sexta-feira, 4 de maio de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 544)


Uma Trova de Ademar

Eu recebi, “lá de cima”,
para versificação,
o dom do verso e da rima
e a fonte da inspiração!...
–ADEMAR MACEDO/RN–

Uma Trova Nacional


Meus sonhos não são modelos;
alguns me fazem chorar...
Mas não tenho pesadelos:
pesadelo é não sonhar!...
–MILTON SOUZA/RS–

Uma Trova Potiguar


A velha esquina esquecida,
toda enfeitada de flor,
sem querer fez-se guarida
de nossa história de amor.
–MARA MELINNI/RN–

Uma Trova Premiada

2006 - Balneário Camboriú/SC
Tema: LUA - M/E


Cumprem a Lua e as estrelas
o ofício de serem belas...
E, no entanto, para vê-las,
só o poeta abre as janelas!
–A. A. DE ASSIS/PR–

...E Suas Trovas Ficaram


Contemplo à noite, à janela
e entre as estrelas e a lua
eu sinto o perfume dela
que no meu quarto flutua.
–FRANCISCO MACEDO/RN–

Uma Poesia


Quando acabo de escrever
um verso, uma trova, um poema,
sinto que acabo de erguer
uma casa de fonema,
o som, a matéria prima,
a alma, a palavra, a rima,
e amor como argamassa,
mas nunca que acho perfeita
a obra depois de feita,
por melhor mesmo que a faça.
–RAYMUNDO SALLES/BA–

Soneto do Dia

Assim São Meus Versos
–SÔNIA SOBREIRA/RJ–


Assim são meus versos, enigmáticos,
como ventos que bailam nas andanças,
são mistérios, são fúlgidas lembranças,
luzeiros cintilantes, mas estáticos.

São girassóis altivos e fleumáticos,
são quimeras, retalhos de esperanças,
cantilenas que embalam as crianças,
fantasias dantescas de fanáticos.

Frágeis anseios a rimar cansaços,
que choram seus lamentos nos meus braços,
num desconsolo que jamais se acalma.

São espectros com dedos gigantescos,
desenhando nas pedras arabescos,
que entrelaçam pedaços de minh'alma.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Paraná

Wagner Marques Lopes / MG (A FAMILIA em trovas), parte 9

Familia (pintura de Juan Bautista Martinez del Mazo)

Influências

A concha se torna abrigo
da marcante voz do mar:
criança leva consigo
o que o adulto ofertar.

Berço, apelo especial

Retornar – ação bendita.
Berço – apelo especial,
onde a criança recita:
“ – Meus pais, livrem-me do mal”.

Confissão de um familiar

- Na paixão descontrolada,
infelizmente, eu me perco:
é estouro da boiada
a exigir mais amplo cerco.

Paixões, aves de arribação

Em céus da reencarnação,
meus afins veem comigo
as aves de arribação –
as paixões de um ninho antigo.

Fonte:
trovas enviadas pelo autor

Carlos Lúcio Gontijo (O Miraculoso Apreço por Estrela)


Sou apenas um cidadão provinciano que, levado pelo exercício da literatura, terminou por editar livros, atendendo ao clamor das palavras, que somente ganham alma através da poesia. Muitas vezes imagino que, sem o toque poético, a palavra é simples instrumento de permuta, compra e venda nos balcões do materialismo que se estendem mundo afora.

Meu tempo de viver em cidade grande venceu e eu retornei à minha Santo Antônio do Monte, leito dos meus passos, mirante do qual vejo preocupado crianças e jovens entregues ao âmbito da construção virtual, enormemente potencializado pelo avanço da internet, sinalizando-nos que, em breve, não haverá troca de olhares. Ou seja, as pessoas se encontrarão sem se incomodar nem com nomes nem com qualquer sentimento de afeição, para uma relação sexual casual, na mera condição de corpos.

Assisto, com amargura no peito, ao ser humano exposto, como simples ameba, diante da imensidão de informações que as novas tecnologias lhe possibilitam, sem nenhum esforço na análise de conteúdo ou interesse em se aprofundar naquilo em que apenas correu os olhos. É como se a superficialidade fosse a inconfessável meta a ser alcançada, dentro de uma cultura que toma a reflexão como indesejável fonte de sofrimento.

Num quadro social do futuro, deparar-nos-emos com uma sociedade geradora de cidadãos desprovidos de memória e sem a experiência de saudades no coração, quando então aflorará a incapacidade de extrair e dar sonoridade ou mesmo novas vestes à palavra, que se verá prisioneira dos dicionários amarelecidos e completamente empoeirados pelo contínuo abandono em meio ao deserto de inventiva e criatividade em seu uso como expressão de sentimento esvoaçante, alado e tão-somente tangível pelas mãos da poesia.

Estou para lançar meu 14º livro (o romance "Quando a vez é do mar") e o faço sem vislumbrar patamar de estrondoso sucesso, aos moldes de festejada celebridade, basta-me a sensação de autor bem-sucedido e disposto a fazer da minha literatura um veículo de comunicação com outras mentes. Tanto é verdadeira esta proposição que a maior parte da edição será destinada a bibliotecas comunitárias e escolas rurais. Planejo uma sessão aberta de autógrafos e distribuição gratuita de livros na biblioteca comunitária que leva o meu nome, no Bairro Flávio de Oliveira, em Santo Antônio do Monte, como forma de inserir um pouco de literatura e poesia em um contexto adverso, aonde a arte da palavra escrita raramente chega.

Perdoem-me os que tecem glamour em torno da atividade literária, alçando o autor a uma espécie de "deusinho", a quilômetros de distância do leitor, o que em muitos casos dificulta a criação de hábito, ou melhor, de gosto pela leitura, uma vez que os estudantes jamais ou quase nunca têm a oportunidade de contato pessoal com os autores.

Foram muitas as vezes em que preguei a necessidade de indicação regionalizada de livros de literatura para as instituições de ensino, com o objetivo tanto de facilitar a aproximação entre escritores, poetas e leitores, quanto para favorecer o aumento da edição de livros país afora. Isso sem falar que a maneira regional de se expressar contida em cada obra funcionaria como mecanismo de estímulo aos leitores, que se perceberiam mais próximos e representados na narrativa.

Claro que todo esse enunciado acima descrito é o meu destilar de autor movido, única e exclusivamente, pelo combustível do mais puro idealismo, que usa o seu trabalho literário como ferramenta de conscientização e de luta em prol do soerguimento de um mundo melhor, como declaro no verso de um poema há muito trazido à luz (O ser poetizado), no qual procuro passar a ideia de que história verdadeira cheira a berço e que homem realista tem apreço por estrela, numa tentativa de alertar que a raça humana corre grande risco por estar sob o comando dos não poetas (os maus poetas no meio), dos que menosprezam os milagres divinos que se multiplicam todos os dias, explicitamente, ao nosso redor, tornando cada vez mais verdadeira a assertiva que publiquei no romance "Jardim de Corpos": Quem não acredita em milagre, vive sob o milagre de em nada acreditar.

Fonte:
texto enviado pelo autor

quarta-feira, 2 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Paraíba

Wagner Marques Lopes /MG (A FAMÍLIA em trovas), parte 8

Sagrada Família (pintura de Murillo)
Rugas e rusgas

Na casa em que se conjuga
os verbos servir e amar,
pode o tempo trazer rugas,
mas rusga não tem lugar.

Sinceridade em família

Sinceridade é medida
do núcleo familiar,
pois a clareza na vida
só pode nos ajudar.

Coração pensante

Quando a vida se faz densa –
tudo está por naufragar,
o coração de mãe pensa...
E põe tudo no lugar.

Águas do bem querer

Se em família se aglutina
amor, perdão e saber,
sem demora surge a mina
das águas do bem querer.

Fonte:
trovas enviadas pelo autor 

Clevane Pessoa (Velhos Olhos, Novos Olhos)


Potiguar, da pequena cidade de São José do Mapibu, Clevane Pessoa de Araújo Lopes expõe toda a sua sensibilidade pulsante e lirismo psicológico nos quinze poemas que compõem o livro Velhos olhos, novos olhos.

Em As lavandeirinhas a autora faz um tributo às lavadeiras, com um belo lirismo, retratando a atividade dessas profissionais quase folclóricas, com muita graça. Apesar de citar as lavadeiras das margens do rio São Francisco e outras, o poema universaliza tais mulheres trabalhadoras. Clevane também trás para a roda, o próprio rio, ou lagoa, além da fauna que cerca o “tanque” natural.

Mas nem só de lirismo vive a poesia de Clevane. No poema Infância perdida, infância roubada, a autora trata com sobriedade e sem perder o tom poético, a triste situação de milhares de crianças que acabam sendo privadas de sua juventude.

A poesia mística, presente na obra Velhos olhos, novos olhos, faz o leitor passear pelo estilo pós-conversão dos poetas Murilo Mendes e Jorge de Lima. Tal elemento está representado no Poema de natal. Entretanto, as referências diretas a personagens religiosos se restringem ao componente anjo e lógico, ao menino (Jesus, certamente).

Em certos momentos da poesia de Clevane, o eu lírico mergulha em estados melancólicos e até pessimistas. No caso da poesia Rompimento, o motivo é um amor despedaçado. Não que as experiências citadas sejam inspiradas em passagens pessoais da autora, pelo contrário. Clevane deixa claro nessa poesia que o enredo declamado em seus versos é inspirado no episódio de outra pessoa.

Mais adiante, inclusive, a autora chega a ponto de esclarecer em uma nota, após o poema de sugestivo nome, À beira do precipício, que “a poesia não tem nada a ver comigo, é que gosto de interpretar a todas as mulheres, sempre que posso...”. E pelo que vemos em Velhos olhos, novos olhos, pode mesmo.

Fonte:
texto enviado pela autora 

Histórias que o Povo Conta (O Macaco e a Onça)


Nesse tipo de história, os personagens são animais, mas agem como se fossem gente. Costumam aparecer disputando alguma coisa, como o macaco e a onça que você vai conhecer a seguir. Esta espécie de conto também é chamada de fábula, principalmente quando termina com uma lição de moral explícita.

O macaco e a onça

 A onça era o bicho mais bravo e malvado da floresta. Comia anta. Comia capivara. Comia tatu. Comia queixada. Comia veado. Só não comia o macaco, pois esse a onça não conseguia pegar, de jeito nenhum.

 - Um dia eu agarro esse malandro - dizia ela lambendo os beiços.

 Quando foi um dia, a onça teve uma idéia.

 Subiu no alto de uma pedra e chamou a bicharada da floresta. Avisou que ia dar uma festa. Mas tinha uma coisa. A onça fazia questão:

 - Quero que cada bicho traga sua mãe.

 - Pra quê? - perguntou a anta.

 A onça fez cara de inocente. Inventou que era para ver quem gostava e quem não gostava da própria mãe:

 - Quem não trouxer, já sei que não gosta! A bicharada caiu na conversa fiada da onça.

 Mas o macaco ficou desconfiado. Voltou para casa e escondeu a mãe no galho mais alto do tronco mais alto da árvore mais alta do morro mais alto da floresta.

 O dia da festa chegou.

 A bicharada apareceu toda contente, cada um trazendo a sua mãe.

 Que desgraceira!

 A onça deu um bote e foi comendo tudo quanto foi mãe de bicho que encontrava no caminho.

Quando estava de pança cheia, encontrou o macaco:

 - Cadê sua mãe?

 O macaco encheu os olhos de cuspe, botou a mão no peito, fez careta e começou a berrar:

Ai de mim, ai de mim
Minha pobre mãe morreu
Minha mãe era um quindim
Veio uma onça e comeu

 O macaco gritava, chorava e ria.

 A onça ficou com raiva, pois não tinha comido nem a mãe do macaco nem, muito menos, o macaco.

 Tempos depois, a malvada teve outra idéia.

 - Agora eu cato o danado!

 Ficou escondida bem no caminho que o macaco pegava todos os dias.

 No fim da tarde, o macaco apareceu.

 Sentiu um cheirinho estranho no ar.

 "Aqui tem onça", pensou ele.

 Para ter certeza, parou, olhou bem para o chão e gritou:

Caminho, cadê você
Caminho, quero passar
Caminho, se não responde
Vou já pra outro lugar

 O caminho, claro, continuou quieto, parado no chão.

 O macaco sacudiu os ombros, deu meia-volta e fingiu que ia embora.

 Ao ver o macaco escapar mais uma vez, a onça disfarçou e fez voz de estrada:

 - Uh! mucucu. Num vui imbura num. Pudi pussur qui iu istu uqui.

 Ao ouvir aquela voz fingida, o macaco caiu na gargalhada:

Cai fora, onça, cai fora
Cai fora, não vem com essa
Cai fora que eu vou-me embora
Cai fora, que eu estou com
 pressa!

 Disse isso, saltou num galho e sumiu rindo e dançando no meio das folhagens.

 A onça ficou tiririca. Arreganhou os dentes e resmungou baixinho:

 - Um dia eu te pego, pelintra!

 Passou o tempo. A onça teve outra idéia. Subiu no alto de uma pedra e chamou a bicharada. Disse:

 - Descobri que tem uma santa morando na floresta. Vamos fazer um altar pra botar a santa.

 Mandou a bicharada juntar madeira e construir um altar. Explicou que no dia seguinte a santa ia aparecer.

 A bicharada tinha medo da onça, por isso achou melhor obedecer.

 A onça disse mais:

 - Amanhã, todo mundo aqui. Se a santa estiver no altar quero ver a bicharada cantando, dançando e tocando pandeiro.

No outro dia, logo cedo, a onça se enrolou num pedaço de linho branco, subiu no altar e ficou lá se fingindo de santa.

 A bicharada, quando chegou, ficou espantada:

 - Não é que apareceu uma santa mesmo? - disse a anta.

 - Milagre! - gritou o papagaio.

 - Eta coisa danada de boa! - disseram todos.

 E a bicharada, feliz da vida, ficou cantando, dançando e tocando pandeiro em volta do altar.

 A onça parada lá no alto só espiava. O macaco escutou aquela folia e resolveu ver o que estava acontecendo.

 A onça sabia que o macaco era curioso. Sua idéia era agarrar o bicho quando este se aproximasse do altar.

 Mas o macaco era esperto. Olhou para a santa. Olhou de novo. Olhou outra vez e logo desconfiou. Só de pirraça, saltou da árvore no chão e começou a rezar, a dançar e a cantar:

Me salva, santa, me salva
Que a onça quer me pegar
Me ajuda, santa, me ajuda
Que a onça vai me matar

 E o macaco foi dançando e foi chegando perto. De repente, de surpresa, catou uma pedra no chão e atirou bem na cara da onça:

Sai daí, santa malvada
Sai desse pano de linho
Vai embora, onça pintada
Vai embora do meu caminho

 Rosnando furiosa, com a fuça machucada, a onça saltou do altar mas não pegou coisa nenhuma. O macaco, ligeiro feito um corisco, sumiu no matagal cantando:

Um bicho quer me prender
Mas não vai
Um bicho quer me caçar
Mas não vai
Um bicho quer me comer
Mas não vai
Um bicho quer me matar
Mas não vai

Fonte:
Azevedo, Ricardo. Histórias que o povo conta : textos de tradição popular. São Paulo : Ática, 2002. - (Coleção literatura em minha casa ; v.5)

Roberto Pinheiro Acruche (Livro de Poemas)


A SAUDADE

Saudade... Qual é a sua cor?
Por que estou sentindo-a
tão junto a mim e não consigo vê-la?
Não me atormente ainda mais
com este silêncio,
além desta dor que me rasga o peito.

Porque você não aparece
e desvenda logo esse mistério?
Você sabe onde me encontrar!

Vou estar nos mesmos lugares,
sentado na areia olhando o mar
ou nos mesmos bares
consumindo a noite.

E se acaso não me encontrares
pergunte pra solidão...
Somente ela saberá dizer
o meu paradeiro.
Mas não demore mais;
faça antes da tristeza
me levar por inteiro!...

ARCA DOS SONHOS

As horas passam
e eu me curvo diante
do tempo
que também passa... Que passa!...
E eu preso na arca dos sonhos,
fantasiando a vida.
Quando acordar
desta aspiração
liberto do devaneio,
quem sabe ainda haverá tempo
para realizar os sonhos?
E se não houver tempo
e se não realizar meus sonhos,
valeu à pena ter sonhado!

AUSÊNCIA

A tua ausência transforma a noite em um suplício,
faz a formosura da lua desaparecer no infinito
e as estrelas no céu perderem o brilho.

A solidão minha constante companheira
cresce no silêncio que constrói um assombroso vazio,
enquanto as canções evolucionam a saudade.

E não há como se esquecer do passado
quando a caminhada era ornamentada
pela beleza das flores e perfumada em todos os momentos...
Mesmo quando a natureza disseminava as tempestades, com chuvas, trovões e ventos.

A brisa tinha a fragrância dos lírios
e os teus suspiros eram o meu alento.

A tua ausência, sentida nesse momento,
quando o pensamento
é todo reservado a ti,
faz explodir no peito a angústia
dessa solidão que abruma
ainda mais, essa noite triste e vazia.

QUANDO

Quando as gotas d’água
romperem as pedras dos meus caminhos,
cicatrizarem no meu peito as feridas
provocadas pelos espinhos
da desilusão...
Quando o tempo
arrancar do meu coração
as seqüelas da falsidade
e a perfídia for tragada
pela fidelidade...
Quem sabe,
encontrarei razão para viver
e os meus versos
falarão de um outro amor?

Fonte:
Poemas enviados pelo autor

Rubem Braga (Meu ideal seria escrever...)


        Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que aquela moça que está doente naquela casa cinzenta quando lesse minha história no jornal risse, risse tanto que chegasse a chorar e dissesse - ôai meu Deus, que história mais engraçada!" E então a contasse para a cozinheira e telefonasse para duas ou três amigas para contar a história; e todos a quem ela contasse rissem muito e ficassem alegremente espantados de vê-la tão alegre. Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em sua vida  de moça reclusa, enlutada, doente. Que ela mesma ficasse admirada ouvindo o próprio riso, e depois repetisse para si própria - "mas essa história é mesmo  muito engraçada!"

        Que um casal que estivesse em casa mal-humorado, o marido bastante aborrecido com a mulher, a mulher bastante irritada com o marido, que esse casal também fosse  atingido  pela  minha  história.  O marido a leria e começaria a  rir, o que aumentaria a irritação da mulher.  Mas depois que esta, apesar de  sua má-vontade, tomasse conhecimento da história, ela também risse muito, e ficassem os dois rindo sem poder olhar um  para o outro sem rir mais; e que um, ouvindo aquele riso do outro, se lembrasse do alegre tempo de namoro, e reencontrassem os dois a alegria perdida de estarem juntos.

        Que nas cadeias, nos hospitais, em todas as salas de espera a minha história chegasse - e tão fascinante de graça,  tão  irresistível, tão colorida e tão pura que todos limpassem seu coração com lágrimas  de  alegria;  que o  comissário do distrito, depois de ler minha história, mandasse soltar aqueles  bêbados e também aquelas pobres mulheres colhidas na calçada e lhes  dissesse - "por favor, se comportem, que diabo! eu não gosto de prender ninguém!"

E que assim todos tratassem melhor seus empregados, seus  dependentes  e seus semelhantes em alegre e espontânea homenagem à minha história.

        E que ela aos poucos se espalhasse pelo mundo e fosse contada de mil  maneiras, e fosse atribuída a um persa, na Nigéria, a um australiano, em Dublin, a um japonês, em Chicago - mas que em todas as línguas ela guardasse a sua  frescura, a sua pureza, o seu encanto surpreendente; e que no fundo de uma aldeia da China, um chinês muito pobre, muito sábio e muito velho dissesse:  "Nunca  ouvi  uma  história assim tão engraçada e tão boa em toda a minha vida;  valeu a pena ter vivido até hoje para ouvi-la; essa história não pode ter sido  inventada por nenhum homem, foi com certeza algum anjo tagarela que a contou aos ouvidos de um santo que dormia, e que ele pensou que já estivesse morto; sim, deve ser uma história do céu que se filtrou por acaso até nosso conhecimento; é divina".

        E quando todos me perguntassem - "mas de onde é que você tirou essa história?" - eu responderia que ela não é minha, que eu a ouvi por acaso na rua, de um desconhecido que a contava a outro desconhecido, e que por sinal começara a contar assim: "Ontem ouvi um sujeito contar uma história.. .”

        E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza daquela moça que está doente, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha naquela pequena casa cinzenta de meu bairro.

Fonte:
Para gostar de ler. Vol. 3. SP: Ed. Ática, 1978.

Antonio Manoel Abreu Sardenberg (Entre Amigos)


Abraço
ANTONIO MANOEL ABREU SARDENBERG
São Fidélis/RJ - "Cidade Poema"

Chegou como aragem mansa
Em manhã de primavera
Era a mais doce quimera
A mais intensa esperança
A desejada bonança
Que um homem quer e espera!

No rosto abria um sorriso,
Um semblante angelical
Um mundo pleno e total
Era o próprio paraíso
Nunca senti nada igual!

Nos seus olhos cor de mel
Trazia a luz que irradia
Lindo toque de magia
O mundo de esplendor
Que eu sempre quis um dia

Seus braços aconchegantes
Era um buquê de carinho
O afago de um ninho
A ternura de amante
O perfume do jasmim
Emoção mais fascinante
Que senti dentro de mim.

E assim, bem de mansinho,
Nossos braços se enroscaram.
E ficamos bem juntinhos
Atados como num laço...
Então eu pude sentir
Minha razão de existir
Nesse terno e doce abraço.

Serenata
ROSEMARY PETERS/PR

Permita que eu feche
os meus olhos,
pois é muito longe e tão tarde!
Pensei que era apenas demora,
e cantando pus-me a esperar-te

Permite que agora emudeça:
que me conforme em ser sozinha.
Há uma doce luz no silencio,
e a dor é de origem divina.

Permite que eu volte o meu rosto
para um céu maior que este mundo,
e aprenda a ser dócil no sonho como
as estrelas no seu rumo ...

Confissões de amor...!
CIDUCHA/SP

Tu és o meu amor!
Que navega meu mar
purificado de lua,
tão certo como o vento
que vem e passa,
sedento de horizonte...

Tu és o meu amor,
que se enquadra no limite certo,
da minha ternura e bem querer...
Um encantado,
que haverá de colher
a flor primeira da madrugada
raio de luz a colorir meu dia!

Tu és o meu amor!
Um iluminado,
que banirá a sombra
do meu olhar ferido,
acalentará meu desamparo,
na saga do sonho bandido,
e serás sempre...
Sempre...
Sempre...
O meu Amor querido!

Cântaro da Dor
ZENA MACIEL/PE

Aos pés da deusa poesia
rasgo o véu das fantasias
Derramo o cântaro da dor
no amargo cálice da saudade.

Nas folhas virgens de ilusão
escrevo versos de solidão
Deito no colo das letras
rimas molhadas de lágrimas.

Com as carícias das palavras
afago o solitário coração
que sofre por não entender
o jogo obsceno da vida.

Visto as anáguas do tempo
para ver o entardecer dos
pensamentos, que choram,
diante do funeral dos sonhos

Alma Viva
ILKA VIEIRA/RJ

Quero da vida o encontro com a magia da arte
Colher dela a sabedoria insigne do silêncio
Sair ilibada em passeio poético por toda parte
Soprando pétalas do meu coração "florêncio"

Quero da vida vagar lúcida, sentindo-me louca
Chamando quem não conheço à luz da natureza
Na troca de prosa sem pressa ou de pressa pouca
Compartilhar a ópera silvestre em sua grandeza

Quero da vida envelhecer jovem sem esmolar cuidados
Repintar sonho desfeito, rir de sonho errante
Descalçar meus pés e deixá-los seguir descasados
Na brincadeira entre passado e impulsos doravante

Quero da vida rejuvenescer velha à brisa do mar
Tornar-me onda, passarada, barco à deriva...
Poeta triste, morto e ressuscitado para amar...
Ilha habitada, corpo aquecido, Alma Viva !o!

Fonte:
Poemas enviados por A. M. A. Sardenberg

Esopo (Fábula 8: O Javali e o Burro)


Um dia, um burro encontrou um javali e, como estava alegre e bem disposto, zurrou e cabriolou em frente deste. "Como estás, meu amigo, como estás?", zombou o burro.

O javali ficou aborrecido com estas familiaridades e eriçou o pêlo, arreganhando os dentes.

"Ora esta, amigo! Que impertinência!".

Estava para se atirar ao burro quando, controlando-se, disse: "Vai-te embora, estúpida criatura! Não me custava nada vingar-me de ti, mas não vale a pena sujar as minhas presas com um burro tão tolo!"

Moral da história

É indigno dum espírito elevado argumentar com gente sem nível nem coragem.

Fonte:
Fábulas de Esopo. Coleção Recontar. Ed. Escala, 2004.

terça-feira, 1 de maio de 2012

A. A. de Assis (Estados do Brasil em Trovas) Pará

Wagner Marques Lopes / MG ( A FAMÍLIA em trovas), parte 7

Pintura de Jose Ferraz de Almeida Junior

Família e novos caminhos

Se o mundo se desatina
em ações torpes, malvadas,
a família mais se inclina
a propor outras estradas.

Família e seu eterno lema

Família – mil teoremas
para explicar seu porvir.
Ela traz eterno lema:
“amar para progredir”.

Lições de pai

No coração e retina
guarda o filho bons roteiros,
sabendo que o pai lhe ensina
com os exemplos verdadeiros.

O sim e o não em família

Família que se desdobra
nas artes da educação,
torna-se sábia de sobra
para dizer “sim” ou “não”.

Fonte:
trovas enviadas pelo autor

J. G. de Araujo Jorge (Arco-Íris)


Hoje
estou chovendo
Mas não é o meu pranto
que molha meus olhos.

É uma doce paz, intocada
e feliz
e me deito na chuva, olhos abertos,
como menino que fui,
leve e puro,
tão longe.

Hoje
estou chovendo,
e a visão
de tua lembrança, como um raio de sol
lança uma serpentina de arco-íres
no coração.

Fonte:
J G de Araujo Jorge. "O Poder da Flor" . 1a ed.1969.