domingo, 20 de janeiro de 2013

Isidro Iturat (Arte Poética) final


4. ALGUMAS CHAVES DA FASCINAÇÃO POÉTICA 

          A fascinação poética é favorecida pelos recursos característicos da poesia –e sua combinação– que trabalham com o ritmo, a afetividade, a ideia, a sensorialidade, a imaginação, o tom e o estilo, a substituição do usual pelo insólito, os elementos que produzem catarse, sublimação, compensação, desabafo, integração dos contrários, desintegração dos contrários, aqueles que falam da memória, do aqui e agora, do futuro, da confissão, da dramaturgia, do jogo, da oração, do desafio ativo... 

           Também vemos que as diferentes sensibilidades pessoais induzem a valorizar e rechaçar umas ou outras manifestações, como no caso daqueles que se posicionam em defesa do racionalismo ou irracionalismo, da forma regular ou irregular. Mas, tanto o terceto de Dante como o surrealismo de Bretón conseguem comover sinceramente. Por quê? Uma afirmação proveniente da psicologia -da analista alemã Aniela Jaffé- pode nos ajudar, pois se trata de una ideia que alcança não apenas ao poema, mas toda a arte e que explicaria por que aspectos como pensamento e estilo, simplicidade e complexidade, tempo e espaço, realismo e irrealismo, não são suficientes para dar resposta ao dilema da fascinação e que vem a ser algo assim como a matriz do fenômeno: “A fascinação se produz quando o inconsciente foi comovido”[22]. 


5. REFERÊNCIAS

1. NABOCOV, Vladimir. Curso de literatura europea. 1ª edição. Barcelona:Zeta Bolsillo, 2009.

 2. SCHOPENHAUER, Arthur.Parerga y paralipómena. Escritos filosóficos sobre diversos temas (Cap.: Sobre la lectura y los libros). Madrid: Valdemar, 2009.

 3. NAVARRO Y TOMÁS, Tomás. Métrica española: reseña histórica y descriptiva. Syracuse: Syracuse University Press, Centro de Estudios Hispánicos, 1956.

 4, 5, 6. BALBÍN, Rafael. Sistema de rítmica castellana. Madrid: Biblioteca románica hispánica, Editorial Gredos, 1975.

7. ITURAT, Isidro. Formas del indriso. Indrisos.com. Brasil. 2009 [página na Internet].
 Disponível em:

 Acesso em: 27/10/2012.

8. BOUSOÑO, Carlos. Teoría de la expresión poética. Madrid: Biblioteca románica hispánica, Editorial Gredos, 1985.

 9. PÁVLOVICH CHÉJOV, Antón. Consejos a un escritor (Cap.: A Dmitri V. Grigoróvich, Moscú, 28 de marzo de 1886). Biblioteca Digital Ciudad Seva [página na Internet]. 
 Disponível em: 
 
 Acesso em: 27/10/2012.

 10, 12. VARELA MERINO, Elena; MOÍÑO SÁNCHEZ, Pablo; JAURALDE POU, Pablo. Manual de métrica española. Madrid: Castalia Universidad, 2003.
 Disponível em:
 .
 Acesso em: 27/10/2012.

 11, 13, 14. El rincón del haiku [página na Internet]. 
 Disponível em:
 Acesso em: 27/10/2012.

 15, 17. ITURAT, Isidro. Sobre o indriso. Indrisos.com [página na Internet].
 Disponível em: 
 .  
 Acesso em: 27/10/2012.

 16. G. BELTRAMI, Pietro. Rhythmica. Revista española de métrica comparada. (Cap.: Appunti sul sonetto come problema nella poesia e negli studi recenti). Nº 1. Sevilla: Padilla Libros Editores & Libreros, 2003.

18. RUAS BLASINA, Juliana & CAMARGO JUNIO, Volmar. A poética do poema blavino. Revista Samizdat. Brasil. 2009. 
 Disponível em: 

 Acesso em: 27/10/2012.

 19. RUIZ DE TORRES, Juan. La decilira: un taller práctico. Página personal de Juan Ruiz de Torres [página na Internet]. 
 Disponível em: .  
 Acesso em: 27/10/2012.

 20. CLOTET, Abraham. Poeta Joan Brossa [página na Internet]. 
 Disponível em:  .  
 Acesso em: 27/10/2012.

 21. Augusto de campos. Site oficial [página na Internet]. 
 Disponível em:  .  
 Acesso em: 27/10/2012.

22. JAFFÉ, Aniela. 4. El simbolismo en las artes visuales. En El hombre y sus símbolos. Concebido y realizado por Carl Gustav Jung. España: Ediciones Paidós, 1995. 

Fonte:
http://www.indrisos.com/ensayosyarticulos/artepoeticaportugues.html#4

sábado, 19 de janeiro de 2013

Mário A. J. Zamataro (Carrinheiro – Ingenuidade)


Parque Tanguá (Curitiba)

CARRINHEIRO

Lá fora a chuva fina turva a luz
e molha o palco aberto onde se faz 
da hora a velha sina que conduz 
quem olha a rua incerta e o chão voraz. 

Um vulto esconde o rosto em breu capuz 
enquanto a chuva insiste em ser tenaz... 
Avulta em mim desgosto que traduz 
em pranto a chuva triste e pertinaz. 

Estia enfim e o vulto se levanta 
e leva o seu carrinho em contramão 
na via onde um insulto o desencanta 

e faz brotar nos olhos a explosão 
que torna a raiva insana e a dor maior 
na lágrima, na chuva e no suor.

INGENUIDADE 

 Quero ter a minha voz
 pra dizer abertamente
 que uma farsa aperta os nós
 e disfarça impunemente!

 E direi como é feroz,
 como faz tranquilamente
 o papel doce de algoz
 e se crê ser inocente.

 Usa a lei como sofisma,
 tem acordo com a ilusão
 pra fazer cavilação.

 Quer impor sempre o seu prisma
 e não vê nisso maldade,
 deve ser ingenuidade!

Fontes:
http://www.umavirgula.com.br/
Imagem = http://guiaturismocuritiba.com

Núbia Cavalcanti dos Santos / PE (Poesias ao Sabor das Ondas)


SEM VOCÊ

Sem você, meu amanhã
 Será como um dia nublado
 Sombrio e imensamente frio
 Aonde as lembranças vão e veem
 Trazendo com elas a saudade
De um amor que se foi.

Sem você, meu amanhã
Não terá mais aquela alegria
Que do meu olhar surgia
 Sempre que você chegava
E enchia de encanto
A minha vida vazia.

Sem você, meu amanhã
 Será sempre melancólico
E desprovido de felicidade
 Embora alimentado pela esperança
De que você virá, ao anoitecer
 Embalar os meus sonhos pueris.

VOU SAIR POR AÍ...

Vou sair por aí...
Sem rumo e sem destino
 Andar por caminhos desconhecidos
E realizar sonhos adormecidos.

Vou sair por aí...
Em busca da liberdade
Que um dia eu renunciei
Em troca de um grande amor.

Vou sair por aí...
 Lutar pela igualdade
 Entre homens e mulheres
 Entre pobres e ricos.

Vou sair por aí...
 Descobrir novos horizontes
 Quebrar tabus de velhas tradições
E deixar fluir minhas emoções.

Vou sair por aí...
 Alforriar minha saudade
 Capturar minha felicidade
E viver um grande amor.

VIDA, MINHA VIDA...

 Vida, minha vida...
Às vezes, doce como o mel;
Às vezes, amarga como o fel.
Um dia, é um sonho cor-de-rosa;
No outro dia, uma negra desilusão.

 Vida, minha vida...
 Encanto, quando chega a primavera;
 Desencanto, quando chega o inverno.
 Luz, nas noites enluaradas;
 Trevas, nas noites nubladas.

 Vida, minha vida...
 Assim, vai passando lentamente
 Como uma nuvem acinzentada
Que corta o horizonte longíquo
Nos dias tépidos de verão.

 Vida, minha vida...
 Hoje, é um sonho dourado;
 Amanhã, uma doce ilusão.
E depois, uma grande saudade
 Pungindo o meu coração.

QUANDO ESTOU COM VOCÊ

Quando estou com você
Não sinto o tempo passar
Porque a sede de te amar
Faz-me de tudo esquecer.

E é tão grande o nosso amor
Quando os nossos lábios se tocam
E os nossos corpos se encontram
Sedentos de amor.

Então, cintila a lua prateada
Rasgando o céu, na madrugada
Como se fosse um convite
Ao nosso amor sem limite.

E o nosso amor, sublime se refaz
Quando, lá no horizonte distante
Surge o sol, com o seu brilho fugaz.

 MÚSICA AO LONGE

 O meu amor por você
É como uma música vinda de bem distante
Que o vento sopra intensamente
Nas doces manhãs primaveris
Banhadas por gotas de orvalho.

Essa música traduz o meu canto triste
Que ecoa quando a brisa sopra suavemente
Levando-a pelos mares distantes
Com o inebriante perfume dos jasmins
Junto com os meus sonhos dourados.

Ouça essa música que traduz o meu lamento
De um coração que vive em tormento
Por amar você, que me embevece
E, ao mesmo tempo, me entristece
Enquanto o meu coração padece.

Venha envolver-se com o meu canto triste
Como se fosse o canto de uma sereia
Em uma noite de lua cheia
Tendo somente como testemunha
A luz resplandescente do luar
Na alva do nascente.

CONTIGO EU IREI...

Contigo eu irei...
Quando o dia raiar
E no horizonte despontar
Os primeiros raios do sol.
E vã não será a tua alvorada
Porque eu habitarei no teu coração
Podarei a árvore da saudade.
E plantarei a árvore da felicidade.

Contigo eu irei...
Quando o sol desaparecer
No infinito horizonte
Deixando seus raios dourados.
E vã não será a tua jornada
Se algo vier a bloquear teu caminho
Porque eu vou estar ao teu lado
E ultrapassaremos todos os obstáculo.

Contigo eu irei...
Quando a noite chegar
E no Universo surgir
O luar majestoso.
E vão não será o nosso amor
Porque ele é tão imenso e tão intenso
Quanto às estrelas reluzentes
Bordando a vastidão do Universo.

SOLIDÃO

Sentada à beira da praia
Ouvindo o murmúrio das ondas
Batendo contra os rochedos
Olho para o céu e vejo uma gaivota
Que voa solitária
Cruzando o universo vazio.

E assim, como aquela gaivota solitária
Eu também estou sozinha
Pensando no amor que um dia eu tive
E que foi embora, sem dizer adeus
Deixando-me assim sozinha
Com o coração amargurado.

REENCONTRO

Foi apenas um olhar, um sorriso...
E todo o passado renasceu
Das cinzas de outrora
Como se o tempo não tivesse passado
E um grande amor não tivesse sido
Deixado para trás.

O desejo, enfim, aflorou
Reascendendo a chama da paixão
Que até então, estava adormecida
Como se esperasse a sua volta
E, como em um passo de mágica
O amor, em meu coração, floresceu.

Mas, você foi embora
Desfazendo as ilusões e esperanças
E levando consigo os meus sonhos dourados
De ter você novamente
Sempre ao meu lado
Recuperando o tempo perdido.

E, quando eu já não tinha mais esperança
De te reencontrar novamente
Você me telefona
E diz que nunca me esqueceu
E que eu estarei sempre em seu coração
Apesar de estarmos separados.

DIAS DE PROFUNDA MELANCOLIA

Hoje, ao despertar de um sono agitado
 Povoado por sonhos conturbados
 Abri as janelas da minh'alma
 E deixei que uma réstia de luz entrasse
 Diminuindo a solidão cruel
 E a aflição ímpar Que do meu ser tomava conta.

Senti a brisa suave da manhã
 Que adentrava pela porta entreaberta
 Trazendo o perfume inebriante das flores
 Que desabrochavam lentamente
 Formando um imenso tapete colorido
 Acariciadas pelos primeiros raios solares
 Que despontavam com a chegada da primavera.

Lá fora, o tempo corria ao léu
 Transformando os segundos em minutos
 Os minutos em longas horas
 E as horas em dias de profunda melancolia
 Enquanto que eu, do mundo me escondia 
 Tentando fugir da angústia e da solidão
 Causadas por um amor que só me trouxe dor.

TRIBUTO

Caminho na noite silenciosa
Onde se ouve apenas o rumor
Das folhas das árvores
Que se agitam com o vento.
Angustiada, caminho
Caminho com passos lentos e silenciosos
Para não perturbar a paz
Que se faz presente.

Caminho e penso...
Penso em você...
Penso em mim...
Penso em nós...
Caminho e choro...
Choro com saudades de você
E, sem entender, me pergunto,
Por que o destino foi tão cruel conosco?

Colho algumas flores silvestres e paro
Porque minha caminhada chegou ao fim
E, à minha frente, há apenas um túmulo
Onde eu me curvo e deposito as flores.
De volta, percorro o mesmo caminho.
Tudo continua igual
Apenas uma estrela surge no horizonte
Tornando o silêncio maior ainda.

Fonte:
http://www.tabacultural.com.br/nubiacavalcantidossantos.htm
http://nubia1962.blogspot.com.br 

Núbia Cavalcanti dos Santos (1962)


Núbia Cavalcanti dos Santos nasceu em 17 de junho de 1962, no município de Sanharó, uma pequena cidade do interior de Pernambuco.

É funcionária pública, formada em Ciências Físicas e Biológicas, pela FABEJA - PE.

Herdou da bisavó materna a paixão pela literatura, de acordo com informações obtidas por sua mãe e suas tias. 

Escreve poesias desde os quinze anos de idade. 

No ano de 2003, teve algumas dessas poesias divulgadas em uma Revista Mensal, Intitulada Revista de Sanharó. 

Em setembro de 2010, participou do XXXII Concurso Internacional Literário/SP, das Edições AG, e obteve o sexto lugar, com as poesias Muito além de um sonho e Um velho diário, publicadas na Antologia do livro “Noturno”.

 No ano de 2011, participou do Grande Concurso Cidade do Rio de Janeiro/RJ, com as poesias Reencontro, Solidão e Tributo, publicadas na Antologia “Poesia e Prosa no Rio de Janeiro”. 

No Concurso Quem Sabe Faz Agora/RJ, classificou- se com as poesias Sem você, Vou sair por aí... e Vida, minha vida.... 

Mais uma vez, obteve o quarto lugar  no XXXIII e XXXIV Concurso Internacional Literário/  SP, das Edições AG, com as poesias Amanhã, sem você e Um novo recomeço, publicadas na Antologia do livro “Amanhã, outro dia”; e Insônia e Boneca de Trapo, publicadas na Antologia do livro “Liberdade”. 

No 13º Concurso de Poesia 2011, da Biblioteca Popular de Afogados - Recife/ PE, classificou-se com as poesias Doce infância e Borboletas, ficando entre as cinqüenta selecionadas, que foram publicadas em Antologia no ano. 

No V Concurso Crônica e Literatura - Uberlândia/MG: Prêmio Literário Ferreira Gullar, ficou entre os cem classificados, com a poesia Escrava do medo, que fez parte da Antologia “Emoções Repentina - Volume III”, com publicação em fevereiro. 

Também participou das Antologias de Poetas Brasileiros Contemporâneos, pela CBJE, volumes 78, 79, 80, 81, 82 e 83, 84 e 85, com as poesias Eterno amor, Sonhos desfeitos, Razões do coração, Pai, Inspiração, Insônia, Foram tantas as vezes... e Lá se vai a madrugada, todas classificadas. 

Através dos Concursos Literários procura divulgar suas poesias. 

Blog:  http://nubia1962.blogspot.com 

Fonte:
http://www.tabacultural.com.br/nubiacavalcantidossantos.htm

3.º Concurso de Quadras Populares/2012, do Clube da Simpatia.(Resultado Final)



Tema - ROSA/ROSAS

1.º PRÉMIO

Dentre as flores de Jardim,
solitárias ou aos molhos,
é a rosa, para mim,
a “menina” dos meus olhos…

Deodato Pires - Portugal
***

2.º PRÉMIO

Olho a mãe com seu bebê,
vejo mais que um quadro lindo;
vejo, em verdade, um buquê
com duas rosas sorrindo!

Antonio Augusto de Assis - Brasil
***

3.º PRÉMIO

Nos seus ardentes amores,
consegue sempre o que quer:
rosa - a rainha das flores...
Rosa - a rainha mulher!

Emilia Peñalba de Almeida Esteves - Portugal
*** 

4.º PRÉMIO

Num lodaçal despontou
um pé de rosa encarnada...
Nem por isso ela deixou
de ser rosa perfumada!

Dalva de Araujo - Brasil
***

5.º PRÉMIO

Em meu jardim planto rosas
para que alegrem meus dias,
e como são tão formosas
me inspiram doces poesias!

Ángela Desirée Palacios - Venezuela
***

MENÇÕES HONROSAS

Essas rosas que fenecem
enfeitando covas nobres
são as mesmas que florescem
em jardins de casas pobres.

Olympio da Cruz Simões Coutinho - Brasil
***

Navegando em mar de rosas
aos teus braços aportei;
foi das coisas mais formosas
esse porto onde atraquei!

Fernando Máximo - Portugal
***

O mais hábil jardineiro,
numa inspiração famosa,
fez nascer no seu canteiro
um lindo botão de rosa!

Maria Aliete Cavaco Penha - Portugal
***

Rosas... as rosas não falam
mas deixam sua energia,
pois no perfume que exalam
expressam sua alegria!

Nair Lopes Rodrigues - Brasil
***

... Quatro letras que são cor,
... Que são mulher e formosa,
...que são frescura de flor,
quando se soletra... Rosa!

Maria Ruth Brito Neto - Portugal
***

Ornamentando as janelas,
na mais perfeita harmonia,
vicejam rosas singelas,
numa choupana vazia.

Sônia Maria Sobreira da Silva - Brasil
***

As rosas da natureza
quando contigo cruzaram
ao ver a tua beleza
envergonhadas murcharam. 

Isidoro Cavaco - Portugal
***

Jardineiro apaixonado,
com doze rosas num ramo
eu te mando o meu recado:
cada rosa diz, eu te amo!

Izo Goldman - Brasil
***

Escrevo, a sangue, a mensagem
para no espinho prender:
"'És uma rosa selvagem
que um dia eu hei de colher!"

Renata Paccola - Brasil
***

Na natureza escondida,
como eximia fiandeira,
no verde tece uma vida
o rosa da cerejeira.

Lucia Sertã - Brasil

Fonte:
http://clubedasimpatia.blogspot.com

Olivaldo Junior (Uma Rosa)


Era uma vez uma rosa que não era rosa. Eu explico: era uma rosa vermelha. Dona de um jardim só dela, não se via nada humilde, nem fazia questão de ser. Nadava em cravos e pousava em flores menos “pop”. Pode ser que tivesse, lá no fundo de suas pétalas, um pouco de humildade, mas não se via mesmo nada que a pudesse salvar. O orgulho é um grande abismo entre a beleza e o dia a dia, pois nem sempre é primavera.

Julgando-se eterna, uma rosa começou a murchar. Já não tinha o mesmo rubro nas bordas, e o verde no caule que a sustinha já nem dava bandeira. As margaridas, bem mais fortes que ela, madrugadoras, já cochichavam, quando a rosa acordou. Era uma rosa preguiçosa e, mais que isso, dormia para ver se a beleza a impregnava de novo com seu rastro de estrela, com seu porte de estátua que não é de mármore, mas se martiriza.

Feinha, com as pétalas por desabar, viu-se nas mãos de uma senhora que passava defronte ao jardim da casa em que morava. Desesperada, viu a porção de cravos envoltos em pobres margaridas, todos lhe dizendo adeus do canteiro em que estavam. De que havia valido a uma rosa tanta pose? A pobre, quase sem pétalas, sem caule, acabou assim, no cemitério mais próximo, dando vida a um túmulo, em preto-e-branco.

Fonte:
O Autor

Ademar Macedo (Trovas do Ademar)


Perdão, palavra bonita 
que se pede, que se implora; 
palavra que é muito dita… 
Mas, só da boca pra fora!

Perdi minha mocidade, 
toda hombridade que eu tinha… 
Vivi sua identidade 
em vez de viver a minha! 

Política, era a vizinha. 
Ela trocou por Brasília 
todos empregos que tinha… 
Menos o bolsa família.

Por agir sem ter cautela 
um grande mico eu paguei: 
beijei uma magricela; 
não era a sogra… Era um gay!… 

Por conhecer meu valor, 
mesmo já no envelhecer, 
vou em busca de outro amor… 
Não tenho tempo a perder!

Por seu próprio desatino, 
tem gente que se maldiz 
pondo a culpa no destino 
por não ter sido feliz! 

Por ter uma fé suprema
não sofrerei agonia…
Se eu sinto uma dor extrema,
dou-lhe injeções de poesia! 

Posso jurar (não é finta):
eu não temo pesadelos,
pois fiz da saudade a tinta
para pintar meus cabelos…

Procuro sempre crescer 
mesmo enfrentando empecilhos, 
mostrando em meu proceder, 
exemplos para os meus filhos…

Quando a inspiração me envia 
a um cenário de beleza, 
eu dou beijos de poesia 
na face da natureza! 

Quando se manda um bilhete
para alguém que a gente gosta,
se faz logo um balancete,
quando não vem a resposta! 

Quando uma paixão soterra 
mágoa e dor nas cicatrizes, 
deixa uma marca que ferra 
o peito dos infelizes… 

Quase toda madrugada, 
Já vendo os raios do dia, 
busco um verso à minha amada 
numa fonte de poesia… 

Quase toda madrugada, 
Já vendo raiar o dia, 
faço um verso à minha amada 
num orvalhar de poesia… 

Quem o livre-arbítrio prega 
caminha contra a verdade. 
Pois eu não creio em quem nega 
a si mesmo…a Liberdade!

Quem semeia de verdade, 
tendo o amor como receita, 
colhe frutos à vontade 
no fim de cada colheita! 

Retratando sua história, 
o pobre cigano cria 
uma verdade ilusória 
que ele mesmo fantasia! 

Saudade… dor cruciante 
que nos maltrata demais; 
palavra sempre constante 
nas Trovas que a gente faz!

Sempre quando a noite nasce, 
traz, na escuridão dos campos, 
a luz que Deus pôs na face 
dos pequenos pirilampos…

Sem ter culpabilidade, 
eu vivo ainda os lampejos 
que você, nesta saudade 
faz brotar dos meus desejos.

Se não puder dar um bolo,
dê um pedaço de pão…
A caridade é um tijolo 
da casa da salvação!

Se o livre-arbítrio é uma escolha, 
e, não vendo outra saída, 
arranquei folha por folha 
do livro da minha vida… 

Se por piedade ou por pena, 
o casal NÃO se desfaz; 
vivem os dois triste cena… 
Onde nem pena tem mais!

Sinto ciúme, é verdade, 
quase morro de ciúme 
quando passas na cidade 
exalando o seu perfume!…

Só seu regresso conforta, 
mas já estou delirando… 
Sempre que alguém bata à porta 
penso que é você voltando!

Sua ausência, por maldade,
deixou, talvez, por vingança,
um punhado de saudade
dentro da minha lembrança! 

Tive amores – não sei quantos - 
Saudades tive, é verdade. 
Mas sei… derramando prantos, 
ninguém mata uma saudade!

Trabalho só é bacana 
se tiver, por sua vez: 
uma folga por semana 
e férias de mês em mês!

Traz alentos, novas vidas, 
muda a cor da plantação; 
a chuva sara as feridas 
que a seca faz no sertão.

Uma fé que não se abala, 
dai-me, Senhor, sem medida, 
para eu poder semeá-la 
pelos roçados da vida. 

Um desejo que me abrasa, 
no Ano Novo é ver os nobres, 
levando as sobras de casa 
para a casa dos mais pobres!

Um monumento de luz 
fez-se em mim arquitetado 
na mensagem que Jesus 
disse ao ser crucificado.

Vejo sentadas no chão, 
trajadas de desamor, 
crianças comendo pão 
amanteigado de dor!

Versos já fiz – não sei quantos - 
relembrando a mocidade. 
Hoje servem de acalantos 
para ninar a saudade.

Adonias Filho (O Largo da Palma) 2. O Largo de Branco


O primeiro conto: A Moça dos Pãezinhos de Queijo está em http://singrandohorizontes.blogspot.com.br/2012/02/adonias-filho-o-largo-da-palma-1-moca.html
––––––––––––––-
 As personagens desse conto são Eliane, Odilon e Geraldo.

Espaços

 Externo - Largo e Igreja da Palma (como já vimos, presente em todas as novelas e tratado como ser vivo), e Rua do Bângala.

 Interno - Quarto em que mora Alice e que Eliane subloca. Casas em que Eliane morou na infância (Itapagipe), quando casada com Odilon e quando viveu com Geraldo (Campo Grande, Barris e Rio Vermelho).

Linguagem

 Concisa, períodos curtos, incisivos. O narrador explora os aspectos lírico-poéticos da linguagem. Percebe-se o uso de metonímias: “Você, Eliane, casou com um hospital”.

 O autor usa os mesmos recursos poéticos presentes nas outras novelas: metáforas, comparações, inversões, frases nominais e enumerações, assíndetos etc.

Foco narrativo e Tempo

 A narrativa é em terceira pessoa, embora centrada no personagem Eliane. Está muito presente o estilo indireto livre. É como se Eliane estivesse fazendo uma revisão de suas vivências: a vida com Geraldo e a vida com Odilon.

 Coloca-se como tempo presente narrativo aquela “manhã de junho”, em que, “gasto o vestido que usa, fora de moda, o melhor de todos os que restaram”, Eliane espera reencontrar-se com Odilon no Largo da Palma.

 Inclusive, neste início, as formas verbais estão no indicativo presente; ressaltam a idéia dos fatos que estão em curso.

 Não raras vezes se fundem presente – fatos que estão sendo vividos, e passado – fatos recordados, pois vividos no passado.

 Mudam, então, os tempos verbais (imperfeito, perfeito, mais que perfeito, ressaltando a idéia de fatos já ocorridos.) Inclusive, em longos trechos, utilizam-se as aspas, para indicar que esses trechos são “narrados” pela memória da própria Eliane, como em um longo discurso indireto livre, dentro do qual aparecem formas do discurso direto.

 O narrador, além de marcar o tempo, usando verbos no presente e no passado, usa os advérbios “agora” e “lá” que ressaltam o tempo presente e o lugar. Eliane no Largo da Palma, à espera de Odilon.

 Lê-se e percebe-se a passagem do passado, visto através da lembrança de Eliane, para o presente:

Essa lembrança a perseguiu durante bastante tempo, era como uma idéia fixa, hora a hora a rever as notas sobre a cama. Parecia-lhe uma coisa tão venenosa e viva quanto uma víbora ou um escorpião. O dinheiro na cama, sobre o lençol, nele refletido o desprezo do homem. E como se aquele dinheiro pudesse compensar a ingratidão e resgatar a mocidade e a vida que a ele dera em troca de alguma coisa. Tudo, dera tudo mesmo em troca de nada.

O sol, agora, invade o Largo da Palma e parece que vem mostrá-lo como uma das coisas mais preciosas da Bahia . Habituara-se aos poucos com ele, o Largo da Palma... Eliane, detendo-se para aquecer-se, esmorece os passos. Lá, no quartinho onde mora, o sol não entra.

 Pelo exposto, percebe-se que o tempo da narrativa é basicamente psicológico.

O mundo interior - mundo invisível

Gasto é o vestido que usa, fora da moda, o melhor dos que restaram. Os cabelos agora brancos, sempre sedosos, não melhoram o rosto cansado. Olhos sem brilho, boca um pouco murcha, as rugas. Este é o lado, o lado de fora, que Odilon verá. Sabe que o Odilon – e se não mudou inteiramente – examinar-lhe-á o rosto com atenção a observar todos os detalhes. Não poderá ver, porém, o lado de dentro, precisamente o lado da consciência e do coração.

 O mundo interior traz uma percepção subjetiva do mundo exterior: (...) a rua não era a mesma e certamente não era a mesma por causa dela própria. 

Apesar de menos de sete meses, ah, quanto tempo.

A tensão nervosa expulsando-a do quarto, empurrando-a para a rua. A tensão nervosa e os olhos de Alice sempre cheios de curiosidade.

 (ver mundo interior = tensão nervosa; mundo exterior = olhos de Alice = expressão mundo interior = curiosidade)

Desfecho: E, como se nada houvesse acontecido naqueles trinta anos, desde que se separaram, ele apenas diz:

 – Vamos, Eliane, vamos para casa.

 (...) Ela se lembra das manhãs de chuva que sempre escurecem o Largo da Palma. Agora, como a vingar-se daquelas manhãs, o sol ajuda o céu tão azul. E Eliane, ainda com o coração a bater muito forte, não tem dúvida de que o seu velho largo, como num dia de festa, está vestido de branco.

Fonte: