quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Monteiro Lobato (Reinações de Narizinho) Circo de Cavalinhos – V– O espetáculo

A alegria no circo era imensa. Ainda que o espetáculo não valesse nada, todos se dariam por bem pagos da viagem pelo simples prazer da reunião. Os convidados do reino das Águas Claras estavam radiantes de se verem com os famosos personagens que até ali só conheciam através dos livros de histórias. E estes, como fazia muito tempo que não vinham à terra, estavam satisfeitíssimos de se verem em companhia de crianças de carne e osso.

Já soara o terceiro sinal e nada do espetáculo ter começo. O “respeitável público” ia ficando irritado. Narizinho achou que o melhor era começar imediatamente.

— Não posso antes de vovó chegar — alegou Pedrinho. — Está se arrumando ainda. Como as princesas vieram, vovó teve de mudar de vestido e está passando a ferro aquele de gorgorão do tempo do Imperador. Tia Nastácia não sei se vem. Está com vergonha, coitada, por ser preta.

— Que não seja boba e venha — disse Narizinho. — Eu dou uma explicação ao respeitável público.

Afinal as duas velhas apareceram — dona Benta no vestido de gorgorão, e Nastácia num que dona Benta lhe havia emprestado.

Narizinho achou conveniente fazer a apresentação de ambas por haver ali muita gente que as desconhecia. Trepou a uma cadeira e disse:

— Respeitável público, tenho a honra de apresentar vovó, dona Benta de Oliveira, sobrinha do famoso cônego Agapito Encerrabodes de Oliveira, que já morreu. Também apresento a princesa Anastácia. Não reparem ser preta. É preta só por fora, e não de nascença. Foi uma fada que um dia a pretejou, condenando-a a ficar assim até que encontre um certo anel na barriga de um certo peixe. Então o encanto se quebrará e ela virara uma linda princesa loura.

Todos bateram palmas, enquanto as duas velhas se escarrapachavam nas suas cadeiras especiais.

— Palhaço! — gritou o Pequeno Polegar.

— Podemos dar começo — disse Pedrinho à menina. — Vá preparar a Emília que eu vou cuidar do palhaço.

Como o primeiro número do programa era uma corrida a cavalo da Emília, Narizinho deu-lhe os últimos retoques e fez-lhe as últimas recomendações. Pela primeira vez na vida a boneca mostrava-se um tanto nervosa. Blem, blem, blem, soou a enxada. Era hora.

Uma cortina se abriu e a boneca entrou em cena montada no seu cavalinho de rabo de galo. Foi recebida com uma chuva de palmas. Emília fez uma graciosa saudação de cabeça, atirou uns beijinhos e começou a correr.

Correu várias voltas, umas sentada de banda, outras, de pé num pé só.

— Que danada! — exclamou dona Benta. — Nunca pensei que Emília se saísse tão bem; até parece o Tom Mix...

Tia Nastácia apenas murmurou “Credo”! e persignou-se.

Quando chegou o momento de pular os arcos, surgiu lá de dentro Faz-de-conta com dois deles na mão. Coitado! Estava mais feio do que nunca na roupa de cowboy que Narizinho lhe arranjara. Aladim virou se para o Gato de Botas e disse: “Este é que é o verdadeiro Cavaleiro da Triste Figura”, e o Pequeno Polegar berrou: “Arranca o prego, bicho careta!”

Aquele prego de Faz-de-conta, cuja cabeça aparecia quando ele estava sem chapéu e cuja ponta furava as costas de todos os seus casacos, era um eterno assunto de discussão no sítio. Pedrinho achava que deviam chamar o doutor Caramujo para operá-lo, cortando com a sua serrinha o extravagante apêndice. Mas a menina era de opinião que tal ponta de prego constituía a única arma do coitado. Além disso, era um bom cabide que ela costumava utilizar nos seus passeios com a boneca. Para pendurar coisas leves, como chapéu ou o guarda-chuvinha da Emília, nada melhor. E em vista dessa utilidade a ponta de prego ia ficando nas costas do coitado.

Faz-de-conta não ligou importância às troças que o público fez à custa dele. Trepou num banquinho e segurou com toda a convicção o arco de papel vermelho que Emília ia pular. A boneca botou o cavalo no galope, correu duas voltas e na terceira — zupt! deu um salto. Os espectadores romperam em palmas delirantes. O segundo arco era de papel azul e o terceiro, de papel verde. Emília pulou com a mesma habilidade o azul; mas ao pular o verde houve desastre.

Imaginem que o cavalinho entendeu de pular também! Pulou, não há dúvida, mas o seu rabo de pena enganchou no prego de Faz-de-conta, onde ficou dependurado. Quando o público viu que o rabo de pena havia passado do cavalinho para o cabide do boneco, foi uma tempestade de gargalhadas. Não percebendo o que havia acontecido, Faz-de-conta recolheu-se aos bastidores balançando ao vento aquele penacho.

Emília também não percebeu o desastre, e julgando que as risadas e vaias eram para ela, parou, vermelhinha como um camarão, e botou uma língua de dois palmos para o público. E recolheu-se furiosa.

— Não brinco mais! — disse lá nos bastidores, arrancando e espatifando o saiote de gaze. — Não sou palhaço de ninguém.

Foi um custo para Narizinho explicar o que havia acontecido e provar que a vaia tinha sido no cavalo e no boneco, não nela. A raivosa Emília voltou-se então contra o pobre Faz-de-conta.

— Estupido! Onde se viu tamanho homem andar de fisga nas costas, feito anzol?

— Que culpa tenho? — gemeu o feiúra tristemente. — Nasci assim...

— Pois não nascesse! — rematou a boneca — e por força do hábito pendurou-lhe na ponta do prego o esfrangalhado saiote de gaze.
––––––––––––––
Continua… Circo de Cavalinhos – VI – O desastre
Fonte:
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Col. O Sítio do Picapau Amarelo vol. I. Digitalização e Revisão: Arlindo_Sa

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Trova Ecológica 65 - Wagner Marques Lopes (MG)


Trovadores do Além (Parte 1)

1
Nenhuma ciência elucida
Onde a saudade é mais forte:
Se nas lágrimas da vida,
Se nos júbilos da morte.
SOARES BULCÃO

2
O mal é o mesmo em ofensas
De obsessões infelizes,
Quando dizes e não pensas,
Quando pensas e não dizes.
MARCELO GAMA

3
Mãezinha, não sei ao certo
Onde a ausência dói mais fundo.
Se na paz do firmamento,
Se na dor que envolve o mundo.
RUBENS DE SÁ

4
Para as tristezas da vida,
Trabalho é o grande remédio.
Quem com tédio mata o tempo,
O tempo mata de tédio.
CRISTÓVÃO BARRETO

5
O ouro, por mais renome,
Guarda esquisita função:
No cofre, piora a fonte,
No trabalho, gera o pão.
VIRGÍLIO BRANDÃO

6
Escreves? A cada traço,
Relembra a morte terrena...
Há muita pena no Espaço
Apenas devido à pena.
BATISTA CEPELOS

7
Reencontrei-te reencarnada...
Imagina o meu deserto!...
Rever-te perto e tão longe,
Sentir-te longe e tão perto...
LÍVIO BARRETO

8
Saudade – angústia que embala,
Tem um ponto impertinente:
Quem sente, às vezes não fala.
Quem fala, às vezes não sente.
ROBERTO CORREIA

9
Do Além se vê, face a face,
O que nunca se entendeu,
Na morte de quem renasce,
Na vida de quem morreu.
HELVINO DE MORAIS

10
Estranha contradição
Que a Terra vira e revira:
Muita mentira é paixão,
Muita paixão é mentira.
EMÍLIO DE MENEZES

11
Que conflito doloroso
No antigo romance nosso!
Quero amar-te e não consigo,
Quero esquecer-te e não posso.
LAURO PINHEIRO

12
Para a Justiça de Deus,
Tem muito mais expressão
A gota de caridade
Que o rio da pregação.
MARTINS COELHO

13
Saudade – sombra erradia
Que envolve a gente na estrada,
Lembra chuva mansa e fria
Numa casa destelhada.
TARGÉLIA BARRETO

14
Não sei de amor tão perfeito
Que esta divina ternura
Que as mãos carregam no peito
E guardam na sepultura.
VIDA

15
Desencarnei... É verdade,
Mas prodígios não me peças!
Já tenho a infelicidade
De ver o mundo às avessas.
RAUL PEDERNEIRAS

16
Que o mundo não te embarace
Na aparência fementida.
A vida que está na face
Não mostra a face da vida.
SABINA BATISTA

17
Bênçãos de Deus! – para vê-las,
Basta olhar por onde fores,
O céu repleto de estrelas,
A terra cheia de flores.
GOMES LEITE

18
Agora não mais me iludo
De que, na Terra ensombrada,
Quem não tem nada tem tudo,
Quem tem tudo não tem nada.
ANTÔNIO SALES

19
Tarde percebo no Espaço
A grande filosofia...
O que fazia não faço,
O que faço não fazia.
XAVIER DE CASTRO

20
Adoro a Terra, entretanto,
Vale mais no meu arquivo
Ser vivo depois de morto,
Que ser morto sendo vivo.
MARTINS COELHO

21
Do que vejo após a morte,
Que mais me causa aflição,
É ouro na caixa forte
E pequeninos sem pão.
JUVENAL GALENO

22
Toda mulher é uma estrela,
Se traz, seja linda ou não,
A palma do sacrifício
Na palma de sua mão.
IRENE SOUZA PINTO

23
Ventura! – riqueza d’alma
Que atirei pela janela.
Saudade! – retrato vivo
Do bem que se foi com ela.
ARTUR RAGAZZI

24
As coroas de finados,
Na campa de quem morreu,
São grandes zeros dourados
Se a vida nada valeu.
CORNÉLIO PIRES

25
A pessoa vigilante
Usa verbo temperado;
Nem franqueza com pimenta,
Nem brandura com melado.
DERALDO NEVILE

26
Boneca que sempre riste
De alma gelada e insincera,
Ah! Boneca, como é triste
A solidão que te espera!
VIVITA CARTIER

27
O mundo aplaude e coroa
Quem vence a batalha a esmo,
Mas, no Além, o vencedor
É quem venceu a si mesmo.
ANTÔNIO AZEVEDO

28
Palavras – formas da imagem
Que o cérebro deita aos molhos.
Pranto – divina linguagem
Do coração pelos olhos.
CHIQUITO DE MORAIS

29
Por mais que o mundo progrida,
Vale o antigo passaporte;
Velha campa – nova vida,
Novo berço – velha morte
GODOFREDO VIANA

30
Não há júbilo, a rigor,
Que se possa comparar
Ao de amor que encontra o amor
Depois de muito esperar.
MACIEL MONTEIRO

31
Mãe, abençoa teu filho
Mesmo ingrato, rude e vão.
A luz nunca perde o brilho
Por derramar-se no chão.
RITA BARÉM DE MELO

32
Há muita paixão que arrasa
Qual fogueira bela e vã.
Hoje, brilho, chama e brasa,
E muita cinza amanhã.
MARCELO GAMA

33
Criança, - linda semente,
Raio de luz a sorrir.
É nesse pingo de gente
Que Deus te entrega o porvir.
BELMIRO BRAGA

34
Muitos vivos vendo o morto
Sentem pânico profundo,
E há muito morto com medo
Dos vivos que estão no mundo.
CARLOS CÂMARA

35
Não sei discernir qual seja
Mendigo mais sofredor,
Se o pobre que pede pão,
Se o rico que pede amor.
AUGUSTO DE OLIVEIRA

36
Eis o quadro mais perfeito
Que já vi do desconforto:
Mãe transportando no peito
A mágoa de um filho morto.
MARIA CELESTE

37
Afeições vistas do Além
Em cem paixões que entrevejo:
Uma delas – amor puro;
Noventa e nove – desejo.
LUCÍDIO FREITAS

38
O coração quando ama
É céu que brilha de rastros,
Luz de Deus que desce à lama,
Ou lama que sobe aos astros.
SABINO BATISTA

39
O imenso mar que se aninha
Entre céus, terras e escolhos
Brilha menos que a gotinha
De pranto a cair dos olhos.
AMÉRICO FALCÃO

40
Quem conserva terra vã
Na Terra sem cultivar,
Nasce na Terra amanhã
Sem terra para morar.
ADERBAL MELO

41
Rio morto, árvore peca,
De tudo vi no sertão,
No entanto, pior é a seca
Que lavra no coração.
VIRGÍLIO BRANDÃO

42
Palácios, arranha-céus,
Muitos dos mais expressivos,
São custosos mausoléus
Resguardando mortos-vivos.
BENEDITO CANDELÁRIA IRMÃO

43
Depois da morte, sentimos,
No mesmo grau de rudez,
Tanto o mal que praticamos,
Quanto o bem que não se fêz.
JÔNATAS BATISTA

44
Ama, filhinha, entretanto
Sofre a dor que o lar te der.
É toda feita de pranto
A glória de ser mulher.
VIDA

45
Mãe que partiu!... Podes vê-la
Na fé que te reconforta
Toda mãe é como estrela
Que brilha depois de morta.
CELESTE JAGUARIBE

46
No mundo, ninguém conhece
A força de redenção
De uma lágrima que desce
Dos olhos ao coração.
CARLOS CÂMARA

47
Amor – da sombra em que existo,
Parece clarão de aurora,
Consolo de Jesus-Cristo,
Mão estendida a quem chora.
ULISSES BEZERRA

48
Depois da morte é que a gente
Tem o amor que aperfeiçoa,
Amando quem nos esquece
Nos braços de outra pessoa.
JOVINO GUEDES

49
Coração, padece a chama
Do martírio em que te elevas!
Se muito sofre quem ama,
Quem não ama vive em trevas.
BERNARDO DE PASSOS

50
Ateu – enfermo que sonha
Na ilusão em que persiste,
Um filho que tem vergonha
De dizer que o pai existe.
ALBERTO FERREIRA

Fonte:
Francisco C. Xavier (psicografia). Autores Diversos. Trovadores do Além.

O Índio na Literatura Brasileira (Estante de Livros) 1

ALENCAR, José de. O Guarani.

Narra a história do chefe Aymoré Peri, que encarna um herói de romance de cavalaria. Destemido, cheio de sentimentos nobres, apaixonado e bom, Peri se envolve em batalhas e aventuras em nome de sua amada, Ceci, filha do invasor branco. Com músculos de aço e coragem invencível, Peri (palavra que significa “junco silvestre” em Guarani) luta contra os conquistadores e é capaz de realizar todos os sacrifícios por amor a Ceci (termo Guarani equivalente a “magoar”).

ALENCAR, José de. Iracema: lenda do Ceará.

Narra a história de um irresistível e proibido amor, entre Iracema, a mais bela de todas as índias Tabajara, e Martim, um bravo guerreiro português. Na história tem origem o local que um dia veio a tornar-se o estado do Ceará.

ALENCAR, José de. Ubirajara: lenda Tupi.

Narra a história de Jaguarê, figura central do romance, que procura derrotar outros guerreiros para, com isto, vir a ser considerado o mais forte e valente índio do povo Araguaia. Durante sua busca pelos adversários, conhece Araci, índia Tocantim, por quem se apaixona, mesmo já estando comprometido com Jandira, jovem Araguaia como ele. A busca pelo seu reconhecimento como guerreiro e pela conquista de seu amor são elementos que estão presentes em toda a narrativa e que se cruzam para a criação dos episódios que estruturam a obra.

ALMEIDA, Gercilga. O mistério do Memuã.

Narra a história de Lalá e Tito, que são amigos de Piá, filho do chefe dos Kamayurá. Um dia, recebem de presente uma linda arara azul, e vovô Eraldo percebe que este pássaro lhe traz uma mensagem, um mistério para ele resolver. Logo que chegam as férias, as crianças e o avô viajam para o Parque do Xingu, onde aprendem como os índios trabalham e vivem. Para encontrarem a solução do mistério, eles viajam também para Brasília.

ALVAREZ, Reynaldo Valinho. Um índio caiu do céu.

Apresenta a história de Ariranha, personagem central de Um índio caiu do céu, representante de todas as nações indígenas brasileiras. As ações do personagem retratam a vivência do trágico processo de desestruturação cultural.

AMADO, Roberto. As aventuras de Iakti, o indiozinho.

Narra a história de Iakti, um indiozinho muito inteligente e esper to que se envolve em várias aventuras na floresta. Primeiro, recebe a missão de recuperar a voz de um amigo, roubada por Puara, um espírito brincalhão da selva. Depois, apaixona-se pela lua e sonha com um jeito de alcançá-la. Acordado desse sonho, Iakti vive, juntamente com seus amiguinhos, uma disputa acirrada com os meninos da aldeia vizinha. Por fim, nosso herói é injustamente acusado de ter roubado um arco e uma flecha que pertenceram a um grande guerreiro. Assim, Iakti foge da aldeia e vai viver com um ermitão, que lhe transmite muitos ensinamentos sábios.

AMARAL, Maria Lúcia. O robô e o índio.

Narra o encontro entre um robô e um índio, intermediado por dois meninos, levados num passeio cheio de aventuras pela cidade grande. O contraste, mesmo no terreno do faz-de-conta, é dos mais insólitos. A magia da fábula se intensifica com o convívio entre o robô e o índio, provando que a harmonização das diferenças é possível quando se opera numa atmosfera de entendimento e de amor.

ANDRADE, João Batista de. A terra do Deus dará.

Narra a aventura de dois adolescentes da cidade que, em viagem à fazenda do tio, chamado Olavo, localizada em Minas Gerais, conhecem Tuim, um rapaz mestiço, cujo pai, o líder camponês Ramiro, fugira para o Paraná depois de ter matado um capataz numa briga. Interessados pelo destino de Ramiro, os dois colegas decidem acompanhar Tuim na busca do pai, na “terra do Deus dará”. Esta aventura os levará a uma região violenta, marcada por conflitos entre índios, posseiros e grileiros.

ANDRADE, Telma Guimarães Castro. Uma aldeia perto de casa.

Conta a história de um menino que, para fazer uma pesquisa escolar, visita uma aldeia Guarani. Observa a rotina diária da aldeia, aprendendo sobre a cultura, a educação e, principalmente, sobre a luta dos índios pela terra e por seus direitos.

ANDRADE E SILVA, Waldemar. Lendas e mitos dos índios brasileiros.

Apresenta 24 lendas indígenas, selecionadas e interpretadas pelo pintor-contador de histórias Waldemar de Andrade e Silva. Ilustrado com 25 obras deste grande artista, o livro é fruto de sua convivência de oito anos com os principais povos do Xingu. De um lado, a obra mostra a riqueza de detalhes e as cores vibrantes da pintura naturalista, do outro, um texto revelador da sensibilidade desse “aluno do índio e da natureza”.

AQUINO, Rubim Santos Leão de. Os primeiros brasileiros.

Apresenta, em quadrinhos e literatura, o resgate da Pré-História do Brasil, com um texto emocionante e original. O resultado são aventuras incríveis, capazes de empolgar até mesmo quem nunca se interessou por História.

AUSTRIANO, Poliana. Três histórias do povo das terras do Brasil

Aborda a história da formação do povo brasileiro, enfocando o índio, o branco e o negro. Tudo começa quando os portugueses decidem colonizar o Brasil. Isto aconteceu há 500 anos!

AZEVEDO, Ricardo. Armazém do folclore.

Apresenta o Saci, a Iara, o Curupira, o Bichopapão, o Lobisomem e muitas outras personagens do imaginário popular. Coletânea de contos, quadras populares, frases-feitas, adivinhas, ditados, trava-línguas e receitas culinárias, que abre ao leitor o vasto universo do folclore brasileiro.
Fonte:
Moreira, Cleide de Albuquerque; Fajardo, Hilda Carla Barbosa. O índio na literatura infanto-juvenil no Brasil. - Brasília: FUNAI/DEDOC, 2003.

J. G. de Araújo Jorge (Quatro Damas) 8a. Parte

" MARGARIDA... "

Quem já viu a margarida
na sua haste leve e fina
sobre o dorso da colina
ao vento suave a acenar ?

Pois ela é assim, parecida,
em sua inquieta alegria,
oscila, e é toda poesia,
quando vive em meu olhar...

"MENSAGEM CIFRADA"

Minhas costas ficaram como sensíveis palimpsestos
onde escreveste, com os estiletes de tuas unhas
estranhos caracteres
em misteriosa linguagem...

São loucos hieróglifos que gravas sem sentir
como um artista em transe que se pusesse fora de si,
a transmitir a sua mensagem...

Nem tu mesma és capaz de traduzir os sinais
que deixaste gravados em minhas costas
fixando aqueles instantes de infinito prazer
e exaltação,

e eu penso, que se pudesse um dia decifrá-los
teria descoberto o segredo da escrita
do amor
e penetrado, e revelado o enigma
da própria Criação!

" MEU RUMO "

Sou um barco de 7 mares...
És a vela branca
do meu pensamento...

- Vou para onde me levares
ou aonde nos leve o vento...

"MONÓLOGO DO BARQUEIRO SOLITÁRIO"

Não sei como consigo conter este desejo que sopra
e me impele para ti
como um barco para o mar...

Não sei como consigo amarrar-me a mim mesmo
como quem nada sente,
a simular esta calma, esta paz,
deixando-me ficar como um barco a bater inutilmente
contra o cais...

Ahl Se ainda fores minha! Enfunarei mil velas
pelo oceano a fora,
soltarei bandeiras, seguirei audacioso o meu roteiro...

Ah! Se tu fores minha! Não viverei assim
em viagens de sonhos
preso às amarras do meu desespero...

Partirei em busca daquela ilha
que veio em teu olhar...

Ah! Se tu fores minha, que maravilha!
Serei dono do Mar…

" MOTIVO MODERNO PARA SOLO DE VIOLINO "

Que importa se lá fora os carros passam,
os jornais têm manchetes atômicas,
os foguetes violam o espaço,
e os homens práticos carregam pastas
grávidas de negócios,
e fígados insociáveis?

Aqui, junto a ti,
em nosso leito,
meu coração século dezenove te ama,
e murmura coisas que eu fico bobo de ver
como te deixam derretida,
e tocam teu corpo
como um arco de violino...

" NA CURVA EXTREMA... "

Chegamos mesmo a um ponto em que é impossível
continuarmos adiante, o mesmo passo,
e o que é estranho afinal é que ainda te amo
sinto que te amo e que me fazes falta...

Há mistérios no amor, inexplicáveis,
Há caminhos na vida que ninguém
pode prever onde darão, nem como
hão de findar, além da curva extrema...

Insustentável nos parece o sonho
que equilibramos sobre um fio apenas,
não sei o que pensas sobre o outro lado,
sei que me perco, me acovardo, e paro.

Ha, bem quisera com desprendimento
te desejar toda ventura, toda
que não pude ou não soube te ofertar,
e hoje sei, tão distante... inalcançalvel...

Talvez jamais isto se dê, no entanto
se tiver que se dar, que acontecer,
que eu tenha forças para merecer-te
ao menos neste instante de perder-te...
--
Fonte:
J. G. de Araujo Jorge. Quatro Damas. 1. ed. 1964.