Rabicó.

Rabicó veio de má vontade como sempre, porque fora obrigado a interromper uma comilança de mandioca. Pedrinho amarrou-lhe na cauda a célebre fitinha vermelha e pendurou-lhe nas orelhas dois brincos de amendoim.

— Você vai ficar na porta para ir recebendo os convidados.

Assim que chegar um e bater, abra, pergunte quem é e anuncie: “O senhor ou senhora Fulano de Tal!” Mas comporte-se e não vá comer os brincos como da outra vez.

A boneca estava num grande assanhamento a varrer, com o pincel de goma-arábica que lhe servia de vassoura, um lugar do chão que o Visconde sujara de verde com o seu bolor. Narizinho implicou-se.

— Chega, Emília! Assim você fura o assoalho de vovó. Antes vá tomar banho e vestir aquele vestido cor do pomar com todas as suas laranjas. Ponha ruge, não esqueça. Está um tanto pálida hoje.

A boneca, tec, tec, tec, muito esticadinha para trás, foi vestir-se.

Assim que ela saiu, o Visconde, já no alto da janela, de binóculo apontado, anunciou, numa voz rouca de sábio embolorado:

— Estou vendo uma poeirinha lá longe!

— Ainda não, Visconde! É muito cedo. Temos de ir tomar café primeiro. Só na volta é que o senhor começa a ver poeirinhas.

O café, que já estava na mesa, foi tomado a galope. Vendo aquela pressa, dona Benta perguntou:

— Que reinação vamos ter hoje, Narizinho?

— Nem é bom falar, vovó! Vai ser uma festa linda até não poder mais. Só reis e príncipes e princesas e fadas...

— Muito bem — disse dona Benta — mas tenho que escrever uma carta à minha filha Antonica, por isso não façam muito barulho. Deixem-me em paz no meu canto.

— Sim, vovó, mas a senhora tem de espiar um pedacinho da festa — um pedacinho só, sim? Pelo buraco da fechadura. Isso quando ouvir uma grande salva de palmas e um hino de índios.

A pobre velha fez uma cara de quem não estava entendendo muito bem tamanha trapalhada. Narizinho teve de explicar tudo. As palmas e o hino dos índios guerreiros, escrito especialmente pela Emília, eram para saudar a chegada de Peter Pan, famoso menino que não quis crescer e pela primeira vez os vinha visitar no sítio. Dona Benta prometeu que espiaria. Voltando à sala da festa, Narizinho gritou para o Visconde:

— É hora! Pode começar.

O pobre sábio, que estava cochilando em cima do binóculo, acordou, espiou a estrada e disse:

— Estou vendo uma poeirinha lá longe!...

— Poerinha pequenininha ou grandinha? — perguntou Emília.

— Se é grandinha, aposto que é Pé-de-Vento que vem vindo.

Narizinho franziu a testa.

— Não convidei Pé-de-Vento nenhum, Emília, nem conheço tal personagem.

— Pois eu conheço — retorquiu a boneca. — Estou escrevendo uma historinha onde há o grande príncipe Pé-de-Vento, que é o maior levantador de poeira que existe. Uma vez, quando ele tinha justamente três anos, três meses, três dias e três horas de idade...

— Feche a torneira, Emília! História, só de noite. Não vê que o primeiro convidado já vem vindo?
––––––––
Continua... Cara de Coruja– I – Cinderela

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa
Justificar

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte XV


PONTO.

Depois de ponto usa-se, sempre, inicial maiúscula.

Evite escrever mais de duas linhas sem um ponto final sequer.

Use-o à vontade. Pontos encurtam frases, dão clareza ao texto e facilitam a compreensão.

Não há ponto após siglas (LTDA, CIA) ou abreviaturas de metros (m), horas (h), quilômetros (km), etc.

Ao colocar o ponto, faça-o bem redondo (mas não uma bolota) e bem perto da última letra da palavra. Qualquer rabisco que ele contiver vai ficar parecendo uma vírgula, o que é errado.

PONTO DE EXCLAMAÇÃO.

Após um ponto de exclamação (!) a palavra seguinte não precisa começar com letra maiúscula, pois o ponto de exclamação funciona como vírgula, não significando o fim da frase.

Ah! como Renata era linda.

PONTO E VÍRGULA.

Evite usá-lo, porque só é empregado em casos muito especiais e serve para marcar uma pausa maior que a vírgula.

Os sem-terra não quiseram resistir; a situação parecia tensa demais.
Vermelho é o sinal para parar; amarelo, para aguardar; verde, para seguir adiante.
O voto é obrigatório; os eleitores, portanto, deverão exercer esse direito com consciência.

PONTUAÇÃO.

Uma pontuação errada pode comprometer toda a assimilação do conteúdo textual.

A pontuação existe para facilitar a leitura do texto. O seu texto está bem pontuado?

Distribua harmoniosa e adequadamente as pausas ao longo da frase, pontuando-a devidamente.

Empregue a pontuação corretamente, pois uma simples vírgula, fora do lugar adequado, pode mudar profundamente o sentido da frase.

A pontuação deve obedecer às paradas respiratórias e, também, à entonação que queiramos dar a cada frase. Uma parada breve na respiração significa a colocação de uma vírgula, enquanto uma respiração longa pedirá a colocação de um ponto na frase.

EXEMPLOS DE TEXTOS CONFUSOS, POR FALTA DE PONTUAÇÃO
Maria toma banho e sua mãe diz ela traga-me uma toalha.
Voar dez mil metros sem beber água uma andorinha só não faz verão.
Um lavrador tinha um bezerro e a mãe do lavrador era também o pai do bezerro.

CORRIJA-OS PARA
Maria toma banho e sua; mãe, diz ela, traga-me uma toalha.
Voar dez mil metros sem beber água? Uma andorinha só não faz: verão!
Um lavrador tinha um bezerro e a mãe. Do lavrador era, também, o pai do bezerro.

POSITIVO.

Coloque as sentenças na forma positiva. Diga o que é, nunca o que não é. Em vez de escrever “ele não assiste regularmente às aulas”, escreva “ele falta com freqüência às aulas”.

PRECIOSISMO.

Consiste no uso de palavras ou expressões antigas (arcaísmos) de construções rebuscadas das frases.

Baixar a inflação? Isso é colóquio flácido para acalentar bovino.

Na pretérita centúria, meu progenitor presenciou o acasalamento do astro-rei com a rainha da noite.

FRASES COM PRECIOSISMOS
O exame fora deveras difícil.
O mancebo deu-me a honra de uma contradança.
Destarte, não devemos ser assaz exigentes com os alunos.

PREFIRA
O exame fora realmente difícil.
O rapaz tirou-me para dançar.
Assim, não devemos ser muito exigentes com os alunos.

PRECISÃO.

Use vocábulos ou expressões adequadas, ou seja, termos próprios definindo clara e eficientemente a idéia, para não cair na pobreza de vocabulário. É preciso pesar as palavras e aprender todo o seu significado, sob pena de usá-las indevidamente na frase.

Certifique-se do significado correto das palavras que vai utilizar em determinado período e verifique se existe adequação desse significado com as idéias expostas. A vulgaridade de termos ou impropriedade de sentido empobrecem bastante o texto.

ALGUNS EXEMPLOS DEPLORÁVEIS
Estou convincente de que...
Era um tapete de alta valorização...
Urgem campanhas no sentido de exterminar os analfabetos.
É impossível conhecer os antepassados dos candidatos...

CORREÇÃO
Estou convencido de que...
Era um tapete de alto valor...
Urgem campanhas no sentido de exterminar o analfabetismo.
É impossível conhecer os antecedentes dos candidatos...

PRECONCEITO.

Não termos que tenham conotação preconceituosa.

PREGUIÇA.

Lembre-se: as piores inimigas da redação são a preguiça mental e a falta de leitura.

PRIMEIRA PESSOA.

A redação deve ter o caráter impessoal (3ª pessoa), evitando-se a 1ª pessoa, principalmente a do singular, salvo em citações.

Não utilize a primeira pessoa em sua redação, principalmente quando for determinado texto objetivo. Alguns vestibulares tiram pontos caso a use. Sua opinião deverá ser dada por um sujeito indeterminado.

Evite expressões do tipo: “Na minha opinião”, “Ao meu ver”, etc.

Em vez de: “Eu acho que a privatização deveria acontecer...”, escreva: “A privatização deveria acontecer...”

PRIMEIRO LUGAR.

Não se coloque em primeiro lugar, ao citar-se juntamente com outras pessoas.
ESCREVA, CORRETAMENTE

Roberto, Paula e eu gostamos da festa.
Meu pai e eu somos bons amigos.


Fonte:
http://www.sitenotadez.net

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Paraná em Trovas Collection - 29 - Hilda Koller (Castro/PR)

Amélia Luz (Cristais Poéticos)


FEIRA DE IDEIAS

Mude de compasso
saia do laço, conquiste o espaço.
Entre na dança volte à infância
vire criança, espalhe esperança!
Coloque uma roupa engraçada
ponha um nariz de bola vermelha
saia no bloco dos sujos,
faça palhaçada, sinta-se alforriada...
Compre uma prancha
pegue uma onda
vá surfar na vida
tire o peso dos ombros
desentorte, troque de avenida...
Compre um anzol
vá pescar novos pensamentos
mude o seu momento!
Saia do enlatado seja ousada!
Jogue botão, figurinhas, futebol,
tome bastante sol
cante em soprano ou em bemol...
Não durma como um caracol
espalhe-se enquanto é tempo
caminhe na contramão
estimule a sua criação
monte na asa da ficção
atire-se do viaduto
saia voando impoluto
troque de rótulo
seja outro produto!
Fotografe um amanhã risonho
enfim onde tu estarás???
Aprenda a ser,
assuma-se como um irreal
resolva todos os teus conflitos
no tapa, na carícia ou no grito...
Batize-se com um outro nome
troque o teu figurino
aprenda a fazer arte,
a tristeza descarte...
A vida é uma proposta...
Coloque nela uma palavra mágica:
FELICIDADE!!!

LÍNGUA LUSA
Pseudônimo: Amapola

Minha língua lusa é um laço,
É um traço, é o meu espaço!
Esdrúxula, confusa, pessoal,
Abusa das palavras
Num mesmo ritual
Lambendo a poesia
No sabor sublime do ofício,
Dia após dia!...
Minha sina, minha musa,
Herança do meu Portugal,
Ortográfica ou gramatical...
Erudita, culta, acadêmica,
Polêmica ou irreverente,
Luz que brota livre na nossa boca
Sedenta de versos...
Popular, simples, corriqueira,
Língua de muitos “falares”,
Língua dos sete mares,
Atravessando os oceanos
Na força dos ventos,
Seguindo o caminho mágico
Das ousadas caravelas portuguesas...
Identidade cultural do baú de Camões,
Com heranças ibéricas próprias e definidas,
Trânsito poético da linguagem que liberta.
Temos nossas raízes próprias
Ao partilhar a palavra viva
Saída do ovário da “última flor do Lácio”,
Brotada em terras brasileiras...
Resmungo o âmago da minha latinidade,
Afinal, quem sou, quem somos?
Eu sou, nós somos: cidadãos Portugueses,
Brasileiros, Angolanos, Moçambicanos
Caboverdianos, Guineeenses, Goeses,
Macaenses, Sãotomenses ou Timorenses...
NÓS SOMOS SOBRETUDO
A LÍNGUA PORTUGUESA!!!

Fonte:
Poesias enviadas pela autora

Amélia Luz


Amélia Marcionila Raposo da Luz nasceu em Pirapetinga, Zona da mata, Minas Gerais. Filha de Luíza raposo da Luz e Odilon Mendes da Luz

Da família do pai herdou a sensibilidade. Eram todos instrumentistas, dedicados à música.

Desde muito cedo mostrou interesse pelas letras, dedicando-se aos estudos e destacando-se sempre na escola com suas produções de textos.

É formada em Pedagogia, Administração Escolar e Magistério, Orientação Educacional e Pós graduação em Psicopedagogia na Escola, em Além Paraíba/MG. Concluiu Pós graduação em Planejamento Educacional pela Universo em Niterói. Formou-se também em Comunicação e Expressão em Língua Portuguesa e Literatura.

Sempre se dedicou à Língua Portuguesa estudando sozinha, pesquisando e adquirindo novos conhecimentos, sobretudo em Literatura, sua matéria preferida.

Foi professora da SEE do Estado do Rio de Janeiro aposentando-se com trinta anos de profissão e professora da SEE do Estado de Minas Gerais, aposentando-se com vinte e cinco anos de regência de turma. Ministrando a Língua Portuguesa adquiriu intimidade com os textos fazendo da sala de aula sua fonte de experiências. Descobriu o valor da língua pátria na profissão que, com dedicação e respeito exerceu.

Fundou ao lado de amigos o Centro Cultural de Pirapetinga sempre se dedicando às suas atividades. Participa de projetos e eventos culturais da Casa de Cultura Geralda Bifano Jubileu, ambos em sua terra natal, dedicando-se com especial interesse às suas raízes culturais.

Membro Efetivo da APLAC – Academia Paduana de Letras Artes e Ciências – Santo Antônio de Pádua/RJ,
Membro Correspondente da ACL – Academia Cachoeirense de Letras – Cachoeiro de Itapemirim/ES,
Membro Correspondente da Academia Rio Cidade Maravilhosa – Rio de Janeiro,
Decana e Delegada Regional do Clube dos Escritores de Piracicaba/SP,
Delegada da UBT em Pirapetinga/MG,
Membro da Fundação del’Secchi – Vassouras/RJ e
está em processo de ligação com a REBRA – Rede de Escritores Brasileiros.

Foi contemplada pela Prefeitura Municipal de Pirapetinga com a Comenda Ana Luíza de Assis Silveira e condecorada com a Medalha Peixe Branco, recebendo do Centro Cultural de Pirapetinga - Patrono Antônio Jubileu, o Certificado de Agente Cultural.

Recebeu da Câmara de Vereadores de Santo Antônio de Pádua Moção de Aplauso pelos serviços prestados à educação no município.

Participa de concursos literários em vários estados do Brasil e exterior, sendo premiada em todas as categorias literárias.

Recebeu diversas medalhas, troféus, condecorações, certificados e diplomas pelas classificações obtidas nos referidos concursos. Acumula premiações e publicações em várias antologias literárias, e-books, anuário de escritores, agendas literárias e periódicos.

É colunista do Jornal Papiro, coluna poética Ecos de Minas, Santos/SP. Tem publicado um livro solo de poesias “Pousos e Decolagens. Prefere suas publicações em antologias por conhecer e divulgar outros autores nos seus rastros literários.

Foi premiada na X e XI Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro e na XVII Bienal Internacional do Livro de São Paulo recebendo diplomas e publicações de textos de sua autoria.

Foi classificada pelo Festival de Poesia Falada de Campos dos Goytacazes/RJ com lançamento na XIII Bienal Internacional do Livro do Rio de janeiro, pela Fundação Jornalista Oswaldo Lima.

A Academia Brasileira de Estudos e Pesquisas Literárias concedeu-lhe por duas vezes Medalha de Ouro e publicação de textos de sua autoria na revista Acadêmica Brasília – Rio de janeiro. Foi classificada como finalista na APPERJ – Associação dos Poetas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro, interpretando seu poema no auditório Machado de Assis na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

Classificada pela ABRACI, interpretou texto de sua autoria, sendo premiada em cerimônia na Academia Brasileira de Letras, auditório Machado de Assis no Petit Trianon do Rio de Janeiro.

Participou do IV e V Belo Poético realização Rogério Salgado em Belo Horizonte sendo publicada como co-autora em Poetas EM/CENA 2 e 3.

Publicada na Antologia Del’Secchi de 2006 a 2009.

Foi publicada pelo Centro de Estudos Poéticos de Madrid/Espanha, participa da II Antologia de Poetas Lusófonos de Leiria. Portugal. Pela Accademia Il Convívio, no Concurso de Poesia, Prosa e Arte Figurativa recebeu “Segnalazione di Mérito” com publicação em duas antologias, recebeu segundo lugar no Prêmio Fra Urbano Della Motta, com o tema Natal, recebendo publicação de seu texto em antologia - Castiglione di Sicília, Itália.

Mineira extremada dedica sua obra à sua mineiridade. Teve o privilégio de nascer em Minas, enaltecendo com muitos dos seus textos a sua terra que tanto ama e reverencia. Com delicadeza de sentimentos vai tecendo a sua vida na sua oficina de verso, onde encontra significado para prosseguir sempre nos caminhos da vida.

Fonte:
http://academialetrasbrasilmariana.blogspot.com/2010/03/alb-mariana-apresenta-amelia-marcionila.html

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 425)


Uma Trova Nacional

Jesus, amparo divino,
exemplo de amor profundo!
o coração do menino
agasalha todo mundo!
LARISSA LORETTI/RJ–

Uma Trova Potiguar

Natal... momento divino,
misto de amor e esperança!
Jesus - humilde menino,
é nossa eterna bonança!
–JOAMIR MEDEIROS/RN–

Uma Trova Premiada

2008 - Algarve/PRT
Tema: “A VIRGEM MÃE” - M/H

A Virgem Mãe embalou...
- e há dois mil anos se escuta
a história que sublimou
o espaço humilde da gruta.
–VANDA FAGUNDES QUEIROZ/PR–

Uma Trova de Ademar

Por coisas que nos consomem,
peço ao Filho de Maria
que, no coração do homem
haja um “Natal” todo dia.
–ADEMAR MACEDO/RN–

...E Suas Trovas Ficaram


Papai Noel, bom velhinho,
neste Natal, sob a lua...
Procure meu sapatinho
sobre a janela da rua!....
–ADELIR MACHADO/RJ–

Simplesmente Poesia

Tardio.
–VANDA FAGUNDES QUEIROZ–

Parece que ouço toques na janela...
Quem viria despertar-me nesta noite?
Talvez somente o açoite
das folhas da palmeira sob o vento.
Eis que a lembrança acorda num momento:
- É noite de Natal!... penso afinal.
Longínquas vozes chegam da distância
de um tempo que escutou risos de infância.
- É você, Papai Noel?... murmuro enfim.
Quer dizer que não se esqueceu de mim?
E o monólogo assume um tom mais triste:
- Não precisa vir agora... Vá embora...
A criança que já fui não mais existe.

Estrofe do Dia

Natal é o aniversário
de nosso senhor Jesus,
o médico de todos nós,
remédio feito de luz;
se não fosse esse doutor
ninguém suportava a dor
do peso da própria cruz.
–WANDERLEY PEREIRA/CE–

Soneto do Dia

O Maior Milagre.
–ANTONIO ROBERTO FERNANDES/RJ–

Meu jovem Jesus Cristo, um dia aqui viestes
para sentir na carne a angústia dos humanos,
porém voltastes cedo às vastidões celestes,
pregado numa cruz, aos trinta e poucos anos.

No ardor da juventude afugentastes pestes,
vencestes vendilhões, demônios, oceanos,
provocando, ao pregar pelas trilhas agrestes,
o assombro dos judeus e o ódio dos romanos.

Sofrestes muito, eu sei, mas não ficastes velho.
Morrestes moço e, assim, pôde o Vosso Evangelho
os séculos vencer e vir chegar a nós.

Mas o maior milagre não foi realizado.
Voltai... Envelhecei... E fraco e esclerosado
fazei, de novo, o mundo acreditar em Vós.

Fonte:
Textos enviados pelo Autor

Clevane Pessoa (Rosas, Rosas, Rosas)


A rosa que atrai inicialmente atrai apenas pela beleza de sua formas e pelo aroma inconfundível, simboliza a energia quíntupla que deve tocar e retocar a alma: a quintessência dos alquimistas... Numa roseira, cada rosa nos oferece, de graça, uma rica simbologia; sobre o círculo perfeito de sua base, as pétalas se espraiem, dando uma impressão do verdadeiro significado de harmonia. Diferentes em cores, tamanhos, suas pétalas, macias e olorosas, são comparadas à pele de um bebê, suavíssimas. Em geral, volteiam no sentido horário, em especial as rosas vermelhas. Já algumas, como as brancas, voluteiam em sentido contrário. As rosas são uma grande atração para os humanos. Para começar, o perfume especialíssimo, as propriedades. Rosas brancas são usadas em rituais de purificação, banhos "de descarrego".

O aroma de rosas é comprovadamente erótico. Enamorados podem forrar o leito com suas pétalas, sendo as vermelhas as mais indicadas, dado o erotismo da própria cor. Acordar alguém com chuva de pétalas também é algo muito especial, pela delicadeza, simbolismo e sinais.

Geléias de pétalas de rosas, iguaria delicada, leva a pessoa a elaboração de bons sentimentos, contou-me uma senhora de noventa anos, muito lúcida.Cheirar rosas a consolava das exigências paternas ,o pai, um senhor verdadeiramente feudal - e quando o marido foi para a guerra, na Itália, usava um frasco desse perfume para sossegar o coração aflito - o que também funcionava para fazer bebês dormirem, contou-me.

Santa Terezinha é a Santa das Rosas. No convento, segundo consta, ela que fora para lá por vocação, com licença especial do papa, adolescente, aos quinze anos, tinha de lidar com a ranzinzice de uma freira idosa, o que fazia com paciência. Consta que havia uma imagem de Cristo e lá ia a Santinha de Lisieux, com os braços carregados dessas delicadas florações. A Irmã mais velha reclamava, dizendo que era alérgica ao cheiro. Na tentativa de solucionar o problema, Terezinha pediu aos familiares rosas de tecido, que colocava nos braços de Jesus. Então, quando a reclamante se afastava, as pétalas tornavam-se verdadeiras e o perfume se espalhava pelo convento. Também já ouvi uma versão onde ela punha flores de verdade, que se transformavam em buquês artificiais tão logo a outra se aproximava. O sentido é mesmo: uma estratégia do Alto para minimizar suas dificuldades e facilitar seu amor pelas roseiras.Contam que antes morrer, aos vinte e quatro anos, Terezinha teria prometido passar, no seu céu a fazer chover pétalas sobre a terra. As rosas seriam as graças que concederia aos sofredores. Os fiéis, até hoje rezam sua novena, e uma rosa costuma lhes ser dada quando a graça é obtida. Confesso que já me aconteceu algo assim ,o que contarei na parte II desse escrito.

Outra Santa de bela biografia é Santa Isabel, da Hungria, casada aos quinze anos e extremamente caridosa. Consta que fora acusada de estar dando aos pobres bens do castelo. Um dia saiu para distribuir comida, levando em seu avental, as esmolas. O marido perguntou-lhe ver o que carregava e ela respondeu; "Rosas". Quando ele quis ver, havia rosas e mais rosas no côncavo do avental. Depois contarei sua história. Nesse caso, é como se, do Alto, alguém avalizasse sua palavra, para inocentá-la na prática de uma caridade que era seu norte desde pequena.

A quintessência das rosas firma-se principalmente, em quatro princípios: seu olor é capaz de nos abrir o chacra cardíaco, provocar curas de ressentimentos, mágoas e outros sentimentos negativos. Uso aromaterapia em meu consultório e óleos de rosas sempre funcionam quando a pessoa sofre dores amorosas, decepções, ódios. Esfrego-o nas mãos, fricciono-as umas contra as outras, aquecendo-a e espraio-as ligeiramente acima do rosto do paciente em estado Alpha, relaxamento profundo. Quando a pessoa inspira profundamente, é harmonizado e o perdão acontece, às vezes perdoar a si próprio. As formas de uma rosa são perfeitamente colocadas no círculo perfeito de sua base - que estimula o desenvolvimento do chamado "terceiro olho", o "Ajna", ponto entre as sobrancelhas, o olho psíquico que faz enxergar com a visão interna do Eu Superior. O aroma é calmante. Sua beleza, de per-si, é um convite ao despertar dos sentidos, capas de propiciar cura. Seu gosto e componentes tem propriedades medicinais.

Antigamente, dificultadas pelos costumes, de falar diretamente com o objeto de seus amores, as pessoas, em especial as mulheres, sinalizavam, com rosas e outras flores), seus sentimentos. Evidentemente usar ou mandar rosas vermelhas queria dizer Paixão. As cor-de rosa significavam Amor. As amarelas, tanto "Estou com ciúmes", quanto mistério, indagação quanto ao sentir do Outro. As brancas, pureza, virgindade, amor sem exigências, amor incondicional. O costume de oferecer rosas, em que pesemos modismos e costumes em relação a outras flores (por exemplo, os regionais, como enamorados, na Áustria, oferecerem a Edelweiss, que floresce da montanhas geladas), atravessa os séculos. Quem não gosta de recebê-las, enfeitar a casa com elas?

Quando meus pais se conheceram, mamãe, que se chamava, por sinal, Terezinha do Menino Jesus, passava com uma rosa presa na ponta dos longos cabelos, por um grampo invisível. Consta, na crônica familiar, que meu pai, Lourival Pessoa da Silva, chamou-a:

- "Psiu, senhorita, a rosa está caindo".

E ela, com apenas quinze anos e que estava imitando a moda lançada em um filme por Doroty Lamour, a rosa na fímbria da cabeleira, respondeu, atrevidamente:

- "Está mais segura do que você".

Papai ficou perdidamente apaixonado e um mês e doze dias depois, estavam casados. Isso aconteceu em Natal, Rio Grande do Norte. Nasci nove meses e dez dias depois do enlace, em S. José de Mipibu. Sou fruto do poder das rosas, talvez por isso, as ame tanto.

Abel Fernandes (Natal, Reis Magos e Presentes)


Na verdade
O que caracteriza esse dia,
Ou essa noite tão solene,
Dia e Noite de Natal,
Tão singular, tão diferente
É o ato de cada amigo,
Irmão ou parente
Dar ao outro
Um inesquecível presente!...

Tudo começou
Em remota antiguidade...
Numa época onde tudo
Era só dificuldade!
Porque naqueles tempos não havia
Nem ônibus, nem iates, nem navios gigantes,
Nem automóveis velozes, nem jatos possantes,
Nada disso, no mundo, existia!

Para se chegar aos lugares mais distantes,
Ou se andava a pé, ou de camelo,
Ou de barco,
Ou de cavalo, ou de elefantes...

Mas quando o tão esperado Messias
Nasceu
O grupo dos Três Reis Magos resolveu
Mesmo habitando em terras mui longínquas,
Lá do Oriente,
Visitá-Lo, a Ele e aos seus pais,
José e Maria,
E levar-lhes, cada um, o seu famoso presente!

Sabe-se que um levou mirra, o outro ouro
(teria sido em pó, ou pepita?
Quem o souber, me esclareça
Essa pergunta está bem aqui na minha cabeça...)
E o terceiro
Um incenso perfumado...

Nenhum dos três levou dinheiro,
(Isto eu sei!)
Nem magníficos tesouros...
Embora todos fossem reis bem abastados!...
Talvez (Pois eram reis!)
Donos de posses e riquezas
Incontáveis...

Com certeza,
Não queriam bajular o Rei dos Reis,
Em sua santa e límpida pobreza
Nascido em tão simples estalagem...
Mas sim, apenas honrá-lo e prestar-lhe
Inteligente e respeitosa homenagem...

O ato singular, heróico e valente,
De ir lá pessoalmente
Valia mais do que ouro,
Luxos, pratas, jóias reluzentes,
Valia mais do que belas sedas macias,
Peças de cobre, bronze ou cintilantes cristais
Ou pedrarias...
Ou qualquer dessas coisas mundanas
(Para Deus) tão banais...

E andaram léguas e léguas no deserto...
O lugar onde Jesus nasceu não era perto!...
Ficava na cidade de Belém!
Muito longe, muito aquém
De onde moravam os três reis...

Dia e noite seguiram com paciência,
A bela e luminosa Estrela Guia
Em direção a Cidade prevista,
Guiados pela mágica Ciência
Cabalista
Pois eles conheciam muito bem
A Sagrada Astrologia!

Vejam que sacrifício atroz
Os três se submeteram humildemente!
Não levaram vassalos, nem ajudantes,
Nem soldados... Foram sós...
Os três com seus camelos serenos e ondulantes
Naquelas terras desérticas e quentes...

Tanto esforço, tanto sacrifício, sob sol escaldante
E inclemente!
Só para dar ao Bom Jesus Menino
Com seu olhar tão doce e cristalino
Cada um o seu enigmático, simbólico
E precioso presente!...

Quem for inteligente,
E amar o Saber Espiritual,
E quiser adquirir um conhecimento real,
Algo incomparável e sem igual,
É só pacientemente meditar
Sobre esta história tão bela e singular!...

É por isso que todos nós, nesta época atual,
Seguindo o belo exemplo dos três reis diligentes
Mantemos essa bela tradição de Natal
De dar aos nossos irmãos, amigos e parentes,
As mais belas recordações
(mesmo que sejam modestas e simples)
E os mais alegres presentes!

Fonte:
Poesia enviada pelo autor

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) O Gato Felix – III – A história do Visconde


Logo que a noite caiu, tia Nastácia acendeu o lampião da sala e disse: “É hora, gente!” Todos foram aparecendo e cada qual se sentou no lugar do costume. O último a vir foi o Visconde. Antes de entrar para a lata, aproximou-se de tia Nastácia e disse-lhe ao ouvido:

— Pegue na vassoura e ponha-a ao alcance de sua mão.

A negra achou esquisitíssima aquela idéia e pediu explicações.

— Não posso explicar coisa nenhuma — respondeu o Visconde. — Mas faça o que estou pedindo. Ponha a vassoura bem ao alcance de sua mão, porque no fim da minha história é bem possível que seja preciso “varrer” qualquer coisa...

A negra trouxe a vassoura e fez como o Visconde mandou, embora não pudesse nem por sombra adivinhar quais fossem as suas intenções. Liquidado o caso da vassoura, Emília disse:

— Tem a palavra o senhor Visconde de Sabugosa!

O Visconde ergueu-se dentro da lata, tossiu um pigarrinho e começou:

— Meus senhores e minhas senhoras!

O gato Félix espremeu uma risada irônica.

— Isso nunca foi história, senhor Visconde! Isso chama-se discurso e muito bom discurso. Pelo que vejo, ninguém nesta casa sabe contar histórias...

Aquilo era indireta para Emília, que se remexeu toda, já danadinha e pronta para responder. Mas Narizinho interveio e acalmou-a. O Visconde não se atrapalhou com o aparte. Limitou-se a lançar sobre o gato um olhar terrível, dizendo:

— Não é discurso, não, senhor gato! É outra coisa, e quem vai explicar o que é não sou eu e sim aquela senhora vassoura, ali ao lado de tia Nastácia...

Todos olharam muito espantados para o Visconde, sem compreender o que ele queria significar com aquilo. Em seguida o Visconde recomeçou:

— Meus senhores e senhoras! A história que vou contar não foi lida em livro nenhum, mas é o resultado dos meus estudos científicos e criminológicos. É o resultado de longas e cuidadosas deduções matemáticas. Passei duas noites em claro compondo a minha história e espero que todos lhe dêem o devido valor.

— Muito bem! — exclamou Narizinho. — Mas desembuche de uma vez.

— Era uma vez um gato — começou o Visconde. — Mas um gato à-toa de roça, um gato que não valia coisa nenhuma, além de que nascido com muito maus instintos. Se fosse um gato sério e decente, eu teria muito gosto em o declarar aqui, mas não era. Era o que se chama — um gato ladrão. E porque era um gato ladrão, ninguém queria saber dele. Na casa onde nasceu logo descobriram a sua má índole e o tocaram para a rua com uma boa sova. O gato saiu correndo e foi morar numa casa bem longe da primeira, dizendo que o seu dono tinha morrido e que ele era o melhor caçador de ratos do mundo. Todos acreditaram nas palavras do mentiroso e o deixaram ficar. Mas tão ordinário era esse gato, que em vez de corrigir-se e viver vida nova, continuou com maroteiras. Na primeira noite que dormiu nessa casa foi à cozinha e roubou um pedaço de carne que a cozinheira havia guardado para o dia seguinte. Roubou e ficou quietinho, deixando que a cozinheira pusesse a culpa numa pobre negrinha e a castigasse com vara de marmelo.

— Ah, eu lá! — exclamou Pedrinho. — Ferrava-lhe uma pelotada de bodoque, que ele havia de ver estrelas...

— Por fim — continuou o Visconde — também nessa casa lhe descobriram as patifarias e o puseram no olho da rua. Ele fugiu e resolveu mudar-se para um sítio onde houvesse muitos pintos. Achou o sítio que precisava e ficou morando lá. Mas o dono observou que os pintos estavam diminuindo, um, dois e até três por dia, e falou à mulher que ia arranjar um cachorro policial para tomar conta do galinheiro durante a noite. O gato ladrão percebeu a conversa e fugiu. Andou, andou, andou até que encontrou outro sítio onde moravam duas velhas e dois meninos, um do sexo masculino e outro do sexo feminino.

— Que coincidência! — exclamou Narizinho. — Parece o sítio de vovó...

— Escolheu esse sítio — continuou o Visconde — e foi entrando por ele a dentro com a maior sem-cerimônia deste mundo, com partes de que era um grande gato de família nobre e que tinha nascido num país estrangeiro, etc.

Emília olhou para o gato Félix.

— Deve de ser algum seu parente. Os traços estão muito parecidos...

— Não tenho parentes dessa laia — respondeu o gato com orgulho. — Esse gato ladrão deve de ser parente mas é dalguma senhora boneca...

— Continue, senhor Visconde — disse Narizinho.

O Visconde tossiu outro pigarrinho e continuou:

— O -tal gato ladrão ficou morando nesse sítio. Todos o tratavam com a maior gentileza, mas em vez de mostrar-se grato por tantas atenções, ele tratou de continuar a sua triste vida de gatuno. E foi e comeu um pinto carijó...

Neste ponto o Visconde parou e olhou firme para o gato Félix. O gato sustentou o olhar do Visconde e deu o desprezo.

O Visconde continuou:

— Comeu esse pobre pinto, que era tão lindo, e no dia seguinte comeu outro pinto ainda mais bonito. O gato Félix levantou-se indignado.

— O senhor Visconde está me insultando! — gritou. – Esses olhares para meu lado parecem querer dizer que sou eu o gato ladrão!...

O Visconde pulou fora da latinha e berrou:

— E é mesmo! O tal gato ladrão é você, seu patife! Você nunca foi gato Félix nenhum! Você não passa de um miserável comedor de pintos...

Foi um rebuliço! Todos se ergueram, sem saber o que fazer. O gato Félix, furioso da vida, berrou ainda mais alto que o Visconde:

— Prove, se for capaz! Prove que comi os tais pintos...

— Provo e já! — urrou o Visconde. — Tenho as provas aqui no bolso.

Disse, e puxou do bolso dois pelinhos de gato.

— Eis as provas! Este pêlo eu o encontrei no galinheiro, bem no local do crime e ainda manchado com o sangue da vítima. E este outro a senhora Emília arrancou dessas fuças, seu miserável! Estão aqui as provas. Quem quiser pode vir examiná-las com o binóculo de dona Benta. São perfeitamente iguais, até no cheiro. Ambas têm cheiro de gato ladrão!...

A prova era esmagadora. Tia Nastácia, passando a mão na vassoura, avançou feito uma onça para cima do falso gato Félix. O gatuno deu um pulo e sumiu-se pela janela na escuridão da noite.

— Bravos! Bravos ao Visconde! — exclamaram todos. — Viva o nosso Sherlock Holmes!... — Viva! Viva !...

E fizeram-lhe uma grande festa, e deram-lhe muitos abraços e beijos. Até Emília, que era muito envergonhada, encheu-se de coragem e beijou-o na testa.

Dona Benta tomou a palavra e disse:

— Vejam que injustiça íamos cometendo com o nosso pobre Visconde, só porque havia embolorado e estava muito feio! Os acontecimentos desta noite acabam de provar que ele é um verdadeiro sábio — e dos que dão lucro a uma casa. Deste momento em diante, quem vai tomar conta dele sou eu. Vou curá-lo do bolor e botá-lo como administrador do sítio.

O relógio bateu as dez horas, e enquanto os meninos se recolhiam a velha pegou o Visconde e guardou-o bem guardadinho na sua estante, entalado entre uma Aritmética e uma Álgebra – fato que iria ter notáveis conseqüências futuras.
––––––––
Continua... Cara de Coruja– I – Preparativos

Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

Semana Literária – Maputo 2011: O Ensaio para um Verdadeiro Festival Literário (até 16 de Dezembro)

Sala do Centro Cultural Moçambique-Brasil
Maputo (Moçambique) é palco de debates literários e palestras que juntam Governo, escritores, docentes de literatura e de língua portuguesa, artistas musicais e jornalistas, numa iniciativa denominada “Semana Literária”, levada a cabo pelo Movimento Literário Kuphaluxa, na semana em que comemora o seu segundo aniversário de criação. A decorrer nos dias 09, 12 a 16 de Dezembro, o evento visa igualmente marcar o início das ações rumo à realização daquela que será a primeira Festa Literária de Maputo, e acontece no Centro Cultural Brasil – Moçambique em Maputo, entre as 17 e 20 horas.

Durante seis dias, cerca de nove temas são debatidos seis temas, proferidas duas palestras e uma conversa lírica, a terminar com um sarau cultural intitulado “A encarnação do verbo”, para marcar a festa dos dois anos do movimento. A “Semana Literária” começa debatendo as questões do Livro como patrimônio e base de construção sociocultural, no dia 09 de Dezembro (sexta-feira) as 18 horas, pelos ministérios da Educação e da Cultura, Celso Muianga da editora Ndjira e a Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO), com a moderação do filósofo, escritor, crítico literário e docente universitário, António Cabrita.
Juvenal Bucuane

Segunda-feira, dia 12 de Dezembro, as 17 horas, a vez do tema “A organização dos escritores e o seu papel para a construção de um Moçambique Literário” a ser debatido pelo Secretário-geral da AEMO, Jorge de Oliveira e pelo escritor, Juvenal Bucuane.

No mesmo dia, as 18 e 30, os jornalistas e linguistas, debatem as páginas culturais e a abordagem dos assuntos literários, num debate a contar com três painelistas, nomeadamente, Policáripio Mapengo, jornalista do grupo SOICO (O País e Stv), Nélio Nhamposse, escritor e revisor linguístico, Rogério Guambe, linguista e director da Rádio Cidade em Maputo.

O atual estágio da Literatura Moçambicana e o surgimento de novos autores estará em discussão num debate encabeçado pelo escritor e docente de literatura moçambicana na Universidade Eduardo Mandlane, Lucílio Manjate, AEMO e pela editora Ndjira, na terça-feira, dia 13 de Dezembro as 17 horas.

Já no dia seguinte, quarta-feira, 14 de Dezembro, a escritora Ana de Sousa Baptista na companhia do escritor, docente universitário e membro da comissão nacional do Instituto Internacional de Língua Portuguesa, Calane da Silva, refletem sobre “as vantagens e desvantagens da ratificação do Acordo Ortográfico para a Literatura de língua portuguesa”, as 17 horas.

As 18 e 30 do mesmo dia, os escritores Élio Martins Mudender e Alex Dau, orientam uma palestra sobre “o ser escritor, o que escrever e para quê escrever”.

Quinta-feira, 15 de Dezembro, será a vez das mulheres. As escritoras Emmy Xyx e Rinkel, vão debater o espaço que as mulheres ocupam na literatura moçambicana, com a moderação da ensaísta e docente universitária, Sara Jonas, seguindo do tema “Revistas Literárias – a nascente dos escritores moçambicanos”, orientado por Pedro Chissano, que versará sobre a revista Charrua, Aurélio Furdela versará sobre a revista Oásis e por último Eduardo Quive, vai falar sobre a revista Literatas.

Sexta-feira, dia 16 de Dezembro, os ânimos da Semana Literária vão centrar-se, primeiro, numa Conversa Lírica intitulada “Ritmo, Arte e Poesia” com o rapper do agrupamento Xitiku ni Mbaula, Dinguizuay e pelo poeta, Sangare Okapi as 16 horas. Já ao anoitecer, será a vez do esperado sarau cultural “A Encarnação do Verbo” a ser abrilhantada por declamadores e leitores do Movimento Literário Kuphaluxa, entre representações teatrais, com a música a cargo do jovem músico Dudas Aled. Uma verdadeira noite de exaltação dos novatos e encerramento das actividades do ano 2011, em dias em que o Kuphaluxa regista os dois anos de existência.

A NOMEAÇÃO DE MEMBROS HONORÁRIOS

Marca a celebração dos dois anos do Kuphaluxa, a nomeação de membros honorários da agremiação, a figuras da literatura moçambicana e lusófona que contribuíram para o crescimento da mesma.

Entre os honrados, já são conhecidos como nomeados os escritores Rubervam Du Nascimento de Piauí, Brasil, que neste ano, na sua visita a Moçambique pela primeira vez, realizou diversas actividades com o movimento e a destacar, a doação de 50 livros da sua autoria. Ainda do Brasil, as escritoras, Ana Rüsche, e Luana Antunes Costa, integram essa lista, acompanhados pela escritora Lurdes Breda de Portugal. Ana Rusche, também deslocou-se a Maputo pela primeira vez e durante quatro dias realizou várias actividades com o Movimento Literário Kuphaluxa, além de ter trazido na sua bagagem, vários livros para oferecer ao movimento, a escolas e à Associação dos Escritores Moçambicanos (AEMO). Será a primeira vez que o Kuphaluxa vai anunciar oficialmente a nomeação de membros honorários, numa altura que só o escritor Calane da Silva tinha esse título.

Visite o blogue do Movimento Literario Kuphaluxa
http://kuphaluxa.blogspot.com

Fonte:
E-mail de comunicação do evento por Amosse Mucavelle.
http://festivalliterariodemaputo.blogspot.com/

Gislaine Canales (Feliz Natal)


As vozes dizem: Hosana!
É Natal. Só paz e amor!
O universo se engalana
num parto de luz e cor!

Papai Noel, com carinho,
eu te peço, por favor:
põe em cada sapatinho
uma gotinha de amor!

Neste Natal eu queria
que o mundo fosse melhor,
que presenteasse alegria
e desse abrigo ao menor!

Que a paz chegasse, afinal,
que a justiça se fizesse,
e um verdadeiro Natal,
realizasse, a nossa prece!

Da cidade da alegria,
desta Camboriú legal,
eu lhe desejo, em poesia,
um belo e feliz Natal!

Que, em 2012, a Trova
seja nossa inspiração
e o ano, que se renova,
tenha maior emoção!

Fonte:
Poema enviado pela autora

José Carlos Dutra do Carmo (Manual de Técnicas de Redação) Parte XIV


PARÁGRAFOS.

Use parágrafos diferentes para idéias (assuntos) diferentes. Uma redação sobre o carnaval atual, por exemplo, você poderá subdividi-la em três parágrafos, a saber:

PRIMEIRO PARÁGRAFO

Carnaval de clube, mencionando a grande beleza na sua decoração, a presença de dois conjuntos tocando, quando for o caso, para que o folião pule o tempo todo, sem parar, com mais conforto, pelo fato de o ambiente ser fechado, etc.

SEGUNDO PARÁGRAFO

Carnaval de rua, dando especial destaque ao desfile dos blocos, das escolas de samba e aos trios elétricos.

TERCEIRO PARÁGRAFO

Conclusão, citando a ressaca (o cansaço), o dinheiro gasto, as noites sem dormir, etc.

O texto deve ter parágrafos bem distribuídos, articulados e interligados um ao outro coerentemente.

Não construa parágrafos longos, constituídos de um só período composto, recheado de orações e de relações sintáticas.

Não faça parágrafos muito curtos nem muito longos. O ideal seria que contivessem, no mínimo, 4 linhas e, no máximo, 7 linhas.

Não deixe parágrafos soltos. Faça uma ligação entre eles, pois a ausência de elementos coesivos entre orações, períodos e parágrafos é erro grave.

Obedeça ao parágrafo ao iniciar a redação, isto é, não comece a escrever logo no início da linha. O parágrafo é marcado por um ligeiro afastamento com relação à margem esquerda da folha (três centímetros aproximadamente). E sempre que houver outros parágrafos no decorrer da redação, siga o alinhamento do parágrafo inicial.

PARÊNTESES, TRAVESSÃO DUPLO.

Sempre que quiser fazer dentro da narração ou da descrição, um comentário à parte, empregue os parênteses ou o travessão duplo.

PARÓDIA.

É a imitação engraçada ou ridícula de outro texto.

PERÍFRASE OU AUTONOMÁSIA.

É uma expressão que designa um ser através de alguma de suas características ou atributos, ou de um fato que o celebrizou.

Visitou a cidade do forró.
Pelé, o Rei do Futebol, fez muitíssimo pelo esporte.
O Príncipe dos Poetas também teve outras atividades que o tornaram famoso.

PERÍODO.

Construa períodos com duas ou três linhas no máximo.

PLANEJAMENTO.

Toda redação tem: Introdução (princípio), desenvolvimento (meio) e conclusão (fim).

O planejamento do texto que escreve não deve ser visto como algo contra sua liberdade de expressão, mas como um guia para aumentar suas chances de sucesso.

Planeje o texto.
Delimite o tema, defina o objetivo, selecione as idéias capazes de sustentar sua tese.
Depois, faça um plano com o assunto geral do texto, o aspecto do tema que vai ser tratado, aonde quer chegar e, finalmente, os argumentos, exemplos, comparações, confrontos e tudo que ajudar na sustentação do ponto de vista que quer defender.

PLANO.

Faça sempre, antes de escrever, um plano escrito de sua redação, para orientar-se e observar melhor a seqüência das idéias apresentadas.

PLEONASMO OU REDUNDÂNCIA.

É a repetição desnecessária de palavras, expressões ou idéias.

FRASES COM PLEONASMOS__________CORRIJA-AS PARA
Subir para cima______________________Subir
Entrar para dentro____________________Entrar
Voltar para trás______________________Voltar
A brisa matinal da manhã enchia-o de alegria.___A brisa matinal enchia-o de alegria.
Ele teve uma hemorragia de sangue. _______Ele teve uma hemorragia.

No entanto, pode ser usado como figura de construção, com função estilística, para enfatizar uma idéia e tornar a mensagem mais expressiva.

A mim, ensinou-me tudo.
A música exige ouvidos de ouvir!
As flores, dou-as a você, com carinho.

PLURAL.

Cuidado com a formação do plural de algumas palavras, sobretudo as compostas — primeiro-ministro, abaixo-assinado, lusobrasileiro, etc.

POLISSEMIA.

Tire proveito da polissemia das palavras, para criar situações de mal-entendidos e de humor.

Os políticos fazem na vida pública o que os outros fazem na privada.

A máquina de ferro resfolegava à distância, seu apito chegando até os passageiros que esperavam pelo embarque. Quando o trem parou, a movimentação tomou conta da plataforma da estação.

POLISSÍNDETO.

É a repetição de conjunções para conseguir determinado efeito na frase. Use-o nas enumerações para sugerir o excesso e a reação da personagem ou do narrador a esse exagero.

FRASES COM POLISSÍNDETOS

Mão gentil, mas cruel, mas traiçoeira.
Falei, e falei, e pedi, e supliquei, tudo em vão.
Foi então que chorei e chorei até que ele me ouvisse.

Fonte:
http://www.sitenotadez.net

Manoel Barros (Poemas Rupestres) Parte VII, final


O COPO

Estava o jacaré na beira do brejo
tomando um copo de sol.
Foi o menino
E tascou uma pedra
No olho do jacaré.
O bicho soltou três urros
E quebrou o silêncio do lugar.
Os cacos do silêncio ficaram espalhados
na praia.
O copo de sol não rachou nem.

Uma metáfora sustenta a construção deste poema: ‘um jacaré tomando um copo de sol!'

Como sempre o infante mexeu com o jacaré e lhe tascou uma pedra no olho. Os urros do jacaré suscitaram a outra grande metáfora do poema: ‘quebrou o silêncio do lugar!' e os cacos do silêncio, para o menino ficaram espalhados na praia devido ao urros do jacaré ofendido no olho.

Mas a metáfora do poema persiste: ‘O copo de sol não rachou nem!”

Talvez o poema tenha surgido devido ao linguajar popular que afirma “estou tomando sol”. No poema o sol é servido no copo.

ARMÁRIO

O avô despencou do alto da escada aos
trambolhos.
Como um armário.
O armário quebrou três pernas.
O avô não teve nada.
Ué! armário não é só um termo de comparação?
Aqui em casa comparação também quebra perna.
O avô dementava as palavras.

Como no poema anterior, o poeta brinca com as palavras e com as possibilidades que existem nelas de as fazer significar. Com uma agilidade de criança usa de uma metáfora, como usara no poema anterior, com a palavra polissêmica maçã, com a palavra armário e com os jogos de linguagem com as pernas.

Como interlocutor aparece o avô que tem gosto inusitado de estar em lugares muito estranhos.

Ainda tem uma maneira especial de se relacionar com o processo metafórico, torna-o lúdico e lhe revela o caminho de adquirir outro significado, mas ironiza e cria outro sentido, outro processo, mais aberto: “Aqui em casa comparação também quebra perna.” Como o avô poderia ter quebrado a perna pelo tombo assim como o armário que, imaginariamente, teria despencado da escada e quebrado três pernas, somente como segundo termo de comparação, o que não aconteceu, pois o avô não quebrou a perna como o armário deveria ter quebrado três pernas.

Como conclusão: “O avô dementa as palavras.” Estas, quando nas mãos do avô despreendiam-se de seus significados comuns, enlouqueciam e passavam a indicar o inusitado. Esse avô tornou-se poderoso e bom mestre do poeta. Poesia ou poeta é aquele que enlouquece as palavras para fazê-las dizer ou significar algo fora do seu comum expressar.

Enlouquecer as palavras é tirar-lhes a lógica comum para assumir outros parâmetros de significação, principalmente para inaugurar sentidos e horizontes novos. Também para inaugurar poetas. Em outras palavras, o avô, o poeta, carnavaliza as palavras.

O CASACO

Um homem estava anoitecido.
Se sentia por dentro um trapo social.
Igual se, por fora, usasse um casaco rasgado
e sujo.
Tentou sair da angústia
Isto ser:
Ele queria jogar o casaco rasgado e sujo no
lixo.
Ele queria amanhecer.

Poema simples e extraordinário capaz de revelar as angústias humanas.

Com três metáforas básicas disseca a evolução interior do homem.

Entre os limites do paradoxo entre o anoitecer e o amanhecer, acontece o traçado da angústia de um homem.

No trajeto de sua história ele – “Se sentia por dentro um trapo social”. Maior desgaste ou estado lamentável não poderia haver.

Em seguida para descrever o estado de miséria interior, usa a metáfora do ‘casaco rasgado e sujo'.

A concepção do poeta coloca nele a capacidade de reagir e de suspirar por outros momentos, quer sair dessa situação. Então o homem “queria jogar o casaco rasgado e sujo no lixo.” Essa atitude do homem angustiado é o exato momento, situação ou realidade que o poeta quer expressar, quer colher com dignidade.

Angustiar-se e anela-se,r deixar o peso da angústia, querer sair do jugo da angústia é o instante ou momento que é aprofundado e retratado pelo poeta como a vontade de um nascimento, de um renovo. A força da vida e dos desejos de liberdade e tranqüilidade impele o homem para uma situação de dignidade ou de abertura. O instante da constatação do nascimento desse desejo é construído pelo poeta com um verso magistral que inaugura a vida, a força vital, a alma humana e seus anseios: “Ele queria amanhecer”.

“Amanhecer” é a grande metáfora de todos os inícios e de todas as situações de renovação e de todas as esperanças de renascimentos. Aqui, pelo contexto do poema o verso inaugura a força, mesmo humilde, do início de um desejo, de um princípio de querer renovar-se.

Por outro lado o verbo amanhecer, por sua natureza abre horizontes amplos e iluminados. Um homem que quer amanhecer, quer deixar o horizonte estreito e estrangulador de uma noite de angústia da alma.

Não poderia haver fecho mais poético que “Ele queria amanhecer”.

O OLHAR

Ele era um andarilho.
Ele tinha um olhar cheio de sol
de águas
de árvores
de aves.
Ao passar pela Aldeia
Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos.
O silêncio honrava a sua vida.

O olhar como ponto de vista para se entender e entender o mundo ou os processos. Surge neste pequeno poema uma consideração pelo homem e por valores da vida a partir de um foco: o olhar.

Antes de tudo somente vê quem quer ver. Pode-se olhar para tudo e a nada se fixar ou adquirir uma ciência que passa pelos olhos para se enxergar e perceber as diversas dimensões da vida.

O olhar no poema surge pela metáfora do andarilho. O andarilho pode e deve em seu percurso ter pontos de vista bem diferentes. Não repete o ponto de partida para fixar a origem, o olhar e, concomitantemente, o sujeito do olhar. O andarilho varia constantemente seu ponto de vista e não se repete. Esse andarilho tem a propriedade de ter um olhar marcado pela liberdade do trajeto. De outra forma, o percurso do andarilho vai semeando-lhe pontos de vista para contemplar as paisagens. Uma vez escolhido o percurso determinam-se os pontos de vista do olhar. Porém, no poema, a denominação de andarilho está para a plena liberdade dos percursos. Andarilho combina com aquele que anda sem rumo fixo, determinado. Este é o ponto de vista do poeta que assim vai explicitando o olhar do andarilho.

Ele tinha um olhar cheio de sol
de águas
de árvores
de aves.

Constata-se que o andarilho tinha um olhar de amplidão; fixava-se em horizontes vastos e nunca repetidos: o sol marca sua trajetória pelo movimento contínuo (Nosso), as águas não se repetem, mesmo quando em estado de lagoas ou represadas; as árvores estão aí mas variam, e finalmente as aves que não repetem os seus vôos. Assim tudo pode ser diferente a cada momento: o sol visto por entremeio das nuvens ou com céu límpido; as águas em seus movimentos que inventam até sons e as aves que não deixam rastros.

Elementos que determinam uma qualidade vital para a variabilidade da vida, a liberdade para se construir e inventar.

Tudo o que é muito poderoso e definitivo ou definido já dominou o seu horizonte, não poderá ver como o andarilho aprendeu a ver. O poder e as certezas estabelecidas impedem a simplicidade para se recriar ou mudar de lugar, do ponto de vista para se ver e ver a realidade. No andarilho as possibilidades foram incorporadas a ponto de o poeta afirmar que o seu olhar tinha os pontos de vista do sol, das águas, das árvores e das aves. Nem sequer deixou de ser pessoa ao incorporar as visões de outras perspectivas, simplesmente ampliou a sua liberdade.

O preço de sua liberdade foi o julgamento dos “outros” que se fixam – o desapego era evidente ou notável a ponto de “Ele sempre me pareceu a liberdade em trapos”. Logicamente aqui para expressar a abrangência desse estado de liberdade, nem sequer necessita de proteção da roupa. Uns simples trapos compõem sua liberdade. Trapos aqui não para dizer o empobrecido, mas o ampliado.

Por fim o poeta conclui: “O silêncio honrava a sua vida”.
O comedimento de quem descobriu a simplicidade e não se põe a julgar. Somente pode assumir o silêncio como experiência do aprendizado e do aprofundamento. As descobertas são tantas que a possibilidade de outras tantas leva-o a esperá-las, a estar comedido em seu olhar que lhe oferece a simplicidade como valor e parâmetro. Acredita que todos estejam iluminados em suas liberdades para integrarem as inaugurações que o mundo e a vida lhes oferecem.

De forma inequívoca o silêncio deveria ser a aura de sua liberdade, de seus pontos de vista inaugurados com simplicidade e sabedoria. Nem todos estão preparados para abrir mão do poder, até o poeta que se admirou do andarilho.

––––––––––––––-
Nota do Blog: Alguns poemas do livro foram propositalmente não incluidas nestas análises por serem de teor erótico, o que estaria ferindo os objetivos deste blog.

Fonte:
Portal das Letras - Pe. Afonso de Castro
http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/p/poemas_rupestres

Cesar Cardoso (Lançamento dos Livros Infantis: O Que É Que Não É? e Você Não Vai Abrir?)


O escritor Cesar Cardoso está lançando dois novos livros para o público infantil. O Que É Que Não É?, ilustrado por Cris Alhadeff, é um jogo de esconde-esconde entre as imagens e o texto, onde um inocente chafariz pode virar um esguicho de baleia. Mal saiu do forno, o livro já foi selecionado para o Programa Nacional de Biblioteca da Escola - PNBE, e chegará às bibliotecas das escolas públicas de todo o país. Você Não Vai Abrir?, ilustrado por Salmo Dansa, propõe um outro jogo. Nas páginas dele, o autor e o próprio livro discutem quem é que realmente conta as histórias. E na briga dos dois quem sai ganhando é o leitor, que se delicia com poesias, contos, notícias e outros textos, sempre com muito humor.

Os dois livros, publicados pela Editora Biruta, serão lançados na Livraria Museu da República, na quarta feira, dia 14 de dezembro, das 19 às 22 horas. A livraria fica na Rua do Catete 153, no Rio de Janeiro.

O carioca Cesar Cardoso (1955) é escritor, poeta, fotógrafo e roteirista e edita o blog PATAVINA'S (http://cesarcar.blogspot.com). Em 2010 realizou a exposição de fotos No Vermelho Piscante Gire Com Cuidado, no Centro Cultural Carioca. Já escreveu para programas como Tv Pirata, Sai de Baixo, a Grande Família, Toma Lá Dá Cá e atualmente está no programa Os Caras de Pau, da Rede Globo.

Fonte:
O Autor

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Paraná em Trovas Collection - 28 - Sinclair Pozza Casemiro (Campo Mourão)

Clevane Pessoa (Para Sermos Nós Mesmos)


Temos que aprender a reedificar nossas edificações interiores, que muitos tentam destruir. Dentro de nós, nos vem um instrumento belo e forte que se chama intuição. Caímos num mundo feito muito, muito tempo antes de nós, e ele está cheio de dogmas, leis, normas e preceitos, conceitos e preconceitos. Necessidades que nos afastam de nós mesmos. Crianças costumam acreditar - e uma de nossas maiores "conquistas" apreendidas do mundo externo é desacreditar no outro, desconfiar de quem nos cerca. Como nos enganam, quando nos fazem esquecer a criança dentro de nós...

Se estamos a caminhar apressados e nos perguntam as horas, levamos um susto, a carga adicional de adrenalina no sangue, a taquicardia paroxística, traduzidas do medo que hoje sentimos de outros humanos, é muito triste.

Claro, há motivos: assaltos, arrastões, seqüestros relâmpagos e demorados. Numa capital, por exemplo, não se fica a conversar na porta de casa, não se cumprimenta quem por nós passa muito depressa, tão depressa quanto nós também passamos pelos outros. Nas praças, caminha-se, corre-se, sem sequer olhar para os lados. Às vezes, um cãozinho na coleira nos proporciona um dedo de prosa. Não são contados "causos".

Aquele que morre, é um entre dezenas. O que nasce, na Maternidade, já terá a companhia de outras pessoazinhas nos berçários.

Não somos mais "o" alguém... O filho de seu fulano, o neto do velho beltrano. Passamos a ser " um". Um médico, um carteiro, uma advogada, mais um, mais uma.

Kierkegaard,em 1850, já chamava a atenção para o fato de que um indivíduo será sempre superior à sua espécie vista como um todo.

A nossa individualidade é que nos torna singulares. Claro, a adaptabilidade é um exercício: sofre menos, quem se adeqüa ao necessário. Mas não precisamos ser quais animaizinhos amestrados, aquele que se curva ao mestre, ao dono, ao chefe, a patrão, a ponto de perder-se de si, nem adestrados, aqueles que renunciam aos seus próprios ideais e filosofia de vida, à sua maneira de ser, para não perder um emprego, um status, um casamento sem amor, mas que traz benefícios pecuniários, por exemplo.

Há um tempo, na vida, em que precisamos, sim, ser alunos e ter mestres. Somos filhos a quem os pais ensinam. Temos de respeitar os que vieram antes, os que já estudaram mais, os mais sábios, instrutores de fé, de crenças. Mas nem estes têm direito de nos subjugar, amordaçar, calar.

Respeitar alguém não significa ser-lhe subserviente. O brio de ser, o brilho da individualidade, somente lustra nossa personalidade.

Quantos, para agradar a companheiros conjugais, amantes e namorados, não raras vezes, amigos, anulam-se, desconstroem-se, desinstalam-se de seus melhores traços? Renunciam a suas metas, a seus dons, a seus talentos.

Somente deveremos exercer profissões que nos atraiam, nas quais nos sintamos realizados e felizes.

A propósito: há algo de mal na felicidade? Quantas pessoas acreditam-se não merecedores da felicidade plena? Pois saibam que a busca da ventura é o primeiro dever do seres humanos.

Quando, em outubro, fui ao CLESI, em Ipatinga, MG, receber a antologia Prosa Gerais e o troféu de segundo lugar por "O balão Amarelo", conheci, na van do Resort San Diego, que nos levava ao auditório da USICULTURA, um jovem e talentosos poeta e contista.

Conversa vai, conversa vem, ele contou que morava em Juiz de Fora (onde morei), que era belorizontino (onde agora resido). E, pasmem (eu não!), deixou o cursos de Medicina, para ser... Poeta.

Adorei conhecer tal força, tal auto-respeito, em alguém ainda longe dos trinta anos anos. Ele subiu ao palco três vezes. Certamente as palmas, para os conhecedores, como eu, dessa escolha maravilhosa, tinham um sentido muito maior.

Sim, às vezes, é belo renunciar. Mas por uns tempos, por favor! Como viver longe de si mesmo, da pessoa que você veio destinada a ser? É preciso adquirir a habilidade de estabelecer espaços, hiatos de temporalidade, momentos de generosidade em prol do outro. Isso é belo. Mas assim que puder, rasgue os ombros e deixe que dos cortes, nasçam asas. E voe, sendo você mesmo...

Há quase três décadas, escrevi:

"A liberdade de ser
É o espaço do ser,
Dentro do estar, para fazer-se."

Eu própria, embora não divorciada da Literatura, nem dissociada de minha essência poética,p ara responder às necessidades de ser companheira e mãe, deixei por uns tempos,paralela a tudo mais, a minha vocação de escrever.

Assim que pude, no entanto, retomei as hastes de minhas flâmulas, redesenhei os brasões de meu ideal e voltei ao meu fazer de escritora, amante das palavras, sacerdotisa do verbo.

E jamais escrevi tanto: eu , de mim, aqui estou, militante por mim mesma, pelo meu modo de ser- estar no mundo...

O sentido da Vida, é simples:viver. Mas não se traia, nem se esqueça. Lembre-se de você, fruto de si mesmo. Lembre-se sempre de ser único. Você...

Com os melhores votos de feliz e consciente Ano Novo. Sempre é tempo de mudar, quando é preciso. Mude para melhor. Você tem esse direito. Todos nós temos: o direito de sermos nós mesmos.

Artur de Azevedo (Assunto para um Conto)


Como sou um contador de histórias, e tenho que inventar um conto por semana, sendo, aliás, menos infeliz que Scherazade, porque o público é um sultão Shariar menos exigente e menos sanguinário que o das Mil e Urna Noites, sou constantemente abordado por indivíduos que me oferecem assuntos, e aos quais não dou atenção, porque eles em geral não têm uma idéia aproveitável.

Entre esses indivíduos há um funcionário aposentado, que na sua roda é tido por espirituoso, o qual, todas as vezes que me encontra, obriga-me a parar, diz-me, invariavelmente, que estou ficando muito preguiçoso, e, com um ar de proteção, o ar de um Mecenas desejoso de prestar um serviço que aliás não lhe foi pedido, conclui, também invariavelmente:

- Deixe estar, que tenho um magnífico assunto para você escrever um conto! Qualquer dia destes, quando eu estiver de maré, lá lh'o mandarei.

Há dias, tomando o bonde para ir ao Leme espairecer as idéias, sentei-me por acaso ao lado do meu Mecenas, que na forma do costume começou por invectivar a minha preguiça, e prosseguiu assim:

- Creio que já lhe disse que tenho um assunto para o amiguinho escrever um conto...

- Já m'o disse mais de vinte vezes!

- Qualquer dia lá lh'o mandarei.

- Não! Há de ser agora! O senhor tem me prometido esse assunto um rol de vezes, e não cumpre a sua promessa. Nós vamos a Copacabana, estamos ao lado um do outro, temos multo tempo... Venha o assunto!...

- Não; agora não!

- Pois há de ser agora, ou então convenço-me de que tal assunto não existe, e o senhor mentiu todas as vezes que m'o prometeu!

- Ora essa!

- Sim, que o senhor tem feito como aquele cidadão que prometia ao Eduardo
Garrido, todas as vezes que o encontrava, um calembour para ser encaixado na primeira peça que ele escrevesse. Até hoje o Garrido espera pelo calembour!

- Eu tenho o assunto do conto, explicou o Mecenas, mas queria escrevê-lo...

- Para quê? Basta que m'o exponha verbalmente.

- Então lá vai: é a história de uma herança falsa, um sujeito residente na Espanha escreve a outro sujeito residente no Rio de Janeiro uma carta dizendo
que morreu lá um homem podre de rico, chamado, por exemplo, D. Ramon, e que esse homem não deixou herdeiros conhecidos: a herança foi toda recolhida pela nação; mas o tal sujeito residente na Espanha, que é um finório, manda dizer ao tal sujeito residente no Rio de Janeiro, que é um simplório, que existem aqui herdeiros, cujos nomes ele não revelará ao simplório sem que este mande pelo correio tantas mil pesetas. O simplório manda-lhe o dinheiro, e fica eternamente à espera dos nomes dos herdeiros. - Que tal?

- Muito bom!

- Você não acha aproveitável este assunto?

- Acho-o magnífico, interessantíssimo, espirituoso! Tanto assim que vou escrever o conto e publicá-lo no próximo número d'O Século!

- Ora, ainda bem! Quando lhe faltar assunto, venha bater-me à porta: o que não me falta é imaginação!

- Muito obrigado; não me despeço do favor.

Como vê o leitor, aproveitei o assunto do imaginoso Mecenas.

Guerra Junqueiro: Contos para a Infância (Não Quero)


Um dia, indo eu pela estrada, ouvi dois rapazinhos falando muito alto:

– Não, dizia um com voz enérgica, não quem.

Parei e perguntei-lhe:

– Que é que tu não queres, meu rapaz?

– Não quero dizer à minha mãe que venho da escola, porque é mentira. Vai-me ralhar, bem sei; mas dantes me ralhe do que mentir.

– E fazes bem, volvi eu. És um rapaz como se quer.

Apertei-lhe a mão, enquanto o outro pequeno, o que lhe insinuara a mentira, se ia embora todo envergonhado.

Daí a tempos, passando pela mesma aldeia e necessitando de falar ao professor, entrei na escola, onde reconheci logo os dois pequenos; o que não quis mentir, sorria-me, enquanto que o outro, vendo-me, baixou os olhos. Ao despedir-me, interroguei o mestre sobre os dois alunos:

– Oh! disse-me ele, falando do primeiro, é um magnífico estudante, um pouco teimoso mas honrado, sincero, sempre disposto a confessar as suas faltas e, o que é ainda melhor, a repará-las. O outro, ao contrário, é mentiroso, covarde, incorrigível.

– Pois já vejo que me não tinha enganado.

E contei-lhe o que se passara.

Fonte:
Guerra Junqueiro. Contos para a infância.