sábado, 3 de novembro de 2012

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 5 de novembro ; Lacrimae rerum...

(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

A religião, essa sublime epopéia do coração humano, tem um símbolo para cada sentimento, uma imagem para todos os acidentes da nossa existência.

É aos pés do altar que o homem vê abrir-se para ele a fonte de todas as supremas venturas deste mundo – a família; e, quando o sopro da desgraça vai desfolhando uma a uma as flores da vida, é ainda aos pés do altar que achamos o consolo para as grandes dores, a esperança nos maiores infortúnios.

É que nesta breve romaria que fazemos pelo mundo, a religião nos acompanha como  esses guias mudos do deserto, apontando-nos umas vezes o nada de onde partimos, outras a eternidade  para onde caminhamos, e mostrando-nos a espaços com um aceno a linha negra que prognostica o simoun, ou os rastos dos animais que anunciam o oásis no meio das vastas sáfaras de areia.

Quantas vezes no seio das alegrias e dos prazeres, quando nossos olhos vêem tudo cor-de-rosa, quando o ar que respiramos parece vir perfumado dos bafejos da ventura, não sentimos de chofre o coração apertar-se como tomado por um doloroso pressentimento, e a alma confranger-se numa angústia pungente?

O deslumbramento passa rápido como o pensamento que o produziu. Mas dir-se-ia que o coração, comprimindo-se, como que vertera na taça do prazer uma gota de fel, e que entre o rumor da festa e os sons alegres da música, viera ferir-nos os ouvidos um eco surdo das lamentações de Jô: Memento quia pulvis est!... 

Também às vezes a fortuna nos embala docemente, e a ambição nos empresta suas asas de ouro, ao passo que a glória envolve-nos com a sua auréola brilhante. Então o homem caminha com os olhos fitos na sua estrela, e com a cabeça alta  passa sem perceber as misérias do mundo. Sublimi feriam sidera vértice.

Mas lá vem um dia, uma hora, um instante em que o corpo verga com o peso de tanta grandeza, e a cabeça acurva-se para a terra. Os olhos que mediam o espaço vacilam; a vista que se dilatava pelos horizontes e ousava sondar os arcanos do futuro  quebra-se de encontro a uma lousa, a um fosso, onde a pá do coveiro traçou num estreito quadrado e com um pouco de terra revolvida o emblema daquela sentença do Eclesiástico: Vanitas vanitatum et omnia vanitas!

Se, porém a religião é severa  nos seus conselhos, se durante os dias de paz e de ventura fortifica o homem por meio da tristeza, na dor ao contrário é de uma bondade inefável.

Nem uma fibra palpita no corpo humano, nem uma pulsação abala o coração, nem um soluço arqueja num peito quebrado pelo sofrimento, que não ache nela um eco, uma voz que  lhe responda.

Nesse grande livro da fé e da esperança, neste sublime diálogo entre Deus e o homem, todas as lágrimas têm uma palavra, todos os gemidos têm uma frase, todas as dores uma prece, todos os infortúnios uma história.

A vida humana se resume na religião; nela se acha a essência de todos os grandes sentimentos do homem e de todas as grandes coisas do mundo.

Tem a severidade e o respeito que inspira a paternidade, e ao mesmo tempo todos os zelos da maternidade. Aconselha como um  pai, quando fala pelos lábios do sacerdote; é a mãe que se multiplica para seus filhos, quando abriga no seu seio todos os infelizes.

Mas, quando se folheia este livro da vida, e que se chega à última página – à morte – quando a alma, em face do nada  sente-se tomada desta grande e assombrosa ameaça do completo aniquilamento, é que se sente quanto há de consolador na religião.

Entre as sombras da dúvida, entre o vago do infinito, a eternidade surge para nossa alma como uma dessas estrelas furtivas que brilham entre o Cris negro da tempestade, e que guiam o nauta perdido na vasta amplidão dos mares.

Se queres ler a legenda desta crença sublime de todos os povos e de todos os tempos, ide no dia 2 de novembro, dia que a igreja destinou à comemoração dos finados, fazer uma visita aos nossos cemitérios.

Haveis de sentir calar-vos dentro d’alma um eflúvio consolador, quando virdes toda aquela piedosa romaria que percorre as aléias formadas pelos túmulos, relendo entre o pranto as letras de um epitáfio singelo, e espargindo sobre a lousa alguma s flores misturadas de lágrimas e de preces.

Este aspecto de uma multidão forte e cheia de vida prostrada ante as cinzas de alguns mortos não exprime alguma coisa de misterioso, alguma coisa de incompreensível, que decerto se prende a esse religioso culto dos túmulos sempre venerado por todos os povos?

Para que o homem venha assim cada ano avivar uma dor quase extinta, e ver refletir-se na lousa da campa os transes acerbos de uma triste provança já acalmada pelo correr dos tempos, é necessário a força irresistível da verdade revelada pelos impulsos do coração.

Sem isto, não é possível compreender-se o respeito que votamos aos mortos, nem essa melancólica poesia da saudade que inspira a religião dos túmulos.

Se nestas campas que há anos se abriram para receber um corpo houvesse apenas um pouco de terra e alguns vermes, o homem que se prostasse  em face delas não cometeria uma profanação? Ajoelhando à beira da lousa e sangrando um culto ao pó, não rebaixaríamos a dignidade de um ser moral, escravizando a razão à matéria, a vida ao nada? Se outra coisa mais forte do que a recordação não nos impelisse a estes espetáculos de luto e de tristeza, não daríamos uma mesquinha idéia da natureza humana?

É verdade; mas os restos dos mortos encerram de envolta com as recordações deste mundo as esperanças de outra vida. É por isso que no meio das preces, e das lágrimas e flores que vem depor ao pé da campa a mão amiga, a cruz singela se ergue como o símbolo da fé e da religião. Os nossos cemitérios, criados há bem pouco tempo, ainda não apresentam este aspecto grave e imponente que ressumbra ordinariamente no campo dos mortos

Ainda não há aí essas longas e sombrias alamedas de árvores, essas bancadas de relva onde se destaca uma lousa branca, nem esses ciprestes e chorões plantados à beira de uma sepultura simbolizando no seu aspecto triste e melancólico a oração que se  eleva ao céu, ou as lágrimas que se desfiam a tombar sobre a terra.

A nudez do campo quase despido de árvores, o desabrigo das lousas sobre cujas pedras brancas o sol bate constantemente, punge o coração, e como que torna acre e acerba aquela mágoa da saudade, que a religião repassa de tanta doçura e de tanto alívio. Naquelas quadras descampadas a morte não tem sombra, a dor não tem ecos e a religião não tem mistérios.

Entretanto este ano, cumpre dizer em honra do espírito religioso da nossa população, empregaram-se todos os esforços para fazer desaparecer aquele aspecto de nudez, e a romaria foi talvez mais numerosa do que nos anos anteriores.

O cemitério de São João Batista sobretudo estava preparado da melhor maneira possível; e, além do arranjo devido aos esforços do administrador, podia-se admirar alguns monumentos funerários de uma singeleza e de um gosto perfeito.

Sinto que não me seja possível copiar aqui algumas inscrições, cheias dessa simplicidade e dessa unção que respira uma dor verdadeiramente sentida; mas vós que lá fostes deveis tê-las lido, embora uma mão desconhecida não houvesse aí gravado aquele epitáfio antigo: Sta viator!

II

Não sei que poeta disse que a vida é um contraste. Pindaro chamou-a o sonho de uma sombra, e Byron comparou-a a uma estrela, que ora desliza docemente entre o azul do céu, ora vacila entre as nuvens escuras da borrasca.

Para mim, que não sou poeta, e que por conseguinte não aspiro à metafísica do sentimento e das imagens, se tivesse de comparar a vida a alguma coisa, seria a um  buquê, do qual cada flor simbolizaria um ano, um dia ou uma hora da nossa vida.

Assim umas flores morrem ceifadas pelo ferro ou pisadas ao chão, outras murcham lentamente ao tépido contato de um seio acetinado. Umas são desprezadas e secas por lágrimas de despeito, ou depositadas  numa campa como  pia oferenda, outras passam de uma mão à outra mão amiga, e vem embelezar-nos alguns momentos de cisma. 

De qualquer modo que se compare a vida, o que é certo é que a vida, o que é certo é que a semana que findou foi uma pequena miniatura do grande quadro da existência humana.

O dia 2 de novembro forma a sombra da tela; os claros foram lançados aqui e ali, uns mais brilhantes, outros mais desvanecidos pelo acaso, que é um grande pintor de quadros históricos.

A segunda-feira foi um dia de decepção, porque não só faltou-nos o benefício da Charton, como o espetáculo anunciado em substituição, que não teve lugar, segundo dizem, por moléstia do Gentili.

Em compensação tivemos na terça um baile do Cassino. Caso a comparação de Byron sobre a vida humana seja exata, creio que nesta noite, se para alguns as horas correram deliciosamente, para outros nem o  céu esteve azul, nem luziu a estrela (de Byron, está entendido). Provavelmente as nuvens encobriram-na.

Para outros que preferem a comparação do poeta grego, a vida foi durante essas horas não o sonho de uma  sombra, mas a sombra de um nome ou de uma letra.

Estão já os leitores curiosos por saber que nome e que letra era esta que me incomodava tão seriamente, a ponto de fazer-me sonhar com ela no meio de um baile. O nome não lhes direi, mas a letra é um – C.

Este – C – memorável, com que se escreve aceio, e que eu apesar do amor que lhe consagro tive a desgraçada lembrança de substituir por dois – SS – valeu-me um quinau em ortografia dado pelo colega do Velho Brasil, que não deixa passar camarão pela malha.

Esquecia-me, porém, dizer que podem saltar este artigo, que não vale a pena de ser lido. Como é um claro do quadro da semana, acho razoável que o passem em claro.

Asseguro-lhes que nada perderão com isto, porque neste artigo não se trata de coisa séria e grande. Prometi uma vez vestir o folhetim de casaca preta e gravata branca, e tiveram logo a impiedade de chamá-lo monstro! Portanto agora, quando me vier a idéia trajar mais curialmente o meu folhetim, há de ser de casaca parda com botões amarelos e calças de ganga, como costuma sair na semana e especialmente no domingo um colega contemporâneo.

III

Estamos quase no fim do quadro. – Faz uma bela noite, a lua passeia solitária pelo céu, refletindo-se nas água serenas de um lago, e reflete sua pálida claridade sobre as lousas de um cemitério. Algumas ruínas, o silêncio da noite, a sombra das árvores completam a vista.

Dois vultos, um amante infeliz e uma moça em desespero – um condenado e uma louca – ocupam o meio da cena. Cantam um dueto,  desenlace de uma história triste; se a música se pudesse perceber entre os aplausos ruidosos que enchem o salão, ouviríeis o belo dueto dos Puritanos, magnífico trecho de música de Bellini, cantado pela Charton, que nesta fazia o seu benefício.

Todos esperavam ansiosos esta festa musical dada pela cantora predileta do público, e às oito horas a creme dos dilettanti desta corte enchia o salão com as suas pessoas, e  com uma quantidade enorme de flores e versos, que oportunamente surgiram de dentro dos bolsos e dos lenços, e inundaram o teatro.

Ergueu-se o pano, e começou o coro da alvorada. De repente mudou-se a vista, e a platéia estremeceu com  uma salva tríplice de aplausos quase unânimes, que anunciaram a entrada da cantora.

Vinha trajada de azul, da mais bela cor que a natureza criou para cobrir as coisas lindas deste mundo, - as montanhas, o céu, o mar, e enfim as moças bonitinhas e alvas como o lírio, que não podem  deixar de compreender que o azul foi feito para moldurar o branco.

A Charton disse admiravelmente a ária do segundo ato, e, apesar de todos os contratempos que sobrevieram, teve o poder de fazer da noite de seu benefício um completo triunfo.

Algumas cenas desagradáveis tiveram lugar esta noite; porém a imprudência que as motivou foi suficiente,mente castigada, não só pela manifestação pública, como pela energia da polícia, que conseguiu reprimir muitos abusos.  À sua atividade devemos ter-se evitado um fato, que calamos por vergonhoso, e que talvez produzisse conseqüências bem tristes pela exacerbação a que tinham sido levados os ânimos.

Ao terminar o espetáculo, a orquestra do teatro, executando várias músicas, conduziu triunfalmente à sua casa a Charton, que seguiu a pé no meio de um concurso de mais de quatrocentos  dilettanti, entre os quais se contavam pessoas muito decentes, que o entusiasmo impelira a dar essa subida prova de diletantismo.

Eu, apesar de muito entusiasmado, retirei-me prosaicamente de carro, envergonhadíssimo  de que a música não tivesse o poder de obrigar-me a andar mais de uma légua a pé.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

Ialmar Pio Schneider (‎58ª Feira do Livro de Porto Alegre/RS)

Imagem: Eduardo Uchôa - Arte/ZH
De 26 de outubro a 11 de novembro de 2012 na Praça da Alfândega, no centro da cidade. - Patrono Luiz Coronel - 

Como sói acontecer lá estaremos frequentando este evento maravilhoso que contribui tanto para o desenvolvimento e ao chamamento à leitura de todos: crianças, jovens, meia-idade, idosos... 

Nunca me esqueço de uma piada que ouvi faz algum tempo, dizem que real, quando o escritor Millôr Fernandes, falou a um seu amigo de alguma projeção na cultura pátria: 

- Você tem que ler um livro. 

Ao que o mesmo lhe respondeu: 

- Que livro, Millôr ? 

Responde-lhe o humorista: 

- Qualquer livro... Você tem que ler um livro. 

Seja piada ou não, o fato é que a leitura é pouco praticada em nosso país em comparação de outros. Mas sempre essas feiras de livro que se realizam por todos os municípios vêm trazer um incentivo que não pode ser considerado desprezível. 

Vamos aos livros para conhecermos mais e viajarmos pelo ...mundo no aconchego de nossos recantos preferidos !... 

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 716)



Uma Trova de Ademar


Uma Trova Nacional  

Analfabeto e orgulhoso 
foi pego em sua altivez 
lendo um livro volumoso 
todo escrito em japonês. 
–Antonio Claret /MG– 

Uma Trova Potiguar  

Casar, ainda que seja
a busca de ser feliz,
nasce nos braços da igreja
morre nos pés do juiz...
–Heliodoro Morais/RN– 

Uma Trova Premiada  

1973   -   Porto Alegre/RS 
Tema   -   BRONCA   -   2º Lugar 

Na briga que o meu cabelo 
e a careca estão travando, 
lamento ter que dizê-lo: 
a careca está ganhando... 
–Izo Goldman/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

O “play-boy” foi reprovado, 
pois sendo um cara pra frente. 
Respondeu: – Metro quadrado 
é metro de antigamente... 
–Elton Carvalho/RJ– 

U m a P o e s i a  

Um grande bajulador 
com o patrão no urologista 
dando uma de altruísta 
e para mostrar valor, 
disse feliz, ao doutor, 
com sua voz embargada: 
Por favor meu camarada 
P’ra o meu patrão não sofrer, 
se esse toque for doer 
faça em mim que não dói nada! 
–Francisco Macedo/RN– 

Soneto do Dia  

MORRER DE RIR. 
–Miguel Russowisk/SC– 

Ter medo de morrer, porquê? - pergunto. 
A morte é natural e tu tens medo? 
A vida tem um fim e tarde ou cedo, 
todo porvir comporta o seu defunto. 

Embora tu não gostes deste assunto, 
terás de usá-lo sempre como enredo. 
A morte, eu sei, é o tema mais azedo, 
que traz recheios de mistérios junto. 

Eu penso assim, pois vejo em meu futuro, 
um cadáver, bem morto, alegre e duro 
num velório murchinho e sem cachaça. 

Sinta-se mal aquele que disser 
( mas hei de perdoar se for mulher):
-Morrer de rir?!... -Meu Deus!-...não acho graça.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 715)



Uma Trova de Ademar  

Numa gestação tão pura,
Deus, em forma de decreto,
determinou que a ternura
fosse irmã gêmea do afeto.
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

Só, no palco iluminado,
ante a cadeira vazia,
não via o salão lotado:
só sua ausência sentia!.
–Eliana Palma/PR–

Uma Trova Potiguar 

Aquele que se desculpa 
Por mera formalidade 
Quer eximir-se da culpa 
Dissimulando a verdade 
–Heliodoro Morais/RN–

Uma Trova Premiada 

1997   -   Nova Friburgo/RJ
Tema   -   TRISTEZA   -   1º Lugar.

Eu me recuso, tristeza,
a conviver com teu mundo:
vida que tem correnteza
não cria lodo no fundo!
–Héron Patrício/SP–

...E Suas Trovas Ficaram 

Teimei no amor... e errei tanto
na teimosia de amar,
que eu mesmo não sei mais quanto
Errei tentando acertar!...
–Aloísio Alves da Costa/CE–

U m a P o e s i a 

Quando Deus me levar pra eternidade
ficará nesta terra a minha cruz,
juntamente com todos meus pecados
pois pecados pra lá não se conduz;
agradeço ao bom Deus por esta vida
e eu não quero que chorem na partida,
porque vou para o céu pra ver Jesus! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia 

REMORSO.
–Olavo Bilac/RJ–

Às vezes uma dor me desespera...
nestas ânsias e dúvidas em que ando,
cismo e padeço, neste outono, quando
calculo o que perdi na primavera

Versos e amores sufoquei calando,
sem os gozar numa explosão sincera...
ah! Mais cem vidas! com que ardor quisera
mais viver, mais penar e amar cantando!

Sinto o que desperdicei na juventude;
choro neste começo de velhice,
mártir da hipocrisia ou da virtude,

os beijos que não tive por tolice,
por timidez o que sofrer não pude,
e por pudor os versos que não disse!

Antonio Brás Constante (O Falso Esperto Falsificado)


O falso esperto é aquele individuo que tenta enganar todo mundo sem perceber que o principal enganado por ele é... Ele mesmo. Todo mundo pode ter esta síndrome do falso esperto dentro de si, e nem se dar conta disso.

Quando você vai a uma fruteira, por exemplo, e compra aqueles pacotes fechados de maçãs, e depois quando chega em casa encontra algumas maçãs podres bem no meio do pacote, escondidas entre as outras frutas, você pode achar inicialmente que foi mais uma vítima de um ser ardiloso, mas passados alguns meses perceberá que a tal fruteira fechou ou mudou de dono, porque simplesmente o tal esperto faliu. Mas porque faliu? Obviamente porque você e a grande maioria de outras vítimas deixaram de comprar lá. 

O falso esperto sempre parece esquecer que cada cliente conquistado pode trazer junto com ele um potencial novo cliente (mãe, vizinha, cunhado, amigo. etc) para conhecer o seu negócio. Por outro lado, para cada cliente enganado são pelo menos dez prováveis clientes perdidos, que sem nem terem pisado os pés no seu estabelecimento vão querer distância dele.

É a tal propaganda do boca em boca, que se espalha de forma sazonal e passa a rasteira em qualquer aspirante a falso esperto. A prática do boca em boca é tão boa que os governos em geral até já absorveram esta ideia e a transformaram em boca de urna, espalhando aos quatro ventos as preferências do eleitor, mesmo antes dele votar, atraindo ou afastando as chances deste ou daquele candidato. Mas lembrem-se, esta técnica não cria nada do nada (ou será que cria?), apenas intensifica uma tendência já existente.

O falso esperto se prolifera em todas as áreas da sociedade. E o que é pior, seus maus atos acabam servindo de exemplo e até justificativa para que novos aspirantes a falsos espertos entrem nesta mediocridade. Tem o caso daquelas pessoas que trabalham como se fossem o pior tipo de funcionário da máquina pública (simplesmente porque acham que podem fazer isso), onde seu produto é o mesmo que aquele encontrado na privada (literalmente falando). Porém, em um belo dia de sol com poucas nuvens, elas acabam perdendo o emprego e ainda se acham injustiçadas.

Temos vários tipos de falsos espertos se espraiando entre nós, como no caso do coitadinho de mim, que parece estar sempre na pior, agindo como se o mundo todo estivesse com raiva dele, evitando ele, conspirando contra ele, cuspindo na sua cabeça coisas impublicáveis, através das pombas que voam ao seu redor. Tudo que dá errado em sua vida é por culpa de forças maiores do que ele, se ele for jogador de futebol e não conseguir fazer gol de letra vai dizer que a vida cruel fez dele um analfabeto campal e por isso errou o gol. Cada choradeira parece sugar a energia positiva daqueles que estão em sua volta, pois sua eterna atitude de pobre coitado faz dele um vampiro em busca de solidariedade para se dar bem à custa dos outros, e com isso ele vai afastando as pessoas, que acabam se irritando com este tipo de atitude parasitária.

O Falso esperto bom de papo é um dos piores. Ele deixa qualquer um zonzo com seus nhem-nhem-nhem (você não sabe o que é nhem-nhem-nhem? É o mesmo que blá-blá-blá). Este tipo de falso esperto sabe tudo, conhece tudo, entende tudo. Seu discurso sempre é carregado de “eu”, “Eu”, “EU”. Ele diz coisas do tipo: “porque eu já tinha pensado nisso”, “Eu conquistei aquilo”, “EU sou o melhor naquilo outro”. O cara só não acha que é um Deus, porque o Deus bíblico fez em seis dias o que ele faria em apenas dois, e com uma das mãos nas costas. Ele vai pegando carona descaradamente no trabalho dos outros e apresentando como sendo seu, conseguindo às vezes se promover um pouco com isso, até chegar um ponto aonde ninguém mais vai lhe dar créditos, oportunidades ou mesmo querer trabalhar com ele.

Enfim, são tantos os tipos de falsos espertos que apenas um texto é pouco para descrevê-los (temos até o falso esperto “canguru perneta” de quem eu falo em outra hora). O falso esperto é uma faceta de nós mesmos que deveria estar sempre devidamente guardada e bem trancada em nosso âmago, mas que infelizmente pode aflorar em qualquer um, a qualquer momento, transformando uma essência humana de requintado vinho, em azedo vinagre. O falso esperto virou até lei, a lei de Gérson (“gosto de levar vantagem em tudo, certo?”). Mas volto a lembrar que o pior dano que um falso esperto pode causar é nele mesmo, pois é sempre um candidato a esperto falsificado que acaba sendo enganado no golpe do bilhete premiado.

Fonte:
O autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 714)



Uma Trova de Ademar  

Por seu próprio desatino, 
tem gente que se maldiz 
pondo a culpa no destino 
por não ter sido feliz! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Pelos caminhos sem fim, 
que a vida me fez trilhar, 
fiquei perdida de mim, 
sem conseguir me encontrar! 
–Delcy Canalles/RS– 

Uma Trova Potiguar  

Tanto esperei... E, sem jeito, 
fiz daquela madrugada, 
a doce musa, em meu leito, 
nessa espera amargurada...! 
–Mara Melinni/RN– 

Uma Trova Premiada  

1996   -   Nova Friburgo/RJ 
Tema   -   MAGIA   -   M/E. 

Na caminhada sofrida
do viver, se me entristeço,
por magia, é a própria vida
que me indica um recomeço...
–Thereza Costa Val/MG– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Em nossas quatro paredes 
conflitos não tem valia: 
nós compramos duas redes 
e uma está sempre vazia. 
–Marisol/RJ– 

U m a P o e s i a  

Eu queria a ponteira e o pião 
Uma lata de óleo como carro, 
A peteca, uma bola, um boi de barro 
E a gaiola que prendia um azulão 
Tudo isso trago na recordação 
Onde age a saudade persistente 
Só o peito percebe o quanto é quente 
A ferrada das letras da lembrança 
“Eu queria de novo ser criança 
Pra brincar de criança novamente”. 
–Wellington Vicente/PE– 

Soneto do Dia  

MINHA CASA. 
–Janske Niemann Schlenker/PR– 

Conheço-te tão bem: a sala, o quarto, 
a vista da janela escancarada! 
Na mesa da cozinha, o almoço farto, 
o som de cada porta ao ser fechada… 

Conheço-te demais! No entanto, parto… 
De tudo o que era meu, não fica nada: 
na sala, nada… e nada no meu quarto, 
só o vento na varanda ensolarada… 

E deixo a antiga casa na ladeira: 
Risadas, quantas! Quanta brincadeira! 
Mas parto… e minha casa deixo aqui. 

E dói-me ver-te assim: fria e despida… 
Nem fecho a porta; saio pela vida, 
avaliando o quanto empobreci!

A. A. de Assis (Revista Virtual de Trovas "Trovia" - novembro de 2012)




Quantas sedas aí vão,    
quantos alvos colarinhos...
São pedacinhos de pão
roubados aos pobrezinhos!
Antonio Aleixo

Mais do que a cobra, a meu ver,
você pode envenenar:
– a cobra tem que morder,
mas você só basta olhar!
Antonio Roberto

Dotada de amor profundo,
meiga e doce em seu mister, 
que graça teria o mundo,
sem a graça da mulher?
Aparício Fernandes

Todos os picos da serra,
nos Andes... nos Pirineus,
são dedos grandes da Terra
mostrando a casa de Deus.
Célio Grunewald

A juventude é divisa
que a vida nos dá de graça,
e a gente só valoriza
muito depois que ela passa.
Helena Kollody

Não lastime, anjo risonho,
nada ter para sonhar.
Pior  que não ter um sonho
é ver um sonho acabar.
Lilinha Fernandes


Bichinho cheio de manha,
terno e manso quando quer;
mas, zangado, morde e arranha:
– É gato? – Não... é mulher!
Carolina Ramos – SP

Bem no meio do apagão,
a velhinha grita: – Oba!
Quem sabe na escuridão
sou “vítima” da mão boba!
Élbea Priscila – SP

O mundo, para que mude,
não requer muito cuidado.
Basta fazer a virtude
gostosa como o pecado...
José Fabiano – MG

Meu sogro nem “manda brasa”,
mas, quando está de veneta,
deixa a “mala velha” em casa
e sai com qualquer “maleta”...
Maria Nascimento – RJ

Indo por outros caminhos,
neste mundo, às vezes, rude,
vou fugindo dos espinhos,
pois das mulheres não pude!
Nilton Manoel – SP

Da sapa ao sapo safado,
ao lhe negar um beijinho:
– Não posso, meu belo amado;
mamãe diz que dá sapinho...
Osvaldo Reis – PR

Certa mocinha atrevida,
com seus namoros no mato,
sempre aparece mordida
por “dentes” de carrapato...
Thereza Costa Val – MG


Quem dera, um dia, as fronteiras
fossem elos nos unindo,
e houvesse, em vez de barreiras,
somente a placa: – Bem-vindo!
A. A. de Assis – PR

Quem na mata acende a chama
suja o rio e a correnteza;
joga um punhado de lama
no rosto da natureza!...
Ademar Macedo – RN

Aos céus envio um recado,
Deus não vejo em meu apelo...
Porém se O tenho a meu lado,
para que preciso vê-Lo?
Almir Pinto de Azevedo – RJ

Te recuerdo cada día
con el amor más profundo,
pues eres la vida mía
y por ti lo grito al mundo.
Ángela Desirée – Venezuela

As promessas que fizeste
nem a lua abençoou.
Tudo não passou de um teste,
pois você nunca me amou.
Angela Stefanelli – RJ

Olhando as velhas estradas
por onde andei nos teus braços,
eu vejo em tuas pegadas
o raio-x dos meus passos!
Arlindo Tadeu Hagen – MG

Ao sair pelo jardim
na tarde de primavera,
senti saudade de mim...
do botão de flor que eu era.
Benedita Azevedo – RJ

Para ficar ao teu lado,
o que quiseres serei:
serei teu amo ou criado,
personal lover ou rei...
Bruno Pedina Torres – RJ

Enganar que sou feliz
é coisa inútil, porque
meu sorriso triste diz
quanto eu sofro por você.
Conceição de Assis – MG

A noite rasga a cortina
que cobre a manhã dourada
e descobre uma menina,
pela vida enamorada!
Dáguima Verônica – MG

Tudo igual, mas diferente:
por mais que eu tente negar,
tua ausência, em meu presente,
faz diferente esse mar...
Darly O. Barros – SP

Em meus sonhos de criança,
desejei pescar a Lua
e pus anzóis de esperança
nas poças d’água da rua!
Delcy Canalles – RS

Na casa de quem escreve
há sempre papel no chão:
não perde tempo quem deve
segurar a inspiração!
Diamantino Ferreira – RJ

Vejo o mundo da janela
na minha crise de fé.
Ando cega e sem tutela
remando contra a maré...
Dinair Leite – PR

Sem razão, faço queixumes
dos beijos que não lhe dei.
Talvez sentindo ciúmes
de alguém que não conquistei.
Djalma da Mota – RN

A paixão com hora incerta
e urdida de angústias lentas
é feito um mar que desperta
em dolorosas tormentas!
Eduardo A. O. Toledo - MG

Triste destino bizarro
de um país na contramão:
alunos chegam de carro;
professor, de lotação.
Eliana Jimenez – SC

O sol, que incha a semente
e aquece a muda pequena,
torna também, inclemente,
a mão que planta... morena!
Eliana Palma – PR

Só se salva de verdade,
nesta enchente de amargor,
quem faz da fraternidade
o seu barco salvador!
Flávio Stefani – RS

Pelas manhãs vou buscando
minha esperança perdida...
Há sempre um sonho vagando
nas alvoradas da vida!
Francisco Garcia – RN

Sendo o fim de longa espera,
sabendo que sou seu dono,
voltou a ser primavera
em minha vida de outono...
Gilvan Carneiro – RJ

Areias que nos esperam,
mar azul, querido e quente;
amizades que fizeram
da gente muito mais gente!
Gislaine Canales – SC

A manhã recita um salmo,
passa o vento mais amigo,
e é nesse momento calmo
que Deus conversa comigo.
Humberto Del Maestro – ES

A escolha que fiz um dia
é prece que se renova,
quando faço da alegria
matéria-prima da trova.
Ieda Lima – RN

Diz-me esta ruga esculpida,
entalhe que o tempo fez,
que a primavera da vida
só nos floresce uma vez.
Jaime Pina da Silveira – SP

Dei-te o melhor dos abraços,
do mais profundo querer...
Mas a força dos meus braços
não conseguiu te prender!
Janske Schlenker – PR

Não haverá sociedade
que possa ser construída
sem a fé na humanidade
e o respeito pela vida!
JB Xavier – SP

Fiquei sozinha, esquecida,
e o fato se deu porque
também me esqueci, na lida,
de pensar tanto em você.
Jeanette De Cnop – PR

Na moldura da janela,
o busto que me fascina
toda manhã se revela
entre as dobras da cortina!
Joana D’Arc – RJ

Doce flor que desabrocha
perfumando seu cantinho,
envolvendo toda rocha
com doçura e com carinho.
José Feldman – PR

Enquanto a emoção se alteia
sobre as dunas, a rolar,
a vida brinca na areia
ouvindo a canção do mar.
José Lucas de Barros – RN 

"Mãe-Natureza"! – Eis o nome
de quem, em nome do amor,
gera o fruto e estanca a fome
do seu próprio predador!...
José Ouverney – SP

Chego a perder a esperança,
vendo ao relento, a dormir,
uma sofrida criança
sem lar, sem paz, sem porvir!
José Valdez – SP

A esperança da vitória
impulsiona o caminhar,
e um dia se chega à glória,
mas não sem antes lutar!
Lucília Decarli – PR

Nem o sofista profundo
esta verdade falseia:
quem se julga rei do mundo
é um pequeno grão de areia!
Luiz Carlos Abritta - MG

Com volúpia e desvario,
neste amor vou mergulhar...
Eu me sinto como o rio,
que se atira para o mar!
Ma. Thereza Cavalheiro – SP

Nosso amor foi tão ranzinza
que explodiu como um vulcão,
deixando somente a cinza
no meu pobre coração.
Maurício Friedrich – PR

Há emoções que a gente sente,
e que encantam tanto, tanto,
mas, se expressas verbalmente,
perdem parte desse encanto.
Nei Garcez – PR

Estou aqui de passagem
neste mundo de ilusões;
com fé, amor e coragem
vou vencendo as tentações.
Neiva Fernandes – RJ

Se nada é assim tão lindo,
do jeito que foi sonhado,
que tudo seja bem-vindo...
e, vindo, que seja amado.
Olga Agulhon – PR

Ó meu doce canarinho,
abre as asas contra o vento
e leva, pelo caminho,
nas asas, meu pensamento...
Olga Maria Ferreira – RS

Arvoredo é sombra certa,
grande abrigo pela estrada,
flor e fruto e fronha aberta
para o filho sem pousada.
Olivaldo Júnior – SP

Ante tanta aberração
num mundo fora dos trilhos
pergunto ao meu coração:
– O que eu ensino aos meus filhos?
Olympio Coutinho – MG

Ao repensar minha história
encontrei, com emoção,
por trás de cada vitória
um mestre no coração!
Renato Alves - RJ

Minhas trovas  são abraços:
mil braços vou abraçar
nos mil infinitos laços
que a trova sabe engendrar.
Roza de Oliveira – PR

Minha esperança, em essência,
bem mais que estreitar os laços,
é fazer da tua ausência
uma presença... em meus braços.
Sérgio Ferreira da Silva – SP

A trova é tão pequenina,
mas quanta beleza encerra;
feliz de quem tem a sina
de espalhá-la pela Terra!
Sônia Ditzel Martelo – PR

Sei que viver é lutar,
mas luto em desigualdade.
Eu sou concha e a vida é o mar
em noite e tempestade.
Therezinha Brisolla – SP

Meu relógio, de hora em hora,
badala a mesma canção:
aquela trilha sonora
que embalou nossa afeição.
Vanda Alves da Silva – PR

Em frente à porta fechada,
bate a criança carente,
flor murcha, a custo vingada
na safra dos quase gente...
Vanda F. de Queiroz – PR

Meu jogo, audaz e exigente,
encara a carta que der,
mas com você, frente a frente...
jogo charme de mulher!
Vânia Ennes – PR

Ao raiar de um novo dia,
quantas razões de viver!
A esperança se irradia
nas brumas do amanhecer!
Wagner Lopes - MG

O teu silêncio me afronta;
nem breve mensagem veio,
mas meu amor faz de conta
que a culpa é só do correio.
Wanda Mourthé – MG

Nas noites de lua cheia,
meu espírito, a vagar,
por entre estrelas passeia
esperando te encontrar...
Yedda Maia Patrício – SP

O perdão é tão sublime
que, por mais que a ofensa doa,
põe uma paz que redime
no coração que perdoa.
Zenaide Marçal – CE

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Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 713)



Uma Trova de Ademar  

Quem semeia de verdade, 
tendo o amor como receita, 
colhe frutos à vontade 
no fim de cada colheita! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Dormi... e sonhei contigo 
na praia, com lua cheia! 
Foi delírio, hoje prossigo 
te procurando na areia! 
–Vânia Ennes/PR– 

Uma Trova Potiguar  

Nos meus tempos de rapaz,
quando a sorte me sorria,
fui o peão mais capaz
de toda capatazia.
–Sérgio Severo/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Cantagalo/RJ 
Tema   -   ESPAÇO   -   6º Lugar 

A maquiagem pesada, 
diante do espelho, desfaço
e em minha cara lavada
rugas brigam por espaço... 
–Élbea Priscila de Souza/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Diz-me a razão: “renuncia; 
essa paixão é um fracasso !” 
e o que até louco eu faria, 
louco de amor eu não faço... 
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  

Cochilando no terreiro
vejo um cachorro enfadado
e uma maromba de gado
tangida por um vaqueiro,
na sombra de um juazeiro 

ouço ronco de um barrão
se esparrando pelo o chão
fazendo a maior zoada;
eu trago sempre guardada
a lembrança do sertão.
–Júnior Adelino/PB– 

Soneto do Dia  

SONETO AO SONETO. 
–Reginaldo Albuquerque/MS– 

Na tua imortal forma, exata e nobre, 
onde a musa imprevista se aventura 
fino pelo de címbalos te encobre, 
desafiando o estro e a razão mais pura. 

Afirmam os incautos que és de cobre, 
arcaico para quem a tessitura 
de cantar o atual jamais se dobre 
ao rigor triunfal que em ti perdura. 

Varinha de condão da antiguidade 
soneto, tua síntese inquieta 
contém sonho, esperanças e saudade... 

Para sempre será o teu reinado, 
enquanto houver no mundo algum poeta 
ou o pulsar de um peito enamorado!

Ialmar Pio Schneider (Soneto de Finados)


Lembramos nossos mortos neste dia 
que consagramos tristes aos finados; 
passaram para o além e a lájea fria 
apenas guarda os corpos sepultados. 

Hoje tudo é perpétua nostalgia... 
Ouvem-se preces, prantos desolados, 
um porquê inexplicável excrucia 
até os corações mais resignados. 

Dos páramos celestes desce a luz 
iluminando a terra que se habita; 
e a verdade mais crua se traduz 

pela certeza natural e aflita 
que fatalmente a todos nos conduz 
à noite eterna... trágica... infinita…

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 712)



Uma Trova de Ademar  

Quem o livre-arbítrio prega 
caminha contra a verdade. 
Pois eu não creio em quem nega 
a si mesmo...a Liberdade! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Andei sempre como um monge 
e não sei se estava certo. 
Às vezes buscamos longe 
o que nós temos tão perto. 
–Clênio Borges/RS– 

Uma Trova Potiguar  

A fauna sofre os horrores 
das ações irracionais, 
desses cruéis caçadores 
exterminando animais. 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Caxias do Sul/RS 
Tema   -   UVA   -   4º Lugar 

Sobre a parreira, o luar 
no sereno te retrata... 
E os teus olhos a brilhar: 
“Duas uvas”... cor de prata... 
–Roberto Tchepelentyky/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Na trova, mais que ornamento, 
eu quero crer que adivinhas, 
as flores do pensamento 
em buquês de quatro linhas. 
–Miguel Russowsky/SC– 

U m a P o e s i a  

Visitando os mocambos do sertão 
vi um sítio com traços de abandono, 
uma casa ruída, outra sem dono 
desertada por causa do verão. 
vi ferrugem nas trempes de um fogão 
avisando que a fome é coisa séria, 
lagartixas zombando da matéria 
numa concha de quenga pendurada; 
vi a boca da fome escancarada 
jejuando na casa de miséria. 
–Hélio Crisanto/RN– 

Soneto do Dia  

COVA. 
–Antônio Roberto Fernandes/RJ– 

Cova é palavra que, naturalmente, 
lembra morte, mistério e nos espanta 
pois cova tanto é o lar de uma serpente 
como, na Iria, foi o altar da santa. 

Na cova o lavrador deita a semente 
pra que ela morra e gere nova planta. 
Sempre uma cova espera pela gente 
e quem se deita lá não se levanta. 

Mas na lavoura da felicidade 
somos a terra, o fruto e a semente 
– mistério da humaníssima trindade – 

pois se louco de amor seu corpo enlaço 
penetro em sua cova e, de repente, 
deliro... e morro... e me sepulto... e nasço!

Wagner Marques Lopes /MG (Trovas Sobre Comportamento em Velório)


Em velórios, não carece
Opinar sobre os defuntos...
Melhor é silêncio e prece...
E discrição nos assuntos.

Em todo velório quis
Falar mal de quem partia.
Um intenso diz-que-diz
Marcou presença em seu dia.

Um velório não é cancha
ou lugar de leva-e-traz.
a família quer ensancha 
de conforto e muita paz.

No velório, o proceder
pede atitude contida.
precisa o mundo saber
muito mais da alheia vida?!...

Num velório, quem desfia
Um rosário de suspeitas,
Esquece que chega o dia
De toda alma direita!...

Se num velório desponta
Julgamentos de montão,
O defunto até levanta:
- Tô fora, comigo não!...

Anotam que as lavadeiras
Falam demais nos riachos!...
Quem conta as muitas besteiras
Que em velório dão em cachos?!...

Morreu o Zeca Perneta, 
como foi o seu velório?...
Mentira foi de muletas...
Desandou o falatório!...

O mal – um corcel no unto
Que cavalga a mais de cem!...
Quem fala mal de defunto
Cai do cavalo também!...

Há muita gente que teme
o seu dia de partida!...
Amigos?... Quantos ao leme
hão de singrar suas vidas!...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 711)



Uma Trova de Ademar  

O papel que eu desempenho
na poesia, não tem preço;
pelos amigos que eu tenho...
Ganho mais do que mereço!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional  

É no momento da prece
que o seu coração perdoa…
Quem assim age, merece
viver feliz, pois se doa.
–Cidinha Frigeri/PR–

Uma Trova Potiguar  

São José, mão carpinteira,
pai terreno de Jesus;
fez tanta obra em madeira,
mas nunca fez uma cruz!
–Zé de Sousa/RN–

Uma Trova Premiada  

2005   -   C.E João B.de Mattos/RJ
Tema   -   ECOLOGIA   -   3º Lugar

Defender a Ecologia
de forma séria e decente,
é preservar a harmonia
da própria casa da gente.
–Wandira Fagundes Queiroz/PR–

...E Suas Trovas Ficaram  

A estrada em que me confino
pelo destino é traçada...
Sei que não mudo o destino,
mas posso mudar de estrada!
–José Maria M. Araújo/RJ–

U m a P o e s i a  

Mãe tirana e vaidosa
e o pai que não auxilia,
na hora da gestação
se gera com alegria;
é pai na hora que gera
depois esquece e não cria.
–Waldir Teles/PE–

Soneto do Dia  

UMA HISTÓRIA DE AMOR.
–Gilson Faustino Maia/RJ–

Dois corações singelos, com ternura,
são visitados pela luz do amor.
Da pureza do olhar encantador,
nasce um sonho de paz e de ventura.

Dois anjos de inocente formosura,
tentando neste mundo enganador
construir um jardim, plantar a flor
de uma vida feliz e de candura.

O tempo passa, o vento da maldade
tenta encobrir com pó aquela história,
impedir, do namoro, a liberdade.

Pode, a renúncia, ser obrigatória,
vitoriosa ser a crueldade...
Será eterna a história na memória.

domingo, 28 de outubro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 710)



Uma Trova de Ademar 

Como quem faz sua escolha, 
disfarçando o desatino, 
alterei folha por folha 
do livro do meu destino! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

Ao passar por mim, nem para...
sou a sombra de ninguém!
Que espaço enorme separa
meu amor de seu desdém! 
–Wanda de Paula Mourthé/MG– 

Uma Trova Potiguar 

Caminha em rota invertida,
sem um sonho promissor,
quem, nos outonos da vida,
não colhe um fruto de amor!
–José Lucas De Barros/RN– 

Uma Trova Premiada 

2012   -  Cantagalo/RJ 
Tema   -  ESPAÇO   -  2º Lugar 

Neste planeta avarento,
onde o "ter" é o ditador,
que triste é ver o cimento
roubar o espaço da flor! 
–A. A. de Assis/PR– 

...E Suas Trovas Ficaram 

Um dedo contra os pilares... 
murmúrios...silêncio! Tédio...
É a fome subindo andares 
pelo interfone do prédio! 
–Paulo Cesar Ouverney/RJ– 

U m a P o e s i a 

Quando eu partir desta vida, 
irei coberto de paz; 
e chegando lá em cima 
nas mansões celestiais; 
eu vou logo organizando 
e num cartaz anunciando: 
"Primeiro Jogos Florais"! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia 

ROGATIVA. 
–Thalma Tavares/SP– 

Senhor, que olhas os antros, as vielas, 
os homens sem trabalho, o lar sem pão, 
que a minha fé não morra como as velas 
que ao mais leve soprar se apagarão. 

Ante a ganância atroz, cujas mazelas 
nos põem em sobressalto o coração, 
eu venho Te pedir pelas favelas 
que ora clamam por paz e proteção. 

O pobre, da miséria anda cansado 
e pensa, em sofrimentos mergulhado, 
que Tu, ó meu Senhor, lhe deste as costas. 

E é tanta, neste mundo, a violência 
que não querendo crer na Tua ausência 
eu ando pela vida de mãos postas.