sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 713)



Uma Trova de Ademar  

Quem semeia de verdade, 
tendo o amor como receita, 
colhe frutos à vontade 
no fim de cada colheita! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Dormi... e sonhei contigo 
na praia, com lua cheia! 
Foi delírio, hoje prossigo 
te procurando na areia! 
–Vânia Ennes/PR– 

Uma Trova Potiguar  

Nos meus tempos de rapaz,
quando a sorte me sorria,
fui o peão mais capaz
de toda capatazia.
–Sérgio Severo/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Cantagalo/RJ 
Tema   -   ESPAÇO   -   6º Lugar 

A maquiagem pesada, 
diante do espelho, desfaço
e em minha cara lavada
rugas brigam por espaço... 
–Élbea Priscila de Souza/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Diz-me a razão: “renuncia; 
essa paixão é um fracasso !” 
e o que até louco eu faria, 
louco de amor eu não faço... 
–Waldir Neves/RJ– 

U m a P o e s i a  

Cochilando no terreiro
vejo um cachorro enfadado
e uma maromba de gado
tangida por um vaqueiro,
na sombra de um juazeiro 

ouço ronco de um barrão
se esparrando pelo o chão
fazendo a maior zoada;
eu trago sempre guardada
a lembrança do sertão.
–Júnior Adelino/PB– 

Soneto do Dia  

SONETO AO SONETO. 
–Reginaldo Albuquerque/MS– 

Na tua imortal forma, exata e nobre, 
onde a musa imprevista se aventura 
fino pelo de címbalos te encobre, 
desafiando o estro e a razão mais pura. 

Afirmam os incautos que és de cobre, 
arcaico para quem a tessitura 
de cantar o atual jamais se dobre 
ao rigor triunfal que em ti perdura. 

Varinha de condão da antiguidade 
soneto, tua síntese inquieta 
contém sonho, esperanças e saudade... 

Para sempre será o teu reinado, 
enquanto houver no mundo algum poeta 
ou o pulsar de um peito enamorado!

Ialmar Pio Schneider (Soneto de Finados)


Lembramos nossos mortos neste dia 
que consagramos tristes aos finados; 
passaram para o além e a lájea fria 
apenas guarda os corpos sepultados. 

Hoje tudo é perpétua nostalgia... 
Ouvem-se preces, prantos desolados, 
um porquê inexplicável excrucia 
até os corações mais resignados. 

Dos páramos celestes desce a luz 
iluminando a terra que se habita; 
e a verdade mais crua se traduz 

pela certeza natural e aflita 
que fatalmente a todos nos conduz 
à noite eterna... trágica... infinita…

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 712)



Uma Trova de Ademar  

Quem o livre-arbítrio prega 
caminha contra a verdade. 
Pois eu não creio em quem nega 
a si mesmo...a Liberdade! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Andei sempre como um monge 
e não sei se estava certo. 
Às vezes buscamos longe 
o que nós temos tão perto. 
–Clênio Borges/RS– 

Uma Trova Potiguar  

A fauna sofre os horrores 
das ações irracionais, 
desses cruéis caçadores 
exterminando animais. 
–Djalma Mota/RN– 

Uma Trova Premiada  

2012   -   Caxias do Sul/RS 
Tema   -   UVA   -   4º Lugar 

Sobre a parreira, o luar 
no sereno te retrata... 
E os teus olhos a brilhar: 
“Duas uvas”... cor de prata... 
–Roberto Tchepelentyky/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Na trova, mais que ornamento, 
eu quero crer que adivinhas, 
as flores do pensamento 
em buquês de quatro linhas. 
–Miguel Russowsky/SC– 

U m a P o e s i a  

Visitando os mocambos do sertão 
vi um sítio com traços de abandono, 
uma casa ruída, outra sem dono 
desertada por causa do verão. 
vi ferrugem nas trempes de um fogão 
avisando que a fome é coisa séria, 
lagartixas zombando da matéria 
numa concha de quenga pendurada; 
vi a boca da fome escancarada 
jejuando na casa de miséria. 
–Hélio Crisanto/RN– 

Soneto do Dia  

COVA. 
–Antônio Roberto Fernandes/RJ– 

Cova é palavra que, naturalmente, 
lembra morte, mistério e nos espanta 
pois cova tanto é o lar de uma serpente 
como, na Iria, foi o altar da santa. 

Na cova o lavrador deita a semente 
pra que ela morra e gere nova planta. 
Sempre uma cova espera pela gente 
e quem se deita lá não se levanta. 

Mas na lavoura da felicidade 
somos a terra, o fruto e a semente 
– mistério da humaníssima trindade – 

pois se louco de amor seu corpo enlaço 
penetro em sua cova e, de repente, 
deliro... e morro... e me sepulto... e nasço!

Wagner Marques Lopes /MG (Trovas Sobre Comportamento em Velório)


Em velórios, não carece
Opinar sobre os defuntos...
Melhor é silêncio e prece...
E discrição nos assuntos.

Em todo velório quis
Falar mal de quem partia.
Um intenso diz-que-diz
Marcou presença em seu dia.

Um velório não é cancha
ou lugar de leva-e-traz.
a família quer ensancha 
de conforto e muita paz.

No velório, o proceder
pede atitude contida.
precisa o mundo saber
muito mais da alheia vida?!...

Num velório, quem desfia
Um rosário de suspeitas,
Esquece que chega o dia
De toda alma direita!...

Se num velório desponta
Julgamentos de montão,
O defunto até levanta:
- Tô fora, comigo não!...

Anotam que as lavadeiras
Falam demais nos riachos!...
Quem conta as muitas besteiras
Que em velório dão em cachos?!...

Morreu o Zeca Perneta, 
como foi o seu velório?...
Mentira foi de muletas...
Desandou o falatório!...

O mal – um corcel no unto
Que cavalga a mais de cem!...
Quem fala mal de defunto
Cai do cavalo também!...

Há muita gente que teme
o seu dia de partida!...
Amigos?... Quantos ao leme
hão de singrar suas vidas!...

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 711)



Uma Trova de Ademar  

O papel que eu desempenho
na poesia, não tem preço;
pelos amigos que eu tenho...
Ganho mais do que mereço!
–Ademar Macedo/RN–

Uma Trova Nacional  

É no momento da prece
que o seu coração perdoa…
Quem assim age, merece
viver feliz, pois se doa.
–Cidinha Frigeri/PR–

Uma Trova Potiguar  

São José, mão carpinteira,
pai terreno de Jesus;
fez tanta obra em madeira,
mas nunca fez uma cruz!
–Zé de Sousa/RN–

Uma Trova Premiada  

2005   -   C.E João B.de Mattos/RJ
Tema   -   ECOLOGIA   -   3º Lugar

Defender a Ecologia
de forma séria e decente,
é preservar a harmonia
da própria casa da gente.
–Wandira Fagundes Queiroz/PR–

...E Suas Trovas Ficaram  

A estrada em que me confino
pelo destino é traçada...
Sei que não mudo o destino,
mas posso mudar de estrada!
–José Maria M. Araújo/RJ–

U m a P o e s i a  

Mãe tirana e vaidosa
e o pai que não auxilia,
na hora da gestação
se gera com alegria;
é pai na hora que gera
depois esquece e não cria.
–Waldir Teles/PE–

Soneto do Dia  

UMA HISTÓRIA DE AMOR.
–Gilson Faustino Maia/RJ–

Dois corações singelos, com ternura,
são visitados pela luz do amor.
Da pureza do olhar encantador,
nasce um sonho de paz e de ventura.

Dois anjos de inocente formosura,
tentando neste mundo enganador
construir um jardim, plantar a flor
de uma vida feliz e de candura.

O tempo passa, o vento da maldade
tenta encobrir com pó aquela história,
impedir, do namoro, a liberdade.

Pode, a renúncia, ser obrigatória,
vitoriosa ser a crueldade...
Será eterna a história na memória.

domingo, 28 de outubro de 2012

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 710)



Uma Trova de Ademar 

Como quem faz sua escolha, 
disfarçando o desatino, 
alterei folha por folha 
do livro do meu destino! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional 

Ao passar por mim, nem para...
sou a sombra de ninguém!
Que espaço enorme separa
meu amor de seu desdém! 
–Wanda de Paula Mourthé/MG– 

Uma Trova Potiguar 

Caminha em rota invertida,
sem um sonho promissor,
quem, nos outonos da vida,
não colhe um fruto de amor!
–José Lucas De Barros/RN– 

Uma Trova Premiada 

2012   -  Cantagalo/RJ 
Tema   -  ESPAÇO   -  2º Lugar 

Neste planeta avarento,
onde o "ter" é o ditador,
que triste é ver o cimento
roubar o espaço da flor! 
–A. A. de Assis/PR– 

...E Suas Trovas Ficaram 

Um dedo contra os pilares... 
murmúrios...silêncio! Tédio...
É a fome subindo andares 
pelo interfone do prédio! 
–Paulo Cesar Ouverney/RJ– 

U m a P o e s i a 

Quando eu partir desta vida, 
irei coberto de paz; 
e chegando lá em cima 
nas mansões celestiais; 
eu vou logo organizando 
e num cartaz anunciando: 
"Primeiro Jogos Florais"! 
–Ademar Macedo/RN– 

Soneto do Dia 

ROGATIVA. 
–Thalma Tavares/SP– 

Senhor, que olhas os antros, as vielas, 
os homens sem trabalho, o lar sem pão, 
que a minha fé não morra como as velas 
que ao mais leve soprar se apagarão. 

Ante a ganância atroz, cujas mazelas 
nos põem em sobressalto o coração, 
eu venho Te pedir pelas favelas 
que ora clamam por paz e proteção. 

O pobre, da miséria anda cansado 
e pensa, em sofrimentos mergulhado, 
que Tu, ó meu Senhor, lhe deste as costas. 

E é tanta, neste mundo, a violência 
que não querendo crer na Tua ausência 
eu ando pela vida de mãos postas.

sábado, 27 de outubro de 2012

Olivaldo Junior (Trovas sobre Desprezo)


Desprezado por você, 
fui prezar as madrugadas.
Cada rua que me vê
só me pega nas calçadas.

Ao findar-se a primavera,
entre as pedras, no capim,
tu desprezas quem eu era
quando eu era seu jardim. 

Violão, “viola à-toa”,
não despreze o seu amigo!
Tudo fica numa boa
quando fica a sós comigo.

Fonte:
O Autor

Cléo Busatto (Dona Cotinha, Tom e Gato Joca)


Em frente à minha casa tem outra casa, pequena, de madeira, azul com janelas brancas. Está no fim de um terreno enorme com muitas árvores. Para mim aquilo é o que chamam de floresta. Tom diz que é um quintal. Ali mora dona Cotinha, uma velhinha que tem cabelos lilás e dirige um Fusquinha vermelho. Esse passou a ser meu esconderijo. Dona Cotinha sempre aparece com um prato de comida. Diz: 

 - Vem, gatinho. Olha só o que eu trouxe para você. 

 Sou premiado com sardinha fresca, atum, macarrão. Tenho engordado além da conta. Dia desses estava tomando sol e ouvi o Tom me chamar. O danado sentiu meu cheiro e descobriu meu segredo. Ele estava no portão quando chegou dona Cotinha, no seu Fusquinha. 

 - Bom dia, menino - disse ela. Já que está em frente à minha casa, faça uma gentileza e abra o portão. 

 Tom obedeceu. Dona Cotinha afagou minha cabeça e perguntou: 

 - Este gatinho é seu? 

 - Sim, senhora. 

 - Ele é muito educado. 

 - Obrigado - disse eu, na minha voz de gato. 

 - No primeiro dia que o vi por aqui, ele entrou na casa e cheirou tudo. Agora, sempre deixo uma comidinha para ele! 

 - Ah! Mas o Joca não come comida de gente, não, senhora. Só come ração - disse o Tom. 

 - Come, sim, meu filho. E come de tudo. 

 Dona Cotinha acabava de denunciar minha gula e o aumento de peso. Continuou: 

 - Passe aqui no fim da tarde. Faço um bolo de fubá com cobertura de chocolate que é de dar água na boca. 

 Com água na boca fiquei eu. Naquela tarde voltamos à casa de dona Cotinha. Ela foi logo mostrando pro Tom uma coleção de carrinhos antigos. Era do filho dela, que morreu bem pequeno. Depois nos levou para uma sala repleta de livros. Tom ficou de boca aberta e perguntou: 

 - A senhora já leu todos esses livros? 

 - Praticamente todos. Ler foi minha diversão, meu bom vício. Infelizmente meus olhos não ajudam mais. Essa pilha que você está vendo aqui ainda nem foi tocada. 

 Tom começou a ler em voz alta, e sua voz encheu a sala de seres fantásticos. O tempo parou. 

 Desse dia em diante, à tardinha, eu e Tom tínhamos uma missão. Abrir os livros de dona Cotinha e deixar os personagens passearem pela casa mágica, no meio da floresta da cidade de pedra.

Fonte:

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 709)



Uma Trova de Ademar  

Caiu meu muro de arrimo; 
sinto fraqueza... E, aos oitenta, 
nem com Viagra eu me animo, 
só se der cobra em noventa! 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

É minha a dívida, assumo,
e hei de saldá-la... porém,
enquanto a grana eu arrumo,
que tal me emprestar mais cem???
–José Ouverney/SP– 

Uma Trova Potiguar  

É por demais assanhada 
a galinha do vizinho: 
já tem a costa pelada 
por excesso de carinho... 
–Fabiano Wanderley/RN– 

Uma Trova Premiada  

1999   -   Cachoeiras de Macacu/RJ 
Tema   -   LADINO   -   M/E 

"Cara-de-pau!" E o grã-fino 
não se abala, não se afoba;
e no rosto, enfim, ladino,
passa um óleo de peroba...
–Antonio Colavite Filho/SP– 

...E Suas Trovas Ficaram  

Sendo traída, de graça, 
pelo esposo, capitão, 
a Maria, por pirraça, 
o traiu com o “batalhão”. 
–Célio Grunewald/MG– 

U m a P o e s i a  

O rádio é para se ouvir 
e todo mundo entender, 
0 telefone é melhor 
para a gente ouvir sem ver, 
sou matuto e não ignoro: 
no telefone eu namoro 
sem minha mulher saber! 
–Fenelon Dantas/PB– 

Soneto do Dia  

O POBRE. 
–Francisco Macedo/RN– 

Vida de pobre é um mutirão de dor, 
uma loucura e grande confusão, 
quando tem carne nunca tem feijão, 
se tem feijão, de carne nem a cor. 

Compra uma “muda” de roupa todo ano 
e no sapato, tome meia-sola! 
No celular faz pose de gabola, 
mas pra ligar, está sem vez no plano... 

No “lotação” precisa paciência, 
arroto choco e tome flatulência, 
e, mesmo assim, com jeito vai levando... 

Sendo enxerido, segura a aparência, 
pose de rico, mas rei da inadimplência 
e vai em frente, as dores disfarçando. 

José de Alencar (Ao Correr da Pena) 3 de novembro: Máquinas de coser


(Crônicas publicadas no “Correio Mercantil”, de 3 de setembro de 1854 a 8 de julho de 1855, e no “Diário do Rio”, de 7 de outubro de 1855 a 25 de novembro do mesmo ano, ambos os jornais do Rio de Janeiro).

Meu caro colega. – Acho-me seriamente embaraçado da maneira por que descreverei a visita que fiz ontem à fábrica de coser de M.me Besse, sobre a qual já os nossos leitores tiveram uma ligeira notícia neste mesmo jornal.

O que sobretudo me incomoda é o título que leva o meu artigo. Os literatos, apenas ao lerem, entenderão que o negócio respeita aos alfaiates e modistas. Os poetas acharão o assunto prosaico, e talvez indigno de preocupar os vôos do pensamento. Os comerciantes, como não se trata de uma sociedade em comandita, é de crer bem pouca atenção dêem a esse melhoramento da indústria.

Por outro lado, tenho contra mim o belo sexo, que não pode deixar de declarar-se contra esse maldito invento, que priva os seus dedinhos mimosos de uma prenda tão linda, e acaba para sempre com todas as graciosas tradições da galanteria antiga.

Aqueles lencinhos embainhados, penhor de um amante fiel, e aquelas camisinhas de cambraia destinadas a um primeiro filho, primores de arte e de paciência, primeiras delícias da maternidade, tudo isto vai desaparecer.

As mãozinhas delicadas da amante, ou da mãe extremosa, trêmulas de felicidade e emoção, não se ocuparão mais com aquele doce trabalho, fruto de longas vigílias, povoadas de sonhos e de imagens risonhas. Que coração sensível pode suportar friamente semelhante profanação do sentimento?...

Declarando-se as senhoras contra nós, quase que podemos contar com uma conspiração geral, porque é coisa sabida que desde o princípio do mundo os homens gastam a metade de seu tempo a dizer mal das mulheres, e a outra metade a imitar o mal que elas fazem.

Por conseguinte, refletindo bem, só nos restam para leitores alguns homens graves e sisudos, e que não se deixam dominar pela influência dos belos olhos e dos sorrisos provocadores. Mas como é possível distrair estes espíritos preocupados com altas questões do Estado de faze-los descer das sumidades da ciência e da política a uma simples questão de costura?

Parece-lhe isto talvez uma coisa muito difícil; entretanto tenho para mim que não há nada mais natural. A história, essa grande  mestra de verdades, nos apresenta inúmeros exemplos do grande apreço que sempre mereceu dos povos da antiguidade, não só a arte de coser, como as outras que lhe são acessórias.

Eu podia comemorar o fato de Hércules fiando aos pés de Onfale, e mostrar o importante papel que representou na antiguidade, a teia de Penépole, que mereceu ser cantada por Homero. Quanto à agulha de Cleópatra, esse lindo obelisco de mármore, é a prova mais formal de que os Egípcios votavam tanta admiração à arte da costura, que elevaram aquele monumento à sua rainha, naturalmente porque ela excedeu-se nos trabalhos desse gênero.

As tradições de todos os povos conservam ainda hoje o nome dos inventores da arte de vestir os homens. Entre os gregos foi Minerva, entre os lídios Aracne, no Egito Isis, e no Peru Manacela, mulher de Manco Capa.

Os chineses atribuem essa invenção ao Imperador Ias; e na Alemanha, conta a legenda que a fada Ave, tendo um amante muito friorento, compadeceu-se dele, e inventou o tecido para muito friorento, compadeceu-se dele, e inventou o tecido para vesti-lo. Naquele tempo feliz ainda eram as amantes que pagavam os gastos da moda; hoje, porém, este artigo tem sofrido uma modificação bem sensível. As fadas desapareceram, e por isso os homens vão cuidando em multiplicar as máquinas.

Só estes fatos bastariam para mostrar que importância tiveram em todos os tempos e entre todos os povos as artes que servem para preparar o traje do homem. Além disto, porém a tradição religiosa conta que já no Paraíso, Eva criara, com as folhas da figueira, diversas modas, que infelizmente caíram em desuso.

Já não falo de muitas rainhas, como Berta, que foram mestras e professoras na arte de coser e fiar; e nem das sábias pragmáticas dos Reis de Portugal a respeito do vestuário, as quais mostram o cuidado que sempre mereceu daqueles monarcas, e especialmente do grande Ministro Marquês de Pombal, a importante questão dos trajes.

Hoje mesmo, apesar do rifão antigo, todo o mundo entende que o hábito faz o monge; e se não vista alguém uma calça velha e uma casaca de cotovelos roídos, embora seja o homem mais relacionado do Rio de Janeiro, passará por toda a cidade incógnito e invisível, como se tivesse no dedo o anel de Giges.

Assim, pois, é justamente para os espíritos graves, dados aos estudos profundos e às questões de interesse público, que resolvi descrever a visita à fábrica de coser de M.me Besse, certo de que não perderei o meu tempo, e concorrerei quanto em mim estiver para que se favoreça este melhoramento da indústria, que pode prestar grandes benefícios, fornecendo não só à população desta côrte, mas também a alguns estabelecimentos nacionais. 

A fábrica está situada à Rua do Rosário, n.º 74. Não é uma posição tão aristocrática como a das modistas da Rua do Ouvidor; porém tem a vantagem de ser no centro da cidade; e, portanto, as senhoras do tom podem facilmente e sem derrogar aos estilos da alta fashion fazer a sua visita a M.me Besse, que as receberá com graça e a amabilidade que a distingue.

Era na ocasião de uma dessas visitas que eu desejaria achar-me lá para observar o desapontamento das minhas amáveis leitoras (se é que as tenho, visto que estou escrevendo para os homens pensadores). Dizem que o espírito da indústria tem despoetizado todas as artes, e que as máquinas vão reduzindo o mais belo trabalho a um movimento monótono e regular, que destrói todas as emoções, e transforma o homem num autômato escravo de outro autômato.

Podem dizer o que quiserem; eu também pensava o mesmo antes de ver aquelas lindas maquinazinhas que trabalham com tanta rapidez, e até com tanta graça. Figurai-vos umas banquinhas de costura fingindo charão, ligeiras e cômodas, podendo colocar-se na posição que mais agradar, e sobre esta mesa uma pequena armação de aço, e podeis fazer uma idéia aproximada da vista da máquina. Um pezinho o mais mimoso do mundo, um pezinho de Cendrillon, como conheço alguns, basta para fazer mover sem esforço todo este delicado maquinismo.

E digam-me ainda que as máquinas despoetizam a arte! Até agora, se tínhamos a ventura de ser admitidos no santuário de algum gabinete de moça, e de passarmos algumas horas e  conversar e a vê-la coser, só podíamos gozar dos graciosos movimentos das mãos; porém não se nos concedia o supremo prazer de entrever sob a orla do vestido um pezinho encantador, calçado por alguma botinazinha azul; um pezinho de mulher bonita, que é tudo quanto há de mais poético neste mundo.

Enquanto este pezinho travesso, que imaginareis, como eu, pertencer a quem melhor vos aprouver, faz mover rapidamente a máquina, as duas mãozinhas, não menos ligeiras, fazem passar pela agulha uma ourela de seda ou de cambraia, ao longo da qual vai-se estendendo com incrível velocidade uma linha de pontos que acaba necessariamente por um ponto de admiração (!).

Está entendendo que o ponto de admiração é feito pelos vossos olhos, e não pela máquina, que infelizmente não entende nada de gramática, senão podia-nos bem servir para  elucidar as famosas questões do gênero do cólera e da ortografia da palavra asseio. Questões estas muito importantes, como todos sabem, porque, sem que elas se decidam, nem os médicos podem acertar no curativo da moléstia, nem o Sr. Ministro do Império pode publicar o seu regulamento da limpeza da cidade.

Voltando, porém, à nossa máquina, posso assegurar-lhes que a rapidez é tal, que nem o mais cabula dos estudantes de São Paulo ou de medicina, nem um poeta e romancista a fazer reticências, são capazes de ganha-la a dar pontos. Se a deixarem ir à sua vontade, faz uma ninharia de trezentos por minuto; mas, se a zangarem, vai aos seiscentos; e então, ao contrário do que desejava um nosso espirituoso folhetinista contemporâneo, o Sr. Zaluar, pode-se dizer que quando começa a fazer ponto, nunca faz ponto.

Mau! Já me andam os calemburs  às voltas! É preciso continuar; mas, antes de passar adiante, sempre aconselharei a certos credores infatigáveis, a certos escritores cuja verve é inesgotável, que vão examinar aquelas máquinas a ver se aprendem delas a arte de fazer ponto. É uma coisa muito conveniente ao nosso bem estar, e será mais um melhoramento que deveremos a M.me Besse.

Aos Estados Unidos cabe a invenção das máquinas de coser, que hoje se têm multiplicado naquele país de uma maneira prodigiosa, principalmente depois dos últimos aperfeiçoamentos que se lhe têm feito. M.me Besse possui atualmente na sua fábrica seis destas máquinas, e tem ainda na alfândega doze, que pretende  despachar logo que o seu estabelecimento tomar o incremento que é de esperar.

M.me Besse corta perfeitamente qualquer obra de homem ou de senhora; e, logo que for honrada com a confiança das moças elegantes, é de crer que se torne a modista do tom, embora não tenha para isto a patente de francesa, e não more na Rua do Ouvidor.

Além disto, como ela possui máquinas de diversas qualidades, umas que fazem a costura a mais fina, outras próprias para coser fazenda grossa e ordinária, podem também muitos estabelecimentos desta corte lucrar com a sua fábrica um trabalho, não só mais rápido e mais bem acabado como mais módico no preço.

Presentemente a fábrica já tem muito que fazer; mas, quando se possui seis máquinas, e por conseguinte se dá três mil e seiscentos pontos por minuto, é preciso que se tenha muito pano para mangas.

Sou, meu caro colega, etc.

Fonte:
José de Alencar. Ao Correr da Pena. SP: Martins Fontes, 2004.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Eliana Jimenez (A Trova-Legenda)


artigo pela autora

A ideia da publicação de uma imagem no blog para instigar a imaginação dos trovadores surgiu por acaso.

Fiz uma trova alusiva à foto de uma passarinha abrigando seus filhotes sob as asas e percebi que a trova não tinha existência própria, que precisava da imagem para ser compreendida.

Em seguida, comecei a procurar trovas para imagens, mas nem sempre se encaixavam perfeitamente, além de consistir em um grande trabalho de pesquisa.

Surgiu então a ideia de fazer o contrário: publicar a imagem e convidar os trovadores para enviarem uma trova que funcionasse como legenda.

Na edição de estréia, em 21 de outubro de 2011, tive o apoio de grandes mestres e divulgadores do movimento trovadoresco, como A. A. de Assis, Ademar Macedo, José Feldman, e Prof. Garcia. Logo em seguida, importantes nomes da trova aderiram ao blog, como Carolina Ramos, Darly O. Barros, José Fabiano, entre outros. Esse suporte dos trovadores consagrados foi sempre crescente e fundamental para que a ideia se propagasse.

Após esse primeiro ano de existência da Trova-legenda, o blog consolidou-se, tendo até obtido reconhecimento da UBT de São Paulo. Conta com uma média de 45 trovas por edição. A cada 10 dias uma nova imagem é publicada, sempre tentando desafiar a imaginação e a habilidade dos trovadores.

Como não é concurso, todas as trovas que atendam aos requisitos de métrica e rima são publicadas e com isso, o blog está cumprindo uma importante missão, que é cativar e trazer novos admiradores para o movimento trovadoresco.

A trova tem esse poder, como dizia Luiz Otávio, de nos tomar por inteiro e abrir o coração para abrigar tantos irmãos queridos e iluminados, de romper fronteiras, e ainda preencher nossos momentos com a chama da inspiração.

O endereço do blog é:
http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br e estão todos convidados a participar.
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José Feldman escreve:

São ativistas como Jimenez que mantém acesa a chama da cultura brasileira. Pessoas como ela, com garra, com novas idéias, com dedicação que endossam este exército de literatos, tremulando a nossa bandeira.
Parabéns pelo seu trabalho, que  seja uma árvore carregada de frutos.

E aproveitando o espaço, prezado trovador, você já enviou sua trova para a nova trova-legenda? Vence em mais uns dias. Desta vez, não vou colocar a figura. Entre no blog da Jimenez. Vamos participar com mais afinco, não vejo o nome de muitos outros trovadores que poderiam estar participando. Lembrando, o endereço é http://poesiaemtrovas.blogspot.com.br. Nos encontramos por lá.

Fonte:
Boletim Nacional n. 531 – outubro/2012 – União Brasileira de Trovadores – UBT/Nacional

Ademar Macedo (Mensagens Poéticas n. 708)



Uma Trova de Ademar  

Não acredito em trapaça, 
o livre arbítrio eu imponho; 
não há destino que faça 
eu desistir do meu sonho. 
–Ademar Macedo/RN– 

Uma Trova Nacional  

Lançada a sorte! Em verdade,
eu parti... Mares medonhos!...
E, no Porto da Saudade,
fui ancorar com meus sonhos...
–Giselda Medeiros/CE– 

Uma Trova Potiguar  

Quando um jardim perde as flores, 
a mão de Deus recupera, 
pintando as mais lindas cores 
nas flores da primavera! 
–Prof. Garcia/RN– 

Uma Trova Premiada  

2010   -   ATRN - Natal/RN 
Tema   -   INSPIRAÇÃO   -   1º Lugar 

Inspiração, não me deixes 
neste mundo imerso em dor! 
– Sem ti, sou rio... sem peixes... 
Sou coração... sem amor...! 
–Marisa Vieira Olivaes/RS – 

..E Suas Trovas Ficaram  

Somos dois gritos calados 
dois momentos desiguais, 
dois seres desencontrados 
mas que se buscam demais. 
–Marisol/RJ– 

U m a P o e s i a  

O meu jeito de ser não me subleva 
quero ser como Deus mandou que eu fosse, 
quando eu vim foi a vida quem me trouxe 
quando eu for é a morte quem me leva, 
pra que eu reclamar de Adão e Eva 
se a serpente lhes fez quebrar a jura, 
pra que eu exibir a dentadura 
se não tem nenhum osso que ela roa; 
pra que tanta riqueza se a pessoa 
nada leva daqui pra sepultura. 
–Fernando Emídio/PE– 

Soneto do Dia  

DONA FLOR.
–Vicente de Carvalho/RJ– 

Ela é tão meiga! Em seu olhar medroso 
vago como os crepúsculos do estio, 
treme a ternura, como sobre um rio 
treme a sombra de um bosque silencioso.

Quando, nas alvoradas da alegria, 
a sua boca úmida floresce, 
naquele rosto angelical parece 
que é primavera, e que amanhece o dia. 

Um rosto de anjo, límpido, radiante... 
Mas, ai! sob esse angélico semblante 
mora e se esconde uma alma de mulher 

que a rir-se esfolha os sonhos de que vivo 
– Como atirando ao vento fugitivo 
as folhas sem valor de um malmequer...

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Ialmar Pio Schneider (Efemérides Poética) Outubro - até dia 25



SONETO A HUMBERTO DE CAMPOS 
– In Memoriam  
Nascimento do escritor em 25.10.1886 

Ao ler suas Memórias comoventes, 
e as crônicas, sonetos, cujos temas 
demonstram como ele enfrentou problemas, 
e o fez em páginas inteligentes,... 

fico a pensar também quantos poemas 
nascem das almas boas, penitentes, 
nos momentos aflitos em que os crentes 
se debruçam perante seus dilemas... 

Mas, o Senhor que reina nas Alturas, 
o Pai Supremo de todas criaturas, 
olha por nós, Seus filhos prediletos,... 

pra que sejamos ternamente irmãos 
e os nossos sonhos nunca sejam vãos 
num mundo justo e fraternal de afetos…

SONETO ALEXANDRINO A AMADEU AMARAL
– In Memoriam 
Falecimento do poeta em 24.10.1929 

“Rios”, “Sonhos de Amor”, e “A um Adolescente”, 
são sonetos de escol que leio comovido, 
porque me fazem bem neste dia envolvente 
pela nublada luz do céu escurecido... 

E fico a meditar, trazendo para a mente, 
os poemas “A Estátua e a Rosa”, em sublime sentido; 
“Prece da Tarde”, quando exsurge a voz do crente 
como um sopro de amor no caminho escolhido... 

Estou perante o mestre Amadeu Amaral, 
cujos versos serão sempre muito admirados, 
como régio cultor da nobre poesia... 

Além do mais, ficou sendo vate Imortal, 
pois eleito ele foi por membros consagrados 
de nossa Brasileira Excelsa Academia !

SONETO A THÉOPHILE GAUTIER 
Falecimento do poeta em 23.10.1872 
– In Memoriam 

Poeta que saudou a Primavera, 
ao chegar com seu primeiro sorriso, 
por toda a parte a floração impera 
como se próxima do paraíso... 

No jardim, no pomar, também diviso 
as mais lindas flores e o crescer da hera... 
Quanta imaginação fora preciso 
para desenvolver esta quimera ! 

No vergel, as pequenas margaridas; 
no bosque, violetas e malmequeres; 
tudo aparece viçoso a florir... 

Enfim, para alegrar as nossas vidas, 
e tornar mais bonitas as mulheres, 
proclamo: “Primavera, podes vir!”

SONETO LIVRE A OSWALD DE ANDRADE 
Falecimento do escritor em 22.10.1954 
– In Memoriam 

Homenagear um poeta modernista 
como o foi Oswald de Andrade, como seria? 
se escrevo versos rimados de artista 
nos modelos antigos da poesia?! 

Mas minha verve faz com que eu insista 
a prestar, já nem sem se é honraria, 
este preito em palavras de anarquista, 
num soneto livre de métrica, neste dia ! 

Entretanto, não prescindo da rima, 
por ser ela que sempre me anima 
quando qualquer poema componho... 

Desculpe-me por este sacrilégio 
de abandonar as normas do colégio 
parnasiano ! Foi apenas um sonho…

SONETO A ARTHUR AZEVEDO 
– In Memoriam 
Falecimento em 22.10.1908

Foi dramaturgo, poeta e contista, 
com “Arrufos”, um soneto forte, 
após desentender-se com a consorte, 
fez uns ares de quem do amor desista... 

Toma o chapéu e sai, sem que suporte, 
fingir que não mais ama e se contrista, 
mas algo o faz voltar e então persista 
a manter a paixão até a morte... 

Assim são os amores verdadeiros, 
ao menos na aparência dos amantes, 
que às vezes têm questiúnculas por nada... 

E quando voltam ficam companheiros 
para viverem todos os instantes, 
seguindo adiante pela mesma estrada…

SONETO A ALPHONSE DE LAMARTINE 
Nascimento do poeta em 21.10.1790 
– In Memoriam

Recordo-me do seu poema “Outono”, 
que o Irmão Érico, enfaticamente, 
lia alto, na aula, com tamanho entono, 
que despertava a comoção na gente... 

Saudava a natureza, tristemente, 
como se a visse ficar no abandono 
pela queda das folhas, de repente, 
ao reclinar pra o derradeiro sono! 

Nesse cálice em que bebia a vida, 
talvez, houvesse uma gota de mel, 
após ter sorvido néctar e fel... 

Na multidão uma alma desconhecida, 
quem sabe, o compreendesse com bondade 
e lhe desse, afinal, felicidade !…

SONETO A ARTHUR RIMBAUD 
Nascimento do poeta em 20.10.1854 
– In Memoriam 

Jovem poeta que parou bem cedo 
de fazer versos plenos de emoção... 
Soneto de “Vogais” em cujo enredo 
cada uma tem a significação. 

Sua obra não foi simples arremedo 
de alguém que pensa apenas na ilusão; 
não se sabe do enigma nem do medo 
de a poesia dar continuação... 

O certo é que depois, quando indagado 
se era parente de Rimbaud, dizia: 
“Eu nunca ouvi falar !” E assim calado 

continuou pelo resta da vida, só, 
com sua nova e vã filosofia 
em que se sabe que seremos pó !

SONETO  AO DIA DO POETA
20.10

O poeta é aquele que vê mais longe: 
pode saber de tudo ou quase nada... 
Tanto é um pecador quanto é um monge, 
vive numa caverna ou segue a estrada 

dos sonhos. Às vezes parece um conde 
a procurar sua alma gêmea, a maga 
que num castelo medieval se esconde, 
cuja lembrança a solidão lhe afaga. 

Também não deixa de sofrer por isso 
e nunca se conforta no prazer 
de sempre se afastar do rebuliço: 

assim é que pretende compreender 
o destino que leva no feitiço 
questionável do ser ou do não ser !

SONETO A VINÍCIUS DE MORAES 
Nascimento do poeta em 19.10.1913
- In Memoriam

Quando nasceu Vinícius de Moraes 
trouxe consigo a chama da poesia, 
pra celebrar as musas, dia a dia, 
até o fim com versos geniais... 

Poeta da Paixão e da magia 
de conquistar mulheres especiais, 
compondo seus sonetos sensuais, 
viveu intensamente na boemia. 

Nesta data do seu aniversário 
há que lembrar-se: “Eu sei que vou te amar...” 
E assim nesse romântico cenário 

ouvir “Soneto da Fidelidade”, 
na voz do poetinha a declamar 
com tanto romantismo e intensidade !

SONETO A CASIMIRO DE ABREU 
– In Memoriam 
Falecimento do poeta em 18.10.1860 

Mas, onde se esconderam “Meus Oito Anos”, 
que os procuro debalde na distância? 
Casimiro de Abreu, teus desenganos, 
trazem saudades de minha infância... 

No entanto, sempre na mesma constância, 
bate meu coração com seus arcanos; 
e o que outrora tinha significância, 
hoje, são meus pobres cantos profanos. 

Pois, “oh! que saudades que tenho”, agora, 
daquele tempo bom que foi embora, 
e que, bem sei, não volta nunca mais? 

Sigo meu caminho sempre confiante, 
que cada etapa que me surge adiante, 
só vem complementar meus ideais…

SONETO A MANUEL BANDEIRA
Falecimento do poeta em 13.10.1968
– In Memoriam

MEU CARNAVAL 78 

Ilusão desta vida imaterial, 
não adianta pensar nem presumir, 
o negócio é deitar para dormir 
ou ler Manuel Bandeira tão jovial... 

Mas que anseio, que lástima, afinal, 
se tudo é passageiro ?! quero ouvir 
Sonatas ao Luar e me sumir 
à procura de um bálsamo ao meu mal. 

E não será aqui, nem mais distante... 
Lança-perfume d éter não existe ! 
O que fazer? Confete e serpentina?! 

Desvairado, sem álcool e perante 
mulheres tão bonitas e eu tão triste: 
pobre Pierrô buscando a Colombina !

SONETO CAÓTICO A MÁRIO DE ANDRADE
Nascimento do poeta em 9.10.1893
– In Memoriam

Mário de Andrade cria o Desvairismo, 
foge da rima e métrica também... 
Houvera de existir, no entanto, alguém 
que a outra escola desse outro batismo ! 

Hoje apresento-lhes o Caotismo 
e de antemão não sei se lhes convém; 
voltando a antigas fórmulas, porém, 
a conservar ainda o Telurismo... 

Procuro na desordem o entendimento 
e misturando todos, bons e maus, 
faço versos, até com sentimento, 

que singram mares, vagarosas naus... 
Seguem o rumo que lhes dita o vento 
na vastidão das águas para o caos...!

SONETO A CATULLO DA PAIXÃO CEARENSE  
Nascimento do poeta EM 8.10.1863 -– 
– In Memoriam 

Faz-me lembrar o tempo de menino, 
no lar paterno, lá na velha aldeia, 
com minha mãe, irmãos e irmãs, na ceia, 
de noitezinha, ao bimbalhar do sino... 

Depois, eu contemplava a lua cheia 
e perguntava aos céus: qual meu destino, 
neste mundo que roda e cambaleia, 
com momentos de luz e desatino?!... 

E ouvia a minha voz na voz do vento, 
dizendo que eu tivesse paciência, 
estudasse, aprendesse e na paixão 

de adquirir maior conhecimento, 
ingressasse no reino da sapiência... 
Que lindo era o Luar do meu Sertão !…

SONETO A EDGAR ALLAN POE 
Falecimento do escritor em 7.10.1849
– In Memoriam 

À meia-noite o visitou alguém, 
enquanto refletia nessa hora, 
lendo doutrinas em manuais de quem 
pudesse distraí-lo, sem demora... 

Curiosidade neste mundo têm 
todos os seres em que a dor vigora, 
e ao vate parecia que do Além 
surgia a voz saudosa de Lenora. 

Pensou, então, que fosse algum amigo, 
que tinha vindo lhe pedir abrigo 
p´ra mitigar as dores infernais... 

Abre a janela a olhar, e num tumulto 
enxerga esvoaçar sinistro vulto; 
era o Corvo que disse: “Nunca mais!”

Fontes:
O Autor
Imagem = montagem por J. Feldman