terça-feira, 25 de setembro de 2012

Mário Quintana (A Coisa)


Antonio Brás Constante (Zero a Esquerda ou Fora de Série?)


“Ninguém cometeu maior erro, do que aquele que errou ao fazer tudo errado”.
Antonio Brás Constante

Números. Números. Números. Não passamos de um conjunto numérico, perdido em uma equação qualquer. Uma equação ainda não totalmente resolvida, conhecida como vida. O ser humano na sua essência é feito de números. Somos compostos orgânicos com bilhões de células disto, sei lá mais quantos bilhões de outras células formando aquilo, etc.

Os números determinam padrões na sociedade. Somos classificados por um número variável chamado: “idade”, e nos dizem que devemos agir conforme esta idade. Ou seja, em alguns casos somos muito velhos, em outros nos acham muito novos e ainda em outros temos a idade certa, mesmo que seja para algo que naquele momento não nos interessa.

Apesar de não nos darmos conta, nós somos geralmente atraídos pelos números que compõe as outras pessoas. Por exemplo, na busca por relacionamentos amorosos, muitos procuram saber sobre a altura, peso, quadril, busto, idade e até conta bancária de seus pretendentes.

Ainda na parte dos relacionamentos, podemos imaginar a seguinte situação: você sai para passear com sua amada. Resolve levá-la a um lugar especial, onde possam namorar, trocando beijos e carícias. Então você, aproveitando aquele momento lindo, totalmente enlouquecido de amor, dá uma, duas, três, até quatro idéias de como o futuro seria maravilhoso se vocês ficassem juntos para sempre. É a matemática do amor, agindo nos pensamentos do enamorados.

Também no trabalho somos um mero número, conhecidos no sistema como o funcionário de matricula tal, que tem o RG tal e o CPF etecétera e tal. Em qualquer novo plano diretor, onde haja necessidade de cortes para maximizar custos, o fator humano é logo substituído por algum índice matemático, e de um instante para outro passamos de nove para seis, ou seja, nossa vida vira de cabeça para baixo.

A própria empresa é um emaranhado de números, que aparentemente parece ser feita de tijolos e movida através de carne e sangue, mas que no fim de cada semestre passa a ser um relatório contábil repleto de números e indicações positivas ou negativas, traçando geralmente perfis pouco amistosos sobre ações futuras.

Um assunto como este pode até causar insônia, algo que tentamos amenizar contando carneirinhos lanosos, que para desespero de qualquer fazendeiro, conseguem pular cercas com extrema facilidade. Em outros casos apenas contamos com algum tipo de calmante. Então percebemos que nossa saúde também é vista através de números, que medem pressão, batimentos cardíacos, taxa de glicose, entre outros tantos pontos que flutuam em nossos exames. Se notarmos, a própria política começa com a escolha de números, onde muitos se elegem apenas para fazer número e, principalmente, desviar números.

Sua classe social, sua localização em sua rua ou mesmo no universo (latitude e longitude), ou o máximo de caracteres que devo digitar neste texto, tudo é formado por números. Podemos dizer que Deus é um número. Talvez o número mais básico que exista e por isso tão complexo. Algo similar ao computador, que é capaz de efetuar maravilhas, feitas a partir da combinação de dois únicos dígitos (0s e 1s) que formam o código binário.

Enfim, na matemática da vida, não devemos ser apenas mais um número. Devemos somar esforços, dividir os problemas na busca de soluções, subtrair pensamentos negativos, e elevar a enésima potência às energias e ações positivas, passando a ser multiplicadores de algo melhor, deixando de ser um zero a esquerda para nos tornamos pessoas fora de série.

Fonte:
www.recantodasletras.com.br/autores/abrasc

Haicai 12 - A. A. de Assis (PR)


Artur Azevedo (O Telefone)


Isto passou-se nos últimos tempos do Segundo Império:

O Chagas, moço de vinte e cinco anos, amanuense numa secretaria de estado, era tímido, o que, aliás, não o impediu de corresponder prontamente aos olhares libidinosos que certa noite - por sinal que era domingo - lhe atirou de um camarote, no Recreio Dramático, uma bonita mulher, um pouco mais velha que ele, acompanhada pelo marido, muito mais velho que ambos.

Este parecia interessado pelo espetáculo: tinha os olhos pregados no palco, sem desconfiar nem de leve que a sua cara-metade namorava escandalosamente às suas barbas, um jovem espectador da platéia.

Depois de castigado o vício e premiada a virtude, o Chagas acompanhou, a certa distância, o casal, até o Largo de São Francisco e, apesar de tímido, teve a coragem de sentar ao lado da senhora.

Dali até São Cristóvão, como não se pudessem falar, entenderam-se ambos, a principio com os cotovelos e os joelhos, depois com os pés e afinal com as próprias mãos, que se apertaram furtivamente, quando, nas alturas do canal do Mangue, o marido deixou de fazer considerações críticas sobre o dramalhão que ouvira, e começou a cochilar, como todos os maridos confiantes.

Alguns metros antes de chegar ao domicílio conjugal, ela preveniu o Chagas com uma joelhada mais enérgica e, voltando-se para o sonolento, disse-lhe:

- Acorda, Barroso, que estamos quase!

Apearam-se, e o Chagas tomou nota do número da casa.
***
No dia seguinte, o ditoso mancebo colheu todas as informações desejáveis. O Barroso era um honrado negociante, estabelecido perto do Mercado; saía de casa às seis da manhã e só voltava à noitinha - o que facilitou ao Chagas os meios de escrever a Clorinda, que assim se chamava a bela.

Pediu-se uma entrevista, e escusado é dizer que ela não opôs a esse pedido a menor resistência; exigiu apenas, depois do primeiro encontro, que os outros se efetuassem longe do bairro, e que o Chagas a esperasse no campo de São Cristóvão dentro de um carro fechado. Este os transportaria para um retiro longínquo e discreto.

O venturoso amante em pouco tempo se convenceu de que as mulheres mais caras são justamente as que se dão de graça. Os seus magros cobres de amanuense não chegavam 
para aquele carro escandalosamente misterioso e para o hotel com duas entradas, onde se escondiam aqueles amores ignóbeis. O pobre rapaz recorreu ao prego e ao usurário: encalacrou-se deveras.

Demais, o namoro estragou o funcionário. Como estivesse profundamente impressionado por Clorinda, e não pensasse noutra coisa que não fosse ela, e só ela, amanuense começou a meter os pés pelas mãos, errando os trabalhos mais insignificantes que lhe confiavam, tornando-se incapaz até de extrair uma simples cópia.

Junte-se a isto a circunstância de faltar pelo menos uma vez por semana repartição - nos dias em que, metido no carro, suando por todos os poros, trêmulo de impaciência e com o coração aos saltos, esperava que ela entrasse também, para voarem ambos ao miserável ninho das suas poucas-vergonhas.

Algumas vezes Clorinda faltava à entrevista, porque uma circunstância qualquer a impedia de sair de casa. Nessas ocasiões o Chagas passava por tormentos incríveis.

- Ainda nada, ó Maciel? - perguntava de vez em quando ao cocheiro, sempre o mesmo, que o servia naquelas arriscadas aventuras, homem já maduro, pai de filhos, e tão discreto que não encarava Clorinda quando esta apontava ao longe e vinha na direção do carro, protegida pela sombrinha e pelo véu, arregaçando a saia com muita elegância, e apressando os passinhos miúdos, lépida, saltitante como se houvesse saído de casa para boa coisa.

- Nada!

Mas, desde que a via, o cocheiro voltava-se para o Chagas e o avisava:

- Agora!

E o Chagas esperava-a com a portinhola entreaberta.

Um dia Clorinda deu-lhe uma notícia desagradável: o marido tinha mandado colocar em casa um aparelho telefônico.

- É um perigo - observou ela - mas por outro lado é bom, porque posso falar-te quando estiveres na secretaria. Vocês têm lá telefone?

- Naturalmente.
***

Poucos dias depois, estava o Chagas, sentado à sua mesa de amanuense, copiando pela terceira vez um aviso, quando se aproximou dele um contínuo e lhe disse:

- O sr. ministro chama-o.

- A mim?!

- Sim, senhor.

- Ora essa! Você não está enganado?...

- Não, senhor. S. Exª me perguntou: - Há aqui na casa algum empregado chamado Chagas? - Respondi-lhe que sim, ele disse-me: - Pois vá chamá-lo. 

- Que diabo será? - perguntou o amanuense aos seus botões. 

E foi para o gabinete do ministro.

Tremia que nem varas verdes.

O conselheiro, homem enfatuado e rebarbativo, estava sentado à secretária, com as barbas metidas numa papelada que o absorvia.

- Estou às ordens de V. Exª - gaguejou o Chagas.

Não teve resposta.

Dois minutos depois, repetiu:

- Estou às ordens de V. Exª.

S. Exª, sem se dignar erguer os olhos, perguntou em tom áspero: 

- É o sr. Chagas?

- Sim, senhor.

- Estão o chamando no telefone.

E, sempre de olhos baixos, e carrancudo, apontou para o telefone, que ficava a alguns passos de distância, e fazia ouvir o seu impertinente e desrespeitoso tiin-tiin-tiin.

O Chagas sentiu faltar-lhe o chão debaixo dos pés; entretanto, conseguiu aproximar-se do aparelho, e dizer engasgado pela comoção:

- Alô! Alô!

- Quem fala?

- É o amanuense Chagas.

- Ah! Bom! Sou eu, a tua Clorinda. Quem foi o sujeito que falou antes de ti? É um malcriado! Então? Não respondes?

- Não sei.

- Ele disse que era o ministro.

- Era. Que deseja a senhora?

- Por que me tratas por senhora?

- Não posso dizer neste momento!

- Por quê?

- Por... por nada... estou muito ocupado... a ocasião é imprópria.

- Já não me amas?

- Sim!

- Como sim? Já não me amas?

- Não... isto é, não posso... Diga o que deseja.

- Estás zangado comigo?

- Não.

- Então dize: não estou zangado e amo-te!

- Isso não posso. Depois explicarei por quê.

- Não vás amanhã: o Barroso faz anos e janta em casa... eu não me lembrava... mas dize ao menos que ainda me amas!

- Não posso agora.

- Por quê?

- Depois saberá.

O ministro, sem levantar os olhos da papelada:

- Veja se acaba com isso, meu caro senhor; quero trabalhar!

O Chagas estremeceu, largou das mãos o telefone, que ficou pendurado, e saiu do gabinete fazendo muitas mesuras.

O conselheiro ergueu-se para desligar o aparelho, mas levou o fone ao ouvido e ainda ouviu:

- Que modos são esses? Nunca me trataste assim! Já não me amas! E eu que por tua causa enganei o meu pobre marido! Está tudo acabado entre nós!...

- Tenha juízo, senhora! - bradou o ministro com a sua bela voz parlamentar.

E desligou o aparelho, sem suspeitar que ao mesmo tempo desligava dois amantes.

Fonte:
Flávio Moreira da Costa (org.). Os 100 Melhores Contos de Humor da Literatura Universal. 5.ed. RJ: Ediouro, 2001.

Evaldo da Veiga (Amor, o Canto e o Luar)


Amo bem porque amo o canto
O canto de dizer e o canto de ficar
Canto para o silêncio, outras vezes
Canto meu canto de ficar; canto ainda
Em uma espera de amor sem fim
A espera que gosto de esperar

Ainda bem que gosto do sol e da lua
Do vento que acaricia as ondas do mar
Da chuva que faz carinho e sacia minha sede
Gosto de tudo porque gosto de gostar
Se a lua não vem me acompanham as estrelas
E com elas faço amor de ficar e namorar
Não sou um inconseqüente qualquer, não
Por que amo um tanto de amor sem pecar

Simplesmente sou do amor, somente
E com exclusividade tão plena
Que sem amor aqui vou pra li e lá...
E faço ziguezague até encontrar

Ás vezes também não encontro a lua
Que para brincar se esconde entre nuvens
E lá no alto, bem no alto tenho as estrelas
Para me consolar, bem namorar e amar
Contemplo o céu pensativo
As estrelas serenas e a lua fugidia
Que sublime meu Deus, quero amar
Saudade está chegando, tona ao luar
Tal película, um inambu a voar
Estou no meu ânimo, fico silente
Quero ouvir um nome entre as estrelas
Não terei o que pensar e nem duvidar
Somente o som amor quero escutar

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 678)


Uma Trova de Ademar  

Perdão, palavra bonita 
que se pede, que se implora; 
palavra que é muito dita... 
Mas, só da boca pra fora! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Naquele encontro fatal, 
ao olhar nos olhos teus, 
tive a certeza afinal: 
não era encontro, era adeus! 
–Sônia Sobreira/RJ– 

Uma Trova Potiguar  

Primavera é a natureza 
se revestindo de cores, 
multiplicando a beleza 
nos sonhos dos trovadores. 
–Joamir Medeiros/RN– 

Uma Trova Premiada  

2009  -  Nova Friburgo/RJ 
Tema  -  SAUDADE  -  M/H 

Ó Saudade, hoje me provas
que és a melhor das amigas,
porque fazes sempre novas
minhas saudades antigas…
–Ercy Maria M. de Faria/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Primavera... Vai-se o estio,
chega o outono. Solitário,
assisto ao cair sombrio
das folhas do calendário...
–Orlando Brito/MA– 

U m a P o e s i a  

Fui atrás da estrela guia 
que brilhava sobre o monte, 
já no entardecer da vida 
buscando a paz do horizonte... 
Na cascata da colina, 
bebi da paz tão divina 
que derramava da fonte! 
–Prof. Garcia/RN– 

Soneto do Dia  

A SEMENTE. 
–Sônia Sobreira/RJ–

Não vou plantar semente que me afaste
da luz perene e clara do luar,
nem vou deixar que a mágoa me desgaste,
ou que me faça em pedras tropeçar.

Não vou deixar que a solidão me arraste
nas tramas de uma história secular,
nem que uma dor no coração se engaste
e esta semente venha a germinar.

Eu vou plantar sementes de alegria
flores vermelhas, rimas de poesia
colher nas mãos um sonho que brotou.

Vou ser poeta e em minha estrada infinda,
mostrar que posso ser feliz ainda
e nunca mais serei o que hoje sou!

Alcéa Romano, Désio Cafiero, Clevane Pessoa e Norália de Mello Castro (Lançamento de Livros dia 29 de setembro)


Alcéa Romano - Mineira de Morro do Ferro / MG, morou em Oliveira e aos 17 anos mudou-se para Belo Horizonte. Trabalhou na área de comunicação, em agência de publicidade, empresas, rádio e televisão. Formada em Comunicação Visual e Gestão de Pessoas. 

Os poemas de Alcéa Romano falam de uma pureza deixada de lado. Sua poiesis resgata a inocência do desejo leal, deixando-nos surpresos a voar com seu homem de asas, anjo ou ser comum com quem nos identificamos. Alcéa Romano está no meio do "redemoinho" de Guimarães Rosa, a movimentar palavras sem medo de vibrar, de verter Vida. A poeta tinge de cor profunda os estágios o(vários) da mulher em busca - indo da criança à adulta fase por meio de aliterações e expressões prazerosas, plenas do necessário encantamento, a pincelar de ternura o existir.“ 
(Rogério Zola Santiago, Mestre em Crítica pela Indiana University, USA) 
Contato: alcearomano@gmail.com> 

Désio Cafiero - Désio Cafiero Filho, reside em Raposos, grande BH, também região das minas. É fiscal e Consultor Ambiental . Publicou textos na Estalo, a Revista e " Garimpando Emoções... É inspirado nessa região minerária em que vivemos. Mas, trata-se do bom garimpo: ao invés de degradar o solo, a água e a vegetação; massageia a alma, o ego, o coração..." 

o poeta, apaixonado,não fica pejado de colocar a nu sentimentos atonados, conforme faz nesses belíssimos versos:”Vã ilusão, malgrado sonho/ até quando deverei perder-me nos descaminhos/sangrar os pés, sufocar anseios/resgatar pesados ônus de um passado, talvez?”....(Clevane Pessoa) 
Contato: desiocaf@yahoo.com.br 

Clevane Pessoa - Clevane Pessoa de Araújo Lopes, escritora e poeta, psicóloga e desenhista, lança seus dois mais recentes livros, Centaura (Editora Pragtmatha-RS) e Lírios sem Delírios (Editora aBrace, Montevidéu/Uruguai) . Premiada no Brasil e no Exterior, iniciou-se na Literatura nos Anos 60, em Juiz de Fora, onde militou na imprensa. Transita livremente por todos os gêneros literários. A autora possui vinte e dois e-books, participa de mais de cem antologias e coletâneas, nacionais e estrangeiras, por premiação, cooperativismo ou a convite. Também é co-autora do compêndio "Adolescência, Aspectos Clínicos e Psicossociais", dos Drs Maria da Conceição de Oliveira e Ronald Pagnocelli (Editora ArtMed-Porto Alegre, RS ) nos capítulos de Homossexualidade e Sexualidade na Adolescência. Escreve e desenha desde a infância. A capa de Centaura traz desenho de seu filho Allez Pessoa .Vem prefaciando , posfaciando e escrevendo orelhas de vários livros, bem como sendo membro de júri em concursos literários. Resume assim sua trajetória: "Vim ao mundo dizer coisas/ /muito mais do que fazer./Mas como faço!...” No momento trabalha em dois livros: um de entrevistas e outro, romance que vem burilando há algum tempo. 
Contato: hana.haruko2@gmail.com 

Norália de Mello Castro - Mineira de Belo Horizonte, reside atualmente na cidade de Brumadinho/MG, é assistente social aposentada e sempre gostou de escrever e engavetar seus textos até publicar o primeiro Livro, “Rede de Pescador”, prêmio do Clube do Livro de 1987. Isto foi um grande estímulo para que outros livros fossem publicados como “Passos da Eternidade” e outros contos, (prêmio Gralha Azul de Curitiba em 1987); “Fios de Prata”, ou a história do Medalhão Azul, romance, menção honrosa no concurso Cidade de Belo Horizonte 1988; “Apenas Viva” (contos e crônicas/ Scortesse/REBRA (2010); participação na antologia Novos Contistas Mineiros, de 1988, antologia Show de Talentos em Prosa e Verso, (REBRA de 2010). É associada da Rede de Escritoras Brasileiras - REBRA desde 2009, e colabora com a revista VARAL DO BRASIL, de Genebra, e participou da antologia Varal Antológico 2 (2012).Prêmio da ABRAMES/RJ - 2011, 1º em conto e 2º em poesia. No prelo tem MOVIMENTOS, poesias. Em elaboração, seu quarto romance. Agora lança o romance "Realidade e Sonhos", com algumas ilustrações em desenho a nanquim, da artista plástica Iara Abreu . 
Contato: namello@yahoo.com.b 

Fonte:
Clevane Pessoa. 

Cecy Barbosa Campos (Poemas sobre a Primavera)


Primavera em Juiz de Fora/MG
INVASÃO 
( 2011- chegou às 2h da manhã ) 

A primavera chegou de madrugada 
e entrou pela janela do meu quarto 
vestida de prateado. 
Enluarando a minha cama 
cobriu o meu corpo insone 
e anestesiou os meus sentidos. 

2012 - chegou antes de meio-dia 

CHEGADA

A primavera chegou
ao final da manhã
sem alarde, discretamente
vestida de cinza.
Esperançosa, aguarda o domingo
com flores que se abrirão
em sorrisos azuis
à luz do sol.

PRIMAVERA EM MIM

Começou a primavera, 
nasceu ontem, é bebê, 
insegura e fragil 
ainda não teve coragem 
de se despir de núvens 
e mostrar o azul. 
Mesmo assim, algo muda 
comemorando o sábado o inverno que existe em mim 
transformado por uma profusão 
de flores e cores. 
De bem com o mundo 
já consigo ouvir 
sua manifestação triunfal, 
com o acorde dos pássaros 
em saudação inaugural.

Fonte:
A Autora

Pedro Du Bois (Poemas)


FUTURO

Não havia o traço esbranquiçado
rasgando o firmamento, nem a britadeira
e o caminhão misturando cimento e areia:

manualmente transportados
manualmente contados
manualmente colocados
blocos de pedras
superpostos
sobrepostos
erguiam paredes
em pequenos arcos
de telhados

sobre o topo o homem
sonhava traços de fumaça
cortando o firmamento.

HÁBIL

Hábil, rabisco verdades: levo o pão
sob o braço, comida faltante na mesa
do pai. Ofereço minha habilidade
desferida em tiros: atiro a esmo
nos cadáveres deixados. Vou
pelo caminho acrescentado
(no bolero reencontro os passos) 
onde me encontro na habilidade
recíproca do renascimento.

FABULAÇÕES

Da desmoralizada fábula 
retiro a lição antagônica 
do ato

fujo em cigarras
jogadas ao vento
na derrubada
da casa

(pela enésima vez
ofereço ao pastor
o lobo despedaçado)

no final da história
retorno em alisadas
frases. Em cada começo
reencontro a farsa.

SUBMISSÃO

Submeto o poder
ao gesto de renúncia

anuncio ao vento
a água fervente
da conversão anímica
dos espíritos corporificados

da renúncia retiro a verdade
escalada em elevados tetos

cubro a história em divisões
estéreis e no consenso
sei do início:

o poder sucumbe ao encontro
no desprazer da morte
em sequência.

A CONCRETUDE DA CASA

A casa se esforça em cumprimentos.
Mimética, esconde fissuras e a parede
desbotada do passado; reafirma cores
inexistentes, ilude; ouve as pessoas 
dizerem da vida lá fora e lembra 
sua construção: a edificação exige 
equilíbrio e graça na modificação 
dos materiais, na sobreposição
das lajes, no colocar tijolos e no cobrir
o corpo em telhado; a casa conhece 
cada pedaço do seu todo: as junções 
vitais dos encanamentos e a energia 
referida ao uso das utilidades.

RUDIMENTOS 

O corpo tosco, ideológico, a bebida 
barata do bar da esquina, o olhar
inerte sobre a toalha: a lembrança
é mortalha viva do intelecto e o longo
caminho percorrido no alongar o físico;
o contato contamina o todo destinado
e aos ouvidos se rebelam sons inaudíveis;
repete o gesto com que bebe o líquido,
repete as vezes despretensiosas da saudade;
reafirma ao homem da outra mesa a incerteza
da sobrevivência: ideológico, destila o humor
esbranquiçado da verdade: o homem ao lado
faz de conta que não é com ele e bebe
aos santos de todos os sábados.

PRÓDIGO

Destraçar o caminho
replantado na grama
sob os passos

desconsiderar o avanço
e retornar em plácido
andar de retomada

esquecer o desenho
mapeado em escuros
tesouros inatingíveis

ser diletante: pai e mãe
a recolocar no alpendre
espantalhos ao espantado
o filho.

Fonte:
O Autor

Paulo Mendes Campos (Apanhadas no Chão)


 - De um amigo meu, no bar: "Trabalho tanto que não tenho tempo para nada; à noite, bebo um pouco para lembrar as minhas mágoas."

 - De um vendedor de cinzeiros de barro em Belém: "Se eu escrever com C, em vez de S, ninguém vai comprar."

 - De um conhecido meu, quando lhe disse que certo homem público, embora de poucas luzes, era grave e honesto: "O jumento também é grave e honesto."

 - Do mais preto, passando por mim, quando o menos preto lhe disse que ele só pensava em mulher: "Ué, pensar então em quê?"

 - De uma expressão mineira: "Fala mais que pobre na chuva."

 - Do finado Humphrey Bogart: "Um homem está sempre duas doses abaixo do normal."

 - De um forjador de provérbios: "Caranguejo idoso pensa muito e brinca pouco." 

 - De um velhinho, ante o ar conjectural do caixeiro, quando pediu na livraria um manual sobre limitação de filhos: "Não é para mim; é para papai."
  

- Do matuto para o médico: "Foi tiro e queda, doutor: a pílula desceu e parou direitinho na casa da dor."

 - De um velho do interior ao provar soda pela primeira vez: "Tem um gostin de pé dormente."

 - De Jaime Ovalle: "O importante não é saber se a pessoa gosta de uísque, mas se o uísque gosta da pessoa."

 - De Camilo Paraguassu, em um poema: "Vista de Paquetá, a lua é linda."

 - De Garrincha, muito absorto, meio segundo antes de ser dada a saída no jogo do Brasil com o selecionado soviético em 1958: "Olha ali, Nilton, aquele bandeirinha é a cara de seu Carlito..."

 - Do mesmo, contando ao colega onde comprara uma gravata (Roma): "Foi naquela cidade onde seu Zezé levou aquele tombo no vestiário."

 - Do mesmo para um companheiro de pelada: "Quer parar de driblar!" 

 - De Osvaldo Cabeça de Ovo, no dia em que seu time de areia perdia de cinco a zero: "Arrecui os arfe para invitar a catastre."

 - Do treinador, também de praia, Trindade: "A missão do centrefór é atrapaiar os beque."

 - De um outro treinador para o goleiro: "Carambolou, arreia."

 - De um torcedor a meu lado, vendo uma jogada magistral do enciclopédia Nilton Santos, errando, paroxismado, na tônica: "Dá-lhe, catédra!"

 - De Graciliano Ramos, quando ouviu pela primeira vez um rouxinol: "Eta passarinho chato!"

 - Do cabo Firmino, na revolução de 30, promovido pelo comandante da Força Pública Mineira, por ato de bravura em batismo de fogo: "Uai, seu coronel, tava pensando que era manobra."

 - De Hemingway sobre a famosa modelo Kiki de Montparnasse: "A única mulher que nunca dormiu em sua própria cama."

 - De um estudante para mim: "Escritor é o Euclides! Olha só: O sertanejo é — vírgula! — antes de tudo — vírgula! — um forte — ponto!"

Fonte:
Rir é o único jeito.SP: Editora Tecnoprint,, 1976.

Casa do Poeta de Canoas (Sarau de Aniversário)


A Casa do Poeta de Canoas realizará 

Sarau de Aniversário 

28/09/2012, Sexta-feira, às 19 horas 

no Conjunto Comercial Canoas

Rua 15 de Janeiro, 481 - Centro / Canoas

Gostariamos de contar com o prestígio da presença de todos nosso associados, 
parceiros, amigos e simpatizantes para abrilhantar este evento que comemora os 
10 anos de existência de nossa entidade.. 

Maria Luci Cardoso Leite
Presidente da Casa do Poeta de Canoas

PROGRAMAÇÃO DAS ATIVIDADES ALUSIVAS AOS 10 ANOS DA CASA DO POETA DE CANOAS

Dia 26 de setembro (quarta-feira)

Participação no XX Congresso de Poesia na cidade de Bento Gonçalves , com apresentação do Grupo de Teatro da Casa do Poeta com a peça TRAVESSIA.

Dia 28 de setembro (Sexta-feira)

19h - Sarau de Aniversário no Conjunto Comercial de Canoas.

Dia 2 de outubro (Terça-feira)

18h30min - Abertura Oficial de Exposição de fotos dos 10 anos de atividades da Casa do Poeta na Biblioteca Publica João Palma da Silva.

19h - Projeto Confraria da Leitura - Auditório da Bibliotecas João Palma da Silva.

 Palestrante: Jornalista e escritor Canabarro Tróis Filho (Tonito), tendo também a presença do Irmão Henrique Justus.

Dia 5 de outubro (Sexta-feira)

19h - Tributo a Roberto Carlos, com Luis Lisboa e Norberto Prado.
 Antiga estação férrea - Av. Victor Barreto, 2301 - Centro - Canoas

Dia 6 de outubro (Sábado)

12h - Almoço Comemorativo aos 10 Anos de nossa entidade, com Sarau Poetico Musical e Lançamentos da Coletânea da UBE Nucleo Canoas , Coletânea Dasnieve Daspet e Amigos núcleo Canoas e o livro "Amor de Alma" da escritora Neida Rocha.

 Restaurante Italianíssimo - Coronel Vicente, 260 - Centro - Canoas.

Dia 9 de outubro (Terça-feira)

13h - Lançamento da 4ª Edição do Projeto Poesia no Ônibus.

Dia 9 a 11 de outubro

Participação com contação de história, oficinas literárias e Sarau na feira do livro da Escola Estadual Érico Veríssimo no bairro Igara

Dia 18 de outubro (Quinta-feira)

18h - Homenagem na Câmara de Vereadores pelos 10 anos de atividades da entidade.
 Câmara Municipal de Canoas - Rua Ipiranga, 123 3º andar - Centro

Dia 26 de outubro (Sexta-feira)

15h - Homenagem aos Ferroviários pela passagem do seu dia (31/10), com Exposição de objetos cedidos pelo Museu do Trem de São Leopoldo e exibição do curta metragem "Dormentes do Tempo", na versão original 30mm.
 Antiga estação férrea - Av. Victor Barreto, 2301 - Centro - Canoas

19h - Apresentação da peça A TRAVESSIA, pelo Grupo de Teatro da Casa do Poeta. Encerramento das atividades alusivas ao aniversário da Casa do Poeta de Canoas.
 Antiga estação férrea - Av. Victor Barreto, 2301 - Centro - Canoas

Fonte:
Casa do Poeta de Canoas

José Saramago (Levantado do Chão)


O romance Levantado do chão, escrito em 1979, tem a especificidade de demarcar um ponto de superação na expressão literária e romanesca de José Saramago. Na obra, o autor consegue desenvolver uma forma de discurso que reproduz a diversidade conflituosa da realidade retratada pela narrativa em construção, através da incorporação da tradição oral dos camponeses alentejanos.

 O título da obra simboliza, com perfeição, a vida e a produção literária de um autor que conheceu o desalento e a incompreensão mas que soube porfiar, erguendo-se do chão, qual fértil campo espiritual que Saramago cultivou e que neste dia frutificou de uma forma perene. Nesta obra, Saramago elevou em epopéia a vida dos trabalhadores alentejanos, em três gerações de dor e sofrimento, viajando como narrador (que se trata a si próprio como "o narrador") entre o passado do século XV e o tempo do presente acompanhando Domingos Mau-Tempo, o seu filho João, os seus netos António e Gracinda, casada com António Espada, personagem importante na diérese.

 No romance, desde a contracapa, sabe-se que o universo por ele criado é filtrado pelo imaginário e pelo sonho e o olhar que lança para as muitas possibilidades deixadas pelos espaços em branco da historiografia portuguesa. Através dos filtros – sejam eles suas memórias, de quem assistiu a todo o processo revolucionário, as suas convicções pessoais, as histórias que ouviu dos camponeses e as suas aspirações de que os homens portugueses fossem de outra maneira - imprimem à obra a sua subjetividade, que ao desregular o tempo das experiências social e individual, oferece-se como uma visão alternativa do passado; atitude que, em última análise, significa integrar uma outra significação para os fatos que já estavam solidificados na mentalidade portuguesa e apontar a precariedade de qualquer conhecimento previamente instituído.

 Com efeito, o entrecruzamento dos fatos narrados e dos fatos históricos abordados pelo romance adquire um estatuto de verdade e é capaz de justificar e produzir condutas. Entretanto, este discurso que se constrói se ocupa, primordialmente, de descristalizar aquilo que conhecemos da história e estabelece-se, intratextualmente, como uma verdade possível e, portanto, provisória que não tem como objetivo negar os saberes anteriores.

 Ciente daquilo que não é competência dos historiadores, José Saramago se serve de suas lacunas e de suas afirmações para revisitá-la e tecer críticas a respeito de sua construção, para criar uma outra ficção que se apóia, duplamente, na existência de figuras históricas reais e na de homens sem história e sem lugar na documentação para, no somatório das duas, criar um discurso – por isso, precário – que seja capaz de abranger e explicar as relações humanas e sociais.

 A imbricação em sua narrativa de episódios históricos e fatos sociais portugueses para questionar a responsabilidade civil dos homens antes, durante e após a restauração da democracia, aponta para o fato que, em sua narrativa, existe um diálogo muito forte com concepções previamente instituídas do estatuto social do português e que, ao longo dos anos da ditadura, mantiveram-se e reforçaram-se por imposições do Estado e pela aceitação delas por estes homens.

Levantado do Chão se ocupa primordialmente da saga de uma família de camponeses pobres, os Mau-Tempo, que desde o século XV habitam Portugal, na região do Alentejo e são os escolhidos pelo autor para relatar a difícil relação do homem português com a terra e com o desenrolar dos acontecimentos por ela motivados.

 Os Mau-Tempo são testemunhas e combatentes de lutas como a chegada da República, a Primeira Guerra Mundial, a Guerra da Espanha e o 25 de Abril, eventos históricos de grande importância para Portugal, e que contarão a história de Portugal de “uma outra maneira” – baseada naquela que não foi documentada e que está fora dos registros oficiais.

NARRAÇÃO / LINGUAGEM

 A diferenciação existente entre Levantado do Chão e a tradição do romance histórico é mais nítida no estatuto do narrador e nas funções das personagens. Quanto ao primeiro aspecto, nota-se a existência de um narrador que acompanha a ação, comenta e critica, em onisciência, que usa o aforismo ou a profecia levando o leitor a incorporar-se no texto numa dialética ativa entre passado, presente e futuro, na qual ele é guia e consciência.

 As personagens são alvo da análise objetiva até à exposição do estatuto fictício e de inverosimilhança numa mistura de realista e ficcional, que é apresentada ao leitor revelando a meta-ficção histórica.

 A reconstrução do romance histórico em Saramago tem na personagem, como já indiciado, outro exemplo de subversão. Na tradicional ordenação das personagens do romance histórico, podia-se encontrar o protagonista-tipo, representante das evoluções do momento histórico-social e as figuras históricas típicas. Estes elementos são a antítese em Saramago.

 Resgatando narrativas orais populares, fazendo uso da ironia, utilizando o discurso indireto livre, José Saramago dá a Levantado do Chão um tom ensaístico, sem compromisso com a verdade na medida em que tenta abranger a totalidade das relações humanas e sociais, mesmo que esteja ciente de que o fará sempre de maneira precária pela própria contingência de saber que constrói um discurso. O conhecimento daquilo que se apresenta no texto é, não raramente, acompanhado da discussão do próprio fazer literário.O discurso metaficcional revela ao leitor a consciência de que se trata de um relato sobre a realidade, e não da realidade em si: o(s) narrador(es) sabe(m) que a representação fiel da realidade é impossível na dimensão do discurso e, neste sentido, o romance rompe com o compromisso de verdade assumido pelos neo-realistas.

TEMPO

 A história contada por Saramago atravessa vários períodos de Portugal, desde a época da monarquia, no início do século XX, o fim da monarquia, a república, a ditadura e a volta da liberdade no final do século XX. 

ESPAÇO

 Portugal - Alentejo.

 O espaço romanesco em Levantado do chão é constantemente identificado com grandes extensões de terra, com planícies e vales cuja dimensão mal pode ser abarcada pelo olhar humano. 

 Na prisão que é o Latifúndio, a relação do trabalhador com o seu espaço é extremamente árida. Para ele, a lida com a terra se dá de maneira esgotante, causando amargura e sofrimento. Não existe amor na execução mecânica de tarefas que farão o solo frutificar para um maior enriquecimento de seus donos. Contudo, no espaço ficcional criado por Saramago, o trabalhador rural, cuja condição por séculos apresentou-se imutável, pôde transformar a sua situação. Acompanhando a história da família Mau-tempo, podemos perceber como isso se deu.

 João, patriarca da família e protagonista do romance, desde pequeno estabelece uma relação muito estreita com o espaço onde mora e trabalha. A consciência de que as terras que ele cultiva pertencem a homens que exploram seu trabalho é muito forte. Tão forte que, mesmo sem ter o que comer e o que dar de comer aos seus filhos, fá-lo resistir à pressão dos latifundiários para que a colheita seja feita mediante um pagamento miserável. Quando o feitor insiste em dizer que não serão pagos mais de vinte e três escudos pela jorna, João está decidido:

(...) É então que João Mau-Tempo abre a boca e as palavras saem, tão naturais como se fossem água a correr de boa fonte, Ficará a seara ao pé, que nós não vamos por menos. (LC, p.141)

 O narrador, absolutamente simpático à causa dos trabalhadores rurais, como fica claro na comparação que ele estabelece entre as palavras de João e a água de boa fonte, já afirmara, páginas antes: "Posto em seu devido tempo na terra, o trigo nasceu, cresceu e agora está maduro" (LC, p. 138). Estabelecer correspondência entre o trigo e os lavradores é inevitável: é chegada a hora de seu amadurecimento político. Depois de um longo processo, nascimento e desenvolvimento, a consciência dos homens finalmente manifesta-se em toda a sua plenitude. E a mobilização dos trabalhadores para que a oferta dos patrões não fosse aceita mapeia todo o Latifúndio:

(...) Não tinha havido multiplicação dos peixes, havia multiplicação dos homens. Ali se fizeram dois grupos, dividiu-se o itinerário, uns tantos para o Pendão das Mulheres, outros para o Casalinho, e neste monte tornariam a juntar-se todos para distribuir outra vez. (LC, p. 145)

 Percorrer as terras é, nesse momento, uma forma de se apropriar delas. Semeando a resistência contra a exploração dos patrões, os homens afirmam o seu direito de serem respeitados e dignamente pagos pelo seu trabalho. O resultado desse movimento é a vitória dos grevistas. Os latifundiários resignam-se a pagar trinta e três escudos pela jorna e os trabalhadores comemoram o fato entusiasticamente. O que vem logo depois, é fácil de se prever: João e os outros grevistas são presos e torturados. A humilhação e a dor, levadas às últimas conseqüências, não conseguem, porém, desencorajar a luta dos lavradores.

 A metáfora, o latifúndio é um mar interior, que marca o início de um dos últimos capítulos da narrativa, alude às seculares relações sociais existentes no espaço conformado pelo Latifúndio e à ininterrupta mobilização que incansavelmente operam os trabalhadores rurais. Nesse universo, em que os peixes miúdos garantem o sustento dos peixes maiores e mais vorazes, a aparente ordem das coisas pode, algumas vezes, ser abalada pelas marés e ressacas. É o que acontece quando os lavradores reivindicam o direito de trabalharem oito horas por dia. Outra vez o espaço do Latifúndio é percorrido para que todos possam se engajar no movimento: 

(...) Anda uma voz pelos caminhos do latifúndio, entra nas vilas e nas aldeias, conversa nos montes e nos montados, uma voz de duas palavras essenciais e de outras muitas que explicam essas duas, oito horas, (...) (LC, p. 328)

 Depois de os trabalhadores rurais alcançarem mais uma vitória, acontece finalmente o 25 de Abril. Mas as comemorações públicas e livres do Primeiro de Maio, que sucedem a Revolução e enchem os corações de alegria, logo dão lugar às antigas formas de opressão no latifúndio. Os Bertos unem-se para que a ordem se mantenha e negam a colheita aos trabalhadores com o intuito de que eles aceitem as vergonhosas condições de outrora. A resposta a esse desmando não demora:

E então num sítio qualquer do latifúndio, a história lembrar-se-á de dizer qual, os trabalhadores ocuparam uma terra. Para terem trabalho nada mais, cubra-se de lepra minha mão direita se não é verdade. E depois numa outra herdade os trabalhadores entraram e disseram, vimos trabalhar. E isto que aconteceu aqui, aconteceu além, é como na primavera, abre-se o malmequer do campo, e se não vai logo Maria Adelaide colhê-lo, milhares de seus iguais nascem em um dia só, é assim como o noivado desta terra. (LC, p. 361)

 A ocupação das terras alastra-se como os malmequeres. Em pouco tempo, todas as herdades são invadidas. Uma multidão avança e, em clima de festa, perfaz a caminhada pela posse da terra:

Depois das Mantas vão ao vale da Canseira, às Relvas, ao Monte da Areia, à Fonte Pouca, à Serralha, à Pedra Grande, em todos os montes e herdades são tomadas as chaves e escritos os inventários, somos trabalhadores, não viemos roubar, afinal nem há aqui ninguém para afirmar o contrário, porque de todos os lugares percorridos e ocupados, montes, salas, adegas, estábulos, cavalariças, palheiros, malhadas, cantos, cantinhos e escaninhos, pocilgas e capoeiras, cisternas e tanques de rega, nem falando nem cantando, nem calando nem chorando, estão Norbertos e Gilbertos ausentes, para onde foram, sabe-se lá (...) (LC, p. 364)

 A ausência dos donos do Latifúndio explica-se pela fuga em massa empreendida quando sua condição de senhores da terra se mostra insustentável. Sem o apoio da Igreja, retraída à espera dos novos rumos da História, e sem o apoio do novo governo revolucionário, grande parte dos latifundiários deixa o campo e, desse modo, as fazendas podem ser legitimamente ocupadas por aqueles que sempre nelas trabalharam.

 A apropriação do espaço consuma-se de forma a concretizar a tão esperada justiça conclamada pelo narrador desde o início do romance. Levantados do chão, os trabalhadores rurais apossam-se das propriedades agrícolas e sentem-se livres para viver uma realidade sem a exploração do próprio trabalho.

CARACTERIZAÇÃO DAS GERAÇÕES QUE COMPÕEM A NARRATIVA

1ª geração: Tempo de silêncio. São pessoas acuadas pela religião, pela opressão do governo e exploradas pelos donos das terras. A vida é marcada pelo conformismo e não vêem nenhuma perspectiva de mudança. A primeira geração é representada pelo casal Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição cuja vida é pontuada pela errância e pelo sofrimento. 

2ª geração: tempo das perguntas. Os homens passam a questionar sua situação e a ver que algo pode mudar e que a mudança depende deles, da sua coragem para enfrentar os donos das terras , o governo e se revoltar contra a Igreja. É representada por João Mau-Tempo, e é a geração que começará a tomar consciência da importância da luta.

3ª geração: Tempo da luta. Os homens passam a fazer greves e a lutar pelas mudanças que desejam. Nesse período, muitos são presos e outros tantos morrem. Manuel Espada é o revolucionário que marca essa época.

 Maria Adelaide é a possível resposta para o tempo das perguntas, porque assiste ao fim da ditadura e da geração dela para frente, tudo pode ser construído de maneira diferente, só depende dela.

ENREDO

Introdução: O autor faz reflexões sobre a questão agrária: "o que mais há na terra é paisagem" e a importância do dinheiro: "o lugar do dinheiro é um céu, um alto lugar onde os santos mudam de nome quando vem a ter que ser, mas o latifúndio não." Propõe-se, então, a contar uma história diferente de toda a situação de amargura de desespero do homem do campo: crescei e multiplicai-me, diz o latifúndio Mas tudo pode ser contado de outra maneira.

1ª geração: Domingos Mau-Tempo e Sara da Conceição

 O livro tem início com uma grande chuva, que marca a chegada da família em São Cristóvão: "Chamo-me Domingos Mau-Tempo e sou sapateiro Disse um dos homens sentados a sua graça, Mau tempo trouxe vocemecê." Essa família saiu de Monte Lavre porque a vida estava difícil. A mulher, Sara da Conceição, é extremamente oprimida pelo mundo masculino. O marido entra na taberna e ela é obriga a ficar com o filho João do lado de fora, pois "a taberna é sítio dos homens". Depois de saírem de lá, buscam um lugar para ficar, e encontram uma casa simples, sem janelas. Sara sente que está grávida novamente, mas teme comentar com o marido.

 O primeiro filho do casal, João Mau-Tempo, se dá muito bem com a mãe. Ele foi a causa do casamento de Sara e Domingos, pois ela se entregou a ele, solteira, no meio dos trigos, no mês de Maio, ficando grávida. O menino nasceu com olhos azuis e o autor nos explica que isso é uma descendência germânica que aparece em alguns membros dessa família.

 Com o passar do tempo, Domingos começa a beber muito e Sara constantemente é obrigada a ir buscá-lo no meio da noite, em lágrimas. Devido às dívidas que Domingos fez na taberna, a família foi obrigada a se mudar novamente e Sara dá a luz a Anselmo, no meio de muita dor e sofrimento.

 Na outra cidade, Landeira, Domingos é acolhido pelo Igreja do padre Agamedes, mas não abandona a bebida a acaba cobiçando uma mulher que vivia com o padre. Devido a isso, passou a ser mal visto na paróquia, mas jurou que se vingaria do padre, que o havia repreendido. Nomeio de uma missa, brigou com o pároco e eles rolaram as escadas da Igreja. Por causa desse acontecimento, a família se viu obrigada a se mudar para outro lugar.

 Nesse momento, o narrador interrompe a história para localizar o leitor no momento histórico que Portugal atravessava. A monarquia havia caído e chegara a República, mas nada mudou na vida do homem do campo: "ente o latifúndio monárquico e o latifúndio republicano, não se viam diferenças."

 Nessa época, os camponeses resolveram se juntar e ir ao administrador da fazenda, pedir melhores condições de vida. Lamberto, dono do latifúndio chama a polícia e muitos apanham e são presos e mortos.

 Retomando a narrativa, percebemos que Sara têm mais dois filhos, Maria da Conceição e Domingos, entretanto, somente João tinha olhos azuis.

 Com a passar dos anos, Domingos começou a desaparecer por algum tempo e depois voltar para casa. Sara, desesperada, voltou para a casa dos pais com os filhos. Domingos chegou a procurá-la algumas vezes, mas ela se separou definitivamente e se escondia dele. Sem ver sentido em sua vida, Domingos se enforca. Sara ainda cuida dos filhos e dos netos, mas passa a ter sonhos com Domingos e acaba ficando louca e morrendo doente.

2ª geração: João Mau-Tempo e Faustina

 João, como filho mais velho, assume a família e começa a trabalhar desde pequeno. O mundo está em guerra e eles passam muitas dificuldades. "João não tem corpo de herói. É um pelém de dez anos retacos, um cavaco de gente que ainda olha as árvores... É uma injustiça que se lhe faz obrigá-lo a levantar-se ainda noite fechada, andar meio a dormir e com o estômago frouxo o pouco ou muito caminho que o separa do lugar de trabalho e depois dia fora, até o sol posto, para tornar a casa outra vez de noite, morto de fadiga, se isto é ainda fadiga, se não é já transe de morte."

 Um pouco mais velho, João, então, conhece seu grande amor, Faustina, e decidem se casar. A família da menina não permitiu a união e eles fugiram, levando um pedaço de pão e chouriço para comer : "Em pouco tempo perdeu Faustina a sua donzela, e, quando terminaram lembrou-se João do pão de do chouriço, e como marido e mulher o repartiram"

 Enquanto isso, o povo continuava a viver oprimido pelos bertos, apanhando muito do feitor da fazenda, sem poder reclamar.

 João e Faustina têm três filhos, Antônio, Amélia e Gracinda. Antônio começa a trabalhar desde cedo, como o pai. O trabalho no campo é duro e os homens começam a se organizar em torno do comunismo. Sobre isso, o narrador afirma: "Outros, porém, já se levantaram, não no sentido próprio de quem suspirando se arranca do doloroso conforto... mas naquele outro e singular sentido que é acordar em pleno meio dia e descobrir que um minuto antes ainda era noite." João acaba se envolvendo em um manifesto e vai preso. Historicamente, Salazar tinha assumido o poder em Portugal. O padre Agamedes, continuava trabalhando para oprimir o povo e tinha sempre um discurso de conformismo, fazendo os homens aceitarem a situação. Nesse período, um jovem idealista, chamado Manuel Espada se destaca, por ser revolucionário e querer mudanças para a vida do trabalhador. Ele e Antônio, filho de João Mau-Tempo, tornam-se amigos. Movidos pelo discurso comunista, Manuel, João e outro vão aos patrões para reclamar das condições de trabalho e pedir melhores salários. Acabam sendo presos por muito tempo. Faustina vai até lá, juntamente com as filhas Gracinda e Amélia . Manuel Espada e Gracinda se vêem e se apaixonam. Todos acabam voltando livres para casa e Manuel e Gracinda começam a namorar, apesar dele ser sete anos mais velho que ela.

3ª geração: Manuel Espada e Gracinda Mau-Tempo

 O casal não pode se unir de imediato, porque Gracinda é muito jovem e não tinha enxoval. Nesse período, Manuel é tido como o primeiro grevista de Monte Lavre, porque não aceita a opressão dos latifundiários. Gracinda, depois de três anos, sente-se pronta para casar e demonstra ter um pressentimento de que sua criança seria especial.

 Finalmente, chega o dia da festa e a cerimônia é realizada pela padre Agamedes. O narrador deixa claro que o padre não é o mesmo do início do livro: "nem o padre é o mesmo, as pessoas não são eternas". Na verdade, essa figura representa a igreja. O padre começa a fazer o seu discurso: "se não fôssemos nós, a igreja e o latifúndio, duas pessoas da santíssima trindade, sendo a terceira o Estado.. como sustentariam eles a alma e o corpo..." Antônio Mau-Tempo interrompe a fala do padre e faz um discurso altamente revolucionário, sabendo colocar o padre em seu lugar. O casamento se realiza e no dia seguinte, Manuel já tem que trabalhar.

 As agitações políticas no latifúndio aumentam e João acaba sendo preso novamente. A família fica em lágrimas e ele é condenado a trinta dias de isolamento. Lá, sofre muito, sendo insultado e espancado nas pernas. Quando João sai da cadeia, já está velho, mas seus olhos têm o mesmo brilho azul de outrora. Antônio que estava no exército, volta para casa porque tem problemas de saúde, e vem trabalhar no latifúndio. Gracinda fica grávida e Manuel e Antônio passam a trabalhar juntos.

 A criança do casal representa uma mudança "Quem em tudo isso não encontrar novidades, precisa que lhe tirem as escamas dos olhos ou lhe abram um buraco na orelha".

 A menina chama-se Maria Adelaide Espada, e nasce com os mesmos olhos azuis do avô. O narrador antecipa o significado disso: "quando ele chegar faremos a comparação e então ficaremos a saber de que azul enfim se trata". João chega e vai ver a menina "João Mau-Tempo vê que seus olhos são imortais".

 Historicamente, percebe-se que a ditadura continua. O narrador, que domina o texto, demonstra sua tristeza por perceber que a história não mudava, porém, os latifundiários se organizam novamente e o povo passa a pedir eleições livres: "o mar levanta-se, levantam-se os braços, as mãos trazem as rédeas ou trazem pedras apanhadas do chão (...) Era uma cena de batalha digna... Esta foi a carga do vinte e três de junho fixai bem a data na memória E quando os dragões passaram João Mau-Tempo não pode segurar as lágrimas, de raiva eram e de uma grande tristeza também. Quando será que acaba o nosso martírio" João chorava porque a ditadura não caíra com a insurreição dos camponeses.

 Porém, mais uma vez, os trabalhadores se organizaram e foi um grande momento da história do latifúndio. Era o mês de abril, período em que aconteceu em Portugal a Revolução dos Cravos, que finalmente acabou com a ditadura. "foi-se deslaçando a sagrada aliança" João fica doente e sabe que vai morrer. A neta Maria Adelaide vem para se despedir do avô e, ao se olharem, é como se "tivessem trocado de olhos".

 A menina está crescida e desde cedo começa a trabalhar longe. Já tem 19 anos e percebe que não foi criada para ser princesa, mas tem sonhos. Um dia, quando está voltando do trabalho para casa, percebe que algo mudou. Pressente que a ditadura chegou ao fim pela revolução do povo. "é como se tivesse vivido sempre com os olhos fechados e agora, enfim, os tivesse ‘abrido’ ...é dona da sua liberdade." Maria Adelaide começa a chorar e a gritar: "Viva Portugal". No dia 1º de maio, dia do trabalho, ela caminha pelas ruas de seu país: está aqui escrito que o primeiro de Maio será festejado livremente, é dia feriado em todo o país "Tanto se apregoou de mudanças e de esperanças, saíram as tropas dos quartéis, coroaram-se os canhões de ramos e de eucalipto e os cravos encarnados, diga vermelhos, minha senhora, diga vermelhos, que agora já se pode".

 "Depois se Maria Adelaide começar a chorar não se admirem, chorará nesta mesma noite quando ouvir dizer a voz na rádio, Viva Portugal, será nesse mesmo instante, ou já terá sido antes, às primeiras notícias de ontem, quando atravessou rua para ver mais perto os solados...ela sabe, percebe que a vida mudou." No meio da festa do povo e junto de Maria Adelaide, estão Domingos, Sara, João, Faustina, e tantos outros que morreram na luta pela liberdade e pela reforma agrária. Todos vieram ver de perto esse dia "levantado e principal".

COMENTÁRIOS

Mau-Tempo - Família que representa o sofrimento do homem do campo português e o mau tempo da ditadura. "Há quem diga que sem o nome que temos não saberíamos quem somos, é um dito que parece perspicaz e filosófico." "Esta família Mau-Tempo parece escolhida pelo destino para negros casos".

Olhos Azuis - Certas pessoas dessa família nascem com olhos azuis. "...outra rapariga, quase quinhentos anos antes, que estando um dia sozinha na fonte a encher sua infusa, viu chegar-se um daqueles estrangeiros que...desatendendo aos gritos e rogos da donzela, a levou a uma espessura de fetos, onde, a seu prazer, a forçou. Era um galhardo homem de pele branca e olhos azuis, que não tinha outra culpa que o atiçado no sangue... Assim, durante quatro séculos estes olhos azuis vindos da Germânia apareceram e desapareceram, tal como cometas que se perdem no caminho e regressam quando com eles já não se conta..."

História de Portugal - Monarquia / República: "O trono caíra, o altar dizia que por ora não era este reino o seu mundo, o latifúndio percebeu tudo e deixou-se estar, e um litro de azeite custava mais de dois mil réis, dez vezes a jornada de um homem. Viva a República! Viva o patrão!"

Guerra - "É a guerra aquele monstro que primeiro devore os homens lhes despeja os bolos, um por um, moeda atrás de moeda... Em alguns lugares ao redor houve gente que pôs o luto, o nosso parente morreu na guerra. O governo mandava condolências, sentidos pêsames e dizia que a pátria."

Ditadura de Salazar - "Viva Portugal...estamos aqui reunidos....como continuadores da grande gesta lusa e daqueles nossos maiores que deram novos mundos ao mundo e dilataram a fé e o império, mais dizemos que ao toque do clarim nos reunimos como um só homem, ao redor de Salazar, o gênio que consagrou a sua vida, aqui tudo grita Salazar Salazar, ...abaixo o comunismo, morram os traidores da pátria , morram..."

Fim da Ditadura -  Revolução dos Cravos.

Posição da Mulher - Percebe-se que a mulher também se levanta do chão. Sara é oprimida pelo mundo masculino; Faustina tem maior participação na vida da família e na vida do marido; Gracinda é mais decidida e tem opinião forte, personalidade; Maria Adelaide marca o levantar da mulher na sociedade, porque é independente, trabalha desde cedo e recebe a missão de mudar (olhos azuis). 

 "De mulheres nem vale a pena falar, tão constante é o seu fado de parideiras e animais de carga" (Sara).

 "De homens se continuará a falar, mas também cada vez mais de mulheres... é que os tempos vêm aí..." (Faustina).

 "...afinal não é tão grande a diferença assim entre mulher e homem, a não ser o salário." (Gracinda).

 "...ela sabe, percebe que a vida mudou." (Maria Adelaide).

Latifúndio X mar

 "O latifúndio é o mar interior. Tem seus cardumes de peixes miúdos e comestíveis, suas barrancudas e piranhas de má morte... É mediterrâneo...dizer que o latifúndio é um mar...se esta água agitarmos , toda a outra em redor se move, às vezes de tão longe que os olhos o negam, por isso chamaríamos enganadamente pântano a este mar, e o que fosse.. Este é o grande mar do latifúndio... A este mar do latifúndio chegam ressacas, pancadas, empurrões das águas e quando às vezes basta derrubar um muro, ou simplesmente saltá-lo...muito se irá falar do latifúndio, qual mar, qual nada, o que isto é, é terra as mais das vezes seca, por isso é que os homens dizem Quando será que matamos a sede".

 Saramago inova, porque com o livro Levantado do chão, demonstra que a única solução para Portugal é ‘levantar do chão’. Deixar de aguardar soluções maravilhosas e míticas e lutar pelo país.

 Fontes: 
Vima Lia Rossi Martin, USP | Camile Tesche, Mestra em Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, USP. Disponível em PASSEIWEB